Download - Temporada 2011 | Fora de Série: Mozart
SÁBA
DOS,
18H
Ministério da Cultura e Governo de Minas Gerais apresentam
TEM
PORA
DA 2
016
FORA
DE
SÉRI
E
MARCOS ARAKAKI, regenteERIKA RIBEIRO, pianoLa finta semplice, K. 51: Abertura
Sinfonia nº 1 em Mi bemol maior, K. 16
Concerto para piano nº 1 em Fá maior, K. 37
Divertimento nº 1 em Mi bemol maior, K. 113
Cassação nº 1 em Sol maior, K. 63
MARCOS ARAKAKI, regenteALMA MARIA LIEBRECHT, trompaCATHERINE CARIGNAN, fagoteCÁSSIA LIMA, flautaGISELLE BOETERS, harpaConcerto para trompa nº 2 em Mi bemol maior, K. 417
Concerto para fagote em Si bemol maior, K. 191
Concerto para flauta e harpa em Dó maior, K. 299
FABIO MECHETTI, regente MARK JOHN MULLEY, tromboneCLÁUDIA AZEVEDO, sopranoCELINA SZRVINSK, pianoMIGUEL ROSSELINI, pianoleopold mozart — A viagem musical de trenó
leopold mozart — Concerto para trombone alto em Ré maior
leopold mozart — Sinfonia dos Brinquedos
Mia speranza adorata – Ah, non sai qual pena, K. 416
No, no, che non sei capace, K. 419
Concerto para dois pianos em Mi bemol maior, K. 365
FABIO MECHETTI, regente Sinfonia nº 31 em Ré maior, K. 297, “Paris”
Sinfonia nº 34 em Dó maior, K. 338
Sinfonia nº 40 em sol menor, K. 550
P. 29
P. 21
P. 38
P. 47
5 MARÇO
2 ABRIL
14 MAIO
18 JUNHO
CAROS AMIGOS E AMIGAS Fabio Mechetti
MOZART, um pouco da obra e do coração, con affetto
Sábados, 18h
Menino prodígio
Concertos
Tudo em família
Sinfonias
P. 5
P. 12
PARA ASSISTIR, OUVIR E LERFILARMÔNICA online
PARA APRECIAR um concerto
P. 94
P. 100
P. 101
20 AGOSTO
23 JULHO
1º OUTUBRO
29 OUTUBRO
10 DEZEMBRO
P. 61
P. 73
P. 79
P. 85
P. 53 TOBIAS VOLKMANN, regente convidadoALEXANDRE BARROS, oboéO rapto do serralho, K. 384: Abertura
antonio salieri — Sinfonia em Ré maior, “Il giorno onomastico”
domenico cimarosa — Concerto para oboé em dó menor
Sinfonia nº 39 em Mi bemol maior, K. 543
FABIO MECHETTI, regenteMARINA MORA, diretora de cenaGABRIELLA PACE, FiordiligiLUISA FRANCESCONI, DorabellaCARLA COTTINI, DespinaDAVID PORTILLO, FerrandoLEONARDO NEIVA, GuglielmoLICIO BRUNO, Don AlfonsoCosì fan tutte, K. 588
FABIO MECHETTI, regenteContradanças, K. 609
Idomeneo: Música de Balé, K. 367
Tamos, Rei do Egito, K. 345
Les Petits Riens, K. 299b
FABIO MECHETTI, regenteUma brincadeira musical, K. 522
Serenata nº 6 em Ré maior, K. 239, “Noturna”
Serenata nº 9 em Ré maior, K. 320, “Posthorn”
FABIO MECHETTI, regenteMARCUS JULIUS LANDER, clarineteMARIANA ORTIZ, sopranoLUISA FRANCESCONI, mezzo-sopranoLUCIANO BOTELHO, tenorSAULO JAVAN, baixoA Clemência de Tito, K. 621: Abertura
Concerto para clarinete em Lá maior, K. 622
Requiem, K. 626
Ópera
Rivais e contemporâneos
Música incidental
Na corte
Último capítulo
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Uma das perguntas mais frequentes que recebo como maestro é sobre quem é o meu compositor favorito. Antes fosse assim tão fácil arriscar uma resposta. As razões de um suposto favoritismo podem ser de natureza estética, técnica, emocional, racional; até mesmo um “sei lá” é possível.
Alguns compositores são sobre-humanos, outros nos tocam profundamente por serem vulneráveis e, portanto, simplesmente humanos. Uns evocam a conquista e o otimismo, outros, um pessimismo inexorável. Vários nos apresentam a controvérsia, muitos, a contemplação e o prazer. Mas talvez só um, dentre os grandes gênios da música ocidental, reúna todas essas (e muitas outras) qualidades: Mozart.
Considerado unanimemente um dos maiores prodígios que já existiram, dotado de singular facilidade na arte de compor, dono de uma perfeição técnica e formal absoluta, mestre em qualquer forma e gênero, incrivelmente prolífico nos 35 anos que viveu, Johannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus (Amadeus em latim) Mozart deixou para nós uma obra única, capaz de, ao mesmo tempo, surpreender os mais exigentes críticos e amantes da música, assim como chegar diretamente aos corações dos ouvintes mais leigos.
Ao estudar uma obra de Mozart, fico embevecido com a absoluta perfeição técnica que ele imprime ao que faz. A despeito disso, sua música soa absolutamente fluente e natural, como se cada nota escrita não pudesse pertencer a qualquer outro lugar, mas somente àquele onde foi colocada, perfeita, inevitável. Seja uma simples sonata para piano ou uma dupla fuga em uma de suas missas, Mozart nos mostra que a perfeição é possível e, o que nos deixa ainda mais envergonhados e despeitados, simples e fácil.
Ao explorar a música de Mozart nesta temporada, a Filarmônica visitará algumas de suas obras mais famosas, como sua Sinfonia nº 40, vários de seus concertos e o Requiem, mostrando a diversidade de sua criação, o domínio absoluto que tinha das formas musicais tradicionais, assim como a maneira clara e eficiente com que trabalhou desde a mais tenra idade até sua morte precoce.
Enfim, sua obra reflete o que há de mais sublime no espírito humano e, ao mesmo tempo que nos entretém, nos eleva, pois sabemos que estamos diante de um ser que simboliza o que há de melhor na humanidade. Ninguém melhor do que outro gênio, Einstein, para enxergar na música do grande compositor austríaco a presença de uma beleza interna universal, pronta para ser revelada. É isso que pretendemos: desvendar a beleza e a verdade contidas em dezenas de obras que, como há mais de duzentos anos, mostram sua relevância nos dias de hoje.
CAROS amigos e amigas
FABIO MECHETTIDiretor Artístico e Regente Titular
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Desde 2008, Fabio Mechetti é Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, sendo responsável pela implementação de um dos projetos mais bem-sucedidos no cenário musical brasileiro. Com seu trabalho, Mechetti posicionou a orquestra mineira nos cenários nacional e internacional e conquistou vários prêmios. Com ela, realizou turnês pelo Uruguai e Argentina e realizou gravações para o selo Naxos.
Natural de São Paulo, Fabio Mechetti serviu recentemente como Regente Principal da Orquestra Filarmônica da Malásia, tornando-se o primeiro regente brasileiro a ser titular de uma orquestra asiática. Depois de quatorze anos à frente da Orquestra Sinfônica de Jacksonville, Estados Unidos, atualmente é seu Regente Titular Emérito. Foi também Regente Titular da Sinfônica de Syracuse e da Sinfônica de Spokane. Desta última é, agora, Regente Emérito.
Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego, foi Regente Residente.
FABIO MECHETTIdiretor artístico e regente titular
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Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem dirigido inúmeras orquestras norte-americanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus, entre outras. É convidado frequente dos festivais de verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park em Chicago e Chautauqua em Nova York.
Realizou diversos concertos no México, Espanha e Venezuela. No Japão dirigiu as orquestras sinfônicas de Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Regeu também a Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia, a Orquestra da Rádio e TV Espanhola em Madrid, a Filarmônica de Auckland, Nova Zelândia, e a Orquestra Sinfônica de Quebec, Canadá.
Vencedor do Concurso Internacional de Regência Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige regularmente na Escandinávia, particularmente a Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg, Suécia. Recentemente fez sua estreia na Finlândia dirigindo a Filarmônica de Tampere e na Itália, dirigindo a Orquestra Sinfônica de Roma. Em 2016 fará sua estreia com a Filarmônica de Odense, na Dinamarca.
No Brasil, foi convidado a dirigir a Sinfônica Brasileira, a Estadual de São Paulo, as orquestras de Porto Alegre e Brasília e as municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Trabalhou com artistas como Alicia de Larrocha, Thomas Hampson, Frederica von Stade, Arnaldo Cohen, Nelson Freire, Emanuel Ax, Gil Shaham, Midori, Evelyn Glennie, Kathleen Battle, entre outros.
Igualmente aclamado como regente de ópera, estreou nos Estados Unidos dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se produções de Tosca, Turandot, Carmen, Don Giovanni, Così fan tutte, La Bohème, Madame Butterfly, O barbeiro de Sevilha, La Traviata e Otello.
Fabio Mechetti recebeu títulos de mestrado em Regência e em Composição pela prestigiosa Juilliard School de Nova York.
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Wolfgang Amadeus Mozart, sempre tão amado, venerado pelos maiores músicos de sua época, única unanimidade na admiração dos grandes mestres que o sucederam, autor de mais de seiscentas obras conhecidas, morreu em Viena na miséria e no abandono, sem completar 36 anos.
Nunca serão demasiados os esforços para restaurar-se a verdade a respeito da pessoa do criador, distorcida através do tempo, e para ampliar o conhecimento de sua imensa obra.
Que Wolfgang, criança de precocidade genial e fascinante personalidade, teria encontrado seu irreprimível caminho na música, mesmo sem a onipresença do pai na infância — é uma evidência. Desde muito cedo, a consciência de seu destino de compositor era claríssima para ele.
No entanto, para que absorvesse e praticasse todo o conhecimento musical germânico, foram condições determinantes a orientação metódica
e cotidiana do pai — bom músico e pedagogo —, os contatos que teve com a música e os músicos de sua época e, principalmente, sua própria intuição genial. Por esta se explica a facilidade e alegria com que Wolfgang se dispunha a escrever música quando solicitado, ou para seu próprio prazer, e a abordagem de todos os gêneros já na infância. Isso não impedia que, para o instrumentista admirável que já era, fosse insuportável apresentar-se diante de pessoas que ele percebia desinteressadas, que não sabiam apreciar a sua música.
As viagens — não raro decepcionantes do ponto de vista prático do pai e cansativas ao extremo para a criança — foram acima de tudo essenciais para forjar a largueza do espírito de Mozart e permitir sua aproximação de outras escolas, de modo especial a música italiana e a escola de Mannheim — influências fundamentais na elaboração de sua obra —, preservando sempre, contudo, os insumos da escola alemã.
UM POUCO DA OBRA E DO CORAÇÃO, con affetto
Mozart
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É bom lembrar que os trajetos, por mais extenuantes e demorados que fossem, eram apenas os entreatos de longas temporadas que, estas sim, proporcionavam a Wolfgang o tempo de crescer aprendendo, de escutar novas músicas, de ter influências e encontros decisivos.
Iniciado em abril de 1764, e estando Wolfgang com oito anos, o estágio de dezesseis meses em Londres teve repercussões indeléveis. Wolfgang compôs ali suas primeiras sinfonias, ouviu oratórios de Haendel e assistiu a óperas italianas. Seu contato com Johann Christian Bach — que, antes
de ser chamado Bach de Londres, fora o Bach de Milão — foi especialmente afetuoso, além de fecundo pela orientação que desse mestre recebeu. Dele teve as primeiras lições sobre a ópera italiana, mais especificamente sobre a característica ópera buffa napolitana. Aliás, foi de Londres que Leopold escreveu a sua mulher: "ele tem sempre uma ópera na cabeça", uma demonstração de que já aos oito anos se instalava no espírito de Wolfgang a paixão que viria a ser avassaladora — o teatro musical, o melodrama.O que nos assombra hoje, mais que as habilidades da criança prodígio, é
Roteiro de viagem da família Mozart
às cortes da Europa, entre 1763 e 1766.
LONDRES(1764-65)
AMSTERDÃ (1766)
UTRECHTHAIA
ROTERDÃ
ANTUÉRPIAMALINAS
LOVAINA
LIÈGEAACHEN
COLÔNIA
BONN
COBLENÇA
FRANKFURTMAINZ
WORMS
MANNHEIM HEIDELBERG
LUDWIGSBURGO
AUGSBURGO
MUNIQUE
SALZBURGO
ULM
SCHAFFHAUSEN
BRUXELAS
WINTERTHUR
ZURIQUE
LAUSANNE
GENEBRA
LYON
DIJON
PARIS
1763-64
1766
1766
1763
LILLE
GANTEDUNQUERQUE
BERNA
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a profundidade com que Wolfgang processava vertiginosamente o seu desenvolvimento e quão reta e certeira foi a sua trajetória.
A narrativa das viagens empreendidas por iniciativa de Leopold, contida em suas cartas e nos bilhetes de Wolfgang e da irmã Nannerl, nos leva a conhecer o processo de aprendizado musical — totalmente fora de qualquer padrão —, assim como a formação da personalidade e do coração de Mozart.
Surpreende-nos ainda hoje perceber que, irrigada por sua genialidade e suas escolhas, sua obra imortal estava germinando e florescendo, sem desvio, desde os primeiros sons e rabiscos da criança.
Quando Leopold dizia que o menino "tinha a música inteiramente na cabeça antes de escrevê-la", dizia-o não com incredulidade, mas sem compreender bem o que aquilo significava. Sempre foi assim para Wolfgang. Ao final, faltou-lhe força física para terminar o Requiem que desde a data da encomenda trazia acabado na cabeça.
Aos olhos da aristocracia e da burguesia europeias, Wolfgang perdia, ao crescer, tanto o charme da precocidade como a perspectiva de celebridade futura. Mas, na verdade,
ele crescia em graça e sabedoria, acumulando sem trégua experiências extraordinárias, construindo seu direcionamento estético, confirmando sua vocação dramático-musical, deixando que o coração guiasse as suas escolhas.
Escutar e apreciar exemplos de suas músicas nas diferentes idades nos deixa concluir que também o amadurecimento artístico de Wolfgang foi espantosamente precoce e acelerado, como que numa antevisão de quão curto era o prazo que lhe seria dado.
A primeira viagem à Itália, que se dá às vésperas de Wolfgang completar quatorze anos, é a primeira que o menino empreende em companhia apenas do pai. As experiências dessa temporada
Nannerl Mozart. Pintura atribuída a Pietro Antonio Lorenzoni, 1763c.
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são numerosas e especiais, pelas encomendas que cumpriu e estreou (incluindo a ópera Mitridate Re di Ponto) e pelas ocasiões de mostrar quão excelente músico ele já era. Porém, mais significativos para Wolfgang foram os contatos sérios e proveitosos com músicos do quilate do lendário Padre Giovanni Battista Martini (1706-1784), de Bolonha. Para trabalhar intensivamente contraponto com Martini, de quem já ouvira falar por Christian Bach, Wolfgang volta a Bolonha, "a Douta", onde permanece por três meses. Pode-se imaginar o empenho e a
alegria do jovem de quatorze anos por essa estupenda oportunidade. Martini será sempre uma referência musical e afetiva para Mozart.
Acompanhar as vicissitudes da vida de Mozart e ao mesmo tempo seguir o desenvolvimento de sua obra é uma forma de desvendar o seu coração e sua personalidade. Wolfgang, desde que entrara na adolescência, tinha o comportamento de um músico profissional, e como tal foi reconhecido na Itália. Ao mesmo tempo, com sua intuição muito clara sobre o que queria
A casa natal de Mozart, ao fundo, à
esquerda, localizada na Löchelplatz, em Salzburgo. Museum
Carolino Augusteum, Salzburgo.
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conhecer e aprender, não dissipava as oportunidades. Adquiria o equilíbrio que sempre transpareceu em sua música. Era alegre e afetuoso, desbocado nas brincadeiras e na correspondência, sempre disposto a teatralizar, generoso, dedicado aos amigos e, quanto à música, exigente e responsável. Uma espiritualidade sincera era perceptível em suas atitudes, além de um senso ético profundo que transparece à medida que, na juventude, começa a reagir às fraquezas e às injustiças dos ambientes nos quais convive. Um sinal, dentre muitos, de seu belo caráter e total falta de jactância é que a concessão do diploma honorífico da Academia Filarmônica de Bolonha, após um exame de máximo rigor, jamais foi motivo de alarde ou vaidade por parte de Wolfgang, que se negava a exibi-lo, assim como também recusava usar a insígnia de Cavaleiro da Ordem da Espora de Ouro, que o Papa lhe concedera. Sua simplicidade não era isenta de firme senso de dignidade. Apelava com energia a seu pai para que não se rebaixasse ao tentar uma oportunidade em favor do filho.
Wolfgang entrara para o serviço do Príncipe-Arcebispo aos treze anos, como organista sem salário. De 1773 até a viagem a Paris, quase não se ausentou de Salzburgo e compôs muita música, já com
sua personalidade musical inconfundível bem estruturada.
Em 1777 partiu com destino a Paris acompanhado apenas de sua mãe, numa viagem muito atribulada, que se não foi particularmente importante do ponto de vista da carreira de Wolfgang, marcou-se por acontecimentos que o abalaram emocionalmente e que viriam a ter repercussão em seu futuro: o encontro com Aloysia Weber, linda soprano de quinze anos por quem se enamora em Mannheim, sem poder dar continuidade ao romance, e a morte inesperada, em Paris, de sua mãe. Apesar de seu descontentamento com a cidade, compôs algumas músicas importantes, como uma Sinfonia Concertante para Sopros, o belo Concerto para flauta e harpa, Variações e Sonatas para piano —
Anna Maria Mozart. Pintura de Rosa Hagenauer-Barducci.
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entre as quais a surpreendente e dramática em lá menor e a Sonata em lá maior, célebre pelo rondó alla turca, e várias outras obras. Não é pouca coisa para cinco meses! Na volta a Salzburgo segue o mesmo trajeto e, no reencontro com Aloysia, a moça se mostra indiferente.
Wolfgang, de novo em Salzburgo, é ainda bem jovem. Começa o ano de 1779 compondo a Sonata para piano e violino em si bemol e o Concerto para dois pianos em mi bemol. Em março escreve a Missa da Coroação, sinfonias e cerca de cinquenta obras, a maior parte delas longas e complexas, evidenciando sua evolução técnica.
Após um retorno a Munique, aonde foi para montar e estrear com grande sucesso a ópera Idomeneo, e
onde escreveu o Quarteto com oboé K. 370, Wolfgang deixa Salzburgo definitivamente. Rebelara-se em episódio recontado à exaustão, para acabar sendo o primeiro músico autônomo da história da música.
Instala-se em 1781 em Viena e decide casar-se com Constanze Weber, irmã de Aloysia, que será sua companheira até o fim.
Apenas dez anos para viver em Viena, para realizar a sua obra! Viveu — nessa cidade tão alegre e tão triste, tão séria e tão inconsequente — dias de exaltação e de depressão. Teve dias de glória e de penúria. Mas Mozart não expressava com sua música as circunstâncias de sua existência. Revelava, sim, a sua alma. Já escrevera de Munique a seu
Constanze Mozart. Pintura de Joseph
Lange, 1782.
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pai: "Ich bin vergnügt weil ich zu komponieren habe, welche ist doch meine einzige Freude und Passion". — Estou contente porque tenho o que compor, o que é mesmo a minha única alegria e paixão.
Wolfgang compôs nessa década aproximadamente trezentas obras. Podemos dizer sem receio que são trezentas obras-primas. É impossível deixar de citar Don Giovanni, Le nozze di Figaro, Così fan tutte, O rapto do serralho, A Flauta Mágica; as mais belas e fantásticas sinfonias, numerosos concertos para piano, música religiosa, música maçônica, inúmeros quartetos e quintetos... O Requiem, obra que povoou o espírito de Mozart de lúgubres sensações e que ficou inacabada...
Tudo é insuficiente ou então demasiado e desnecessário quando se trata de falar ou escrever sobre Mozart, tanto sobre a obra quanto sobre seu espírito. Sabemos como lhe foi reconfortante, sempre, a comovente amizade e o afeto que o uniram a Haydn; Mozart jovem, Haydn já músico consumado e célebre — eles tiveram alguns contatos de profunda compreensão e admiração mútua. Mozart se influenciou por Haydn na juventude e Haydn, mais tarde, se deixou conscientemente influenciar por Mozart, o que ele próprio declarava com simplicidade.
Em mais de uma ocasião elevou a voz para declarar: — Mozart é o maior compositor que já existiu! Uma dessas vezes foi após a estreia de Don Giovanni.
Melhor que ler sobre Mozart é escutar sua música, buscar aquela que não se ouviu ainda, descobrir a beleza incomparável de suas melodias, deixar-se emocionar com a doçura, mas também com a pungência, com tudo o que lhe ia na alma e que se traduz em sua obra. Felizmente existem gravações de, pelo menos, essas cerca de trezentas obras dos últimos dez anos.
Por ter vivido na segunda metade do século XVIII, e por ser o menos sectário e o mais aberto dos compositores, o conceito de
Joseph Haydn. Pintura de Thomas Hardy.
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clássico é insuficiente para a sua música, que, pelo elaboradíssimo uso do cromatismo como elemento expressivo, tem, sem qualquer pretensão revolucionária, conotações românticas e trágicas que aproximam Beethoven de sua obra. Alguns atributos sensíveis a tornam acessível. Na música instrumental, o primeiro, sem dúvida, é a beleza e a perfeição da melodia; outro é o equilíbrio da forma, da instrumentação, a complexa estruturação das vozes. Na ópera, o que mais seduz é a
verdade humana das personagens e o sentido do ritmo teatral.
Wolfgang Amadeus Mozart é o único grande mestre da música verdadeiramente universal, por ter criado obras-primas, com a mesma grandeza e a mesma dedicação, em absolutamente todos os gêneros musicais.
O piano de Mozart. Mozart Museum, Internationale Stiftung Mozarteum, Salzburgo.
BERENICE MENEGALE Pianista e diretora da
Fundação de Educação Artística.
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1
FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO
MARCOS ARAKAKI, regenteERIKA RIBEIRO, piano
LA FINTA SEMPLICE, K. 51: ABERTURA
SINFONIA Nº 1 EM MI BEMOL MAIOR, K. 16
• Allegro molto • Andante • Presto
CONCERTO PARA PIANO Nº 1 EM FÁ MAIOR, K. 37
• Allegro • Andante • Allegro
— INTERVALO —
DIVERTIMENTO Nº 1 EM MI BEMOL MAIOR, K. 113
• Allegro • Andante • Menuetto • Allegro
CASSAÇÃO Nº 1 EM SOL MAIOR, K. 63
• Marche • Allegro • Andante • Menuetto • Adagio • Menuetto • Finale: Allegro assai
PROGRAMA
5 DE MARÇO
Menino prodígio
Erika Ribeiro
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FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO
Marcos Arakaki é Regente Associado
da Filarmônica de Minas Gerais e
colabora com a Orquestra desde 2011.
Bacharel em música pela Universidade
Estadual Paulista, na classe de violino
do professor Ayrton Pinto, em 2004
concluiu o mestrado em Regência
Orquestral pela Universidade de
Massachusetts (EUA). Participou
do Aspen Music Festival and School
(2005), recebendo orientações de
David Zinman na American Academy
of Conducting at Aspen, nos Estados
Unidos, além de masterclasses com
os maestros Kurt Masur, Charles Dutoit
e Sir Neville Marriner. Sua trajetória
artística é marcada por prêmios como
o do 1º Concurso Nacional Eleazar
de Carvalho para Jovens Regentes,
promovido pela Orquestra Petrobras
Sinfônica em 2001, e do Prêmio
Camargo Guarnieri, concedido pelo
Festival Internacional de Campos do Jordão em 2009,
ambos como primeiro colocado. Foi também semifinalista
no 3º Concurso Internacional Eduardo Mata, realizado na
Cidade do México em 2007.
Além da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, Marcos Arakaki
tem dirigido outras importantes orquestras tanto no Brasil
como no exterior. Estão entre elas as orquestras sinfônicas
Brasileira (OSB), do Estado de São Paulo (Osesp), do Teatro
Nacional Claudio Santoro, do Paraná, de Campinas, do
Espírito Santo, da Paraíba, da Universidade de São Paulo,
a Filarmônica de Goiás, Petrobras Sinfônica, Orquestra
Experimental de Repertório, orquestras de Câmara da Cidade
de Curitiba e da Osesp, Camerata Fukuda, dentre outras.
No exterior, dirigiu as orquestras Filarmônica de Buenos
Aires, Sinfônica de Xalapa, Filarmônica da Universidade
Autônoma do México, Kharkiv Philharmonic da Ucrânia e
a Boshlav Martinu Philharmonic da República Tcheca.
Acompanhou importantes artistas do cenário erudito, como
Gabriela Montero, Sergio Tiempo, Anna Vinnitskaya, Sofya
Gulyak, Ricardo Castro, Rachel Barton-Pine, Chloë Hanslip,
Luíz Filíp, entre outros.
Ao longo dos últimos dez anos, Marcos Arakaki tem
contribuído de forma decisiva na formação de novas
plateias, por meio de apresentações didáticas, bem como
na difusão da música de concertos através de turnês a
mais de setenta cidades brasileiras. Atua, ainda, como
coordenador pedagógico, professor e palestrante em diversos
projetos culturais e em instituições como Casa do Saber do
Rio de Janeiro, programa Jovens Talentos de Furnas, Música
na Estrada, Universidade Federal da Paraíba, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal
de Roraima e em vários conservatórios brasileiros.
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AEL
MOT
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MARCOS ARAKAKI
23
FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO
Conhecida pela elegância, inteligência
e sutileza de suas interpretações, a
pianista Erika Ribeiro é considerada
uma das artistas mais expressivas de
sua geração. Sua musicalidade singular
e grande versatilidade combinam em
sua carreira trabalhos como solista,
recitalista e camerista.
Vencedora de dez concursos nacionais
de piano — entre eles o III Concurso
Nelson Freire — e premiada em
mais de vinte, Erika tem se
apresentado como solista na
Sala São Paulo, Theatro Municipal
de São Paulo, Theatro São Pedro,
Auditório Ibirapuera, Sala Cecília
Meireles e outros palcos.
Atuou à frente das orquestras Filarmônica de Gaia, Portugal,
Filarmônica de Kalisz, Polônia, Orquestra Sinfônica Brasileira,
Orquestra Experimental de Repertório, Orquestra Sinfônica
do Espírito Santo, entre outras, e realiza com frequência
parcerias ao lado de destacados maestros e músicos, como
Emmanuele Baldini, Claudio Cruz, Daniel Guedes, Quinteto
Villa-Lobos, Carlos Prazeres, Luis Leite e Tatiana Parra.
Erika iniciou seus estudos musicais com a mãe aos quatro
anos de idade. Cursou a Escola de Música de Piracicaba e a
Universidade de São Paulo (USP), concluindo seu mestrado
em Música sob orientação de Eduardo Monteiro. Estudou
durante dois anos na tradicional Hochschule für Musik
Hanns Eisler, em Berlim, Alemanha, e participou de cursos
de aperfeiçoamento nos Estados Unidos, Suíça e França.
Atualmente leciona na Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (Unirio), onde, em 2014, assumiu a cátedra
de Música de Câmara e Recital.
ERIKA RIBEIROFO
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LER
24
O que causa assombro ao observador da
História da música diante da obra de
Mozart é menos o prodígio que nele se
revelou muito precocemente — e que seu
pai soube potencializar, desenvolver e explorar —, mas
a coesão, o acabamento, a harmonia arquitetônica, o
magnífico senso de proporção e a pródiga inventividade
melódica que, no conjunto de seu legado, são atemporais.
Em certos compositores, é possível observar, com relativa
nitidez, modificações na linguagem, revelando mudanças de
mentalidade e de comportamento, atestando o crescimento
do homem, do artista e da personalidade. Para nos atermos
apenas a um de seus contemporâneos, basta comparar
o Beethoven da primeira sonata para piano, op. 2 nº 1,
com o Beethoven das Bagatelas op. 126. Em Mozart,
tais distinções, quando há, se há, possuem traços muito
sutis. Sua obra parece apresentar-se pronta, acabada,
polida e lustrada, desvelando de pronto seu gênio, desde o
primeiro minueto, K. 1, composto aos tenros cinco anos de
idade! É claro, porém, que não se podem comparar essas
pequenas obras com, por exemplo, o monumento que é
Don Giovanni, sem que se guardem as devidas proporções.
Mas, guardadas estas, estão em ambas as obras os
mesmos traços essenciais: o mesmo Mozart.
Há quem especule, não sem alguma razão, que se poderia
notar algo do dedo de seu pai, Leopold Mozart, nas primeiras
obras do filho. Leopold Mozart foi um respeitado violinista,
um teórico importante, um grande pedagogo, mas um
compositor medíocre. Era sério e meticuloso, empenhado em
desenvolver — e promover — o gênio de seu filho. Poder-se-
ia abrir, com isso, o benefício da dúvida. O argumento não
LA FINTA SEMPLICE, K. 51: ABERTURA
Viena, 1768 | 7 min
2 flautas, 2 oboés, 2 fagotes,
2 trompas, cordas.
SINFONIA Nº 1 EM MI BEMOL MAIOR, K. 16
Londres, 1764/1765 | 12 min
2 oboés, 2 trompas, cordas.
CONCERTO PARA PIANO Nº 1 EM FÁ MAIOR, K. 37
Provavelmente Salzburgo, 1767 | 17 min
2 oboés, 2 trompas, cordas.
DIVERTIMENTO Nº 1 EM MI BEMOL MAIOR, K. 113
Salzburgo, 1771 | 10 min
2 oboés, 2 cornes ingleses,
2 clarinetes, 2 fagotes,
2 trompas, cordas.
CASSAÇÃO Nº 1 EM SOL MAIOR, K. 63
Salzburgo, 1769 | 23 min
2 oboés, 2 trompas, cordas.
FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO
25
se sustenta. Basta observar as obras
que virão: elas denotam a mesma
linguagem, a mesma mestria, a mesma
inventividade melódica, o mesmo
senso de proporção, os mesmos traços
arquitetônicos. Se Leopold Mozart
interferiu aqui ou ali na obra do filho,
o gênio do jovem Mozart logrou
suplantar e eclipsar quaisquer traços
que não os seus próprios.
Nesse sentido, muito mais importantes
foram os contatos que ele travou com
Johann Schobert, quando em Paris, em
1763, e com Johann Christian Bach,
em Londres, no ano seguinte. Schobert
abriu os olhos do menino de sete anos
de idade para a função poética da
música. Johann Christian Bach, por
sua vez, colocou-o em contato com a
música contemporânea — sinfônica,
de câmara e vocal, principalmente a
ópera —, o que foi decisivo para definir
os traços fundamentais da linguagem
mozartiana. Desse contato nasceu a
Primeira Sinfonia, K. 16.
Em sua estada na Inglaterra, a família
Mozart, no verão de 1764, mudou-se
temporariamente para Chelsea, porque
Leopold Mozart havia contraído uma
infecção de garganta. Ali foi composta
FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO
Detalhe da pintura de Heinrich
Lossow retrata Mozart criança tocando orgão.
26
a Primeira Sinfonia de W. A. Mozart,
estreada em 21 de janeiro do ano
seguinte. É claro que se podem notar
traços da linguagem de Johann Christian
Bach nessa obra, sobretudo na confecção
dos temas, dado o contato tão próximo
que os dois compositores mantinham.
Mas é espantoso que uma criança tenha
conseguido elaborar com tamanha
maturidade um plano musical tão bem
acabado, mesmo sob as asas de um
mestre. Composta em três movimentos,
ela se assemelha formalmente aos
concertos para piano que em breve
viriam. Não é a Christian Bach que se
escuta, mas ao próprio Mozart.
O primeiro concerto para piano, K. 37,
se se pode dizer isso do compositor,
ainda não é totalmente Mozart. No
entanto, o trabalho pianístico e o
diálogo entre orquestra e solista
demonstram o modelo que se iria firmar
na Escola Vienense e que mais tarde se
transformaria no grande padrão a ser
seguido ou transcendido. Seu segundo
movimento apresenta uma capacidade
de criação melódica surpreendente.
No entanto, este concerto, bem como
os outros três que o seguiram (K. 39,
40 e 41) são uma espécie de colagem.
O musicólogo Alfred Einstein identificou
três autores diferentes para o concerto
K. 37: o primeiro movimento seria
a adaptação de uma sonata para
violino e piano de Hermann Friedrich
Raupach; o segundo movimento seria
do próprio Mozart; o terceiro seria
outra adaptação, a partir de uma obra
de Leontzi Honauer. Prática comum
nos séculos XVII e XVIII, esse tipo de
apropriação não desmerece o trabalho
que norteia a obra.
A primeira ópera de Mozart, La finta
semplice, K. 51, foi composta por
um menino de doze anos em 1768
e estreada em maio do ano seguinte.
Embora composta em Viena, a
obra foi alvo de intrigas: músicos
e compositores recusavam-se a
acreditar que um jovenzinho a havia
composto e atribuíam-na a seu pai.
Por isso, ao invés de encenada em
Viena, veio a público em Salzburgo,
a pedido do Príncipe-Arcebispo.
Nela, desde sua abertura (ou
Sinfonia, como é intitulada), já
ouvimos sem interferências o Mozart
que todos conhecemos! Em nada
esta obra deixa a desejar às outras
que seguirão, exceto, talvez, no
administrar das transições de um
episódio a outro, o que se pode
perceber nos claros contrastes da
abertura, nitidamente tripartida.
FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO
27
Os divertimentos, como as óperas e
as missas, perpassam quase toda a
vida de Mozart. No primeiro deles,
K. 113, já se nota a atenção que
Mozart irá dedicar aos instrumentos
de sopro, nomeadamente ao clarinete,
pelo qual tinha predileção especial.
Os divertimentos, assim como as
cassações, eram gêneros ligeiros
de música que, no século XVIII,
aproximavam-se formalmente da
suíte de danças. O título já denota a
sua função original: eram destinados
puramente ao prazer, seja no ambiente
dos teatros, seja no dos salões.
Populares no século XVIII, as cassações
têm pouca diferença formal com os
divertimentos. Sua principal distinção
talvez esteja no ambiente a que eram
primordialmente destinadas: as áreas
externas. A Cassação K. 63 causa o
assombro que acomete cada um que se
debruça sobre a obra de Mozart, e que
pode assim ser traduzido por Roland de
Candé, quando a ele se refere: “o gênio
não se prova, ele se afirma em todos os
sentidos da palavra”.
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista,
Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,
professor da Universidade do Estado de Minas
Gerais e da Fundação de Educação Artística.
Apresentação da família Mozart em
Paris. Aquarela de Louis Carrogis
Carmontelle, 1763/1764.
FORA DE SÉRIE 5 DE MARÇO
29
2
FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
PROGRAMAMARCOS ARAKAKI, regenteALMA MARIA LIEBRECHT, trompaCATHERINE CARIGNAN, fagoteCÁSSIA LIMA, flautaGISELLE BOETERS, harpa
CONCERTO PARA TROMPA Nº 2 EM MI BEMOL MAIOR, K. 417
• Allegro maestoso• Andante• Rondo
CONCERTO PARA FAGOTE EM SI BEMOL MAIOR, K. 191
• Allegro• Andante ma adagio• Rondo: Tempo di menuetto
— INTERVALO —
CONCERTO PARA FLAUTA E HARPA EM DÓ MAIOR, K. 299
• Allegro• Andantino• Rondo: Allegro
2 DE ABRIL
Alma Maria Liebrecht
Catherine Carignan
Cássia LimaGiselle Boeters
Concertos
30
FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
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ALMA MARIALIEBRECHT
O envolvimento de Alma com a
música começou em seu estado natal,
Maryland, nos Estados Unidos. Primeiro
através do violino, quando tinha seis
anos de idade, e depois com a trompa,
aos doze, sob orientação de Olivia Gutoff.
De 2002 a 2006, estudou com
Jerome Ashby no Curtis Institute of
Music. De 2006 a 2008, estudou com
William Purvis na Escola de Música da
Universidade de Yale, completando em
2008 o mestrado em Música.
Nos verões de 2003 a 2005, participou
do Festival de Música do Pacífico, no
Japão, onde estudou com Gunter Högner
e Wolfgang Tomböck, ambos da
Filarmônica de Viena. De 2008 a 2010,
Alma foi bolsista do Ensemble ACJW
do Carnegie Hall. Em 2010, ela ajudou
a fundar o grupo de câmara Decoda,
coletivo dedicado ao engajamento
comunitário através da música. Integrou-se à Orquestra
Filarmônica de Minas Gerais como Trompa Principal em 2013.
Alma tem se apresentado como solista com a Orquestra
Filarmônica de Minas Gerais, New York Symphonic Arts
Ensemble, Ensemble 212 e o Curtis Chamber Ensemble.
Tocando música de câmara, tem se apresentado no Festival
Artes Vertentes e na Semana de Música de Câmara da
Fundação de Educação Artística. Nos Estados Unidos,
apresentou-se no Savannah Music Festival e com os grupos
Chamber Music Society of Lincoln Center, New York Wind
Soloists, Jupiter Chamber Players, North Country Chamber
Players, Sebastian Chamber Players, Music from Angel Fire,
Argento New Music Project e Talea Ensemble. Também
realizou concertos de música de câmara no Festival Wien
Modern em Viena, Áustria, no Centro Niemeyer em Avilés,
Espanha, no Contempuls Festival em Praga, República
Tcheca, e, junto com músicos da Filarmônica de Viena,
em Sapporo e Tokyo, no Japão.
Enquanto vivia em Nova York, Alma manteve uma prolífica
carreira de freelancer, apresentando-se com a Orquestra de
Câmara Orpheus, a Orquestra da Ópera da Cidade de Nova
York, as sinfônicas de Princeton, Delaware, Richmond e
Harrisburg, o Ballet de Pennsylvania, a Orquestra de Câmara
da Filadélfia e o Gotham Chamber Opera. Alma também
apresentou-se por seis semanas como Trompa Principal
convidada junto à Sinfonietta de Hong Kong em 2011.
31
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EUG
ÊNIO
SÁV
IO
Natural do Québec, Canadá, Catherine
iniciou seus estudos de fagote aos doze
anos. Entre 1998 e 2008, foi aluna de
Michel Bettez, Mathieu Lussier, Mathieu
Harel, Stéphane Lévesque, Nadina
Mackie Jackson e Fraser Jackson. Em
2005, suspendeu seus estudos musicais
para dedicar-se a um curso de tradução,
mas continuou tocando como convidada
em orquestras canadenses e organizando
concertos de música de câmara na sua
cidade natal. Voltou para o Conservatoire
em agosto de 2006, passou em dezembro
no concurso para segundo fagote da
Victoria Symphony Orchestra, na costa
oeste do Canadá, e concluiu bacharelado
em Música em maio de 2007.
Entre 2006 e 2008, Catherine foi
fagotista convidada da Winnipeg
Symphony Orchestra, da Canadian
Broadcasting Company Radio Orchestra
(conhecida como National Broadcast Orchestra desde 2009) e
participou do Aventa Ensemble, formação dedicada à música
contemporânea. Com Aventa, em fevereiro de 2008, estreou a
obra Dulcian Patterns, do compositor canadense Peter Hatch,
que descreve a peça como “não exatamente um concerto para
fagote em si, mas que frequentemente destaca seus timbres
e registros”. Como solista independente, encomendou a obra
para fagote e piano Three Conjoined Trifles, do compositor
e dramaturgo canadense Alex Eddington, estreando-a em
abril de 2008 com a pianista Allie Cortens. Meses depois,
foi aprovada em audição na Filarmônica de Minas Gerais,
tornando-se Fagote Principal da Orquestra.
No Brasil, Catherine vem desenvolvendo atividades de
performance, ensino e pesquisa paralelas à sua atuação na
Filarmônica. Participou das duas primeiras edições do Encontro
Internacional de Oboé e Fagote da Universidade Federal de
Santa Maria, Rio Grande do Sul, como palestrante e recitalista;
foi professora substituta de fagote na Universidade Federal de
Minas Gerais em 2013; orienta alunos de maneira independente
em Belo Horizonte desde 2008 e mantém uma colaboração
estreita com músicos brasileiros, desenvolvendo pesquisas
extra-acadêmicas sobre o fagote na música brasileira. Catherine
tem participado de apresentações de choro com colegas da
Filarmônica e com o Clube do Choro de Belo Horizonte.
Esta é a quarta vez que Catherine se apresenta como solista
da Filarmônica. Em 2011, executou com o clarinetista
Dominic Desautels o Duett-Concertino de Richard Strauss,
sob regência do maestro Marcos Arakaki; em 2013, com o
violinista Rommel Fernandes, a violoncelista Elise Pittenger e
o oboísta Alexandre Barros, apresentou a Sinfonia Concertante
em Si bemol maior de Joseph Haydn, sob regência do
maestro Fabio Mechetti; e em outubro de 2015, com os
colegas Marcus Julius Lander, Alexandre Barros e Alma
Maria Liebrecht, tocou a Sinfonia Concertante para sopros,
de Mozart, com o regente convidado Christoph König.
CATHERINE CARIGNAN
FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
32
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ENK
TE
WIN
KEL
CÁSSIALIMA
Mineira de Extrema, Cássia iniciou seus
estudos com João Dias Carrasqueira
e Grace Busch. Concluiu bacharelado
em Flauta pelo Instituto de Artes da
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
como aluna de Jean-Noel Saghaard. Em
São Paulo, também foi aluna de Marcos
Kiehl. Participou dos principais festivais
de música do país, como Oficina de
Música de Curitiba, festivais de inverno
de Campos do Jordão e Juiz de Fora.
Foi bolsista da Fundação Vitae durante
os anos de estudo na Mannes College
of Music em Nova York, onde foi aluna
de Keith Underwood e concluiu os
cursos de mestrado e Artist Diploma.
Participou de masterclasses com
grandes nomes da flauta, como
Michael Parloff, Elisabeth Rowe,
William Bennett, Judith Mendenhall,
Jeffrey Khaner e Emmanuel Pahud.
Cássia venceu as principais competições no Brasil, tais como o
Jovens Solistas da Orquestra Experimental de Repertório, onde
atuou como solista, e ganhou primeiro lugar nos concursos
Jovens Talentos em Piracicaba e II Concurso Nacional Jovens
Flautistas, promovido pela Associação Brasileira de Flautistas.
Em Nova York venceu o Mannes Concerto Competition,
onde novamente atuou como solista, e o Gregory Award,
por Excelência em Performance. Ainda nos Estados Unidos,
foi bolsista do Tanglewood Music Center, onde atuou como
camerista e primeira flauta da orquestra do festival, sob
regência de James Levine, Kurt Masur, Seiji Ozawa e Rafael
Frübehbeck. Em Minneapolis, fez parte do corpo docente
da Universidade de Minnesota e também foi flautista da
Minnesota Orchestra, sob regência de Charles Dutoit.
De volta ao Brasil, Cássia Lima foi primeira flauta da
Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), onde
também atuou como solista. Participou da I Oferenda
Musical de São Paulo e foi professora da Oficina de Música
de Curitiba. Atualmente, atua como camerista do Quinteto
de Sopros da Filarmônica de Minas Gerais e participa de
diversos grupos camerísticos. Cássia é Primeira Flauta
da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais desde 2009.
Com a orquestra, apresentou-se como solista no Concerto
para flauta em Ré, K. 314, de W. A. Mozart, sob regência
de Fabio Mechetti; no Concerto para flauta e orquestra de
Carl Nielsen, na primeira audição da obra em Belo Horizonte;
e na Suíte Orquestral nº 2 em si menor, BWV 1067, de
Johann Sebastian Bach, sendo as duas últimas obras sob
regência de Marcos Arakaki.
FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
33
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RAF
AEL
MOT
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GISELLEBOETERS
FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
Natural da Holanda, Giselle Boeters
é Harpa Principal da Orquestra
Filarmônica de Minas Gerais desde
2012. Com esta orquestra Giselle
estreou, em maio de 2013, um novo
concerto para harpa e orquestra escrito
pelo compositor Daniel Binelli. Além
de suas atividades na Filarmônica,
participa regularmente de projetos
nacionais e internacionais de música
de câmara. Foi convidada para as duas
últimas edições do Festival Internacional
Sesc de Música em Pelotas, RS, como
professora de harpa e solista.
A musicista recebeu prêmios em
várias competições de música na
Holanda, incluindo o Prinses Christina
Concours, Nederlands Harp Concours
e competições internacionais em
Lausanne, Suíça, Bruxelas e Vresse-
sur-Semois, Bélgica. Giselle também
ganhou prêmios no Nederlands Harp Concours por melhor
interpretação das novas obras Quasi una Fantasia, de Daan
Manneke, e Secret Garden, de Peter van Onna.
Como solista convidada, interpretou concertos para harpa
com a Orquestra Sinfônica do Conservatório de Amsterdam,
a Orquestra Nederlands Jeugd Strijkorkest, a Sinfônica
de Brandenburgo e a Orquestra Sinfônica de Taipei. Foi
convidada para se apresentar no Simpósio de Harpa Europeu,
em 2001, e no Congresso Mundial da Harpa, em 2008.
Antes de se mudar para o Brasil, Giselle apresentou-se
regularmente com diversas orquestras na Holanda e na
Alemanha, entre elas a Radio Filharmonisch Orkest, a
Orquestra Real de Concertgebouw, NDR Radiophilharmonie,
Sinfônica de Hamburgo, Orquestra Sinfônica Alemã, em
Berlim, Deutsche Oper Berlin e Deutsche Staatsoper Berlin.
Giselle Boeters formou-se no Conservatório de Amsterdam
com a professora Erika Waardenburg e na Academia de Música
Hanns Eisler de Berlim com a professora Maria Graf,
graduando-se com as mais altas distinções. Foi bolsista na
orquestra acadêmica da Staatskapelle de Berlim e com o grupo
apresentou-se em Berlim e em turnês nacionais e internacionais
sob a regência de renomados maestros, como Michael Gielen,
Andris Nelsons, Simon Rattle e Daniel Barenboim.
VEJA A BIOGRAFIA DE MARCOS ARAKAKI NA PÁGINA 22
34
CONCERTO PARA TROMPA Nº 2 EM MI BEMOL MAIOR,
K. 417Viena, 1783 | 14 min
2 oboés, 2 trompas, cordas.
CONCERTO PARA FAGOTE EM SI BEMOL MAIOR, K. 191
Salzburgo, 1774 | 20 min
2 oboés, 2 trompas, cordas.
CONCERTO PARA FLAUTA E HARPA EM DÓ MAIOR, K. 299
Paris, 1778 | 30 min
2 oboés, 2 trompas, cordas.
FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
M ozart escreveu muitos concertos para
diversos instrumentos, além de outras
obras concertantes com mais de um
solista. Incluídos entre as mais perfeitas
realizações sinfônicas do século XVIII, eles constituem, tanto
quanto as óperas, a expressão mais natural e característica
de sua personalidade artística. A aproximação com a
ópera torna-se inevitável, pois os concertos demonstram
brilhantemente a inigualável capacidade mozartiana de
realizar a representação dramática também na música
instrumental. As melodias, de caráter essencialmente vocal,
associam-se facilmente ao discurso teatral; o virtuosismo —
típico do gênero concertante — submete-se à dramaturgia do
compositor. Por outro lado, a força retórica das intervenções
orquestrais e sua grande variedade nas configurações de
acompanhamento deixam claro que Mozart concebe o
concerto como integração / oposição, em pé de igualdade,
do solista e da orquestra.
Os concertos para solistas eram muito apreciados no século
XVIII. Nada mais natural que Mozart, desde criança um
célebre virtuose, cedo cultivasse o gênero. Dos nove aos
onze anos já escrevera seus primeiros quatro concertos,
baseando-se em movimentos de sonatas de músicos
contemporâneos. E continuou compondo concertos ao
longo de toda a sua carreira; na maioria das vezes, obras
circunstanciais, sob pressão de exigências impostas pelo
mecenato aristocrático ou pela alta burguesia frequentadora
de teatros. Acostumado ao sucesso, Mozart procura agradar
ao público e muitas de suas criações adotam o estilo
35
FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
galante, marcado por apelos típicos de
uma sociedade incapaz de assimilar
inovações. Entretanto, mesmo com
tais limitações, a forte personalidade
do gênio impõe-se, afastando-o
da falta de tensão e do formalismo
mecânico encontrados em obras de
seus contemporâneos. Aos poucos e
cada vez mais Mozart afastou-se do
gosto imposto pela moda. Os concertos
(mais que as sinfonias) permitem
acompanhar a evolução do compositor.
Que ele se tenha servido de um gênero
tão popular para confidenciar seus
sentimentos mais íntimos e realizar
audaciosas inovações é curioso. E
trágico, pois a incompreensão crescente
do público tornava-se mais dolorosa,
comparada aos triunfos conquistados
pelo artista quando criança. Lúcido em
sua verdade de criador, consciente de
sua superioridade como músico, Mozart
não retrocedeu — os últimos concertos
possuem uma beleza transcendente,
obras-primas definitivas, ímpares e
profundamente humanas.
Mozart manteve, como regra geral, a
tradicional estrutura tripartida em seus
concertos: o primeiro movimento em
forma sonata; um segundo movimento
lento, expressivo, sonhador ou trágico;
e o final na tradição do Rondó com
estrofes e refrão, alegre e virtuosístico.
Entretanto, a partir dos dezessete
anos, quando compõe seus primeiros
concertos realmente originais, ele
criará, dentro dessa estrutura tripartida,
uma solução formal particular a cada
concerto, distinguindo-o de todas as
outras obras de seu tipo.
Entre essas primeiras peças notáveis,
inclui-se o Concerto para fagote K. 191,
composto em Salzburgo. O Allegro inicial
possui um longo prelúdio orquestral que
expõe os dois temas desse movimento.
A complexidade de sua escritura recorre
ao contraponto e a uma orquestração
bastante elaborada, atípicos para uma
peça do estilo galante. Trata-se
da primeira obra concertante de
Mozart para instrumento de sopro, e o
virtuosismo do solista valoriza os recursos
contemporâneos do fagote — muito
desenvolvidos ao longo do século XVIII,
embora sem atingir ainda a forma do
instrumento atual. No Andante ma adagio,
uma bela melodia desdobra-se modulada,
com imaginação refinada e lirismo. O
36
FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
Rondó final tem como tema principal um
minueto em duas partes. O virtuosismo
controlado e discreto confere-lhe um
caráter de sobriedade e elegância.
Em 23 de setembro de 1777 Mozart
deixava Salzburgo para uma viagem a
Paris, em mais uma tentativa de se livrar
dos estreitos limites musicais de sua
cidade natal. O pai protetor permanecera
em Salzburgo e a mãe, que o acompanha
nessa viagem, morre em Paris, onde
o filho ganha a vida precariamente,
compondo muito, realizando concertos
e dando aulas para aristocratas. Entre
suas alunas, a filha do Duque de Guines
tornara-se uma excelente harpista.
Como o duque tocava flauta muito
bem, encomendou ao compositor
um concerto para flauta e harpa.
Encarregado de escrever um simples
entretenimento social, Mozart (que abriu
mão dos honorários) criou uma joia de
grande encanto. O primeiro movimento,
Allegro, caracteriza-se pelo diálogo dos
solistas — verdadeira alternância de
personagens — com a orquestra.
Há evidente apelo virtuosístico nos
trechos de grande velocidade. O
segundo movimento, Andantino, é um
idílio sonhador e terno. No Rondó final,
o tema principal possui caráter de
dança, como alegre gavota, ao gosto
amável da aristocracia francesa.
No Concerto para flauta e harpa Mozart
utiliza notas graves impraticáveis
para as flautas da época, já que o
instrumento especial do conde de
Guines lhe permitia tocá-las. Essa
Paris em gravura de Jacques Rigaud.
37
FORA DE SÉRIE 2 DE ABRIL
capacidade de Mozart de adaptar-se
às particularidades específicas de seus
intérpretes, cantores ou instrumentistas
é notória. Assim, as obras para trompa
compostas entre 1782 e 1791 e
dedicadas a Joseph Leutgeb, grande
amigo da família Mozart, respeitam
as limitações graduais que a idade
impôs ao trompista — nas últimas,
as notas muito agudas são evitadas.
A catalogação dos quatro concertos
para trompa não corresponde
cronologicamente à sua criação.
O Concerto para trompa nº 2, na
verdade, foi o primeiro composto
e traz no autógrafo vienense uma
divertida dedicatória a um velho amigo
trompista: “W. A. Mozart teve pena
de Leutgeb, asno, besta e néscio, em
Viena, 27 de maio de 1783”.
O Allegro maestoso apresenta
modulações que lhe conferem o
caráter melancólico, inusitado para
um primeiro movimento. O breve tema
lírico do Andante retorna por três
vezes, acompanhado principalmente
pelas cordas. No Rondó, o tema da
trompa anuncia uma caçada. Ele
se alternará com três intermédios.
O final, em andamento acelerado,
evoca breve e animada cavalgada.
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista,
Doutor em Letras, professor na UEMG, autor
dos livros Músico, doce músico e O grão
perfumado – Mário de Andrade e a arte do
inacabado. Apresenta o programa semanal
Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
Roteiro da viagem de Mozart com a mãe, entre 1776 e 1779.
SALZBURGO
MUNIQUEAUGSBURGO
ESTRASBURGO
MANNHEIM
NANCY
PARIS
38
3
FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO
FABIO MECHETTI, regenteMARK JOHN MULLEY, tromboneCLÁUDIA AZEVEDO, sopranoCELINA SZRVINSK, pianoMIGUEL ROSSELINI, piano
PROGRAMA
14 DE MAIOLeopold Mozart
A VIAGEM MUSICAL DE TRENÓ• Overture• Die Verwirrung in den Stallen | a confusão no estábulo
• Die Schlittenfahrt | o passeio de trenó
• Das Schütteln der Pferde | a agitação do cavalo
• Aufzug | interlúdio
• Festmusik | música festiva
• Aufzug | interlúdio
• Die Schlittenfahrt | o passeio de trenó
• Das vor Kalte zitternde Frauenzimmer | tremendo de frio no quarto das mulheres
• Des Balles Anfang | o início do baile
• Der Kehraus | a última dança
• Die Schlittenfahrt | o passeio de trenó
Leopold Mozart
CONCERTO PARA TROMBONE ALTO EM RÉ MAIOR• Allegro • Menuetto – Trio • Allegro
Mark John Mulley
39
FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO
Leopold Mozart
SINFONIA DOS BRINQUEDOS• Allegro • Menuetto • Finale: Allegro
— INTERVALO —
Wolfgang Amadeus Mozart
MIA SPERANZA ADORATA – AH, NON SAI QUAL PENA, K. 416
Wolfgang Amadeus Mozart
NO, NO, CHE NON SEI CAPACE, K. 419
Wolfgang Amadeus Mozart
CONCERTO PARA DOIS PIANOS EM MI BEMOL MAIOR, K. 365
• Allegro • Andante • Rondo: Allegro
Tudo em família
Cláudia Azevedo
Cláudia Azevedo
Celina SzrvinskMiguel Rosselini
40
FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO
Mark John Mulley nasceu na
Inglaterra e iniciou seus estudos
em música ainda criança. Começou
a tocar em brass bands até iniciar
seu trabalho com a Coldstream
Guards Band como assistente de chefe
de naipe de trombone, participando
de diversas cerimônias, gravações
e concertos. Depois formou-se
no London College of Music e fez
pós-graduação no Royal College of
Music de Londres. Mark estudou
com Anthony Parsons, da BBC
Symphony Orchestra; Arthur Wilson,
da Philharmonia Orchestra; Peter
Bassano, da Philharmonia Orchestra;
e Tom Winthorpe, da Royal Opera
House. Também participou de várias
masterclasses de trombone, inclusive
com Ian Bousfield, da London
Symphony Orchestra, e Ralph Sauer,
da Los Angeles Philharmonic.
Mark integrou a BBC Symphony Orchestra, a Wren Orchestra,
Philharmonia Orchestra, Hanover Band — tocando sackbut —
e a London Festival Orchestra, em várias apresentações e
gravações. Participou também da Orchestra of Nations em
turnê pela Alemanha, gravando a Sinfonia nº 8 de Bruckner.
No jazz, atuou na Glenn Miller Band, Andy Ross Big Band,
All Jazz Quartet e em diversos festivais, como Ealing Jazz
Festival e Soho Jazz Festival, tocando ao lado de West End
com Carmen Jones. Também atuou como professor de música
no Richmond Adult College e na Brunel University, na Inglaterra.
No Brasil, Mark participou de shows com o grupo musical
Rio Bossa Jazz no Santander Cultural, em Porto Alegre,
com repertório composto por clássicos do jazz, blues e
bossa nova. Em 2005, tocou com a Orquestra Sinfônica de
Porto Alegre e foi professor de trombone em um workshop
na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em
São Leopoldo, RS. Nesse estado, na cidade de Rio Grande,
apresentou dois shows com o Quarteto de Jazz e o pianista
norte-americano Cliff Korman, em 2006.
Durante oito anos, trabalhou como professor de trombone
para a Orquestra Real Sinfônica em Muscate, Omã. Em
Muscate, Mark tocava jazz com seu próprio quarteto,
Just Jazz, apresentando-se em vários hotéis e festivais.
Desde o início da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais,
em 2008, Mark é Trombone Principal do grupo. Participou
de várias gravações com a orquestra e também de turnês
para as regiões Nordeste e Sul do Brasil, para o Uruguai e a
Argentina. Convidado a ser solista com a Filarmônica, tocou
o Concertino para Trombone de Ferdinand David. Também
participou como professor de trombone em workshop na
Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Estadual
de Minas Gerais, Orquestra da Polícia Militar de Minas Gerais
e Festival de Metais no Conservatório de Tatuí, São Paulo.
FOTO
EUG
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MARK JOHNMULLEY
41
FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO
Cláudia Azevedo realizou seu début
europeu em 2006, a convite do
maestro italiano Alberto Zedda,
no Rossini Opera Festival de Pesaro,
Itália, no papel de Corinna em Il viaggio
a Reims, com a Orchestra del Teatro
Comunale di Bologna. Primeira cantora
brasileira a participar do festival
dedicado a Rossini, teve sua atuação
destacada pela revista espanhola
Opera Actual. No mesmo ano estreia
como Ännchen em Der Freischütz
de Weber, em Valadoli, Espanha,
e apresenta-se em recital com obras
do bel canto e Mozart para os Amics
del Gran Teatro del Liceu, Barcelona.
O ano de 2011 marca sua estreia em
Nova York como Ismene em Mitridate,
Re di Ponto, de Mozart, com enorme
sucesso junto ao público e à crítica
especializada, inclusive no jornal
The New York Times.
Vencedora dos concursos Audiciones Jovenes Voces Liricas del
Teatro Colón 2008, Concurso Internacional de Canto Aldo Baldin
2008 e Terceiro Prêmio no Concurso Internacional de Canto Bidu
Sayão 2005, Cláudia colabora regularmente com as principais
orquestras brasileiras. Apresentou-se em concertos e óperas com
a Filarmônica de Minas Gerais, Amazonas Filarmônica, orquestras
Sinfônica Municipal de Campinas, de Porto Alegre, da Bahia, do
Paraná, de Câmara Sesi-Fundarte, Teatro São Pedro e Orquestra
Unisinos Anchieta. Foi intérprete em Carmina Burana de Orff;
Missa de Santa Cecília de José Maurício Nunes Garcia; A Criação
e Missa in Tempore Belli de Haydn; Gloria de Vivaldi; Cantata
nº 51, Cantata do Café, Cantata nº 110 e Cantata nº 208 de Bach;
Nona Sinfonia e Fantasia Coral de Beethoven; Lobgesang de
Mendelssohn. Foi Micaela em Carmen de Bizet; Adina em L’elisir
d’Amore de Donizetti; Silberklang em Der Schauspiledirektor
de Mozart; e Susana em Le nozze di Figaro de Mozart.
Trabalhou sob regência de Fabio Mechetti, Luiz Fernando
Malheiro, José Miguel-Pérez Sierra, Alberto Zedda, Emil
Tabakov, Karl Martin, Alessandro Sangiorgi, Antonio Borges
Cunha e Richard Cordova, entre outros.
Graduada em Música pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul com especialização pelo Conservatorio Superior del
Liceu de Barcelona, Espanha, como bolsista da Fundación
Carolina-Madrid, Cláudia aperfeiçoou-se na Akademie Bel
Canto do Rossini Opera Festival de Wildbad, Alemanha,
estudou música de câmara com Dalton Baldwin e realizou
masterclasses com Marilyn Horne, Raúl Giménez, Viorica
Cortez, Eduard Giménez e Raquel Pierotti.
Recentemente debutou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro
como Fiorilla em Il Turco in Italia, de Rossini, regida por
Yuval Zorn. E também no Theatro Municipal de São Paulo
sob regência de John Neschling no papel de Musetta em
La Bohème, de Puccini.
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CLÁUDIA AZEVEDO
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CELINA SZRVINSKE MIGUEL ROSSELINI
Formado em 1984, o duo pianístico
Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini
é reconhecido como um dos mais
destacados do país, com apresentações
nas principais séries e salas de
concerto do Brasil. No exterior,
apresentou-se na Alemanha, Suíça,
Itália, Canadá, Rússia e Japão.
Como solistas, Celina e Miguel
atuaram com as orquestras Sinfônica
Estadual de São Paulo, Sinfônica
de Minas Gerais, Filarmônica de
Minas Gerais, Sinfônica de Campinas,
Filarmônica de Goiás, Sinfônica da USP,
Sinfônica Nacional, Filarmônica de
Câmara da Polônia, Filarmônica
de Baden-Baden, Bach-Orchester
Herzogtum-Lauenburg, dentre outras.
Em parceria com conceituados
músicos, integram inúmeras outras
formações camerísticas.
Em 1996, os artistas concluíram mestrado e doutorado
na Staatliche Hochschule für Musik Karlsruhe, Alemanha,
onde gravaram CD com obras de compositores brasileiros e
alemães. Um segundo CD foi citado, pelas revistas Diapason
e Continente, entre as melhores gravações brasileiras do ano.
(...) “Uma das melhores é a seleção de peças a quatro mãos
patrocinada pela Fundep e pela Universidade Federal de
Minas Gerais. Nela, o duo mineiro Celina Szrvinsk e Miguel
Rosselini demonstra solidez técnica, diversidade estilística e
muita fluência expressiva, ao abordar, seja autores franceses,
seja compositores brasileiros.” (Diapason, março/2006).
“O CD Piano a 4 mãos merece ser mencionado como um
registro ímpar na interpretação pianística brasileira a dois.
Escolha de repertório, qualidade de som e excelência de
execução justificam essa execução. Celina Szrvinsk e Miguel
Rosselini dedicam a mesma sensibilidade a compositores
nacionais e europeus... com a devida leitura de filigranas.”
(Continente, outubro/2006).
Outros títulos gravados individualmente destacam-se na
discografia de ambos.
Desde 1985, pertencem ao quadro docente da Escola de
Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
sendo muitos de seus alunos destacados musicistas e
professores de universidades federais brasileiras. Os dois têm
sido convidados a participar de importantes festivais de música
e como jurados de concursos de piano no Brasil e no exterior.
Paralelamente às atividades artísticas e de ensino, Celina e
Miguel desenvolvem ainda intenso trabalho como produtores,
sendo responsáveis pelo Festival de Maio e pelas séries
Concertos Didáticos e Concertos Teatro Bradesco,
programações de proa em Belo Horizonte, dedicadas à música
de câmara com renomados artistas nacionais e internacionais.
FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO
43
Leopold Mozart
(Alemanha, 1719 – Áustria, 1787)
A VIAGEM MUSICAL DE TRENÓ
Salzburgo, 1755 | 21 min
2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas,
4 trompetes, tímpanos,
percussão, cordas.
Leopold Mozart
CONCERTO PARA TROMBONE ALTO EM RÉ MAIOR
Salzburgo, em torno de 1760 | 13 min2 oboés, 2 trompas, cordas.
Leopold Mozart
SINFONIA DOS BRINQUEDOSSalzburgo, 1769 | 10 min
Cordas.
MIA SPERANZA ADORATA – AH, NON SAI QUAL PENA,
K. 416Viena, 1783 | 9 min2 oboés, 2 fagotes,
2 trompas, cordas.
NO, NO, CHE NON SEI CAPACE, K. 419
Viena, 1783 | 4 min
2 oboés, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
CONCERTO PARA DOIS PIANOS EM
MI BEMOL MAIOR, K. 365Salzburgo, 1779 | 25 min
2 oboés, 2 fagotes,
2 trompas, cordas.
L eopold Mozart tinha dezoito anos quando
se instalou em Salzburgo para cursar a
Universidade Beneditina. Em sua cidade natal,
Augsburgo, estudara no Ginásio dos Jesuítas —
alemão, latim, grego, francês e italiano. Pensou em seguir a
carreira eclesiástica e só optou definitivamente pela música
aos vinte anos. No ano do nascimento de Mozart, Leopold
publicou um célebre tratado sobre o ensino do violino, depois
traduzido em várias línguas e frequentemente reimpresso.
A música de Leopold continua pouco conhecida e sem
cronologia definida. Ele compôs muito em seus primeiros
anos em Salzburgo, antes de dedicar-se à carreira dos filhos
Maria Anna (Nannerl) e Wolfgang. Suas diversas missas e
outras peças sacras, obras de câmara, numerosos concertos
e 25 sinfonias mostram as características gerais do estilo
galante vienense, deliberadamente simples.
Entretanto, algumas particularidades constantes chamam
a atenção: peças como a Sinfonia dos Brinquedos e as
Bodas Camponesas denotam a predileção do autor pelos
divertimentos populares. O impacto programático-descritivo
de sua música sinfônica evidencia-se em A viagem musical
de trenó ou na Sinfonia da caça. Em ambos os casos, a busca
do realismo sonoro exige grande quantidade de instrumentos
raros ou brinquedos infantis — marimba, lira, gaita de
foles, chocalhos, flauta doce, chicotes, campainhas, apitos,
pequenos trompetes — que se juntam à trama da orquestra
tradicional. Note-se ainda a valorização do registro agudo
dos instrumentos de metal, cujo florescimento na corte de
Salzburgo, por volta de 1765, resultou em pelo menos três
concertos conhecidos: dois de Michael Haydn para clarim e
o Concerto para trombone alto de Leopold Mozart.
A Sinfonia dos Brinquedos foi, por muito tempo, atribuída
a Joseph Haydn. Somente em 1951, o musicólogo Ernst F.
FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO
44
Schmidt anunciou a descoberta, em
Munique, de uma Cassation de Leopold
Mozart em sete movimentos, três dos quais
idênticos aos movimentos da Sinfonia. Quanto
à Viagem musical de trenó, sabe-se que o
compositor enviou a partitura para músicos
da Sociedade de Intérpretes de Augsburgo.
Eles a apresentaram no albergue Aos
Reis Magos, em janeiro de 1756, quinze
dias antes do nascimento de Wolfgang.
Leopold, muito religioso, sempre
acreditou que o filho era um dom que
Deus lhe confiara com o dever de
cultivá-lo. Dirigiu sua iniciação musical
com inegável eficiência; escolheu seus
mestres com perícia (Johann Christian
Bach, em Londres; o padre Martini,
na Itália); proporcionou-lhe o contato
com ambientes musicais diferentes,
técnicas e estilos variados. Mozart,
ainda adolescente, tornara-se o
músico mais cosmopolita da época.
Leopold planejou meticulosamente as
longas turnês em que Nannerl e
Wolfgang conquistaram os grandes
centros musicais da Europa. As crianças
tocavam individualmente, a quatro mãos
ou em dois cravos. Em 1765, o pequeno
Mozart escreveu para o duo familiar sua
primeira peça para essa formação, a
Sonata K. 19d.
No começo de 1779, aos 23 anos,
Mozart iniciou o Concerto para dois
pianos K. 365, também destinado
a Nannerl (o primeiro piano) e a ele
mesmo. Os solistas são tratados com
igual importância e a influência da
Escola de Mannheim, que Mozart
conhecera recentemente, é notória.
No Allegro inicial há um jogo fascinante
de réplicas, ecos, adornos, alternância
de protagonismo e acompanhamento
entre os dois pianistas. O Andante, em
Si bemol, apresenta um melancólico
tema nos violinos, logo respondido
pelos oboés. O segundo piano retoma
o mesmo tema sobre os trinados
do parceiro. Reunidos em terças e
apoiando uma melodia dos oboés,
os dois chegam em arpejos até a
tonalidade de Mi bemol. Um novo
tema, em dó menor, exposto pelo
segundo piano, é retomado e variado
pelo primeiro solista. A conclusão
é em pianíssimo. O Rondó, Allegro
tem espírito bastante francês tanto
pelo caráter de seu refrão quanto
por seu intermédio central em tom
menor. Há uma rica passagem em
que os dois pianos realizam uma série
impressionante de modulações. No
todo é uma peça brilhante, repleta de
alegria. Mozart tinha especial carinho
por esse concerto e tocou-o várias
vezes depois que se fixou em Viena.
As árias de concerto para voz e
acompanhamento orquestral constituem
um capítulo importante e especialmente
FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO
45
pouco conhecido da obra de Mozart.
O compositor dedicou-se ao gênero
desde a infância até o último ano de
sua vida, deixando cerca de cinquenta
títulos. Quando criança, Mozart compôs
algumas árias (a primeira, aos oito anos,
em Londres) que lhe serviram de exercício
para se aperfeiçoar no ofício, adaptando
a música aos Affekte — amor, raiva,
ciúme — de um texto poético.
As árias de concerto cumpriram funções
diversas ao longo do século XVIII.
Frequentemente eram encomendadas
para recitais de cantores profissionais
ou amadores. Mozart ajustava sua
escrita aos intérpretes, acentuando-lhes
as qualidades e considerando as
limitações. Tornou-se famoso o conceito
mozartiano de que “uma ária deve se
adaptar ao cantor como um traje bem
feito”. Muitos cantores agraciados com
essas árias isoladas participaram de
papéis importantes em suas óperas,
e o profundo conhecimento de suas
capacidades expressivas favorecia o
trabalho do compositor. Mia speranza
adorata K. 416 foi composta para um
recital de Aloysia Weber, cunhada de
Mozart, que interpretou Madame Herz
em Der Schauspieldirektor.
Outras árias eram solicitadas para
a inserção em óperas de outros
compositores, quando as originais se
mostrassem inadequadas ao conjunto
da obra ou às possibilidades de algum
determinado intérprete. Mozart compôs
árias isoladas para óperas de Cimarosa,
Anfossi, Martin y Soler, Paisiello e Bianchi.
Na apresentação vienense de O curioso
indiscreto (1783) de Anfossi, Aloysia
Weber interpretava o papel de Clorinda.
A cantora julgou as árias de Anfossi
aquém de seus recursos e solicitou ao
cunhado outras, que mostrassem todos
os seus recursos. Mozart admirava sua
voz extensa e delicada, cujo agudo
ascendia até o mi 5. As três árias que
compôs — entre elas No, no, che non
sei capace K. 419 — fizeram muito
sucesso, independentemente do
fracasso da ópera.
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista,
Doutor em Letras, professor na UEMG, autor
dos livros Músico, doce músico e O grão
perfumado – Mário de Andrade e a arte do
inacabado. Apresenta o programa semanal
Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
FORA DE SÉRIE 14 DE MAIO
Leopold Mozart. Pintura de Pietro
Antonio Lorenzoni.
47
FORA DE SÉRIE 18 DE JUNHO
4PROGRAMAFABIO MECHETTI, regente
SINFONIA Nº 31 EM RÉ MAIOR, K. 297, “PARIS”• Allegro assai• Andante• Allegro
SINFONIA Nº 34 EM DÓ MAIOR, K. 338
• Allegro vivace• Andante di molto• Allegro molto
— INTERVALO —
SINFONIA Nº 40 EM SOL MENOR, K. 550
• Molto allegro• Andante• Menuetto• Allegro assai
18 DE JUNHO
Sinfonias
48
FORA DE SÉRIE 18 DE JUNHO
SINFONIA Nº 31 EM RÉ MAIOR, K. 297, “PARIS”
Paris, 1778 | 20 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
SINFONIA Nº 34 EM DÓ MAIOR, K. 338
Salzburgo, 1780 | 21 min2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas,
2 trompetes, tímpanos, cordas.
SINFONIA Nº 40 EM SOL MENOR, K. 550
Viena, 1788 | 28 min
Flauta, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, cordas.
P ode-se dizer, sem muito exagero, que a
sinfonia, tal como concebida em meados
do século XVIII, seja a sonata transportada
para o universo sinfônico. É claro que esse
universo tem certas demandas específicas e, definido em
sua sonoridade pela escola de Mannheim, já havia elaborado
certos aspectos idiomáticos próprios. Mas, na forma e na
estrutura, não é demasiado generalizador afirmar que a
sinfonia clássica seja uma sonata executada pela orquestra
sinfônica. Sob um olhar analítico mais cuidadoso, porém,
há que se notar algumas questões.
Em primeiro lugar, a sinfonia clássica tem pouquíssimo
em comum com o gênero homônimo do Barroco. Ali, o termo
designava qualquer tipo de composição instrumental, em
particular os trechos instrumentais de obras vocais (prelúdios
ou interlúdios). No Classicismo, entretanto, ela é embasada
nos dois tipos de aberturas de óperas que se constituem
no século XVII: a abertura francesa e a abertura italiana.
A primeira, cujo paradigma é Lully, dá à orquestra de teatro
as dimensões e características fundamentais da orquestra
sinfônica clássica. A segunda, que traz a assinatura de
Alessandro Scarlatti, dá ao gênero uma tripartição bem
definida em movimentos distintos.
Deve-se aos filhos de Bach o uso da forma sonata nos
primeiros movimentos. Mas é sobretudo a Johann Stamitz,
fundador da Escola de Mannheim, e a seu filho, Karl Stamitz,
que ali o sucedeu, que se devem as compleições definitivas
da sinfonia e da orquestra sinfônica. Os Stamitz não criaram
a sinfonia, mas organizaram sua prática e definiram seu
caráter: a adoção de quatro movimentos, com a inserção
definitiva de minueto e trio entre o movimento lento e
49
FORA DE SÉRIE 18 DE JUNHO
o movimento final; o emprego da
forma sonata no primeiro movimento,
com dois temas contrastantes; o
afastamento da escrita contrapontística;
o abandono definitivo do baixo
contínuo; a introdução do clarinete
no naipe das madeiras.
É esse modelo que Joseph Haydn
cristaliza. Mozart, por sua vez, o
assume definitivamente a partir
de 1773, com a sinfonia K. 201.
De fato, as primeiras sinfonias de
Mozart adotam o modelo tripartido
das aberturas italianas e lembram,
formalmente, muito mais o concerto ou
as aberturas de suas primeiras óperas.
É, portanto, um sinfonista já maduro
em suas escolhas que compõe, em
1778, a sinfonia K. 297. De fato, essa
obra foi composta para o maior grupo
orquestral de que dispôs Mozart em
vida: na estreia, em Paris (12 de junho
de 1778, em uma récita privada, na
casa do conde von Sickingen), havia
vinte e dois violinos, cinco violas,
oito violoncelos e cinco contrabaixos,
e é a primeira das sinfonias em que o
par de clarinetes aparece. Seis dias
depois, ela foi executada em público
na série Concert Spirituel, na Salle
des Cent Suisses, no Palácio das
Tulherias. Fruto da segunda viagem de
Mozart a Paris, o sucesso dessa obra
(executada várias vezes na mesma
série, nos dois anos seguintes) não
corresponde à indiferença com que a
sociedade parisiense o recebeu: já não
interessava aos parisienses o jovem de
vinte e dois anos, como lhes interessara
o prodígio que ali esteve entre 1763
e 1764. Talvez por isso Mozart tenha
substituído, na récita das Tulherias, o
segundo movimento (trocando, por um
andante, o andantino em seis por oito,
que não agradou aos primeiros ouvintes).
Ambos os movimentos são aceitos hoje
e dependem da escolha do intérprete.
Note-se que, nessa obra, Mozart
ainda não inclui o minueto da sinfonia
clássica, atendo-se à forma tripartida.
A sinfonia K. 338 data de dois anos
depois, pertence à fase em que
Mozart ainda residia em Salzburgo
e antecede duas obras-primas: a
sinfonia K. 385 (Haffner) e K. 425
(Linz). Mozart também aqui atém-se
a três movimentos, omitindo o minueto,
embora o musicólogo Alfred Einstein
afirme que o minueto K. 409 foi
composto posteriormente para ser
inserido nessa obra. Há poucos
argumentos que comprovam essa
afirmação, e alguns que o rejeitam,
50
FORA DE SÉRIE 18 DE JUNHO
a começar pela inclusão de duas flautas
na orquestração do minueto, ausentes
dos outros movimentos da sinfonia.
Note-se, antes, o trabalho com os
sopros e a rítmica típica da fanfarra,
no primeiro movimento, que lhe
atribuem um caráter festivo, que
contrasta com o segundo movimento.
Este desperta o Mozart da ópera e da
música vocal. O último movimento é
uma dança, um tanto enérgica, bem
à maneira da tradição musical italiana.
Não se sabe ao certo a data de estreia
dessa obra, mas pode-se supor que se
deu na corte do Príncipe-Arcebispo de
Salzburgo, antes de 1781.
A obra-prima que é a sinfonia em
sol menor, K. 550, composta em
1788, porém, é de outra grandeza
(se é que de Mozart se pode dizer
isso!...). Penúltima obra do gênero
do compositor, pertence à fase final
de sua vida e mostra o modelo de
música que Beethoven iria seguir
ou transcender e com o qual todo
o sinfonismo do século XIX se veria
mais ou menos em débito. Sobre ela
escreveram desde von Nissen, primeiro
biógrafo de Mozart (aristocrata que se
casou com a viúva do compositor),
a Hector Berlioz. Sobre ela ainda hoje
há os mais variados comentários, que
ora a associam ao Sturm und Drang,
ora a um sentimento trágico do
compositor em relação a si mesmo.
Alfred Einstein afirma que nem ela
nem a que a seguiu (nº 41, K. 551,
“Júpiter”) teriam sido compostas
para ser executadas, mas que
seriam um “legado de Mozart à
posteridade”. A afirmação é revestida
de polêmica: desde correspondências
de contemporâneos do compositor
até anúncios de concertos conduzidos
por Salieri em Viena, assim como
cópias de manuscritos revisados
pelo compositor atestam que ela
foi executada quando Mozart ainda
vivia. O fato é que ela deve ter
sido estreada entre o ano de sua
composição e o ano da morte de
Mozart. É fato também que as três
últimas sinfonias foram compostas em
menos de seis semanas, no mesmo ano
de 1788. Esta obra desvela o Mozart
de sempre, mas, se é permitido dizê-lo,
menos dramático e mais trágico:
menos persona e mais pessoa...
ainda admiravelmente clássico,
mas surpreendentemente além disso.
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista,
Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,
professor da Universidade do Estado de Minas
Gerais e da Fundação de Educação Artística.
51
Mozart. Pintura de Joseph Lange, 1790c.
Mozart Museum, Internationale Stiftung Mozarteum, Salzburgo.
FORA DE SÉRIE 18 DE JUNHO
53
FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO
5TOBIAS VOLKMANN, regente convidadoALEXANDRE BARROS, oboé
Wolfgang Amadeus Mozart
O RAPTO DO SERRALHO, K. 384: ABERTURA
Antonio Salieri
SINFONIA EM RÉ MAIOR, “IL GIORNO ONOMASTICO”• Allegro, quasi presto • Larghetto • Minuetto• Allegretto e sempre l’istesso tempo
Domenico Cimarosa / Adaptação de Arthur Benjamin
CONCERTO PARA OBOÉ EM DÓ MENOR• Introduzione: Larghetto • Allegro • Siciliana • Allegro giusto
— INTERVALO —
Wolfgang Amadeus Mozart
SINFONIA Nº 39 EM MI BEMOL MAIOR, K. 543
• Adagio – Allegro • Andante con moto • Menuetto: Allegretto • Finale: Allegro
PROGRAMA
23 DE JULHO
Rivais e contemporâneos
Alexandre Barros
54
FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO
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TOBIASVOLKMANN
Tobias Volkmann é um dos destaques
da nova geração de regentes orquestrais
do Brasil. Desde a conquista dos
principais prêmios concedidos no
Concurso Internacional de Regência
Jorma Panula 2012, Finlândia, e do
Prêmio de Público no Festival Musical
Olympus de São Petersburgo 2013,
Volkmann vem atraindo atenção para
uma carreira internacional em ascensão.
Como regente convidado, já esteve à
frente de grandes orquestras europeias
e sul-americanas, entre elas a
Orquestra Sinfônica do Porto Casa da
Música, Orquestra Sinfônica Estatal
do Museu Hermitage e Orquestra
Sinfônica Estatal de São Petersburgo,
Orquestra Sinfônica do Chile e
Orquestra Petrobras Sinfônica. Em
2015 teve sua estreia alemã à frente da
Orquestra Sinfônica de Brandemburgo
na célebre sala do Gewandhaus de Leipzig como convidado
da temporada oficial do Coro e Orquestra da Rádio MDR.
Compromissos futuros incluem as estreias como convidado
da Orquestra Sinfônica Provincial de Santa Fé, Argentina, e
da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.
Apresentou-se ainda em concertos com as orquestras
sinfônicas de Vaasa e Jyväskylä, Finlândia, Orquestra
Lyatoshinsky de Kiev, Orquestra Sinfônica de Porto Alegre,
Sinfônica Municipal de Campinas e Orquestra Sinfônica da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. É convidado frequente
nas temporadas da Orquestra Sinfônica Nacional-UFF e da
Orquestra Sinfônica da Universidade de Cuyo, Argentina.
Entre 2012 e 2014 atuou como maestro assistente do
Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde esteve à frente dos
balés La Bayadère e Coppelia e do acompanhamento para os
filmes mudos Nosferatu de Murnau e O Garoto de Chaplin —
espetáculos da série Música & Imagem. Atuou como maestro
preparador em produções de ópera, destacando-se Billy Budd,
Salomé, A Valquíria, Aída, Rigoletto, Carmen e Madame Butterfly.
Entre 2009 e 2011 foi regente assistente da Orquestra
Filarmônica Carnegie Mellon, nos Estados Unidos.
Tendo a versatilidade como grande qualidade artística,
Tobias Volkmann se mostra igualmente à vontade no repertório
sinfônico, coral, no teatro de ópera e balé e na música para
cinema. Com especial atenção à música contemporânea,
dirigiu estreias nos Estados Unidos, Rússia e Brasil.
Realizou sua formação com grandes nomes da regência em
masterclasses internacionais ministradas por Kurt Masur,
Jorma Panula, Ronald Zollman, Isaac Karabtchevsky e
Fabio Mechetti. Estudou canto e regência na Universidade
Federal do Rio de Janeiro e concluiu mestrado em Regência
Orquestral na Universidade Carnegie Mellon de Pittsburgh,
Estados Unidos, sob orientação de Ronald Zollman.
55
Nascido em uma família de músicos,
Alexandre iniciou seus estudos musicais
com o pai, Joaquim Inácio Barros.
Ainda criança, acompanhava seu pai
e irmãos em rodas de choro tocando
flauta doce. Estudou flauta transversal
e, aos dezessete anos, passou para
o oboé, seguindo seus estudos com
orientação dos professores Afrânio
Lacerda, Gustavo Napoli, Carlos Ernest
Dias e Arcádio Minczuk. Frequentou
masterclasses com renomados
oboístas internacionais, dentre eles os
professores Ingo Goritzki, Alex Klein,
François Leleux e Maurizio Colasanti.
Alexandre sempre mostrou facilidade
e intimidade com o instrumento,
destacando-se rapidamente no cenário
da música erudita no Brasil. Em 1993,
como membro do Quinteto de Sopros da
Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), recebeu o primeiro prêmio no V Concurso de Música
de Câmara dessa instituição. Em 1996, integrando o
Trio Jovem de Palhetas, obteve menção honrosa no Concurso
Jovens Solistas da Faculdade Santa Marcelina de São Paulo.
No mesmo ano foi premiado no Concurso Jovens Solistas
da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e
apresentou-se à frente da orquestra sob regência de Diogo
Pacheco. Dois anos mais tarde conquistou o prêmio Eleazar
de Carvalho no Festival de Inverno de Campos do Jordão.
Como solista atuou com diversas orquestras, como a Sinfônica
de Minas Gerais, Orquestra de Câmara Sesiminas e Orquestra
Filarmônica Nova. Em 2010 foi solista à frente da Filarmônica
de Minas Gerais, sob regência de Rodolfo Fischer.
De 1996 a 1997 integrou o naipe de oboés da Osesp e com
a orquestra realizou turnê por diversas cidades da Europa.
A convite de Roberto Minczuk, atuou como primeiro oboé
e foi solista da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, sob
regência do maestro Minczuk. Regressando a Minas Gerais
passou a integrar o naipe de oboés da Orquestra Sinfônica
de Minas Gerais até 2008.
Atualmente, é Primeiro Oboé da Orquestra Filarmônica
de Minas Gerais. Paralelamente, é professor do Curso de
Formação e Aperfeiçoamento em Artes (Cefar). Foi convidado
a lecionar em importantes festivais no Brasil, entre eles a
Semana de Música de Ouro Branco e o Festival Internacional
Sesc de Música de Pelotas.
Alexandre desenvolve intensa atividade camerística,
em diversas formações. Em 2011 gravou um CD com o
pianista Miguel Rosselini com importantes obras para
oboé. Em duo com o pianista, apresentou-se em destacadas
salas de concerto no Brasil, no Festival Rio Folle Journée,
na Semana de Música de Ouro Branco e no Projeto
Quarta Erudita da Fundação Clóvis Salgado.
FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO
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ALEXANDRE BARROS
56
E m 1781 Mozart deixava Salzburgo após romper
definitivamente com seu autoritário patrão,
o arcebispo Colloredo. Aos 25 anos, como
compositor e pianista autônomo, ele agora
dependia da renda de concertos, da venda de partituras,
aulas particulares e, sobretudo, do público que determinava
o êxito ou o insucesso de uma obra. A composição
de O rapto do serralho coincidiu com o casamento de
Mozart e Constanze (nome da heroína da ópera) Weber
e o estabelecimento definitivo do compositor em Viena.
Sintomaticamente, ele optou por um Singspiel — gênero
dramático-musical tipicamente germânico, alternando o
diálogo falado com o canto —, espetáculo de grande apelo
popular. Durante toda a vida de Mozart, O rapto do serralho
foi seu maior sucesso operístico. Resistiu, inclusive, a
inúmeras intrigas de rivais invejosos. Sobre a partitura,
o imperador Josef II fez seu famoso comentário: “Bela
demais para os nossos ouvidos, meu caro Mozart, e com
notas em demasia”. Ao que Mozart retrucou: “Exatamente
tantas quantas são necessárias, Majestade”.
Em O rapto do serralho, a trama acontece na Turquia,
devido à moda contemporânea de temas orientais. A
Abertura se inicia sobre um Presto muito vivo, com ritmos
contrastantes, mas persistentes, enérgicos, vivos. O caráter
feérico deve-se muito ao uso espetacular dos instrumentos
de sopro e ao arsenal típico das turqueries da época — toda
uma falange percussiva (tímpanos em dó e sol, triângulo,
O RAPTO DO SERRALHO, K. 384: ABERTURA
Viena, 1782 | 5 min
Piccolo, flauta, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, percussão, cordas.
SINFONIA Nº 39 EM MI BEMOL MAIOR, K. 543
Viena, 1788 | 28 min
Flauta, 2 clarinetes, 2 fagotes,
2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO
57
pratos, bumbo), evocativa de um
Oriente de ópera. O poético Andante
central, em tom menor, expressão do
amor de Belmonte por Constanze,
não interrompe o clima de alegria
que logo se reinstala, com seu ritmo
desenfreado, contagiante até o final.
Seis anos após o sucesso da estreia
de O rapto do serralho, Mozart vivia,
em meados de 1788, um período
extremamente difícil, início da miséria
humilhante que marcaria o último
capítulo de sua vida. Um dia antes de
terminar a Sinfonia nº 39, escrevera
ao amigo e credor Johann Puchberg
solicitando mais um empréstimo;
três dias depois, morria sua filha
Tereza. Entretanto, em apenas seis
semanas, Mozart concluiu mais duas
sinfonias (as de números 40 e 41),
profundamente diferentes entre si
e igualmente perfeitas. Fenômeno
ainda mais intrigante, pois permanece
enigmático o motivo de tamanho
empenho composicional — essas três
obras-primas incomparáveis foram
criadas sem encomenda imediata e
julga-se que o próprio Mozart não
chegou a ouvi-las. Talvez a publicação
das Sinfonias Parisienses de Haydn,
no ano anterior, tenha-lhe incentivado
a criatividade; de fato, os dois
compositores, apesar da diferença
de idade, foram amigos constantes
e admiradores mútuos.
As últimas sinfonias, com audácia
inaudita, exibem o gênio de Mozart
em plenitude e revelam o alcance
de seu legado incomparável para o
gênero: notável percepção do equilíbrio
estrutural; um jogo fascinante das
texturas orquestrais (sobretudo dos
instrumentos de sopro); a prodigiosa
riqueza harmônica; e o surpreendente
e rigoroso cultivo do estilo fugato
dos antigos mestres.
FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista,
Doutor em Letras, professor na UEMG, autor
dos livros Músico, doce músico e O grão
perfumado – Mário de Andrade e a arte do
inacabado. Apresenta o programa semanal
Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
58
D esde Amadeus, aquela deliciosa fita de
Milos Forman, lançada em 1984, baseada
na peça homônima de Peter Schaffer, Salieri
entrou para o senso comum como o grande
vilão da história da música. É bem que se diga, porém, que
a personagem de Schaffer não corresponde à figura histórica
a que ela remete. Salieri foi de importância inegável, tanto
como compositor quanto como mestre. Basta dizer que ele
teve ascendência direta sobre a formação de Beethoven
e, mais tarde, de Liszt. Seu nome foi eclipsado pela
importância crucial, estética e histórica que tiveram
os três integrantes da Primeira Escola de Viena.
Entre Mozart e Salieri, quaisquer rivalidades não ultrapassaram
os limites do saudável ou da cordialidade. Depreende-se,
inclusive, da correspondência de Mozart, que este prezava
muito as opiniões de Salieri, que, por sua vez, tinha grande
apreço e admiração pela obra de Mozart.
O estilo de Salieri, no entanto, é um pouco diferente do estilo
de seus muitos compatriotas que moravam, então, em Viena:
sua linguagem o aproxima muito mais da tradição germânica
(como a de Gluck), que da italiana. Compositor dramático
por excelência, deixou uma obra pródiga: são várias dezenas
de óperas, um sem número de obras sacras, alguma música
de câmara e várias obras sinfônicas, dentre as quais seis
concertos e duas sinfonias completas: “La Veneziana” e
FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO
Antonio Salieri
(Itália, 1750 – Áustria, 1825)
SINFONIA EM RÉ MAIOR, “IL GIORNO ONOMASTICO”
1775 | 19 min2 flautas, 2 oboés, fagote,
2 trompas, 2 trompetes, cordas.
Domenico Cimarosa
(Itália, 1749 – 1801)
Adaptação de Arthur Benjamin
(1893-1960)
CONCERTO PARA OBOÉ EM DÓ MENOR
1942 | 10 min
Cordas.
59
“Il giorno onomastico”. Embora o
nome seja pomposo, seu significado
é bem simples: Salieri a compôs para
comemorar seu próprio aniversário.
Estruturada em quatro movimentos,
já à maneira da sinfonia clássica, essa
obra apresenta citações de outras obras
suas: as aberturas de La Scuola de’
Gelosi e de La Partenza Inaspettata.
Ao ouvinte habituado a Haydn e Mozart,
essa obra há de ser a grata descoberta
de um Classicismo já sólido e elegante,
mas ainda não centrado em si mesmo,
e mostra o ambiente musical vivo,
pulsante e rico em que cresceu a
Primeira Escola de Viena.
Igualmente pródiga é a obra de Cimarosa:
são cerca de setenta óperas, várias
obras sacras, trinta e duas sonatas para
teclado, em um movimento, à maneira
de Domenico Scarlatti. Tendo construído
uma carreira sólida, em 1791 é nomeado
Mestre de Capela de Leopoldo II, em
Viena, sucedendo Salieri. Seu estilo,
porém, é inegavelmente italiano. Sua
linguagem dramática assinala, com
Pergolesi, Galuppi e sobretudo Mozart,
o apogeu de uma tradição musical que
veria em Rossini o seu primeiro herdeiro.
No entanto, o concerto para oboé é
uma obra moderna: em 1949 Arthur
Benjamin transcreveu, para oboé e
orquestra de cordas, quatro sonatas
para teclado, compostas entre 1787
e 1791, transformando essa colagem
em uma única obra. As sonatas de
Cimarosa transcritas são (em ordem
numérica, não como aparecem no
concerto) as de número 23, 24, 29 e
31. É bom lembrar que esse sistema de
colagens, apropriações e transcrições
não era estranho ao espírito e à prática
dos séculos XVII e XVIII. A despeito da
intervenção moderna, essa obra mostra
o caráter vocal e dramático desse
contemporâneo de Mozart, com quem
compartilha a mesma tradição.
FORA DE SÉRIE 23 DE JULHO
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista,
Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,
professor da Universidade do Estado de Minas
Gerais e da Fundação de Educação Artística.
Antonio Salieri. Pintura de Joseph Willibrod Mähler.
61
FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
6FABIO MECHETTI, regenteMARINA MORA, diretora de cenaGABRIELLA PACE, FiordiligiLUISA FRANCESCONI, DorabellaCARLA COTTINI, DespinaDAVID PORTILLO, FerrandoLEONARDO NEIVA, GuglielmoLICIO BRUNO, Don Alfonso
PROGRAMA
20 DEAGOSTO
COSÌ FAN TUTTE, K. 588
Ato I
— INTERVALO —
COSÌ FAN TUTTE, K. 588
Ato IIÓpera
62
Marina Mora nasceu em Buenos Aires,
Argentina, onde formou-se em
Pedagogia, Educação, Música,
Dança e Interpretação, realizando
posteriormente a licenciatura em
Artes Cênicas no Instituto
Universitário Nacional de Arte.
Depois de várias experiências como atriz,
no teatro e no cinema, incluindo um
prêmio de Melhor interpretação com a
obra La llave en el desván, de A. Casona,
no 20º Certamen de Casas Regionales
de España, estuda direção teatral com
C. Ianni e com R. Szuchmacher. Em
seguida, ingressa no Instituto Superior
de Arte do Teatro Colón para cursar
direção cênica de ópera.
Paralelamente, começa uma grande
atividade como assistente de direção,
gerente de palco e coordenadora de
produção artístico-técnica junto a P. Domingo, E. Sagi,
R. Oswald, H. De Ana, F. Sparvoli, E. Zanetti, M. Hampe,
A. Heller Lopes, M. Lombardero, P. Maritano, J. D. Inella, T.
Zvulun, J. L. Pichon, J. Martorell, P. Larraín, P. Nuñez e X.
B. Rawson, no Teatro Colón, Teatro Municipal de Santiago
do Chile, Teatro de La Plata, Teatro Calderón de Valladolid,
Teatro de La Zarzuela e no Auditório Nacional, México. Nesse
período, encenou O barbeiro de Sevilha, Retablo del Maese
Pedro, O mestre de capela, Tristão e Isolda, Lady Macbeth
de Mtsensk, Turandot, Cavalleria Rusticana, Pagliacci, Alcina,
Rigoletto, Thais, Carmen, Ariadne auf naxos, Madame Butterfly,
Boris Godunov, Don Pasquale, Aida, Doña Francisquita,
O rapto do serralho, Eugene Onegin, Lucrezia Borgia,
Jenufa, Anna Bolena, Don Giovanni, Katia Kabánova, Lakmé,
I Puritani, A Flauta Mágica, Lady be good, Lua de mel no
Cairo, The Rake´s Progress, Il Turco en Italia, Norma e Rusalka.
Foi diretora de cena da ópera Don Pasquale de Donizetti
no Teatro Espanhol da cidade de Azul, Argentina, através
do Instituto Superior de Arte del Teatro Colón. Também
dirigiu seminários de artes cênicas na Universidade
San Alberto Hurtado, em Santiago do Chile, e ganhou
o prêmio Fondart 2010 para música com a montagem
do projeto A ópera em sua cidade.
Marina foi diretora de cena da ópera Le nozze di Figaro para
a Pontifícia Universidade Católica do Chile, apresentada no
Teatro Cariola de Santiago, no Teatro Municipal de Chillán, no
Teatro Diego de Rivera na cidade de Puerto Montt e no Teatro
regional de Maule, em turnê muito bem acolhida pelo público.
Recentemente dirigiu La Serva Padrona para o Palácio
Legislativo da Nação Argentina, montagem que será
reapresentada em 2016 em Nova York para a Empire Opera.
FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
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DIV
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MARINAMORA
63
Vencedora do Prêmio Carlos Gomes
2010 pela participação na ópera
A Menina das Nuvens, Gabriella Pace
já cantou sob a regência de maestros
como Lorin Maazel, Isaac Karabtchevsky,
John Neschling, Roberto Minczuk,
Rodolfo Fischer, Luiz Fernando
Malheiro, Fabio Mechetti,
Sílvio Viegas e Abel Rocha.
Foi Tytania em Sonho de uma Noite
de Verão de Britten, Ilia em Idomeneo,
Eurídice em Orfeo ed Euridice,
Giulietta em I Capuleti e i Montecchi,
Susanna em As bodas de Fígaro,
Ceci em Il Guarany, Pamina em
A Flauta Mágica e Adina em O Elixir
do Amor, dentre muitas outras.
Foi solista na Quarta Sinfonia de
Mahler, Nona Sinfonia de Beethoven,
Carmina Burana de Orff, Lobgesang
de Mendelssohn, Requiem de Mozart, Stabat Mater de
Rossini e na Missa in Tempore Belli, A Criação e
As Estações de Haydn.
Desde 2005 faz parte do Trio Duetos e Canções, ao
lado do pianista Gilberto Tinetti e da mezzo-soprano
Adriana Clis, apresentando-se em recitais de música
de câmara por todo o país.
Com o Quarteto Raga, Gabriella cantou o Quarteto
op. 10, nº 2 de Schoenberg e, com a Orquestra
Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), gravou
o Requiem Ebraico de Zeisl.
Gabriella iniciou os estudos com o pai, Héctor Pace,
e foi aluna de Leilah Farah e Pier Miranda Ferraro.
FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
GABRIELLAPACEFO
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64
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LUISA FRANCESCONI
FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
Luisa Francesconi tem excepcional
capacidade para a execução de
coloratura, destacando-se no
repertório rossiniano e mozartiano
ao interpretar papéis em óperas como
Il barbiere di Siviglia, L’Italiana in
Algeri, Così fan tutte e Don Giovanni.
A mezzo-soprano fez a sua estreia
internacional no Teatro Argentina,
em Roma, no papel de Cherubino
em Le nozze di Figaro, de Mozart.
Representa também com grande
sucesso outros papéis en travesti,
como Romeo em I Capuleti e
I Montecchi de V. Bellini, Orfeo
em Orfeo ed Euridice de Gluck e
Idamante em Idomeneo de Mozart.
Luisa interpretou Didone em
Les Troyens de Berlioz. Participou
com enorme sucesso da primeira
turnê da Cia. Brasileira de Ópera, em 2010, no papel de
Rosina em O barbeiro de Sevilha de Rossini.
Ela canta com frequência nos principais teatros brasileiros
e italianos e tem se apresentado regularmente também em
Portugal. Interpretou o Stabat Mater de Pergolesi na famosa
igreja Ara Coeli, em Roma, e a Missa em Dó menor de
Mozart no Auditorium Verdi, em Milão.
Seu repertório de concerto é vasto, com atuações marcantes
em Rapsódia para Contralto e Missa em Si menor de Bach;
Requiem e Missa da Coroação de Mozart; Nisi Dominus de
Vivaldi; Messias de Haendel; Nona Sinfonia, Missa em
Dó maior e Fantasia Coral de Beethoven; Stabat Mater e
Petite Messe Solemnelle de Rossini; Sonho de uma Noite de
Verão de Mendelssohn; Te Deum de Bruckner; Les Nuits d’Été
de Berlioz; Sinfonias números 2, 3 e 8 de Mahler; El Amor
Brujo de Falla e Floresta do Amazonas de Villa-Lobos.
Luisa Francesconi gravou suas participações como solista
na Nona Sinfonia de Beethoven e no Réquiem Hebraico de
Erich Zeisl, lançadas em CD pelo selo Biscoito Fino.
65
CARLA COTTINIFO
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ERNA
NDO
LOUZ
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FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
Vencedora do Prêmio Revelação no
10º Concurso de Canto Maria Callas da
cidade de Jacareí, em 2011, Carla Cottini
tem se destacado por integrar em suas
performances apurada técnica, belo
timbre e marcante presença cênica.
Estreou no Teatro Municipal de
São Paulo em dezembro de 2011
com grande sucesso como Ida em
O Morcego e como Musetta em
La Bohème, com a Orquestra Sinfônica
do Sergipe. Em 2012 cantou a primeira
audição mundial da obra Fantasia
Gabriela de André Mehmari, escrita
por encomenda da Orquestra Sinfônica
da Bahia para as comemorações do
centenário de Jorge Amado. Nesse
mesmo ano estreou no Palácio das Artes
de Belo Horizonte como Valencienne
na opereta A Viúva Alegre, sob direção
de Jorge Takla.
Em 2013 Carla interpretou Gretel no Palau de la Musica
de Valencia, na produção espanhola de Amparo Urieta. Foi
Zerlina no Theatro Municipal de São Paulo, na produção de
Don Giovanni dirigida por Pier Francesco Maestrini, ao lado
de artistas como Andrea Rost, Monica Bacelli e Nicola Uliveri.
Em 2014, em Valencia, Espanha, interpretou a bruxa Armida
de Rinaldo no Auditorio de Ribarroja e debutou como Susanna
em Le nozze di Figaro, papel que interpretou também no
Theatro São Pedro, em São Paulo, sob a direção musical de
Luiz Fernando Malheiro e direção cênica de Livia Sabag.
Em 2015 estreou com grande sucesso como Norina em
Don Pasquale, no Teatro Sociale di Rovigo, Itália.
Além de sua dedicação ao canto lírico, Cottini tem formação
em artes cênicas, jazz dance e balé clássico na Casa de
Artes OperAria. Antes de se dedicar à ópera, Carla Cottini
participou, em São Paulo, das superproduções dos musicais
My Fair Lady, em 2007, sob a direção de J. Takla; Esta é a
Nossa Canção, em 2009, sob a direção de Charles Randolph
Wright, e Cats, em 2010, sob a direção de Richard Staford,
bem como de produções menores de musicais como
West Side Story, Wicked e Chorus Line.
Carla Cottini terminou em setembro de 2014 seu mestrado
em interpretação operística no Conservatório Superior
de Música Joaquín Rodrigo de Valencia, Espanha, sob
orientação de Ana Luisa Chova. Desde 2012 tem como
tutora a soprano Eliane Coelho. Seu preparador principal
de repertório é Rafael Andrade.
66
FOTO
KRI
STEN
HOE
BERM
ANN
DAVIDPORTILLO
FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
Elogiado pelo Opera News pela
"facilidade com as notas altas, cantadas
com brilho e exuberância que seduzem
os ouvidos", o tenor norte-americano
David Portillo se estabeleceu como um
dos principais artistas de sua geração.
Nesta temporada, ele faz sua estreia
no Metropolitan Opera como Conde
Almaviva, em O barbeiro de Sevilha.
Retornará à Lyric Opera de Chicago como
Andres em Wozzeck, numa produção de
David McVicar conduzida por Andrew Davis.
E também à Palm Beach Opera estreando
no papel de Ernesto, em Don Pasquale.
Na Europa, estreia no Théâtre des Champs-
Élysées como Pedrillo, em O rapto do
serralho, e como solista em Das Paradies
und die Peri de Schumann com a
Netherlands Radio Orchestra. Retorna ao
Festival Glyndebourne como David
em Os mestres cantores de Nuremberg.
Na temporada anterior, David Portillo retornou ao Houston
Grand Opera como Tamino em A Flauta Mágica, conduzido
por Roberto Spano, e estreou na Washington National Opera
como Don Ramiro em La Cenerentola. Voltou ao Festival d'Aix-
en-Provence como Pedrillo e à Arizona Opera como Tonio em
La fille du régiment, representação já aclamada pela crítica.
Seus compromissos com orquestras incluem O Messias de
Haendel com a St. Paul Chamber Orchestra, Kansas City
Symphony e Richmond Symphony e Lélio de Berlioz com a
Dayton Philharmonic. Portillo também encenou Tebaldo em
I Capuleti e i Montecchi, com a Washington Concert Opera,
e Gastone em La Traviata com a Los Angeles Philharmonic,
no Hollywood Bowl. Apresentou-se no Requiem de Verdi e na
Nona Sinfonia de Beethoven com as sinfônicas de Phoenix e
Elmhurst e no Colorado Music Festival, onde também esteve
com A Criação de Haydn.
Outros personagens vividos por Portillo são Trin, Renaud, Don
Ottavio, Ferrando, Belmonte, Narciso e Gonzalve. Cantou na
Accademia Nazionale di Santa Cecilia, no Saito Kinen Festival,
Wiener Staatsoper, Salzburg Festival e Opera Angers-Nantes.
Aluno do Ryan Opera Center na Lyric Opera de Chicago,
do Merola Opera Program na San Francisco Opera e da
Wolf Trap Opera em Vienna, Virgínia, Portillo acrescentou
ao seu repertório o Chevalier de la Force em Dialogues of
the Carmelites, Nadir em Les pêcheurs de perles, Fenton
em Falstaff, Alfredo em La Traviata, o papel principal em
Albert Herring e Sam Kaplan em Street Scene.
Em 2009, David Portillo recebeu prêmios da Fundação
Sullivan, da Sociedade Americana de Ópera de Chicago
e da Fundação Shoshana, além de vencer o concurso para
uma bolsa de estudos da Fundação Bel Canto. Em 2008 foi
agraciado com o prêmio maior da categoria masculina da
União da Liga dos Jovens de Chicago.
67
FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
Nascido em Brasília, o conceituado barítono
brasileiro Leonardo Neiva é conhecido por
sua desenvoltura cênica e versatilidade
vocal. Foi revelado aos 23 anos no papel
de Figaro, em Il barbiere di Siviglia de
Rossini. Desde então, é convidado por
teatros do Brasil e do exterior.
Leonardo foi muito elogiado pela crítica
ao representar o papel de Ford, em
Falstaff de Verdi, na Sala São Paulo,
junto à Orquestra Sinfônica do Estado
de São Paulo (Osesp). Obteve grande
êxito também ao se apresentar junto à
Cia. Brasileira de Ópera, no papel título
de Il barbiere di Siviglia, e no XV Festival
Amazonas de Ópera, quando participou
da montagem de Tristão e Isolda de
Wagner, interpretando Kurwenal.
Fora do Brasil, estreou no Teatro
Municipal de Santiago, Chile, como
Zurga, em Les pêcheurs de perles de
Bizet. Apresentou-se no Teatro Nacional de São Carlos,
em Lisboa, Portugal, em Carmina Burana de Orff;
no Théâtre du Capitole, em Toulouse, França, no papel
de Cecco del Vecchio, em Rienzi de Wagner; na Opernwelt,
Alemanha, em Tristão e Isolda de Wagner. Também cantou
em recitais e concertos na Itália, Espanha, Portugal,
Colômbia e Estados Unidos.
Em 2009, recebeu o XII Prêmio Carlos Gomes de melhor
cantor do Brasil por suas atuações como Le Grand-Prêtre
de Dagon, em Sansão e Dalila de Saint-Saëns, como Eneas
em Dido e Eneas de Purcell, bem como o Kullervo na obra
de Jean Sibelius.
Leonardo Neiva gravou em 2010 o CD Clamores, com canções
de música contemporânea do compositor Jorge Antunes.
LEONARDONEIVAFO
TO C
ASSI
ANO
GRAN
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68
O sucesso e amplitude da carreira
de Licio Bruno são notáveis entre os
cantores brasileiros por suas atuações
em ópera, música sinfônica, de câmara
e teatro no Brasil e exterior.
Aperfeiçoou-se na Academia Franz Liszt,
Budapeste, foi membro da Ópera Estatal
Húngara e cantou na Itália, Espanha,
Alemanha, Suíça, Colômbia e Argentina.
No Brasil, os teatros de ópera e salas
de concerto são sua casa. Com mais
de cinquenta personagens em óperas
de diferentes autores, períodos e
estilos, Licio é, até hoje na história
da ópera brasileira, o único cantor a
ter enfrentado na totalidade o Wotan /
Wanderer da tetralogia wagneriana.
Foi dirigido por ícones do teatro brasileiro — Amir Haddad,
José Possi Netto, Jorge Takla, Gianni Rato, Sérgio Britto —
e estrangeiro — Werner Herzog, Hugo de Anna, Aidan Lang.
Cantou com renomados maestros brasileiros e estrangeiros,
entre os quais Lorin Maazel e Isaac Karabtchevsky, das paixões
de Bach até Beethoven, Kodály, Stravinsky e Britten, bem como
ciclos de Schubert, Mahler, Ravel e Poulenc, entre outros.
Licio Bruno é detentor de mais de dez primeiros prêmios em
concursos nacionais e estrangeiros e recebeu, em 2004, o
Prêmio Carlos Gomes de Melhor Cantor Erudito.
O artista celebrou, em 2013, seus 25 anos de carreira
dedicados à música com as óperas Aída, A Valquíria, A Serva
Patroa, O Turco na Itália, Rigoletto e Falstaff. Também fez sua
estreia na Argentina, interpretando com grande sucesso de
público e crítica o papel principal de O Navio Fantasma,
de Wagner, no Teatro Argentino de La Plata.
FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
LICIOBRUNO
FOTO
ARI
ANA
ROSA
69
COSÌ FAN TUTTE, OSSIA LA SCUOLA DEGLI
AMANTI, K. 588Viena, 1790 | 180 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cravo, cordas. C osì fan tutte é a última das três obras-primas
de Mozart com o libretista Lorenzo Da Ponte.
O elenco se reduz a seis personagens, agrupados
em três pares. Tal simetria é explorada no
libreto e fornece ao compositor — então no auge de sua
criatividade — oportunidades para criar música perfeita nos
menores detalhes e de grande variedade imaginativa.
Na breve Abertura, após uma introdução lenta, o andamento
rápido imprime o caráter feérico que dominará os dois atos
da ação cênica.
Ato IDois oficiais, Ferrando e Guglielmo, são noivos de duas
irmãs, respectivamente Dorabella e Fiordiligi. Em um
café, eles discutem sobre a fidelidade. Desafiados pelo
cético Don Alfonso, aceitam apostar na lealdade de suas
noivas, participando de um plano para prová-la. O terceto
Una bela serenata fecha a cena com a alegria dos oficiais,
certos da vitória.
Os clarinetes, em terças sobre as cordas, transportam a
cena à casa de Dorabella e Fiordiligi. As irmãs cantam os
méritos de seus apaixonados no dueto Ah, guarda sorella.
Don Alfonso dá início a seu plano, anunciando-lhes a falsa
notícia da recente convocação dos noivos para a guerra.
A ação desenvolve-se com formações musicais diversas:
quintetos, um dueto para os oficiais, trios e o coro militar.
Em Di scrivermi ogni giorno, sobre o fundo dos sarcásticos
comentários de Don Alfonso, os namorados se despedem.
Ferrando e Guglielmo partem. O fluido trio Soave sia il vento
deseja-lhes boa viagem. As noivas estão inconsoláveis.
Alfonso, porém, proclama um rancoroso discurso contra
a inconstância das mulheres: Quante smorfie!
FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
70
A criada Despina tenta consolar
as irmãs. Dorabella extravasa
seu sentimento de abandono em
Smanie implacabile, cujos efeitos
vocais parodiam as habituais árias
trágicas. Em contraste, no cômico solo
In uomini, in soldati, Despina propõe
que as irmãs aproveitem a ausência
dos namorados... para namorar.
Alfonso suborna Despina e apresenta-lhe
Ferrando e Guglielmo disfarçados.
As irmãs mostram-se indignadas com
a presença dos estranhos em sua casa.
Mas Alfonso intervém saudando-os
como grandes amigos. Imediatamente
os rapazes iniciam suas declarações
amorosas às noivas trocadas. Fiordiligi
declara sua inquebrantável fidelidade —
Come scoglio. Trata-se de uma ária
dificílima, que parece zombar da
virtuosidade, com largos intervalos,
de um extremo a outro da tessitura
de soprano. Guglielmo responde
com a suavidade de Non siate ritrosi.
Mas as noivas não se comovem e
retiram-se. Diante de tal demonstração
de fidelidade, o romântico Ferrando
canta a ária Un’alma amorosa.
Alfonso, que não se dá por vencido,
pede a Despina um estratagema
para reverter a situação.
Os acontecimentos se complicam e
fornecem ao compositor um extenso
finale. Os rapazes simulam suicídio,
tomando um suposto veneno. As noivas
se enternecem diante da triste sorte dos
agonizantes. O artifício dos disfarces
atinge grande comicidade quando
Despina, fazendo-se de médico,
administra seu onipotente talismã
curativo, a pedra de Mesmer.
Recuperados, os pseudossuicidas
acordam no Olimpo e pedem beijos
consoladores às duas deusas. Enfurecidas,
as irmãs mandam os jovens às favas.
Ato IIA virtude das senhoras irrita
Despina, que resume sua opinião na
ária Una donna a quindici anni —
por que não se deixar cortejar? As
irmãs concordam em conversar com
os pretendentes. Decisão tomada,
cada uma escolhe seu parceiro no
dueto Prenderò quel brunettino —
Dorabella com Guglielmo; Fiordiligi
e Ferrando. Os apaixonados oferecem
uma serenata às amadas, Secondate,
aurette amiche, dueto de extasiante
melodia, com coro.
Acanhados, os rapazes e as irmãs ficam
sem assunto, falando do tempo. Porém,
após alguma hesitação, Guglielmo
oferece a Dorabella um medalhão em
forma de coração, trocando-o pelo
que ela trazia com o retrato do noivo
Ferrando. No dueto Il coro vi dono a
orquestra simula as palpitações de seus
corações apaixonados.
FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
71
Enquanto isso, Fiordiligi e Ferrando
continuam relutantes. Ele alterna
dúvida e confiança: Ah, lo veggio. E ela
expressa seus confusos sentimentos no
grande rondó Per pietà, bem mio, cujas
assombrosas dificuldades técnicas —
é o morceau de bravoure da ópera —
refletem os conflitos de sua alma.
Reunião dos dois amigos para avaliar a
situação: Ferrando traz boas notícias —
a fidelidade de Fiordiligi alegra-os.
Mas ele se desespera quando o
companheiro apresenta-lhe o medalhão
de Dorabella. Para consolar o amigo —
e também porque se sente culpado —,
Guglielmo aconselha-o a não se
envolver tanto assim, pois as mulheres
sempre maltratam o coração dos
homens. A sofisticada verve desta ária,
Donne mie, la fate a tanti, lembra a
melhor música de câmara mozartiana.
Ferrando canta seu desespero na
sombria cavatina Tradito, schernito.
Alfonso entra em cena e faz um
irônico balanço da situação.
Despina elogia a atitude decidida
que Dorabella apresenta. Fiordiligi,
ao contrário, continua sofrendo com
a dubiedade dos sentimentos. Num
recurso derradeiro, ela toma a decisão
de se disfarçar para encontrar o noivo
Guglielmo no campo da guerra. Porém,
Ferrando, ainda disfarçado, aparece e
com a beleza avassaladora do dueto
Fra gli ampessi os dois celebram
a felicidade da nova união.
Os três apostadores se encontram.
Os rapazes estão revoltados com a
infidelidade das irmãs. Mas Alfonso
intervém com seu solo — “nem
melhores, nem piores que as outras”,
afirma. E obriga os oficiais a cantarem
juntos Così fan tutte.
Despina comunica o casamento das
patroas com os amigos. O brinde aos
noivos E nel tuo, nel mio bichiero
é um engenhoso cânone iniciado
por Fiordiligi e acrescido do aparte
revoltado de Guglielmo. Despina faz
o papel de tabelião, mas a cerimônia
é interrompida pela banda militar
que anuncia a volta dos oficiais. Após
grande confusão, tudo se resolve com
o perdão mútuo. Os amantes estão
novamente reunidos — não importa
se da forma original ou se na segunda
versão. O sexteto final celebra a alegria
e homenageia quem enfrenta as
dificuldades com bom-humor.
FORA DE SÉRIE 20 DE AGOSTO
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista,
Doutor em Letras, professor na UEMG, autor
dos livros Músico, doce músico e O grão
perfumado – Mário de Andrade e a arte do
inacabado. Apresenta o programa semanal
Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
73
7
FORA DE SÉRIE 1º DE OUTUBRO
FABIO MECHETTI, regente
CONTRADANÇAS, K. 609
• Nº 1 em Dó maior • Nº 2 em Mi bemol maior • Nº 3 em Ré maior • Nº 4 em Dó maior • Nº 5 em Sol maior
IDOMENEO: MÚSICA DE BALÉ, K. 367
• Nº 1a – Chaconne: Allegro • Nº 1b – Larghetto pour Madame Hartig • Nº 1c – Chaconne, qui reprend: Allegro • Nº 2 – Pas seul • Nº 3 – Passepied • Nº 4 – Gavotte • Nº 5 – Passacaille
— INTERVALO —
TAMOS, REI DO EGITO, K. 345
• Maestoso – Allegro • Andante • Allegro • Allegro vivace assai
LES PETITS RIENS, K. 299b
• Overture: Allegro • Largo • Gavotte • Andantino • Allegro • Larghetto • Gavotte ( joyeuse): Allegro • Adagio • Intermezzo • Gavotte gracieuse • Pantomine • Passepied • Gavotte • Andante
PROGRAMA
1º DE OUTUBRO
Música incidental
74
M ozart compôs música de dança desde
os cinco anos, incluindo nove pequenos
minuetos transcritos pelo pai no álbum
de partituras de sua irmã Nannerl. Mas
foi a partir dos treze anos que começou a escrever música
para ser dançada — dedicada ao Carnaval em Salzburgo —,
atividade que manteve durante toda a vida. Compôs cerca
de duzentos títulos isolados, sem contar os minuetos e
outros movimentos de dança integrantes de suas sonatas,
quartetos e sinfonias. Era ele próprio um entusiástico
dançarino. Em uma carta do começo de 1783, conta ao pai
como comemorou seu aniversário: “Dei um baile em casa;
começamos às seis horas da tarde e terminamos às sete. O
quê? Somente uma hora! Não, não... às sete da manhã”.
Para festas como essa, as danças eram apresentadas em
sua habitual formação de câmara — o trio de cordas formado
por dois violinos e baixo. A orquestração posterior, com o
acréscimo dos instrumentos de sopro e percussão, mantinha
a seção das cordas sem as violas. As partes centrais
frequentemente incluíam instrumentos exóticos como gaitas
de foles, cornetas de postilhão ou guizos de trenós.
Na década de 1780, em Viena, a dança era um divertimento
social muito popular. Sob o reinado liberal de Josef II,
os bailes oficiais foram abertos a todas as camadas da
sociedade — iniciava-se, então, a longa associação de
Viena com a dança. Patrocinada pela corte, a temporada do
Carnaval acontecia de janeiro até a Quaresma. A Mascarada
constituía o ponto alto da estação, atraindo pessoas que
podiam se divertir incógnitas, sob o disfarce das fantasias.
FORA DE SÉRIE 1º DE OUTUBRO
CONTRADANÇAS, K. 609
Viena, 1791 | 7 min
Flauta, percussão, cordas.
IDOMENEO: MÚSICA DE BALÉ, K. 367
Munique, 1781 | 25 min2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
TAMOS, REI DO EGITO, K. 345
Salzburgo, 1773/1779 | 19 min
2 oboés, 2 fagotes, 2 trompas,
2 trompetes, tímpanos, cordas.
LES PETITS RIENS, K. 299b
Paris, 1778 | 20 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
75
Também era uma fantasia o título
de Kammermusicus oferecido a
Mozart em 1787 — na verdade,
o compositor recebia honorários
exclusivamente relativos às danças
do próximo Carnaval, geralmente
compostas durante o dezembro anterior.
Conforme o planejamento financeiro
da corte, tratava-se de um artifício
para impedir que um músico tão
famoso abandonasse Viena. Não lhe
encomendavam óperas ou sinfonias,
e ficou célebre o comentário de Mozart
ao receber seu primeiro pagamento:
“Demasiado para o que faço;
demasiadamente pouco para o que
eu poderia fazer”. Entretanto, compor
danças nunca lhe pareceu ocupação
secundária; ele a encarava com
seriedade. Dedicou-se especialmente
a quatro gêneros: as Marchas
frequentemente tinham caráter militar.
O aristocrático Minueto, destinado a
morrer com o Antigo Regime, ainda
guardava muito do seu refinamento
e formalismo bicentenários. Mais
vigorosas, as Danças alemãs ou Ländler
dançavam-se aos pares, com maior
contato físico, saltos e batidas de pé.
As populares e antigas Contradanças —
cujo compasso binário contrastava com
o ternário dos minuetos e das Ländler —
foram importadas da Inglaterra. O nome
se originou de Country dance, traduzido
contredanse para o francês (franglais)
do século XVII.
É interessante observar o uso
dessas danças nas três últimas
sinfonias de Mozart. O movimento
Finale da Sinfonia nº 39 tem o
espírito de uma contradança,
enquanto o Minueto da mesma
sinfonia é uma dança alemã. Já o
FORA DE SÉRIE 1º DE OUTUBRO
Anton Raaff como personagem título
de Idomeneo na estreia da ópera de
mesmo nome. Autor desconhecido.
76
Minueto da Sinfonia Júpiter é um
verdadeiro minueto, enquanto o
da Sinfonia nº 40 foge a qualquer
convenção, com sua irregularidade
métrica e rica escrita contrapontística.
As cinco Contradanças K. 609
tradicionalmente se enquadram
no ano de 1791, entre as últimas
escritas por Mozart. Outros estudiosos
sugerem 1787 e, nesse caso, seriam
as primeiras do compositor como
Kammermusicus. A de nº 1, em Dó
Maior, traz o tema Ne più andrai de
As bodas de Fígaro, muito conhecido
em Viena. A segunda dança é em
Mi bemol maior. Os tambores são muito
marcantes nas danças 3 e 4. A quarta,
em compasso ternário, é realmente um
Ländler com três alternativos (trios),
respectivamente em Dó, Fá e em lá
menor. A última da série, composta
anteriormente em Salzburgo, recebeu
o título de Les filles malicieuses e,
reorquestrada, foi registrada como
K. 610. Possui um curioso efeito de
gaitas de foles na seção central.
Ao contrário das danças para bailes,
o Grand Ballet — como cultivado
na corte francesa do século XVII —
estava fora de moda no século da
Revolução Francesa. Apenas duas
composições de Mozart para balé são
conhecidas integralmente: Les Petits
Riens e Idomeneo.
Quando residiu em Paris, Mozart
planejou compor uma ópera em
francês, Alexandre et Roxane, confiante
no apoio decisivo do célebre bailarino
e coreógrafo Jean Georges Noverre.
Para esse grande reformador da
dança Mozart escreveu, junto com
outros compositores, Les Petits Riens,
interlúdio a ser dançado em uma
ópera de Piccinni. Com a música e a
coreografia atribuídas a Noverre, o balé
obteve sucesso. Dos 21 números que
o compõem, apenas a Abertura e oito
peças são com certeza de Mozart. E
elas demonstram com que originalidade
ele conseguiu apropriar-se do estilo
galante francês.
Aos 25 anos, em Munique, o compositor
escreveu outro balé, agora para uma
criação própria, Idomeneo, sua terceira
e mais importante investida na opera
seria, com enredo histórico ou mitológico.
Idomeneo representou um grande
impulso na produção mozartiana,
FORA DE SÉRIE 1º DE OUTUBRO
77
síntese muito particular de marcantes
experiências: a ópera séria italiana, as
conquistas orquestrais de Mannheim e
a influência de Gluck, reminiscência da
estação parisiense. Apesar do sucesso
da estreia, a obra passou por longo e
lamentável período de esquecimento.
Só após a Primeira Guerra, Richard
Strauss, quando dirigia a Ópera
de Viena, redescobriu por acaso a
partitura. Os cinco números dançantes
encerram festivamente Idomeneo, com
uma grande celebração popular.
Ao contrário de sua intensa e
constante dedicação à ópera, Mozart
escreveu apenas uma música para
teatro: Tamos, Rei do Egito. Os coros
e números instrumentais para o drama
de Tobias von Gebler, compostos no
PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista,
Doutor em Letras, professor na UEMG, autor
dos livros Músico, doce músico e O grão
perfumado – Mário de Andrade e a arte do
inacabado. Apresenta o programa semanal
Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.
FORA DE SÉRIE 1º DE OUTUBRO
final de 1773, foram retrabalhados em
1779 por ocasião da reapresentação
em Salzburgo. O exame comparativo
das duas versões permite avaliar o
imenso progresso realizado entre
elas. Ciente da superioridade de sua
música sobre o texto, Mozart procura
libertá-la da tendência estritamente
programática. Assim, à parte os três
magníficos coros, os quatro números
puramente instrumentais soam, em
sequência, como movimentos de uma
pequena sinfonia.
Viena. Desenho de Carl Schütz.
79
8
FORA DE SÉRIE 29 DE OUTUBRO
FABIO MECHETTI, regente
UMA BRINCADEIRA MUSICAL, K. 522
• Allegro• Menuetto: Maestoso• Adagio cantabile• Presto
SERENATA Nº 6 EM RÉ MAIOR, K. 239, “NOTURNA”• Marcia: Maestoso• Menuetto• Rondo: Allegretto – Adagio – Allegro
— INTERVALO —
SERENATA Nº 9 EM RÉ MAIOR, K. 320, “POSTHORN”• Adagio maestoso – Allegro con spirito• Menuetto: Allegretto• Concertante: Andante grazioso• Rondo: Allegro ma non troppo• Andantino• Menuetto• Finale: Presto
PROGRAMA
29 DE OUTUBRO
Na corte
80
FORA DE SÉRIE 29 DE OUTUBRO
UMA BRINCADEIRA MUSICAL, K. 522Viena, 1787 | 20 min
2 trompas, cordas.
SERENATA Nº 6 EM RÉ MAIOR, K. 239, “NOTURNA” Salzburgo, 1776 | 13 min
Tímpanos, cordas.
SERENATA Nº 9 EM RÉ MAIOR, K. 320, “POSTHORN”
Salzburgo, 1779 | 42 min
Piccolo, 2 flautas, 2 oboés,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
posthorn, tímpanos, cordas.
N o Classicismo, há diversos gêneros musicais
que se confundem em forma e estrutura. Eles
são uma espécie de válvula de escape da
etiqueta solene dos salões aristocráticos ou
dos esquemas já pré-definidos da música dramática, mas
ainda assim não se veem livres do formalismo que norteia
a mentalidade musical do século XVIII: a forma sonata
ainda impera na maior parte das vezes, quando não há uma
aproximação com a suíte de danças; os procedimentos se
mantêm. Conserva-se, na maior parte dos casos, a estrutura
formal do século XVIII, em quatro movimentos, como na
sonata, no quarteto de cordas ou na sinfonia. Ainda assim, a
funcionalidade dessa música a poderia perigosamente rotular
em música ligeira: divertimento, serenata, cassação, notturno,
Nachtmusik, ou, ainda no século XVII, Tafelmusik (“música
para a mesa”). Em Haydn, por exemplo, divertimento se
confunde em nomenclatura com suas primeiras sonatas
para piano. O fato é que esse gênero de música difere dos
demais, no Classicismo (excluam-se disso a ópera e a música
religiosa), apenas pela funcionalidade ou pelo ambiente a
que se destinam. Raramente em forma ou em estrutura. Os
ambientes externos, as diversões da aristocracia, os prazeres
da mesa, tudo, nas altas rodas do século XVIII, era partilhado
com boa música. Entende-se, com isso, o porquê de Haendel
ter composto a Música para os Reais Fogos de Artifício...
Entendem-se, igualmente, os vários divertimenti e serenatas
de Mozart, compostos para diversas formações instrumentais.
Nesses gêneros, evita-se, via de regra, o uso da intrincada
linguagem polifônica, e neles não é raro que se encontrem
citações de temas ou canções populares.
81
FORA DE SÉRIE 29 DE OUTUBRO
No conjunto da obra de Mozart, o mais
célebre deles é obviamente Eine Kleine
Nachtmusik (uma musiquinha noturna...
ou, como foi já traduzido, uma pequena
serenata noturna). São cerca de duas
dezenas de divertimentos e mais
de uma dúzia de serenatas, à parte
algumas outras obras do gênero.
A Serenata K. 239 (Noturna) foi
composta em Salzburgo, em janeiro
de 1776. Uma curiosidade é que,
no manuscrito, título e data estão
grafados na caligrafia de Leopold
Mozart. Mas ela tem o diferencial de
(fato raro no século XVIII, mas não
invulgar no Barroco) ter sido composta
para dois grupos instrumentais: o
primeiro é formado por dois violinos
solistas, primeira viola e contrabaixo;
o segundo é composto por primeiro(s)
e segundo(s) violino(s), segunda(s)
viola(s), violoncelo(s) e tímpanos.
Das serenatas de Mozart, talvez essa
seja a que se assemelhe mais com
a suíte de danças, a despeito de sua
brevidade. Não obstante, seu caráter
concertante lhe confere um aspecto
arcaizante (no procedimento! Não no
estilo ou na linguagem!) raro de se
observar no Classicismo. Igualmente
raro é o nítido trabalho com o espaço: o
diálogo entre dois grupos instrumentais,
posto que já explorado desde pelo
menos o século XVI, constitui uma clara
experiência com efeitos acústicos. Fato
importante é notar que o Rondó final
insere (ou cita), claramente, algum
tema de origem popular.
Encomendada para a cerimônia
de encerramento do ano letivo da
Universidade de Salzburgo, a Serenata
em Ré maior K. 320 foi composta e
Palácio Imperial de Viena por
Joseph Schütz.
82
estreada em 1779, quando o compositor
ainda aí residia. Na sua instrumentação,
que valoriza particularmente
determinados instrumentos de sopro,
Mozart elabora trechos relevantes
para a flauta e o oboé (como no
terceiro e quarto movimentos) e inclui
inusitadamente partes para o flautim,
no primeiro trio do segundo minueto e
um solo para a trompa de posta. Em
uma época em que o e-mail sequer
era concebido e na qual a eletricidade
era curiosidade de circo, a chegada
e saída dos correios, único meio de
comunicação a distância, era um
evento importante. Ele era anunciado,
dentre outras coisas, por um toque
de trompa. Da mesma forma que, em
nossas cidades históricas, cada tipo de
badalada dos sinos das igrejas tem um
significado específico, o toque da trompa
de posta era imediatamente reconhecível
e distinto do toque da trompa de caça,
usado obviamente para as caçadas.
Ouve-se esse solo de trompa no
segundo trio do segundo minueto,
o que conferiu o subtítulo à obra.
“Satírica” foi como alguns críticos
classificaram Ein Musikalischer Spass
(uma brincadeira musical), K. 522,
composta em junho de 1787, para duas
trompas e quarteto de cordas. Mozart,
ao que parece, nunca teve a intenção
de satirizar ninguém com essa obra,
que, a despeito disso, tem algo de
claramente irônico, tanto no tratamento
das trompas, quanto no caráter. Vinda
de Mozart, essa ironia poderia soar,
hoje, ao ouvinte desatento, como uma
ousadia profética. Não se trata de
nada disso! Mozart era um compositor
de teatro, e sua música transpira,
em cada poro, a arte dramática, seja
em seu aspecto comovente, seja no
trágico ou no burlesco.
Mozart brinca, aqui, com o próprio
sistema tonal, com a quadratura da
estrutura melódica clássica, com o
estilo concertante, enfim, com todo
o mundo musical que ele próprio
dominava e em que se inseria!...
Brinca, ainda, com a tradição
polifônica, em que tinha mestria:
basta ouvir suas missas... Ao ouvinte
desatento, a primeira audição dessa
obra há de causar imediatamente um
estranhamento: não será demasiado
vislumbrar alguém que imagine que os
FORA DE SÉRIE 29 DE OUTUBRO
83
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista,
Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,
professor da Universidade do Estado de Minas
Gerais e da Fundação de Educação Artística.
FORA DE SÉRIE 29 DE OUTUBRO
músicos possam ter se enganado em
alguma passagem, ou que as trompas
estejam desafinadas. Àquele que tenha
alguma formação musical, porém, o
resultado dessa obra soa como um
paradoxo, aliás bem moderno: ao
mesmo tempo elegante e grotesco,
como se a maquilagem do século XVIII
estivesse borrada, revelando um rosto
desgastado. Dissonâncias insólitas, a
representação irônica (no sentido teatral
do termo) de um frustrado contraponto
imitativo, o relevo dado às trompas, que
parecem ora perder o siso, ora estar em
desalinho com o contexto musical, tudo
isso constitui uma grande brincadeira.
E ainda assim essa brincadeira soa
profética. Os acordes do último
movimento o comprovam! Já se disse
que o presente é que elabora seus
precursores. Na Brincadeira Musical
K. 522, o passado se antecipou.
O imperador Josef II (à direita) e seu
irmão, arquiduque Leopold. Pintura de
Pompeo Batoni.
85
9FABIO MECHETTI, regenteMARCUS JULIUS LANDER, clarineteMARIANA ORTIZ, sopranoLUISA FRANCESCONI, mezzo-sopranoLUCIANO BOTELHO, tenorSAULO JAVAN, baixo
A CLEMÊNCIA DE TITO, K. 621: ABERTURA
CONCERTO PARA CLARINETE EM LÁ MAIOR, K. 622
• Allegro • Adagio • Rondo: Allegro
— INTERVALO —
REQUIEM, K. 626
• Introitus – Requiem – Kyrie
• Sanctus• Benedictus• Agnus Dei• Communio – Lux Aeterna
PROGRAMA
10 DE DEZEMBRO
Tuba mirumRex tremendaeRecordare ConfutatisLacrimosa
Domine Jesu ChristeHostias
FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO
• Dies irae
• Offertorium
Marcus Julius Lander
Mariana Ortiz
Luisa Francesconi
Luciano Botelho
Saulo Javan
Último capítulo
86
FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO
FOTO
MAR
IANA
GAR
CIA
MARCUS JULIUS LANDER
Bacharel em Clarinete pela
Universidade Estadual Paulista, na
classe do professor Sérgio Burgani,
Marcus Julius iniciou seus estudos em
1996 com Edmilson Nery na Escola
Municipal de Música de São Paulo.
Foi também aluno de Luis Afonso
“Montanha” no curso de difusão da
Escola de Comunicação e Artes da
Universidade de São Paulo em 2001.
Agraciado com uma bolsa de estudos
por mérito no The Boston Conservatory,
Estados Unidos, cursou parte de
seu mestrado na classe do professor
Jonathan Cohler no ano de 2008.
O clarinetista atuou como spalla na
Banda Sinfônica Jovem do Estado
de São Paulo e como chefe de naipe
das orquestras Jovem de Guarulhos,
do Instituto Baccarelli e da Sinfônica
Jovem do Estado de São Paulo.
Integrou ainda a Orquestra Acadêmica da Cidade de
São Paulo e o Quarteto Paulista de Clarinetas. Foi também
professor de clarinete e teoria musical no curso superior do
Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, professor
assistente no projeto social Orquestra do Amanhã, oferecido
pelo Instituto Baccarelli na comunidade de Heliópolis,
São Paulo, e artista residente no II Festival de Verão
Maestro Eleazar de Carvalho, na cidade de Itu.
Marcus foi bolsista de importantes festivais brasileiros,
como o Internacional de Campos do Jordão e o Música
nas Montanhas, em Poços de Caldas. Participou de
masterclasses com renomados clarinetistas internacionais,
como Paul Meyer, Michael Collins, Munfred Pries, François
Benda, Donald Montanaro e Michael Norsworthy.
Vencedor do Prêmio Isolisti (Brasil), na categoria Música
Instrumental Erudita, retornou ao Brasil em 2009 e fixou
residência em Belo Horizonte, onde integra a Orquestra
Filarmônica de Minas Gerais. Na Filarmônica, inicialmente
atuou na função de Principal Assistente e em outubro de
2012 passou a Clarinete Principal.
No âmbito internacional, Marcus participou de concursos e
audições nos Estados Unidos e França. Em viagens à China,
foi artista residente no 8º Festival Internacional de Clarinete
e Saxofone de Nan Ning em 2010, no Festival Internacional de
Clarinetes de Pequim em 2014 — cujo Concerto de Gala se deu
no anfiteatro da Cidade Proibida — e, em 2015, foi professor
palestrante nos conservatórios de Shenyang e Tai-Yuan.
Marcus Julius Lander é artista Gao Royal e D’addario Woodwinds.
87
MARIANA ORTIZFO
TO L
UIS
CORO
NA
Considerada uma das melhores vozes
venezuelanas de sua geração, Mariana
Ortiz estudou canto no Conservatório de
Música do Estado de Aragua com Lola
Linares. Fez licenciatura em Educação
Musical na Universidade de Carabobo
e obteve um master degree em Canto
no Koninklijk Conservatorium Brussel,
Bélgica. Estudos de aperfeiçoamento
foram feitos com os maestros Isabel
Palacios (Venezuela), Mirella Freni e
Vittorio Terranova, entre outros.
Entre os papéis que interpretou estão
Proserpina e Messagera em L’Orfeo
de Monteverdi; Mimi e Musette, em
La Bohème de Puccini; Comtessa, em
As bodas de Fígaro de Mozart; Donna
Anna, em Don Giovanni de Mozart;
Micaela, em Carmen de Bizet; Violeta
Valery, em La Traviata de Verdi; Gilda,
em Rigoletto de Verdi; Fiordiligi em
Così fan tutte de Mozart; Salud, em La Vida Breve de Falla;
Poppea, em L’Incoronazzione di Poppea de Monteverdi.
No gênero da Zarzuela interpretou Lota em La Corte del
Faraón, Aurora em Las Leandras e a Duquesa Carolina em
Luisa Fernanda, esta última em uma coprodução entre o
Teatro Teresa Carreño, o Teatro Real de Madrid e a
Fundação SaludArte, sob direção de Pablo Mielgo.
Em seu repertório estão ainda A Criação de Haydn,
Carmina Burana de Orff, Requiem de Fauré, Sinfonia nº 2
de Mahler e a Nona Sinfonia de Beethoven. Interpretou
também Canções Negras de Montsalvatge.
Mariana Ortiz apresentou-se em importantes salas, como
o Teatro Teresa Carreño, em Caracas, Thèatre des Champs
Elysées, Paris, Staatsoper, Berlim, Thèatre de la Monnaie,
Bruxelas, Royal Danish Opera da Dinamarca, Palácio
das Artes, Belo Horizonte, Hollywood Bowl, Los Angeles,
cantando sob a batuta de reconhecidos maestros, como
Gustavo Dudamel, Diego Matheuz, Christian Vásquez,
Renè Jacobs, Simon Rattle, Lars Ulrik Mortensens,
Roberto Tibiriçá, Manuel Hernández Silva, Andrés Orozco
Estrada, José Luis Rodilla, Rafael Frühbeck de Burgos,
Helmuth Rilling, Evelino Pidò.
Por sua interpretação de Manuela Saenz, na ópera
Bolívar, de Darius Milhaud, recebeu excelente crítica da
revista francesa Opera Magazine: “A revelação é, no entanto,
o canto luminoso e frutado de Mariana Ortiz, capaz de
pianíssimos encantadores e de amplos agudos, e que
empresta sua beleza e seu engajamento a Manuela,
última companheira do Libertador”.
FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO
88
FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO
Luciano Botelho é graduado em Canto
pela Unirio e em Música Sacra pelo
STBSB. Obteve, em 2006, o mestrado
em performance e o Curso de Ópera, na
Guildhall School of Music and Drama,
como bolsista da Fundação Vitae,
complementando seus estudos na
Cardiff International Academy of Voice.
O tenor fez sua estreia na cena lírica
interpretando o papel de Tamino, em
A Flauta Mágica de Mozart, no
V Festival Amazonas de Ópera.
Em outras edições do mesmo festival
também foi Don Ottavio em Don Giovanni
de Mozart, Ramiro em La Cenerentola
de Rossini, e Conde Almaviva em
O barbeiro de Sevilha de Rossini.
Em 2003 foi aclamado pela crítica
brasileira como “um dos maiores
talentos do país” por sua interpretação
de Fadinard em O Chapéu de Palha de
Florença de Rota, em São Paulo. Em 2007, representou
o Brasil no renomado concurso internacional de canto
BBC Cardiff Singer of the World Competition.
Durante os últimos anos, Luciano vem formando uma sólida
carreira internacional e, recentemente, interpretou Giacomo,
em La donna del Lago de Rossini, no Teatheran der Wien
e no Grand Theatre du Geneve. Também foi Elvino, em
La Sonnambula de Bellini, e Orphée, em Orphée et Euridice
de Gluck, em Stuttgart Staatstheatre. Conde Almaviva,
em O barbeiro de Sevilha de Rossini, no Royal Opera House,
Londres. Conde de Chalais, em Maria di Rohan de Donizetti,
no Caramoor Festival, em Nova York. Em Genebra e Nantes,
cantou o papel título em Conde Ory de Rossini. Foi Ramiro
em Glyndebourne, Nancy e Malmo. Nemorino, em L’elisir
d’Amore de Donizetti, em Dijon e na English National Opera.
Giannetto, em La gazzaladra de Rossini, na Opera de Massy.
Gennaro, em Lucrezia Borgia de Donizetti, em Varsóvia.
Leicester, em Maria Stuarda de Donizetti, em Manheim.
Ferrando, em Così fan tutte de Mozart, no Festival de Verbier.
Percy, em Anna Bolena de Donizetti, com a English Touring
Opera. E também foi Tonio, em La fille du regiment de
Donizetti, no Holland Park.
No Brasil, o tenor se apresentou nas principais casas de
ópera, cantando Nadir, em Les pêcheurs des perles de Bizet;
Nemorino e Tamino, além de Tebaldo, em I Capuleti e
I Montecchi de Bellini, no Theatro Municipal do Rio de
Janeiro. No Palácio das Artes, em Belo Horizonte, cantou
Fenton, em Falstaff de Verdi. E no Teatro da Paz, em Belém,
viveu Tamino. No Theatro Municipal de São Paulo destacam-
se suas apresentações no papel título de Orfeo de Monteverdi,
Fadinard e Tybalt, em Romeu e Julieta de Gounod. Além disso,
Luciano participou de concertos com a Osesp, Orquestra
Petrobrás Sinfônica, Orquestra de Câmara do Amazonas,
Amazonas Filarmônica e Orquestra Sinfônica da USP.
FOTO
ROB
MOO
RE LUCIANO BOTELHO
89
Saulo Javan apresentou-se
recentemente com a Orquestra
Sinfônica do Estado de São Paulo
(Osesp) e gravou com a orquestra,
sob regência de Isaac Karabtchevsky,
a Décima Sinfonia de Villa-Lobos.
Interpretou Padre José na ópera
Magdalena de Villa-Lobos, no Theatro
Municipal de São Paulo, e integrou o
elenco da Cia. Brasileira de Ópera,
sob direção de John Neschling, no
papel de D. Bartolo na ópera O barbeiro
de Sevilha de Rossini, em turnê por
todo o Brasil. Interpretou também
Trulove, em The Rake's Progress de
Stravinsky, no Theatro Municipal de
São Paulo. Ramphis, em Aida de Verdi,
em Aracaju, sob direção de Guilherme
Mannis. No Theatro São Pedro, em
São Paulo, viveu o papel título da
ópera Don Pasquale de Donizetti e
Don Bartolo em O barbeiro de Sevilha. Dulcamara, em
L’elisir d’Amore, ele interpretou no Teatro da Paz, em Belém,
no Theatro São Pedro, em São Paulo, e no Theatro Carlos
Gomes de Vitória. Apresentou-se na estreia nacional da
ópera Dulcineia e Trancoso de Eli-Eri Gomes, no papel de
Bozo, no XII Festival Virtuosi de Recife.
Javan cantou na ópera Salomé de Richard Strauss com
a Osesp e na Petite Messe Solennelle de Rossini, sob
a regência de Naomi Munakata, na Sala São Paulo.
Foi solista do concerto inaugural da Orquestra do Theatro
São Pedro e nesse mesmo teatro interpretou Simone em
Gianni Schicchi de Puccini.
Em apresentações anteriores, Javan interpretou Salieri na
ópera Mozart e Salieri de Rimsky-Korsakov, O Franco-atirador
de Weber, Don Giovanni de Mozart e Alcina de Haendel em
estreia brasileira.
Saulo Javan foi o vencedor do XIX Concurso Nacional de
Canto Heitor Villa-Lobos, em Araçatuba, SP, em 2002.
FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO
SAULO JAVANFO
TO C
ASSI
ANO
GRAN
DI
VEJA A BIOGRAFIA DE LUISA FRANCESCONI NA PÁGINA 64
90
A CLEMÊNCIA DE TITO, K. 621: ABERTURA
Viena, 1791 | 5 min
2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes,
2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes,
tímpanos, cordas.
CONCERTO PARA CLARINETE EM LÁ MAIOR, K. 622
Viena, 1791 | 29 min
2 flautas, 2 fagotes,
2 trompas, cordas.
REQUIEM, K. 626Viena, 1791 | 48 min
2 fagotes, 2 trompetes, 3 trombones,
2 corni di basseto, tímpanos, cordas.
É curioso que a missa mais famosa de Mozart,
e uma das suas obras mais celebradas, não
tenha sido totalmente composta por ele. Hoje,
o mistério que a literatura (incluindo a História)
soube pintar com muita tinta sobre o Requiem K. 626 está
quase todo esclarecido. A história do Requiem, embora
romanesca, é simples: em julho de 1791, quando ainda
trabalhava n’A Flauta Mágica, Mozart recebeu a encomenda
de compor uma missa de réquiem. Uma vez composta, a
obra deveria ser entregue a um emissário. O compositor
estava livre para compô-la como bem entendesse, mas
não deveria jamais procurar saber o nome de quem a
encomendara. Após a morte de Mozart, soube-se que o autor
da encomenda era o Conde de Walsegg sur Stuppach, que
era um falsário: encomendava secretamente, pagando bom
preço, obras que fazia executar como suas.
Antes de ir a Praga, para assistir ao doloroso fracasso da
première de A Clemência de Tito, Mozart já havia começado
a compor o Requiem. Pode-se concluir, portanto, que ele
trabalhou nessa obra de forma intermitente, entre julho
e novembro de 1791. Quando ele morreu, em cinco de
dezembro, a obra ainda estava incompleta. Dois meses
depois da sua morte, Constanze, sua viúva, remeteu ao
emissário do conde de Walsegg a partitura completa de
uma missa de réquiem. O fato é que, em dezembro de
1791, ela havia pedido ao mestre de capela Joseph Eybler,
por quem Mozart tinha grande consideração, o favor de
completá-la. Após algumas tentativas, Eybler desistiu da
empresa. Aparentemente, Constanze recorreu a vários outros
compositores antes de finalmente conferir a tarefa a Franz
Xaver Süssmayr, discípulo de Mozart.
FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO
91
Depreende-se, de uma carta de
Süssmayr aos editores Breitkopf &
Härtel, datada de fevereiro de 1800,
até onde vão os originais de Mozart:
o Requiem e o Kyrie são integralmente
de Mozart; das cinco primeiras partes
da Sequentia, Mozart compôs as
partes vocais, deixou o baixo cifrado e
algumas diretrizes para a orquestração.
As últimas partes da Sequentia também
são de Mozart, até o oitavo compasso,
onde se ouve “judicandus homo
reus”; todo o resto é de Süssmayr.
Mozart esboçou as duas partes do
Ofertório, mas a orquestração é toda de
Süssmayr. Sanctus, Benedictus e Agnus
Dei foram compostos por Süssmayr,
que afirma ter repetido a fuga do Kyrie
na parte final para dar maior coesão
à obra. Sabe-se, porém, que essa
repetição teria sido determinada
pelo próprio Mozart.
A orquestração do Requiem é um
caso à parte: mesmo nos trechos
orquestrados por Mozart, predominam
os timbres escuros: não há oboés,
flautas ou trompas, e a indicação
original na parte dos clarinetes é para
um par de cors de basset, da família
dos clarinetes, mas com timbre um
pouco mais grave.
FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO
Mozart em seus últimos anos de vida. Pintura de Johann Georg Edlinger.
92
FORA DE SÉRIE 10 DE DEZEMBRO
A despeito da intervenção de
Süssmayr, nota-se, porém, na
estrutura da obra, uma organização
claramente mozartiana: a divisão
musical do texto, principalmente na
Sequentia, com seus claros e grandes
contrastes, mostra, para abordar uma
mínima parte, o aspecto dramático que
permeia a música de Mozart, em cada
uma de suas inflexões e em cada
elemento constitutivo.
A partir de 1970 foram feitas várias
novas tentativas de se completarem os
esboços do Requiem. A mais célebre,
porém, a mais executada e a mais
aceita é mesmo a versão de Süssmayr.
O ano da morte de Mozart foi um
período de trabalho vário e árduo:
além do Requiem, são de 1791
A Flauta Mágica e A Clemência de
Tito, o Concerto para clarinete, a
cantata maçônica O Elogio da Amizade
K. 623, o moteto Ave Verum Corpus
K. 618, além de alguma música
ligeira. Essa capacidade de trabalho,
mesmo em meio à adversidade
pessoal e financeira, isso sim é
um assombroso mistério!
A Clemência de Tito é uma opera seria,
com libretto de Catterino Mazzolà
(baseado em outro libreto, de
Metastasio), que trata da vida de Tito,
imperador romano. A despeito do
fracasso que foi sua estreia em Praga,
a seis de setembro, alcançou grande
popularidade após a morte de Mozart.
Sua Abertura segue alguns padrões
consagrados pela ópera clássica, em
que os elementos temáticos que mais
tarde tomarão lugar no drama já são
insinuados, e elaborados, de forma a
introduzir o perfil dramático do enredo.
No entanto, há que se destacar a
semelhança entre os materiais e os
tratamentos temáticos desta Abertura
e os da última sinfonia do compositor.
Coincidência ou não, o ouvinte
familiarizado com a música de Mozart
há de perceber claramente elementos do
primeiro tema da Sinfonia nº 41, “Júpiter”
K. 551 e certas modulações que aí são
aspecto característico. Além disso, na
forma, embora superficialmente ela se
assemelhe muito a outras aberturas de
Mozart, em profundidade nota-se uma
aproximação com a forma sonata, o que
por si só é fato raro na música dramática.
93
MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista,
Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa,
professor da Universidade do Estado de Minas
Gerais e da Fundação de Educação Artística.
Litografia de Eduard Friedrich Leybold, sobre imagem de Franz Schramms,retrata os últimos dias de Mozart.
Já é conhecida a predileção de Mozart
pelo clarinete, instrumento nascido no
século XVIII. Para ele, Mozart fez duas
obras definitivas: o quinteto, K. 581, e
o concerto, K. 622.
Desse concerto não nos chegou
nenhum manuscrito. A única pista
de sua origem, além da sua primeira
edição, feita depois da morte de
Mozart, é um fragmento, na caligrafia
de Mozart (K. 584b / 621b), muito
similar a um trecho do concerto para
clarinete propriamente dito.
Composto para o notório clarinetista
Anton Stadler, que o estreou em
Praga, em outubro de 1791, esse
concerto é a sua última obra puramente
instrumental. Embora siga a forma
e a estrutura do concerto clássico,
é de se notar a delicadeza com que,
aqui, o solista dialoga com o grupo
orquestral. É dispensável dizer que
Mozart explora, nessa obra, os recursos
do instrumento. Mais importante
seria ressaltar o lirismo do segundo
movimento, em que Mozart faz cantar o
clarinete como nunca antes e raramente
depois! Para este concerto, Mozart
não compôs as cadências. Isso não
era fato raro no século XVIII, mas, via
de regra, os concertos eram executados
pelos próprios compositores. Deixando
a cargo de Stadler as cadências,
Mozart revela não apenas a confiança
que depunha no executante, mas,
numa visão moderna, abre as portas,
mesmo no Classicismo, para as
possibilidades de uma obra aberta.
94
ASSISTIR E OUVIRpara
1 — MENINO PRODÍGIO
La finta semplice Orquestra de Câmara San Giorgio –
Andrea Fornaciari, regente.
Acesse: fil.mg/mfinta
CD Mozart – La Finta Semplice – Carl
Philipp Emmanuel Bach Kammerorchester –
Peter Schreier, regente – Phillips – 1991
Sinfonia nº 1 Orquestra Acadêmica de São Francisco –
Andrei Gorbatenko, regente.
Acesse: fil.mg/msinf1
CD Mozart – Complete Symphonies –
Academy of Saint Martin in the Fields –
Neville Marriner, regente – Phillips – 1996
Concerto para piano nº 1 Orquestra Sinfônica do Japão Shinsei –
Rudolf Barshai, regente – Sviatoslav Richter,
piano. Acesse: fil.mg/mpiano1
CD W. A. Mozart – The Piano Concertos –
English Chamber Orchestra – Jeffrey Tate,
regente – Mitsuko Uchida, piano – Philips –
2006 (8 CDs)
VINIL Mozart – The Complete Piano
Concertos – Academica Wien; Orquestra
Sinfônica de Londres – Eduard Melkus;
Alceo Galliera; Witold Rowicki; Colin Davis,
regentes – Ingrid Haebler, piano – Capella
Phillips – 1978
Divertimento nº 1 Orquestra de Câmara Carl Philipp
Emanuel Bach – Hartmut Haenchen, regente.
Acesse: fil.mg/mdivertimento1
CD Mozart – The complete Mozart
Divertimenti – New York Philomusica – NY
Philomusica – 2002
Cassação nº 1 Orquestra de Câmara de Stuttgart –
Wolfram Christ, regente.
Acesse: fil.mg/mcassacao1
CD Mozart – Cassations K. 63, 99 e
100 – Salzburg Chamber Orchestra – Harald
Nerat, regente – Naxos – 1994
2 — CONCERTOS
Concerto para trompa nº 2 Orquestra de Câmara de Mito – Seiji
Ozawa, regente – Radek Baborák, trompa.
Acesse fil.mg/mtrompa2a e fil.mg/mtrompa2b
CD Mozart – Concertos para Trompa –
Orquestra Philharmonia de Londres – Herbert
von Karajan, regente – Dennis Brain, trompa –
EMI Records – 1953 (remasterização 1997,
Inglaterra)
Concerto para fagote Orquestra da Suíça Romanda – Gilbert
Audin, fagote. Acesse: fil.mg/mfagote
CD Mozart – Concertos para clarinete,
oboé e fagote – Wiener Philharmoniker –
Karl Böhm, regente – Alfred Prinz, clarinete –
Gerhard Turetschek, oboé – Dietman Zeman,
fagote – Deutsche Grammophon Collection,
1975 – Ediciones Altaya, Barcelona, 1999 –
Edição Brasileira, Manaus, 1999
Concerto para flauta e harpa
95
Orquestra RTSI - Neville Marriner,
regente – Patrick Gallois, flauta – Fabrice
Pierre, harpa. Acesse: fil.mg/mflautaharpa
CD Mozart – Flute Concertos no. 1
and 2; Concerto for Flute and Harp –
Swedish Chamber Orchestra – Patrick
Gallois, regente / flauta – Fabrice Pune,
harpa – Naxos, Estados Unidos – 2004
3 — TUDO EM FAMÍLIA
A viagem musical de trenó A viagem musical de trenó – Grupo
Eduard Melkus. Acesse: fil.mg/mtreno
Concerto para trombone Ricardo Mollá, trombone.
Acesse: fil.mg/mtrombone
CD Concerto Brasileiro – Leopold Mozart
– Concerto para Trombone e Orquestra –
Camerata Brasílica – Radegundis Feitosa,
trombone – CPC-UMES, São Paulo – 2002
Sinfonia dos Brinquedos Denis Stevens, regente – Orquestra da
BBC de Londres. Acesse: fil.mg/mbrinquedos
CD Leopold Mozart – Toy Symphony;
New Lambach and others symphonies –
Toronto Chamber Orchestra – Kevin Mallon,
regente – Naxos, Alemanha – 2008
Mia speranza adorata Les Ambassadeurs – Alexis Kossenko,
regente – Sabine Devieilhe, soprano.
Acesse: fil.mg/msperanza
CD W. A. Mozart – Airs de concert –
Orchestre de l’Opéra de Lyon – Theodor
Guschlbauer, regente – Natalie Dessay,
soprano – EMI Records Ltd, 2005 – EMI
Music França, 1995
No, no, che non sei capace Les Ambassadeurs – Alexis Kossenko,
regente – Sabine Devieilhe, soprano.
Acesse: fil.mg/mcapace
Concerto para dois pianos Daniel Barenboim, regente – Vladimir
Ashkenazy e Daniel Barenboim, pianos.
Acesse: fil.mg/mdoispianos
CD W. A. Mozart – Complete Piano
Concertos – vol. 10 – Concertus Hungaricus –
Mátyas Antal, regente – Jenö Jandó, piano –
Dénes Várjon, piano – Naxos, Alemanha – 1991
4 — SINFONIAS
CD Mozart – Complete Symphonies
– Academy of Saint Martin in the Fields –
Neville Marriner, regente – Phillips – 1996
Sinfonia nº 31 Filarmônica de Viena – Karl Böhm,
regente. Acesse: fil.mg/msinf31
Sinfonia nº 34 Filarmônica de Viena – Karl Böhm,
regente. Acesse: fil.mg/msinf34
Sinfonia nº 40 Orquestra do Século XVIII – Frans
Brüggen, regente. Acesse: fil.mg/msinf40
96
5 — RIVAIS E CONTEMPORÂNEOS
O rapto do serralho DVD Mozart na Turquia: O Rapto no
Harém – Orquestra de Câmara Escocesa –
Charles Mackerras, regente – Paul Groves,
tenor – Yelda Kodalli, soprano – Magnus
Opus, Brasil – 2010 (Filmado no Palácio
de Topkapi, Turquia, 2000, Antelope Films)
Orquestra do Maggio Musicale de
Florença – Zubin Mehta, regente.
Acesse: fil.mg/mserralho
Il giorno onomastico CD Antonio Salieri – Il Giorno
Onomastico; Sinfonia Veneziana; Variazione
Sull’aria La Follia di Spagna – Orquestra
Sinfônica de Londres – Zoltan Pesko,
regente – Columbia – 2005.
ÁUDIO Salieri – Il giorno onomastico
London Mozart Players – Matthias Bamert,
regente. Acesse: fil.mg/sonomastico
Concerto para oboé Orquestra de Câmara da Cidade de
Hong-Kong – Jean Thorel, regente – François
Leleux, oboé. Acesse: fil.mg/coboe
CD The Oboe: Concertos by Bellini,
Cimarosa, Donizetti, Dittersdorf e Salieri –
Orquestra Sinfônica de Bamberg; Camerata
de Berna – Thomas Furi; Peter Maag,
regentes – Heinz Holliger, oboé –
Deutsche Grammophon – 2007
Sinfonia nº 39 Orquestra de Câmara da Europa –
Nicolaus Harnoncourt, regente.
Acesse: fil.mg/msinf39
CD W. A. Mozart – Symphonies nos. 34,
35 (Haffner) and 39 – Capella Istropolitana,
Bratislava – Barry Wordsworth, regente –
Naxos, Alemanha – 1988
6 — ÓPERA
Così fan tutte DVD Mozart – Così fan tutte – Wiener
Philharmoniker – Adam Fisher, regente
– Miah Persson, Isabel Leonard, Florian
Boesch, Topi Lehtipuu, Patricia Petibon,
Bo Skovhus, solistas – ORF, Áustria – 2010
Orquestra Estatal da Ópera de Viena –
Riccardo Muti, regente. Acesse: fil.mg/mcosi1
(Ato I) e fil.mg/mcosi2 (Ato II)
7 — MÚSICA INCIDENTAL
Contradanças CD W. A. Mozart – The Dances &
Marches – Complete Mozart Edition, vol. 3 –
Wiener Mozart Ensemble – Willi Boskovsky,
regente – Philips – 2006
VINIL W. A. Mozart – Marcha KV. 335;
Cinco Contradanças KV. 609 – Orquestra
Pro-Arte de Munique – Kurt Redel, regente –
Erato – 1975
ÁUDIO Contradanças – Wiener Mozart
Ensemble – Willi Boskovsky, regente.
Acesse: fil.mg/mcontradancas
Idomeneo Orquestra Sinfônica da Rádio e Televisão
Espanhola – Ignacio García Vidal, regente.
Acesse: fil.mg/midomeneo
ASSISTIR E OUVIRpara
97
DVD W. A. Mozart – Idomeneo
Kv. 366 –The Metropolitan Orchestra
and Chorus – James Levine, regente –
Luciano Pavarotti, tenor – Hildegard
Behrens, soprano – Deutsche Grammophon,
Estados Unidos – 2006
Tamos, Rei do Egito CD W. A. Mozart – Thamos, king of
Egypt – English Baroque Soloists; Monteverdi
Chorus – John Eliot Gardner, regente –
Polygram, Reino Unido – 2008
ÁUDIO Tamos, Rei do Egito – Orquestra
Sinfônica de Londres – Peter Maag, regente.
Acesse: fil.mg/mtamos
Les Petits Riens Orquestra da Rádio e Televisão da
Suíça Italiana – Ricardo Correa, regente.
Acesse: fil.mg/mriens
CD W. A. Mozart – Les Petits Riens;
German Dances; Marches; Minuets –
Symphony Nova Scotia – Georg Tintner,
regente – Naxos, Estados Unidos – 2004
8 — NA CORTE
CD Mozart – Serenades – Academy of
Saint Martin in the Fields – Neville Marriner,
regente – Phillips – 1995
Uma brincadeira musical ÁUDIO Brincadeira – Intérpretes não
identificados. Acesse: fil.mg/mbrincadeira
Serenata nº 6 Filarmônica de Viena – Karl Böhm,
regente. Acesse: fil.mg/mserenata6
Serenata nº 9 Orquestra Sinfônica da Rádio da
Baviera – Colin Davis, regente.
Acesse: fil.mg/mserenata9
9 — ÚLTIMO CAPÍTULO
A Clemência de Tito Orquestra da Ópera de Zurich – Franz
Welser-Möst, regente. Acesse: fil.mg/mtito
CD Wolfgang Amadeus Mozart –
La Clemenza di Tito – Orquestra e Coro da
Ópera de Zurique – Nikolaus Harnoncourt,
regente – Teldec – 1993
Concerto para clarinete Orquestra Filarmônica Tcheca – Manfred
Honeck, regente – Sharon Kam, clarinete.
Acesse: fil.mg/mclarinete
CD Mozart, Weber & Spohr – Clarinet
Concertos – Orquestra Sinfônica de Londres –
Colin Davis; Peter Maag, regentes – Gervase
de Peyer, clarinete – London – 2005
Requiem Sinfônica de Viena – Karl Böhm, regente.
Acesse: fil.mg/mrequiem
CD Wolfgang Amadeus Mozart –
Requiem – Orquestra Filarmônica de Viena
– Coro da Ópera Estatal de Viena –
Karl Böhm, regente – Edith Mathis, Julia
Hamari, Wieslaw Ochman, Karl Riederbusch,
solistas – Deutsche Grammophon – 1985
98
C. M. Girdlestone – Mozart et ses Concertos
pour piano – Desclée de Brouwer – 1953
Camille Bellaigue – Mozart – Coleção
Les Musiciens Célèbres – Henri Laurens
Éditeur – 1935
Cliff Eisen (org.) – Wolfgang Amadeus
Mozart: a life in letters – Versão inglesa de
Stewart Spencer – Penguin Classics – 2007
François-René Tranchefort – Guia da Música
Sinfônica – Nova Fronteira – 1990
H. C. Robbins Landon – 1791: o último ano
de Mozart – Newton Goldman, tradução –
Nova Fronteira – 1990
H. C. Robbins Landon (org.) – Mozart, um
compêndio. Guia completo da música e da
vida de Wolfgang Amadeus Mozart – Mauro
Gama, Cláudia Martinelli Gama, tradução –
Jorge Zahar Ed. – 1996
Henri de Curzon – Vida de Mozart – Edite
Magarino Tôrres, tradução – Atena – 1959
Henri Ghéon – Promenades avec Mozart –
Desclée de Brower – 1988
Kurt Pahlen – Mozart, crônica de vida
e obra – Dante Pignatari, tradução –
Ed. Melhoramentos – 1991
Norbert Elias – Mozart, sociologia de um
gênio – Sérgio Goes de Paula, tradução –
Jorge Zahar Ed. – 1994
Olívio Tavares de Araújo – Procurar Mozart –
Métron/Editora Síntese – 1991
Richard Baker – Wolfgang Amadeus Mozart –
Marco Antônio Esteves da Rocha, tradução –
Jorge Zahar Ed. – 1985
Roland de Candé – História Universal da
Música – Eduardo Brandão, tradução –
Martins Fontes – 1994
Wolfgang Amadeus Mozart – Cartas Vienenses
– Gabor Aranyi, tradução –
Ed. Veredas – 2004
LER
VISITAR
para
para
Muito se escreveu sobre Mozart. As indicações procuram contemplar os livros mais recomendados, mesmo que alguns só estejam disponíveis em sebos ou bibliotecas.
www.mozart.comwww.mozartproject.org
99
Legendas das imagens
PÁGINAS 10 E 11
Primeira página do manuscrito da Sinfonia Júpiter, K. 551.
PÁGINAS 13 E 37
Mapas das viagens de Mozart desenhados a partir do livro de Jean-Victor Hocquard, Mozart, Coleção Solfèges, vol. 8, Éditions du Seuil, 1958.
PÁGINA 20
The boy Mozart. Autor anônimo, possivelmente Pietro Antonio Lorenzoni.
PÁGINA 28
Mozart. Pintura de Burchard Dubeck.
PÁGINA 39
Família Mozart. Pintura de Johann Nepomuk della Croce.
PÁGINA 46
Primeira página do manuscrito da Sinfonia Paris, K. 297.
PÁGINA 52
Mozart. Autor desconhecido.
PÁGINA 60
Cartaz da estreia de Così fan tutte no Burgtheater, em Viena, em 1790.
PÁGINA 72
Mozart. Pintura de Barbara Krafft.
PÁGINA 78
Mozart. Desenho de Doris Stock, 1789.
PÁGINA 84
Partitura do Requiem com entrada do coro no início da obra.
PÁGINA 99
Carta de Mozart a sua prima Maria Anna Thekla, 1779.
100
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Seja como for, é sempre um prazer atendê-lo.
AMIGOS DA FILARMÔNICA
Nosso especial obrigado aos 114
primeiros amigos da filarmônica.
Vocês tornaram possível a
arrecadação inicial, já depositada,
de R$ 138.548,11, muito importantes
para o orçamento anual do
Instituto Cultural Filarmônica.
O Programa permanece aberto ao
longo do ano. Todos aqueles que
queiram participar são bem-vindos
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doacao-de-pessoa-fisica.
101
CUMPRIMENTOS
Após o concerto, caso queira
cumprimentar os músicos e convidados,
dirija-se à Sala de Recepções.
ESTACIONAMENTO
Para seu conforto e segurança, a
Sala Minas Gerais possui estacionamento,
e seu ingresso dá direito ao preço especial
de R$ 15 para o período do concerto.
PONTUALIDADE
Uma vez iniciado um concerto, qualquer
movimentação perturba a execução
da obra. Seja pontual e respeite o
fechamento das portas após o terceiro
sinal. Se tiver que trocar de lugar ou
sair antes do final da apresentação,
aguarde o término de uma peça.
APARELHOS CELULARES
Confira e não se esqueça, por
favor, de desligar o seu celular ou
qualquer outro aparelho sonoro.
FOTOS E GRAVAÇÕES EM ÁUDIO E VÍDEO
Não são permitidas na sala
de concertos.
APLAUSOS
Aplauda apenas no final das obras.
Veja no programa o número de
movimentos de cada uma e fique de
olho na atitude e gestos do regente.
CONVERSA
A experiência do concerto inclui o encontro
com outras pessoas. Aproveite essa troca
antes da apresentação e no seu intervalo,
mas nunca converse ou faça comentários
durante a execução das obras. Lembre-se
de que o silêncio é o espaço da música.
CRIANÇAS
Caso esteja acompanhado por criança,
escolha assentos próximos aos corredores.
Assim, você consegue sair rapidamente
se ela se sentir desconfortável.
COMIDAS E BEBIDAS
Seu consumo não é permitido no
interior da sala de concertos.
TOSSE
Perturba a concentração dos músicos
e da plateia. Tente controlá-la com
a ajuda de um lenço ou pastilha.
Para apreciarum concerto
102
DIRETOR ARTÍSTICO E REGENTE TITULAR
Fabio Mechetti
REGENTE ASSOCIADO
Marcos Arakaki
* PRINCIPAL ** PRINCIPAL ASSOCIADO *** PRINCIPAL ASSISTENTE **** PRINCIPAL / ASSISTENTE SUBSTITUTO
Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
PRIMEIROS VIOLINOS
Anthony Flint – Spalla
Rommel Fernandes – Spalla
Associado
Ara Harutyunyan – Spalla
Assistente
Ana Zivkovic
Arthur Vieira Terto
Bojana Pantovic
Dante Bertolino
Hyu-Kyung Jung
Joanna Bello
Matheus Braga
Roberta Arruda
Rodrigo Bustamante
Rodrigo M. Braga
Rodrigo de Oliveira
SEGUNDOS VIOLINOS
Frank Haemmer *
Leonidas Cáceres ***
Gideôni Loamir
Jovana Trifunovic
Luka Milanovic
Martha de Moura Pacífico
Mateus Freire
Radmila Bocev
Rodolfo Toffolo
Tiago Ellwanger
Valentina Gostilovitch
VIOLAS
João Carlos Ferreira *
Roberto Papi ***
Flávia Motta
Gerry Varona
Gilberto Paganini
Juan Díaz
Katarzyna Druzd
Luciano Gatelli
Marcelo Nébias
Nathan Medina
VIOLONCELOS
Philip Hansen *
Felix Drake ***
Camila Pacífico
Camilla Ribeiro
Eduardo Swerts
Emilia Neves
Eneko Aizpurua Pablo
Lina Radovanovic
Robson Fonseca
CONTRABAIXOS
Colin Chatfield *
Nilson Bellotto ***
Marcelo Cunha
Marcos Lemes
Pablo Guiñez
Rossini Parucci
Walace Mariano
FLAUTAS
Cássia Lima *
Renata Xavier ***
Alexandre Braga
Elena Suchkova
OBOÉS
Alexandre Barros *
Ravi Shankar ***
Israel Muniz
Moisés Pena
CLARINETES
Marcus Julius Lander *
Jonatas Bueno ***
Ney Franco
Alexandre Silva
FAGOTES
Catherine Carignan *
Victor Morais ***
Andrew Huntriss
Francisco Silva
TROMPAS
Alma Maria Liebrecht *
Evgueni Gerassimov ***
Gustavo Garcia Trindade
José Francisco dos Santos
Lucas Filho
Fabio Ogata
TROMPETES
Marlon Humphreys *
Érico Fonseca **
Daniel Leal ***
Tássio Furtado
TROMBONES
Mark John Mulley *
Diego Ribeiro **
Wagner Mayer ***
Renato Lisboa
TUBA
Eleilton Cruz *
TÍMPANOS
Patricio Hernández Pradenas *
PERCUSSÃO
Rafael Alberto *
Daniel Lemos ***
Sérgio Aluotto
Werner Silveira
HARPA
Giselle Boeters *
TECLADOS
Ayumi Shigeta *
GERENTE
Jussan Fernandes
INSPETORA
Karolina Lima
ASSISTENTE ADMINISTRATIVA
Débora Vieira
ARQUIVISTA
Ana Lúcia Kobayashi
ASSISTENTES
Claudio Starlino
Jônatas Reis
SUPERVISOR DE MONTAGEM
Rodrigo Castro
MONTADORES
André Barbosa
Hélio Sardinha
Jeferson Silva
Klênio Carvalho
Risbleiz Aguiar
103
Instituto Cultural Filarmônica
Conselho Administrativo
PRESIDENTE EMÉRITO
Jacques Schwartzman
PRESIDENTE
Roberto Mário Soares
CONSELHEIROS
Angela Gutierrez
Berenice Menegale
Bruno Volpini
Celina Szrvinsk
Fernando de Almeida
Ítalo Gaetani
Marco Antônio Pepino
Marcus Vinícius Salum
Mauricio Freire
Mauro Borges
Octávio Elísio
Paulo Brant
Sérgio Pena
Diretoria Executiva
DIRETOR PRESIDENTE
Diomar Silveira
DIRETOR ADMINISTRATIVO-
FINANCEIRO
Estêvão Fiuza
DIRETORA DE COMUNICAÇÃO
Jacqueline Guimarães Ferreira
DIRETORA DE MARKETING
E PROJETOS
Zilka Caribé
DIRETOR DE OPERAÇÕES
Ivar Siewers
DIRETOR DE PRODUÇÃO
MUSICAL
Kiko Ferreira
Equipe Técnica
GERENTE DE COMUNICAÇÃO
Merrina Godinho Delgado
GERENTE DE
PRODUÇÃO MUSICAL
Claudia da Silva Guimarães
ASSESSORA DE
PROGRAMAÇÃO MUSICAL
Carolina Debrot
PRODUTORES
Luis Otávio Rezende
Narren Felipe
ANALISTAS DE COMUNICAÇÃO
Marciana Toledo (Publicidade)
Mariana Garcia (Multimídia)
Renata Gibson (Design gráfico)
Renata Romeiro (Design gráfico)
ANALISTA DE MARKETING
DE RELACIONAMENTO
Mônica Moreira
ANALISTAS DE
MARKETING E PROJETOS
Itamara Kelly
Mariana Theodorica
ASSISTENTE DE MARKETING
DE RELACIONAMENTO
Eularino Pereira
ASSISTENTE DE PRODUÇÃO
Rildo Lopez
Equipe Administrativa
GERENTE ADMINISTRATIVO-
FINANCEIRA
Ana Lúcia Carvalho
GERENTE DE
RECURSOS HUMANOS
Quézia Macedo Silva
ANALISTAS ADMINISTRATIVOS
João Paulo de Oliveira
Paulo Baraldi
ANALISTA CONTÁBIL
Graziela Coelho
SECRETÁRIA EXECUTIVA
Flaviana Mendes
ASSISTENTE ADMINISTRATIVA
Cristiane Reis
ASSISTENTE DE
RECURSOS HUMANOS
Vivian Figueiredo
RECEPCIONISTA
Lizonete Prates Siqueira
AUXILIAR ADMINISTRATIVO
Pedro Almeida
AUXILIARES DE
SERVIÇOS GERAIS
Ailda Conceição
Márcia Barbosa
MENSAGEIROS Bruno Rodrigues
Serlon Souza
MENOR APRENDIZ
Mirian Cibelle
Sala Minas Gerais
GERENTE DE
INFRAESTRUTURA
Renato Bretas
GERENTE DE OPERAÇÕES
Jorge Correia
TÉCNICO DE
ÁUDIO E ILUMINAÇÃO
Mauro Rodrigues
TÉCNICO DE
ILUMINAÇÃO E ÁUDIO
Rafael Franca
ASSISTENTE OPERACIONAL
Rodrigo Brandão
FORA DE SÉRIE
Mozart 2016
COORDENADORA
DA EDIÇÃO Merrina
Godinho Delgado
EDIÇÃO DE TEXTO
Berenice Menegale
GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Fernando Damata Pimentel
VICE-GOVERNADOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Antônio Andrade
(OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – Lei 14.870 / Dez 2003)
SECRETÁRIO DE ESTADO DE CULTURA DE MINAS GERAIS
Angelo Oswaldo de Araújo Santos
SECRETÁRIO ADJUNTO DE ESTADO DE CULTURA DE MINAS GERAIS
João Batista Miguel
TIRAGEM DE 2.000 EXEMPLARES PRODUZIDA EM PAPEL IMUNE.
DIVULGAÇÃO
SALA MINAS GERAIS
Rua Tenente Brito Melo, 1.090 | Barro Preto | CEP 30.180-070 | Belo Horizonte - MG
(31) 3219.9000 | Fax (31) 3219.9030
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