Seminário FESPSP: São Paulo a cidade e seus desafios
05 a 09 de outubro de 2015
GT 6 - Informação e ambientes digitais: organização e acesso
TAXONOMIA FACETADA NAVEGACIONAL APLICADA NA ORGANIZAÇÃO E
REPRESENTAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE CONSERVAÇÃO DE
ACERVOS BIBLIOGRÁFICOS
Ricardo Medeiros Carlaccio1
Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação - FaBCI/FESPSP
Resumo:
Proposta de organização e representação do conhecimento sobre Conservação de
Acervos Bibliográficos utilizando como instrumento a Taxonomia facetada
navegacional. A Taxonomia facetada navegacional é uma estrutura de organização
sistematizada em categorias, para cada categoria há uma hierarquia de facetas e
subfacetas, o que permite a atribuição de diferentes dimensões ao domínio. O
domínio Conservação de Acervos Bibliográficos consiste principalmente em ações
diretas realizadas sobre o bem cultural, cujo objetivo é o de estabilizar suas
condições e retardar futuros processos de deterioração. Para a apresentação da
proposta foi utilizada a revisão de literatura sobre organização e representação do
conhecimento e conservação de acervos bibliográficos. Os resultados parciais foram
a observação da falta de padronização terminológica e o estabelecimento completo
da faceta “Aplicação de Materiais”.
Palavras chave: Sistemas de organização do conhecimento; Taxonomia facetada
navegacional; Conservação de acervos bibliográficos.
1 Aluno de graduação - 6º sem. – [email protected]
2
1 INTRODUÇÃO
As tecnologias da informação e comunicação facilitam o armazenamento e o
acesso à informação em diferentes mídias e em diversos contextos. Todavia, para
que o acesso se concretize é necessário que etapas anteriores como a organização
e a representação da informação estejam em sintonia com as tendências das novas
tecnologias. No âmbito da Organização do Conhecimento, os instrumentos
utilizados na fase da organização e representação do conhecimento foram
aprimorados, evoluindo das tradicionais linguagens documentárias, para sistemas
mais complexos como taxonomias e ontologias.
As taxonomias e ontologias são, na atualidade, estruturas classificatórias
utilizadas como instrumentos de organização, representação e recuperação de
informação nas empresas e instituições. Atuando em diversos domínios para
disseminar conhecimento científico, educacional, empresarial etc. Atuam na função
de organizar e administrar os recursos digitais de informação na web, categorizando
estes recursos e dando condições de navegabilidade (MOREIRO-GONZÁLEZ, 2011,
p. 51, 52, 76).
A necessidade da utilização de taxonomias para organizar e representar o
conhecimento disponibilizado por meio de recursos digitais na web está relacionado
à questão do uso da informação, pois de acordo com Giordano; Biolchini (2012, p.
126) “[...] a informação passou a ser buscada e recuperada por diferentes usuários
finais , primeiro em sistemas informatizados de recuperação da informação, mais
tarde, via internet e word wide web”.
Domínios como o de conservação pode ser organizado por métodos
taxonômicos estruturados a partir de uma terminologia que consista numa linguagem
padronizada, permitindo a comunicação entre profissionais, estudantes e demais
envolvidos. Esta comunicação deve considerar questões como interdisciplinaridade.
De acordo com Aranibar (2011, p. 13) “[a conservação trata-se] de uma
ciência interdisciplinar e de aplicação muito abrangente, [...] sua composição
curricular reúne conhecimentos advindos das áreas de humanas, exatas e
biológicas.”
O vínculo da conservação com outras áreas do conhecimento pode acarretar
a ampliação da pesquisa por este tipo de informação. De acordo com Bojanoski
3
(2013, p. 3) “[...] hoje em dia cada vez mais se ampliam o número de agentes
envolvidos ou interessados na preservação do patrimônio cultural”.
Este artigo tem por objetivo apresentar uma proposta de organização e
representação do conhecimento, disponível em recursos digitais na web, sobre
conservação de acervos bibliográficos utilizando como instrumento a Taxonomia
Facetada Navegacional.
Acredita-se que a aplicação da Taxonomia Facetada Navegacional possa
organizar e representar um domínio caracterizado pela interdisciplinaridade, ao
possibilitar sua classificação em categorias ou facetas, considerando que este tipo
de classificação proporciona uma visão multidimensional do objeto, além de dar
condições de navegabilidade, permitindo que o usuário inicie sua navegação a partir
de qualquer faceta ou termo classificado na estrutura, visualizando e recuperando o
conteúdo informacional de forma intuitiva.
2 METODOLOGIA APLICADA
Num primeiro momento foi realizada revisão de literatura. Para o domínio
Taxonomia buscou-se o aprofundamento das bases teóricas com aporte nos
conceitos atribuídos; aplicações; estrutura; características e funções. Nesta fase
foram pesquisados os autores Piedade (1977); Aquino; Carlan; Brascher (2009);
Currás (2010); Vital (2010); Maculan; Lima; Penido (2011); Moreiro-González (2011);
Maculan (2014); Carlan; Brascher (2015).
Para o domínio Conservação de Acervos Bibliográficos buscou-se apresentar
suas principais características e definir os conceitos relacionados a este objeto,
como Preservação, Conservação preventiva e Restauro, de modo que se pudesse
dimensionar o domínio e estabelecer as facetas que o representasse. Os autores
que deram suporte nesta etapa foram Luccas; Seripierri (1995); Spinelli (1997);
ECCO (2002); Cassares (2000; 2008); ABER (2013).
Num segundo momento foi possível escolher e analisar um site relacionado
ao domínio estudado. O site escolhido foi o da Casa do Restaurador.
A escolha obedeceu ao critério de conteúdo informacional representativo
sobre o domínio. O parâmetro utilizado foi a possibilidade de recuperação
informacional em diferentes campos conceituais e pretendeu-se verificar a
navegabilidade e funcionalidade do uso da taxonomia, estruturada em
polihierarquias designadas por facetas.
4
Por fim, as facetas selecionadas foram: Área de armazenagem;
Gerenciamento de riscos; Área de trabalho; Procedimentos de conservação;
Aplicação de materiais; Papéis; Utilização de instrumentos; Utilização de
equipamentos.
3 CONSERVAÇÃO DE ACERVOS BIBLIOGRÁFICOS
“Os acervos bibliográficos [...] são aqueles que compõem os acervos
encontrados em bibliotecas [...], em que o suporte básico é o papel”. (CASSARES,
2008, p. 38).
De acordo com Cassares (2008, p. 37) para o estabelecimento das atividades
desenvolvidas por cada segmento da conservação foi desenvolvido em 2002 um
guia para definição da atuação dos profissionais, denominado Extract from the
ECCO Professional Guidelines I: the definition of the profession , neste guia define-
se os conceitos de “Conservação preventiva”; “Conservação” e “Restauro”.
Conservação preventiva: consiste em ações indiretas e focadas na coleção
para criar condições ideais para preservação do bem cultural. Objetiva retardar a
deterioração e prevenir possíveis danos. (ECCO, 2002, on line, tradução nossa).
Conservação: consiste principalmente em ações diretas realizadas sobre o
bem cultural degradado, cujo objetivo é o de estabilizar suas condições e retardar
futuros processos de deterioração (ECCO, 2002, on line, tradução nossa).
Restauro: consiste em ações diretas no bem cultural deteriorado respeitando
mantendo as características originais (ECCO, 2002, on line, tradução nossa).
Adiciono além de “Conservação preventiva”; “Conservação” e “Restauro”, a
definição de “Preservação” que de acordo com Seripierri (1995, p. 9) [consiste na]
“elaboração das políticas que irão ser adotadas para gerir a conservação”. Já de
acordo com ASSOCIAÇÃO brasileira de encadernação e restauro (2013, p. 3)
“compreende-se como preservação, todas as ações que visam retardar a
deterioração e possibilitar o pleno uso dos bens culturais”.
Com base nas definições atribuídas podemos considerar que “Conservação
preventiva”, “Conservação” e “Restauro” são práticas específicas inseridas na área
da “Preservação” e que “Conservação de acervos bibliográficos” é uma prática
específica da “Conservação”. Esta relação conceitual pode ser visualizada na figura
1.
5
Figura 1: Dimensão do conhecimento sobre Conservação de Acervos
Bibliográficos
Fonte: Elaborado pelo autor
As características gerais do conceito “conservação de acervos bibliográficos”
podem ser descritas como um conjunto de procedimentos técnicos a serem
aplicados no bem cultural deteriorado, como: gerenciamento de riscos, higienização,
reparos, acondicionamento, encadernação. Para que estes procedimentos possam
ser realizados são necessários área de trabalho adequada e insumos como
materiais, instrumentos e equipamentos (OGDEN, 2001, p. 12-13 ; CASSARES,
2000, p. 13, 26-37; SPINELLI, 1997).
O objetivo da atribuição destes conceitos é dimensionar o conhecimento
sobre “Conservação de acervos bibliográficos” para que se possa compreender de
forma mais clara a estrutura da proposta de uma taxonomia facetada navegacional
aplicada na organização e representação do domínio.
4 SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DO
CONHECIMENTO VERSUS CONSERVAÇÃO DE ACERVOS BIBLIOGRÁFICOS
Sistemas de Organização do Conhecimento (SOC) ou Systems Knowledge
Organization (KOS), são sistemas compostos por conceitos que em sua estrutura
semântica contemplam termos, definições, relacionamentos e propriedades dos
conceitos. O objetivo dos SOC na organização e recuperação da informação é a
6
padronização terminológica de assuntos com a finalidade de orientar a indexação e
aos usuários (CARLAN; BRASCHER, 2015).
De acordo com Martinez; Valdez (2008, p. 27 apud ROQUETA, 2011, p. 126,
tradução nossa) dentro do conceito dos SOC as linguagens artificiais possuem a
função de representar tematicamente o conteúdo dos documentos por meio da
indexação e classificação.
Os principais tipos de SOC conforme Carlan; Brascher (2015) e Boccato
(2011), são Sistemas de classificação bibliográficos; Listas de Cabeçalho de
Assuntos; Taxonomias; Ontologias e Tesauros.
Entre os principais tipos de SOC, elegeu-se a taxonomia, baseando-se na
possibilidade de que algumas funcionalidades deste instrumento possam ser
aplicadas com mais eficiência no contexto da conservação.
De acordo com Moreiro González (2011, p. 53-54), as taxonomias
apresentam algumas funcionalidades como: “permitem acrescentar dados, além de
explicitar o modelo conceitual do domínio”; “são um instrumento de organização
intelectual, atuando como um mapa conceitual dos assuntos solicitados em um
Sistema de Recuperação de Informação”; “conectam a experiência e características
do pessoal próprio de cada instituição”; “possibilitam a organização e recuperação
da informação mediante navegação”.
Essas funcionalidades podem ser eficientes quando o domínio apresenta
como característica a “interdisciplinaridade”2. Pois relações interdisciplinares
envolvem maior dinamismo no fluxo de informações; necessidade de visualização da
estrutura conceitual envolvendo as áreas e maior integração entre os agentes
envolvidos. Considerou-se a funcionalidade “organização e recuperação da
informação mediante navegação”3 num contexto geral de uso da informação, no qual
“os recursos informacionais são utilizados no ambiente web por um público mais
heterogêneo”4.
2 ARANIBAR, 2011, p. 13
3 MOREIRO GONZÁLEZ, 2011, p. 53
4 GIORDANO; BIOLCHINI, 2012, p. 126
7
4.1 Taxonomia
A Taxonomia é entendida como uma técnica de classificação, e o uso deste
termo originou-se nas áreas de conhecimento da Botânica e Zoologia, com a
finalidade de classificar as espécies.
De um modo geral a Taxonomia é classificação sistemática, ou seja,
classificação ou categorização hierárquica de um conjunto de objetos (MOREIRO
GONZÁLEZ, 2011, p. 51).
De acordo com Barquín; Moreiro González; Pinto (2006, p. 6), o termo foi
empregado pela primeira vez pelo biólogo suiço Augustin Pyrame de Candolle no
início do século XIX e foi o médico sueco Carolus Linnaeus o expoente mais
destacado da taxonomia, ao desenvolver uma nomenclatura binominal com o
objetivo de identificar as espécies de maneira unívoca, resolvendo os problemas de
comunicação em decorrência da variedade de nomes existentes em diferentes
locais. Esta é a Taxonomia mais conhecida (Taxonomia de Lineu), a proposta dessa
Taxonomia é uma estrutura hierárquica de classificação ordenada da seguinte
forma: espécies afins agrupadas num mesmo gênero e os gêneros em famílias e
assim sucessivamente.
Etimologicamente a palavra “taxonomia” deriva do grego taxis = ordenação e
nomia = lei, norma, regra (CURRÁS, 2010, p. 58).
Segundo Campos; Gomes (2008, on line) no contexto dos sistemas de
informação, a taxonomia considera o táxon, ou seja, a unidade de classificação,
como conceitos e não mais família, gênero, espécie. Ou seja, a unidade de
classificação designa o conceito de modo que este possa ser representado dentro
de uma estrutura hierárquica.
No contexto dos SOC a Taxonomia é definida como termos preferidos de um
vocabulário controlado organizados numa estrutura hierárquica na qual cada termo
está relacionado com um ou mais termos dessa taxonomia e essas relações são do
tipo geral/específico e podem estar conectadas em hierarquia e poli-hierarquia.
(ANSI/NISO Z39.19, p. 18, 2005 apud MACULAN, 2014, p. 67).
4.1.1 Características das taxonomias
As taxonomias são caracterizadas como um instrumento de representação de
uma determinada área do conhecimento.
8
A função das Taxonomias na atualidade é a de organização e recuperação de
informação em empresas e instituições. São meios de acesso atuando como mapas
conceituais de assuntos em um serviço de recuperação. A primeira função das
taxonomias é mais de visualização do que de recuperação informacional, ou seja, as
taxonomias são caracterizadas enquanto um instrumento de representação de uma
determinada área do conhecimento. Objetivam facilitar a comunicação entre
especialistas e um público diverso; encontrar consenso terminológico propondo
formas de controle de vocabulário quando para determinado termo possa haver mais
de um significado (MOREIRO GONZÁLEZ, 2011, p. 51-52; TERRA, et al., 2005, p.
1).
Segundo Moreiro González (2011, p. 52-54), as taxonomias são
caracterizadas por conterem uma lista estruturada de conceitos/termos; incluem
termos sem definição somente com relações hierárquicas; possibilitam a
organização da informação e conhecimento utilizando hierarquias e facetas;
explicitam o modelo conceitual do domínio servindo como mapa conceitual;
possuem rede semântica de conceitos conectando características de cada
instituição; atuam como mecanismo de consulta em portais e as informações podem
ser recuperadas mediante navegação; permitem ao usuário classificar o conteúdo
através das hierarquias; permitem acréscimo de dados de acordo com as
necessidades de uso.
A proposta de aplicação da Taxonomia Facetada Navegacional terá como
base as características mencionadas por Moreiro González (2011, p. 53-54), a
“possibilidade de se recuperar a informação por navegação” e “estrutura em
hierarquias e facetas”. A função dessas características serão abordadas nos
subcapítulos 4.1.2 e 4.1.3, para que possamos compreender sua aplicação na
organização do domínio sobre conservação de acervos bibliográficos.
4.1.2 Estrutura taxonômica polihierárquica
Os conceitos clássicos e os empregados na Ciência da Informação
especificam que as taxonomias obedecem a uma estrutura hierárquica. A estrutura
taxonômica admite mais de uma hierarquia, pode ser polihierárquica ou
multidimencional e de acordo com Carlan; Brascher (2015, p. 152), esta estrutura
possibilita a classificação dos termos em hierarquias diferentes, além de
proporcionar a possibilidade de mais de um caminho para localização da
9
informação, sendo bastante útil quando existe a necessidade da representação
multidimensional do domínio, permitindo que este possa ser visto sob diversos
aspectos.
No domínio conservação de acervos bibliográficos o termo “Higienização”
pode ser classificado na hierarquia “ÁREA DE TRABALHO” e “APLICAÇÃO DE
MATERIAIS”, possibilitando a representação e recuperação de informações
relacionadas a este termo sob diferentes aspectos. De acordo com Vital (2010, p.
76) o estabelecimento das relações semânticas que incidem sobre determinado
termo podem variar de acordo com a hierarquia em que é classificado e sua relação
é definida de acordo com as ligações semânticas estabelecidas dentro de
determinada estrutura conceitual. Inserido na estrutura conceitual “ÁREA DE
TRABALHO” o termo “Higienização” designa o conceito de sub área destinada à
higienização dentro de um laboratório, já na estrutura conceitual “APLICAÇÃO DE
MATERIAIS” o termo “Higienização” designa o conceito de materiais necessários
para executar o procedimento de higienização.
A estrutura taxonômica polihierárquica aplicada ao domínio conservação
permitiria a criação de novas hierarquias possibilitando a classificação de um termo
em hierarquias diferentes.
A necessidade da utilização de múltiplas hierarquias e a classificação de um
termo em diferentes estruturas conceituais está relacionada ao fato do domínio em
questão ser caracterizado pelo vínculo com um número crescente de disciplinas que
de acordo com Bojanoski (2013, p. 3) são:
[...] além das disciplinas basilares da museologia, arquivologia e biblioteconomia, ainda a física, a química, a biologia, a história, a antropologia, a arqueologia, as engenharias, as ciências dos materiais, a arquitetura, as belas artes, as ciências da informação, a informática, dentre tantas outras que aportam conhecimentos para
garantir a preservação adequada dos patrimônios culturais. Pressupõe-se que inserido no contexto de interdisciplinaridade, o domínio de
conservação siga a tendência de ampliação de seu campo conceitual e em
consequência desta ampliação a inclusão de novas hierarquias seriam necessárias
para organizar e representar esta disciplina, assim como a classificação de um
mesmo termo em diferentes hierarquias.
Diante da questão de interdisciplinaridade e consequentemente a ampliação
do campo conceitual do domínio sobre conservação de acervos bibliográficos,
10
considera-se a abordagem de uma taxonomia de estrutura polihierárquica aplicada
na representação e organização deste tipo de conhecimento.
4.1.3 Taxonomia facetada navegacional
A abordagem sobre o conceito de taxonomia facetada navegacional implica
as definições sobre “classificação facetada” e “navegação”, já que estes dois
atributos designados a esta Taxonomia pressupõe a possibilidade de navegação por
meio de facetas.
A Classificação Facetada foi idealizada por Ranganathan5 e denominada
Colon Classification. Este sistema de classificação é constituído de listas de termos
representativos de um determinado conceito ou objeto de classificação. Estes
termos são denominados como facetas. Estas facetas são combináveis no ato de
classificar, de modo que o tema dos documentos em questão possa ser traduzido
devidamente (PIEDADE, 1977, p. 71).
Sobre a “navegação”, Bonilla (2005, p. 139 apud MACULAN, 2014, p. 75)
aponta que esta é baseada em associações de ideias e conceitos e sua organização
é construída sob a forma de links, sendo que estes abrem caminhos para outras
informações.
Na Taxonomia Facetada Navegacional estes links são os próprios termos que
compõem as hierarquias. São navegáveis e permitem o refinamento na recuperação
de conteúdos.
Segundo Maculan (2014, p. 78) o termo “Taxonomia Facetada Navegacional”
designa uma estrutura de organização sistematizada em categorias e que
subordinada a cada categoria há uma hierarquia de facetas e subfacetas, permitindo
a representação multidimensional do domínio.
A Taxonomia Facetada Navegacional possibilita o cruzamento de informações
contidas nos documentos durante o processo de recuperação da informação, por
conta desta vantagem é uma taxonomia recomendada como interface de busca
(MACULAN; LIMA; PENIDO, 2011, p. 243).
5 Autor da Teoria da Classificação Facetada, na qual são definidas as cinco categorias
fundamentais que demarcam a primeira classificação de assuntos dentro de um grande universo, essas categorias são representadas pela sigla PMEST, que significa: Personalidade, Matéria, Energia, Espaço e Tempo (VITAL, 2010, p. 69).
11
O objetivo da Taxonomia Navegacional é possibilitar que as informações
sejam recuperadas de maneira intuitiva pelo usuário. Para isso busca-se a
organização informacional de forma flexível. Embora haja padronização dos termos,
esta não é rígida, pois os tipos de relações estabelecidas devem fazer sentido para
o usuário, podendo-se admitir palavras e frases. A base para definição das unidades
de classificação neste tipo de taxonomia prioriza o comportamento dos usuários em
relação a o conteúdo (AQUINO; CARLAN, BRASCHER, 2009, p. 206).
A estrutura da taxonomia navegacional facetada ao ser constituída por mais
de uma hierarquia permite ao usuário acessar uma quantidade maior de relações
entre as facetas e consequentemente compreender de forma mais ampla o escopo
do domínio em questão durante o processo de pesquisa, eliminando a limitação
imposta pelas estruturas monohierárquicas.
Considerando as características mencionadas sobre as taxonomias facetadas
navegacionais, como uma estrutura poliherárquica que possibilita a organização do
domínio em multi dimensões e a recuperação de conteúdos informacionais durante a
navegação, é válido afirmar que a organização e representação do conhecimento
sobre conservação de acervos bibliográficos encontra maior funcionalidade com a
aplicação da Taxonomia Facetada Navegacional, pois a informação a ser
organizada faz parte de um domínio que pode ser classificado e representado por
meio de facetas e um termo poderá ser classificado em mais de uma faceta. Nesse
domínio observam-se oito facetas.
Figura 2: Apresentação das facetas
Fonte: elaborado pelo autor
12
Os termos podem ser classificados e organizados nas respectivas hierarquias
conforme a figura 3.
Figura 3: Estrutura Polihierárquica6
Fonte: elaborado pelo autor
Nesta estrutura estão representadas as hierarquias designadas por facetas e
a classificação dos termos nas hierarquias.
As figuras 4 e 5 representam respectivamente as facetas APLICAÇÃO DE
MATERIAIS e UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTOS e a possibilidade de classificação
dos mesmos termos em hierarquias distintas.
Figura 4: Aplicação de Materiais
6 O mapa conceitual apresenta apenas as classes principais classificadas nas respectivas
hierarquias.
13
Fonte: Elaborado pelo autor
Figura 5: Utilização de Instrumentos
Fonte: Elaborado pelo autor
Durante a pesquisa sobre materiais e suas aplicações, o usuário visualizará
sob a faceta APLICAÇÃO DE MATERIAIS os assuntos correspondentes a quais
procedimentos de conservação os diversos tipos de materiais deverão ser aplicados
e a navegação poderá ser iniciada a partir de qualquer termo classificado na
hierarquia. O mesmo ocorrerá durante a pesquisa sobre utilização de instrumentos,
na qual o usuário visualizará a faceta UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTOS e
classificados sob essa faceta também estarão dispostos os assuntos
correspondentes aos procedimentos de conservação em que tais instrumentos
deverão ser utilizados.
Esta estrutura permite o refinamento da pesquisa ao acessar termos
específicos subordinados às categorias. Outra característica que pode ser
observada neste exemplo é o fato das unidades de classificação representarem
todas as possibilidades de recuperação por assunto.
Para exemplificar a estrutura da Taxonomia Facetada Navegacional segue a
análise de classificação aplicada no site da Casa do Restaurador7.
Busca-se verificar a possibilidade de recuperação informacional em diferentes
campos conceituais. A partir do recorte do objeto em duas facetas “Restauração” e
“Artesanato”, serão observadas a funcionalidade do uso da taxonomia estruturada
em polihierarquias designadas por facetas
7 Referência no comércio de insumos para conservação e restauro de bens culturais.
14
Figura 6: Faceta Restauração
Fonte: Casa do Restaurador:
<http://www.casadorestaurador.com.br/loja/grupo/06.15/restauracao/acessorios.aspx>. Acesso em:
19 out. 2015.
Navegando pela faceta “Restauração” observamos 26 termos classificados
sob essa hierarquia, entre eles o termo “Acessórios”, as informações recuperadas a
partir do termo “Acessórios” correspondem aos tipos de acessórios de restauro
disponíveis para venda na loja.
Na figura 7 iremos observar que o termo “acessórios” se repete na faceta
“artesanato”.
15
Figura 7: Faceta Artesanato
Fonte: Casa do Restaurador: <
http://www.casadorestaurador.com.br/loja/grupo/473/artesanato/acessorios.aspx>. Acesso em: 19
out. 2015.
As informações recuperadas a partir do termo “Acessórios”, classificado na
faceta “Artesanato”, correspondem aos tipos de acessórios para execução de
artesanato e disponíveis para venda na loja.
A partir das figuras 6 e 7 podemos notar que a organização e representação
da informação relacionada ao escopo da página é estruturada em 11 hierarquias
(categorias designadas por facetas). A partir dessa estrutura foi possível observar
que a função da poliherarquia é possibilitar que um mesmo termo possa ser
classificado em hierarquias diferentes, possibilitando que um assunto possa ser
representado e recuperado em diferentes campos conceituais.
5 PROPOSTA DE ORGANIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DO CONHECIMENTO
SOBRE CONSERVAÇÃO DE ACERVOS BIBLIOGRÁFICOS UTILIZANDO COMO
INSTRUMENTO A TAXONOMIA FACETADA NAVEGACIONAL: RESULTADOS
PARCIAIS
Para esta proposta de taxonomia serão apresentadas as etapas e princípios
estabelecidos para sua definição. O objetivo dessa apresentação é dar consistência
16
e fundamentação a estrutura da taxonomia, assim como confirmar a pertinência
deste instrumento para desempenhar a função de representação e organização
sobre conservação de acervos bibliográficos.
Etapas e princípios para o estabelecimento da proposta:
Investigação sobre a estrutura e construção das taxonomias com base
na revisão literária.
Análise e diagnóstico da estrutura taxonômica aplicada no site da Casa
do Restaurador.
Categorização do domínio (escolha das facetas). Nesta etapa utilizou-
se como método a abordagem indutiva e as categorias fundamentais
estabelecidas por Ranganathan.
Coleta, compilação, definição e padronização dos termos. Nesta etapa
aplicou-se o controle terminológico com base na garantia literária.
Definição da organização das classes inseridas dentro de cada faceta
(sequência das classes baseada em manuais técnicos).
Para a proposta da Taxonomia Facetada Navegacional será apresentada uma
das facetas das oito estabelecidas na categorização do domínio. Lembrando que as
oito facetas estabelecidas foram ÁREA DE ARMAZENAGEM, GERENCIAMENTO
DE RISCOS, ÁREA DE TRABALHO, PROCEDIMENTOS DE CONSERVAÇÃO,
APLICAÇÃO DE MATERIAIS, PAPÉIS; UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTOS e
UTILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTOS. A faceta escolhida para a exemplificação da
proposta foi APLICAÇÃO DE MATERIAIS.
A inclusão das outras sete facetas será aplicada a posteriori, após um estudo
mais detalhado sobre estas categorias, de modo que se possa incluir os termos
classificados nas hierarquias e adequados a representação do domínio.
Como abordado anteriormente durante as etapas para construção da
taxonomia foi utilizado o método indutivo para o estabelecimento das categorias,
embora, de acordo com Vital (2010, p. 68), seja recomendada a utilização dos dois
métodos: “indutivo” e “dedutivo”.
Segundo Vickery (1960 apud VITAL, 2010, p. 68-70), na abordagem do
método dedutivo a determinação das categorias se dá a partir da percepção das
necessidades do trabalho em equipe, especialistas, profissionais da informação e
17
usuários. Já no método indutivo as categorias são determinadas com base na
literatura sobre a área do conhecimento.
De acordo com a especificação dos dois métodos, considerou-se num
primeiro momento que a abordagem indutiva seja suficiente para determinação das
categorias, já que foram consultados manuais sobre conservação, considerando que
nestas fontes a terminologia adotada faz parte da comunicação entre especialistas e
de especialistas para com outros profissionais de bibliotecas responsáveis pela
preservação do acervo.
Na etapa sobre a coleta, compilação e definição e padronização dos termos
Vital (2010, p. 71) afirma que dois princípios devem ser considerados: a garantia
literária e garantia de uso. No caso específico desta proposta foi adotado, num
primeiro momento, somente a garantia literária, também a partir dos manuais
técnicos sobre conservação, considerando o mesmo critério adotado para
determinação das categorias.
A ordem de disposição dos termos classificados na faceta APLICAÇÃO DE
MATERIAIS segue a seguinte questão: Aplicação de materiais em quais tipos de
procedimentos de conservação e em que ordem estes procedimentos são
executados8.
Figura 8: A ordem de disposição dos termos classificados na faceta
Aplicação de Materiais
Fonte: Elaborado pelo autor
8 Os tipos de operações realizadas, assim como a ordem de execução foram baseados no conteúdo
apresentado nos manuais técnicos: “Conservar para não restaurar: uma proposta para preservação de documentos em bibliotecas” e “Como fazer conservação preventiva em arquivos e bibliotecas”, elaborados respectivamente pelas autoras LUCCAS; SERIPIERRI, 1995 e CASSARES, 2000.
18
A ordem dos termos classificados na faceta, ao seguir as instruções
metodológicas contidas em manuais técnicos desempenham a função de
organização para que a informação seja apresentada numa ordem lógica para o
usuário. Durante o processo de navegação, o usuário poderá iniciar sua pesquisa
por qualquer termo e recuperar a informação de forma intuitiva. A recuperação
informacional de forma intuitiva está diretamente relacionada à estrutura da
Taxonomia Facetada Navegacional, que possibilita ao usuário visualizar
determinada classe em uma faceta através da poliherarquia, estimulando a
navegação.
Na figura abaixo será apresentado o resultado parcial do estudo.
Figura 9: Resultado parcial da Taxonomia Facetada Navegacional
Fonte: Elaborado pelo autor
O objetivo desta visualização é representar os conteúdos que poderão ser
acessados durante o processo de navegação, permitindo ao usuário iniciar sua
pesquisa por qualquer um dos termos e a partir destes especificar o assunto de sua
pesquisa.
Ao iniciar a navegação pelo termo “Acondicionamento” o usuário visualizará
os termos classificados que designam os tipos específicos de materiais e sua
aplicação neste procedimento de conservação: “Papéis especiais”, “Filmes de
19
poliéster” e “Adesivos”. O mesmo ocorrerá nos termos restantes, possibilitando a
visualização de um termo classificado em outra hierarquia, que designe um mesmo
tipo específico de material aplicado num procedimento distinto.
O termo “Papéis especiais” também está classificado sob os termos
“Reparos” e “Encadernação”. Navegando através destes termos, o usuário
recuperará informações sobre a aplicação de papéis especiais nos procedimentos
específicos de conservação.
A sequência das classes seguiu a ordem estabelecida nos procedimentos de
conservação, pois o objetivo em dispor as classes seguindo instruções
metodológicas contidas em manuais técnicos foi o de oferecer ao usuário uma
sequência lógica permitindo que a busca por meio da navegação seja efetuada de
forma intuitiva de acordo com sua prática profissional.
5.1 Resultados parciais
Os resultados parciais obtidos até o presente momento foram a observação
da falta de padronização dos termos utilizados na literatura; a categorização do
domínio designado por oito facetas ÁREA DE ARMAZENAGEM; GERENCIAMENTO
DE RISCOS; ÁREA DE TRABALHO; PROCEDIMENTOS DE CONSERVAÇÃO;
APLICAÇÃO DE MATERIAIS; PAPÉIS; UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTOS;
UTILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTOS e a construção da hierarquia que compõe a
faceta APLICAÇÃO DE MATERIAIS como resultado parcial da proposta de
organização e representação do conhecimento sobre conservação de acervos
bibliográficos utilizando a Taxonomia Facetada Navegacional.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A investigação sobre a utilização da taxonomia para organizar e representar o
conhecimento sobre o domínio conservação de acervos bibliográficos possibilitou
observar que sua estrutura hierárquica de classificação pode ser dimensionada em
mais de uma categoria e estas categorias podem ser designadas por facetas
possibilitando a construção de uma taxonomia composta por mais de uma
hierarquia.
A estrutura polierárquica aplicada na organização de recursos digitais permite
ao usuário dimensionar, a partir de sua necessidade de pesquisa, por qual termo
20
iniciará sua navegação e se o recurso em questão atende ou não as necessidades
de pesquisa deste usuário.
A proposta de uma Taxonomia Facetada Navegacional para organizar e
representar o conhecimento sobre Conservação de acervos bibliográficos alcançou
como resultado parcial a construção da hierarquia APLICAÇÃO DE MATERIAIS,
sendo que as demais hierarquias serão desenvolvidas a posteriori. Embora a
hierarquia UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTOS ainda esteja em processo de
construção foi possível visualizar através das figuras 4 e 5 a possibilidade da
classificação de um mesmo termo em hierarquias diferentes.
Para a determinação das facetas não foi efetuada a abordagem dedutiva.
Esta abordagem está prevista como continuidade desta proposta, devendo ser
efetuada através de instrumentos como entrevista e questionários aplicados ao
usuário deste tipo de informação. Deste modo pretende-se estabelecer facetas
consistentes também baseadas na garantia de uso.
Acredita-se que o uso da Taxonomia facetada navegacional, aplicada na
organização e representação do conhecimento sobre conservação de acervos
bibliográficos, permita às instituições e interessados no assunto a ampliação e
intercâmbio de conhecimentos multidisciplinares relacionados à área fomentando o
desenvolvimento e aprimoramento dos procedimentos de conservação.
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