Download - Trilhos e histórias de Barqueiros
Tal como a história universal, também a história de Barqueiros se divide em Antes
de Cristo e Depois de Cristo.
Os primeiros sinais de ocupação humana no território que hoje é Barqueiros, surge-nos muito antes do nascimento de Cristo. O nosso território foi escolhido como local
de enterramento e deste modo surgiram os monumentos funerários Neolíticos. Junto ao limite sul do Lugar das Andorinhas denomi-nado Mamoa ou Mamoinha da Rocha. Tam-bém entre os lugares de Bassar, Abelheiros e Cerqueiras ainda hoje há a designação de
Mamoa, designação que surge documen-tada em 1303 nos limites de Lagoa Negra.
Também de uma época anterior ao nasci-mento de Cristo, mas mais próximos tem-
poralmente desse acontecimento, temos a época romana de Barqueiros. Surgiram
vestígios arqueológicos no Adro Velho, onde esteve situado o primitivo povoado de
Barqueiros. Do mesmo modo temos vestí-gios nos Vilares e os restos das minas de
ouro da Lagoa Negra.
Depois do nascimento de Cristo e depois dos romanos, Barqueiros adquire uma con-
figuração territorial muito próxima da que apresenta actualmente quando o grande
território da Lagoa Negra e o pequeno ter-ritório de Barqueiros se juntaram. Tal acon-
teceu porque Lagoa Negra não conseguiu tornar uma paróquia independente, visto o
rei D. Afonso III não ter seguido as sug-estões nesse sentido, que lhe foram trans-
mitidas em 1258. Naquela época, Lagoa Negra estendia-se desde o lugar das Ne-
cessidades ao lugar de Barqueiros. Em sentido contrário, o pequeno lugar de Barqueiros formou paróquia graças à sua
importância na antiguidade. Este território era composto pelos actuais lugares de
Barqueiros, Jouve, parte de Prestar e parte de Talhos. Lagoa Negra englobava os res-tantes lugares existentes actualmente ex-
cepto Terreiro e Abelheiros.
Ao contrário do que diz a sabedoria popular, Barqueiros não foi local de passagem com
barcos. Esta actividade não daria importân-cia a um local ao ponto de lhe permitir
formar paróquia. Barqueiros terá sido em tempos um local de actividade ligada ao rio
Cávado que em tempos aí chegava. Se-gundo vestígios arqueológicos encontrados no Adro Velho, estaria ligado à tecelagem
e fundição, mas também se pode admitir construção naval ou pequeno porto fluvial.
Dissemos no início que a história univer-sal se divide em Antes e Depois de Cristo.
Mais importante que esta divisão na história de Barqueiros, é a divisão da história de
Barqueiros em antes e depois da chegada da Senhora das Necessidades.
Barqueiros, Vilares, Lagoa Negra, Jouve e Prestar foram lugares medievais. Lugares
voltados para os vales e agras férteis para a agricultura. Hoje custa-nos entender a
nossa freguesia sem os lugares de Necessi-dades, Terreiro, Telheiras, Godo e Andorin-
has.Mas assim era quando começou a ser con-struído o Santuário em 1746/1747. A es-
trada nacional 205 não existia. A principal via de comunicação seria a estrada Rates
– Barca do Lago que atravessava os Lagoa Negra e Vilares. Outras vias secundárias
existiam tal como a que ligava Apúlia a Bar-celos e que passava pelos Vilares, capela do
Senhor dos Perdidos, Cambaruz, Cerqueiras.
Com o Santuário pede-se a construção da Ponte de Estreito em 1759 e com ela
começa a ser delineado o traçado da Es-trada Real 30, construída em Barqueiros em 1868. A partir desse momento tudo
se altera em Barqueiros. A estrada Rates-Barca do Lago acaba por cair no esqueci-
mento. Aviva-se uma antiga via, já chama-da de velha em 1303 – Rates, Cristelo
por Salgueiros, Cerqueiras, Necessidades, Barqueiros, Fonte Boa, Barca do Lago.
Necessidades torna-se local de passagem obrigatório, quase como Fátima nos nossos dias. Há uma feira, dormidas, muitos negó-
cios. Constroem-se casas na ala norte do Terreiro.
Este Terreiro, dado pelo arcebispo D. Gas-par, em 1812 já estava rodeado de casas
como dizem os documentos da época. As oportunidades de negócios levam alguns
lavradores a aventurarem-se no fabrico da telha nas suas propriedades pouco férteis
de Telheiras.
Em 1831, já eram numerosas as telheiras próximas do Terreiro da Senhora das Ne-
cessidades.A partir da construção do Santuário, em
pouco mais de 50 anos, a nossa freguesia alterou-se radicalmente.
Estruturou-se tal como hoje a conhecemos.
Arq. Antónico Veiga de Araújo.
Artigo publicado no “Jornal Barqueiros Jo-vem” de Junho de 2010
Carlos Barroso
Esta actividade teve início pelas 9h da manhã, com concentração marcada junto à sede da ABJ e com direito a T-shirt e Boné oficiais para todos os participantes, assim
como uma ficha explicativa dos locais mais pertinentes. Tal como nas anteriores visi-tas, esta para além de um bom exercício
físico e uma oportunidade de ver locais de Barqueiros, que normalmente ficam fora
das rotinas dos barqueirenses ou porque se encontram dentro de propriedades priva-
das, foi também uma aula de história ao ar livre e no “local onde as coisas acontecer-
am”. Mais uma vez, fomos acompanhados e guiados pela história pelo Arq. António Vei-ga, filho da terra e que amavelmente se di-sponibilizou para partilhar connosco todo o conhecimento que foi acumulando e prote-gendo ao longo dos muitos anos em que se tem dedicado à história de Barqueiros. Esta caminhada colectiva teve como linha orien-tadora dar a conhecer um pouco dos locais onde desde o séc. III existe ocupação em Barqueiros. Desde os romanos em Lagoa
Negra e Vilares, aos homens da Idade Mé-dia, no Adro Velho e Caminho de Santiago,
até à época das romarias e das “telheiras”, no Terreiro, no Santuário de N. S.ra das
Necessidades, no lugar de Telheiras, e na memória do desaparecido colégio de S. Luiz de Tolosa. Foram visitados também alguns locais de interesse paisagístico como foi o caso do vale dos Vilares, ainda não tocado
pela exploração de caulino, ou o vale de Jouve, ambos locais em que a esmagadora
maioria dos barqueirenses nunca esteve. Foram também avivadas as memórias das velhas estradas de Barqueiros como foi o
caso da antiga via para a Apúlia, da estrada Rates – Barca do Lago (Rates – Viana do
Castelo) e da romana Via Vectéris. O somatório de todos estes pontos de in-teresses, que representam apenas um apan-hado mais visível dos locais visitados, corre-spondeu a um trajecto de cerca de 10 km que se concluiu com a visita ao Santuário de N .S.ra das Necessidades já por volta das 18h. De salientar uma adesão que surpreen-deu em muito a própria organização e que superou largamente as últimas visitam pe-destres que se realizaram em Barqueiros. De salientar que o material fotográ-fico e em vídeo realizado nesta actividade será oportunamente divulgado pela ABJ. Desde já os mais sinceros agradeci-
mentos ao Centro de Bem Estar Social de Barqueiros, que cedeu as instalações do lar para o piquenique da hora de almoço, a amabilidade e disponibilidade dos Sr. Artur Rosmaninho e da família Veiga, que per-mitiram o acesso às suas propriedades. De igual modo, os nossos sinceros agradeci-mentos ao Sr. Casanova por permitir o acesso à Igreja de S. João de Barqueiros, e ao Sr. Padre Paulino por permitir o acesso ao Santuário de N. S.ra das Necessidades. Esta actividade, foi alvo de cobertura jor-nalística por parte da repórter Filipa Olivei-ra, do jornal Barcelos Popular e foi publi-cada no dia 24 de Junho no mesmo Jornal.
Artigo publicado no jornal Barcelos Popu-lar a 22 de Julho de 2010
Filipa OliveiraRememorar o Passado
Foi um dia diferente aquele que se viveu, no passado domingo, em pleno coração de Barqueiros. No formoso terreiro da fregue-
sia, diante do Santuário de N.ª Senhora das Necessidades, fez-se a recriação dos
ricos romeiros e telheiros – histórias de há 100 anos, uma iniciativa que pretendeu retratar, com o máximo rigor possível, o
período histórico compreendido entre os meados do século XIX e os meados do
século XX. A população assistiu ainda du-rante a tarde à reconstituição do fabrico
da telha, a um jogo com bola de trapos e ao desfile de trajes típicos, protagonizado por elementos do Rancho Folclórico e Et-
nográfico “A Telheira”, que também actuou e animou as hostes. A encenação do fabrico
da telha, que outrora existiu na zona das Telheiras, teve a preciosa colaboração de
Alberto Teixeira, a quem coube transmitir os conhecimentos da tradição. A iniciativa per-mitiu relembrar um passado que já começa
a ficar longínquo, pois o último forno da freguesia deixou de trabalhar na década de
sessenta e a última recriação do fabrico da telha foi feito há mais de vinte anos. De
resto, da parte da manhã, realizou-se uma feira de antiguidade e velharias e ainda um
encontro de vespas, organizado em parceria com o Vespa Clube do Minho. À noite para
encerrar o dia em beleza estava prevista uma actuação da Tuna Académica do IPCA. Estas actividades – integradas no programa
das II Jornadas Culturais – despertaram a curiosidade da população, que, tal como em
Junho, na visita pedestre que se realizou pelos trilhos e histórias da freguesia, voltou a corresponder positivamente à “chamada” da dinâmica Associação Barqueiros Jovem.
Rui Ferreira, presidente da colectividade, con-fessou ao Barcelos Popular a “satisfação que dá ver as gentes da terra envolvidas” de for-ma interessada e salutar nas iniciativas que promovem. Para o responsável, é a adesão
das pessoas que dá “ânimo” para continuar a trabalhar e promover actividades que visam essencialmente “unir e aproximar” a popu-lação e “preencher os tempos livres dos ha-bitantes de Barqueiros com agradáveis mo-mentos de ócio”. Ao final da tarde aquando da actuação do Rancho Folclórico e Etnográfico “A Telheira”, Rui Ferreira frisou: “Os objec-tivos estão a ser inteiramente alcançados”.Sob o mote “ O Passado no Presente”, a segunda edição das Jornadas Culturais de Barqueiros encerram no mês de Agosto, com a abertura de um exposição sobre as “Gentes e as Histórias de Barqueiros”. A mostra vai estar patente ao público desde o dia 13 de Agosto ao dia 12 de Setembro.
Artigo publicado no Jornal Barqueiros Jovem de Dezembro de 2010
Carlos Barroso
A exposição intitulada GENTES E HISTÓRIAS de Barqueiros iniciou-se com
uma palestra a 13 de Agosto, e esteve aberta ao público até à sua cerimónia de
encerramento a 12 de Setembro.
Dia 12 de Agosto, 8:30, Salão Paroquial – Cerimónia de Abertura
A palestra de abertura foi um convite à pop-ulação para uma conversa sobre os temas que foram abordados durante a realização
das Jornadas Culturais.
Para além das associações parceiras da ABJ na realização destes Jornadas, estiveram presentes como oradores convidados Sr.
Padre Paulino, Pároco de Barqueiros, o Arq. António Veiga de Araújo, colaborador da ABJ na realização destes Jornadas, e o
Arqueólogo José Manuel Flores Gomes, re-sponsável pelo Museu Etnográfico da Póvoa
de Varzim e pelas escavações na Cividade de Terroso. Para além do fabrico da Telha e dos Romeiro de N. S. das Necessidades,
temas que foram abordados com um excer-to deste vídeo documentário, a conversa
teve o seu ponto alto com a intervenção do arqueólogo Flores a propósito da mina Ro-mana de Lagoa Negra e da sua influência
regional com a apresentação de novos da-dos relativamente a este período da nossa história. A última intervenção coube ao Sr.
Padre Paulino, e incidiu sobre a importância da preservação do nosso património..
dia 12 de Agosto a dia 13 de Setembro, sala de cima do Centro Paróquial
de Barqueiros
A exposição Gentes e Histórias de Barqueiros definiu-se como uma amostra-
gem visual de uma parte significativa das temáticas da história da freguesia de
Barqueiros, prefazendo um percurso desde
a presença romana em Lagoa Negra, ao caminho de Santiago, as vias antigas de
Barqueiros, até ao início e auge do culto de N.S. das Necessidades e do Fabrico da Telha
na Telheira de Barqueiros.Para além do material fotográfico, foi pos-
sível apresentar um leque muito variado de objectos e ferramentas antigas utilizadas
em tempos nas actividades económicas deste freguesia, tais como utensílios do
fabrico da telha, utensílios agrícolas ou de sapateiro.
Esta exposição teve com um dos princípios fundamentaisser acessível e abranger o
máximo de públicos diferentes possíveis. Para isso, procurou associar uma compo-nente científica a uma componente mais lúdica. O conteúdo científico, incidiu na
divulgação de várias reproduções de ma-pas e roteiros dos séc. XVIII e XIX prove-nientes de França, Espanha e Inglaterra,
que confirmam a existência e a importân-cia do caminho de Santiago que atravessa
Barqueiros. Foram também divulgadas ima-gens e dados curiosos tais como informa-
ções sobre as origens e imagens antigas do Santuário de N.S. das Necessidades, sobre a guerra da “música nova e música velha”,
e até fotografias do desaparecido colégio de S. Luis de Tolosa, que apenas os Barquei-
renses mais idosos tiveram oportunidade de
conhecer.Esta exposição representou o ponto alto e
de excelência destas Jornadas Culturais de Barqueiros. Através de uma parceria in-
formal com os Barqueirenses, foi possível reunir um leque muito variado de fotogra-
fias pertencentes a diversos arquivos famil-iares, muitas das quais já centenárias, de
pessoas, acontecimentos e de documentos antigos e recortes de jornais.
Muito mais que uma amostragem an-tropológica da evolução da sociedade
Barqueirense ao longo dos tempos, permitiu um momento por excelência de confrater-nização entre os Barqueirenses. Desde o
simples avivar de memória de pessoas que há muito partiram, ao reencontro de ima-
gens de familiares que se desconheciam e ao trocar de um sem fim de histórias de família, amigos e conhecidos que de outro
modo continuariam perdidas no tempo.A participação dos Barquerenses, o à vonta-de em partilhar os seus tesouros de família,
superou largamente todas as expectativas mais optimistas. De igual modo, durante o tempo que durou a exposição, foi possível
constatar a presença de pessoas não oriun-das de Barqueiros, mas que se mostraram
interessadas em conhecer um pouca da nossa história e, em muitos casos, das suas próprias raízes. Segundo os dados apurados
no livro de visitas e junto das diversas as-sociações que colaboraram no apoio à ex-
posição, a exposição contou com a visita de mais de 600 pessoas durante o mês em que
se encontrou aberta ao público.
Dia 13 de Setembro – Cerimónia de Encerramento
O fecho destas Jornadas Culturais contou com a apresentação e visionamento público deste documentário e com a entrega de lembran-ças aos parceiros da ABJ na realização desta actividade, assim como aos sócios da ABJ que ao longo da sua existência contribuíram significativamente para o seu sucesso. Para terminar com chave de ouro, assistiu-se a uma actuação muito aplaudida da Tuna Académica do IPCA.
E assim chegamos....
As II Jornadas Culturais de Barqueiros começaram a ser organizadas em Fevereiro
de 2010 e os trabalhos só terminaram em Outubro do mesmo ano.
Esta ideia de envolver a população, as várias associações e algumas personali-
dades que muito conhecem da História de Barqueiros, vinha sendo pensada desde
as I Jornadas que se realizaram em 2006. Nessa altura, realizamos um percurso pe-destre pela freguesia acompanhados de
um pequeno número de participantes, com-posto quase só por elementos da direcção e
familiares. Conheciamos à partida a curiosidade e
“fome” de conhecimento sobre a terra, por parte de algumas pessoas que já haviam demonstrado essa vontade em diversas
ocasiões. Neste contexto favorável surgiu a ideia de se realizar não só uma actividade corriqueira mas uma grande homenagem à terra de todos nós, desde a sua génese
até aos nossos dias, sem descurar o longo caminho que o nosso povo percorreu e as
aprendizagens adquiridas no processo. As Jornadas Culturais de Barqueiros nunca
seriam realizadas sem o imprescindível contributo do Arquitecto António Veiga de
Araújo, um apaixonado pela terra que o viu nascer, um verdadeiro amigo dos barquei-
renses em geral e da Associação Barqueiros Jovem em particular. Um homem de tra-
balho, de empenho e amor pelas suas raíz-es como poucos, que compilou ao longo dos
anos inúmeros dados e documentos sobre a nossa História e que os colocou inteira-
mente ao dispor da organização das Jorna-das, das quais também fazia parte.
Todos os envolvidos nas Jornadas Culturais devem sentir enorme orgulho por terem
desempenhado um papel essencial no maior evento cultural e recreativo que Barqueiros
já teve.
Embora ninguém deva ser juiz em causa própria e sendo que a humildade fica sem-pre bem a todos, conseguimos comprovar a velha máxima de que a união faz a força e as associações de Barqueiros juntas são capazes de realizar feitos extraordinários.
Para todos vocês um enorme agradecimen-to, em meu nome pessoal, e em nome da Direcção da Associação Barqueiros Jovem.
Rui FerreiraPresidente da Associação Barqueiros Jovem