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RAFAEL DE CAMARGO
UM ESTUDO DO MERCADO BRASILEIRO B2B DE CONTEÚDOS MÓVEIS (MOBILE)
Trabalho de formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção
São Paulo 2009
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RAFAEL DE CAMARGO
UM ESTUDO DO MERCADO BRASILEIRO B2B DE CONTEÚDOS MÓVEIS (MOBILE)
Trabalho de formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção
Orientadora:
Profa. Dra. Marly Monteiro de Carvalho
São Paulo 2009
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FICHA CATALOGRÁFICA
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, que são os responsáveis por tudo o que conquistei até hoje, e a todos aqueles que contribuíram para minha formação como um Engenheiro de Produção.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos aqueles que auxiliaram e contribuíram direta e indiretamente neste
trabalho.
Á minha orientadora Profª Drª Marly Monteiro de Carvalho por seus valiosos conselhos
e orientações que enriqueceram este trabalho.
Aos meus amigos que ao longo destes cinco anos compartilharam momentos de alegria.
Aos meus colegas de trabalho que abriram a oportunidade da realização deste trabalho e
que estiveram sempre presentes e dispostos a contribuir.
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RESUMO
Esse trabalho apresenta uma análise do ambiente competitivo no mercado brasileiro de
conteúdos para celular de maneira focada sobre as empresas com atuação em mercados
organizacionais. O estudo foi realizado através da aplicação prática de técnicas de
mapeamento e monitoramento do ambiente competitivo traçando um panorama da indústria,
fundamentado em fontes secundárias, e um estudo detalhado do mercado de conteúdos para
celular, baseado em 18 entrevistas com diversos participantes do mercado. A avaliação do
ambiente estratégico é composta da análise de forças competitivas abordando cada um dos
elos do sistema de valor desse mercado, sendo o resultado final uma perspectiva interessante
sobre a cadeia produtiva, apontado problemas para seu desenvolvimento e a importância do
mapeamento de pressões para a obtenção de um posicionamento estratégico sustentável.
Palavras-chave: Serviço de valor adicionado. Análise do mercado organizacional.
Estratégia competitiva.
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ABSTRACT
This paper presents an analysis of the competition in the value added services market
for mobile devices in Brazil, focusing on enterprises oriented to a business to business model.
This study was accomplished applying techniques for mapping the market and monitors its
environment, being performed an overview of the value system, through secondary resources,
and a detailed analysis of the market based on 18 interviews with a wide range of players. The
valuation of the strategic scenario was developed according to a five competitive forces
analysis over each step of the productive chain, being the final result an interesting
perspective of the system, pointing out the main problems for the market development and the
importance of mapping the strategic variables to reach a sustainable strategic position.
Keywords: Value added services. Market analysis B2B. Competitive strategy.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1.1 - Estrutura do trabalho 15
Figura 2.1 - estrutural da indústria: As cinco forças competitivas (Porter, 1979) 18
Figura 2.2 - Matriz do poder (adaptado de Cox et al., 2000) 20
Figura 2.3 - Cadeia de valor (Porter & Millar, 1985) 22
Figura 2.4 – Matriz de intensidade de informação (adaptação Potter & Millar 1985) 23
Figura 2.5 - Impacto de aplicações de TI (adaptado de McFarlan, 1984) 23
Figura 2.6 - O sistema de valor (Porter & Millar, 1985) 24
Figura 3.1 - Descrição esquemática sobre a estrutura do trabalho 28
Figura 4.1 - atividades segundo predominância B2B e B2C 35
Figura 5.1 - Mapeamento das empresas entrevistadas 75
Figura 5.2 - Números de empresas por problema mencionado 77
Figura 5.3 - Descrição da partilha de receita 85
Figura 5.4 - Matriz do poder entre integradores, clientes e fornecedores 91
Figura 5.5 - Matriz do poder entre produtores de conteúdo e seus clientes 97
Figura 5.6 - Matriz do poder entre provedores de tecnologia e clientes 103
Figura 5.7 - Matriz do poder entre PSCM varejista, clientes e fornecedores 108
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LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 – Efeitos da internet nas forças competitivas (adaptado de Potter 2001) 25
Tabela 2.2 - Cadeia organizacional da internet (adaptado de Carvalho & Laurindo
2003) 26
Tabela 4.1 - Descrição de tipologias de empresa segundo atividades exercidas 39
Tabela 5.1 - Sumário de empresas entrevistadas 42
Tabela 5.2 - Custo de tráfego de dados para conexão 3G 78
Tabela 5.3 - Estimativas para falha na cobrança 80
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LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
3G: terceira geração de tecnologia de telecomunicações móveis;
ANATEL: Agência Nacional de Telecomunicações;
B2B: business to business, negócio para negócio;
B2C: business to consumer, negócio para consumidor;
GB: gigabyte;
Kb: kilobyte;
MB: megabyte;
PSCM: provedor de serviços e conteúdos móveis;
SMS: short message service, serviço de mensagens curtas;
SVA: serviço de valor adicionado;
TI: tecnologia da informação;
TIM: Telecom Italia Mobile, Telecom Itália Móvel;
WAP: wireless application protocol, protocolo de aplicação sem fio;
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18
Sumário
1. Introdução ................................................................................................. 13
1.1. Motivação ........................................................................................... 13
1.2. Objetivos ............................................................................................ 13
1.3. Estrutura ............................................................................................. 14
2. Revisão da literatura ................................................................................... 16
2.1. Estratégia ............................................................................................ 16
2.2. Análise ambiental ................................................................................ 17
2.3. Cadeia e sistema de valor ..................................................................... 21
2.4. Mercados B2B .................................................................................... 26
3. Abordagem metodológica ........................................................................... 28
4. Apresentação do setor ................................................................................ 31
4.1. Apresentação dos atores ....................................................................... 31
4.1.1. Operadoras de celular .................................................................... 31
4.1.2. Provedores de serviços e conteúdos móveis (PSCM) ......................... 32
4.1.3. Companhias de mídia ..................................................................... 33
4.1.4. Provedores de conteúdo ................................................................. 33
4.1.5. Provedores de tecnologia ................................................................ 34
4.2. Apresentação das atividades no sistema de valor ..................................... 34
4.2.1. Planejamento do conteúdo .............................................................. 35
4.2.2. Produção do conteúdo .................................................................... 36
4.2.3. Agregação do conteúdo .................................................................. 36
4.2.4. Gerenciamento do conteúdo ........................................................... 37
4.2.5. Integração ..................................................................................... 37
4.2.6. Apresentação do conteúdo .............................................................. 38
4.2.7. Gerenciamento da Tarifação ........................................................... 38
4.3. Síntese de tipologia de empresas por atividades na cadeia ........................ 39
5. Apresentação dos resultados........................................................................ 41
5.1. Apresentação dos casos ........................................................................ 41
5.1.1. PSCM Integradoras ....................................................................... 42
5.1.2. PSCM Varejistas ........................................................................... 54
19
20
5.1.3. Provedor de conteúdo ............................................................................. 63
5.1.4 Provedores de tecnologia ................................................................ 71
5.2. Análise dos estudos de caso .................................................................. 74
5.2.1. Transmissão de dados .................................................................... 77
5.2.2. Perfil dos usuários ......................................................................... 79
5.2.3. Falha na cobrança .......................................................................... 80
5.2.4. Impostos ....................................................................................... 81
5.2.5. Burocracia .................................................................................... 82
5.2.7. Plano de assinatura ........................................................................ 84
5.2.8. Poder das operadoras ..................................................................... 84
5.2.9. Pirataria ........................................................................................ 85
5.3. Análise ambiental e discussão ............................................................... 86
5.3.1 PSCM Integradores ........................................................................ 86
5.3.2 Provedores de conteúdo .................................................................. 92
5.3.3. Provedores de tecnologia ................................................................ 98
5.3.4. PSCM varejistas .......................................................................... 103
6. Conclusão e recomendações ...................................................................... 109
6.1.Mercado brasileiro B2B de conteúdos móveis ....................................... 109
6.2.Considerações finais ........................................................................... 112
REFERÊNCIAS .......................................................................................... 115
Anexo A - Roteiro de entrevistas: .................................................................. 117
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1. Introdução
Nesse capítulo introdutório apresenta-se brevemente a empresa e o estágio em que foi
desenvolvido o trabalho de formatura. Em seguida, descreve-se o objetivo da pesquisa e, após
esta etapa a estrutura do trabalho é apresentada para orientar o leitor.
1.1. Motivação
O aluno realizou um estágio na MobileK2, uma empresa de consultoria em marketing,
especializada na área de serviços de valor adicionado (SVA) para telefonia móvel. A empresa,
que está localizada na Itália e é ligada ao Politecnico di Milano, surgiu em 2001, possuindo
atualmente uma estrutura com cerca de 30 funcionários.
Criada com o objetivo de realizar uma análise do mercado italiano de SVA para
celulares, a MobileK2 é responsável por uma pesquisa anual sobre o perfil dos consumidores
de SVA para celular, o posicionamento estratégico das empresas que compõe este sistema de
valor, um censo sobre a oferta e tendências para este mercado.
Nos últimos anos, a empresa expandiu seu foco para os mercados emergentes,
realizando pesquisas na África Setentrional, Brasil, Eslováquia, Hungria, Oriente Médio,
Polônia, República Tcheca e Turquia. Em todas estas localidades a MobileK2 conduz
pesquisas anuais, seguindo o modelo das pesquisas desenvolvidas na Itália, publicando
relatórios sobre o mercado de SVA local e comparações com outras regiões.
Durante 2008 a empresa realizou a primeira pesquisa sobre o mercado de SVA para
telefonia móvel no mercado Brasileiro. Como estagiário, o aluno esteve envolvido no
recenseamento dos serviços, oferecidos por 290 empresas, e entrevistas, com 24 companhias
de diversos segmentos da cadeia de valor.
1.2. Objetivos
O setor de serviços de valor adicionado para telefonia móvel no Brasil é um mercado
recente, sendo que o uso de aparelhos celulares se tornou abrangente somente após a
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privatização do sistema Telebrás em 1998. Entretanto, este é um segmento dinâmico, com
uma enorme variedade de produtos e serviços e contando com concorrentes de grande porte,
como operadoras de celular e empresas de mídia. Vale também destacar a complexidade das
forças competitivas, pois partes da cadeia são compostas por pequenas empresas como
provedoras de tecnologia e programadores independentes, exigindo um delicado equilíbrio
para a sobrevivência da cadeia produtiva.
Alem desta complexidade, a importância dos SVA para telefonia móvel deverá crescer
de maneira significativa nos próximos anos e oferecer uma maior gama de serviços e produtos
mais sofisticados. Isto será devido aos avanços tecnológicos promovidos pelos smartphones
(telefones inteligentes) e uso de redes 3G, possibilitando um maior número de recursos aos
aparelhos celulares, conexão rápida e a menor custo para acessar a internet.
O objetivo deste trabalho de formatura será um estudo exploratório do ambiente
competitivo das empresas que operam na cadeia de SVA para telefonia móvel, focando
especificamente nas relações entre empresas (B2B, business to business, empresas para
empresas) e buscando entender o posicionamento dos principais competidores.
1.3. Estrutura
Este trabalho de formatura é composto de seis capítulos, conforme a Figura 1.1. Após
esse capítulo introdutório, o Capítulo 2 corresponde à revisão bibliográfica, que aborda
conceitos relacionados a estratégia e a gestão da tecnologia da informação. Na seqüência, o
Capítulo 3 apresenta a abordagem metodológica adotada na pesquisa. O Capítulo 4 apresenta
o mercado de B2B para telefonia móvel, com base em dados secundários e o discute a luz dos
modelos da literatura. O Capítulo 5 apresenta os resultados do levantamento de campo e dos
casos estudados. O Capítulo 6 finaliza este trabalho, trazendo as conclusões e recomendações.
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Figura 11.1 - Estrutura do trabalho
Capítulo 2 – Revisão da Literatura
Capítulo 5 – Resultados da Pesquisa
Capítulo 4 – Análise do mercado de B2C de conteúdos móveis
Análise Ambiental Atores Sistema de Valor
Capítulo 3 – Abordagem Metodológica
Análise Ambiental TI
Capítulo 6 - Conclusões e Recomendações
Sistema de valor
Resultados do levantamento Resultado dos Casos
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2. Revisão da literatura
Nesse capítulo são apresentadas as referências que compuseram o quadro teórico para o
estudo das companhias do mercado de conteúdo móvel. Alinhado com os objetivos do
trabalho, é dada ênfase para estruturas e conceitos que são capazes de descrever o ambiente
competitivo e o posicionamento estratégico das empresas, como as cinco forças de Porter,
sistema de valor, mercados organizacionais e a compreensão do papel da tecnologia da
informação nesse contexto.
2.1. Estratégia
Segundo Porter (1996), os mercados estão diante de uma competição progressivamente
mais agressiva e mudanças mais freqüentes, sendo que as empresas precisam se tornar mais
flexíveis e responder mais rapidamente a competição. Nesse cenário, a estratégia ocupa cada
vez mais uma posição de destaque nas empresas modernas, tornando necessário que a busca
pelo sucesso seja cada vez mais dirigida por métodos racionais, almejando uma posição
diferenciada de vantagem. Segundo Carvalho e Laurindo (2003), essa busca começa
necessariamente por uma compreensão de quem você é e de onde se está, sendo o objetivo
aumentar o escopo da vantagem da empresa na competição sobre o mercado.
Ainda segundo Carvalho e Laurindo (2003), uma posição estratégica significa executar
atividades diferentes de seus concorrentes, ou executar atividades similares de uma forma
diferente, sendo que uma empresa pode superar o desempenho de seus rivais somente se
conseguir estabelecer uma diferença que possa ser mantida.
Também é importante mencionar que, segundo Porter (1996), a estratégia competitiva é
muito mais do que meramente a busca por eficácia e eficiência operacional. Segundo o autor,
a criação de um posicionamento estratégico único advém de três fontes distintas de foco:
atender um nicho específico de necessidades de muitos clientes, atender amplas necessidades
de um nicho específico de clientes ou amplas necessidades de diversos clientes, mas em um
nicho específico de mercado. Dessa forma, a empresa deve evitar ser guiada por comparações
com as atividades das demais companhias, em uma busca sem restrições por maior eficiência
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que culmina numa convergência de estratégias, e encarar as contrapartidas de suas decisões de
foco, abrindo mão de atividades em prol de uma oferta de valor diferenciado para seus
clientes.
Por último, vale mencionar que segundo Porter (1979), também é importante considerar
a atratividade da indústria para a formulação da estratégia. Apesar de ser um fator inerente a
cada indústria, visto que devido a diferentes pressões competitivas os mercados possuem
oportunidades de ganho variadas, as forças que exercem essas pressões devem ser analisadas
para melhor posicionar a empresa. Essa análise ambiental, que será explicada em detalhes na
subseção seguinte, deve orientar a empresa de modo a escolher uma estratégia que minimize
os impactos das forças competitivas e proporcione maior rentabilidade.
2.2. Análise ambiental
Considerando o ambiente competitivo atual, no qual as mudanças ocorrem de maneira
dinâmica e a demanda por respostas ágeis é um imperativo, o monitoramento constante do
ambiente competitivo se torna um requisito para o sucesso de uma estratégia. Esse tipo de
análise externa deve ser abrangente, considerando não apenas os participantes da cadeia
produtiva já estabelecida, como fornecedores, compradores e concorrentes diretos, mas
também as possibilidades de novos concorrentes surgirem ou as interações entre indústrias
similares, que apresentam produtos substitutos.
Para realizar uma análise estrutural da indústria de maneira prática, é possível utilizar o
modelo cinco forças de Porter (1979). Seguindo essa estrutura de mapeamento do ambiente
competitivo, são analisados cinco agentes que operam sobre a indústria: clientes,
fornecedores, concorrentes diretos, novos entrantes e produtos substitutos. Para uma
compreensão mais clara a respeito das interações analisadas, a Figura 2.1 é uma representação
gráfica deste modelo.
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Concorrentes
Existentes
Ingressantes Potenciais
Produtos/Serviços
Substitutos
ConsumidoresFornecedores
Ameaça de novos entrantes
Ameaça de produtos/serviços
substitutos
Poder de barganhaPoder de barganha
Figura 22.1 - estrutural da indústria: As cinco forças competitivas (Porter, 1979)
Analisando as forças no eixo horizontal da figura anterior, estas representam a batalha
por lucratividade na cadeia produtiva, o poder de barganha da indústria comparado a seus
fornecedores e clientes. Considerando as forças no eixo vertical, estas representam a relação
entre concorrentes potenciais, concorrentes existentes e produtos substitutos aos oferecidos
pela indústria em questão.
A intensidade dessas cinco forças são um indicativo da atratividade do mercado para as
empresas que já estão estabelecidas, sendo que uma incidência mais fraca de forças
competitivas é um cenário propício para uma indústria com ganhos maiores. No limite de
intensidade das forças competitivas, quando essas exercem uma grande pressão sobre a
indústria, o cenário se aproxima de um modelo econômico de “concorrência perfeita”.
Quanto à análise das forças de barganha entre as empresas da indústria, fornecedores e
clientes, segundo Carvalho e Laurindo (2003), existem alguns itens que são aspectos
determinantes no poder de negociação.
Analisando o poder de barganha dos clientes, esses são principalmente regidos pela:
� Concentração dos clientes (número de clientes ou compras em grandes
quantidades);
� Representação das compras como uma fração significativa dos custos dos
clientes;
� Grau de padronização da oferta de produtos;
� Grau de importância do produto na qualidade da produção dos clientes;
� Grau de informação dos clientes;
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� Posicionamento dos clientes como uma ameaça concreta de integração para trás;
� Impacto dos custos de mudança de fornecedor para o cliente;
� Rentabilidade do cliente (a baixa lucratividade dos compradores os torna mais
inflexíveis).
Considerando o poder de barganha dos fornecedores, esse é influenciado principalmente
por aspectos como:
� Concentração dos fornecedores;
� Grau de importância do insumo fornecido;
� Grau de importância da indústria para os fornecedores;
� Grau de padronização dos insumos;
� Possibilidade de a indústria utilizar produtos substitutos;
� Posicionamento dos fornecedores como uma ameaça concreta de integração para
frente.
Como forma de concluir a análise do poder de barganha dos fornecedores e
compradores, pode-se utilizar a matriz do poder, proposta por Cox et al. (2000). Essa
ferramenta possui quatro quadrantes, sendo que um destes indica a dominância do fornecedor,
outro da indústria compradora, e os demais uma relação de interdependência e dependência.
Quando ocorre a interdependência, situação na qual fornecedores e compradores possuem
forte influência um sobre o outro, é necessário o envolvimento de ambos para uma transação
de comum acordo. Entretanto, no quadrante de independência, nenhum dos atores possui
força suficiente para exigir do outro algum tipo de condição, sendo que ambos possuem outras
oportunidades de realizar as transações.
A Figura 2.2 exemplifica a matriz de poder.
20
Dominância do
comprador
Independência
Interdependência
Dominância do
fornecedorPo
de
r d
o c
om
pra
do
r
sob
re o
fo
rne
ced
or
Alt
oB
aix
o
AltoBaixo
Poder do Fornecedor sobre o comprador
Figura 32.2 - Matriz do poder (adaptado de Cox et al., 2000)
Quanto à análise das forças competitivas do eixo vertical, seguindo o modelo de Porter,
é necessário verificar as interações entre os concorrentes diretos, o potencial de entrada de
novos concorrentes e a força gerada por indústrias concorrentes com produtos substitutos.
Considerando os aspectos que influenciam a rivalidade interna da indústria, a
competição entre empresas já existentes, é necessário citar os seguintes fatores:
� Concentração de concorrentes e seu equilíbrio;
� Taxa de crescimento da indústria;
� Impacto dos custos fixos;
� Impacto dos custos de estocagem;
� Impacto dos custos de mudança de fornecedor para os clientes;
� Grau de padronização entre as ofertas;
� Restrições para o aumento da capacidade (possível apenas através de grandes
investimentos);
� Grau de divergência entre as estratégias dos concorrentes;
� Impacto das barreiras de saída.
Levando em consideração que a potencial concorrência de novos entrantes, esta é
diretamente ligada à existência de barreiras de entrada, deve-se ser considerar aspectos como:
� Necessidade de economias de escala;
� Grau de proteção gerada por patentes;
� Acesso aos canais de distribuição;
� Velocidade da curva de aprendizado;
� Necessidade intensa de investimentos;
21
� Necessidade de subsídios para adquirir força competitiva;
� Retaliação dos demais concorrentes;
� Impacto dos custos de mudança de fornecedor para os clientes;
� Impacto de uma marca forte.
Por último, as forças exercidas pelos produtos que provavelmente podem substituir os
da indústria analisada, são guiadas por características como:
� Similaridade do desempenho do produto substituto;
� Impacto dos custos de mudança de fornecedor para os clientes;
� Benefícios do produto substituto.
Portanto, tendo em mente todos esses aspectos, a estratégia deve procurar nichos em
que as forças sejam menores ou criar condições de enfraquecer algumas forças, para gerar
maior lucratividade. Um exemplo de posicionamento capaz de elevar a vantagem competitiva
da empresa seria a busca por um maior diferencial na oferta da companhia ou a elevação dos
custos de mudança para o cliente.
2.3. Cadeia e sistema de valor
Segundo Porter & Millar (1985), cadeia de valor seria o conjunto de atividades
tecnológicas e economicamente distintas que a empresa utiliza para realizar seus negócios. A
relevância estratégica dessa análise está no fato de que ao agregar valor a cadeia de maneira
mais significativa do que os concorrentes, uma empresa torna-se mais competitiva.
Para se construir uma representação de uma cadeia de valor, é preciso escolher
atividades independentes, que podem ser divididas em duas classificações: atividades de
suporte e atividades primárias. Usualmente são representadas nove atividades genéricas, cinco
pertencentes a atividades primárias (logística interna, operações, logística externa, marketing,
vendas e prestação de serviços) e quatro pertencentes a atividades de suporte (infra-estrutura
empresarial, gerenciamento de recursos humanos, desenvolvimento de tecnologia e aquisição
de insumos).
A Figura 2.3 é uma representação para o estudo de uma cadeia de valor.
22
Infra-estrutura
empresarial
Gerenciamento de
recursos humanos
Desenvolvimento de
tecnologias
Aquisição de insumos
Atividades
Suporte
Logística
InternaOperações
Logística
Externa
Marketing e
vendas
Prestação de
serviços
Atividades Primárias
Figura 42.3 - Cadeia de valor (Porter & Millar, 1985)
Vale mencionar que a estratégia das companhias é baseada em muito mais do que ações
isoladas, sendo a importância dessas estruturas de análise uma visão sistêmica e abrangente da
empresa. Segundo Porter (1996), o foco excessivo em eficiência operacional causa uma
padronização entre as atividades das empresas e a perda ou enfraquecimento e sua
diferenciação, causando problemas de sustentação de um diferencial competitivo. Também
são mencionadas vantagens quanto à obtenção de um conjunto de ações alinhadas ao redor de
um ideal estratégico, proporcionando à empresa vantagens competitivas advindas de suas
interações, causando um benefício competitivo maior do que a soma direta de cada uma das
atividades isoladamente. Esse posicionamento conjunto de ações é muito mais difícil de ser
copiado por outra empresa, uma vez que os mesmos benefícios não são alcançados caso nem
todos os aspectos sejam copiados, promovendo maior sustentabilidade das vantagens
competitivas.
É importante notar que a TI permeia as cadeias de valor, não só na forma de executar as
atividades de valor, mas também na natureza das ligações entre elas. O potencial impacto da
TI varia de acordo com as características intensidade de informaçãoda cadeia de valor e do
produto. A Figura 2.4 apresenta uma representação elaborada por Potter & Millar (1985)
sobre a intensidade de informação em uma indústria e, de maneira complementar, a Figura
2.5. representa o grid estratégico de McFarlan (1984) cruzando a TI com a estratégia e
operação das indústrias.
23
Alto
Baixo
Baixo
Intensidade
da informação
na cadeia
Informação no
produto
Alto
Cimento
Refinaria Banco
Jornal
Figura 52.4 – Matriz de intensidade de informação (adaptação Potter & Millar 1985)
Alto
Baixo
Baixo
Impacto
presente
Impacto futuroAlto
Fábrica
Suporte
Estratégico
Transição
e.g. Companhias
aérea
e.g. Indústrias
e.g. Bancos
e.g.e-commerce
Figura 62.5 - Impacto de aplicações de TI (adaptado de McFarlan, 1984)
O quadrante “suporte” engloba empresas em que a TI possui pequena influência nas
estratégias atuais e futuras das mesmas. Essas companhias possuem baixa intensidade de
informação em sua cadeia de valor e normalmente produtos simples. Assim, não existe
necessidade de posicionamento de destaque da área de TI na hierarquia da empresa.
24
Considerando o quadrante “fábrica”, este apresenta companhias nas quais as aplicações
de TI são importantes para o seu sucesso atual. São exemplos dessas companhias empresas
que possuem grande uso de informação em sua cadeia ou produto, mas em sua maioria não
trabalham puramente com informação. Nesses casos, não são projetadas novas aplicações com
impacto estratégico para a empresa e a TI deve estar posicionada em um alto nível
hierárquico.
O quadrante “transição” apresenta empresas cuja importância da TI está passando de
“suporte” para uma posição de maior destaque estratégico. Assim, a TI tende a seguir o
mesmo caminho com relação à hierarquia da empresa, indo para uma posição de maior
relevância.
Por último, o quadrante “estratégico” engloba companhias em que a TI tem grande
influência estratégica. Majoritariamente, empresas que operam em um ambiente de grande
intensidade de informação e com produtos que são puramente informação fazem parte deste
quadrante. Neste tipo de cenário, tanto as aplicações atuais quanto às futuras aplicações de TI
têm importância estratégica. Portanto, é necessário que a TI esteja posicionada em alto nível
hierárquico.
Entretanto, essa análise sobre cadeia de valor é interna a empresa, sendo que a aplicação
deste conceito para uma indústria, desde os fornecedores até os consumidores finais, constitui
um sistema de valor. Essa análise divide os participantes da cadeia entre fornecedores,
produtores, canais e compradores e é mais adequada para a proposta desse trabalho, focado na
cadeia e não em uma empresa particular.
A Figura 2.6 apresenta uma representação de um sistema de valor.
Valor cadeia
acima
Valor cadeia
acimaValor cadeia
abaixo
Cadeia de valor
de fornecedores
Cadeia de valor
da empresa
Cadeia de valor
dos canais
Cadeia de valor
dos compradores
Figura 72.6 - O sistema de valor (Porter & Millar, 1985)
Por último, Tapscot (2001) menciona os impactos da internet quanto à integração entre
empresas e uma maior dependência da estratégia para com todo o sistema de valor. No atual
cenário, a terceirização se tornou uma atividade muito mais comum, sendo citada como
25
exemplo a Boeing, companhia que não mais é considerada uma montadora de aviões, mas
atua como uma integradora do sistema de valor. Analisando esse fato, é possível perceber que
a internet é o meio que possibilita uma maior coordenação e integração dos atores, sendo,
portanto um agente principal dos negócios modernos, no qual as empresas estão mais focadas
em um escopo menor de atividades, tornando-se mais especializadas e eficientes em seus
negócios principais.
Conforme mencionado anteriormente, Porter (2001) alerta para o fato de que, apesar de
gerar maiores eficiências, esse escopo estreito de verticalização causa dificuldade em se
manter uma posição estratégica diferenciada. A competição passa a depender da cadeia e
apesar da imitação de um sistema de valor ser complexa, segundo Porter (2001) as forças
competitivas são ampliadas pela maior interdependência e as empresas perdem o controle
sobre as características de sua estratégia.
A Tabela 2.1 explicita o efeito da mudança sobre cada uma das cinco forças
competitivas.
Tabela 12.1 – Efeitos da internet nas forças competitivas (adaptado de Potter 2001)
Força competitiva Efeito da Internet Concorrentes existentes Reduz diferenças, acirra guerra de preços e aumenta o
mercado. Novos entrantes Diminui barreira de entrada, atrai novos entrantes.
Produtos substitutos Viabiliza produtos substitutos, aumenta o mercado
Compradores Mais poder aos consumidores quem consultam preços on-
line reduz custos de mudanças e elimina alguns intermediários.
Fornecedores Aumenta o poder de barganha, pois o acesso a fornecedores é mais fácil; em contrapartida os fornecedores têm acesso a mais clientes.
Pode-se notar que, em uma analise geral, a competição tende a se tornar mais acirrada à
medida que barreiras de entrada são reduzidas, os custos de mudança se tornam menores e os
clientes ganham mais acesso a informação. Entretanto, essas características permitem uma
atuação mais ampla e o acesso a novos mercados, devido a menores necessidades de presença
física, sendo um importante fator para atenuar a competição.
Como exemplo de cadeias para negócios virtuais, Gereffi (2001) propôs uma cadeia
organizacional dividida em empresas encarregadas de fornecer a infra-estrutura para os
26
negócios como equipamento para internet, fabricantes de PC, Software para PC e
navegadores. Também fazem parte da cadeia as empresas que fornecem a conexão com a
internet e os provedores de conteúdo. A tabela 2.1 a seguir exemplifica essa cadeia
organizacional, citando alguns exemplos de companhia pertencentes a cada categoria.
Tabela 22.2 - Cadeia organizacional da internet (adaptado de Carvalho & Laurindo 2003)
Fornecedor de
equipamento
para internet
Fornecedor de
PCs e
componentes
Fornecedor
de software
Fornecedor
de browser
Provedores
de serviço de
internet
Provedores
de conteúdo
Consumidores
Cisco System
Lucenet
Technology
Nortel
Sum
Microsystems
Dell
HP
Compac
IBM
Intel
Microsoft
Apple
Unix
Linux
SAP
Microsoft
Apple
Telefônica
Net
Terra
Ig
Globo
Empresas
Usuários fináis
2.4. Mercados B2B
Segundo Kotler & Keller (2007), o mercado B2B (Business to business) é formado por
todas as organizações que produzem bens e serviços utilizados na produção de outros
produtos ou serviços que são vendidos, alugados ou fornecidos a terceiros. As compras
realizadas por empresas envolvem maiores volumes do que as feitas por consumidores finais,
sendo que diversos fatores separam nitidamente esse mercado dos mercados consumidores.
Notadamente, as transações B2B ocorrem em ambientes nos quais o número de clientes
é menor, porém o porte destes é muito maior. Por conseqüência, existe um relacionamento
muito mais estreito entre os fornecedores e clientes, sendo que os fornecedores estão
freqüentemente dispostos a customizar suas ofertas segundo as necessidades de seus maiores
clientes, e as compras são profissionais, devendo todas ser bem avaliadas e seguir uma série
de procedimentos.
Essas são características muito adversas de um mercado B2C (mercado consumidor), no
qual diversas compras ocorrem por impulso e com influência de poucos envolvidos.
Analisando as compras corporativas, é comum que para a aquisição de bens importantes
sejam criados comitês de compras com a participação de técnicos, gerentes, especialistas de
mercado e alta gerencia. Essas compras são comumente realizadas com um número muito
27
maior de contatos entre os envolvidos, uma vez que há um maior número de pessoas e
procedimentos.
Além desse fator, existem diferenças relacionadas à origem da demanda de cada um
desses mercados. É importante mencionar que a demanda dos mercados organizacionais é
derivada dos consumidores, portanto, é de suma importância que os fornecedores B2B
também acompanhem as tendências dos mercados consumidores e indicadores econômicos.
Entretanto, os profissionais de marketing dessas empresas possuem poucos recursos para
estimular a demanda dos consumidores finais, adotando uma postura atenta, porém passiva ao
mercado final.
A demanda também difere do B2C por ser mais inelástica. Isso se deve ao fato de as
empresas clientes não alterarem muito seus padrões de compras baseados no preço dos
insumos, a não ser que existam produtos substitutos para os insumos e esses possam ser
facilmente adquiridos. Também, pode ser que os clientes resolvam se estocar de produtos,
aproveitando de uma situação na qual acreditem que os preços dos fornecedores estão
anormalmente baixos, mas a demanda tende a ser inelástica, pois é derivada, acompanhando
as compras realizadas por clientes finais.
Esse acompanhamento dos mercados consumidores torna a demanda do mercado B2B
mais oscilante. Segundo Kotler & Keller (2007), alguns economistas se referem a isso como
um efeito acelerador, sendo que as variações de demanda dos consumidores finais se
amplificam ao longo da cadeia de valor e se traduzem em variações percentuais maiores para
os fornecedores.
Por último, esses mercados se caracterizam pela concentração geográfica e a
predominância de vendas diretas. A explicação para o primeiro fenômeno está relacionada ao
fato de que ao concentrar geograficamente os compradores, menores custos de venda são
incorridos, portanto as empresas desenvolvem focos de monitoramente regionais. Quanto às
compras diretas, essas são preferencialmente realizadas com os fabricantes, sobretudo quando
os produtos adquiridos possuem uma maior complexidade ou representam grande parte dos
custos.
Portanto, dessa maneira pode se traçar claramente uma divisão entre os negócios B2C
(Business to Consumer, Empresas para Consumidores) e B2B. Ao longo desse trabalho será
dada uma maior ênfase aos negócios B2B, sendo que a explicações sobre o funcionamento da
cadeia produtiva no capítulo três irá descrever as interações entre as companhias, dando a
origem da demanda.
28
3. Abordagem metodológica
Esse capítulo é dedicado a descrição sobre a abordagem metodológica que levou a
obtenção dos dados contidos neste documento. Para explicar mais facilmente esses aspectos,
mostra-se conveniente dividir este trabalho em três partes, sendo a primeira dedicada a uma
revisão teórica e estudos de mercado, a segunda para aplicação teórica sobre o tema escolhido
e por último um capítulo dedicado exclusivamente a conclusões e considerações.
A Figura 3.1 exemplifica de maneira esquemática a organização deste documento.
Parte I
Revisão teórica e estudos de caso
Estratégia competitiva
Análise Ambiental
Sistema de valor
Mercados Organizacionais
Revisão teórica
Panorama do mercado
• Camargo & Kawao (2009)
Estudos de caso
•Entrevistas
Estudo de Mercado
Parte II
Aplicação teórica
As 5 forças competitivas
Análise do sistema de valor
Análise estrutural
da indústria
Análise de dados fornecidos
durante os estudos de caso
Barreiras
Parte II
Conclusão e considerações
Conclusões finais
Considerações para futuros trabalhos
Figura 83.1 - Descrição esquemática sobre a estrutura do trabalho
Desta maneira, analisando a primeira parte do trabalho, se faz necessário explicar quais
as fontes utilizadas para a revisão teórica. Para uma revisão sobre os conceitos de estratégia
foi utilizado o livro “Estratégias para a competitividade”, Carvalho & Laurindo (2003), e
diversos artigos da Harvard Business Review, sobre estratégia e análise ambiental.
Considerando a descrição do setor, a estrutura e nomenclatura utilizada foram baseadas
no modelo utilizado pelo Osservatori ICT & Management, empresa ligada ao Politecnico di
Milano e no qual o estudante realizou um estágio, podendo se verificar a divisão e
29
estruturação do sistema do sistema de valor em diversos trabalhos publicados pela instituição.
Essa divisão foi utilizada no relatório Mobile Content: aspetando Mobile Internet e Mobile
TV, Rangone (2007), em uma análise sobre o mercado italiano, mas que se mostrou válida
também para uma análise do mercado brasileiro de serviços de valor adicionado móvel, sendo
também empregada no trabalho “An Empirical Analysis of the Mobile Content Market in
Brazil “,Camargo & Kawao (2009), sobre o mercado Brasileiro em 2008.
As fontes secundárias utilizadas para o entendimento da realidade brasileira quanto à
atuação de empresas no mercado de conteúdos para celular também foi baseada em sites
especializados sobre telecomunicações. Nesse aspecto, o site da consultoria Teleco, foi
utilizado como fonte para o entendimento do mercado sendo que este agrega trimestralmente
dados quantitativos sobre o crescimento e receita das operadoras, expansão da cobertura de
aparelhos móveis e homologação (divisão do número de aparelhos por funcionalidades).
Também são apresentados diversos dados qualitativos, notícias sobre o funcionamento da
cadeia, eventos importante sobre os principais atores e as operadoras de celular. Esse
conhecimento amplo sobre o mercado foi necessário para um melhor aproveitamento das
entrevistas.
Muitos dos dados contidos nesse trabalho se baseiam no panorama de mercado de 2008,
traçado por Camargo & Kawao (2009). Esse trabalho realizou um censo sobre a o mercado de
conteúdo de valor adicionado móvel no Brasil durante 2008, possuindo dados atuais sobre o
número de empresas, produtos e serviços oferecidos, bem como informações sobre diversas
companhias.
Para o estudo do mercado e a condução dos estudos de caso, foram realizadas
entrevistas com 18 empresas do setor. A escolha dessas companhias foi orientada para cobrir
as grandes empresas representantes dos elos predominantemente B2B do sistema de valor.
Entretanto, um critério de conveniência também foi necessário visto que não foi possível o
acesso a todas as empresas escolhidas como alvo. Desta forma, foram entrevistadas seis
empresas PSCM integradoras, cinco PSCM varejistas, quatro provedores de conteúdo e três
provedores de tecnologia, sendo que o número de participantes foi escolhido de acordo com a
concentração do setor, sendo os PSCM mais concentrados e os provedores de conteúdo ou
tecnologia os menos. Esse maior detalhamento se mostra relevante devido ao fato de que os
setores mais concentrados estão mais próximos das operadoras de celular, atores que
dominam o sistema, sendo que uma maior compreensão deste elo ajuda a entender melhor
todo o mercado.
30
Nas companhias entrevistadas, os profissionais abordados pertenciam preferencialmente
aos setores de novos negócios ou desenvolvimento de produtos e serviços, sempre ligados a
área de conteúdos móveis. A escolha por esse tipo de profissional foi orientada pelo fato de
que essas áreas possuem um profundo conhecimento sobre os pontos críticos para o
desenvolvimento do mercado e as principais tendências da indústria. A posição hierárquica do
entrevistado dentro da empresa variou entre diretores, gerentes e supervisores, sendo dada
preferência para um contato com os funcionários de posição mais elevada dentro da área
dedicada ao mercado de celulares no Brasil. O roteiro pra as entrevistas segue no anexo A.
As entrevistas foram organizadas em estudos de caso, sendo divididos quanto ao elo na
cadeia ao qual a empresa pertence. Todos os casos possuem uma estrutura baseada no roteiro
de entrevistas e tentam passar um panorama sobre a origem e porte da companhia, modelo de
negócios e problemas críticos para o desenvolvimento do mercado. Infelizmente, os nomes
das empresas e suas marcas não constam nesse trabalho devido ao fato de não ter sido
requisitado nenhum tipo de autorização para a utilização destes, entretanto, para o objetivo
proposto sobre uma análise da indústria esse tipo de informação não se mostrou necessária.
Com essas fontes de dados secundários e primários, a primeira parte do trabalho fornece
dados suficientes para uma investigação mais aprofundada sobre a análise estrutural da
indústria. Essa segunda parte do documento é constituída pela triagem dos dados coletados
durante os estudos de caso, considerando principalmente as informações quanto a barreiras
para o desenvolvimento do mercado. Os dados coletados durante as entrevistas quanto a essas
barreiras foram categorizados em oito problemáticas, sendo feita um ordenamento quanto ao
número de empresas que mencionaram determinado fator e posteriormente uma investigação
sobre as os impactos e tais aspectos sobre o mercado.
Após essa triagem específica sobre os estudos de caso, foi realizada uma análise
ambiental sobre cada elo da cadeia. Seguindo a metodologia da análise das cinco forças
competitivas, descrita em detalhes durante o segundo capítulo, cada um dos tipos de atores foi
investigado quanto às pressões competitivas em sua indústria. Dessa maneira, essa análise se
divide segundo os membros da cadeia e está estruturada de maneira a retomar qual a pressão
exercida por cada uma das forças e uma análise final sobre a lucratividade do setor.
Baseado nesse estudo é possível concluir sobre o posicionamento de cada um dos elos
do sistema de valor e as relações competitivas entre eles. Nessa última etapa dedicada a
conclusões, o resultado da análise ambiental é retomado, bem como o objetivo do trabalho e
considerações sobre sua importância e ações futuras para um aprofundamento sobre o tema e
atualização da pesquisa.
31
4. Apresentação do setor
O objetivo deste capítulo é a descrição da cadeia produtiva de SVA para telefonia móvel
no Brasil e a delimitação das companhias que são mais focadas em transações B2B. Para isto,
as atividades de cada tipo de empresa e as interações entre estas serão descritas nas próximas
subseções.
4.1. Apresentação dos atores
Essa subseção é dedicada à descrição de todos os tipos de atores envolvidos no sistema
de valor dos serviços de conteúdo móvel. Serão apresentadas atividades associadas a cada tipo
de empresa e exemplos de companhias do setor. Vale ainda mencionar que foi dada uma
maior ênfase para as companhias que atuam em um modelo B2B de negócios, alinhando o
capítulo ao foco do trabalho.
4.1.1. Operadoras de celular
Começando pelas operadoras, é possível notar que estas possuem um papel fundamental
na cadeia, uma vez que todo usuário de SVA por telefonia móvel precisa ser cliente de uma
operadora. Esse tipo de companhia controla o sistema de tarifação sobre as contas de celular,
sendo também focada na apresentação do produto ou serviço ao usuário final. Considerando
que qualquer SVA oferecido através de telefonia móvel utiliza os meios físicos controlados
por estas companhias, este tipo de empresa é indispensável na cadeia.
Apesar de sua maior participação em atividades relacionadas ao consumidor final (B2C,
Business to Consumer, Empresas para Consumidores), esse tipo de companhia também está
presente em atividades de B2B, como o planejamento da oferta de conteúdos. Levando em
consideração a significativa participação das operadoras nas receitas geradas por esse tipo de
32
material, estas possuem grande interesse em promover produtos e pressionam ou fazem
pedidos de produção para outras empresas da cadeia, influenciando o mercado para criação de
determinados tipos de SVA.
Existem operadoras com cobertura nacional e regional. Quanto ao grupo das empresas
que atuam de maneira regional, este é composto por três empresas: AEIOU, CTBC e
Sercomtel. No segmento de operadoras com cobertura nacional, estão presentes quatro
empresas: Claro, Oi, TIM e Vivo, companhias com porte muito maior.
4.1.2. Provedores de serviços e conteúdos móveis (PSCM)
Descrevendo as atividades deste tipo de companhia, é possível notar que estas possuem
foco na agregação e gerenciamento de conteúdo. A razão para o foco em agregar conteúdos
de outras empresas, remonta aos objetivos de fornecer pacotes de produtos para outras
companhias (fornecimento B2B) ou atrair a atenção dos clientes finais (atividades B2C),
atividades que necessitam de um extensivo portfólio de produtos e serviços, adquiridos de
diversas companhias, uma vez as PSCM normalmente não possuem foco na produção de
conteúdo.
Entretanto, esta tipologia de empresa pode ainda ser classificada como integradora ou
varejista. Os integradores são focados em atividades B2B, atuando como uma interface entre
as empresas e o sistema de tarifação das operadoras de celular, estabelecendo e gerenciando
as conexões com a operadora. Os varejistas são focados em atividades de B2C, desenvolvendo
a oferta do conteúdo agregado para consumidores finais, ou atividades B2B, ofertando e
gerenciando o conteúdo agregado para outras empresas. Apesar desta divisão, é possível que
um integrador exerça parcialmente as atividades de um varejista ou o contrário, portanto uma
classificação flexível.
Quanto à descrição das empresas varejistas, essas formam um mercado pulverizado
segundo Camargo & Kawao (2009). Dentre as empresas que atuam no segmento B2B, existe
uma predominância de pequenas e médias companhias nacionais, apesar de alguns atores
estrangeiros. Entretanto, analisando as atividades de varejo, é possível notar uma
predominância de companhias internacionais, muitas com grande sucesso na Itália.
33
4.1.3. Companhias de mídia
É um fato marcante do cenário brasileiro a forte presença de companhias de mídia
atuando no mercado de SVA para telefonia móvel. Essas empresas possuem marcas fortes e
relacionadas a outros tipos de mídia (e.g. televisão, radio, revistas, jornais et cetera), sendo os
SVA para telefonia móvel apenas um complemento de suas atividades oferecidas aos usuários
finais. Também é importante mencionar a possibilidade de estas companhias atuarem como
um provedor de serviços e conteúdos móveis, agregando conteúdo e o revendendo com marca
própria.
Dentre as atividades exercidas por essa tipologia de empresa, possui destaque o
planejamento e produção de conteúdo, particularmente o info-entretenimento. A explicação
para isto remonta ao fato destas possuírem especialização para a criação deste conteúdo fora
do canal móvel, sendo natural seu desenvolvimento em um formato para celulares. Vale apena
mencionar que esse tipo de ator possui um modelo de negócios basicamente voltado para o
B2C, sendo que nesse ramo o uso de suas marcas possui um maior efeito.
Quanto à descrição dos atores nesse segmento, é possível perceber a participação de
quase todas as companhias de mídia brasileira. Segundo Camargo&Kawao (2009), grandes
corporações cromo Abril e Globo estão presentes, representando empresas de mídia
tradicional como impressa e televisiva, porém, editores Web como IG e Terra também fazem
uso do canal móvel como meio de captar novas fontes de receita e explorar novas
oportunidades.
4.1.4. Provedores de conteúdo
Estas são companhias focadas no planejamento e produção de conteúdos, normalmente
são caracterizadas por empresas menores e especializadas em algum tipo específico de
produto (e.g. jogos, papéis de parede). Entretanto, muitas vezes o planejamento não está sob o
controle dos produtores, uma vez que as operadoras ou agregadoras podem exercer pressão
34
por algum tipo específico de conteúdo, executando pedidos de produção e controlando essa
etapa.
Este é o segmento mais frágil da cadeia, um mercado pulverizado em que muitas
companhias são micro empresas ou programadores independentes. A maioria das companhias
do setor vende seus produtos sem uma marca própria, tornando-se fornecedores de PSCMs.
4.1.5. Provedores de tecnologia
Este grupo de empresas fornece suporte para a cadeia, sendo especializadas no
desenvolvimento de soluções tecnológicas. Como exemplo de suas atividades, é possível citar
a criação de sites no formato WAP, formatação de figuras para papel de parede e protetor de
tela, ferramentas para gerenciamento de conteúdo ou plataformas para envio de SMS.
Portanto, as atividades principais deste grupo são a criação de plataformas tecnológicas
e suporte técnico para os integrantes da cadeia, o que permite as outras empresas focar em
suas atividades, sem desenvolver uma especialização tecnológica.
Quanto à descrição dos atores nesse segmento, é possível notar a presença balanceada
de companhias nacionais e internacionais São exemplos dessa tipologia de empresa a
Responsfabrikken, Hands e Pinuts Studios.
4.2. Apresentação das atividades no sistema de valor
Dentre as atividades desempenhadas no sistema, algumas possuem uma maior
inclinação B2B, enquanto outras seguem modelo B2C. Sendo que esse trabalho possui foco
nas atividades B2B, é necessário criar uma descrição e separar as atividades desempenhadas
ao longo da cadeia.
A Figura 4.1 a seguir apresenta as atividades da cadeia, separadas de acordo com a
predominância B2B ou B2C.
35
Integração Planejamento
Conteúdo
Produção
Conteúdo
Agregação
Conteúdo
Gerenciamento Conteúdo
Apresentação
Conteúdo
Gerenciamento
Tarifação
Usuário
Predominância B2C
Predominância B2B
Suporte tecnológico
Figura 94.1 - atividades segundo predominância B2B e B2C
4.2.1. Planejamento do conteúdo
Essa é a etapa inicial da cadeia, nessa atividade se decide qual conteúdo será produzido
e como ele será produzido. As empresas podem decidir durante o planejamento se atuarão
com uma produção direcionada para a estocagem ou a pedidos, produzindo somente após o
recebimento de ordens. Essas decisões marcam o domínio sobre o planejamento, sendo que
empresas que produzem para estoque e empurram sua produção para o mercado possuem uma
maior autonomia sobre o conteúdo que produzem, entretanto as empresas que possuem sua
produção puxada pelos clientes atuam como seguidoras do planejamento destes.
Para entender a participação das operadoras e PSCM no planejamento do processo
produtivo, primeiramente é preciso considerar que estes são os principais clientes das
empresas que não possuem uma marca própria ou reconhecida pelos consumidores finais,
tipicamente produtores. Devido a esse fato, a sobrevivência das empresas produtoras de
conteúdo esta ligada ao alinhamento de seu planejamento com o planejamento das operadoras
e PSCM, que exercem esse poder para promoverem um suprimento maior de conteúdos que
julgam mais interessantes.
36
4.2.2. Produção do conteúdo
A produção normalmente fica a cargo dos provedores de conteúdo, com domínio
técnico sobre a tecnologia de celular, ou das empresas de mídia, com domínio sobre notícias,
direitos sobre a imagem de artistas e licenças. Normalmente os produtores de conteúdo
trabalham no B2B, realizando adaptações de figuras, vídeos e sons para o formato celular,
além de criar jogos em formato Java, atuando como fornecedores de produtos. Considerando
as empresas de mídia, essas possuem uma oferta comumente direcionada ao público final
(B2C), e mais relacionada a serviços, como a provisão de notícias por SMS ou em sua página
WAP, sendo que a formatação de conteúdo para celular usualmente terceirizado para
empresas com domínio tecnológico.
A produção pode ser realizada em diferentes escalas, sendo que a execução pode vir de
programadores independentes ou empresas com muitos programadores (e.g. Tectoy). Isso se
deve ao fato de que o investimento necessário para a criação de conteúdo muitas vezes se
resumem ao conhecimento técnico sobre a tecnologia de celulares, havendo pouco ganho de
escala para conteúdos simples. A principal barreira para a produção pode ser muitas vezes os
direitos sobre o conteúdo (e.g. direitos autorais sobre uma música), um recurso que não é
acessível a programadores individuais, sendo controlado por empresas de mídia e gravadoras.
4.2.3. Agregação do conteúdo
Essa etapa consiste na coleta do conteúdo de diversos pequenos produtores, formando
um pacote de produtos com tamanho suficientemente para suprir as necessidades de grandes
clientes, como as operadoras de celular. Essa é uma atividade importante para produtos que
são produzidos de maneira muito pulverizada e obrigariam as empresas que realizam ofertas
para o público final a estabelecer contratos com inúmeras empresas. Portanto, para diminuir a
complexidade dessa etapa, empresas como PSCM são especializadas em agregar conteúdo,
para que as companhias que mantêm foco no mercado B2C não precisem estabelecer uma
especialização em contratos B2B múltiplos.
Além das PSCM, as empresas de mídia também realizam agregação de produtos, porém
de maneira secundária. Essas companhias por vezes têm interesse em complementar sua
oferta de info-entretenimento com conteúdos de customização, porém não querem se
37
especializar na produção desse tipo de produto. Por esse foco secundário na oferta de produtos
que não estejam ligados ao info-entretenimento, as companhias de mídia não precisam
agregar o conteúdo de inúmeros produtores como as operadoras de telefonia móvel, tornando
a etapa de agregação menos complexa. Entretanto, também é comum que companhias de
mídia façam uso das ofertas previamente agregadas de PSCM, simplificando suas atividades.
4.2.4. Gerenciamento do conteúdo
Após a produção e agregação de conteúdo, as empresas possuem um grande portfólio de
produtos e serviços variados que devem ser gerenciados. Dessa maneira, companhias que
detenham conteúdo ai vender os produtos para outras companhias oferecem também o
gerenciamento deste para outras empresas. Isso é possível devido ao caráter virtual do
conteúdo móvel, podendo pertencer a uma companhia, mas estar armazenado no servidor de
outra, livrando empresas de tarefas técnicas como gerenciamento de servidores.
Entretanto, essa atividade também esta relacionada ao modelo B2C, ao se considera o
conteúdo que é ofertado diretamente ao consumidor final. Todas as operadoras de celular
mantém em seus servidores a oferta de conteúdo móvel que pode ser tarifada, cuidando de seu
gerenciamento, mas com uma forte orientação para os negócios orientados ao consumidor
final, como gestão do faturamento.
4.2.5. Integração
Esta é uma atividade que consiste na ligação do sistema das empresas ao das
operadoras, sendo necessária para todas as companhias que desejam ofertar seu conteúdo
através do portal das operadoras e utilizar seu sistema de tarifação. Essa tarefa é normalmente
terceirizada para empresas PSCM integradoras, visto que existem entraves técnicos devido à
falta de padronização do sistema das operadoras e políticos, dificultando a obtenção de acesso
ao sistema de tarifação. Essa conexão é uma atividade complexa, sendo que as operadoras só
disponibilizam acesso para empresas que já conhecem e confiam, representando uma barreira
para a entrada de novas companhias. Portanto, as empresas integradoras atuam como
38
facilitadoras, oferecendo as outras companhias conexões para todas as operadoras, tornando
esse processo muito mais ágil visto que estas já possuem a confiança das operadoras.
4.2.6. Apresentação do conteúdo
Essa é a atividade que lida com o canal direto de apresentação para o consumidor final,
portanto uma atividade exclusivamente B2C. A apresentação de conteúdo significa não
apenas a disposição deste nos WAP sites, mas também a presença de ofertas em veículos de
mídia diversos, como um número curto apresentado em uma revista ou propaganda de TV.
Para essa etapa é importante que as empresas possuam uma marca reconhecida pelos
consumidores finais, de maneira a chamar a atenção destes para a oferta. Portanto, essa
atividade é comumente exercida por companhias de mídia e operadoras, que utilizam
principalmente seus canais de mídia mais naturais para a oferta (e.g. uma empresa que
trabalha com mídia impressa naturalmente fará grande uso de revistas para divulgar serviços
por números curtos).
4.2.7. Gerenciamento da Tarifação
Essa é uma tarefa de domínio exclusivo das operadoras, uma vez que o sistema de
tarifação sobre a conta de celulares a estas pertence. Considerando que para ser tarifado
utilizando a conta dos celulares dos celulares como pagamento, qualquer conteúdo deve
passar por esse sistema, as operadoras possuem um enorme poder de barganha sobre o
restante da cadeia.
Métodos alternativos para a cobrança do conteúdo como cartão de crédito não são
comuns nesse tipo de mercado. Isso pode ser entendido devido à maior burocracia e
insegurança desses meios, que atrelam contas bancárias a compra de conteúdo móvel e inibe o
consumo dos clientes, que se sentem mais a vontade em utilizar suas contas de celular.
Apesar de pequena, também é importante mencionar a presença de conteúdo não
tarifado, como ações de marketing. Esse tipo de conteúdo funciona usualmente como um
comercial ou ação de marketing viral das empresas, sendo que essas fornecem os produtos
39
gratuitamente, pois estão interessadas que os clientes finais utilizem os produtos de
customização ou entretenimento com a sua marca.
4.3. Síntese de tipologia de empresas por atividades na cadeia
Após a exposição de todas as tipologias de empresas, é necessário retomar de maneira
comparativa a atuação de cada uma destas. A tabela 4.1 apresenta de maneira sintética a
descrição das companhias do setor, considerando as atividades exercidas.
Tabela 34.1 - Descrição de tipologias de empresa segundo atividades exercidas
Analisando a tabela anterior, é possível perceber que algumas empresas possuem maior
ênfase em atividades de B2C, encarregadas de oferecer o conteúdo aos usuários finais.
Portanto, as operadoras, PSCM varejistas e companhias de mídia, segundo uma óptica de
relacionamentos entre empresas (B2B), podem ser classificadas como clientes, uma vez que
estas apresentam os serviços aos usuários finais e recebem suporte de outras companhias da
cadeia. É também importante ressaltar que, apesar de as companhias de mídia possuírem foco
no planejamento e produção de conteúdo, utilizam essas atividades como fornecedores
internos, sem atuar de maneira relevante como fornecedoras de conteúdo em transações B2B.
40
Verificando as atividades das empresas focadas em planejamento e produção de
conteúdo, suporte tecnológico e conexão com as operadoras, estas caracterizam as
companhias que atuam como fornecedoras de transações B2B. Portanto, PSCM integradoras,
provedores de conteúdo e provedores de tecnologia são aquelas que mais se enquadram nesta
classificação. A única tipologia de empresa que possuí um caráter duplo, por vezes ofertando
serviços aos usuários finais, mas exercendo uma importante função como fornecedora em
transações B2B, são as PSCM varejistas, pois matem foco na agregação de conteúdo e,
conseqüentemente, fornecem pacotes de produtos para outras empresas.
41
5. Apresentação dos resultados
Esse capítulo é dedicado a apresentar os resultados empíricos da pesquisa. Sua estrutura
está dividida de maneira a primeiro apresentar os estudos de caso, criados a partir de uma
série de entrevistas. Depois, um ordenamento das informações coletadas, mapeando as
empresas segundo tamanho, diversidade de oferta e modelo de negócios, bem como uma
análise sobre os problemas de mercado comumente citados durante as entrevistas. Por último,
de posse dos dados coletados e das fontes secundárias de informação, é realizada uma análise
ambiental seguindo o modelo de cinco forças, avaliando a atratividade de cada elo da
indústria.
5.1. Apresentação dos casos
Seguindo a metodologia previamente apresentada, foram realizadas 18 entrevistas com
diversos membros da cadeia de VAS, orientados para um modelo B2B de negócios. A lista de
empresas que praticam atividades essencialmente relacionadas a outras companhias é
composta por PSCM integradores e varejistas, provedores de conteúdo e provedores de
tecnologia. A tabela 5.1 apresenta as empresas que foram entrevistadas de acordo com sua
tipologia, número de funcionários e origem do capital.
42
Tabela 45.1 - Sumário de empresas entrevistadas
Empresa Participação no sistema de valor # Funcionários Origem do capital
A PSCM Integradora 110 Brasil
B PSCM Integradora 140 Brasil
C PSCM Integradora 99 Itália
D PSCM Integradora 45 Dinamarca
E PSCM Integradora 100 Brasil
F PSCM Integradora 100 Brasil
G PSCM Varejistas 5 Espanha
H PSCM Varejistas 18 Itália
I PSCM Varejistas 3 Itália
J PSCM Varejistas 10 Itália
K PSCM Varejistas 60 Argentina
L Provedor de conteúdo 30 Brasil
M Provedor de conteúdo 50 Brasil
N Provedor de conteúdo 100 França
O Provedor de conteúdo 35 Brasil
P Provedor de tecnologia 18 Brasil
Q Provedor de tecnologia 18 Brasil
R Provedor de tecnologia 40 Brasil
5.1.1. PSCM Integradoras
Empresa A
Nesta empresa foi entrevistado um gerente do setor de interatividade e novos negócios,
pertencente a área de entretenimento e comunidades.
Esta companhia surgiu em dezembro de 2007 como o resultado da fusão entre duas
empresas, que começaram suas atividades no final da década de 90, e possuíam focos
distintos, uma detentora de um portfólio variado de serviços SMS e a outra especializada em
convergências de mídia e interatividade. Após a fusão, a empresa resultante obteve uma
relevância nacional e um salto significativo em ganhos de escala, despontando como uma das
lideres do setor.
Atualmente a companhia está organizada em quatro áreas principais: marketing móvel e
interatividade, entretenimento e comunidades, mobilidade corporativa e serviços para
43
operadoras. Essa última classificação se mostra necessária devido a necessidades especiais
das operadoras, um tipo muito relevante de cliente nesse mercado.
Analisando seu tamanho, vale mencionar que a companhia possui 110 funcionários e
esperam atingir a marca de 150 empregados até o final de 2009. A sede da companhia esta
localizada em Campinas, possuindo escritórios nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro,
porém, apesar do foco nas atividades brasileiras, a empresa também opera negócios na
Argentina, Chile, Estados Unidos Peru e Uruguai.
O modelo de negócios utilizado possui características B2C e B2B. Entretanto, a empresa
demonstra um maior foco em atividades direcionadas para outras companhias, sendo que suas
marcas próprias, voltadas para o cliente final, atuam principalmente como propaganda de seus
serviços B2B. Analisando o faturamento da companhia, a maior parte deste é resultante de
serviços e produtos fornecidos para outras empresas, sem a sua marca. Vale ainda mencionar
que a companhia estabelece contratos de valor fixo para seus produtos mais antigos e
contratos com divisão de faturamento para os mais novos.
Considerando as opiniões da companhia sobre o mercado de conteúdo móvel, esta
acredita que o no Brasil, apesar do grande crescimento desde 2006, o mercado ainda possui
um tamanho médio com grande possibilidade de expansão. Ainda analisando as percepções de
mercado, a empresa caracterizou a Okto como líder do segmento de integradoras.
A empresa não se considera uma desenvolvedora de conteúdo, apesar de possuir
equipes de desenvolvimento para projetos internos. A maior parte do desenvolvimento é feita
através de terceiros, sendo que a companhia possui mais de 50 parceiros para criação.
Considerando as atividades de agregação, a companhia possui acordos com outras
empresas que são consideradas agregadoras menores. Essa dinâmica pode ser analisada
através do exemplo de oferecimento de jogos em Java, sendo que a empresa está ligada a
quatro agregadoras menores e cada uma possui vinculo com cerca de 30 a 40 empresas
desenvolvedoras de jogos. A explicação para tal é que a empresa julga não ser interessante o
estabelecimento de contratos diretos com inúmeras pequenas empresas devido ao grande porte
de suas operações, o que tornaria as atividades muito complexas para obter um gerenciamento
de contratos tão eficiente como na terceirização da agregação.
Ainda segundo as percepções da empresa, o maior problema do mercado brasileiro é a
falta de aparelhos com tecnologia compatível com os produtos mais sofisticados. Agravando
esse cenário, a empresa revelou que os serviços de celular no Brasil custam mais do que no
exterior (e.g., no Brasil o envio de SMS custa oito vezes mais do que nos Estados Unidos).
44
Essa combinação de serviços e aparelhos com um alto custo, aliadas ao diminuto poder de
compra da maioria dos brasileiros é um fator que atrasa o desenvolvimento do mercado.
Entretanto, a companhia afirma que existe uma tendência de queda de preços. Isso é
baseado na análise de dados históricos, sendo que nos últimos dois anos o mercado se tornou
muito mais acessível. Analisando o futuro, a empresa acredita que a adoção do 3G deverá ser
um fator de grande contribuição para a queda no preço de transmissão de dados,
popularizando os serviços e promovendo uma expansão agressiva do mercado de valor
adicionado para celulares.
Outro ponto levantado pela empresa foram às elevadas barreiras de entrada para o
mercado de integradoras e operadoras. Por causa de um rígido controle exercido pelas
operadoras, as companhias nessa atividade se conhecem bem e exercem uma baixa
competição, descrita como cordial. Entretanto, os avanços tecnológicos diminuem essas
barreiras, à medida que as possibilidades de inovação aumentam, proporcionando uma maior
chance de entrada para novos concorrentes. Esse avanço tecnológico possui uma relevância
ainda maior para desenvolvedores, sendo que novos produtos possuem barreiras de entrada
baixas.
Por fim, é mencionado que a companhia planeja a aquisição de empresas menores. Isso
será feito com o intuito de uma acelerada expansão e a obtenção de maiores ganhos de escala.
Empresa B
Nesta empresa foi entrevistado um gerente do escritório de São Paulo, ligado a área de
novos negócios, prospecção de novos mercados.
As atividades da empresa começaram na mesma época em que os primeiros serviços de
valor adicionado móvel foram lançados no Brasil. Fundada em 2000 como uma subsidiária de
uma companhia americana, a filial brasileira se consolidou como uma especialista em
multiconectividade SMS. Entretanto, posteriormente a empresa se desligou da matriz
americana, atualmente possuindo capital majoritariamente nacional.
A companhia conta com escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro e, desde 2008,
também na cidade do México. O objetivo atual da companhia é replicar o sucesso brasileiro
em países em desenvolvimento, sendo que o hoje a empresa possui no total 140 empregados.
Esta é uma empresa de capital fechado cuja ocupação principal é a provisão de
integração de serviços SMS, exercendo gerenciamento de tráfego e cobrança. Vale também
45
mencionar que a empresa não possui uma marca de varejo, sendo totalmente focada na
provisão de tecnologia para que os seus parceiros tornem seus projetos factíveis. Portanto, a
empresa possui uma postura puramente B2B.
Líder na provisão de plataformas SMS, WAP e para download, a companhia descreve
como uma característica diferenciada, e a mais importante de seu negócio, os serviços a
customização dos aplicativos e da tecnologia vendida. Vale ainda mencionar que a companhia
opera exclusivamente em um modelo de divisão de receita, obtendo uma porcentagem do
faturamento dos serviços vendidos para seus clientes.
Analisando o crescimento da companhia e do mercado, foi afirmado que a empresa fez
um ótimo uso do rápido crescimento do mercado de celulares no Brasil, obtendo entre 2003 e
2006 um crescimento de 200% ao ano e em 2008 um crescimento de 50%. A empresa se
identifica como líder em tecnologia SMS, responsável por 90% do seu faturamento, e a maior
PSCM no mercado Brasileiro, com uma participação de mercado que beira aos 80% em
algumas linhas de negócio.
Foi mencionado que a companhia possui conexões com todas as operadoras do Brasil,
sendo que muitas delas exigem que seus outros clientes estejam ligados a plataforma da
companhia para obter acesso ao sistema de cobrança. A empresa também afirma que não
possui interesse em verticalizar as atividades executadas cadeia acima ou abaixo, pois isso iria
ferir seus clientes ou fornecedores desestabilizando a cadeia.
É importante citar que a empresa possui uma política que evita alianças estratégicas
com outros atores cadeia abaixo. Qualquer sinal de exclusividade ou parceria mais profunda
poderia irritar uma parcela de seus clientes e ameaçar o modelo de negócios desenvolvido, no
qual a empresa se tornou a solução comum para a conectividade no mercado Brasileiro.
Como fatores críticos de mercado, a empresa apontou para o fato de o mercado
brasileiro estar se expandindo e possibilitando a entrada de diversas companhias pequenas.
Entretanto, também foi mencionado que os níveis de competição na cadeia de conteúdo móvel
são elevados, havendo muitos atores dominantes que exercem uma enorme pressão sobre os
menores. Apesar das dificuldades em encontrar investidores, o mercado está passando por um
momento de consolidação sendo que diversas companhias estão juntando operações.
Ainda considerando as percepções da empresa, esta acredita que o 3G não trará um
grande impacto para o mercado brasileiro. O crescimento desse novo tipo de tecnologia é
previsto como devagar, sendo que o mercado continuará a ser impulsionado por serviços mais
46
simples. Portanto, o papel dos produtos mais sofisticados permanecerá como secundário nos
próximos dois anos.
O mercado de celulares no Brasil ainda apresenta características adversas para a
comercialização de conteúdo, como uma grande base de usuários pré-pagos e com baixa
renda, utilizando o telefone apenas para receber ligações. O custo de transmissão de dados
também foi apontado como demasiadamente alto, sendo um entrave para a disseminação de
novos serviços. Apesar desses entraves, o Brasil foi considerado como um mercado bastante
inovador, sendo que algumas emissoras de TV estão interessadas no lançamento de
transmissão de imagens para celular, focada em nichos específicos de clientes.
Por último, foi reforçado que a empresa acredita na continuidade do elevado
crescimento do mercado Brasileiro no médio prazo. Existem planos de expansão da
companhia, diversificando para novos negócios como pagamento via celular e serviços
relacionados à conexão 3G, planejando ao final de 2009 conquistar uma posição de destaque
nesses novos ramos de atividade.
Empresa C
Nesta empresa foi entrevistado o supervisor da área de integração e interatividade no
Brasil.
Essa é uma companhia Italiana com atividades no Brasil e México, que atua como uma
integradora. Atualmente a companhia possui como atividades centrais serviços de
interatividade, integração de provedores de conteúdo, marketing móvel e cobrança WAP.
A companhia iniciou suas atividades no Brasil em 2006 e possui escritórios em São
Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Internacionalmente a companhia possui parcerias com
as operadoras de telefonia celular, oferecendo tecnologia e gerenciamento de projetos para
atividades ligadas a serviços de valor adicionado móvel. Considerando o tamanho atual da
empresa, esta possui 65 empregados no Brasil, sete na Itália e nove no México.
A companhia trabalha exclusivamente em um modelo B2B e, desde 2006, oferece
serviços de plataforma e cobrança para seus clientes. Em 2008 a empresa iniciou atividades
ligadas a leilões reversos, salas de bate-papo, marketing e, em 2009, serviços de cobrança
WAP. Ao contrário dos lideres de mercado, apontados como Okto e Cyclelogic, a empresa
47
possui parcerias estratégicas com operadoras para as quais oferece exclusividade em
plataformas de marketing.
É importante mencionar que esta empresa possui a liderança do segmento de serviços
sob modelo de subscrição, muito difundido na Europa, controlando 90% do mercado
brasileiro nesse segmento. Foi também mencionado que os serviços de plataforma tecnológica
são responsáveis por 95% do faturamento da companhia, sendo os outros tipos de oferta
complementares.
Pode ser considerado que, pela posição ocupada dentro da cadeia de valor como um
integrador, seja natural que a empresa possua conexões com todas as operadoras de telefonia
móvel do Brasil. Porém, isso é executado com uma habilidade diferenciada, capaz de obter
algumas parcerias estratégicas, obtendo uma posição privilegiada de acesso ao setor de
relacionamento com os clientes dessas empresas.
Como fatores relevantes do mercado brasileiros, a empresa identificou os impostos
como sendo uma questão crítica para o desenvolvimento do mercado. Desconsiderando o fato
de que sua incidência é elevada, cerca de 30% em média, esta acontece a cada divisão da
cadeia, tornando-se um enorme problema para as empresas localizadas nas primeiras divisões
do sistema de valor. Entretanto, a empresa acredita que o governo seria capaz de solucionar
essa cobrança em cascata excessiva se desse a devida importância ao mercado de serviços de
valor adicionado móvel.
Outro aspecto apontado como crítico foi o grande número de regulações, que nesse
ambiente são em sua maioria exercidas pelas operadoras de celular e não pelo governo. Como
exemplo disso, a empresa afirmou que durante 2008 o número de exigências para a condução
dos negócios aumentou muito, sendo que novas regras para o uso de números curtos e
cobrança exigem uma dupla aprovação dos usuários, criando uma burocracia muito maior
para se lançar serviços.
Por último, a empresa comentou suas percepções quanto à evolução dos serviços de
leilão reverso no Brasil. Foi mencionado que a instituição reguladora de atividades de apostas,
loterias e prêmios em dinheiro no Brasil, a Caixa Econômica Federal, decidiu que desde o
final de 2008 esse tipo de atividade estava associado a apostas. Por conta desse
posicionamento, ratificado pelo ministério público, muitas das grandes companhias de mídia
abandonaram esse tipo de atividade ao longo de 2009, objetivando se proteger de questões
jurídicas que poderia danificar sua imagem.
48
Empresa D
Nesta empresa foi entrevistado o gerente da área de interatividade com mídia televisiva,
ligado ao departamento de interatividade.
Esta é uma companhia dinamarquesa fundada no início de 2001 por ex-funcionários de
companhias de mídia e publicidade. Em 2002, essa adquiriu uma companhia sueca com uma
plataforma de conectividade SMS para diversas operadoras de celular. Desde então, a
companhia obteve um foco crescente em atividades de marketing e interatividade com
televisão.
Em 2005 a companhia realizou uma expansão internacional, criando seu escritório no
Brasil através de uma parceria com uma companhia nacional, especializada em marketing
esportivo.
Considerando o tamanho atual da empresa no Brasil, esta possui 45 funcionários
adquirindo uma relevância crescente desde agosto de 2006 ao lançar o serviço de leilão
reverso. Como mencionado anteriormente, esta é uma empresa que opera em um modelo B2B,
sendo seu foco principal serviços de interatividade com mídia, e obtendo uma grande
relevância para as operadoras com seu serviço de leilão reverso (e.g., 38% do faturamento de
serviços de valor adicionado da TIM em 2007).
Uma das questões mais importantes para a companhia é controlar a copia de seu serviço
de leilão reverso por outras empresas do mercado. Entretanto, imitar as operações dessa
companhia exige certa habilidade política, sendo que a companhia é capaz de estabelecer
parcerias simultâneas com concorrentes de peso no mercado de mídia e entre as operadoras de
celular.
Outro fator que auxilia a empresa a manter certa exclusividade no mercado é o fato de
ser a única a obter aprovação da Caixa Econômica Federal, pois a mecânica de seu serviço
não é considerada um jogo de apostas. Isso ocorre, pois a empresa informa os usuários sobre
seu status na disputa, caracterizando o jogo como um leilão verdadeiro e provendo a empresa
uma vantagem estratégica legal e tecnológica, uma vez que essa é uma funcionalidade
complexa.
Atualmente a empresa possui conexão com todas as operadoras, porém os serviços mais
antigos ainda possuem parceria de outra integradora. Isso foi necessário para lançar o serviço
em tempo hábil e ganhar a confiança das operadoras ao iniciar as atividades no Brasil.
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Apesar do grande sucesso de seu produto principal, o leilão reverso, a companhia se
prepara para a substituição deste, antevendo o declínio devido a pressões jurídicas e
envelhecimento do serviço. Entretanto, esta não pretende mudar o foco em interatividade,
planejando lançar no mercado brasileiro serviços que são sucesso no exterior.
Considerando as relações da empresa dentro da cadeia de valor, todo o suprimento de
conteúdo é desenvolvido dentro da empresa. A empresa utiliza sua tecnologia não apenas para
serviços controlados pela companhia, mas também para outros integradores, atuando como
um provedor de tecnologia.
Foi mencionado que a competição entre integradores tem crescido no Brasil, com uma
oferta cada vez mais similar de serviços. Entretanto, essa competição é desestimulada pelas
operadoras de celular, que não estão interessadas em uma guerra de preços entre serviços que
constituem boa parte de sua receita.
Como pontos críticos apresentados pela empresa, esses estão relacionados a aspectos
legais e regulamentação. No Brasil a associação entre promoções e apostas é muito tênue,
sendo difícil obter autorização para serviços de interação com mídia e afastando clientes
potenciais. Por exemplo, foi mencionado que a TV Globo não participa de promoções via
celular desde que a promoção “Bolão do Fustão” gerou um processo legal e ameaçou sua
imagem, desde então a empresa utiliza apenas de interações simples como votação.
Outro ponto destacado como critico para o mercado é a discrepância entre o conteúdo
vendido e cobrado. Esse valor pode representar uma perda de 15% a 85% do faturamento
sendo suas principais razões ligadas a problemas técnicos. Serviços como os de interação com
mídia possuem uma resposta pontual muito forte dos clientes, dificultando a cobrança pelas
operadoras, que recebem ao mesmo tempo milhares de SMS. Outra questão apontada é o
habito do brasileiro em descobrir métodos que burlam a cobrança dos serviços, identificado
como sendo maior do que em outros países.
Também foram feitas críticas quanto à dificuldade em se estabelecer conexões com os
sistemas de cobrança das operadoras no Brasil. A companhia foi obrigada a se conectar
através de um integrador ao chegar no Brasil, não por falta de tecnologia, mas devido a
enorme burocracia para se estabelecer uma conexão direta. Foi apontado certo monopólio de
algumas companhias de confiança das operadoras para o serviço de integração.
Por último, a empresa diz não acreditar no desenvolvimento da TV por celular no curto
prazo. Essa afirmação é baseada no fato de os interesses entre as operadoras de celular e
emissoras de TV divergem nessa questão, uma vez que o padrão Japonês de TV digital não
50
gera tráfego para o sistema das operadoras ao transmitir programas de TV. Portanto, as
operadoras não estão se empenhando em disseminar esse tipo de serviço e a base de clientes
fica reduzida, o que desestimula as transmissoras de TV a criar programas com formato
próprio para celular, limitando o potencial desse serviço. A empresa aposta que com a adoção
do 3G as operadoras deverão tentar estabelecer o acesso a TV por streaming, monetizando
esse tipo de operação.
Empresa E
Nesta empresa foi entrevistado o gerente de projetos de melhoria, ligado a área de
conteúdos móveis.
A companhia foi fundada em 1997, originalmente dedicada a serviços de voz, como
interatividade e respostas automáticas. Em 2002 a empresa passou por uma grande mudança
ao se fundir com uma empresa parcialmente canadense que operava no Brasil desde 1999, e
que adicionou ao portfólio da companhia diversos tipos de serviço de valor adicionado.
Considerando o tamanho atual da empresa, esta conta com aproximadamente 100
empregados diretos. Quanto às atividades ligadas a conteúdos móveis, esses representam 50%
do faturamento da companhia e 60% da força de venda. Entretanto, apesar do expressivo
crescimento desse departamento, a companhia continua a investir em atividades ligadas ao
marketing móvel e produtos corporativos, como automação da força de vendas, em uma
tentativa de manter as proporções atuais.
Apesar de atualmente possuir foco exclusivamente no Brasil, a empresa tem planos de
expansão e já negocia algumas operações com operadoras de países africanos. Além disso, a
empresa possui um projeto conjunto com uma grande operadora, para levar o seu padrão de
site 3G para outros países da América Latina.
A companhia pode ser caracterizada como predominantemente ligada ao B2B, provendo
agregação de conteúdo e suprimento para as operadoras, a companhia também possui um
canal de varejo B2C. É importante mencionar que a companhia também possui um forte
departamento de criação interna, sendo esse um diferencial para conteúdo solicitado pelas
operadoras, mas difícil de agregar no mercado.
Todos os contratos estipulados junto às operadoras se baseiam em um modelo de
participação de receita. A divisão do faturamento varia de acordo com o conteúdo fornecido,
51
sendo que, conteúdos menos modernos têm aproximadamente 35% do valor retido pelas
operadoras e conteúdos modernos 65%. Outros fatores que impactam na divisão de receitas é
a presença de uma forte marca e o esforço de venda que será empregado pelas operadoras.
É importante destacar que a companhia não utiliza modelos de subscrição e se opõe a
essa prática. Na percepção da empresa, esse tipo de modelo é apenas uma moda passageira,
pois não agrega valor aos consumidores finais, podendo inclusive lesionar a estes.
Vale também mencionar que a empresa mantém um foco sobre serviços de
customização simples. Essa é uma estratégia centrada em clientes de baixa renda, que são
ávidos consumidores desse tipo de conteúdo, associado a status em seu meio social. Outra
atividade muito lucrativa a é a formatação de imagens licenciadas para conteúdo de
customização de aparelhos móveis, atividade feita em parceria com grandes marcas, detentora
de direito sobre as imagens, mas sem capacidade e interesse de desenvolver a formatação de
conteúdo.
Apesar de contar com a parceria de todas as operadoras, grandes empresas de mídia e
com grandes companhias de ramos variados, nenhuma dessas alianças é vista como
estratégica. A companhia mantém uma política de procura constante por novos parceiros
como uma maneira de manter sob controle a dependência aos contratos já estabelecidos. Essa
é uma questão importante para a companhia que possuí um departamento exclusivamente para
essa atividade.
É um aspecto curioso o fato de a empresa manter conexões realizadas por outros
integradores. O motivo para tal comportamento se baseia na falta de capacidade técnica das
próprias conexões da companhia, sendo que estas muitas vezes estas não possuem a
velocidade demandada pelos serviços. Também é intrigante o fato da empresa manter
conexões com dois integradores, fato que é explicado pelas exigências das operadoras.
Considerando os aspectos levantados como críticos, foi mencionado que o Brasil possui
uma grande concentração no mercado de mídia tradicional. Exemplificando essa situação,
pode se perceber que as duas maiores emissoras de TV do país possuem 70% da audiência.
Portanto, considerando o crescimento do segmento de celulares no Brasil, existem muitas
companhias de diversos segmentos interessadas na utilização dessa nova mídia como um
meio substituto a anúncios na TV.
Entretanto, o potencial dos celulares como mídia para anúncios ainda é pouco
explorado, sendo que as primeiras experiências para sua utilização ainda são recentes no
Brasil. Em localidades cujo uso de marketing via celular é mais avançado, esse se tornou uma
52
maneira mais econômica de alcançar um grande público de maneira seletiva, indicando o
potencial desse tipo de atividade.
Outro assunto apontado como crítico é a crescente regulamentação do mercado de
conteúdo móvel. Segundo as percepções da companhia, considerando do se a regulamentação,
o mercado deverá se tornar parecido com o de voz, no qual aspectos como qualidade e
contratos seguem um padrão definido.
Considerando a adoção da tecnologia 3G, os custos de trafego de dado devem cair,
promovendo um maior consumo de produtos mais sofisticados como jogos e vídeos. Outro
fator que irá promover essa mudança de consumo é adoção de aparelhos mais sofisticados
como o Iphone, compatíveis com um maior número de produtos.
Por último, a companhia acredita ser possível estimar o mercado de conteúdos móveis
como 30% a 40% da receita de tráfego de dados gerados pelas operadoras.
Empresa F
Nesta empresa foi entrevistado um gerente da área de desenvolvimento de aplicativos,
responsável pela adaptação de conteúdo para diversos aparelhos.
Esta é uma companhia brasileira fundada em 1999 e que atua como uma integradora,
provendo conteúdo, soluções técnicas e conexão ao sistema das operadoras.
A empresa está baseada na cidade de Belo Horizonte, tendo também escritórios em São
Paulo e no Chile. Atualmente a companhia possui cerca de 100 funcionários divididos em
quatro áreas de negócio: gerenciamento de conteúdo, desenvolvimento de aplicativos,
conexões com operadoras e integração com a plataforma das operadoras.
Quanto ao posicionamento dos negócios, a empresa esta totalmente focada no ramo
B2B. Apesar de anteriormente possuir um braço B2C, a empresa abandonou esse tipo de
atividade, vendendo seu portal. Essa decisão foi tomada para evitar conflitos com clientes,
que eram concorrentes das atividades B2C da companhia.
Analisando as operações atuais da empresa, essa possui um grande foco na provisão de
conteúdos e plataformas. Ainda segundo a empresa, essa está migrando de serviços focados
na provisão de conteúdo e vendas no atacado para produtos de uma maior sofisticação
tecnológica, em termos de tecnologia da informação. Quanto à política de contratos, esses são
53
estabelecidos segundo um modelo de divisão de receitas, sendo que os principais clientes da
companhia são as operadoras de celular e gravadoras de musica.
Vale também mencionar que a empresa possui uma aliança estratégica com uma
operadora, o que a torna a maior integradora da companhia no estado de Minas Gerais. Isso
concede certo poder e prestigio regional, uma vez que estar ligado a uma operadora representa
um vinculo com o ator mais importante da cadeia de valor.
Analisando os assuntos considerados como críticos para o mercado, a empresa ressaltou
a recente entrada de empresas européias. Essa nova leva de companhias de origem italiana e
espanhola está difundindo o modelo de assinatura de conteúdos no Brasil. Além disso, as
empresas com maior experiência devem acirrar a competição pelo mercado e promover uma
onda de fusões e aquisições.
Foi dado destaque a promoção “Bolão do Faustão” em 2006, um evento promovido
através do celular, mas que não estava ligada diretamente a conteúdo e sim a um prêmio,
alterando os paradigmas do mercado. Essa dissociação representou uma atividade de grande
sucesso e que não contava com a participação das operadoras, uma chance de promover
portais independentes, livres da participação usual de 50% utilizada pelas operadoras.
Vale ressaltar também a tendência de conteúdo patrocinado, sem custos para o usuário
final. Esse é um modelo empregado largamente na internet e que deverá se tornar uma
alternativa viável no campo de conteúdos móveis. Entretanto, a empresa não acredita na
substituição do modelo tradicional de negócios, com a venda de conteúdo ao usuário final,
mas na coexistência de ambos os métodos.
Realizando uma análise sobre o uso de tecnologia 3G, a empresa identifica uma
tendência positiva de uso, sendo que ela deverá promover a convergência de conteúdo
oferecido pela internet com aquele disponível pelo WAP. Desta maneira, quando a cobertura
3G for suficientemente grande e o custo de trafego de dados atingirem um preço razoável,
devido a menores custos de infra-estrutura dessa tecnologia, os usuários deverão realizar uma
atualização de seus aparelhos celulares e o Brasil irá ingressar em uma nova era de múltiplas
plataformas de conteúdo.
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5.1.2. PSCM Varejistas
Empresa G
Nesta empresa foi entrevistado o supervisor de vendas corporativas no Brasil.
A companhia foi fundada com 2001 sendo que hoje esta possui parceria com mais de
150 operadoras e companhias de mídia, atuando em 70 países. A companhia possui sede na
Espanha e escritórios por diversos países da América Latina, Estados unidos, Marrocos, Índia,
Singapura, China e Japão. Ainda quanto a as características da companhia, é preciso
mencionar que a empresa foi adquirida por outra em 2008.
Considerando as atividades desenvolvidas no Brasil essas tiveram início em 2005 sendo
que a companhia não possui atividades de produção ou jurídicas, desenvolvidas
exclusivamente na Espanha e tornando o escritório brasileiro meramente representativo. Desta
maneira, a companhia possui apenas cinco funcionários para vendas no Brasil, realizando
todas as atividades administrativas através do escritório espanhol.
A companhia trabalha em um modelo B2B, sendo que mesmo ao prover conteúdo este
nunca é oferecido diretamente aos clientes finais. A empresa possui parcerias com todas as
operadoras no Brasil, atuando como provedora de conteúdo licenciado. Dentre suas atividades
é necessário destacar o fornecimento de plataformas tecnológicas para acesso WAP, sendo a
empresa reconhecida como uma das melhores no ramo e aproximando a companhia das
atividades de um provedor de tecnologia.
A estratégia principal da empresa é baseada no desenvolvimento de projetos para
terceiros, especialmente aqueles ligados a tecnologia WAP. Complementariamente a
companhia também possui certo empenho na provisão de tecnologias SMS e sites para
empresas que não possuem capacitação tecnológica, o que deverá aproximar ainda mais a
empresa da função de um provedor de tecnologia no longo prazo. Entretanto, a companhia
atualmente possui cerca de 50% de seu faturamento ligado a venda de conteúdo para terceiros,
sendo que a parcela de receita originada pela venda de tecnologia ainda ocupa uma posição de
menos destaque.
Analisando a diminuição das vendas de conteúdos de valor adicionado da companhia
em maior detalhe, é possível ligar este ao fato de as operadoras de celular priorizarem a venda
55
de conteúdo de terceiros ao invés de conteúdo sem marca. Considerando a relevância deste
tipo de ator na cadeia, uma mudança estratégica desse porte exerce um grande impacto sobre
os outros participantes da cadeia, e exige uma reformulação de estratégias.
Vale mencionar que a companhia, apesar do foco na produção de conteúdo próprio,
também realiza compra de conteúdo de terceiros. Dessa maneira a companhia possui
atividades de agregação de conteúdo, mas de modo limitado. Durante a entrevista, foi
afirmada que a cadeia de conteúdo para o celular se tornou muito complexa, havendo
inúmeros atores que possuem apenas uma marca e são focados em apresentar o conteúdo ao
usuário final, mas sem capacidade técnica de criação ou transmissão de conteúdo, criando
interações sensíveis e sobreposições de papel.
Como conseqüência dessas várias interligações, as empresas não apresentam uma forte
concorrência. Isso pode ser explicado pelas companhias não saberem exatamente quando irão
necessitar de uma parceria com as demais, e para não prejudicar as boas relações um clima de
cordialidade impera no mercado. Apesar de tornar o mercado concentrado, a crescente
centralização exercida por alguns integradores é positiva no sentido de padronizar contratos,
diminuir custos e o tempo de lançamento de serviços.
Como fatores críticos, a companhia destacou os problemas socioeconômicos do Brasil
que evitam que o mercado atinja seu pleno potencial. Outro fator que contribui para que o país
seja incapaz de utilizar seu enorme potencial é a falta de padrão e excesso de burocracia para
se obter acesso as operadoras. Complementariamente, a empresa, que possui origem
espanhola, criticou o grande número de exigências governamentais e a demora no processo de
regulamentação das atividades, caracterizando uma barreira para a entrada de empresas
estrangeiras.
Para exemplificar a burocracia exacerbada devido à falta de padronização a companhia
citou os problemas para se adquirir um número curto. Essa identificação é considerada às
vezes como de propriedade das empresas de mídia, mas em alguns casos pode ser propriedade
das operadoras, dessa forma, para ter o seu número aceito e efetivamente ligado ao sistema
das operadoras as companhias devem negociar contratos de maneira individual com todas
elas. Esse tipo de contrato varia, pois caso as operadoras julguem que o serviço irá gerar uma
boa quantidade de tráfego, melhores condições são oferecidas. Segundo as percepções da
empresa, caso as identificações por número curto fossem responsabilidade das operadoras,
estas teriam um sistema unificado que pouparia empenho e tempo, diminuindo a
complexidade das negociações.
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Por último a companhia comentou o avanço da tecnologia 3G, acreditando que as
operadoras irão praticar subsídios para a renovação da base de celulares e possibilitar que um
maior número de usuários acesse a essa tecnologia. O aspecto financeiro é visto como o maior
impedimento para a expansão desse tipo de tecnologia, sendo que empresa acredita que a
maioria dos usuários possui conhecimento técnico suficiente para a utilização desse tipo de
serviço.
Empresa H
Nesta empresa foi entrevistado o diretor da área de conteúdos móveis no Brasil.
Esta é uma PSCM varejista de origem Italiana com negócios em 53 países e conexões
para mais de 100 operadoras de telefonia móvel. Possuindo 38 escritórios ao redor do mundo
esta é a maior companhia do ramo de entretenimento através do celular.
Considerando as operações realizadas no Brasil, estas tiveram início em 2007, quando a
companhia adquiriu uma empresa de origem espanhola com operações no Brasil. Atualmente
a empresa conta com um escritório em São Paulo e apenas 18 funcionários, fato que pode ser
explicado pelo suporte prestado pelos escritórios de Madrid e Milão.
No Brasil a companhia segue um modelo de negócios orientado mais para o B2B do que
um padrão B2C. A parcela de negócios orientada diretamente ao consumidor final é
representada pela marca própria, especializada em conteúdos de customização. Entretanto,
apesar de não revelar quantias, a companhia afirmou que a maior parte de seu faturamento
advém de transações B2B e que os maiores benefícios dos negócios para clientes finais estão
relacionados à publicidade gerada.
A companhia possui uma parceria estratégica na qual está ligada a uma operadora para o
gerenciamento de sua oferta de musicas. Essa é uma posição de destaque devido ao grande
porte desse tipo de operação e uma chance de popularizar a venda de conteúdo por assinatura,
um modelo europeu cuja companhia possui grande interesse em popularizar no Brasil.
Considerando as parcerias da companhia com editores web, essa atividade se destaca,
pois a companhia administra as salas de bate papo de uma destas companhias em duas
operadoras de grande porte, a Vivo e Oi.
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Outro aspecto importante das atividades da empresa é uma relação próxima com
diversas gravadoras de musica. Esse é um aspecto que torna seus serviços de musica
diferenciado, pois a companhia obtém licenças para utilizar sons reais e obter uma qualidade
superior em seus produtos.
Como pontos críticos do mercado, a empresa ressaltou que o mais grave está
relacionado ao fato dos custos de transmissão de dados serem muito elevados no Brasil.
Segundo as percepções da companhia, apesar de algumas operadoras cobrarem mais pelo
serviço de transmissão de dados, todas possuem um preço alto quando comparadas com
demais localidades da Europa ou Estado Unidos. Entretanto, a companhia acredita que o
preço por transmissão de dados deverá cair no médio prazo e destaca como uma importante
medida paliativa, no curto prazo, a criação de espaços isentos de tarifação para navegação
dentro do portal das operadoras.
Outro problema considerado importante está relacionado à incidência de impostos, que
possui uma incidência em cascata e prejudica muito a cadeia de valor de serviços de valor
adicionado para celular. Apesar da companhia não considerar a alíquota cobrada anormal, o
método de cobrança a cada elo da cadeia causa uma fuga de receitas que inviabiliza parcerias
e desestimula a criação de empresas no início da cadeia.
Foram também mencionadas questões regulatórias, como o fato de a TIM e Vivo terem
descontinuado sua oferta de leilões reversos devido a pressões governamentais. A empresa
acredita que promoções transmitidas pela TV e jogos de loteria possuem uma tênue diferença,
o que pode tornar esse tipo de atividade ilegal. Portanto, a empresa decidiu não lançar mais
serviços relacionados a esse tipo de atividade, apesar da demanda explicita e do fato de muitas
empresas se aventurarem nesse ramo, obtendo considerável sucesso.
Por último, a empresa comentou os problemas relacionados a falhas de cobrança.
Apesar de não revelar números, foi mencionado que uma porcentagem expressiva de todo
conteúdo vendido não consegue ser faturado pelas operadoras, sendo que a empresa acredita
que isso se deve principalmente a questões técnicas de limitação de cobertura. Essa questão
está muito presente em serviços que apresentam uma mecânica de resposta pontual, como
promoções veiculadas através da televisão, e em áreas geográficas com forte sazonalidade,
onde o dimensionamento da cobertura é complexo. Como conseqüência desse tipo de falha é
gerada um enorme desestímulo para alguns tipos de serviço que possuem um alcance
massivo, mas também baixos retornos e imprevisibilidade.
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Empresa I
Nesta empresa foi entrevistado o diretor do mercado Brasileiro de conteúdos móveis.
Essa é uma companhia totalmente dedicada ao ramo de SVA para celular, atuando como
uma provedora de conteúdo desde 2007, ano de sua fundação na Itália. Atualmente a
companhia possui planos de internacionalização sendo que já possui presença na Espanha,
Brasil e Turquia e cobre uma base de 300 milhões de usuários em potencial.
As operações no Brasil começaram em janeiro de 2008 sendo que apenas em junho a
companhia lançou suas operações com uma marca própria. Também em junho de 2008 foi
realizada a compra de uma empresa espanhola especializada em um modelo B2B, movimento
estratégico promovendo sinergias para acelerar sua penetração no mercado brasileiro.
Portanto, graças à capacidade técnica empresa adquirida, a companhia conseguiu um rápido
desenvolvimento de suas atividades destinadas a outras empresas.
Seguindo o modelo de outras companhias internacionais e com operações no Brasil, a
companhia mantém um reduzido número de empregados no Brasil, apenas três. Isso é
possível, pois as atividades de desenvolvimento e administrativas estão concentradas na Itália.
As atividades da companhia possuem foco em um modelo B2B de negócios, sendo que
grande parte do conteúdo desenvolvido é destinado para usuários finais. Assim como outras
empresas européias a companhia privilegia vendas por assinatura ou em blocos, com o
objetivo de aumentar a fidelidade dos clientes e o fluxo de caixa previsível.
Entretanto, o depoimento dessa companhia ajuda a destacar a importância das empresas
PSCM integradoras, encarregadas de estabelecer conexões com todas as operadoras. Segundo
a empresa, o serviço oferecido por esse tipo de empresa é muito importante no Brasil devido
ao grande número de operadoras e dificuldades como o fato de algumas dessas empresas
possuírem sistemas duplicados (e.g., Vivo Telemig e Vivo Network). Além disso, obter
integração exige um considerável investimento inicial para o desenvolvimento de uma
plataforma tecnológica e um significativo período para obter acesso e de testes para se obter a
confiança das operadoras. Segundo a companhia, sem o auxilio de um integrador para o
estabelecimento de conexões suas operações estariam comprometidas no Brasil.
Apesar de manter como objetivo o desenvolvimento de um relacionamento próximo
com as integradoras, a empresa prefere não estabelecer nenhum tipo de exclusividade com as
59
gravadoras de música. Essa decisão é tomada, pois esse tipo de empresa exige uma grande
parcela do faturamento dos itens por ela licenciados, portanto a companhia prefere estabelecer
contratos apenas com pequenas gravadoras ou gravadoras regionais independentes.
Analisando as relações entre a companhia e as operadoras de celular, novamente foi
comentada a pressão que esse tipo de companhia exerce sobre os demais membros da cadeia.
Isso foi considerado um grande entrave do mercado, sendo que essas empresas tomam para si
cerca de 55% de todo o faturamento dos produtos faturados utilizando seus mecanismos de
cobrança. Essa elevada porcentagem aliada à incidência de impostos em cascata torna o
equilíbrio da cadeia delicado, sendo que os centavos cobrados por um serviço se tornam muito
importantes para uma empresa que está situada no início da cadeia produtiva.
Outro ponto relevante sobre esse assunto é que os impostos sobre as atividades da
companhia variam de acordo com o estado, elevando o grau de complexidade para o
planejamento das operações de companhias internacionais no Brasil. Esses fatos são
considerados um grande incentivo para verticalização de operações, sendo que por haver
menos empresas pertencentes à cadeia a incidência de impostos se torna menor.
Também foi dado destaque ao aumento de regulamentações sobre o setor. A companhia
relatou que desde janeiro de 2008 as operadoras se tornaram rígidas quanto ao controle de
operações, sendo que esse tipo de atitude tem aumentado a burocracia e o tempo necessário
para se lançar um produto.
Por último, também foi identificado como um significativo entrave para o mercado a
alta tarifa sobre transmissão de dados. Apesar de a companhia considerar o sistema WAP
como popular no Brasil, a empresa acredita que este possui um potencial reprimido. Outro
ponto a destacar é o fato de as conexões possuírem uma grande instabilidade, prejudicando a
transmissão de conteúdos de maior porte.
60
Empresa J
Nesta empresa foi entrevistado um gerente da área de interatividade com mídia
televisiva, responsável pelo desenvolvimento de aplicativos e serviços.
A companhia é recente, fundada em janeiro de 2007, entretanto sua formação é
composta por empresas mais experientes. Essa PSCM é o fruto da fusão de quatro empresas
com atuação no mercado de conteúdo para celular desde 2002 ou 2004
Em 2008 a companhia se tornou internacional, ampliando as operações para países
emergentes como o Brasil. Nesse caso específico a empresa utilizou uma parceria com uma
empresa transmissora de televisão, formando uma Joint venture.
Atualmente a empresa conta com dez funcionários, sendo que esses provenientes das
operações da companhia na Itália e do departamento de interatividade da emissora de
televisão com quem possui parceria. Vale também mencionar que a empresa possui 51% de
seu controle exercido pela emissora de TV, sendo que o CEO está submetido diretamente ao
CEO da emissora.
Quanto ao modelo de negócios da companhia, essa possui tanto uma operação orientada
para o B2B como para o B2C. A orientação para negócios possui uma maior participação no
faturamento da empresa, podendo ser explicada principalmente pela ligação entre empresas,
gerando um forte cliente que demanda o fornecimento de muitos conteúdos sem marca e
serviços de interatividade para mídia televisiva. Quanto aos canais orientados para o
consumidor final, a empresa conta com um portal, vendendo principalmente produtos de
customização com a marca da companhia e por planos de assinatura.
Foi mencionado que a companhia possui acordos de divisão de receita com as
operadoras, para a venda de produtos com marca própria e vendidos sob a marca de outras
empresas. Nesses casos a empresa revelou que sua participação varia de 35% a 50% sobre o
faturamento, sendo menor quando a operação é estabelecida com marca própria.
Para as conexões ao sistema das operadoras a companhia conta com os serviços
prestados por integradores. Entretanto, mais recentemente a empresa tem estabelecido
contratos com um integrador em específico, afirmando que este é mais orientado para as
necessidades de negócios que funcionam em um modelo de assinatura semanal.
Quanto às perspectivas gerais da empresa para a cadeia de suprimentos, eles acreditam
que as operadoras não possuem uma forte competição para os serviços de tráfego de dados.
Esse fato pode ser explicado pelos altos índices de crescimento do mercado, desestimulando
61
uma competição por clientes de outras companhias. Ainda, alinhado com esse comentário, a
empresa afirma que os negócios de conteúdo para o celular são dominados pelas operadoras
de celular e as companhias de mídia, sendo q o poder da primeira se da principalmente pela
infra-estrutura e o da segunda pela força de sua marca, reconhecida em território nacional e
um poderoso catalisador de vendas.
Quanto a assuntos críticos a empresa acredita que as operadoras não estão de fatos se
empenhando para a promoção de conteúdos móveis. Esse comentário está baseado no fato
destas fazerem poucos anúncios promovendo o consumo de tal tipo de produto, sendo a maior
parte do orçamento publicitário destinado para estimular a compra de aparelhos celulares ou
planos de tarifas. Um dos motivos para explicar tal comportamento pode estar ligado ao medo
destas canibalizarem as receitas de dados de voz, uma vez que a maior parte dos clientes
possui planos pré-pagos e aumentar os gastos com conteúdos diminuiria o consumo de
funcionalidades básicas. Outro motivo para a preferência pela receita advinda por dados de
voz está relacionado ao fluxo constante e previsível destas em comparação com a venda de
conteúdos, apesar das margens do segundo serem mais atraentes.
Segundo a companhia, o grande fomentador de conteúdo móvel no Brasil são as
empresas de mídia. Esse fato está ligado à forte marca deste tipo de empresa e, no caso
brasileiro, tradição de oferta direcionada ao consumidor final. Essa é uma característica
diferente do mercado Italiano e que a empresa julga ser muito relevante no Brasil, sendo que
alianças com esse tipo de ator devem ser encaradas de maneira estratégica.
Considerando as relações da companhia e as gravadoras, esta possui parceria com uma
grande gravadora, mas também mantém relações com companhias menores. Entretanto,
apesar de manter contratos com gravadoras menores e ter acesso a músicas famosas
interpretadas por artistas independentes, a empresa opta por não fazer uso desse tipo de
conteúdo como uma maneira de manter boas relações com a grande gravadora.
Outro ponto crítico levantado pela companhia são as falhas de cobrança. Apesar da
companhia não mencionar números, foi afirmado que para empresas com muitos serviços de
interatividade em seu portfólio ou serviços baseados em SMS esse é um grande problema.
Vale mencionar que o custo de transmissão de dados também foi apontado como uma barreira
para o desenvolvimento do mercado.
Por último, a empresa revelou preocupação quanto à crescente onda regulatória no país,
aumentado a burocracia e a demora das operações desse tipo de negócio. Especificamente a
empresa apontou que o processo contra o leilão reverso da Record, promovido pela Globo, foi
62
um marco que prejudicou muito o desenvolvimento de serviços de interatividade agora sobre
um controle muito mais rígido.
Empresa K
Nesta empresa foi entrevistado o diretor de novos negócios e projetos de melhoria.
A companhia começou suas operações na Argentina em 2001, ampliando sua atuação
rapidamente para o Brasil em 2002. Atualmente a empresa conta com 60 empregados em seu
escritório brasileiro, mas também mantém operações na argentina e outros países da América
Latina, África e Ásia. Vale também mencionar que a companhia possui capital fechado.
Quanto a suas operações, a companhia possui uma atuação focada em um modelo B2C,
mas também possui negócios sob um modelo B2B. Por conta da orientação para clientes
finais, as relações mais importantes para a empresa estão ao redor de gravadoras, tanto as de
grande porte como as pequenas regionais, uma característica estratégica para a produção de
toques de celular com um maior grau de sofisticação. Entretanto, a companhia procura não
fazer uso de interpretações de musicas famosas por outros artistas, como uma maneira de
evitar indisposições com as grandes gravadoras e focar no conteúdo que possui maior
margem, considerando que com o fornecimento de licenças famosas boa parte dos ganhos
estão comprometidos com as grandes gravadoras.
Ainda sobre as operações B2B da companhia, esta possui o fornecimento de produtos
sem marca própria para outras companhias e desenvolvimento de plataformas tecnológicas de
diversos tipos. Foi também mencionado que no passado a empresa chegou a gerenciar o
conteúdo oferecido por portais das operadoras como a TIM, entretanto a empresa não possui
mais esses contratos se limitando a gerenciar o conteúdo de ouras empresas PSCM.
É um fato relevante a alta taxa de crescimento da companhia, sendo que em 2004 foi
alcançado 300%. Dessa maneira foi afirmado que a companhia não sente uma grande pressão
competitiva, sendo que há espaço para diversos atores em um mercado crescente. Entretanto,
a empresa destacou como fonte de sucesso a diferenciação de conteúdo, sendo que empresas
limitadas a produção de commodities estão fadadas a permanecer com a menor divisão de
lucros e ter maiores dificuldades para sobreviver.
63
Se aprofundado mais nas questões sobre divisão de receita, foi revelado que a
companhia em todas as suas interações com outras empresas procura manter uma divisão
igual de lucros, 50% para cada. Portanto, a empresa considera que as taxas cobradas pelas
operadoras são justas, mas se recente da falta de iniciativa destas para a promoção de serviços
de maior tecnologia como a redução das tarifas para tráfego de dados e isenção de cobrança
dentro dos portais.
Como questão crítica para o mercado, a empresas destacou as elevadas tarifas para
tráfego de dados. Isso é considerado uma grande barreira para o desenvolvimento do mercado
baseado em tecnologia WAP. Outro aspecto está relacionado à incompatibilidade dos
modelos de celular da maioria dos consumidores com tecnologias mais sofisticadas, sendo
outra fonte de atraso.
A companhia considera que as falhas de cobrança se caracterizam como uma ameaça ao
mercado brasileiro, apesar de não ser uma das maiores no mundo. Essas taxas são altas
podendo comprometer 36% do faturamento, sendo que novas empresas são desestimuladas a
entrar no mercado e parcerias com companhias de mídia são frustradas. Dessa maneira a
venda por assinatura é considerada melhor, possuindo uma freqüência mais constate e menos
sujeitas a falhas.
Apesar de estar utilizando o modelo por assinaturas, a empresa critica o agressivo
modelo de vendas italiano, que apresenta o conteúdo para o cliente após este firmar uma
assinatura de compra semanal. Esse tipo de iniciativa segundo a empresa pode lesar os
clientes e comprometer o mercado, que tem sua credibilidade abalada. O maior desafio a ser
combatido, na visão da companhia, é um meio de adaptar a oferta aos hábitos do consumidor
brasileiro, como a recarga de poucos créditos por mês.
5.1.3. Provedor de conteúdo
Empresa L
Nesta empresa foi entrevistado um gerente responsável pelas operações de adaptação de
conteúdo para o mercado brasileiro.
64
Esta é uma companhia brasileira que iniciou suas operações em 2002 como uma
empresa de desenvolvimento e consultoria de software, especializada em entretenimento e
softwares para celular. Atualmente a companhia mudou seu foco para a adaptação de jogos
para diversos tipos de aparelho celular e possui planos futuros de se tornar apenas uma
vendedora atacadista de jogos. Quanto a sua área de atuação, a companhia possui um
escritório principal em Campinas e em 2004 estabeleceu operações no Chile.
A empresa atua exclusivamente através de um modelo B2B, sendo seus principais
clientes as agregadoras de conteúdo e operadoras de celular. Portanto, a empresa atua como
uma fornecedora de jogos sem marca própria, deixando a cargo dos clientes a promoção da
demanda dos produtos fornecidos.
Para as atividades de adaptação de jogos, a companhia conta com alianças de grandes
atores do mercado de jogos da Europa e Estados Unidos. Entre seus parceiros figuram nomes
de peso e que até 2008 não possuíam presença direta no Brasil e requisitavam para a
companhia o lançamento de seus jogos no país, com as necessárias adaptações para os
modelos de celular em circulação. O fato de a empresa ter descontinuado a produção de jogos
próprios está alinhado com a decisão estratégica de se aproximar dos grandes produtores
internacionais, deixando de ser uma concorrente em potencial.
Além disso, segundo a companhia, o desenvolvimento de jogos é uma atividade que
requer uma grande quantidade de funcionários. Esse fato diminui os ganhos de escala e torna
muito mais importante uma rápida curva de aprendizado para obter eficiência. Esses foram
motivos que contribuíram para a empresa abandonar esse tipo de atividade e focar em tarefas
facilmente escalonáveis.
Vale também mencionar que, apesar de não revelar porcentagens, a companhia atua
através de acordos de divisão de receita com as operadoras de celular e demais clientes. Como
exemplo genérico sobre o funcionamento da divisão na cadeia, a empresa afirmou que o
governo costuma reter 30% do preço de um jogo e as operadoras 45%, distribuindo o restante
para os demais participantes da cadeia, sendo que muitas vezes o governo também participa
dessa divisão com a incidência de impostos em cascata.
Retomando o posicionamento da empresa dentro da cadeia de valor, essa pode ser
sintetizada como prestadora de serviço para as grandes produtoras de jogos, e fornecedora de
conteúdo para o mercado brasileiro. O principal cliente da companhia são as operadoras,
sendo que seu portfólio de produtos conta com mais de 200 títulos de jogos internacionais.
Quanto aos demais clientes, a empresa acredita que esses possuem uma relevância marginal e
65
continuarão dessa maneira, pois em todo o mundo o canal de venda mais importante são os
portais das operadoras.
Como fatores do mercado considerados críticos, a companhia é uma forte opositora ao
modelo de venda por assinatura semanal. Segundo a companhia, esse tipo de dinâmica, com
renovação automática de cobranças, não oferece benefícios aos usuários e termina por
denegrir a imagem do setor. O principal problema apontado é a falta de transparência dos
serviços sob esse tipo de modelo, sendo que os clientes permanecem desorientados e mal
informados, sem saber de quem é a responsabilidade pela cobrança, das operadoras ou dos
PSCM.
Outro aspecto considerado relevante são as maiores dificuldades enfrentadas por
clientes de base pré-paga para o consumo de conteúdo para celular. A base para essa
afirmativa está no fato de que dentro de um orçamento fixo, é difícil que um cliente se
permita a compras por impulso ou que não se sinta lesado após ter cometido tal compra, que
pode em alguns casos comprometer até 33% dos créditos de um usuário padrão no Brasil.
Também há casos de clientes mal informados sobre as funcionalidades de seus aparelhos,
reduzindo o potencial de conteúdos mais sofisticados, um problema que se deve em grande
parte as operadoras de celular que fazem um pequeno esforço para o esclarecimento desse
tipo de assunto.
Por último a empresa reforçou a complexidade da cadeia de valor para negócios de
conteúdo para celular. Nesse tipo de ramo as margens são estreitas e o equilíbrio entre os
diversos atores e o governo delicado, qualquer mudança abrupta na divisão de receitas pode
eliminar facilmente uma classe de atores, sendo que os mais prejudicados são aqueles
localizados no início da cadeia. A companhia acredita fortemente que nesse tipo de atividade
um bom relacionamento com as operadoras de telefonia móvel é essencial para a
sobrevivência de qualquer tipo de companhia.
Empresa M
Nesta empresa foi entrevistado um gerente de desenvolvimento de jogos, ligado a área
de conteúdos móveis.
66
A companhia foi fundada em 1987 e desde esta data possui foco no desenvolvimento de
brinquedos com alta tecnologia. Sua divisão de conteúdo pra celular foi lançada em 2005
acreditando que essa é uma importante tendência e que no futuro os celulares serão
considerados uma importante plataforma de jogos. Outro motivo para o interesse em
tecnologias de celular está relacionado com a maior segurança dos sistemas, que evita mais
eficazmente a pirataria.
Atualmente a empresa conta com um estúdio de desenvolvimento de jogos em
Campinas e um escritório em são Paulo. Portanto, a empresa se destaca como uma das poucas
empresas brasileiras no ramo com grande entusiasmo pela inovação e desenvolvimento de
tecnologia própria. Vale também mencionar como diferencial, que a empresa possui capital
aberto com ações negociadas na Bovespa.
Quanto a seu modelo de negócios, a companhia possui forte orientação B2B e pratica
agregação de jogos e conteúdos de customização, possuindo algumas pequenas empresas
focadas em desenvolvimento como fornecedoras. A empresa também atua na adaptação de
jogos internacionais para diversos modelos de celulares brasileiros, das Filipinas e outros
países da América Latina, pretendendo no futuro aprofundar suas operações no México e
outros emergentes. Apesar dos grandes desenvolvedores de jogos serem competidores da
companhia em âmbito mundial, quando esses não possuem atuação no Brasil utilizam da
empresa para a publicação de seus próprios jogos, estabelecendo uma parceria.
Vale mencionar que a atividade de adaptar jogos para diversos tipos de celular está
intimamente ligada ao fato deste tipo de conteúdo ser mais difícil de piratear. A explicação
reside no baixo conhecimento sobre os softwares de celular de um usuário comum e na
necessidade de uma combinação entre o aparelho e uma específica versão de um conteúdo,
tornando a pirataria complexa.
A companhia afirma que, apesar da forte pressão exercida pelas operadoras de celular,
sua produção de conteúdo é independente. Segundo a visão da companhia, as operadoras
possuem uma forte cobrança para a produção do conteúdo que já é largamente consumido,
mas a empresa possui como decisão estratégica concentrar grande parte de seus esforços no
desenvolvimento de jogos que serão um grande sucesso apenas no futuro. Esse tipo de
comportamento exige certa habilidade diplomática da empresa, uma vez que as operadoras
são seus únicos clientes e possuem enorme poder no mercado.
Ainda sobre as operações da companhia, a empresa fornece conteúdo sem marca própria
para as operadoras. Os contratos firmados nessas operações são todos baseados em divisão de
receitas, sendo que as operadoras possuem uma participação de 40% a 50% do preço dos
67
títulos vendidos. A responsabilidade pela promoção dos jogos fica a cargo das operadoras e
raramente a companhia se envolve em alguma ação de marketing, portanto, pode-se afirmar
que a empresa é orientada através de tecnologia e não pelo mercado.
Como assunto crítico para o mercado a empresa destacou a pirataria como o maior
desafio a ser enfrentado. Essa prática é extremamente danosa ao mercado e em particular para
as empresas desenvolvedoras de conteúdo, representando no Brasil uma significativa barreira
para esse tipo de negócio.
Outro aspecto tido como altamente relevante é a ampliação da cobertura 3G, sendo que
seus impactos sobre a indústria de celulares iram se tornar evidentes no médio prazo. Segundo
a empresa, considerando especificamente o mercado de jogos, composto por arquivos de um
tamanho relativamente grande em comparação com os demais conteúdos, esse tipo de
tecnologia irá tornar o custo de dados mais barato e sua transmissão mais rápida, sendo um
importante agente promotor do mercado.
Por ultimo a empresa comentou o aspecto econômico dos usuários brasileiros, limitados
a um ARPU mensal médio de R$30,00. Esse dado é altamente relevante no cenário atual,
sendo que um jogo pode custar dez reais e exigir para sua aquisição mais dez reais em
transmissão de dados comprometendo seriamente o orçamento dos usuários. Outro problema
grave se refere ao número de celulares que não possuem as funcionalidades necessárias para
jogos, restringindo muito o mercado para as empresas focadas em conteúdo de maior
sofisticação.
Empresa N
Nesta empresa foi entrevistado um supervisor de vendas de ringtones, ligado a área de
conteúdo móvel.
Esta companhia é a maior gravadora de musicas da indústria musical, possuindo 25% de
participação do mercado e com operações nos Estados Unidos, França, Reino Unido, Portugal
e outros. Presente no Brasil desde 1997, através da aquisição da gravadora local, a companhia
hoje possui um departamento digital encarregado de vendas pela internet, celulares e novas
mídias. Atualmente a empresa possui um escritório em São Paulo e Rio de Janeiro,
totalizando 100 funcionários.
68
O modelo de negócios da companhia se divide em B2B e B2C, sendo que o conteúdo
oferecido através de canais próprios também é licenciado para outras companhias como
operadoras e integradoras. É relevante mencionar que o conteúdo licenciado para outras
empresas atua como uma promoção de seu próprio portfólio, havendo uma correlação positiva
entre as duas atividades.
Segundo o entrevistado, as divisões de receitas são afetadas por diversos fatores, sendo
que por vezes esta não é igual em diferentes transações realizadas com a mesma empresa. O
número de empresas participando influi significativamente, pois quando a empresa fornece
conteúdo às operadoras, a divisão é efetuada apenas entre duas empresas, porém no caso e um
integrador esta receita é dividida em três companhias. Outros fatores relevantes se referem a
qual empresa está realizando o maior esforço de marketing, o volume de negócios realizados e
se a empresa utiliza um modelo de assinatura.
A empresa também possui participação na promoção da venda de celulares, pois pratica
a venda de músicas embarcadas. Sendo a primeira a atuar nesse segmento, a empresa autoriza
a gravação de musicas em celulares que serão vendidos como uma maneira de agregar valor a
estes, promovendo sua venda.
Também é importante mencionar que o departamento de mídia digital tem crescido
muito mais do que as mídias tradicionais, sendo que a mídia móvel tem crescido ligeiramente
mais do que aquela baseada na internet. Dessa forma as operações de celular adquiriram
grande relevância dentro da companhia nos últimos anos, se tornando estratégicas. Esse é um
fato curioso, pois ao se considerar que em 2003 a empresa iniciou suas operações através do
portal das operadoras apenas devido à insistência desse tipo de companhia para a criação de
serviços de música, a companhia ficou muito impressionada com o potencial deste tipo de
negócio. A participação das gravadoras mudou o mercado de maneira significativa, pois antes
disso havia somente o comércio de tons monofônicos e polifônicos, dominados pelas
agregadoras, sendo muito menor do que o grau de sofisticação de tons reais.
Atualmente a empresa necessita de integradoras para obter acesso aos sistemas de
cobrança das operadoras e estabelecer canais próprios de venda. Apesar de contar com a
confiança das operadoras, a empresa revelou que não dispõe da capacidade técnica necessária
para realizar sozinha a integração. Considerando o poder de barganha dessa companhia com
as operadoras, existe certa paridade de poder, sendo esta uma das poucas empresas realmente
capazes de estabelecer uma real parceria com este tipo de empresa.
Analisando o poder de barganha com as integradoras, pode se perceber que a companhia
possui forte predominância. Apesar das integradoras tentarem comercializar musica famosas
69
interpretadas por atores desconhecidos, como uma maneira de não depender da licença das
gravadoras, estas exigem que os integradores não trabalhem com esse tipo de material para
receberem licenças originais. Nesse aspecto a dependência das integradoras é maior, sendo
que sem a licença a empresa fica impossibilitada de veicular a imagem ou nome dos artistas
com os conteúdos vendidos, agregando pouco valor a seus produtos.
Como aspecto crítico do mercado foi mencionado o alto custo de tráfego de dados.
Essas taxas foram consideradas abusivas, sendo que em alguns casos, os gastos com
navegação para escolher os produtos é tão oneroso que ao encontrar aquilo que deseja, já não
existem créditos para executar a transação. Dessa maneira essa é uma enorme barreira de
mercado, sendo que 80% dos clientes das operadoras são usuários pré-pagos e mais sensíveis
a esse tipo de custo.
Outro aspecto que merece ser ressaltado é a grande incidência de impostos sobre a
cadeia de celular. Esses foram citados como em média 30%, mas podem representar muito
mais, pois são cobrados em cascata ao longo da cadeia.
Por último, foi feita uma breve crítica quando a desatualização dos aparelhos celulares
dos clientes brasileiros e sua falta de instrução para o uso e conteúdo. A empresa revelou que
apesar de possuir produtos como ringbacktones, o mercado não está maduro para esse tipo de
conteúdo, sendo que os usuários não saberiam utilizá-lo e poucos aparelhos seriam
compatíveis.
Empresa O
Nesta empresa foi entrevistado o diretor de marketing.
Essa é uma companhia especializada na adaptação do conteúdo de mídias tradicionais
ou internet para o formato celular. Gerenciando cerca de 250 WAP sites, a maior parte do
faturamento da companhia é proveniente da participação sobre os anúncios veiculados nesses
sites. A companhia foi fundada em 1999 e hoje possui 35 funcionários divididos em três
departamentos: desenvolvimento de sites (composto por três empregados, capaz de laçar oito
sites por mês), marketing para celular (composto por 5pessoas), propaganda para celular
(composto por 27 funcionários).
70
Portanto, pode-se perceber pela característica de seus departamentos que a companhia
opera segundo um modelo B2B, sendo que 80% de seu faturamento se advêm do
departamento de propaganda para celular. O modelo de negócios da empresa não cobra pelos
sites criados, mas estabelece um acordo com os clientes para dividirem toda receita originada
de propagando, devido a aluguel de espaço no WAP site. Vale mencionar que, no caso do site
estar alocado no portal de alguma operadora, essa também possui participação sobre a receita
originada por propaganda sendo que tipicamente, apesar de não revelar números precisos, a
operadora permanece com 50%, o provedor de tecnologia 25% e o restante para o dono do
site, sendo descontados os impostos a cada estágio da cadeia de valor.
Outro aspecto curioso é que, apesar de não possuir uma plataforma de envido de SMS, a
companhia ocasionalmente oferece esse tipo de serviço através de outras empresas como
integradores ou com outros provedores de tecnologia. Para manter foco nos negócios
relacionados com sites e pela menor freqüência desse tipo de serviço a companhia julga não
ser vantajosa a criação de uma plataforma como essa, mas para manter seu portfólio
completo, a empresa aluga a plataforma de outras companhias para determinados projetos.
Atualmente a companhia tem prestado muita atenção ao desenvolvimento do mercado
de smartphones, sendo que considera essa uma oportunidade estratégica. Considerando que
desde 2008 o Iphone figura entre um dos aparelhos celulares mais vendidos em todo o mundo,
essa renovação da base de aparelhos possibilita a criação de novos tipos de serviço e produtos,
tornando obsoleta uma parte da tecnologia anterior. Aspectos como a disseminação da internet
para celular são fortemente influenciados por esses aparelhos, sendo que 85% dos usuários de
smartphone possuem acesso contra apenas 12% dos demais grupos. Por esse motivo a
companhia figura entre a principal provedora de tecnologia para os sites de toque de tela da
Vivo e Claro.
Figuram entre os clientes da companhia grandes empresas com uma forte marca, como
o Grupo Estado, Itaú e Petrobrás. Foi mencionado que os serviços de SMS são oferecidos
apenas para grandes clientes, sendo que o preço mais elevado desse tipo de serviço é uma
barreira para as pequenas empresas.
Como pontos críticos do mercado, a companhia revelou que a adoção do Iphone irá
causar uma grande revolução nos serviços oferecidos. A maneira como o celular é utilizado, a
sofisticação dos serviços e sua freqüência de uso são aspectos no qual esse tipo de
equipamento exerce uma influencia positiva, sendo que o mercado de conteúdo para celular
possui um grande potencial de crescimento devido à adoção dessa nova tecnologia.
71
Uma barreira apontada pela companhia se refere à regulamentação exercida pelas
operadoras, que apesar de extensa não possui um padrão único. Portanto, a companhia precisa
realizar um enorme esforço para obter a integração como sistema de todas as operadoras, o
que torna o tempo de lançamento de serviços muito maior e inviabiliza alguns negócios.
Por ultimo, foi comentado que os negócios de marketing via celular possuem um
enorme potencial que ainda é mal explorado. Isso se deve ao fato de que, apesar de possuir
uma efetividade 14 vezes maior do que as mídias tradicionais e preços menores, esse tipo de
mídia ainda não é a mais utilizada. Segundo a Hands, no longo prazo esse tipo de mídia será
dominante e barreiras para se entrar no mercado mais elevadas.
5.1.4 Provedores de tecnologia
Empresa P
Nesta empresa foi entrevistado o CEO e fundador da companhia.
Essa é uma provedora de tecnologia especializada em desenvolvimento terceirizado de
aplicações para celular. A companhia possui foco em soluções altamente customizadas sendo
que a maior parte de suas aplicações é embarcada em celulares e chips, relacionadas muitas
vezes com campanhas de marketing, interatividade e entretenimento. Além disso, a
companhia também realiza formação de conteúdo para formato celular, provisão de
plataforma para envio de SMS e consultorias técnicas sobre negócios no mercado de celular.
A empresa foi criada em 2006 e apesar de permanecer encubada pela prefeitura de
campinas pela CIATEC, a empresa passou por um expressivo crescimento nos últimos anos
triplicando seu faturamento e contando com 18 funcionários.
Essa é uma companhia dedicada exclusivamente ao ramo B2B, sendo que o grande foco
em atividades customizadas é uma maneira de evitar a competição direta com grandes
companhias da área. Segundo a companhia, esta atua como suporte para empresas com um
forte time de desenvolvimento, mas também tem uma participação estratégica em empresas
que terceirizam totalmente o desenvolvimento de aplicativos e conteúdo.
72
A empresa está envolvida com produtos orientados para ações sofisticadas de
marketing, como jogos com objetivo publicitário, mas também possui uma forte ênfase em
conteúdo corporativo. Uma das aplicações corporativas mais comuns é a automação da força
de vendas, sendo que empresa possui larga experiência nessa área. Outra característica
importante de seus negócios é que a companhia não trabalha com divisão de receitas, sendo
que todo projeto realizado possui um custo fixo para seus clientes.
Como clientes da empresa, destacam-se não apenas empresas com marcas famosas, mas
muitas PSCM integradoras e agregadoras que necessitam de tecnologia. Dessa maneira,
raramente a empresa entra em contato direto com operadoras ou companhias de mídia.
Como questão crítica para o mercado a companhia revelou que esse setor necessita de
acesso a tecnologias de ponta e funcionários com alta capacitação. Portanto, a proximidade
com pólos tecnológicos e faculdades de tecnologia como a Unicamp são considerados
estratégicos para a companhia se tornar eficiente e se atualizar quanto às últimas tendências.
Empresa Q
Nesta empresa foi entrevistado um gerente de desenvolvimento de produtos.
Esta é uma companhia brasileira fundada em 2004 e com foco no mercado de soluções
de marketing através do celular. Originalmente a companhia se ocupava da integração entre
aplicativos de internet e celular, sendo que seus projetos incluíram a adaptação do Orkut e
MSN para plataformas móveis. Após esse estabelecimento inicial a companhia alterou seu
foco para aumentar as receitas geradas por propaganda nos portais estabelecidos.
Considerando o tamanho da companhia, foi revelado que atualmente esta conta com nove
empregados e se situa na cidade de Itacorubi.
A companhia possui um sistema de negócios orientado para o B2B, sendo que possui
parcerias com empresas PSCM integradoras para serviços que ela não é capaz de realizar.
Como exemplo deste tipo de parceria, o envio de SMS é realizado através de uma integradora,
sendo que em retribuição esta encaminha clientes que desejam criar WAP sites para a
empresa.
Como característica diferenciada, a companhia possui foco não sobre grandes empresas
com fortes marcas, mas em empresas médias que procuram desenvolver suas ações de
marketing através do celular. Os poucos serviços B2C oferecidos funcionam como
73
publicidade dos serviços oferecidos para outras empresas, sendo que acordos com grandes
nomes como foram cruciais para a empresa ganhar uma rápida projeção no mercado
brasileiro.
Quanto ao relacionamento com as operadoras, a companhia possui parcerias especificas
para certos produtos, sendo que nenhum contrato de exclusividade é firmado. Alguns projetos
que envolvem o uso de SMS são criados em conjunto com operadoras ou integradoras, sendo
que sozinha a companhia não possui competência para esse tipo de tecnologia.
Empresa R
Nesta empresa foi entrevistado um gerente de desenvolvimento de soluções web e
interatividade.
Esta é uma empresa brasileira especializada em soluções de desenvolvimento web e
publicação de anúncios através do celular. A companhia foi estabelecida em 2008 como uma
parceria entre duas empresas, sendo que atualmente a companhia resultante está presente em
10 países e em grandes metrópoles como Buenos Aires, Londres e São Diego.
Quanto a seu modelo de negócios, a companhia atua tanto no B2C como no B2B.
Entretanto a empresa possui um maior foco no segmento B2B, sendo que o conteúdo
direcionado aos clientes finais está fora do portal das operadoras e toda a receita é originada
de ações de marketing e aluguel de espaço nos sites para publicidade.
Portanto, vale mencionar que apesar de possui conteúdo que pode ser baixado através
do celular, à companhia não é capaz de cobrar dos usuários finais e, portanto, não estabelece
divisão de receitas deste tipo de conteúdo com outras empresas. Entretanto, para as receitas
originadas por anúncios, a companhia detém 60% desta, sendo que o restante permanece com
o cliente e dono do WAP site. Essa divisão pode ser justificada pelos diversos serviços
prestados pela empresa aos sites criados, como consultoria de marketing, gerenciamento de
conteúdo e relacionamento com os clientes.
Quanto a aspectos tecnológicos de seus produtos, a empresa possui uma característica
diferenciada com maior foco sobre tecnologias antigas. A empresa afirma que está é uma
74
decisão estratégica, visto que a base de celulares brasileira se renova de maneira lenta e como
a maior das empresas migra para as novas tecnologias rapidamente existe uma demanda
grande para ser suprida com produtos antigos. Apesar disto, foi afirmado que a empresa
mantém adaptações de tecnologias novas para modelos de celulares antigos como uma
maneira de adquirir conhecimento das novas tendências e não se tornar ultrapassada.
Vale mencionar que o conteúdo disponibilizado para download é proveniente de uma
das empresas fundadoras. Portanto, a companhia utiliza seus conhecimentos e portfólio para
suprir seus clientes com conteúdo que pode ser oferecido gratuitamente.
É necessário reforçar que a companhia não possui nenhum vinculo com as operadoras,
devido ao fato de não cobrar pelo conteúdo oferecido em seus sites. Esse é um nicho pouco
explorado da cadeia, sendo que a companhia não sofre pressões de integradoras e operadoras
e mantém para si a maior parte das receitas. Em contra partida, o escopo de atuação da
companhia é muito limitado sendo que qualquer sofisticação de sua oferta exigiria serviços de
outros membros da cadeia e arruinaria seu modelo de negócios.
Como problemas críticos do mercado brasileiro, a empresa mencionou as falhas de
cobrança sobre serviços SMS. Esse problema é tão intenso no Brasil que até mesmo as
operadoras possuem seus negócios limitados por esse tipo de falha técnica, por exemplo, a
Claro realizou uma promoção que obteve tamanho volume que acabou por derrubar seu
sistema.
Além disso, foi mencionado que as operadoras atualmente exercem uma grande pressão
sobre a cadeia sendo que as margens são muito comprometidas com esse tipo de companhia.
Entretanto, no futuro a empresa acredita que as operadoras serão consideradas meros
provedores de infra-estrutura e devido à competição com outros meios de acesso a internet,
essas terão seu poder diminuído.
5.2. Análise dos estudos de caso
Ao se tomar em conjunto todos os estudos de caso desenvolvidos, é possível traçar um
mapa estratégico quanto à posição das empresas entrevistadas. De acordo com o porte,
modelo de negócios B2B ou hibrido entre B2B e B2C e sua especialização, estimada a partir
75
da porcentagem de faturamento concentrada em uma determinada atividade, é possível
posicionar as empresas em quatro grupos.
O resultado desse mapeamento é apresentado na Figura 5.1.
E
Div
ers
ific
ad
oE
sp
ecia
lizad
o
B
J
F
D
C
P
M
Q
B2B B2B e B2C
K
I
O
L R
AH
G
PSCM Varejistas
PSCM Integrador
Provedor
de conteúdoProvedor
de tecnologia
N
Figura 105.1 - Mapeamento das empresas entrevistadas
O tamanho dos círculos é referente ao número de funcionários na empresa. Dessa
maneira, os menores são empresas compostas por até 15 funcionários, os intermediários entre
15 e 90 e os maiores acima de 90 funcionários. Essa é uma aproximação para classificar as
empresas quanto ao seu porte.
O posicionamento vertical, separado entre especializado e diversificado, advém da
resposta da empresa quanto à especialização em um determinado tipo de produto ou serviço.
Caso a empresa tenha mais de 50% de seu faturamento originado de um determinado produto
ou serviço, está é considerada especializada, caso contrário ela passa para a divisão de
diversificada.
76
Como mensagem desse mapeamento, é possível observar que a maioria dos PSCM
varejistas possui um modelo de negócios híbrido. Esse fato pode ser explicado por conta das
empresas agregarem e comercializarem produtos, sendo necessário um entendimento mais
próximo sobre os consumidores finais. Também é notável que algumas empresas desse
segmento adotem como estratégia a manutenção de uma marca própria para a comercialização
de produtos, uma maneira de obter maiores margens, mas com riscos de se indispor com a
parcela de clientes que participam puramente do mercado B2C.
Outra característica interessante do mapeamento está na especialização dos produtores
de conteúdo. Uma maior especialização dessa indústria pode ser explicada pelo fato de que as
companhias adquirem uma maior atratividade ao se tornarem focadas em conteúdos de maior
valor agregado. Mesmo as menores empresas desse setor, compostas por programadores
individuais, costumam possuir alguma especialização ligada ao conhecimento do
desenvolvedor de produtos.
As maiores empresas da cadeia são representadas pelos PSCM integradores,
responsáveis por ligar as demais companhias ao sistema das operadoras de celular. A forte
participação desse elo no segmento de empresas com faturamento diversificado advém do fato
de que ao lidar com todos os membros do sistema de valor, essas empresas têm de ser
flexíveis em atender um grande número de companhias, com diferentes demandas.
Pode-se também afirmar que empresas com maior porte sejam mais adaptadas a atuar de
maneira diversificada. A explicação para tal fato reside na maior capacidade destas para
gerenciar diversas atividades, havendo normalmente um time de funcionários alocado para
determinado produto ou serviço prestado. Outro fato que está alinhado com esse
posicionamento se refere ao grande porte auxiliar na penetração de diversos ramos e a atender
as operadoras de celular, empresas que de fato prestam múltiplos serviços aos consumidores
finais, em grandes volumes e demandam uma diversificação de seus fornecedores.
Também, através das 18 entrevistas efetuadas durante esta pesquisa, foi possível
identificar problemáticas recorrentes a diversas empresas. Os próximos tópicos irão discutir
estes assuntos, críticos para o desenvolvimento do mercado, com maior profundidade e
apresentando o número de empresas que mencionaram cada tópico.
O Figura 5.2 apresenta de forma sintética todas as questões a serem apresentadas e o
número de empresas que as mencionaram.
77
Figura 115.2 - Números de empresas por problema mencionado
As subseções a seguir irão comentar cada um dos tópicos identificados, comentando de
maneira mais aprofundada os impactos diretos sobre as transações B2B.
5.2.1. Transmissão de dados
Mencionado por 10 empresas, o custo por tráfego de dados foi a questão mais recorrente
durante as entrevistas. O motivo para isto está ligado ao fato de que qualquer conteúdo
distribuído através do celular requer transmissão de dados, ocasionando uma despesa que
pode ter grande impacto sobre o custo total de aquisição para o usuário final, principalmente
utilizando WAP. Durante as entrevistas, foi mencionado que o custo total de aquisição para
um conteúdo pesado (e.g. um jogo em Java) pode ser igual ao preço cobrado pelo produto em
si, dobrando o custo ao usuário final. Em um dos exemplos citados pelos entrevistados, um
jogo que custa 10,00 BRL pode implicar em mais 12,00 BRL de custo em transferência de
dados.
Para exemplificar os custos de acesso a internet durante o período da pesquisa, a tabela
5.2 apresenta o custo de tráfego de dados para conexão 3G no Brasil.
78
Tabela 55.2 - Custo de tráfego de dados para conexão 3G
Operadora Tecnologia Conexão Tráfego Disponível Preço (BRL)
Oi Velox 3G 3G 300Kbps � 1 Mbps 2 � 10 GB 60�119
Claro 3G 250Kbps �1 Mbps Ilimitado 55�119
Vivo 3G até 1Mbps 50 MB � Ilimitado 50�119
TIM 3G 600Kbps � 7 Mbps Ilimitado 90�189
Fonte: IDG Now1
Considerando que o ARPU de um consumidor brasileiro é de 27 BRL, segundo dados
do site Teleco2, todos os planos de dados, apresentados na tabela anterior estão muito além do
orçamento de um usuário padrão de telefonia celular. Essa questão ganha ainda mais
relevância ao se considerar que a segunda questão mais recorrente durante as entrevistas se
refere ao perfil do usuário brasileiro, que não possui condições econômicas de adquirir
produtos ou serviços sofisticados.
Portanto, pode-se afirmar que o custo de tráfego de dados é uma problemática que afeta
principalmente os produtores de conteúdo, forçados a manter sua oferta simples. Essa barreira
contra a maior sofisticação de produtos esta alinhada com o fato de a maioria dos produtores
de conteúdo ser focada no desenvolvimento de itens de customização, como wallpapers ou
toques musicais, produtos pouco diferenciados, mas que já são bem populares no mercado
brasileiro. Caso uma maior sofisticação fosse permitida, essas empresas obteriam uma maior
diferenciação, com produtos mais complexos, e por fim se tornariam mais relevantes na
cadeia aumentando seu poder de negociação.
Porém, muitas empresas acreditam que esse quadro apresenta uma tendência de
melhora. Devido à adoção da tecnologia 3G que possui um custo de dados muito menor do
que o WAP, os preços de tráfego de dados devem cair. Analisando este cenário, é esperado
não só um aumento no consumo de SVAs, mas também uma mudança no perfil da demanda
por serviços, uma vez que o 3G oferece uma melhor experiência para a aquisição de conteúdo
mais sofisticado como jogos e vídeos.
1 Marques, P., 2009, Banda larga, o que você precisa saber na hora de escolher um plano. 2 Tude, E., 2009, Telefonia Celular – Estatisticas do setro.
79
5.2.2. Perfil dos usuários
Mencionado por nove companhias, essa questão tem um forte impacto sobre o mercado
brasileiro, uma vez que está intimamente ligado aos hábitos de consumo. Considerando que a
proporção de usuários pré-pagos chega a 80% do número de usuários de celular e o ARPU
médio está em 27,00 BRL, é possível perceber que uma única compra de SVA possui um
considerável impacto sobre o orçamento dos clientes. Analisando um dos exemplos propostos,
a aquisição de um jogo em Java que custe 10,00 BRL (sem considerar custos de transmissão
de dados) é capaz de drenar 37% do orçamento médio de um cliente.
Além disto, foi mencionado que este perfil também implica em uma demora para a
modernização da base de aparelhos celular no Brasil. Portanto, o lançamento de serviços mais
inovadores e sofisticados também é postergado, uma vez que a base de clientes não esta
pronta. Por exemplo, considerando que em 2007 apenas 39% dos usuários de celular no Brasil
possuíam aparelhos compatíveis com linguagem Java, esse fato tem um forte impacto sobre o
mercado de jogos, sendo que os produtores optam por tecnologias mais antigas.
Não obstante, as condições econômicas do usuário brasileiro criam barreiras para o
ganho de escala na adoção de tecnologias, atrasando a solução de problemas. Por exemplo, o
custo de tráfego de dados deve ser reduzido com a adoção da internet 3G, porém, esta
tecnologia ainda está inacessível para maioria dos brasileiros, o que evita maiores ganhos de
escala nessa rede. Considerando comentários da empresa B, a resolução dos obstáculos para o
desenvolvimento do mercado é adiado uma vez que a tecnologia tem que se baratear através
do envelhecimento, para ser adotada.
Portanto, o limitado poder de compra dos usuários brasileiros, alinhado com a
problemática do alto custo para tráfego de dados, caracteriza uma enorme barreira para o
desenvolvimento do mercado de SVA brasileiro, tanto em termos quantitativos como
qualitativos. Novamente, pode-se notar que as empresas desenvolvedoras de conteúdo são
muito afetadas, pois ao manterem sua oferta com o foco na maior parcela de clientes, são
obrigadas a criar conteúdos pouco diferenciados. Essa falta de especialização torna os
produtos de customização meramente commodities, dificultando a criação de uma marca
própria e subordinando estas a empresas PSCM.
Analisando um cenário no qual existam maiores oportunidades para conteúdo
sofisticado, o surgimento de produtores com especialização tecnológica seria facilitado e estes
80
teriam maior poder sobre a cadeia. No caso de uma empresa possuir foco sobre um produto
diferenciado é possível até mesmo obter acesso direto de fornecimento para as operadoras,
que apesar de receberem pequenos volumes, consideram o produto como estratégico.
5.2.3. Falha na cobrança
Comentado por cinco participantes, esta problemática prejudica o sucesso de muitos
negócios de SVA no Brasil, especialmente considerando aqueles baseados em SMS. A
tabela5.3 a seguir apresenta as estimativas de quatro grandes companhias para as falhas de
cobrança.
Tabela 65.3 - Estimativas para falha na cobrança
Empresa Taxa de Falha
Abril 60%
PMovil 36%
RBS 20% � 50%
ResponsFabrikken 15% � 85%
Fonte: Camargo & Kawao (2009)
Como é possível notar, as estimativas de falha chegam a números impressionantes como
60% ou 85% das transações. Portanto, apesar de muitas empresas terem mencionado que a
situação esta melhorando, a falha de cobrança ainda é um problema muito grave,
inviabilizando negócios e parcerias. Por exemplo, foi mencionado que ao se propor uma
parceria com uma companhia que não pertence ao ramo de SVA pelo celular (e.g. uma
companhia de mídia), é difícil que está aceite o fato de que de todo o conteúdo vendido
apenas 30% foi convertido em receita.
Analisando as causas principais para estas falhas, a maioria das companhias culpou
aspectos técnicos do sistema das operadoras. Estes problemas, aliados as características do
mercado brasileiro com uma predominância de usuários pré-pagos (que possuem um
comportamento menos previsível, uma vez que nem sempre possuem créditos quando
efetuam uma compra) caracterizam as causas principais de falhas. Além disso, as operadoras
de celular também têm dificuldades para dimensionar a coberturas de áreas sobre forte
81
sazonalidade, por exemplo, as regiões litorâneas que possuem baixa demanda na maioria dos
meses, mas apresentam uma enorme demanda durante os feriados de fim de ano.
Portanto, considerando-se a relevância deste tópico para as empresas que operam
orientadas para o mercado B2B, o principal problema gerado é a falta de confiança sobre os
parceiros na cadeia. Apesar dos problemas serem originados nas operadoras, muitas empresas
culpam as PSCM integradoras ou varejistas pelas falhas, gerando certo incentivo para uma
maior verticalização da cadeia. Entretanto, esse anseio por uma conexão direta aos sistemas
de cobrança é barrado pelas operadoras, uma vez que isso aumentaria a complexidade das
operações que já possuem diversos problemas técnicos. Preferindo restringir o acesso, as
operadoras restringem as alternativas para as empresas frustradas com as falhas que na
maioria das vezes precisam optar por se retirar do mercado ou operar ligadas a uma
integradora.
5.2.4. Impostos
Mencionado por cinco empresas, os impostos são um aspecto muito relevante do
cenário brasileiro da cadeia de SVA, particularmente para longos sistemas de valor. Foi
mencionado que os encargos tributários estão próximos a 30% da renda das companhias
(havendo variações de acordo com o tipo de empresa). Entretanto, isto é ainda mais crítico ao
se considerar que as tributações de 30% ocorrem a cada passo da cadeia de valor, aumentando
ainda mais a participação do governo sobre os negócios.
Esta prática pode ser descrita no seguinte exemplo. Supondo um sistema de valor que
opere em três etapas para a venda de um jogo, envolvendo a empresa produtora, uma PSCM
varejista e uma operadora de celular. Considerando que o jogo custe dez reais para o usuário
final, 30% fica retido pelo governo, do restante, metade fica com a operadora e a outra parte
repassada para o PSCM. Porém, entre o PSCM e a operadora o governo se apropria de 30%
dos lucros que estão sendo enviados, o que ocorre novamente quando uma parcela do lucro é
passado para as produtoras.
Analisando este exemplo, é possível notar que o governo fica com 44% da receita
originada pelo produto, mais do que qualquer outro participante da cadeia (e.g. as operadoras
permanecem com 35%). Esse problema é intensificado para as empresas localizadas no início
82
da cadeia produtiva, sendo que estas recebem usualmente apenas 8% de participação nas
receitas.
Além disto, essa prática possui um impacto especial sobre as empresas internacionais,
que não estão acostumadas a esse tipo de incidência de impostos. Conforme mencionado
durante os casos, muitas parcerias, especialmente as internacionais, são frustradas devido ao
fato dos ganhos estarem muito comprometidos com o governo brasileiro.
Portanto, o sistema de tributação brasileiro sobre a cadeia de SVA para celular pode ser
considerado como uma barreia a entrada de empresas internacionais e o desenvolvimento de
empresas ligadas a produção de conteúdo. Por ser mais oneroso em cadeias grandes, empresas
pequenas, que precisam se ligar a outras maiores para revender seu conteúdo são prejudicadas
ao receber uma parcela muito reduzida de receitas. Essa problemática será ainda retomada no
tópico sobre o poder das operadoras, outro motivo pelo qual a participação de receita das
empresas no início do sistema de valor é tão diminuta.
5.2.5. Burocracia
A regulamentação do mercado foi mencionada como um problema por oito companhias.
Este tipo de questão está associado a reclamações sobre excesso de regulamentação para se
estabelecer um serviço ou regras específicas para conteúdo adulto e apostas. Esse fato é
importante para a compreensão das tendências sobre o mercado, sendo a demonstração de
forças contrárias a promoção de alguns serviços, também muito relevante para uma análise
B2C.
Analisando-se esse tópico, três entrevistados comentaram a existência de uma tendência
crescente de regulamentação sobre a venda de conteúdo, gerando burocracia e lentidão. Por
exemplo, foi mencionado que desde janeiro de 2008 as operadoras se tornaram mais rígida,
exigindo até mesmo uma dupla autorização dos clientes para o recebimento de conteúdo.
Estas novas regras aumentam a burocracia do setor e por conseqüência impactam
negativamente sobre o tempo de lançamento de novos projetos. Esse tipo de esforço, exigindo
a obtenção de uma dupla autorização, esta alinhado com uma tentativa das operadoras em
preservar seus clientes do recebimento indesejável de conteúdo ou adesão acidental a planos
de assinatura.
A relevância dos problemas originados pela crescente burocracia pode ser
exemplificada por um comentário da empresa G, sobre como o tempo necessário para se
83
lançar um serviço é fortemente influenciado pela burocracia, causando a desistência de
diversos projetos. Também foram registradas queixas quanto à falta de padronização dos
sistemas entre as operadoras, sendo esta uma questão técnica que dificulta a obtenção direta
de integração. Além disto, foi comentado pela companhia O que as operadoras não possuem
políticas unificadas para estabelecer conexões com as outras empresas, tornando esse
processo longo.
Não obstante, algumas empresas comentaram a falta de transparência para obtenção de
acesso ao sistema de cobrança, sendo que as operadoras podem fazer qualquer tipo de
exigência para conceder tal serviço. Dessa maneira, algumas operadoras barram o acesso de
novas companhias simplesmente por exigirem um período de adaptação, no qual a companhia
deve operar um projeto menor e ser bem sucedida.
Portanto, é reafirmado o fato de o Brasil ser um ambiente propício para PSCM
integradores, empresas especializadas em obter integração com as operadoras. Isso foi
comentado pela empresa I, afirmando ser necessária a existência de companhias que se
encarregam de resolver toda a burocracia, adaptações tecnológicas e obtenção de prestígio
junto às companhias de telefonia móvel, tornando-se muitas vezes a única alternativa viável
para o lançamento de um projeto no Brasil.
Além da conexão com as operadoras, a burocracia pode prejudicar diretamente alguns
serviços e produtos. Por exemplo, o lançamento de noticias em vídeo no celular por download
é praticamente impossível no Brasil, uma vez que as regulamentações exigem a autorização
de todos aqueles que possuem sua imagem veiculada no vídeo, tornando o lançamento lento.
Portanto, até o vídeo se adequar as regulamentações este já está desatualizado e perde seu
valor como notícia.
É também importante mencionar um aspecto levantado pela empresa G, ligado a
aquisição de números curtos. De acordo com a empresa, pelo fato de o número pertencer à
empresa que oferece o serviço, a companhia deve entrar em contato com todas as operadoras
para adquirir um número, não havendo uma política unificada para tal. Portanto, existe uma
tentativa das integradoras para criar um sistema unificado para a obtenção de números, o que
diminuiria a burocracia.
Concluindo, é evidente a elevada complexidade para se obter a integração ao sistema de
cobrança das operadoras ou até mesmo uma identificação por meio de um número curto. Este
cenário pode ser explicado pelo enorme poder das operadoras, empresas que possuem um
privilegiado posicionamento, sendo que suas atividades não podem ser efetuadas por outras
84
companhias, e estas tem o poder de moldar o mercado conforme seus interesses. Portanto,
enquanto estas promoverem uma política restrita de acessos ao sistema, o negócio das PSCM
integradoras manterá sua força, sendo um importante agente para a viabilização desse tipo de
estratégia.
5.2.7. Plano de assinatura
Mencionado por quatro companhias, esse assunto tem sérias implicações sobre a
concorrência das empresas que operam em um modelo B2C no mercado brasileiro. Este é um
método de cobrança que altera profundamente a relação da empresa e seus clientes, criando
um vinculo entre ambos ao cobrar uma taxa semanal de seus clientes. Vale também
mencionar que esse modelo é largamente utilizado na Europa e que, de acordo com a empresa
F, a entrada de empresas espanholas e italianas no mercado de SVA brasileiro tem aumentado
a competição e criado um cenário propicio para fusões e aquisições.
Entretanto, existem muitas críticas quanto a esta mecânica de cobrança, questionando
seu valor ao consumidor final. Por exemplo, a empresa K criticou o agressivo modelo de
negócios italiano que muitas vezes só revela o conteúdo disponível do site após a inscrição do
usuário. Algumas empresas como a companhia L, consideram que esse sistema é prejudicial à
cadeia, uma vez que clientes lesados pela falta de clareza do sistema podem desistir de SVAs.
5.2.8. Poder das operadoras
Comentado por duas companhias, essa questão envolve todos os serviços que estão
ligados ao sistema de tarifação das operadoras de telefonia móvel. Consideradas como
“donas” dos clientes por possuírem o controle sobre o sistema de cobrança dos usuários, é
senso comum que desafiar essas empresas representa um enorme risco para qualquer membro
da cadeia. Por exemplo, o acesso a portais híbridos é extremamente dependente da posição na
quais estes são anunciados dentro dos WAP sites das operadoras. Portanto, esse tipo de
empresa possui o poder para arruinar os negócios de conteúdo móvel de qualquer participante
da cadeia, ao promover condições que dificultem o acesso de seu serviço pelos usuários.
85
Analisando as margens do setor de SVA, essas são estreitas e o equilíbrio entre as
empresas da cadeia de valor delicado. De acordo com a empresa L considerando que o
governo fica com parte substancial dos negócios, as operadoras exercem uma forte pressão
sobre a cadeia ao exigir 35% da receita (50% da receita após a primeira cobrança de
impostos). Portanto, isto dificulta que outras companhias consigam ganhos que justifiquem o
seu negócio.
Para um melhor entendimento sobre a dinâmica de repartição das receitas entre os
integrantes da cadeia, será apresentado na Figura 5.3 um modelo de negócio envolvendo uma
cadeia com três integrantes.
OperadoraPSCM
Companhias
de Mídia
Editores WEB
Provedores de
conteúdo
Gravadoras
Produtores de
Jogos
Provedor de tecnologia
Cliente10
30%
3
3.53.5
30%
1
1.21.2
30%
0.4
Advertising Channels
0.8
Governo
Figura 125.3 - Descrição da partilha de receita
Por último, é relevante mencionar que o poder das operadoras gera confusão entre os
usuários finais, incapazes de identificar o dono da oferta. Isso tem um grande impacto sobre a
experiência dos usuários de SVA, ainda mais relevante sobre o modelo de assinatura, no qual
muitas vezes o cliente não sabe a quem contatar para se desassociar.
5.2.9. Pirataria
Mencionado pela companhia M, essa pratica foi descrita como muito prejudicial ao
mercado brasileiro. De acordo com a empresa, os jogos distribuídos através do celular podem
86
ser considerados seguros, devido à complexidade em se adequar o código ao aparelho do
usuário. Essa falta de conhecimento técnico do usuário é uma forma de proteção contra a
pirataria, entretanto considerando uma plataforma WEB, esta é muito mais suscetível, sendo
conteúdos de customização facilmente pirateados através desta.
A pirataria possui um efeito danoso muito maior sobre os produtores de conteúdo, visto
que a falta de proteção sobre as criações é um desestimulo a pesquisa de tecnologias e
desenvolvimento de produtos inovadores.
5.3. Análise ambiental e discussão
Analisando o material previamente exposto, é possível realizar análises do ambiente
competitivo e o posicionamento de cada tipologia de empresa analisada. Como cada elo da
cadeia possui características diferentes quanto a uma análise de Cinco Forças de Porter e
desempenham atividades diferentes na cadeia, cada uma destas será analisada separadamente
nas subseções seguintes. Todas as forças estudadas serão classificadas quanto à pressão
competitiva gerada, sendo que as forças classificados como “Fortes” aumentam a competição
e as “Fracas” tornam o ambiente menos competitivo.
5.3.1 PSCM Integradores
Estas empresas possuem como atividades principais a integração, suporte tecnológico e
gerenciamento de conteúdo. Considerando seus clientes, estes são em sua maioria empresas
de mídia e provedores de conteúdo interessados na obtenção de acesso ao sistema de cobrança
das operadoras e gerenciamento do conteúdo oferecido. Quanto aos fornecedores, estes são
majoritariamente operadoras, que concedem o acesso de seu sistema.
Partindo-se deste cenário, é possível investigar o posicionamento da companhia quanto
à óptica das cinco forças de Porter.
87
Poder de barganha dos fornecedores (Forte)
� Baixa concentração dos fornecedores (Forte): A existência de apenas quatro
companhias com cobertura móvel nacional torna alta a competição por acesso a
estas companhias.
� Grande importância do serviço fornecido (Forte): O acesso ao sistema das
operadoras é indispensável para o fornecimento de integração, portanto essa
indústria está sujeita as exigências das operadoras.
� Relativa importância da indústria para os fornecedores (Médio): Os integradores
simplificam muito as operações das operadoras, que não precisam se ligar a
inúmeras empresas, sendo essencial para o desenvolvimento de uma política de
restrição de acesso ao sistema de cobrança, promovido pelas operadoras.
� Não é possível utilizar serviços substitutos (Forte): Não há substituto para o
acesso aos sistemas de cobrança, caso as operadoras não o concedam a
integração é impossível.
� Improvável posicionamento dos fornecedores como uma ameaça concreta de
integração para frente (Fraca): Visto que as operadoras não estão interessadas
em conceder acesso a seu sistema de cobrança de modo padronizado ou
abrangente, estas dependem das integradoras para realizar esta tarefa.
Poder de barganha dos clientes (Média)
� Grande número de clientes (Fraca): O número de companhias de mídia, editores
web ou provedores de conteúdo é significativamente maior do que o de
integradores. Essa característica é explicado pelo fato desse tipo de ator ser
selecionado pelas operadoras e fornecer suporte para toda a cadeia.
� Representação significativa das compras como custos dos clientes (Forte): Os
SMPS integradores usualmente ficam com 50% das receitas dos produtos sobre
os quais praticam integração, portanto os clientes estão dispostos a analisar
muito bem a indústria antes de escolher a empresa com que vão trabalhar.
� Relativa padronização da oferta de produtos (Média): Apesar de todos os
integradores fornecerem o mesmo tipo de integração, algumas empresas
possuem especializações em plataformas tecnológicas, oferecendo certos
produtos com maior qualidade.
88
� Possível integração para trás (Média): Apesar das enormes dificuldades para a
obtenção de acesso durante o início das operações, as operadoras se tornam mais
permissivas possibilitando a integração direta após certo tempo de sucesso (e.g.,
Responsfabrikken). Empresas com grandes marcas também possuem maior
facilidade para a obtenção de acesso. Mesmo assim aspectos como a falta de
padronização são desafios para empresas que buscam desenvolver tal atividade.
� Relativo impacto dos custos de mudança de fornecedor para o cliente (Médio):
Uma vez que tal alteração provoca mudanças de plataforma tecnológica e
padrão, isso pode gerar significativos custos, problemas de qualidade e
descontinuidade na oferta.
Competição interna (Médio):
� Relativa concentração de concorrentes (Média): Grandes atores como
Supportcomm, Okto e Takenet disputam o mercado de maneira intensa.
Entretanto, como mencionado anteriormente, a concentração de clientes é maior
do que a da indústria.
� Alta taxa de crescimento da indústria (Fraca): Conforme mencionado nos casos,
a taxa de crescimento da indústria tem sido consistentemente alta durante os
últimos quatro anos, atenuando a disputa por clientes.
� Baixo impacto dos custos fixos (Fraca): Esse ramo de atividade possui baixos
custos fixos, o que atenua a motivação para competição entre as empresas
� Relativo impacto dos custos de mudança de fornecedor para os clientes (Média):
As empresas possuem operações com mais de um integrador, normalmente
procurando aquele que possui maior qualidade no serviço integrado. Porém,
apesar de possuírem um contato inicial com diversos competidores, o abandono
de uma empresa não é simples. Questões como mudança da plataforma
tecnológica requerem adaptações, causando atrasos e problemas no lançamento
ou continuidade de serviços.
� Relativo grau de padronização entre as ofertas (Médio): As empresas possuem
especializações quanto à plataforma tecnológica utilizada, por exemplo, é
consensos entre os entrevistados que os serviços de SMS da Okto são superiores.
Portanto, apesar de tratarem sobre o mesmo assunto, os serviços oferecidos
possuem diferenças e não devem ser ofertados como commodities, exigindo que
89
os integradores façam um esforço para serem reconhecidos como de qualidade
diferenciada.
� Baixas restrições para o aumento da capacidade (Fraca): Os investimentos
necessários para um amento significativo da capacidade não são intensos.
Portanto, uma companhia que aumenta sua capacidade não é motivada a adotar
uma postura necessariamente mais agressiva.
� Baixo impacto das barreiras de saída (Fraca): Devido ao fato de que
investimentos para o início das operações não são demasiadamente elevados e o
equipamento utilizado, como servidores, poderem ser reaproveitados por outras
indústrias, desistir do negócio se torna uma opção viável.
Novos entrantes (Média):
� Baixa necessidade de economias de escala (Forte): As empresas por lidarem
essencialmente com o fornecimento de um serviço virtual, utilizando
equipamentos que não requerem grandes investimentos ou custos de setup, não
requerem economias de escala para se tornar competitivas.
� Baixo acesso aos fornecedores (Fraca): As operadoras de telefonia móvel não
possuem interesse em um aumento do número de integradores. Sendo assim,
estas dificultam o acesso de novas empresas e tornam seus negócios inviáveis.
Também é preciso considerar que o acesso as quatro grandes operadoras é um
importante aspecto para viabilizar o negócio, já que os clientes querem que seus
produtos estejam disponíveis a nível nacional.
� Baixa necessidade de investimentos (Forte): Devido à natureza do negócio, não
é necessário um intenso investimento inicial. Equipamentos de informática e
pessoal qualificado são os principais requisitos, mas nenhum destes representa a
necessidade de intenso investimento.
� Possível retaliação dos demais concorrentes (Média): As empresas podem
utilizar de sua influência junto às operadoras para barrar o acesso de novos
entrantes. Entretanto, esta é uma influência limitada sendo que as operadoras
possuem um poder de barganha muito maior.
� Relativo impacto dos custos de mudança de fornecedor para os clientes (Média):
Questões como a mudança de plataforma tecnológica podem causar custos e
90
transtornos para os clientes. Porém, se estes estiverem convencidos das
vantagens do novo integrador, não existem maiores desafios.
� Relativo impacto de uma marca forte (Médio): A marca não chega a ser um
grande diferencial, sendo que esta não é reconhecida pelos usuários finais.
Entretanto, um histórico de serviços de sucesso é um diferencial para a escolha
da companhia.
Produtos substitutos (Fraca):
� Essa força possui nenhuma pressão competitiva sobre a indústria, visto que não
há um substituto viável para a integração com o sistema das operadoras. Apesar
de também ser possível a venda de conteúdo através de cartões de crédito ou
paypal, essas modalidades de pagamento são inexpressivas no Brasil, sendo que
os participantes do mercado não acreditam em seu maior desenvolvimento.
Portanto, este tipo de ator possui um nicho favorável de mercado, pois, apesar da
enorme pressão exercida por seus fornecedores, estes não sofrem grande pressão dos clientes
ou competição interna. Para esse diagnóstico também é necessário levar em conta que não
existem grandes pressões competitivas devido a novos concorrentes ou produtos substitutos,
visto que as operadoras não estão dispostas a conceder acesso a seus sistemas de maneira
fácil. É importante ressaltar que esse acesso é indispensável para a condução dos negócios,
não havendo substitutos e colocando a indústria em uma posição favorável.
Retomando essa primeira análise entre a indústria e fornecedores, a matriz do poder
proposta por Cox et al (2000) indica uma relação hierárquica, havendo o domínio dos
fornecedores. O mesmo ocorre quando se analisa a relação entre a indústria e seus clientes,
havendo predomínio do lado fornecedor. Essa caracterização pouco harmoniosa advém da
necessidade da indústria pela integração, cujos únicos fornecedores, as operadoras de celular,
constituem um forte oligopólio e estendem esse poder para as PSCM integradoras, que
também constituem um oligopólio, mas um pouco menos concentrado. Desta forma, a
indicação gráfica através da matriz de poder está contida na Figura 5.4, tanto para as relações
com os clientes quanto com os fornecedores.
91
Dominância do
comprador
Independência
Interdependência
Dominância do
fornecedorPo
de
r d
o c
om
pra
do
r
sob
re o
fo
rne
ced
or
Alt
oB
aix
o
AltoBaixo
Poder do Fornecedor sobre o comprador
Figura 135.4 - Matriz do poder entre integradores, clientes e fornecedores
Durante as entrevistas, muitos atores comentaram o fato de o Brasil ser um ambiente
propício para esse tipo de empresa. Essa afirmação foi baseada no fato das operadoras de
telefonia móvel não possuírem uma política padronizada de fornecimento de acesso para seus
sistemas. Isso requer contratos fechados individualmente com cada empresa e a utilização de
diferentes plataformas tecnológicas, aumentando de maneira significante a complexidade do
acesso direto. Somando-se isso ao fato das operadoras não estarem interessadas em um grande
número de empresas com acesso ao seu sistema de cobrança, pois esta é uma atividade critica
e delicada de um ponto de vista tecnológico, apenas empresas de confiança podem ter esse
acesso, criando uma barreira política para a entrada de concorrentes e verticalização.
Considerando as atividades realizadas pelas companhias dessa tipologia, o
gerenciamento de conteúdo e a provisão de soluções tecnológicas podem ser vistas como
complementares a oferta de integração. É importante mencionar que esse tipo de
complemento é o fator que permite as empresas PSCM integradoras possuírem um importante
grau de diferenciação, tornando seu serviço mais do que simplesmente uma commodity. Dessa
forma, algumas empresas são identificadas como melhores que outras para atividades
específicas, como exemplo disto, Okto possui uma plataforma tecnológica para envio de SMS
que é considerada pelo mercado como superior as demais companhias, conferindo a empresa
grande parte do mercado.
92
5.3.2 Provedores de conteúdo
Esta indústria possui como atividade principal o planejamento e produção de conteúdo,
atuando como os fornecedores primários da cadeia. Por se situar no início da cadeia
produtiva, não é possível identificar um provedor de insumos para esta tipologia, sendo que
está tipologia é dependente da provisão de energia elétrica e infra-estrutura adequada, como
funcionários capacitados e equipamentos de informática. Portanto, considerando que o
consumo de energia elétrica não possui um grande impacto e nenhum outro insumo é
necessário para a produção de um conteúdo baseado puramente em informação, não consta da
análise ambiental deste tipo de companhia a relação com fornecedores.
Quanto aos clientes, esses englobam principalmente as empresas de PSCM envolvidas
na agregação de conteúdo, ou seja, a compra de conteúdo para posterior venda de grandes
lotes de conteúdo. Essa característica é reforçada pelo fato das empresas desta tipologia
tipicamente não possuírem um grande porte, o que restringe os volumes de produção e acesso
aos membros da cadeia envolvidos com a apresentação de conteúdo para os consumidores
finais. Entretanto, quando uma empresa adquire uma grande especialização tecnológica, como
no caso da Tectoy produtora de jogos, é possível que por essa diferenciação um canal direto
seja aberto para venda de lotes próprios as operadoras de telefonia ou companhias de mídia.
Partindo desta caracterização, pode-se investigar o ambiente competitivo desta indústria
utilizando uma adaptação ao modelo de cinco forças de Porter. Nessa análise, apenas quatro
forças serão investigadas, uma vez que os fornecedores não devem ser considerados.
Poder de barganha dos clientes (Forte)
� Baixo número de clientes (Forte): O número de empresas que praticam a
agregação de conteúdo é significativamente menor do que o de provedores de
conteúdo, gerando uma competição por clientes. Esse é um dos pressupostos da
atividade de agregação, cuja importância advêm da grande pulverização de
produtores.
� Relativa representação das compras como uma fração significativa dos custos
dos clientes (Média): Os custos de aquisição possuem uma relevância relativa,
sendo que os contratos firmados são baseados em divisão de receita, com taxas
padronizadas e pagamento após a venda dos produtos.
93
� Relativa padronização da oferta de produtos (Média): A grande maioria das
empresas do setor não possui diferenciação quanto a seus conteúdos, sendo estes
considerados commodities. Entretanto, no caso de jogos em Java, no qual o
conteúdo se torna mais complexo, a diferenciação é relevante.
� Relativa importância do produto na qualidade da produção dos clientes (Média):
A oferta de conteúdos agregados é apenas uma parte da oferta das PSCM
varejistas, o que atenua sua importância.
� Alto grau de informação dos clientes (Forte): Os principais clientes possuem
competência para a fabricação de praticamente todos os conteúdos de
customização, havendo plena compreensão sobre o produto adquirido.
� Provável posicionamento dos clientes como uma ameaça de integração para trás
(Forte): Como as PSCM varejistas muitas vezes possuem capacidade para a
produção do conteúdo adquirido, a ameaça de uma verticalização é concreta, não
efetuada, pois as margens desse tipo de produção são pequenas tornando a
atividade pouco atraente. Desta maneira, as PSCM preferem manter o foco em
produtos e serviços mais promissores.
� Baixo impacto dos custos de mudança de fornecedor para o cliente (Forte): A
diminuta relevância dos produtores para os agregadores faz com que poucos
vínculos sejam estabelecidos e os integrantes dessa indústria possam ser
trocados sem maiores problemas.
Competição interna (Média):
� Alta concentração de concorrentes (Forte): O mercado de produtores é bastante
pulverizado, havendo um grande número de competidores. Segundo Camargo &
Kawao (2009), apenas no ramo de jogos duas empresas possuem destaque, como
a Tectoy e Rogabe, sendo que nos demais casos o mercado é homogêneo e
composto por centenas de empresas.
� Crescimento estável da indústria (Média): A indústria de conteúdo móvel tem
crescido, porém os produtos simples como customização, no qual a maioria dos
produtores é focada, não tem acompanhado o mesmo ritmo. Por exemplo,
94
segundo Camargo & Kawao (2009), conteúdos como ícones tiveram sua oferta
retraída durante os últimos anos.
� Relativo impacto dos custos fixos (Média): Esse tipo de empresa não requer um
grande investimento em equipamento e instalações. A única ressalva fica pelo
tipo de desenvolvedores, que dependendo da especialização, pode ter uma maior
relevância nos custos da empresa.
� Baixo impacto dos custos de estocagem (Fraca): Por seus produtos serem
puramente informação e não possuírem um valor informativo atrelado ao
momento, como no caso das notícias, os custos de estocagem nesse tipo de
indústria são muito reduzidos.
� Baixo impacto dos custos de mudança de fornecedor para os clientes (Forte): Os
vínculos com as empresas PSCM são fracos, não havendo uma grande
relevância do seu fornecimento para os clientes uma vez que os produtos são
padrões e de baixa importância.
� Relativo grau de padronização entre as ofertas (Média): A maioria das
companhias nessa indústria lida com conteúdos simples, tidos por alguns de seus
clientes como commodities. As exceções ficam com as empresas que produzem
jogos ou vídeos, que possuem certa complexidade e maior diferenciação.
� Baixas restrições para o aumento da capacidade (Fraca): Para aumentar a
capacidade é preciso realizar a contratação de mais funcionários e adquirir
equipamento de informática, porém nenhum desses custos se mostra
significativamente alto.
� Baixo Impacto das barreiras de saída (Fraca): O investimento inicial não é alto e
o valor dos equipamentos utilizados pela empresa pode ser em parte resgatado
com a venda para outras indústrias.
Novos entrantes (Forte):
� Relativa necessidade de economias de escala (Média): É necessário que as
companhias possuam um número de projetos que justifique a existência das
equipes de desenvolvimento. Apesar dessa condição, as máquinas utilizadas não
requerem economias de escala, possuindo pouco impacto sobre a produtividade.
� Relativo grau de proteção gerada por patentes ou licenças (Média): As empresas
dessa tipologia possuem o foco principal sobre um tipo de produto cuja
95
produção é compreendida por grande parte da cadeia, sendo que o processo não
é patenteável. Portanto, para os produtos de customização a proteção de patentes
não é relevante, sendo que em alguns casos a obtenção de licenças para uso de
imagens ou obras de artistas pode oferecer algum grau de exclusividade.
Entretanto, isto torna as empresas dessa indústria dependentes de gravadoras e
companhias de mídia, detentoras dos direitos sobre os artistas.
� Fácil acesso aos canais de distribuição (Forte): Os canais de distribuição são
facilmente atingidos, sendo que as PSCM têm forte interesse em aumentar sua
captação de conteúdos.
� Relativa velocidade da curva de aprendizado (Média): A curva de aprendizado
depende da complexidade do conteúdo desenvolvido. Para aqueles mais
padronizados, esta é rápida, mas considerando o desenvolvimento de jogos e
vídeos, um período de experiência pode ser necessário para desenvolver adquirir
maior produtividade.
� Baixa necessidade de investimentos (Forte): As empresas não necessitam de um
intenso investimento para serem criadas. Essa tipologia de empresa pode chegar
ao ponto de ser composta por apenas um único indivíduo, um programador
independente, munido de seu computador pessoal.
� Baixa retaliação dos demais concorrentes (Forte): Os concorrentes são
praticamente desprovidos de qualquer possibilidade de retaliação. Esse cenário é
baseado no mercado pulverizado de produtores de conteúdo e nas fracas
conexões entre as empresas dessa categoria e seus clientes, sendo que o domínio
dos PSCM torna remota a possibilidade de se bloquear ativamente uma empresa
entrante.
� Baixo impacto dos custos de mudança de fornecedor para os clientes (Forte):
Considerando que o principal cliente da maioria das companhias no setor são as
PSCM, que realizam a agregação de conteúdo, os custos de mudança de
fornecedor são baixos.
� Baixo Impacto de uma marca forte (Forte): Uma marca não é necessária para o
estabelecimento de uma empresa deste ramo, visto que a grande maioria das
empresas opera criando conteúdo sem marca. Porém, é inegável que uma marca
forte seja capaz de potencializar o sucesso de uma companhia. Um exemplo de
96
produtor com uma forte marca é a Tectoy, sendo que por meio desta, a empresa
é capaz de negociar diretamente com as operadoras de celular.
Produtos substitutos (Média):
� Essa força possui relativa pressão competitiva sobre a indústria, visto que
conteúdos simples muitas vezes podem substituir uns aos outros. Considerando
um programador especializado em wallpapers, as necessidades de seu produto
podem por vezes ser satisfeitas por ícones ou protetores de tela. Outro exemplo
para substituição seria a competição entre toques de celular em tons reais, no
qual muitas vezes pode se usar a canção original de um artista, e tons polifônicos
que imitam o som original. Entretanto, considerando uma empresa que possua
um abrangente leque de produtos, sua oferta dificilmente encontraria algum
produto substituto relevante.
Portanto, este tipo de companhia esta na maioria dos casos submetida a intensas forças
competitivas, possuindo um posicionamento no qual o poder de barganha de seus clientes é
forte e a competição interna pode ser considerada como média. Para esse diagnóstico é
necessário levar em conta que esta é uma indústria pulverizada e, em grande parte,
encarregada da produção de conteúdos de baixo valor agregado, aos quais as demais
companhias não possuem interesse em manter foco. Dessa maneira, a baixa importância do
conteúdo e os poucos vínculos com os clientes, colocam a indústria sobre permanente risco de
verticalização sobre a sua área de atuação, uma vez que os clientes possuem competência para
exercer a produção.
Analisando as relações com os clientes, através da matriz de poder, pode-se facilmente
classificar essa interação como pertencente ao quadrante de dominância do comprador. Em
alguns casos, quando as empresas atingem relevância para vender conteúdo diretamente para
as operadoras de celular, que identificam o produto como diferenciado e capaz de agregar um
importante valor a sua própria oferta. Nesse caso, a relação se torna mais inclinada para a
interdependência, apesar de ainda haver um maior poder por parte das operadoras.
97
Figura 145.5 - Matriz do poder entre produtores de conteúdo e seus clientes
Apesar das baixas barreiras para entrada de competidores, pode-se esperar certa
estabilidade no setor, sem uma expressiva entrada de concorrentes. Essa análise é baseada na
baixa lucratividade do setor, submetido a intensas forças competitivas por parte de seus
clientes e concorrentes, tornando-se pouco atrativo. Mesmo contando com baixas barreiras de
saída, o número de participantes desse nicho deve ser estável, acompanhando a demanda pelo
tipo de conteúdo produzido, sendo o número de empresas ou indivíduos que saem do mercado
reposto por novos.
Vale mencionar que existem nichos de exceção a essa pressão competitiva, sendo que
no caso de conteúdos mais complexos como vídeos e jogos, as empresas desfrutam de um
melhor posicionamento. Nesses casos os riscos de verticalização são menores e a
diferenciação maior, devido à especialização tecnológica. Analisando o exemplo da Tectoy,
uma desenvolvedora nacional de jogos, que no atua no segmento móvel com a produção e
adaptação de jogos em Java, esta possui acesso as operadoras de celular, fornecendo o
conteúdo sem o auxilio de intermediários.
Portanto, deve ser feita uma ressalva quanto à análise desse mercado, dividindo-o em
dois grupos, o majoritário, no qual as empresas estão encarregadas de produção de baixo valor
agregado, e o de exceção, na qual a produção possui uma forte especialização técnica. Como
exemplo, a “Apple Store” tem tornado o mercado mais pulverizado, promovendo a produção
de aplicativos simples e produtos de customização de maneira aberta para programadores
independentes, que recebem auxílio de kits para a criação. Sendo assim, as empresas que
98
crescerem no ramo de produção deverão apresentar uma forte diferenciação quanto a seus
conteúdos, buscando uma especialização técnica que possa ter maior exclusividade.
5.3.3. Provedores de tecnologia
Estas companhias possuem como atividade principal a provisão de suporte tecnológico
para todos os integrantes da cadeia. Apesar desta tipologia de empresa também estar
envolvida no desenvolvimento de conteúdo mais sofisticado como jogos, essa é considerada
uma atividade secundária e ligada a sua principal, que gira em torno do conhecimento
tecnológico da companhia. Portanto, estas tipicamente executam atividades nas quais seus
clientes possuem alguma deficiência técnica, sendo que os poucos conteúdos produzidos
possuem majoritariamente um enfoque publicitário. Um exemplo desse tipo de atividade
seriam os jogos propaganda, na qual o objetivo é a exposição de uma marca diversas vezes
durante um jogo da companhia (e.g., GP Petrobrás), o que é uma atividade de certa
complexidade, mas não requer a especialização de um produtor de jogos.
Analisando os fornecedores, não é possível encontrar uma indústria que possa ser
caracterizada como tal, uma vez que essas empresas possuem requerimentos de infra-
estrutura, mas não de insumos. Uma empresa de tecnologia dessa natureza requer
funcionários capacitados e equipamento de informática adequado para a criação de seus
projetos, sendo os produtos puramente informação.
Quanto aos clientes, esses englobam toda a indústria. É importante mencionar que ha
um enfoque menor sobre os produtores de conteúdo, visto que essas são empresas menores
cuja atividade principal envolve o domínio sobre algum tipo de tecnologia.
Partindo desta caracterização, pode-se investigar o ambiente competitivo desta indústria
utilizando uma adaptação ao modelo de cinco forças de Porter. Nessa análise apenas quatro
forças serão investigadas uma vez que os fornecedores não devem ser considerados.
Poder de barganha dos clientes (Média)
� Elevado número de clientes (Fraca): Por servirem todos os participantes da
cadeia, sua abrangência de clientes é elevada, número significativamente
superior ao de integrantes desta categoria. Segundo Camargo & Kawao (2009),
o número de empresas nesse segmento está na ordem das dezenas.
99
� Relativa representação das compras como uma fração significativa dos custos
dos clientes (Média): Dependendo da sofisticação do projeto, o custo de
desenvolvimento pode ser impactante nas operações do cliente. Apesar de não
ser um custo variável, como o fornecimento de insumos, os custos para o
desenvolvimento de uma plataforma tecnológica devem ser considerados para a
operação.
� Baixa padronização da oferta de produtos (Fraca): Os projetos desenvolvidos são
comumente Ad Hoc sendo que as companhias apresentam diversas
especializações. Apesar de alguns projetos como sites WAP poderem ser em
parte padronizados esse tipo de situação é incomum.
� Alta importância do produto na qualidade da produção dos clientes (Forte): O
desempenho de um cliente pode depender de seu aparato técnico fornecido em
parte pelos provedores de tecnologia. Portanto, estes são mais exigentes quanto à
escolha de fornecedores.
� Relativo grau de informação dos clientes (Média): A grande maioria dos clientes
possui certo grau de conhecimento técnico sendo a internalizarão do
desenvolvimento de projetos uma possibilidade. Porém, estes usualmente não
detêm a mesma especialização do que os fornecedores, não dominando certos
assuntos.
� Provável ameaça de integração para trás (Forte): As empresas podem reunir
competência necessária para a produção das tecnologias que necessitam. A
vantagem proporcionada pelos provedores de tecnologia é que os clientes não
necessitam de uma equipe permanente de desenvolvimento e o tempo para do
projeto costuma ser menor. Entretanto, um cliente pode optar por desenvolver
tecnologia proprietária para fins estratégicos ou por julgar ser a melhor solução
em custo.
� Relativo impacto dos custos de mudança de fornecedor para o cliente (Média):
Os custos para trocar a empresa que realiza o desenvolvimento dos projetos de
tecnologia são baixos. Entretanto, podem se tornar relevantes caso o projeto já
esteja em andamento. Também é possível que a mudança implique em
problemas de qualidade na manutenção de projetos já executados, uma vez que a
nova empresa pode não receber documentação adequada.
100
Competição interna (Média):
� Relativa concentração de concorrentes (Média): Apesar de haver um número
relativamente grande de empresas na indústria comparada ao número de clientes,
nem todas estão em concorrência direta. Como possuem diferentes
especializações as empresas podem competir em nichos menores.
� Alta taxa de crescimento da indústria (Fraca): Visto que o mercado tem crescido
de maneira significativa nos últimos com a entrada de empresas internacionais
no Brasil, a demanda por serviços tecnológicos tem atenuado a competição
interna.
� Relativo impacto dos custos fixos (Médio): Estas empresas possuem um
considerável número de funcionários para programar seus projetos. Portanto,
isso gera uma necessidade por demanda constante de trabalhos.
� Baixo impacto dos custos de estocagem (Fraca): Os produtos podem ser
armazenados a baixo custo, pois são baseados em informação. Custos de
obsolescência não são relevantes, pois a maioria dos produtos é desenvolvida
sobre encomenda, tornando diminuta e importância de estoques.
� Relativo impacto dos custos de mudança de fornecedor para os clientes (Média):
Os custos para trocar a empresa que realiza o desenvolvimento dos projetos de
tecnologia são baixos. Entretanto, podem se tornar relevantes caso o projeto já
esteja em andamento. Também é possível que a mudança implique em
problemas de qualidade na manutenção de projetos já executados, uma vez que a
nova empresa pode não receber adequada documentação.
� Poucas restrições para o aumento da capacidade (Fraca): Para aumentar a
capacidade é preciso realizar a contratação de mais funcionários e adquirir
equipamento de informática, porém nenhum desses custos se mostra
significativamente alto.
� Baixo impacto das barreiras de saída (Fraca): O investimento inicial não é alto e
o valor dos equipamentos utilizados pela empresa pode ser em parte resgatado
com a venda para outras indústrias.
Novos entrantes (Forte):
� Relativa necessidade de economias de escala (Média): É necessário que as
companhias possuam um número de projetos que justifique a existência das
101
equipes de desenvolvimento. Apesar dessa condição, as máquinas utilizadas não
requerem economias de escala, possuindo pouco impacto sobre a produtividade.
� Relativa proteção gerada por patentes (Média): Apesar do negócio principal
dessa indústria ser o desenvolvimento de novos projetos, patentes sobre o uso de
tecnologias ou padrões podem oferecer proteção sobre certos tipos de
especialização.
� Fácil acesso aos canais de distribuição (Forte): As empresas exercem contato
direto com os clientes e desde o início possuem condições semelhantes de acesso
a estes. Contratos de exclusividade não foram mencionados.
� Curva de aprendizado relativamente rápida (Média): A experiência na condução
de projetos de software, apesar de ser um fator de diferenciação, é mais válida
como barreia a em empresas startup. Considerando empresas que já
desenvolvem software para outros mercados, casos decidam entrar no mercado
de suporte tecnológico para a cadeia de conteúdo móvel, esse tempo de
adaptação seria desprezível.
� Baixa necessidade de investimentos (Forte): As empresas não necessitam de
intenso investimento para serem criadas.
� Possível retaliação dos demais concorrentes (Fraco): Os concorrentes não
possuem muitas armas para gerar retaliação. Considerando que seus vínculos
com os clientes não são tão fortes e que não há uma empresa nessa indústria que
se apresente como muito maior que as demais, os riscos de retaliação são fracos.
� Relativo impacto dos custos de mudança de fornecedor para os clientes (Média):
Os custos para trocar a empresa que realiza o desenvolvimento dos projetos de
tecnologia são baixos. Entretanto, podem se tornar relevantes caso o projeto já
esteja em andamento. Também é possível que a mudança implique em
problemas de qualidade na manutenção de projetos já executados, uma vez que a
nova empresa pode não receber adequada documentação.
� Relativo impacto de uma marca forte (Média): As empresas não precisam de
uma imagem extremamente forte para ocupar uma posição confortável no
mercado. Entretanto, um histórico de sistemas desenvolvidos com sucesso é um
fator que ajuda muito à obtenção de clientes.
102
Produtos substitutos (fraco):
� Essa força possui pouca pressão competitiva sobre a indústria, visto que não há
um substituto para o desenvolvimento de projetos e suporte de tecnologia. A
substituição desse tipo de serviço pode ser realizada por equipes internas da
empresa, porém esse item foi analisado quanto ao poder de barganha dos
clientes.
Portanto, este tipo de companhia esta na maioria dos casos submetida a forças
competitivas brandas, possuindo um nicho de mercado no qual o poder de barganha de seus
clientes pode ser considerado como médio e a competição interna também. Para esse
diagnóstico é necessário levar em conta que esta é uma indústria focada apenas em atividades
de suporte e não primárias, sendo que por atender a qualquer participante da cadeia, o número
relativo de clientes para essas companhias é alto. O maior risco ao se considerar os clientes
deste tipo de empresa é a interiorização dos projetos, sendo que os clientes optariam por
desenvolver tecnologia proprietária com equipes de funcionários, caso as exigências dos
provedores de tecnologias aumentassem.
Considerando essas características, pode-se classificar a indústria e seus clientes como
envolvidos em uma relação de interdependência. Dessa maneira, as companhias provedoras
de tecnologia se esforçam para atender da melhor maneira possível os clientes, atendendo a
condições e negociando seus serviços, e por outro lado os clientes são dependentes de projetos
desenvolvidos por esse tipo de empresa, pois não possuem capacidade para a própria
produção. A representação gráfica do posicionamento destas companhias na matriz de poder é
representada na Figura 5.6.
103
Dominância do
comprador
Independência
Interdependência
Dominância do
fornecedorPo
de
r d
o c
om
pra
do
r
sob
re o
fo
rne
ced
or
Alt
oB
aix
o
AltoBaixo
Poder do Fornecedor sobre o comprador
Figura 155.6 - Matriz do poder entre provedores de tecnologia e clientes
Entretanto, apesar do cenário atual ser considerado confortável, é possível perceber que
poucas barreiras de entrada estão disponíveis. Considerando que não há necessidade intensa
de investimentos de grande porte e havendo mão de obra qualificada em tecnologia da
informação, uma empresa não apresenta grandes barreiras para possuir os requisitos
necessários para o negócio. Essa necessidade por profissionais com conhecimento técnico
explica a comum localização geográfica desses atores em Capinas, e levando em conta que a
prefeitura dessa cidade possui incubadoras e políticas de incentivo a novos empreendimentos
tecnológicos, esse território é fértil para novos concorrentes. Além disso, empresas que hoje
em dia estão focadas na provisão de tecnologia para outras áreas da indústria podem migrar
para o suporte de companhias de conteúdo móvel com menos dificuldades do que startups no
caso da indústria se tornar mais rentável.
Portanto, pode se considerar que apesar do atual cenário, confortável quanto às forças
competitivas, com a boa rentabilidade do setor é provável que a competição interna se
intensifique. Apesar do elevado número de clientes, as baixas barreiras e a ausência de
grandes empresas no setor podem tornar o mercado pulverizado no futuro, prejudicando sua
lucratividade.
5.3.4. PSCM varejistas
Estas companhias possuem como atividades principais a agregação e gerenciamento de
conteúdo. Apesar desta tipologia também possuir um grande foco na apresentação de
conteúdo para os usuários finais, essa atividade não será considerada em análise, visto que
104
está relacionada exclusivamente ao B2C. Considerando seus clientes, estes são compostos por
companhias de mídia e operadoras de celulares interessadas na obtenção de lotes de conteúdos
que não tem interesse em produzir. Analisando os fornecedores, estes podem ser considerados
como pertencentes à tipologia dos provedores de conteúdo, empresas que são usualmente
menores, podendo ser representadas por programadores independentes.
Partindo desta caracterização, pode-se investigar o ambiente competitivo desta indústria
quanto à óptica das Cinco Forças de Porter.
Poder de barganha dos fornecedores (Fraca)
� Elevado número de fornecedores (Fraca): Esses se apresentam em grande
quantidade e de maneira pulverizada, sendo que nenhum destes detém um
grande controle do mercado. Vale também mencionar que essa diferença
justifica o negócio de agregação de conteúdo, tido como complexo pelas
operadoras.
� Alto grau de importância da indústria para os fornecedores (Fraco): Os PSCM
representam o principal cliente dos pequenos produtores de conteúdo, sendo que
esses não conseguem disponibilizar seus produtos diretamente para as
operadoras ou companhias de mídia sem uma marca forte e alto volume.
� Alta padronização dos insumos (Fraca): Os conteúdos simples não possuem
forte diferenciação quanto à técnica ou marca dos produtores.
� Improvável ameaça de integração para frente (Fraca): A possibilidade de essas
empresas ganharem um canal de acesso direto com as operadoras e
sobreviverem à retaliação dos PSCM é remota.
Poder de barganha dos clientes (Forte)
� Relativo número de clientes (Médio): O número de operadoras de celular e
companhias de mídia pode ser considerado relativamente equilibrado em
comparação ao de empresas cujo foco principal é a oferta de lotes de conteúdo
para outras companhias. Segundo Camargo &Kawao (2009), esse equilíbrio
advém do fato de poucos clientes possuírem um grande porte, capaz de absorver
massivamente o conteúdo agregado e produzido.
� Alta concentração de compras por alguns clientes (Forte): Muitos dos clientes
desse tipo de companhia são grandes atores do mercado, que possuem uma
105
oferta massiva de conteúdo. Desta maneira, uma única operadora de celular pode
representar um cliente muito importante em termos de faturamento para a
companhia.
� Relevante representação das compras como uma fração significativa dos custos
dos clientes (Média): As PSCM possuem uma grande participação sobre as
receitas dos conteúdos fornecidos para outras companhias. Portanto os seus
clientes se tornam mais exigentes quanto à escolha do fornecedor, apesar de
tratar o conteúdo adquirido como secundário.
� Elevada padronização da oferta de produtos (Forte): Os conteúdos mais
tradicionais são tratados como commodities. Dessa forma, os clientes não
enxergam valor diferenciado na oferta de pacotes de papéis de parede ou
protetores de tela, sendo orientados principalmente por preço e comodidade.
� Baixa importância do produto na qualidade da produção dos clientes (Forte): Os
conteúdos adquiridos externamente são considerados de baixa importância
estratégica, sendo apenas uma maneira de complementar a oferta. Diminuindo as
exigências dos clientes.
� Possível ameaça de integração para trás (Média): Apesar de não haver uma
considerável barreira para esse tipo de verticalização, os clientes não consideram
como vantagem o desenvolvimento de capacitação técnica para a produção de
conteúdos simples ou estabelecer contratos com inúmeros fornecedores para a
agregação farte de conteúdo.
� Baixo impacto de mudança de fornecedor para o cliente (Forte): Como a
provisão de conteúdo é considerada secundária, nesses casos não existem fortes
laços entre clientes e fornecedor.
Competição interna (Média):
� Relativa concentração de concorrentes (Média): O número de empresas que
disponibilizam lote de conteúdos e gerenciamento deste é relativamente maior
do que o número de clientes. Entretanto, grande parte pretende manter foco nos
consumidores finais e isso atenua a competição no modelo B2B. Segundo
Camargo & Kawao (2009), o númeo de empresas nessa indústria pode chegar a
centenas, caso sejam contadas também os integradores intermediários, empresas
106
utilizadas para agregar de maneira capilar o conteúdo para os grandes
integradores.
� Alta taxa de crescimento da indústria (Fraca): A taxa de crescimento da indústria
tem sido consistentemente alta durante os últimos quatro anos, atenuando a
competição.
� Baixo impacto dos custos fixos (Fraca): A agregação e gerenciamento são
atividade que não requerem grandes custos fixos. Empresas que possuem uma
maior ênfase no desenvolvimento de conteúdo próprio podem ter uma despesa a
mais no número de funcionários, porém essa não chega a ser muito expressiva.
� Baixo impacto dos custos de estocagem (Fraco): Todo o conteúdo é virtual,
sendo que não há grande custo associado a estocagem ou necessidade de escoá-
lo rapidamente.
� Baixo impacto dos custos de mudança de fornecedor para os clientes (Forte): A
mudança de fornecedor não é uma tarefa complexa, mas pode ser dificultada
caso a empresa exerça outros serviços como integração ou a provisão de alguma
plataforma tecnológica.
� Baixo impacto das barreiras de saída (Fraca): Os investimentos iniciais não são
demasiadamente altos e os equipamentos de informática podem ser vendidos
para outras indústrias resgatando facilmente parte do valor.
Novos entrantes (médio):
� Relativa necessidade de economias de escala (Média): A provisão de conteúdo
não requer economias de escala sendo que poucos equipamentos são capazes de
operar grandes volumes.
� Relativa facilidade para acesso aos canais de distribuição (Média): As empresas
não conseguem rapidamente captar conteúdo de diversos provedores.
� Baixa necessidade de investimentos (Forte): não é necessário um alto
investimento inicial para as operações.
� Possível retaliação dos demais concorrentes (Fraca): Considerando que as
empresas que fornecem conteúdo para outras não possuem fortes vínculos com
seus clientes e que os fornecedores são pulverizados, não há muita margem para
retaliação. Também é necessário considerar que as margens são reduzidas e uma
competição por preços é rara.
107
� Baixo impacto dos custos de mudança de fornecedor para os clientes (Forte):
Não há uma barreira significativa que impeça a mudança de fornecimento e
gerenciamento de conteúdo pelos clientes.
� Pouca importância de uma marca forte (Fraca): O conteúdo fornecido em lotes
não possui uma marca, desta maneira a imagem de uma empresa não esta ligada
aos produtos o que diminui a necessidade de uma marca.
Produtos substitutos (Média):
� Considerando que a maioria dos produtos fornecidos é simples e as empresas
trabalham com uma oferta variada destes, gerando um mercado padronizado,
não haveriam produtos substitutos. Entretanto, considerando os produtos
individualmente estes podem ter suas funções substituídas por outros tipos de
conteúdo, por exemplo, as funções exercidas por um papel de parede podem ser
atendidas em grande parte por um protetor de tela. Portanto, caso a oferta não
seja completa e a empresa seja especializada em apenas um conteúdo, sua oferta
pode ser substituída.
Concluindo, este tipo de ator possui um nicho de mercado que está exposto a uma
relativamente grande pressão competitiva. Apesar do baixo poder de barganha de seus
fornecedores, as PSCM varejistas estão sobre grande pressão dos clientes, representados por
empresas com grande domínio sobre o mercado celular, como as operadoras, ou com uma
forte marca, no caso companhias de mídia. Para esse diagnóstico também é necessário levar
em conta que as pressões exercidas por novos concorrentes ou produtos substitutos é
moderada, não existindo muita sofisticação técnica para a produção de grande parte do
conteúdo oferecido. Também é importante considerar que os laços entre a indústria e seus
clientes não fornecem significativos custos de mudança e que o papel exercido por um tipo de
conteúdo pode ser substituído por outro.
Analisando as relações entre a indústria e seus fornecedores, é evidente que esta é
dominada pelas PSCM, devido à fácil substituição dos produtores de conteúdos simples.
Além disso, como na maioria dos casos os produtores possuem como único cliente as PSCM,
essa venerabilidade é reforçada. Entretanto, analisando o relacionamento entre as empresas
PSCM e seus clientes, pode-se observar que existe uma dominância dos compradores, um
grupo mais concentrado de empresas, sendo que os produtos adquiridos por essas companhias
108
não é fundamental para suas atividades, mas apenas um complemento. Dessa forma, as
relações podem ser representadas graficamente pela Figura 5.7.
Dominância do
comprador
Independência
Interdependência
Dominância do
fornecedorPo
de
r d
o c
om
pra
do
r
sob
re o
fo
rne
ced
or
Alt
oB
aix
o
AltoBaixo
Poder do Fornecedor sobre o comprador
Figura 165.7 - Matriz do poder entre PSCM varejista, clientes e fornecedores
Considerando a atividade de gerenciamento de conteúdo, esse pode ser compreendido
como um suporte para o a provisão de conteúdo agregado de outros atores. Essa consideração
advém do fato de as PSCM praticamente exercerem um gerenciamento somente sobre o
conteúdo próprio que é disponibilizado para outras empresas e, por esse motivo, caso não
ocorra a venda de conteúdo para um terceiro é improvável que alguma atividade de
gerenciamento seja criada. Entretanto, esse tipo de complemento não é um fator de relevante
diferenciação na indústria sendo que para conteúdos simples sua gestão é padronizada.
Durante as entrevistas, identificou-se como fator de diferenciação a provisão de
ferramentas aos clientes, para a criação de conteúdo próprio. Além disso, a possibilidade da
criação de conteúdo sobre encomenda, como a formatação de fotos de artistas para o papel de
parede, é vista pelos clientes como um diferencial. Portanto, a capacidade de prover esse
atendimento customizado, possibilitando uma maior personalização do conteúdo, por vezes é
o fator que leva um cliente a escolher determinada empresa, sendo um grande facilitador para
o escoamento da oferta agregada.
Vale ainda ressaltar que essas empresas ocupam uma posição pouco disputada pela
indústria, uma vez que seus clientes não têm interesse em produzir o conteúdo mais simples
por elas provido ou captar esse conteúdo de maneira pulverizada pelos produtores, visto que a
complexidade gerada por essas atividades não possui uma considerável margem de retorno.
Também é fato que os pequenos produtores não representam uma ameaça concreta de
verticalização para frente, uma vez que seu diminuto porte causa dificuldades para ganhar
acesso direto às operadoras, interessadas na aquisição massiva de conteúdo.
109
6. Conclusão e recomendações
Esse capítulo está dividido em duas partes, visando organizar as conclusões sobre as
análises ambientais de cada elo do sistema de valor e apresentar considerações finais sobre a
importância do trabalho conduzido, futuros aprimoramentos e continuação.
6.1. Mercado brasileiro B2B de conteúdos móveis (mobile)
Com base na análise do sistema de valor, verificou-se que os elos mais atrativos
tendem a ser aqueles próximos do elo das operadoras. Isso se explica em grande parte pelo
fato de o mercado ser cada vez menos pulverizado e as barreiras de entrada cada vez mais
elevadas cadeia a baixo, conclusão que está alinhada com a teoria proposta por Porter (1979).
Portanto, ao longo dessa subseção será retomado cada elo do sistema de valor, começando
pelas empresas cadeia a abaixo, e explicitando de maneira sucinta a pressão competitiva sobre
a indústria e as principais explicações para tal.
Considerando os PSCM integradores, essas possuem um nicho favorável de mercado,
pois apesar da enorme pressão exercida por seus fornecedores, estes não sofrem grande
pressão dos clientes ou competição interna. Para esse diagnóstico também é necessário levar
em conta que não existem grandes pressões competitivas devido a novos concorrentes ou
produtos substitutos, visto que as operadoras não estão dispostas a conceder acesso a seus
sistemas de maneira fácil. É importante ressaltar que esse acesso é indispensável para a
condução dos negócios, não havendo substitutos e colocando a indústria em uma posição
favorável.
O Brasil é um ambiente propício para esse tipo de empresa, sendo que as operadoras de
telefonia móvel não possuem uma política padronizada de fornecimento de acesso para seus
sistemas. Isso requer contratos fechados individualmente com cada empresa e a utilização de
diferentes plataformas tecnológicas aumentando de maneira significante a complexidade do
acesso direto. Considerando também o fato das operadoras não estarem interessadas em um
grande número de empresas com acesso ao seu sistema de cobrança, esse mercado possui uma
grande barreira política contra novos entrantes. Isso caracteriza a predominância dos
110
fornecedores, segundo Cox et al (2000), sendo que estes concedem o seu poder para esse elo
do sistema de valor.
Retomando os PSCM varejistas, este tipo de ator possui um nicho de mercado com uma
atratividade média baixa. Apesar do baixo poder de barganha de seus fornecedores, as PSCM
varejistas estão sobre grande pressão de seus clientes, caracterizado principalmente pelas
operadoras de celular e companhias de mídia. Para esse diagnóstico é necessário levar em
conta que as pressões exercidas por novos concorrentes ou produtos substitutos é moderada,
não existindo muita sofisticação técnica para a produção de grande parte do conteúdo
oferecido. Também é importante considerar que os laços entre a indústria e seus clientes não
fornecem significativos custos de mudança e que o papel exercido por um tipo de conteúdo
pode ser substituído por outro.
Vale ainda ressaltar que essas empresas ocupam uma posição pouco disputada pela
indústria, uma vez que seus clientes não têm interesse em produzir o conteúdo mais simples
por elas provido ou captar esse conteúdo de maneira pulverizada pelos produtores, visto que a
complexidade gerada por essas atividades não possui uma considerável margem de retorno.
Também é fato que os pequenos produtores não representam uma ameaça concreta de
verticalização para frente, uma vez que seu diminuto porte causa dificuldades para ganhar
acesso direto às operadoras, interessadas na aquisição massiva de conteúdo.
Por se tratar de uma cadeia virtual, é possível traçar um paralelo entre essa integração de
diversos atores e a proposta de Tapscot (2001). Nesse cenário, os atores se tornam mais
especializados e procuram maior eficiência em um escopo mais estreito de atividades,
delegando para outras empresas tarefas menos rentáveis. Nesse contexto o PSCM se destaca
pelo domínio de TI e de negócios para firmar contratos com diversas companhias se ser capaz
de captar seus produtos.
Ao se analisar os provedores de conteúdo, este tipo de companhia esta na maioria dos
casos submetida a intensas forças competitivas, possuindo um posicionamento pouco atrativo.
Em geral, o poder de barganha de seus clientes é forte e a competição interna pode ser
considerada como média. Para esse diagnóstico é necessário levar em conta que esta é uma
indústria pulverizada e, em grande parte, encarregada da produção de conteúdos de baixo
valor agregado, aos quais as demais companhias não possuem interesse em manter foco.
Dessa maneira, a baixa importância do conteúdo e os poucos vínculos com os clientes,
colocam a indústria sobre permanente risco de verticalização sobre a sua área de atuação, uma
vez que os clientes possuem competência para exercer a produção.
111
Vale mencionar que existem nichos de exceção a essa pressão competitiva, sendo que
no caso de conteúdos mais complexos como vídeos e jogos, as empresas desfrutam de um
melhor posicionamento. Nesses casos, os riscos de verticalização são menores e a
diferenciação maior, devido à especialização tecnológica. É possível inferir que está é uma
indústria na qual a intensidade de informação requer seu alinhamento com o grid estratégico
de McFarlan (1984) no quadrante estratégico, sendo que as aplicações de TI são relevantes
para seu desempenho atual e futuro.
Portanto, deve ser feita uma ressalva quanto à análise desse mercado, dividindo-o em
dois grupos, o majoritário, no qual as empresas estão encarregadas de produção de baixo valor
agregado, e o de exceção, na qual a produção possui uma forte especialização técnica. Como
exemplo, a “Apple Store” tem tornado o mercado mais pulverizado, promovendo a produção
de aplicativos simples e produtos de customização de maneira aberta para programadores
independentes, que recebem auxílio de kits para a criação. Sendo assim, as empresas que
crescerem no ramo de produção deverão apresentar uma forte diferenciação quanto a seus
conteúdos, buscando uma especialização técnica que possa ter maior exclusividade.
Por último, permeando todo o sistema de valor ao fornecer suporte para diversas
empresas, os provedores de tecnologia estão na maioria dos casos submetidos a forças
competitivas brandas, possuindo um nicho de mercado no qual o poder de barganha de seus
clientes pode ser considerado como médio e a competição interna também. Para esse
diagnóstico é necessário levar em conta que esta é uma indústria focada apenas em atividades
de suporte e não primárias, sendo que por atender a qualquer participante da cadeia possui um
amplo mercado. O maior risco esta relacionado com a possibilidade de os clientes deste tipo
de empresa interiorizar seus projetos, sendo que os clientes optariam por desenvolver
tecnologia proprietária com equipes de funcionários, caso as exigências dos provedores de
tecnologias aumentassem.
Tapscot (2001) menciona os impactos da TI quanto à integração entre empresas e uma
maior dependência da estratégia para com todo o sistema de valor.. Analisando esse fato, é
possível perceber que por se tratar de uma cadeia virtual, a integração e coordenação dos
atores é facilitada, tornando as empresas mais focadas em um escopo menor de atividades.
Entretanto, apesar do cenário atual ser considerado atrativo, é possível perceber que
poucas barreiras de entrada estão disponíveis. Considerando que não há necessidade intensa
de investimentos de grande porte e que, portanto, havendo mão de obra qualificada em
tecnologia da informação, uma nova empresa não encontra grandes barreiras. Essa
112
necessidade por profissionais com conhecimento técnico explica a comum localização
geográfica desses atores em Campinas e, levando em conta que a prefeitura dessa cidade
possui incubadoras e políticas de incentivo a novos empreendimentos tecnológicos, esse
território é fértil para novos concorrentes. Além disso, empresas que hoje em dia estão
focadas na provisão de tecnologia para outras áreas da indústria podem migrar para o suporte
de companhias de conteúdo móvel com menos dificuldades do que startups no caso da
indústria se tornar mais rentável.
6.2.Considerações finais
O trabalho cumpriu com o seu propósito, aplicar uma ferramenta da engenharia de
produção relacionada à disciplina de estratégia e de gestão da tecnologia da informação, e
fornecer uma visão interessante sobre o ambiente competitivo da indústria de conteúdo para
celulares, em particular a dinâmica relacionada aos negócios B2B.
Dentro da proposta de aplicação de ferramentas de mapeamento e monitoramento do
ambiente, com base em dados secundários aliados aos estudos de caso, o trabalho propiciou
um bom entendimento do posicionamento de cada tipo de ator dentro do sistema de valor da
indústria analisada. O estudo das cinco forças competitivas da indústria trouxe uma visão
ampla do ambiente e permitiu um entendimento de suas ameaças e oportunidades,
colaborando para situar o posicionamento das empresas dentro da indústria e esclarecer quais
segmentos podem vir a ser mais atrativos.
Os estudos de caso, baseados em entrevistas com diversas empresas da cadeia
produtiva, foram ferramentas valiosas para uma maior compreensão sobre o jogo de forças
entre as diversas empresas. Além disso, esses relatos foram essenciais para traçar um
panorama com os problemas críticos do mercado, revelando quais as questões, segundo as
empresas, são os maiores entraves para o desenvolvimento do mercado.
Esse tipo de entendimento sobre o sistema de valor da indústria de conteúdos de celular
é de grande valia para se compreender seu delicado equilíbrio. Essa questão é complexa, ,
sendo que cadeia a baixo as operadoras exercem um oligopólio, protegido por
regulamentações governamentais, e cadeia a cima as empresas dividem o mercado de maneira
muito pulverizada, possuindo uma pequena participação nas receitas. Portanto, uma
compreensão sobre os atributos que aumentam o poder de barganha das empresas é um passo
113
importante para entender a importância dos investimentos tecnológicos nessa área de maneira
harmoniosa com a atualização da base de celulares no Brasil.
Considerando que segundo estimativas de Camargo & Kawao (2009), a indústria de
serviços de valor adicionado para celular gerou vendas de BRL 2,25 bilhões no Brasil durante
2008, representando 3,3% do faturamento das operadoras de celular, é impossível negar a
importância desse mercado. Além disso, essa é uma indústria nova, que surgiu ao final da
década de 90, cujo desenvolvimento pungente possui um grande potencial para a criação de
serviços tecnológicos de grande valia no futuro. Ao se analisar a convergência entre celulares
e a tecnologia de internet, as possibilidades de inovação são muito grandes representando uma
janela de mudança no posicionamento das empresas desenvolvedoras de conteúdo.
Portanto, um maior conhecimento sobre o panorama atual do ambiente competitivo é
importante para o sucesso de empreendimentos nessa área. Como consideração final sobre o
trabalho realizado, deve-se realizar um acompanhamento periódico sobre o mercado de
conteúdo móvel quanto ao posicionamento das empresas, mas também sobre a oferta de
produtos, por conta das constantes mudanças nesse tipo de indústria.
Devido ao caráter dinâmico deste mercado, em que o ritmo das mudanças tecnológicas
exerce grande impacto e ocorrem com alta freqüência, seria adequada uma análise anual sobre
o mercado. Isso está alinhado com os conceitos de estratégia de Porter (1996), defendendo a
flexibilidade em face as freqüentes mudanças, e Carvalho e Laurindo (2003), no qual a
estratégia passa necessariamente sobre a definição das características da empresa e do
ambiente. Através desse acompanhamento seria possível verificar o desempenho de
tecnologias concorrentes, como a televisão para celular emitida pelo sinal digital das
emissoras de TV contra vídeos via streaming 3G, sendo possível identificar tendências. Esse
tipo de análise possui uma importância estratégica para a escolha de tecnologias, sendo que ao
adotar em um sistema tecnológico que dificilmente irá se impor como hegemônico haveriam
problemas de escala capazes arruinar novos empreendimentos.
Outro exemplo de mudança brusca sobre o mercado se refere às regulamentações
governamentais, que podem mudar abruptamente. Por exemplo, analisando o
desenvolvimento de negócios relacionados à interatividade com mídia televisiva para a
promoção de leilões pela TV, esse foi um dos produtos que mais se desenvolveu durante
2007, entretanto, ao final de 2008, esse se tornou inexpressivo. As pressões governamentais e
um aumento no número de processos contra o oferecimento de tal serviço fez com que a
114
maioria das emissoras de TV se afastasse desse tipo de negócio, ocasionando uma grande
reversão de tendência.
Justificando novamente a necessidade de uma análise periódica sobre o setor, é possível
destacar o importante número de fusões e aquisições na indústria. Analisando somente 2008
em diante, é possível destacar a união entre a Telemar e Brasil Telecom (operadoras de
celular), Spring Wireless e Okto (PSCM integradoras) Arena Mobile e Neomobile (PSCM
varejistas). Não obstante, o país passa por um momento de transformação com a entrada de
atores internacionais e líderes mundiais, como a Buongiorno, que apesar de atualmente
possuírem uma pequena participação no mercado possuem conhecimento para mudar essa
situação. Essa tendência foi também identificada por Rangone (2007), prevendo um período
de consolidação do mercado Brasileiro de PSCM até o fim de 2010. Portanto, pode-se
concluir que em um horizonte de curto prazo, significativas mudanças de posicionamento
deverão ocorrer, tornando necessária uma revisão sobre o ambiente atual.
115
REFERÊNCIAS
► CAMARGO, R.; KAWAO, G. An empirical analysis of the mobile content market in
Brazil. 2009. 382p. Trabalho de formatura – Politecnico di Milano, Como (Itália), 2009.
► CARVALHO, M. M.; LAURINDO, F. Estratégias para a competitividade. São Paulo (Brasil): Editora Futura, 2003. 254p.
► COX, A; SANDERSON, J. & WATSON, G. Supply chain and power regimes: Toward
and analytic framework for managing extended networks of buyer and supplier
relationships. The Journal of Supply Chain Management, Tempe(EUA), v. 37 no 2, pp. 28-35, 2001.
► GEREFFI, G. Beyond the producer-driven/ buyer-driven dichotomy: the evolution of
global value chains in the internet era. IDS Bulletin, Brighton (Inglaterra), v. 32, no 3, pp 30 -40, jul. 2001.
► KOTLER, P. & KELLER, K. L. Administração de Marketing – A Bíblia do Marketing. 12a. edição. São Paulo (Brasil), Editora Pearson Prentice Hall, 2007.764p.
► MARQUES, P. Banda larga, o que você precisa saber na hora de escolher um plano. IDG Now, 29 jan. 2009. Disponível em: < http://idgnow.uol.com.br/internet /2009/01/26/banda-larga-tudo-o-que-voce-precisa-saber-para-escolher-um-plano/>. Acesso em: 24 mai. 2009.
► MCFARLAN, W. F. Information technology changes the way you compete. Harvard
Business Review, Cambridge (EUA), v.62, no. 3, p. 98-103, 1984.
► PORTER, M. E. How competitive forces shape strategy. Harvard Business Review, Cambridge (EUA), p 137 – 145, 1979.
► PORTER, M. E. Strategy and the internet. Harvard Business Review, Cambridge (EUA), p. 63 - 78, 2001.
116 ► PORTER, M. E. What is strategy?. Harvard Business Review, Cambridge (EUA), p 62 –
78, 1996.
► PORTER, M. E.; MILLER, V. How information gives you competitive advantage. Harvard Business Review, Cambridge (EUA), p. 149 -160, 1985.
► RANGONE, A. Mobile Content: aspetando Mobile Internet e Mobile TV. Politecnico di Milano, Milão (Itália), 2007, p 141.
► TAPSCOTT, D. Rethink strategy in a networked world. Strategy + Business, Chicago (EUA), v. 24, 8p., 2001.
► Tude, E. Teledonia Celular – Estatísticas do setor. Teleco. 30 set. 2009. Disponível em < http://www.teleco.com.br/ncel.asp>. Acesso em: 08 out. 2009
117
Anexo A - Roteiro de entrevistas:
1. Descrição da empresa
a. Qual a data em que a empresa foi fundada?
b. Qual a data em que as operações de conteúdo para celular no Brasil tiveram
início?
c. Qual a origem do capital da empresa?
d. Em quais cidades a empresa possui escritório e centros de desenvolvimento?
e. Em quais países a empresa opera?
f. Qual o número atual de funcionários da companhia?
g. A empresa realizou algum processo de fusão ou aquisição?
2. Modelo de negócios
a. A empresa se enquadra em um modelo B2B ou B2C de negócios? Caso
possua participação em ambos os modelos, algum destes é predominante?
b. A empresa possui especialização em algum serviço? Em caso positivo, qual a
porcentagem do faturamento correspondida por este?
c. Caso a empresa opere diretamente com as operadoras, possui acesso ao
sistema de todas aquelas com cobertura nacional?
d. Qual a tipologia dos principais clientes da companhia?
e. Qual a estrutura dos contratos da empresa? Pratica contratos com preço fixo
ou possui participação na receita dos produtos e serviços fornecidos?
f. Qual a tipologia dos fornecedores da empresa?
g. Possui alguma parceria estratégica em algum elo da cadeia?
3. Pontos críticos para o desenvolvimento do mercado
a. Quais os maiores entraves para o desenvolvimento da demanda,
quantitativamente e qualitativamente?
b. Quais as maiores barreiras para o desenvolvimento de negócios ao longo da
cadeia produtiva de conteúdos de celular no Brasil?