Download - Uma vez escrito
N i n a U y t t e n h o v e
uma vez escrito
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Remorso
Sonhos aladosvoam acima dos meus olhos fechados
rasos d’águade enfado,de mágoa,e de cansaço
E eu abraçoteu olharCulpadopor ainda amare por já ter amado
8
Sina
Ela comprapassagempro inferno!De ladonão vejoa sinanum beijo.De ladoo pecadotranspiradesejo
9
Ensaio Sobre a Cegueira
Eu estrago tudo eEstranho o mundocom grito mudoe olhos cegos
Eu piso em pregoseu tropeço em restosdo que vi e quis
Carcaças de amorese Riscos de giz
10
Pra mamãe
Olha que coisaMariamais cheia de graça
E quando ela passaa saudadefica.
11
Aristóteles
Como se crença absolutaDiz que vivo vem de morto“Sua prepotência me insulta!”Diz o defunto, com olhar torto.
12
Remorso II
Me dói a mente e coraçãopensar que a gente foi em vãoMas sentimentos vêm e vãoe a gente já foi
um dia.
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14
Platão
Separou dois mundos sozinhosMas juntos em distância crônicaSeria o amor dos vizinhosMais uma “paixão Platônica”?
15
Desabafo
Quer saber?Não quero saber!Se manda daqui, anda!
Faz o que eu peçoPois já me cansei de arcarCom problemas que não (co)meço
Quer saber?Não queira saberO que eu tô pra dizer- Maldito prazer
Que é tentaresquecer.
16
La merde
A verdadesão duas bobas(bocas nuas,sorriso mudo)estragandoTudo.
17
Nike Shox
do passo edos péssó sobrao passado
sapatoimportadoé o meu “novo eu”.
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19
Inutilidade
Pra quêQuererQue o céuSepare,Que o medoDomine,Que o horizonteTermine?
20
Pão e Circo
Pobre,me aqueçomeço à quiloo preçoda nobreza:
não é berço nem nomeé belezaem olhos mortosde fome
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Barca
Eu quero é descerdas nuvens negrasda Paixãoe nadar nessa poçade lágrimas de moçapra ver se eu flutuoou afundo
22
Delírio Sazonal
“Abre essa janela!Primavera quer entrar!”de repente fico quieto:foi a primeira vez em anosem que eu ouço um insetorecitando Los Hermanos
23
Amém
Me afundono vaziodos teus braços,Me aninhoem seus traçostão sozinhostão escassostão só seusQue eu agradeço a Deusentre aves e Marias:
Agradeço às maniasaos olhares singularesàs costas expostasàs costas cobertasà boca que flertaCom respostasbem certas
24
Enquanto Houver Sol
Amareloque iluminaCada esquina- Cada vidaparalela
E eu me perguntodividida,Amar eleou amarela?
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26
Estômago
Rejeitoessa dorno meu peitoPra ver se para de fazerefeito(E quem sabe não faz amor?)
Mas a minha moral sem jeitonão se cansade pensarno saborAmargoque me mastigadentro da suaBarriga
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Incógnita
Mas que feticheque eu tenhopelo futuroe seu desenhoborrado- quase não o vejo.
Mas sei que meu desejovem bem da escuridãode quererachar um X na questãosem nem mesmo tero termoconstante!
Vou te contar...!O que eu preciso, mesmo,é de umacalculadora científica.
28
(re)conhecer
Não ria do meu prantoNão presto nesse canto.
Não ria,não chorenão olhee, por favor, não cante!
Sou eu,distante.
Não preste atenção,Não aja com espantoou desdém;Sou eu,sou seu!sou
Quem?
29
Saco cheio
Não me chateia quejá sou tachada de maldosa
Quantas doses de prosavou ter que tomaraté que acabeessa sobriedadee só sobre
a verdade?
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Outono
Caiu a folhatorta e tontamorta de fome
Perdeu a contaperdeu o nome
Subiu o diae a folha some
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Eu não sei porque que a gente tá aqui, eu não respondo pergunta nenhuma, não adivinho o futuro e não leio mão de ninguém. Eu não sei todas as regras de acentuação e não sou formada em nenhuma faculdade européia, e eu não vejo necessidade nenhuma em qualquer diploma estrangeiro ou certificado de conhecimento pra soltar palavras no papel e deixá-las correr e fluir em paz.
Nina Uyttenhove
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