Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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3. SUPERVISÃO E REGULAÇÃO
3.1. INTEGRIDADE, CREDIBILIDADE E SEGURANÇA DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS
3.1.1 Supervisão de Mercados, Entidades Gestoras de Mercados e Sistemas de
Compensação e Liquidação
Em 2012 prosseguiu a supervisão dos mercados e das entidades gestoras de mercados e de sistemas de
liquidação e compensação. Foram, em concreto, supervisionados pela CMVM os mercados a contado e de
derivados geridos pela Euronext Lisbon, o mercado de dívida pública por grosso (MEDIP) gerido pela MTS
Portugal, o sistema de negociação multilateral PEX gerido pela OPEX, o mercado de derivados sobre
electricidade gerido pelo Operador do Mercado Ibérico de Energia (OMIP), o sistema centralizado e o sistema
de liquidação geridos pela Interbolsa e o sistema de compensação e liquidação gerido pela OMIClear.
3.1.1.1 Supervisão das Estruturas de Negociação
A CMVM supervisionou o cumprimento das regras prudenciais relativas à situação económico-financeira das
entidades gestoras de mercados e sistemas, ao funcionamento dos seus sistemas de controlo interno e aos
valores à guarda da Euronext Lisbon no âmbito de fundos de garantia promovidos e geridos por esta entidade.
No caso da Euronext Lisbon, destaca-se também a implementação do mecanismo designado Retail Trading
Facility que visa a melhoria dos preços na execução de vendas de retalho, o que é efetuado através da criação de
duas novas categorias de membros e de fluxos de ordens. Assim, foi criada a categoria dos Especialistas de
Mercado de Retalho (Retail Liquidity Provider), membros de mercado cujas ofertas apenas podem ser cruzadas
com as emitidas pelos Membros Especializados em Retalho (Retail Member Organizations), i.e., membros que
apenas introduzem em mercado ofertas provenientes de clientes de retalho. Esta medida destina-se a atrair um
maior fluxo de negócio de retalho e a aumentar a liquidez deste segmento da negociação.
Salienta-se igualmente a introdução do Sistema de Negociação NAV que permite, mediante a realização de uma
chamada diária, reunir todas as ofertas de subscrição/resgate de unidades de participação de fundos de
investimento, compensando posições contrárias e apresentando apenas o saldo líquido à subscrição e resgate
junto da respetiva sociedade gestora do fundo. As sociedades gestoras recebem notificações em tempo real das
ofertas submetidas e devem confirmar ou rejeitar essas ofertas. Todas as ofertas confirmadas são acumuladas e
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mantêm-se no sistema de negociação NAV da NYSE Euronext para execução. Este sistema contempla os
fundos de investimento abertos negociados em mercado (Exchange-Traded Funds) e outros fundos de
investimento abertos que estejam admitidos à negociação e sejam negociados na NYSE Euronext.
A CMVM monitorizou a migração do mercado de derivados português para a nova plataforma de negociação
(UTP – Universal Trading Platform). Após a migração dos mercados a contado, cujo processo ficou concluído
no início de 2009, a NYSE Euronext iniciou a migração faseada dos instrumentos financeiros derivados. A
migração dos instrumentos negociados no mercado de derivados gerido pela Euronext Lisbon ocorreu no final
do terceiro trimestre de 2012, não se tendo verificado quaisquer incidentes.
Foi efetuada uma ação de supervisão presencial nas novas instalações da OPEX e foi monitorizado o
funcionamento do sistema de negociação multilateral PEX gerido por aquela entidade.
À semelhança do verificado em anos anteriores, prosseguiu a monitorização do preçário da Interbolsa. O novo
preçário desta entidade entrou em vigor em janeiro, e traduziu-se numa redução da comissão que incide sobre as
operações ‘matched’ do Sistema de Liquidação em real time, em benefício dos intermediários financeiros, e na
redução das comissões de manutenção, em benefício dos intermediários financeiros e das entidades emitentes.
A implementação do projeto TARGET2-Securities (T2S), referente à adesão a uma plataforma eletrónica comum
a utilizar na liquidação física de transações de valores mobiliários ao nível europeu, foi acompanhada no âmbito
da supervisão. Para efeitos de adesão ao T2S, as centrais de valores mobiliários devem observar um conjunto de
condições, entre as quais a de terem uma avaliação positiva por parte da autoridade competente no que respeita
ao cumprimento das recomendações ESCB/CESR, de maio de 2009. A CMVM iniciou o processo de
verificação do cumprimento destas recomendações pela Interbolsa, o qual deve estar concluído no fim do
primeiro semestre de 2013.
Destaca-se ainda a transferência (em dezembro de 2012) do registo dos bilhetes de Tesouro para o sistema
centralizado de valores mobiliários gerido pela Interbolsa. Antes daquela data, o registo era efetuado junto do
Sistema de Transferências Eletrónicas de Mercado (SITEME) gerido pelo Banco de Portugal.
Quanto ao OMIP, é de destacar o facto de a entidade gestora ter sido designada pela ERSE como responsável
pela organização dos leilões de venda da Produção em Regime Especial por parte do comercializador de último
recurso Português. O primeiro leilão ocorreu ainda em 2011, tendo sido realizados mais quatro em 2012. Foram
efetuados ajustamentos às regras que enquadram o funcionamento dos leilões, designadamente no que respeita à
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introdução da possibilidade de a quantidade a adjudicar no leilão poder ser variável, permitindo conjugar os
interesses dos agentes de mercado e o preço resultante do leilão.
Foram submetidas a registo outras regras de funcionamento do mercado de derivados gerido pelo OMIP no
sentido de ir ao encontro das necessidades dos agentes que participam neste mercado e de contribuir para a sua
dinamização. Destas, destaca-se a introdução de novas condições de execução para as ofertas inseridas na
plataforma de negociação e a introdução da figura de negociação por leilão de bloco de produtos a pedido de um
membro negociador. É ainda de referir a extensão do período de negociação dos contratos admitidos à
negociação, aproximando o último dia de negociação do primeiro dia do período de entrega e a inclusão do
contrato Ano+3, que permite negociar em maturidades mais distantes, à semelhança do que se verifica em
mercados congéneres a nível internacional.
No que se refere à OMIClear, câmara de compensação com funções de contraparte central e entidade
responsável pela gestão do sistema de liquidação das operações realizadas/registadas no mercado de derivados
do MIBEL, foi acompanhada a sua atividade quer relativamente às transações executadas no mercado
regulamentado, gerido pelo OMIP, quer no que respeita às transações executadas fora de mercado e registadas
junto desta entidade para efeitos de compensação e interposição como contraparte central. Foi também iniciado
o processo de revisão das regras de funcionamento da OMIClear com vista à sua adaptação ao estabelecido no
Regulamento (UE) n.º 648/2012, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de julho de 2012, relativo aos
derivados do mercado de balcão, às contrapartes centrais e aos repositórios de transações (EMIR).
3.1.1.2 Supervisão da Negociação
O Sistema Integrado de Vigilância de Abuso de Mercado (SIVAM) e a fase de análise de operações, anterior à
de investigação, continuaram a revelar-se determinantes no combate ao abuso de mercado. A supervisão em
tempo real da negociação de instrumentos financeiros nos mercados regulamentados acionista e obrigacionista
através daquele sistema permitiu detetar 117 situações de possível abuso de mercado, uma vez que
corresponderam a negócios em que o preço foi considerado anormal face à informação específica conhecida
pelo mercado e/ou a quotas elevadas de intervenção na negociação por parte dos membros negociadores,
acompanhados de divulgação de informação considerada price sensitive mas sem divulgação prévia no sistema
de difusão de informação.
Como consequência da aplicação continuada dos procedimentos de supervisão e de um maior cumprimento das
obrigações legais pelas entidades emitentes, assistiu-se durante o ano a uma diminuição gradual do tempo que
medeia entre a divulgação de informação a prestar ao mercado e o momento da verificação ou deteção do facto
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que origina o dever de divulgação. Não obstante, foi solicitada a prestação de esclarecimentos a 11 emitentes
relativamente a 24 situações consideradas suscetíveis de afetar a informação a circular no mercado, a correta
formação dos preços e/ou a proteção do investidor. Os procedimentos adotados resultaram na publicação de 10
comunicados de informação privilegiada ao mercado.
Ainda no âmbito dos referidos procedimentos, a CMVM determinou a suspensão da negociação de ações
admitidas à negociação em mercado regulamentado em quatro situações, envolvendo três entidades emitentes,
por se entender não estar garantida a não incorporação nas cotações de informação não divulgada publicamente
ou por necessidade de incorporação de informação relevante a divulgar durante a sessão de bolsa. As ações
suspensas foram as da Brisa, Fisipe e Banco Santander (neste último caso na sequência de suspensão ordenada
pelo regulador espanhol). Verificaram-se também outros quatro casos de suspensão da negociação de ações e de
dois contratos de futuros, ambos por decisão da Euronext. Um dos casos nos contratos de futuros deveu-se à
suspensão da negociação do ativo subjacente, e o outro foi justificado pela necessidade de obter mais
informação relativamente ao pagamento de dividendos extraordinários pelas ações subjacentes. O número de
dias em que se registaram suspensões da negociação desceu para seis, substancialmente inferior aos 211 dias
registados no ano anterior (influenciado pela suspensão das ações da Papelaria Fernandes entre 26 de março de
2009 e 27 de julho de 2011).
Foram ainda reforçados os procedimentos de supervisão da negociação dos mercados de dívida pública e
privada iniciados em anos anteriores e foi prestada particular atenção à negociação em mercado regulamentado
das novas emissões obrigacionistas.
Prosseguiu-se também a atividade de supervisão das vendas a descoberto (short-selling) nos mercados
regulamentados nacionais, de acordo com o estipulado no Regulamento da CMVM n.º 4/2010 e, a partir de 1 de
novembro, em conformidade com o Regulamento n.º 236/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 14 de
março. Importa ainda destacar o desenvolvimento de procedimentos internos com vista à aplicação do referido
Regulamento europeu, designadamente aplicações informáticas com vista à recolha, tratamento e divulgação de
informação ao mercado.
No âmbito da supervisão da negociação foram ainda analisadas, numa base periódica, as falhas de liquidação de
operações realizadas em bolsa, nomeadamente as relativas a ações de títulos que integram o PSI20. A análise
conjunta da rentabilidade diária dos títulos (e respetiva comparação com a rentabilidade do índice benchmark),
da quantidade de ações cuja entrega falhou relativamente à negociação ocorrida três dias antes da data prevista
de liquidação e da reincidência/aumento da falha na sessão seguinte permite identificar situações atípicas.
Potenciais situações anómalas suscetíveis de serem associadas a vendas curtas descobertas (naked short-selling)
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são selecionadas. Os membros compensadores/liquidadores são questionados quanto à razão que motivou a
falha e à identificação do membro negociador responsável por ordenar a operação que originou a falha.
Em 2012 foram solicitados esclarecimentos relativamente a 76 situações de falha de liquidação sobre ações de
títulos do PSI 20, com maior incidência nos meses de maio, junho e dezembro. Os membros negociadores
remotos foram responsáveis por cerca de 67% dessas situações.
Em geral, as falhas de liquidação são atribuídas ao cliente do membro negociador, ou a uma contraparte em
mercado de balcão (OTC) do cliente do membro negociador ou do próprio membro negociador. As falhas
relacionam-se sobretudo com a falta de títulos ou de instrução no sistema de liquidação para cobrir/liquidar a
posição. Muitas vezes estas situações relacionam-se com questões operacionais e informáticas, que impediram
que a liquidação ocorresse até ao último ciclo de liquidação na data prevista. O membro negociador possuiria os
títulos em questão, mas por atraso do respetivo custodiante ou por incapacidade de em tempo útil realocar os
títulos dentro do grupo, ocorreu uma falha na data de liquidação (que na maioria dos casos foi sanada no dia
seguinte). A título de exemplo, um determinado cliente de um membro de negociação poderá transacionar ações
no mercado através desse membro negociador e ter os títulos sob custódia em um outro membro negociador.
Assim, um atraso na transferência dos títulos do custodiante do cliente para o custodiante do membro de
negociação poderá originar uma falha de liquidação. Em outras situações o membro compensador indicou que o
seu cliente não tinha posição para entregar, embora tenha ‘coberto’ a operação através de um contrato OTC,
instruindo tarde a respetiva ‘trade’, com data de liquidação posterior à data de liquidação da transação. Todavia,
em algumas situações o membro compensador indicou apenas que o cliente não tinha posição para entregar, o
que pode indiciar situações suscetíveis de serem associadas a naked short-selling. Estas situações são objeto de
análise aprofundada. As falhas atribuídas a uma contraparte OTC do cliente do membro negociador ou do
próprio membro negociador são uma parte significativa das falhas de liquidação e resultam da falta da entrega
de títulos pela contraparte na data de liquidação prevista. Nestes casos o cliente do membro negociador teria
‘coberto’ a operação através de um contrato OTC, cujo recebimento não ocorreu na data prevista, originando
assim falha de liquidação.
3.1.2 Supervisão da Intermediação Financeira
A supervisão das atividades de intermediação financeira50 foi reforçada no que se refere à implementação de
mecanismos e procedimentos específicos que permitam aos intermediários financeiros cumprir com total
50 Nesta seção procede-se ao reporte das atividades de supervisão da intermediação financeira, reservando porém para uma seção específica (a seguinte) o reporte das atividades de gestão de ativos.
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eficácia o normativo em vigor, bem como à verificação das práticas por aqueles seguidas nas relações
comerciais que estabelecem com os seus clientes.
Relativamente à supervisão presencial da gestão de ativos destaca-se a implementação de três modelos
autónomos de gestão de risco. Cada um destes modelos é especificamente aplicável à atividade de gestão de
fundos de investimento mobiliário e imobiliário, à atividade de capital de risco e à atividade de titularização de
créditos. O objetivo prosseguido é o de dotar a CMVM de maior eficácia.
Durante o ano concretizaram-se 28 ações de supervisão presencial junto de intermediários financeiros e outras
entidades gestoras (15 no ano anterior). As ações de supervisão presencial conduzidas no âmbito da gestão de
ativos incluíram novas matérias de que são exemplo, entre outras, benefícios ilegítimos, conflitos de interesse,
segregação patrimonial, relação com as entidades subcontratadas, valorização de ativos e encargos imputados
aos fundos de investimento.
CAIXA 5 – A ATIVIDADE DE SUPERVISÃO COM DESLOCAÇÃO ÀS INSTALAÇÕES DOS SUPERVISIONADOS
A CMVM continuou a reforçar a supervisão comportamental in loco das diversas atividades de intermediação
financeira. A supervisão junto de entidades gestoras de organismos de investimento coletivo continuou a ser
uma prioridade, verificando-se um reforço do número de ações de supervisão. Salienta-se também o início de
ações de supervisão presencial às Sociedades de Capital de Risco, às Sociedades Gestoras de Fundos de
Titularização, às Sociedades de Titularização de Créditos e às Entidades Comercializadoras de produtos unit-
linked.
Ações de Supervisão Presencial
No segmento da gestão de ativos foram realizadas 17 ações de supervisão presencial, sendo 15 de rotina e duas
excecionais. Nas ações de supervisão efetuadas a entidades gestoras de fundos de investimento mobiliário e
2008 2009 2010 2011 2012Sociedade Gestoras de Fundos de Investimento Imobiliário - 1 3 4 2Sociedades Gestoras de Fundos de Investimento Mobiliário - 1 4 5 6Sociedades de Capital de Risco - - 1 - 5Sociedades Gestoras de Fundos de Titularização - - - - 2Sociedades de Titularização de Créditos - - - - 1Entidades Comercializadoras de Unit-Linked - - - - 1Entidades Comercializadoras de Unidades de Participação - - - - -Soceidades Gestoras de Patrimónios 1 3 2 1 3Instituições de Crédito, Sociedades Corretoras e Sociedades Financeiras de Corretagem 6 7 6 5 7Sucursais de Empresas de Investimento - - - - 1
TOTAL 7 12 16 15 28Fonte: CMVM.
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imobiliário, cinco abrangeram exclusivamente a gestão de fundos de investimento mobiliário e três
exclusivamente a gestão de fundos de investimento imobiliário.
As ações de supervisão presencial de rotina às sociedades gestoras incidiram particularmente sobre as seguintes
vertentes: i) organização e meios da sociedade gestora, incluindo procedimentos existentes ao nível do controlo
interno, prevenção do branqueamento de capitais e gestão e controlo dos riscos inerentes à atividade; ii)
benefícios ilegítimos, conflitos de interesses e segregação patrimonial; iii) valorização dos ativos e supervisão
prudencial de OIC; iv) imputação de custos e proveitos aos fundos geridos; v) acompanhamento, controlo e
validação de normas e procedimentos específicos exigidos; vi) avaliação de imóveis e do investimento em
sociedades imobiliárias no caso específico de fundos de investimento imobiliário; e vii) relação com as
entidades subcontratadas e controlo das tarefas asseguradas pelas mesmas, no caso específico da titularização.
Nas entidades gestoras de fundos de investimento mobiliário, as áreas onde se detetou um maior número de
situações de incumprimento foram as seguintes: i) organização, meios humanos e materiais (designadamente
integração de aplicações informáticas), políticas e procedimentos implementados; ii) políticas de conflitos de
interesses e realização de operações condicionadas (autorização/não oposição da CMVM); iii) formalização e
implementação dos serviços de gestão de riscos e de auditoria interna, e relatórios inerentes a estes serviços; iv)
suporte formal da tomada de decisões (investimento e financiamento); v) Violação da Lei n.º 25/2008 de 05 de
junho, relativo à prevenção do branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo; vi) controlo de limites
e autolimites dos fundos; viii) reconciliações de ativos, em particular de depósitos; ix) valorização de imóveis:
existência de critérios e consistência na sua aplicação; x) respeito pelo princípio da especialização de exercício;
e xi) conformidade dos relatórios de avaliação de imóveis com a regulamentação em vigor.
Já nas entidades gestoras de fundos de investimento imobiliário as áreas que apresentavam maiores
insuficiências foram: i) formalização da tomada de decisões de investimento; ii) valorização de ativos
financeiros; iii) tempestividade no registo patrimonial de operações realizadas por conta dos fundos geridos; iv)
implementação de procedimentos de apuramento e controlo dos montantes devidos a título de retrocessão de
comissões por investimento em unidades de participação de fundos de investimento, bem como de limites à
atuação dos gestores de fundos de investimento; v) registo autónomo de operações realizadas fora de mercado
regulamentado; vi) remuneração de depósitos bancários constituídos por conta dos fundos geridos; vii)
comunicação à CMVM da celebração de contratos de subcontratação de serviços de auditoria interna, avaliação
dos ativos não cotados e gestão operacional dos serviços informáticos; e viii) comunicação à CMVM de
operações realizadas por colaboradores das entidades gestoras.
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Numa sociedade gestora de fundos de investimento imobiliário a CMVM solicitou o envolvimento do
departamento de auditoria interna relativamente aos procedimentos instituídos na elaboração de reconciliações
bancárias.
Na ação de supervisão presencial efetuada a uma entidade comercializadora de unit-linked, cuja regulação e
supervisão é partilhada com o Instituto de Seguros de Portugal, a análise efetuada (supervisão comportamental,
definida por recurso ao conceito de “deveres de conduta”) incidiu sobre os deveres que se impõem às entidades
distribuidoras do produto no relacionamento com os clientes, em particular em matérias de prestação de
informação, consultoria, publicidade, prospeção, comercialização e mediação.
Tiveram ainda lugar duas ações de supervisão presencial a sociedades gestoras com o objetivo específico de
validar a adequação de meios para o exercício da atividade de gestão de organismos de investimento coletivo
mobiliário. Uma delas foi efetuada para efeitos de registo de uma nova sociedade gestora e a outra para reinício
de atividade no âmbito da autorização para a constituição de um fundo de investimento mobiliário por parte de
uma sociedade gestora que, embora autorizada, já não exercia atividade há algum tempo.
Na área de capital de risco e no âmbito do registo prévio simplificado destas sociedades foram realizadas cinco
ações com vista a aferir da existência dos meios materiais e humanos necessários à gestão de fundos de capital
de risco. Concluiu-se que as sociedades cumprem genericamente as normas aplicáveis, tendo-se detetado alguns
incumprimentos e/ou insuficiências, com particular destaque para as áreas de organização e meios humanos e
materiais, formalização e implementação de políticas e procedimentos ao nível de conflitos de interesse e gestão
de risco, avaliação de ativos de capital de risco e registos contabilísticos relativos a rendimentos e gastos
imputados.
Na sequência das situações detetadas, e atrás referidas, a CMVM notificou as diversas entidades gestoras com o
intuito de serem cumpridas as normas infringidas, bem como emitiu recomendações relativamente a melhores
práticas nas áreas identificadas.
O ano pautou-se também por ações de supervisão a intermediários financeiros (onze, abrangendo quatro
instituições de crédito nacionais, três sociedades gestoras de património, duas sociedades corretoras, uma
sociedade financeira de corretagem e uma sucursal de empresa de investimento) que tiveram particular ênfase
nas seguintes matérias: i) classificação de clientes e avaliação da adequação das operações e produtos aos
clientes; ii) organização interna, de forma a averiguar se os meios humanos, materiais e técnicos são os
necessários para prestar os serviços em condições adequadas de qualidade, profissionalismo e de eficiência do
mercado; iii) salvaguarda dos bens dos clientes, onde é verificada a segregação patrimonial entre os ativos do
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cliente e os do intermediário financeiro; iv) prestação de informação aos clientes, com especial destaque na
informação prestada sobre as características dos instrumentos financeiros, de forma a assegurar a devida tomada
de decisão dos clientes; e v) ativos sob gestão, com o objetivo de verificar se foram cumpridas as normas
relativas à valorização da carteira.
Matérias Analisadas nas Ações de Supervisão Presencial
Na sequência destas ações de supervisão dez intermediários financeiros receberam notificações para a
regularização das situações de incumprimento detetadas nas seguintes áreas:
- Classificação de clientes e testes de adequação: informação incompleta relativa aos conhecimentos e
experiência em matéria de investimento no que respeita ao tipo de instrumento financeiro ou ao serviço
considerado, que permita ao intermediário avaliar se o cliente compreende os riscos envolvidos;
- Organização interna: deficiências na definição de procedimentos internos (definição de responsabilidades das
várias áreas e segregação de funções, entre outros);
- Segregação patrimonial: insuficiência na formalização de procedimentos de avaliação e de seleção de
custodiantes bem como a sua avaliação periódica, e ainda na distinção dos bens de clientes dos bens da
sociedade e reconciliação periódica das contas;
- Prestação de informação aos clientes: deficiência/insuficiência na informação pré-contratual e pós-contratual a
investidores;
- Valorização de ativos: ausência de políticas e procedimentos escritos aplicáveis à valorização dos instrumentos
financeiros registados nas carteiras geridas;
- Mecanismos de gestão de risco: ausência de políticas e procedimentos escritos para identificar e gerir riscos.
IC SGP SC SFC SUC EI SGFIM SGFII SCR SGFTC STC ECUL TotalClassificação de Clientes e Testes de Adequação 4 3 1 1 0 0 0 0 0 0 0 9Best Execution 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 2Agentes Vinculados 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 2Comercialização de Instrumentos Financeiros e Equiparados 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2Cumprimento do Mandato de Gestão 1 2 0 1 0 0 0 0 0 0 0 4Prestação de Informação aos Clientes 2 2 1 0 1 0 0 0 0 0 0 6Benefícios Ilegítimos e Conflitos de Interesses 1 1 0 0 0 3 3 5 0 0 0 13Segregação Patrimonial 2 3 2 1 0 0 1 5 0 0 0 14Organização Interna, Gestão e Meios 3 3 2 1 0 3 1 5 2 1 0 21Mecanismos de Gestão de Riscos 1 1 1 1 0 0 0 5 2 1 0 12Sistema de Controlo do Cumprimento 0 1 1 0 0 0 1 0 2 1 0 6Serviço de Auditoria Interna 0 1 0 0 0 0 0 0 2 1 0 4Valorização de Ativos 1 3 0 1 0 1 1 5 0 0 0 12Branqueamento de Capitais 0 1 0 0 0 0 0 0 2 1 0 4Financiamentos 0 0 0 0 0 3 2 3 0 0 0 8Encargos Imputados 0 0 0 0 0 3 1 5 2 0 0 11Cumprimento do Regulamento de Gestão 0 0 0 0 0 3 0 5 0 0 0 8Comercialização de Unit-Linked 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1Outras Matérias 0 0 0 0 0 0 3 5 2 1 0 11Fonte: CMVM
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Supervisão dos Relatórios do Sistema de Controlo Interno
Através da análise dos relatórios de controlo interno foi aferida a adequação e o efetivo cumprimento das
políticas e procedimentos dos intermediários financeiros para a deteção e a gestão de riscos de incumprimento
dos deveres a que se encontram sujeitos. Essa análise incluiu um exame crítico às deficiências reportadas pelas
áreas de auditoria e gestão de riscos dos intermediários financeiros, bem como aos seus potenciais impactos na
estrutura, organização e saúde financeira dos intermediários. Foi verificada a existência de planos específicos
para a correção de tais insuficiências e ajuizada a razoabilidade dos prazos para a respetiva implementação. As
principais insuficiências identificadas nos relatórios do sistema de controlo interno foram idênticas às do ano
anterior: i) desenvolvimentos informáticos insuficientes e predominância de controlos e mecanismos manuais de
inserção de informação; ii) procedimentos deficientes na comercialização de produtos financeiros complexos a
clientes; iii) ausência de procedimentos e controlos insuficientes para a gestão de alguns riscos detetados; iv)
existência de deficiências na forma de contratação com entidades responsáveis pela custódia de valores
mobiliários; v) inexistência ou desatualização de planos de continuidade de negócio e de planos de recuperação
de acidentes; e vi) ausência de independência e autonomia da função de gestão de riscos.
Foram recebidos e analisados 54 relatórios de controlo interno relativos a sociedades gestoras de fundos de
investimento mobiliário e imobiliário (47), a sociedades gestoras de fundos de titularização de créditos (três) e a
sociedades de titularização de créditos (quatro), referentes ao segundo semestre de 2011 e ao primeiro semestre
de 2012. A análise permitiu identificar várias deficiências, fundamentalmente relacionadas com a omissão de
aspetos obrigatórios e substanciais, designadamente: i) existência de deficiências que transitaram de relatórios
de controlo interno anteriores e que não foram corrigidas ou não foi justificado o adiamento do calendário
inicialmente previsto para a sua resolução; ii) ausência de evidência do desenvolvimento de procedimentos por
parte da função de controlo do cumprimento (compliance) e inexistência de demonstração do requisito de
independência do responsável por esta função; iii) prestação de informação insuficiente em relação ao serviço
de auditoria interna, nomeadamente no que respeita à apresentação do plano de trabalhos e à data da última
auditoria interna relativa a cada área funcional da sociedade; iv) omissão ou insuficiente descrição dos riscos
relacionados com cada atividade de intermediação financeira exercida e com os procedimentos e sistemas de
controlo existentes; e v) omissão noutros requisitos formais exigidos, designadamente, na identificação dos
responsáveis por unidade orgânica, na correspondência entre áreas funcionais e unidades de estrutura, no
número e montante agregado das operações analisadas em cumprimento com a Lei do Branqueamento de
Capitais, no número e montante agregado de ordens e operações sobre instrumentos financeiros analisadas no
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âmbito da defesa do mercado, no detalhe das reclamações recebidas e na informação sobre atividades exercidas
por agentes vinculados.
Em alguns casos verificou-se insuficiência da informação veiculada pelos relatórios de controlo interno. Nessas
situações, foi pedida informação adicional. As entidades que já apresentavam deficiências em anos anteriores
foram objeto de acompanhamento mais intenso.
Refira-se que 2012 foi o primeiro ano em que foram remetidos relatórios de controlo interno pelas sociedades de
titularização de créditos, na sequência do entendimento da CMVM de que a moldura legal e regulamentar
relativa a requisitos de controlo interno para os Intermediários Financeiros se aplica àquelas sociedades.
Supervisão dos Relatórios dos Auditores Externos
Os auditores devem remeter à CMVM um relatório sobre a adequação dos procedimentos adotados pelos
intermediários financeiros para a salvaguarda dos bens de clientes, tal como previsto pelos artigos 306.º a 306.º-
D do CódVM. Foram analisados 43 relatórios e em 9% dos casos foram reportadas insuficiências. As principais
insuficiências inventariadas pelos auditores respeitaram a: i) normas e manuais de procedimentos internos
inexistentes e/ou desatualizados; ii) não comunicação à CMVM das diferenças de quantidades entre os títulos
registados na aplicação de custódia e as quantidades apresentadas pelas entidades custodiantes, que persistiam
há mais de um mês; iii) deficiente/inexistente avaliação formal das entidades custodiantes; e iv) incorreta
validação e monitorização de documentação referente às instruções de clientes.
As quatro grandes empresas internacionais de auditoria continuaram a prestar os seus serviços à maioria dos
intermediários financeiros analisados (77%, o que compara com 63% em 2011).
Também foram analisados os relatórios de auditoria relativos às contas dos fundos de investimento mobiliário e
dos fundos de investimento imobiliário referentes a 31 de dezembro de 2011 e a 30 de junho de 2012. As
reservas apontadas nesses relatórios respeitaram, essencialmente, a problemas relacionados com a avaliação dos
ativos, como sejam o não reconhecimento de imparidades e o facto de existirem avaliações de imóveis com
antiguidade superior ao prazo legal. As ênfases corresponderam fundamentalmente a critérios ou métodos de
valorização de ativos, incumprimento de limites legais (ao investimento, composição do património ou VLGF
mínimo), a incerteza nos pressupostos utilizados na avaliação de imóveis por parte dos peritos avaliadores,
imposto sobre mais-valias potenciais, mudança de auditor e problemas de comparabilidade das demonstrações
financeiras (devido a limitações existentes em anos anteriores ou ao facto de se tratarem de fundos novos).
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
151
CMVM
Quadro 59 - Relatórios dos Auditores Relativos às Contas dos Fundos de Investimento Mobiliário e Imobiliário
No capital de risco foram analisados - e retiradas as respetivas ilações - 101 relatórios de auditoria referentes às
contas das sociedades de capital de risco (31) e dos fundos de capital de risco (70) em 31 de dezembro de 2011.
Verificou-se a existência de 62 relatórios sem reservas e sem ênfases, seis com reservas e com ênfases, três
apenas com reservas e 30 apenas com ênfases. As reservas respeitam fundamentalmente à valorização dos
investimentos em carteira ou a imparidades relativas a valores registados nas rubricas de contas a receber. As
ênfases corresponderam principalmente a ausência de comparativos das demonstrações financeiras (devido ao
facto de se tratarem de fundos novos), à temática dos critérios ou métodos de valorização de ativos, a alterações
nas políticas contabilísticas ou ao reforço nos ajustamentos do valor das participadas.
Foram também analisados – e igualmente extraídas as ilações devidas - 39 relatórios de auditores referentes à
certificação de contas anuais de fundos de titularização de créditos, dos quais três continham ênfases, e quatro
relatórios de auditores relativos às contas anuais de sociedades de titularização de créditos, dos quais um
continha ênfases.
Supervisão da Atividade de Análise Financeira51
A supervisão da atividade de análise financeira assenta num conjunto de procedimentos base, de que se
destacam:
• O acompanhamento diário das recomendações divulgadas pelos intermediários financeiros nacionais e
estrangeiros sobre emitentes cotadas na Euronext Lisbon;
• O acompanhamento diário da divulgação de recomendações de investimento por parte de terceiros,
nomeadamente, por meios de comunicação social;
• A verificação do cumprimento do disposto nos artigos 12.º-A e seguintes do CódVM;
51 Para informação mais detalhada sobre a atividade de supervisão da atividade de análise financeira ver o relatório Relatório Anual de Supervisão da Atividade de Análise Financeira – 2012 disponível em www.cmvm.pt.
Relatórios dos Auditores 31.12.2010 30.6.2011 31.12.2011 30.6.2012
Número de Relatórios 359 153 537 308 Enfâses 91 45 205 71 Reservas 7 1 7 5Fonte: CMVM.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
152
CMVM
• O modelo de deteção de rendibilidades anormais e verificação da existência de rendibilidade anormal em
títulos sobre os quais tenham sido divulgadas recomendações de investimento;
• Os pedidos de esclarecimentos aos intermediários financeiros relacionados com recomendações e/ou relatórios
de research, solicitando o envio do modelo de avaliação em causa, quando se justifique;
• A análise aprofundada desses modelos de avaliação;
• Numa base trimestral, a verificação do cumprimento pelas empresas de investimento e pelas instituições de
crédito que emitem ou divulgam recomendações de investimento de terceiros, da divulgação no seu sítio na
internet da informação referente à “percentagem das recomendações de comprar, manter, ou vender, ou
expressões equivalentes, no conjunto das suas recomendações”, assim como “a percentagem de recomendações
relativas a emitentes aos quais aquelas entidades prestaram serviços bancários de investimento significativos nos
últimos 12 meses anteriores à elaboração da recomendação”, conforme estipulado no n.º 5 do artigo 12.º-C do
CódVM. Foram supervisionados os sítios na internet de 11 intermediários financeiros nacionais, e confirmou-se
um elevado grau de cumprimento do disposto no CódVM. Por norma, tem-se verificado que muitos
intermediários financeiros estrangeiros também apresentam essa informação nos seus relatórios de research.
A supervisão desta atividade desenvolve-se em três vertentes distintas: i) uma análise no sentido de verificar a
conformidade das recomendações de investimento com a regulamentação em vigor, nomeadamente a
informação obrigatória a publicar nos relatórios de investimento pelos intermediários financeiros; ii) uma
análise sumária quanto ao conteúdo das recomendações de investimento, por forma a aferir a coerência dos
pressupostos da avaliação com o price target apresentado. É dada especial atenção a relatórios de início de
cobertura de emitentes e a situações em que se altera o sentido da recomendação, podendo passar-se a uma
análise aprofundada, caso se justifique; e iii) uma análise aprofundada, em que se analisa com maior detalhe a
recomendação de investimento. Uma análise aprofundada é geralmente desencadeada quando se verifica que
determinado intermediário financeiro apresenta o preço-alvo mais elevado (ou mais baixo) do mercado para um
determinado emitente, aquando de uma divulgação de uma recomendação de investimento, ou no âmbito de
processo de análise ou investigação de potenciais práticas de manipulação de mercado. Sempre que necessário,
são solicitados elementos adicionais e esclarecimentos por forma a validar o conteúdo e o sentido das
recomendações de investimento, nomeadamente o modelo de avaliação subjacente à recomendação de
investimento. Procede-se ainda à análise de notícias envolvendo o setor/empresa, bem como outras
recomendações de investimento sobre o mesmo emitente.
Foram analisadas de forma aprofundada 15 situações relacionadas com recomendações de investimento,
incluindo 60 relatórios de research, quatro disclaimers, bem como um modelo de avaliação subjacente a um
relatório de investimento). Uma das análises aprofundadas foi desencadeada na sequência de um relatório em
que o preço-alvo caiu cerca de 47% e a recomendação de investimento permaneceu inalterada. Neste caso o
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
153
CMVM
preço de mercado da ação caiu numa magnitude idêntica ao preço-alvo entre as datas de emissão de dois
relatórios sucessivos, separados apenas por cerca de quatro meses. A análise dos vários relatórios não concluiu
pela confirmação das suspeitas iniciais de que o analista havia deliberadamente descido a avaliação da empresa
para acompanhar a evolução do preço em mercado.
Num outro caso, foi realizada uma análise aprofundada a vários relatórios de investimento produzidos por um
intermediário financeiro estrangeiro, em que o preço-alvo foi revisto para o valor mais baixo até essa data e a
recomendação de investimento subjacente passou de ‘Venda’ para ‘Compra’. Também neste caso o preço da
ação desceu significativamente desde o início de 2011, mais do que o índice PSI20, o que era apontado pelo
analista como um dos principais fatores que justificaram a recomendação de compra. A análise aprofundada
concluiu que os relatórios eram bastante completos do ponto de vista do detalhe da revisão das estimativas e dos
pressupostos de avaliação, bem fundamentados e consistentes entre si.
Foi realizada uma outra análise aprofundada a dois relatórios de um intermediário financeiro estrangeiro em que
o preço-alvo foi ligeiramente revisto em alta e a recomendação de investimento passou de ‘Neutral’ para
‘Venda’ no último relatório, uma situação aparentemente contraditória. Neste tipo de casos é frequente existirem
análises subsequentes de forma a determinar se terá ocorrido manipulação de mercado entre as datas de
divulgação dos dois relatórios.
Um outro fator que recorrentemente origina uma análise aprofundada está relacionado com a existência de
rendibilidade anormal no dia em que é publicado um research sobre o emitente. Numa destas situações foi
analisado um relatório emitido por um intermediário financeiro estrangeiro em que o preço-alvo e a
recomendação de investimento permaneceram inalterados embora o analista referisse que tinha baixado
significativamente as suas estimativas ao longo do horizonte temporal, pelo que foram solicitados
esclarecimentos ao intermediário financeiro. Numa outra análise aprofundada foram solicitados esclarecimentos
a um intermediário financeiro nacional relativamente a um relatório de apenas uma página e em que o preço-
alvo caiu cerca de 50%. A análise incluiu ainda o relatório de research imediatamente anterior, no qual a
avaliação também já havia caído significativamente. Neste caso foram solicitados esclarecimentos ao analista e,
apesar de os mesmos serem tidos como adequados, foi determinado que os relatórios passassem a incluir
informação explicativa sobre as variações dos preços-alvo de maior magnitude e profundidade.
Em 2012 foi desenvolvido um novo tipo de análise, as ‘análises de intervenção rápida’. Estas análises visam
identificar eventuais casos de manipulação de mercado através da instrumentalização do research. São análises
a relatórios de investimento mais detalhadas do que as análises sumárias e mais rápidas do que as análises
aprofundadas, e procuram alertar prontamente para a divulgação de research suscetível de alterar a negociação,
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
154
CMVM
quer pelo seu conteúdo, quer pelo facto de incluírem mudanças significativas dos preços-alvo e/ou do sentido da
recomendação. Foram efetuadas 25 análises de intervenção rápida durante o ano.
A CMVM identificou 524 recomendações de investimento em 2012, das quais 48% foram elaboradas por
intermediários financeiros nacionais e 52% por estrangeiros (676 recomendações no ano anterior). Foram
recebidos, diariamente, relatórios de research de 25 intermediários financeiros, dos quais 10 são nacionais e 15
são estrangeiros (11 nacionais e 20 estrangeiros em 2011).
Gráfico 64 – Tipologia das Recomendações de Investimento
Fontes: Bloomberg, Reuters e Intermediários Financeiros.
Os cinco intermediários financeiros mais ativos na produção de research sobre empresas cotadas na Euronext
Lisbon concentraram 61% do total das recomendações. Verificou-se uma vez mais o abandono da cobertura de
algumas ações por intermediários financeiros estrangeiros e um nacional. A reduzida liquidez do mercado
regulamentado e as ofertas públicas de aquisição sobre a Cimpor e a Brisa terão certamente contribuído para
esta situação.
Cinco títulos (EDP Renováveis, Galp Energia, Jerónimo Martins, EDP e Portugal Telecom) concentraram 40%
das recomendações emitidas (38% em 2011). Em quatro destas empresas (EDP Renováveis, Galp Energia, EDP
e Portugal Telecom) registou-se uma subida do preço-alvo médio. O emitente que registou a maior subida de
preço-alvo médio foi a Portugal Telecom (de EUR 4,32 para EUR 6,39).
3.1.3 Supervisão à Atividade de Gestão de Ativos
Supervisão da Gestão de Investimento Coletivo
No que respeita especificamente à supervisão quotidiana da atividade da gestão coletiva de investimentos
prosseguiram os procedimentos de supervisão prudencial dos fundos de investimento mobiliário e imobiliário,
no âmbito do controlo da informação periódica reportada pelas entidades gestoras, designadamente quanto ao
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
2007 2008 2009 2010 2011 2012
Comprar Manter Vender
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
155
CMVM
acompanhamento das carteiras geridas, aos valores divulgados das unidades de participação, à prevenção e
gestão de conflitos de interesses e ao acompanhamento dos processos de liquidação de fundos.
Quanto ao acompanhamento das carteiras geridas pelos fundos de investimento, as respetivas sociedades
gestoras foram notificadas para regularizar as situações detetadas que se mostraram não totalmente conformes
com as exigências legais ou regulamentares aplicáveis. Os incumprimentos verificados relativamente a fundos
de investimento mobiliário (FIM) relacionaram-se, fundamentalmente, com o incumprimento da respetiva
política de investimentos, nomeadamente o investimento em ativos não elegíveis e a ultrapassagem de limites
legal ou contratualmente definidos. Os principais incumprimentos na esfera dos fundos de investimento
imobiliário (FII) respeitaram a deficiências na alocação das carteiras a valores imobiliários e na valorização dos
imóveis integrantes das mesmas. A reduzida dimensão do património de alguns fundos que, por se encontrarem
abaixo do nível mínimo do montante sob gestão legalmente exigido foi uma preocupação da CMVM. Foi
também verificado o cumprimento de outras regras aplicáveis à atividade dos fundos de investimento,
nomeadamente quanto ao cumprimento dos deveres de prestação de informação e ao investimento em
instrumentos financeiros derivados.
O reforço dos procedimentos de análise dos erros de valorização das unidades de participação dos fundos de
investimento foi prosseguido. Atentas as exigências regulamentares aplicáveis nestas situações (deveres de
prestação de informação e de ressarcimento dos participantes e/ou dos fundos), foram analisados 438 processos
relativos a erros de valorização de unidades de participação de fundos de investimento (mais do triplo do
número registado no ano anterior), dos quais 178 respeitaram a FIM e 260 a FII. Destes, 99 (77 nos FII e 22 nos
FIM) foram detetados no âmbito da supervisão prudencial, enquanto a deteção dos restantes teve origem nas
próprias entidades gestoras. Tendo por objetivo a recolha atempada de toda a informação relevante referente a
erros de valorização, foi remetida uma circular às entidades gestoras através da qual se passou a exigir,
imediatamente após o pagamento ou o crédito na conta do fundo e/ou dos participantes, informação sobre os
montantes ressarcidos e a respetiva data de processamento.
A prevenção e a gestão de conflitos de interesses mantiveram-se como preocupações primordiais da CMVM.
Neste âmbito, foi efetuada uma análise transversal às carteiras dos fundos especiais de investimento com vista
ao apuramento do nível de concentração de investimento numa mesma entidade ou num conjunto de entidades
pertencentes ao mesmo grupo económico da entidade gestora, em especial em alguns fundos que incumpriam o
princípio de diversificação de riscos (nomeadamente por investirem exclusivamente em depósitos constituídos
junto de entidades bancárias do grupo a que pertence a entidade gestora). Foram também objeto de análise
quatro pedidos efetuados por entidades gestoras com vista à aplicação excecional de dispensa da proibição de
realização de operações com entidades relacionadas relativamente aos ativos ilíquidos integrantes das carteiras
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
156
CMVM
de fundos de investimento mobiliário. As principais justificações subjacentes a estes pedidos foram as condições
adversas de mercado e o interesse dos participantes, uma vez que o objetivo último era a resolução do
incumprimento de limites ao investimento e a liquidação subsequente dos fundos de investimento mobiliário
que integravam ativos ilíquidos. Na generalidade dos casos foi permitida esta dispensa, mediante sujeição a
condições de preço consideradas adequadas à salvaguarda dos interesses dos participantes.
A prevenção e a gestão de potenciais conflitos de interesses no âmbito da apreciação de operações com
entidades relacionadas mereceram também um destaque especial na esfera dos FII. Foram objeto de apreciação
nove processos de autorização de operações de aquisição ou alienação de imóveis por FII e cinco operações de
arrendamento. No âmbito dos procedimentos de supervisão foram adicionalmente detetadas operações de
alienação de imóveis e de arrendamento não submetidas a apreciação prévia, indo as mesmas ser objeto de
apuramento de eventual responsabilidade contraordenacional.
Os processos de liquidação de fundos, particularmente os relativos a fundos estruturados liquidados por terem
atingido o prazo previsto na respetiva constituição, foram acompanhados de perto. A análise efetuada incidiu
principalmente na validação do correto apuramento dos montantes a liquidar aos participantes e no cumprimento
das disposições aplicáveis, nomeadamente em sede de divulgação de informação.
Quadro 60 – Liquidação de Fundos de Investimento por Motivo
Foram também supervisionados os critérios de valorização dos ativos integrantes das carteiras de fundos de
investimento mobiliário. Tendo em conta a degradação das notações de risco da dívida pública portuguesa e de
outros estados europeus, foi efetuada uma análise transversal às carteiras no que toca ao cumprimento dos
requisitos de rating a observar no investimento em obrigações (estabelecidos nos documentos constitutivos dos
fundos). Na sequência desse processo, algumas entidades gestoras foram notificadas no sentido de corrigirem os
incumprimentos verificados, através da alteração da carteira dos fundos em conformidade com o estabelecido
nos documentos constitutivos ou, alternativamente, da devida alteração dos documentos constitutivos. Neste
último caso, por se tratar de uma modificação substancial da política de investimentos, foi efetuada
comunicação individual das alterações aos participantes e foi-lhes concedida a possibilidade de resgatarem o seu
investimento sem o pagamento da respetiva comissão (quando esta existia).
N.º de Fundos
Fundos Mobiliários 26Termo de Vida do Fundo 12Liquidação Antecipada por Decisão da Entidade Gestora 14
Fundos Imobiliários 14Termo de Vida do Fundo 1Liquidação Antecipada por Decisão da Entidade Gestora 13
Total 40Fonte: CMVM.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
157
CMVM
Foram ainda realizadas análises pontuais ao conteúdo de prospetos de fundos de investimento mobiliário
divulgados no sistema de difusão de informação, com base nas quais se detetaram inconsistências de informação
que, na sua maioria, originaram posterior análise em sede de responsabilidade contraordenacional.
Capital de Risco
Continuou a ser aplicado o modelo de análise semestral de indicadores económico-financeiros das sociedades de
capital de risco com o objetivo de supervisionar os rácios financeiros mais relevantes, as principais rubricas do
Balanço e a Demonstração de Resultados e o cumprimento dos limites impostos pelo Código das Sociedades
Comerciais. Neste âmbito, verificou-se a fiabilidade e a consistência dos reportes e das demonstrações
financeiras efetuados pelas sociedades de capital de risco e pelas entidades gestoras de fundos de capital de risco
ao abrigo das disposições legais e regulamentares em vigor.
No que respeita aos fundos de capital de risco, e tendo em conta a alteração do normativo contabilístico ocorrida
em 2010, o foco da supervisão prudencial incidiu sobretudo no acompanhamento da evolução do valor líquido
global dos fundos e do valor das unidades de participação. Foi ainda solicitada informação às diferentes
entidades gestoras sobre os participantes dos fundos de capital de risco tendo em vista uma maior perceção do
tipo de investidores e a consequente dinamização da supervisão.
Por último, as reservas e ênfases constantes dos relatórios de auditoria das sociedades e fundos de capital de
risco, com especial incidência nas questões relativas à valorização das participações detidas, foram objeto de
análise aprofundada. O acompanhamento e a clarificação destas situações motivaram pedidos de esclarecimento
às entidades gestoras e a realização de reuniões com os auditores.
Titularização de Créditos
Foram supervisionadas cinco operações de emissão de obrigações titularizadas e foi efetuado o controlo sobre a
estruturação dessas operações e sobre a adequação dos fundos próprios das respetivas sociedades de
titularização de créditos. Adicionalmente, a CMVM supervisionou detalhadamente 51 carteiras de créditos
afetas a emissões de obrigações titularizadas que se encontravam em período de revolving.
Os quatro processos de liquidação antecipada de fundos de titularização que se concretizaram no ano foram
acompanhados de perto, o que incluiu a verificação das condições de liquidação antecipada estabelecidas no
Regulamento de Gestão, a análise de toda a documentação contratual disponível e a análise das condições de
retransmissão dos créditos.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
158
CMVM
Peritos Avaliadores de Imóveis
Foram examinados 114 relatórios de avaliação de imóveis. Entre outros aspetos, foi validada a objetividade e a
completude dos relatórios e a informação de responsabilização dos peritos avaliadores. Foi dada especial
atenção à verificação da utilização de pelo menos dois dos métodos de avaliação previstos na regulamentação, à
razoabilidade dos pressupostos utilizados na avaliação e à existência de indicação clara quanto ao valor
atribuído ao imóvel, e foram dirigidos diversos pedidos de esclarecimentos aos peritos avaliadores. Foi
solicitada a correção das situações de incumprimento dos requisitos legais ou regulamentares aplicáveis.
Supervisão da Comercialização de Produtos de Investimento em Bens Corpóreos
Não foi comunicada a comercialização de contratos desta natureza. Todavia, a CMVM manteve-se vigilante no
que respeita ao efetivo exercício da atividade em Portugal.
3.1.4 Supervisão de Auditores Externos
Foi dada continuidade à realização periódica de ações de supervisão presencial a auditores externos. As ações de
supervisão são determinadas com base num modelo de risco definido e aprovado internamente e têm por
objetivo contribuir para a melhoria da qualidade das práticas profissionais e comprovar a manutenção, pelo
auditor, das respetivas condições de registo.
Nos termos do artigo 14.º do Decreto-Lei n.º 225/2008, de 20 de novembro, a CMVM interveio presencialmente
junto de auditores no âmbito da realização de ações de supervisão e fez-se representar em equipas de inspeção
designadas pelo Conselho Nacional de Supervisão de Auditoria (CNSA). Em 2012 foram efetuadas ações de
supervisão a quatro auditores. No âmbito dessas ações foi examinada a estrutura e o funcionamento do auditor –
incluindo os requisitos de independência e de avaliação do sistema interno de qualidade – e a adequação dos
procedimentos de auditoria realizados às contas de entidades com valores mobiliários admitidos à negociação na
Euronext Lisbon e às contas de organismos de investimento coletivo. Na sequência de uma ação de supervisão
foi dado seguimento ao processo instaurado contra uma SROC, registada como auditor na CMVM.
No acompanhamento regular dos auditores foram escrutinadas as medidas adotadas para sanar as irregularidades
detetadas em ações de supervisão realizadas em anos anteriores. Foram igualmente examinados os resultados
dos processos de controlo de qualidade realizado pela OROC a auditores registados, no caso de não terem sido
abrangidos pelos trabalhos de supervisão do CNSA sobre o processo de controlo de qualidade efetuado pela
OROC.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
159
CMVM
Foram ainda objeto de análise os relatórios elaborados por auditores registados na CMVM, nos termos do artigo
8.º do CódVM, sobre a informação financeira contida em documentos de prestação de contas ou em prospetos e,
sempre que justificado, foram pedidos esclarecimento adicionais e/ou correções aos respetivos textos.
A CMVM manteve um diálogo colaborante com os auditores e promoveu o agendamento de reuniões com o
intuito de esclarecer alguns aspetos relativos à informação financeira auditada. Foram emitidas circulares
alertando para determinados deveres, designadamente de prestação de informação anual obrigatória e de
divulgação de informação remetida às emitentes sobre a preparação e apresentação das demonstrações
financeiras.
A CMVM esteve ainda envolvida em várias outras atividades relacionadas com a supervisão de caráter
internacional de auditores, da qual se destaca, a título exemplificativo, a participação – no âmbito do CNSA - no
European Group of Auditors' Oversight Bodies e no European Audit Inspection Group.
3.1.5 Governo das Sociedades52
As principais características da estrutura acionista das sociedades de direito nacional cotadas na Euronext
Lisbon mantiveram-se inalteradas face ao ano anterior. No final de 2011, 57,3% do capital social relativo a
participações qualificadas ponderado pela capitalização bolsista era detido por residentes e 42,7% por não
residentes. O free float medido pelo capital social foi de 22,3% em média, e rondou os 28% quando medido em
termos de capitalização bolsista.
Não se registaram alterações nas escolhas das empresas relativas aos modelos de governo. Manteve-se a
predominância do modelo latino, que era adotado em cerca de 73% das 44 emitentes analisadas. Quando
ponderado pela capitalização bolsista, os modelos latino e anglo-saxónico tinham um peso equivalente, o que
significa que, embora adotado em menos emitentes, o modelo anglo-saxónico era adotado em empresas de
maior dimensão. Entre as empresas do modelo latino manteve-se a predominância da opção de constituição de
uma Comissão Executiva (22 em 32 empresas).
A dimensão média do órgão de administração aumentou ligeiramente face ao ano anterior, passando de 10
membros para 10,1. Os órgãos de administração eram maioritariamente compostos por membros não
executivos. O peso relativo dos administradores independentes nos conselhos de administração diminuiu
ligeiramente para 29,1% (30,0% no ano anterior). Restringindo o universo de análise aos membros não
52 Para informação mais detalhada sobre a atividade de supervisão da temática do governo das sociedades ver o relatório Relatório Anual sobre o Governo das Sociedades disponível em www.cmvm.pt.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
160
CMVM
executivos, a percentagem de independentes atingia os 36,6%, pelo que, em média, a recomendação da CMVM
(mínimo de 25%) sobre a matéria era adotada.
As remunerações pagas aos membros do órgão de administração, no âmbito do perímetro de consolidação das
sociedades cotadas, atingiram EUR 131,0 milhões (aproximadamente EUR 293,2 mil por administrador). As
remunerações fixas representaram 60,6% do total auferido e as variáveis 27,3%. Entre as demais formas de
remuneração utilizadas ressaltam os fundos e planos de pensões (plano de benefícios definidos) que se
traduziram em 7,4% da remuneração total global (forma de remuneração encontrada em oito sociedades). As
rúbricas referentes a outros benefícios de longo prazo, pagamentos através de ações e outros representaram
0,9% e foram encontradas em três sociedades. Por fim, e contrariamente a anos anteriores, não existiam registos
de benefícios de cessação de emprego e não foram reportados créditos concedidos pelas empresas aos seus
administradores.
A percentagem média de capital social presente ou representado nas assembleias realizadas foi de 75,4% (72,6%
em 2010). Havia cinco sociedades com limites máximos no exercício dos direitos de voto, que oscilavam entre
os 5% e os 20%. Por outro lado, foram 18 as sociedades que declararam existir deliberações acionistas que, por
imposição estatutária, só podem ser tomadas com maioria qualificada com as respetivas percentagens a
oscilarem entre os 50% (em duas empresas) e os 75% (em dois casos também).
As sociedades emitentes recorreram aos serviços de nove auditores externos diferentes. O índice Herfindahl-
Hirschman [HHI] calculado a partir das quotas de mercado apuradas tendo por base a capitalização bolsista dos
emitentes foi de 3415,5 pontos em 2011, valor que compara com 3684,3 pontos referentes ao ano anterior, em
ambos os casos denotando índices de concentração elevados. Em 37 empresas foram prestados outros serviços à
sociedade e/ou respetivo grupo distintos dos de auditoria. Os serviços de auditoria totalizaram menos de 50%
dos honorários pagos ao auditor em quatro sociedades emitentes, e em duas dessas o peso dos serviços de
auditoria em sentido lato (auditoria e fiabilidade) foi inferior a 50%.
O grau médio de adoção das Recomendações da CMVM sobre o Governo das Sociedades aumentou
significativamente, passando de 74% em 2010 para 89% em 2011, para o que contribuiu a nova abordagem que
passou a contabilizar como acolhidas as recomendações cuja não adoção pela sociedade se encontrava
devidamente justificada. Com efeito, tendo presente o espírito do princípio comply or explain, foram
consideradas como cumpridas as recomendações não adotadas nos casos em que a sociedade emitente deu uma
explicação efetiva para o não cumprimento. Todavia, a percentagem global de adoção das recomendações teria
aumentado para os 77% mesmo que não tivesse sido considerada esta abordagem, o que denota um esforço
acrescido de adoção das melhores práticas de governação pelas sociedades.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
161
CMVM
No que respeita à aplicação do princípio comply or explain, em 53% das situações de incumprimento das
recomendações a explicação avançada pelas sociedades foi tida como efetiva, um aumento de 14 p.p. face ao
ano anterior. Nas situações em que se considerou não existir justificação efetiva para o não cumprimento das
recomendações encontram-se também aquelas em que a sociedade não reconheceu a não adoção e, como tal,
não forneceu qualquer explicação. Atendendo apenas às situações de não cumprimento em que não houve
divergência entre a autoavaliação das sociedades e a avaliação da CMVM, o grau de explicações tidas como
efetivas aumentaria para cerca de 79% (60% em 2010).
3.1.6 Controlo da Informação das Emitentes
As emitentes estão sujeitas a deveres de prestação de informação financeira nos termos dos artigos 7.º e 245.º e
seguintes do CódVM. Essa informação foi analisada no âmbito do acompanhamento contínuo da atividade
dessas entidades. A CMVM pode ordenar a publicação de informações complementares nos termos do artigo
250.º, no âmbito dos poderes que lhe são conferidos nos artigos 360.º e seguintes do CódVM. Trata-se da
divulgação de informação privilegiada e de informação respeitante a participações qualificadas por parte das
emitentes que também foi exigida e verificada.
3.1.6.1 Supervisão da Informação Financeira
O modelo de supervisão da informação de emitentes utilizado baseia-se no risco e cumpre com as orientações da
ESMA, estabelecidas nomeadamente nos Standards n.º 1 (ref. CESR/03-0731) e n.º 2 (ref. CESR/03-317c2).
Através da verificação da aplicação adequada das normas internacionais de relato financeiro (IAS/IFRS)
procurou-se assegurar a comparabilidade da informação divulgada pelas diferentes entidades e incrementar a
qualidade e a transparência da informação em que os investidores baseiam a sua tomada de decisões.
Gráfico 65 – Supervisão da Informação Financeira -
Número de Ações Adotadas Gráfico 66 - Análises de Demonstrações Financeiras -
Número de Emitentes
Fonte: CMVM
11
2
0
6
4
6
17
6 6
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
2010 2011 2012Informação Complementar ao Mercado
Informação para Corrigir em Futuras Dem. Financeiras
Total Ações
13
8
12
8
13
7
21 2119
0
5
10
15
20
25
2010 2011 2012
Total Parcial Total Emitentes Revistos
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CMVM
Seguindo a prática de anos anteriores, os emitentes foram de novo alertados (circular anual sobre Envio e
publicação dos documentos de prestação de contas anuais previstos no artigo 245.º do CódVM e artigo 8.º do
Regulamento da CMVM n.º 5/2008) para algumas disposições das IAS/IFRS que deviam merecer um adequado
acolhimento tendo por objetivo assegurar a qualidade da informação a divulgar ao mercado e a proteção dos
investidores.
A informação financeira divulgada ao mercado pelos emitentes revelou uma melhoria generalizada de
qualidade. Constatou-se, porém, a necessidade de aperfeiçoar a informação relativa aos riscos a que os emitentes
se encontram expostos e os pressupostos utilizados na determinação do justo valor de instrumentos financeiros
(exigida pela IFRS 7), bem como a informação relativa aos pressupostos utilizados pelos gestores na avaliação
da imparidade de ativos não financeiros com particular destaque para o goodwill (exigida nos termos da IAS
36). A análise sobre a devida aplicação das normas em vigor incidiu ainda sobre o reconhecimento de impostos
diferidos associados a prejuízos reportáveis (exigida pela IAS 12).
3.1.6.2 Apresentação de Informação Financeira
As entidades com valores mobiliários admitidos à negociação em mercado regulamentado elaboraram os seus
documentos de prestação de contas anuais consolidadas de acordo com as IAS/IFRS. Na preparação das contas
individuais as sociedades adotaram, por sua opção, o normativo local (Sistema de Normalização Contabilística -
SNC) ou o internacional. As entidades que preparam apenas contas individuais aplicam as IAS/IFRS.
Todos os emitentes divulgaram os documentos de prestação de contas anuais de 2011 no sítio da CMVM na
internet, ainda que se tenham registado alguns atrasos. O número de atrasos (cinco) registados no envio e/ou na
divulgação das contas anuais diminuiu face ao ano anterior (nove). Foram dois os emitentes cujos relatórios de
auditoria respeitantes às contas consolidadas foram objeto de reservas (três no ano anterior). As reservas
apontadas pelos auditores (quatro) constituem reservas por limitação de âmbito, correspondendo pois a situações
em que o auditor se deparou com limitações ao trabalho desenvolvido e, face às situações apontadas, não pôde
ajuizar sobre a situação patrimonial da entidade. Nas contas individuais registou-se também uma diminuição no
número de emitentes com reservas no relatório do auditor (de quatro para três). As reservas levantadas nestes
casos também corresponderam a reservas por limitação de âmbito.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
163
CMVM
Gráfico 67 – Opinião dos Auditores
Fonte: CMVM.
Foram 57 os emitentes que divulgaram informação financeira anual ao mercado nos termos do disposto nos
artigos 245.º e seguintes do CódVM, dos quais 47 eram emitentes de ações admitidas à negociação em mercado
regulamentado. No seguimento do lançamento de OPA pelo Montepio Geral sobre o Finibanco Holding e do
subsequente processo de consolidação, o Finibanco SA deixou de ter obrigações admitidas à negociação em
mercado regulamentado, pelo que diminuiu de 11 para 10 o número de emitentes com outros valores mobiliários
admitidos à negociação que, nos termos do artigo 245.º-A do CódVM, prestaram informação financeira anual
respeitante ao exercício de 2011.
Foram 56 os emitentes de valores mobiliários admitidos à negociação obrigados a divulgar informação
financeira respeitante ao primeiro semestre do exercício de 2012, nove dos quais tinham apenas admitidos à
negociação no Euronext Lisbon obrigações, warrants e/ou certificados. Não ocorreu qualquer atraso na
divulgação dos documentos de prestação de contas semestrais.
Quadro 61 - Informação Semestral a Divulgar
93,0%94,6%
93,1%94,5% 94,7%
96,4%
7,0%5,4%
6,9%5,5% 5,3%
3,6%
80%
90%
100%
Contas Individuais Contas Consolidadas
Contas Individuais Contas Consolidadas
Contas Individuais Contas Consolidadas
Sem Reservas Com Reservas
Relatórios 2010Relatórios 2009 Relatórios 2011
Individuais - Plano de Contas Local
Individuais e Consolidadas - IAS/IFRS
Relatório de Gestão O IAS 34Balanço O IAS 34Demonstração de Resultados O IAS 34Anexos ao Balanço e Demonstração Resultados O IAS 34Resumo da Informação por Segmentos O IAS 34Parecer do Auditor Registado na CMVM F FLista de Transações de Valores Mobiliários Emitidos pela Sociedade eefetuadas pelos Titulares de Órgãos Sociais
O O
Lista de Titulares de Participações Qualificadas O OFonte: CMVM.
Ações na Eurolist by Euronext Lisbon
Legenda: O - Obrigatório; F - Facultat ivo (n.º 3 do artigo 8.º do Cód.VM); IAS34 – Relato Financeiro Intercalar, norma que define o conteúdo e
divulgações e identifica os princípios contabilísticos de reconhecimento e de mensuração na elaboração das contas semestrais segundo as NormasInternacionais de Contabilidade.
Documentos
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CMVM
As entidades com ações admitidas à negociação em mercado regulamentado têm o dever de divulgar informação
financeira trimestral elaborada de acordo com a IAS 34. As sociedades que não ultrapassem os limites
estabelecidos no artigo 246.º-A do CódVM são excluídas do âmbito de aplicação desta norma e reportam a
informação trimestral nos termos do modelo aprovado pela CMVM. Registou-se apenas um atraso pontual no
envio e na divulgação da informação financeira respeitante ao primeiro trimestre, não tendo ocorrido qualquer
atraso na divulgação da informação relativa ao terceiro trimestre.
3.1.6.3 Participações Qualificadas
A supervisão efetuada através do acompanhamento da estrutura acionista, do controlo societário e do
cumprimento dos deveres de comunicação de participações qualificadas em sociedades emitentes conduziu à
realização de nove ações de supervisão com vista à clarificação da cadeia de controlo e imputação das
participações qualificadas, das quais sete foram finalizados em 2012 e duas deverão ser concluídas em 2013.
3.1.6.4 Elisões de Presunção
Foram recebidos três pedidos de elisão de presunção de imputação agregada de direitos de voto, nos termos e
para os efeitos previstos no n.º 5 do artigo 20.º do CódVM. Os requerimentos foram entregues por entidades que
eram parte de contratos de financiamento para aquisição de ações que, para efeitos de salvaguarda dos interesses
patrimoniais do credor, celebraram subsequentemente acordos relativos à venda da totalidade ou de parte dessas
ações. Tais acordos, por respeitarem à transmissibilidade de ações, presumem-se instrumentos de exercício
concertado de influência para efeitos de aplicação do n.º 4 do artigo 20.º do CódVM, gerando imputação dos
respetivos direitos de voto às contrapartes do acordo, salvo prova de que a relação estabelecida entre elas é
independente da influência, efetiva ou potencial, sobre a sociedade participada.
Em todos os casos encontrava-se em causa a concessão a terceiro (entidade financiadora) de um mandato de
venda de ações representativas do capital social de sociedades cotadas, e a respetiva presunção foi elidida em
virtude da demonstração quanto à inexistência de indícios de atuação concertada entre as partes e de prova de
que a concessão do referido mandato constituía apenas o estabelecimento de mecanismos de salvaguarda dos
interesses patrimoniais das entidades financiadoras, incumbidas da alienação dos valores mobiliários em causa
para efeitos exclusivos de satisfação dos seus créditos.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
165
CMVM
3.1.7 Registos e Autorizações
3.1.7.1 Intermediação Financeira
O número de intermediários financeiros registados na CMVM voltou a diminuir, de 120 para 118, por força da
fusão por incorporação do BPN - Banco Português de Negócios, SA no Banco BIC Português, SA com
alteração da denominação social do BPN - Banco Português de Negócios para Banco BIC Português, do
cancelamento do registo do BNP Paribas Wealth Management, SA - Sucursal em Portugal, da IG Markets
Limited - Sucursal em Portugal (esta última uma empresa de investimento) e da Intermoney Portugal -
Sociedade Financeira de Corretagem, e do registo de dois novos intermediários financeiros, a Intermoney
Valores, Sociedad de Valores, SA - Sucursal em Portugal e a Fund Box – Sociedade Gestora de Fundos de
Investimento Mobiliário, SA (autorizada para o exercício da atividade de gestão de instituições de investimento
coletivo mobiliário).
O número de empresas de investimento em regime de livre prestação de serviços aumentou em 161 entidades,
para as 2.505 no final do ano.
3.1.7.2 Gestão de Ativos
Fundos de Investimento Mobiliário e Imobiliário
Em matéria de autorizações para a constituição de fundos de investimento, verificou-se uma diminuição no
número total de fundos de investimento, mobiliário e imobiliário, autorizados pela CMVM em 2012 (27, face
aos 44 do ano anterior). Nos fundos especiais de investimento autorizados três não chegaram a ser constituídos e
nos demais 11 que entraram em atividade, cinco eram abertos e seis fechados de oferta pública. No caso dos
fundos de investimento imobiliário, foi autorizada a constituição de mais fundos do que no ano anterior. Porém,
apenas quatro dos fundos autorizados iniciaram a atividade em 2012, todos por subscrição particular (dois
FIIAH e dois FEII). A autorização caducou entretanto em dois dos demais sete.
O mercado tem revelado uma apetência crescente por FIIAH. As razões subjacentes poderão residir não só no
facto de se tratar de um instrumento recente (foram introduzidos no ordenamento jurídico português pela Lei do
Orçamento de Estado de 2008 – Lei n.º 64-A/2008 de 31 de dezembro), como também no ambiente económico
do país e em particular das famílias, que têm sentido dificuldades em honrar o pagamento de créditos à
habitação. Nos termos do artigo 5.º da citada Lei, os mutuários de contratos de crédito à habitação que procedam
à alienação do imóvel objeto do contrato a um FIIAH podem celebrar com a respetiva entidade gestora um
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CMVM
contrato de arrendamento. Tal arrendamento concede ao arrendatário um direito de opção de compra do imóvel
ao fundo, suscetível de ser exercida até 31 de dezembro de 2020.
Quadro 62 – Processos Administrativos de Fundos de Investimento
Por outro lado, verificou-se um acréscimo significativo no número de liquidações de fundos de investimento
iniciadas em 2012 (40, face a 22 no ano anterior). Foram liquidados 12 fundos de investimento mobiliário pelo
decurso do prazo de maturidade inicialmente previsto (11 FEI e um fundo de obrigações de taxa fixa) e
liquidaram-se antecipadamente outros 14, neste caso por decisão da entidade gestora, em geral devida à
reduzida dimensão dos montantes sob gestão e pelo fluxo de resgates verificado. Foi o caso de nove FEI (sete
abertos e dois fechados), dois fundos flexíveis abertos, dois fundos de obrigações de taxa fixa abertos e um
fundo de poupança reforma. Quanto aos fundos de investimento imobiliário, foi concluído o reembolso aos
participantes do produto da liquidação de 12 fundos (quatro deles FEII), quatro dos quais haviam iniciado o
processo de liquidação em anos anteriores. Nos fundos imobiliários, foi ainda iniciado o processo de liquidação
de 14 fundos, um dos quais porque o fundo atingiu a maturidade. Nos demais 13 casos a decisão de liquidação
foi tomada pelos participantes, tendo sido invocada, na generalidade dos casos, a evolução desfavorável do
mercado imobiliário ou as alterações do regime fiscal subjacente. Tendo em conta o desfasamento temporal até
à liquidação financeira dos fundos em virtude das atuais condições de mercado e a consequente dificuldade na
alienação dos imóveis, tem sido autorizada a prorrogação do prazo de liquidação dos FII além do período de um
ano.
Houve ainda situações em que fundos de investimento mobiliário se extinguiram por via de processos de fusão,
na sua maioria motivados pela reduzida dimensão dos fundos e com o objetivo de obter economias de escala
OICVM 2 122 8 6 Fundos Harmonizados 2 103 8 5 Mercado Monetário 0 0 0 0 Tesouraria 0 12 0 0 Obrigações 1 22 2 3 Mistos 1 13 0 0 Ações 0 38 4 0 Fundos de Fundos 0 3 1 0 Garantidos 0 0 0 0 Flexíveis 0 15 1 2 FPA 0 3 0 0 FPR/E 0 16 0 1 Fundos Fechados 0 0 0 0 Outros Fundos Não Harmonizados 0 0 0 0Fundos Especiais de Investimento 14 59 0 20Fundos de Investimento Imobiliário 11 161 0 12 Abertos 0 8 0 0 Fechados 1 86 0 8 Arrendamento Habitacional 4 9 0 0 Fundos Especiais de Investimento Imobiliário 6 52 0 4 Fungepi 0 6 0 0TOTAL 27 342 8 38Fonte: CMVM.
¹ Considera-se, para efeitos da referida classificação, a tipologia do fundo incorporante.
LiquidaçãoFusão¹Autorização para
AlteraçãoAutorização para
ConstituiçãoTipo de Fundo
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CMVM
relativamente à gestão do respetivo património. Em oito processos de fusão de fundos de investimento
mobiliário, extinguiram-se 11 fundos de investimento, dos quais sete fundos de ações, um fundo especial de
investimento, um fundo misto de obrigações e dois fundos de obrigações.
No âmbito da constituição de fundos de investimento fechados, foram registados seis fundos especiais de
investimento através de oferta pública de distribuição, menos quatro do que no ano transato. No que respeita aos
processos de constituição por oferta particular de distribuição, foram registados dois fundos especiais de
investimento imobiliário e dois fundos imobiliários de arrendamento habitacional.
Foram ainda objeto de não oposição 342 processos de alteração aos documentos constitutivos de fundos de
investimento.
Titularização de Créditos
Não houve qualquer autorização para a constituição de fundos de titularização de créditos, mas foram liquidados
quatro fundos, um deles com o fundamento da clean-up call53 e os demais com o fundamento do interesse na
liquidação antecipada por parte do detentor único.
Em matéria de atos administrativos, verificaram-se, tal como ano anterior, 34 processos de alteração aos
documentos constitutivos de fundos de titularização de créditos, respeitantes principalmente à redenominação
do detentor da sociedade gestora e do depositário, à introdução do conceito de crédito desreconhecido (written-
off), alteração de definição do conceito de substituição de créditos (revolving period), prazo de maturidade e
critérios de elegibilidade e introdução de back-up servicer, entre outros.
Quadro 63 – Processos Administrativos de Titularização de Créditos
53 Opção que consiste na possibilidade de a emitente efetuar o reembolso antecipado da emissão viva (normalmente de pequeno montante, menos de 10% da emissão inicial) com o objetivo de reduzir os custos administrativos da emissão. Trata-se de uma opção exercida principalmente nas titularizações de créditos hipotecários.
Autorização para constituição Autorização paran.º FTC Montante emitido UTC (10^6 €) alterações FTC
Crédito hipotecário 0 0 23Crédito ao consumo 0 0 6Créditos a PME 0 0 3Outros ou vários créditos dentro do sistema financeiro 0 0 2Total de Fundos de Titularização de Créditos 0 0 34Fonte: CMVM.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CMVM
Tiveram lugar cinco emissões de obrigações titularizadas, fundamentalmente relativas a non-performing loans,
em contraste com o maior número de operações de crédito ao consumo e a empresas verificado em 2011.
Quadro 64 – Emissões de Obrigações Titularizadas
Capital de Risco
Em 2012 acentuou-se o redirecionamento do setor de private equity para a área dos non-performing loans. O
montante dos novos fundos de capital de risco orientados para a restruturação de empresas ascendeu a 754
milhões de Euros já realizados e a compromissos de realização futura. O acréscimo da importância deste tipo de
fundos resulta das imposições de Basileia III relativas ao cálculo do consumo de capital (Tier 1), da necessidade
de redução do rácio loans-to-deposits e das restrições de liquidez que os bancos enfrentam atualmente, fatores
que se refletem negativamente no financiamento da economia. Este redirecionamento do capital de risco surge
em linha com o programa de ajustamento negociado com a troika, e permite, em teoria, o acesso pelas empresas
a meios alternativos de financiamento. Por outro lado, surgiram novos fundos de capital de risco que, ainda que
de dimensão reduzida, podem contribuir para a capitalização das empresas portuguesas. As condições adversas
sentidas na economia portuguesa, a situação económico-financeira das empresas e a crescente dificuldade na
obtenção de liquidez através dos meios tradicionais de financiamento, bem como os elevados custos financeiros
inerentes a estas operações, posicionam estes fundos de capital de risco como uma alternativa potencialmente
mais acessível e menos dispendiosa, e, por isso, interessante face ao financiamento bancário.
Foi concedido o registo a cinco novas sociedades de capital de risco. Três novos fundos de capital de risco
iniciaram atividade durante o ano. Estes fundos representam a colocação em subscrição de 1.370 milhões de
Euros, maioritariamente junto de investidores qualificados (instituições financeiras).
A sobreposição de atividades entre as várias entidades empresariais detidas pelo Estado na área do capital de
risco, o processo de redefinição do modelo de gestão pública na área do capital de risco e as diretrizes de
reformulação do setor público do capital de risco e respetivo contributo para a dinamização da economia,
levaram a que tivesse sido comunicado à CMVM a fusão por incorporação da AICEP Capital, SCR, SA e a TC
n.º Montante emitido OT (10^6 €)Crédito hipotecário 1 1.107,0Crédito ao consumo 1 226,4Outros créditos dentro do sistema financeiro 3 285,1Créditos fora do sistema financeiro 0 0,0Total de Emissões de Obrigações Titularizadas 5 1.618,5Fonte: CMVM.
Emissões de Obrigações Titularizadas
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CMVM
Turismo Capital, SCR, SA, (sociedades incorporadas) na Inovcapital, SCR, SA (sociedade incorporante, que
alterou a sua denominação para Portugal Capital Ventures, SR, SA) e a consequente extinção das duas
primeiras. No final do ano verificou-se também a fusão por incorporação da Patris Capital, SCR, SA na Patris
Gestão de Activos, SGFIM, SA (anteriormente denominada BPN Gestão de Activos, SGFIM, SA) e a
consequente extinção da primeira.
Ainda durante o ano foram liquidados três fundos e foi cancelado o registo de uma sociedade de capital de risco.
3.1.7.3 Peritos Avaliadores de Imóveis
Assistiu-se de novo a um aumento do número de peritos avaliadores de imóveis, ainda que a um ritmo inferior
ao verificado anteriormente. Porém, este crescimento não reflete a real atividade de avaliação de imóveis na
esfera dos fundos de investimento imobiliário na medida em que os peritos identificados no regulamento de
gestão dos FII e, por isso, elegíveis para avaliar imóveis detidos ou a investir por FII são em número mais
reduzido relativamente ao número total de peritos avaliadores registados. A título exemplificativo, com base nas
carteiras reportadas a 31 de dezembro de 2012 verifica-se que há apenas 102 peritos avaliadores de imóveis com
avaliações efetuadas, o que corresponde a menos de um quinto dos peritos registados.
Quadro 65 – Registo de Peritos Avaliadores de Imóveis
3.1.7.4 Auditores Externos
No início do ano estavam registados 40 auditores, incluindo um registado em nome individual. Em abril de 2012
foi cancelado o registo de uma sociedade de auditores. Vinte e cinco entidades estão sediadas em Lisboa, 13
entre Coimbra e Porto e uma no Funchal. Os auditores registados têm ao seu serviço um total de 330 revisores
oficiais de contas, dos quais 223 são sócios e 107 são revisores contratados. Apenas cinco sociedades
apresentam um número de revisores oficiais de contas ao seu serviço superior a dez (correspondendo a 171
revisores). O número médio de revisores ao serviço dos demais auditores é de 4,7, o que revela um universo
constituído principalmente por pequenas sociedades de auditoria. Vinte e uma sociedades têm um sócio
Peritos Avaliadores de Imóveis Registados 31-12-2011 Cancelados Registados 31-12-2012Pessoas Singulares 313 1 75 387Pessoas Coletivas 147 2 17 162
Total 460 3 92 549Fonte: CMVM.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CMVM
individual que não é revisor oficial de contas e nota-se a participação de pessoas com outras especialidades, o
que ilustra a pluridisciplinaridade das equipas de auditoria.
Nos termos do artigo 8.º do Regulamento da CMVM n.º 6/2000 foram efetuados 31 pedidos de averbamento ao
registo destes auditores, que originaram 61 atos de averbamento.
Quadro 66 – Registo de Auditores Externos
3.1.7.5 Operações
Foram registadas cinco ofertas públicas de aquisição, duas das quais sobre obrigações no âmbito das operações
de recompra de obrigações anunciadas pelo Banco BPI, S.A. (OPA geral e voluntária sobre 19.363 obrigações
hipotecárias representativas de 96,815% da série 7) e pela Caixa Geral de Depósitos, S.A. (OPA geral e
voluntária sobre 42.488 obrigações hipotecárias série 1 e sobre 19.354 obrigações sobre o sector público série
1). As outras três ofertas registadas foram as da InterCement Austria Holding GmbH sobre a Cimpor - Cimentos
de Portugal, SGPS, S.A., da SGL Carbon GmbH sobre a Fisipe - Fibras Sintéticas de Portugal, S.A. e da Tagus
Holdings S.à.r.l. sobre a Brisa - Auto Estradas de Portugal, S.A.. As ofertas sobre a Interhotel - Sociedade
Internacional de Hotéis, S.A. e sobre a Fisipe - Fibras Sintéticas de Portugal, S.A., provenientes de anos
anteriores, transitaram para 2013.
Apesar de não ter sido realizada nenhuma oferta pública de venda, decorreram três ofertas públicas de
subscrição de ações de emitentes do setor financeiro, o Banco BPI, S.A., o Banco Comercial Português, S.A. e o
Banco Espírito Santo, S.A. O objetivo primário e comum às ofertas foi o cumprimento dos requisitos legais e
regulamentares aplicáveis ao setor bancário.
Foram aprovados os prospetos de oferta pública de subscrição de obrigações relativos às ofertas lançadas pelo
Futebol Clube do Porto, S.A., pela Semapa – Sociedade de Investimento e Gestão, SGPS, S.A. e pela ZON
Multimédia - Serviços de Telecomunicações e Multimédia, SGPS, S.A..
2011 2012
Celebração de contratos com Revisores Oficiais de Contas 21 12
Rescisão de contrato com Revisores Oficiais de Contas 5 10
Entrada de novos sócios 21 20
Saída de sócios 12 8
Aumentos de capital 3 4
Mudança de sede - 3
Alteração da denominação 3 3
Cancelamento de registo - 1
Total 65 61
Fonte: CMVM.
Total de averbamentosFactos Averbados
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CMVM
O pedido de aprovação de prospetos de base tem tido um acréscimo notório, em parte justificado pela facilidade
no acesso rápido à realização de ofertas públicas desde que o prospeto de base esteja devidamente atualizado.
Os quatro prospetos de base aprovados no ano foram relativos aos programas de emissão e/ou admissão à
negociação a mercado regulamentado de obrigações hipotecárias do Banco Espírito Santo, S.A., de obrigações
de caixa e de valores mobiliários de natureza monetária representativos de dívida de curto prazo (denominados
papel comercial), da Caixa Económica Montepio Geral e do Banco Comercial Português, S.A. e de obrigações
da Sonae - SGPS, S.A.
Contrariamente ao verificado no ano anterior, os processos de aprovação de prospetos de admissão não foram
dominados pela dívida titularizada, mas antes para a admissão de dívida clássica e de dívida cuja remuneração
se encontra estruturada/colaterizada.
Quadro 67 – Registo de Operações
3.1.8 Contencioso
Em 2012 correram na CMVM 151 processos de contraordenação. O Conselho Diretivo deliberou aplicar 22
coimas, correspondentes a EUR 2.252.500. Um dos processos de contraordenação decidido originou a
divulgação da respetiva sanção (artigo 422.º do CódVM).
Tipo deOperações/Prospectos
2011 2010 2012 2011 2012 2011 2012 2011 2012 2011 2012 2011 2013 2012OPSO 0 0 3 8 3 8 0 0 0 0 0 0 0 0OPSA 0 0 3 5 3 5 0 0 0 0 0 0 0 0OPVA 1 0 1 2 0 1 0 0 0 0 0 0 2 1OPA 2 2 5 5 5 5 0 0 0 0 0 1 2 2Sub-total de Ofertas 3 2 12 20 11 19 0 0 0 0 0 1 4 3APB 1 0 7 5 4 5 0 0 0 0 2 0 2 0APADM 4 1 5 8 5 9 0 0 0 0 2 0 2 0AQP 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0TOTAL 8 3 25 33 21 33 0 0 0 0 4 1 8 3
Fonte : CMVM.
Legenda: OPSO - Oferta pública de subscrição de obrigações. APB - Aprovação de Prospectos Base.
OPSA - Oferta pública de subscrição de ações. APADM - Aprovação de Prospectos de Admissão (sem antecedência de oferta
OPVA - Oferta pública de venda de ações, inclui recolha de intenções. pública).OPA - Oferta pública de aquisição. AQP - Aquisições potestativas.
Transitados Entrados Registados/ Aprovados
Recusados Retiraram Desistiram/ Não Lançada
Transitadosde para
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CMVM
Quadro 68 – Processos de Contraordenação
O número de processos iniciados aumentou (de 28 em 2011 para 54 em 2012), tendo sido mais expressivo o
aumento do número de processos relacionados com a integridade e equidade do mercado, a qualidade e
oportunidade da informação, a intermediação financeira e auditores. Nos processos decididos aumentaram as
situações relativas à integridade e equidade do mercado, à qualidade e oportunidade de informação, a
intermediação financeira e a auditores.
O número de processos em tribunal aumentou em dois, para 28, existindo menos seis processos a decorrer no
final do ano.
Na vertente do contencioso administrativo, o Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa proferiu decisões
em dois processos em que a CMVM era ré, não tendo esta sido condenada em nenhum deles. Noutro processo
administrativo, o Tribunal Central Administrativo do Sul decidiu negar provimento ao recurso e confirmar a
sentença recorrida que tinha mantido o ato administrativo impugnado. Ainda em sede de contencioso
administrativo, foi prestado apoio ao Sistema de Indemnização de Investidores no âmbito de sete processos
judiciais em que aquele Sistema é autor, réu ou contra-interessado.
A CMVM prestou apoio ao Ministério das Finanças em quatro processos em que Portugal foi notificado pelo
Tribunal de Justiça da União Europeia para elaborar observações escritas sobre questões prejudiciais colocadas
em processos reenviados àquele Tribunal pelas jurisdições dos Estados-membro.
Na CMVM Total MER GCP QOI DPQ PIP IFnA IF AUD
Processo transitados de anos anteriores 100 31 15 17 1 3 4 27 2
Iniciados em 2012 54 8 16 5 2 0 2 11 10
Processos objeto de junção em 2012 -3 -1 0 0 0 0 0 -2 0
Total 151 38 31 22 3 3 6 36 12
Processos investigados e não instaurados 3 1 0 1 0 0 1 0 0
Processos decididos 60 10 9 9 1 3 1 16 11
Processos em curso 88 25 22 12 2 0 5 21 1
Total 151 36 31 22 3 3 7 37 12
Nos Tribunais
Decididos em Tribunal 14 1 1 8 0 0 1 3 0
A decorrer no Tribunal 14 8 1 3 0 0 0 2 0
Total 28 9 2 11 0 0 1 5 0
Fonte: CMVM.
Legenda: MER - Integridade e Equidade do Mercado, GCP - Gestão Coletiva de Poupanças, QOI - Qualidade e Oportunidade de Informação, DPQ - Divulgação de Participações
Qualificadas, PIP - Prestação de Informação Periódica, IFnA - Intermediação Financeira não Autorizada, IF - Intermediação Financeira, AUD - Auditor,
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CMVM
CAIXA 6 – DECISÕES JUDICIAIS EM 2012: CONTRAORDENAÇÕES
Em 2012 foram proferidas decisões de mérito pelo Tribunal de Pequena Instância Criminal de Lisboa sobre oito
recursos de contraordenação das quais cinco confirmaram a decisão da CMVM, e pelo Tribunal da
Concorrência, Regulação e Supervisão (instituído pelo Decreto-lei n.º 67/2012, de 20 de março, e em
funcionamento desde 30 março, sobre um recurso de contraordenação que confirmou a decisão da CMVM).
O Tribunal da Relação de Lisboa proferiu 10 acórdãos em recursos interpostos das decisões do Tribunal de
Pequena Instância Criminal, quer pela CMVM, quer pelos arguidos. Sete acórdãos confirmaram as decisões da
CMVM e três pronunciaram-se contra a decisão da CMVM.
Foram ainda proferidas quatro decisões pelo Tribunal Constitucional, na sequência de recursos interpostos pelos
arguidos. Três decisões foram de rejeição dos recursos e uma de não tomada de conhecimento do recurso.
Resume-se de seguida o essencial de dois acórdãos do Tribunal da Relação de Lisboa que mantiveram as
sentenças condenatórias dos arguidos proferidas em primeira instância, e de um acórdão do Tribunal
Constitucional proferido no âmbito do recurso de um acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, confirmando a
decisão deste Tribunal.
Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 30 de maio de 2012
O Tribunal da Relação de Lisboa pronunciou-se, em sede de recurso, sobre a sentença que condenou o
recorrente pela prática de vinte e uma contraordenações, a título doloso, por violação do dever de não utilização
de informação privilegiada que ainda não tenha sido tornada pública (artigos 248.º, n.º 4, 394.º, n.º 1, alínea i) e
388.º, n.º 1, alínea a), todos do CódVM).
Entendeu o Tribunal que o tipo legal previsto no artigo 248.º, n.º 4, do CódVM, que prevê o dever de não
utilização de informação privilegiada, impõe ao agente um dever de abstenção na janela de tempo que decorre
entre a aquisição da informação privilegiada e o momento em que esta é tornada pública. Assim, para
preenchimento do referido tipo contraordenacional basta a prova da detenção de informação privilegiada e da
realização das transações, facto que constitui a sua utilização, independentemente da motivação subjacente às
mesmas ou da concreta flutuação do título na sequência da divulgação da informação privilegiada. O Tribunal
considerou ainda que a informação relativa aos resultados trimestrais de uma sociedade e a deliberação de
proposta de aumento de capital dessa sociedade são informações idóneas a influenciar de maneira sensível o
preço dos respetivos valores mobiliários.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CMVM
Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 11 julho de 2012
O Tribunal da Relação de Lisboa pronunciou-se, em sede de recurso, sobre a sentença que condenou o
recorrente pela prática, a título doloso e como cúmplice, de uma contraordenação pelo exercício, a título
profissional, de atividades de intermediação financeira não autorizada (artigos 289.º, n.º 2, 397.º, n.º 1 e 388.º,
n.º 1, alínea a), do CódVM).
Considerou o Tribunal que o recorrente, não obstante ser ele próprio intermediário financeiro, agiu como
cúmplice da atividade de intermediação financeira não autorizada, ao prestar o auxílio material necessário e
indispensável à realização de intermediação financeira por parte de alguém que não estava registado junto da
CMVM para o exercício dessa atividade. Considerou ainda o Tribunal, recordando a sua anterior jurisprudência
sobre a matéria, que não viola as garantias constitucionais de defesa do arguido, nem constitui meio enganoso
de prova, o facto de a CMVM utilizar, em processo contraordenacional contra o mesmo, as informações obtidas
junto do recorrente, ao abrigo do dever de cooperação das entidades por si supervisionadas.
Acórdão do Tribunal Constitucional de 15 de fevereiro de 2012
O Tribunal Constitucional pronunciou-se, em sede de recurso, sobre o artigo 389.º n.º 1 alínea a) do CódVM
aplicado em acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 6 de abril de 2012, «ao prever que a prestação de toda
e qualquer informação sem as qualidades referidas no próprio artigo 389.º n.º 1 alínea a) do CódVM, é punida
com coima, sem identificar e delimitar o agente, objeto, natureza e/ou os efeitos sobre o mercado dessa mesma
informação» e «ao prever que toda e qualquer prestação de informação sem qualidade traduz,
independentemente de quem a presta e do objeto, natureza e/ou efeitos sobre o mercado dessa mesma
informação, uma contraordenação “muito grave”», nos termos em que o acórdão n.º 349/2011 do Tribunal
Constitucional definiu o objeto do recurso.
O arguido recorrente invocara a violação do princípio da legalidade sancionatória, na sua dimensão de
tipicidade, previsto no artigo 29.º da Constituição, bem como os princípios constitucionais da necessidade da
punição e da proporcionalidade, previstos no artigo 18.º, n.º 2, o princípio da culpa, previsto nos artigos 1.º e
27.º, bem como o princípio da igualdade, previsto no artigo 13.º.
Relativamente à determinabilidade do tipo, enquanto dimensão irredutível do princípio da legalidade
sancionatória, o Tribunal começou por sublinhar que a jurisprudência constitucional tem constantemente
sublinhado a diferente natureza do ilícito, da censura e das sanções entre o ilícito contraordenacional e o ilícito
penal (v.g. acórdãos n.ºs 344/93, 278/99, 160/04 e 537/2011). Esclareceu ainda que o simples facto de o tipo
contraordenacional dever ser lido em conjugação com outras normas presentes no mesmo diploma não viola,
por si só, qualquer princípio constitucional. Em acréscimo, o Tribunal pronunciou-se no sentido de que o
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conceito de informação não pode ser considerado indeterminado, nem tão pouco vago ou pouco claro,
conquanto encontra-se perfeitamente circunscrito no artigo 7.º do CódVM.
Por outro lado, o Tribunal reconheceu que com a alteração do tipo contraordenacional em causa (pelo Decreto-
Lei n.º 357-A/2007, de 31 de outubro) se passou a sancionar uma conduta independentemente dos efeitos
danosos que ela possa provocar nos bens jurídicos mas lembrou que não é constitucionalmente ilegítima a
criação de infrações contraordenacionais formais ou de mera atividade, em que o preenchimento do tipo se
esgota na realização da conduta proibida, independentemente de qualquer resultado exterior.
Por fim, o Tribunal entendeu que o regime resultante da fixação dos limites máximo e mínimo que compõem a
atual moldura sancionatória para as contraordenações muito graves do CódVM, em conjugação com a previsão
expressa dos critérios e circunstâncias que devem pautar a determinação concreta da sanção (previstos no artigo
405.º do CódVM), é suficiente para respeitar as exigências de determinabilidade sancionatória decorrente da
Constituição.
No que respeita aos princípios constitucionais da necessidade da punição e da proporcionalidade o Tribunal
Constitucional entendeu que, no que toca à previsão de contraordenações, o legislador tem poderes mais amplos
para decidir se é ou não necessário qualificar determinado comportamento como contraordenação, e maior
margem de conformação no que toca à fixação das sanções aplicáveis aos comportamentos que decidiu tipificar
como contraordenações (recordando o teor do acórdão n.º 574/95). Ademais, acrescentou que o juízo de
proporcionalidade implica, neste caso, a ponderação entre dois valores e que apenas um manifesto desequilíbrio
entre tal relação poderia fundar a violação daquele princípio. Nessa ponderação lembrou que o mercado e o
sistema financeiro merecem proteção constitucional (artigos 81.º, alínea f) e 101.º da Constituição) e que o
funcionamento do mercado de valores mobiliários constitui um instrumento específico do desenvolvimento
económico do Estado. Concluiu que face ao relevo dos valores que se pretendem salvaguardar não pode
considerar-se que a qualificação das condutas referidas como “contraordenação muito grave” se mostre
desnecessária, inadequada ou manifestamente excessiva, pelo que não pode considerar-se violado o princípio da
proporcionalidade.
O Tribunal afastou a violação do princípio da culpa desde logo porque este princípio jurídico-constitucional
(fundado na dignidade da pessoa humana) não vale, como parâmetro, no domínio das contraordenações. E em
acréscimo porque a punição prevista no artigo 389.º, n.º 1, alínea a) do CódVM não prescinde da demonstração
da culpa do agente, tendo inclusivamente de ser tido em conta na medida da sanção (artigo 405.º do CódVM).
Por fim, no que respeita à alegada violação do princípio da igualdade, o Tribunal começou por reconhecer que o
CódVM não trata da mesma forma todas as violações à qualidade da informação e, no que respeita
concretamente ao artigo 389.º, n.º 1, alínea a) do CódVM, entendeu que o facto de o CódVM não estabelecer
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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molduras sancionatórias diferenciadas para a violação daquela norma significa apenas que o legislador optou
por relegar para o momento da determinação da medida concreta da sanção a ponderação de fatores como os de
saber se o agente é pessoa singular ou coletiva, o objeto ou natureza da informação e os efeitos sobre o
funcionamento do mercado da informação em questão.
Termos em que o Tribunal Constitucional negou provimento ao recurso e confirmou a decisão do Tribunal da
Relação de Lisboa no que respeita às questões de constitucionalidade.
3.1.9 Investigação e Crimes de Mercado
Foram concluídas durante o ano 37 análises de operações e abriram-se 43 novos processos (12 encontravam-se
em curso no final do ano). Vinte e seis das análises concluídas incidiram sobre manipulação do mercado ou
violação do dever de defesa do mercado previsto no artigo 311.º CódVM, nove sobre abuso de informação e as
duas remanescentes sobre earning seasons (negociação na proximidade da divulgação de informação
financeira). Das análises efetuadas resultou a abertura de 10 processos de investigação, a instauração de cinco
processos de contraordenação, uma advertência escrita a um intermediário financeiro, tendo sido arquivados 19
casos. Os outros dois casos respeitaram a earning seasons.
Quadro 69 – Processos de Análise de Operações e de Investigação Concluídos
No âmbito do abuso de mercado foram abertos 14 processos de investigação e concluíram-se 15 (outros três
processos encontravam-se em curso no final do ano). Oito dos processos de investigação tiveram por objeto
casos de possível abuso de informação nos quais foi analisada a atuação de 29 investidores (oito dos quais
investidores qualificados estrangeiros com ligações a diversas jurisdições). Outros sete processos versaram
sobre manipulação do mercado ou violação do dever de defesa do mercado, sendo um deles relativo a um caso
Transitados Entrados Total Concluídos PendentesProcessos de investigaçãoAbuso de informação privilegiada 2 6 8 8 0Manipulação de mercado 2 8 10 7 3Outras irregularidades 1 3 4 3 1Sub-total 5 17 22 18 4Processos de análise de operaçõesSub-total 28 43 71 37 34Processos de intermediação financeira não autorizadaExercício não autorizado de intermediação 5 17 22 17 5Sub-total 5 17 22 17 5TOTAL 38 77 115 72 43Fonte: CMVM.
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CMVM
de manipulação envolvendo uma entidade internacional que utilizou técnicas de negociação automatizada de
alta velocidade, habitualmente designadas por high-frequency trading (HFT). A CMVM foi uma das primeiras
autoridades de supervisão a nível europeu a conseguir investigar com êxito uma estratégia manipulatória
baseada em HFT. Os três demais casos versaram sobre outras matérias, designadamente a eventual violação de
regras relativas a vendas a descoberto.
CAIXA 7 – MANIPULAÇÃO DE MERCADO: LAYERING COM RECURSO A NEGOCIAÇÃO AUTOMATIZADA
Um dos casos de manipulação de mercado investigados incidiu sobre um investidor com uma estratégia de
negociação automatizada, habitualmente designadas de algorithmic trading (AT) ou, quando de alta frequência,
high-frequency trading (HFT). A análise teve por objeto a negociação do mencionado investidor sobre um
conjunto de ações, durante um período alargado de tempo.
Para viabilizar a análise deste tipo de negociação que envolve intervenções no mercado em períodos muito
curtos de tempo com constantes modificações e cancelamentos de ofertas em unidades de tempo inferiores ao
segundo (microssegundos), a CMVM teve que desenvolver as ferramentas informáticas necessárias e adequadas
à análise de estratégias de AT e de HFT e, quando necessário, como sucedeu no caso, de apoio à demonstração
da natureza irregular das mesmas. Estas ferramentas continuam a ser utilizadas para analisar estratégias de
negociação de AT e de HFT, permitindo identificar as que possam apresentar sinais de irregularidade – em
desenvolvimento (permanente) do sistema integrado de vigilância de mercado (SIVAM). A CMVM conseguiu,
assim, posicionar-se a nível europeu como uma das primeiras autoridades de supervisão a concluir uma análise
de negociação automatizada, a qual se reveste de elevada tecnicidade e complexidade.
No caso investigado concluiu-se que o investidor adotou reiteradamente uma estratégia ilícita de layering, a qual
é idónea para alterar as normais condições de funcionamento do mercado – e internacionalmente reconhecida
como manipulatória. Esta estratégia consiste na acumulação de ofertas de sentido contrário (e.g. de venda) à
oferta que se pretende realmente executar (e.g. compra), tendo as primeiras caráter fictício. As ofertas de
natureza fictícia dão uma falsa impressão de elevadas quantidades disponíveis para transacionar, com impacto
no diferencial entre a melhor oferta de venda e a melhor oferta de compra (o designado bid-ask spread),
fazendo-o diminuir ao aproximar o preço da melhor oferta do preço da oferta que o investidor realmente
pretende executar, o que lhe permite comprar a preço mais baixo ou vender a preço mais elevado.
Imediatamente após efetuar o negócio pretendido, o investidor inicia um movimento similar mas simétrico de
modo a, por exemplo, vender as ações antes adquiridas. Os movimentos são curtos (normalmente de duração
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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inferior a 30 segundos), o investidor obtém mais-valias que, individualmente consideradas, não são expressivas
mas que se tornam muito significativas quando se considera os múltiplos movimentos com as caraterísticas
descritas efetuadas ao longo de uma só sessão para um determinado título e se considera que o investidor actuou
sobre diversos títulos e de forma continuada no tempo, caraterística comum às estratégias automatizadas, em
especial de HFT, nos casos em que estas assumam natureza irregular.
O gráfico seguinte permite visualizar com algum detalhe dois movimentos simétricos ocorridos em menos de
um minuto. Depois de serem inseridas diversas ofertas de venda, cada uma delas de pequenas quantidades, a
preços sucessivamente menores, é inserida uma única oferta de compra de quantidade maior. Após a inserção
desta oferta de compra o investidor continua a inserir diversas ofertas de venda de quantidades intermédias a
preços decrescentes, gerando assim a impressão de um aumento significativo da quantidade disponível para
venda. Imediatamente após executar o negócio de compra cancela todas as ofertas de venda e inicia movimento
simétrico: pressiona o preço para baixo para comprar e depois, exatamente com a mesma técnica, pressiona o
preço para cima para vender. De acordo com as conclusões da investigação, fê-lo quase sempre com êxito.
Gráfico A - Ofertas acumuladas vivas (não canceladas ou executadas) relativas a um valor mobiliário, introduzidas
pelo investidor ao longo de uma sessão de negociação: dois movimentos, com 18 e 22 segundos de duração (40
segundos no total).
Nota: tempo em microsegundos.
Mais-valia realizada: €31,26 (em 40 segundos e com investimento nulo)
Operação Qtd. Preço (€) Mais-valia (€) Vende -100 1,960 196,00 Compra 4.752 1,970 -9.361,44 Compra 100 1,980 -198,00 Vende -4.752 1,977 9.394,70
Total 31,26
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O gráfico seguinte permite ver o efeito da atuação do investidor no bid-ask spread. Quando pretende vender,
com as ofertas fictícias de compra a preços sucessivamente superiores (pressão compradora), o investidor
consegue sempre fazer aumentar o best bid e empurrá-lo até ficar à diferença mínima de 0,001 Euros (o tick-
size) do preço resultante da sua oferta efetiva de venda que constitui o best ask. A um terceiro investidor que
pretenda comprar não resta alternativa que não seja aceitar o preço de venda do investidor com a estratégia de
layering: única forma de ganhar prioridade em relação à vasta quantidade de ofertas fictícias a preços altos. O
gráfico permite também verificar o efeito que tem a realização do negócio e o subsequente cancelamento das
ofertas fictícias (diminuição da pressão): provoca um imediato alargamento do spread fazendo-o regressar aos
seus níveis normais, isto é, aos que resultam da interação entre reais e efetivos interesses compradores e
vendedores.
Gráfico B - Evolução de Best Bid, Best Ask e Bid/Ask Spread, relativos a um valor mobiliário, ao longo de período de
um minuto de negociação na Euronext Lisbon.
Nota: tempo em microsegundos.
Os Gráficos C e D permitem ter uma perspetiva global da estratégia de layering no seu confronto com os demais
intervenientes no mercado. As variações das quantidades de ofertas de compra e de venda acumuladas pelo
investidor investigado são representadas por linhas verticais (que refletem bem a anomalia e ilicitude da
estratégia), enquanto as variações de todos os demais intervenientes – sem exceção – são representadas por
linhas horizontais. Na estratégia automatizada de layering, uma quantidade relevante acumulada do lado fictício
(compra, v.g.) coincide sempre com uma quantidade baixa do lado efetivo (venda, v.g.), segue-se sempre uma
redução para zero e uma acumulação simétrica logo de seguida.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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Gráfico C - Ofertas acumuladas vivas (não canceladas ou executadas) relativas a um valor mobiliário, introduzidas
pelo investidor, ao longo de uma sessão de negociação.
Nota: tempo em microsegundos.
Gráfico D - Ofertas acumuladas vivas (não canceladas ou executadas) relativas a um valor mobiliário, introduzidas
pelos restantes intervenientes no mercado (por outros membros da Euronext Lisbon e pelo mesmo membro relativas
a outros clientes) ao longo de uma sessão de negociação.
Nota: tempo em microsegundos.
Qtd. Ofertas de Compra: quantidades > 0 Qtd. Ofertas de Venda: quantidades < 0
Dos processos de investigação no âmbito do abuso de mercado resultaram duas participações ao Ministério
Público por manipulação do mercado (artigo 379.º CódVM) e uma por indícios da prática do crime de abuso de
informação (artigo 378.º CódVM), bem como a instauração de quatro processos (a que se juntam outros seis na
sequência da análise de operações) de contraordenação por violação do dever de defesa do mercado (artigo 311.º
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CódVM) e cinco pela violação de deveres relacionados com o exercício de atividades de intermediação
financeira. Sete processos foram concluídos com o respetivo arquivamento.
Quadro 70 – Denúncias e Instauração de Processos de Contraordenações
Transitaram para 2013 apenas quatro processos, dois dos quais em fase avançada e todos referentes a processos
abertos no ano. Esta situação resulta de uma maior celeridade na investigação uma vez que, em regra, foi
possível encerrar os processos no ano da correspondente abertura. Intensificou-se a tendência já verificada em
anos anteriores para o aumento do número de investidores internacionais objeto de investigação (e de processos
de análise de operações), o que faz aumentar a complexidade das investigações e análises, fazendo-as depender
da articulação e da cooperação com outras autoridades de supervisão, europeias e não europeias, algumas destas
últimas de jurisdições off-shore. A CMVM tem feito os seus melhores esforços, no plano da cooperação com
autoridades congéneres e nas metodologias de investigação e de análise, para que esta componente internacional
não afete a celeridade nem a eficácia das investigações. Os 66 pedidos de cooperação internacional efetuados ao
longo do ano constituem exemplo desta crescente vertente da internacionalização da investigação na área do
abuso de mercado, resultado da atuação no mercado de investidores internacionais – ou de nacionais que
operam através de circuitos internacionais.
O esforço no combate à intermediação financeira não autorizada e à fraude com ela relacionada foi prosseguido,
com os objetivos de tutelar os legítimos interesses dos intermediários financeiros, de proteção dos investidores e
do cumprimento da lei. No plano da prevenção foram publicados 15 comunicados a informar sobre a ausência
de habilitação de pessoas, sociedades e sítios na internet para prestar serviços de intermediação (em três dos
casos com divulgação internacional). No âmbito da investigação foram concluídos 17 processos de
intermediação financeira não autorizada. A maioria dos casos investigados envolveu sítios da internet com
Processos de contra-ordenação Número
Violação do dever de defesa do mercado (311.º CódVM) 9
Intermediação financeira não autorizada, incluindo publicitação 2
Exercício de atividades de intermediação financeira 5Total 16
Denúncias ao Ministério Público de indícios de crimes Número
Manipulação de mercado (379.º CódVM) 2
Abuso de informação (378.º CódVM) 1
Intermediação financeira não autorizada 1
Total 4Fonte: CMVM.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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origem internacional e alguns outros envolveram contatos telefónicos, também com origem internacional,
dirigidos a investidores residentes em Portugal (casos de fraude internacional designados de cold calling). No
segundo semestre verificou-se o surgimento de um novo fenómeno que consistiu na proliferação de sítios na
internet destinados à negociação de opções binárias. Na vertente sancionatória, foram instaurados dois
processos de contraordenação (ambos por publicitação a serviços de intermediação financeira por entidade não
habilitada) e foi efetuada uma participação criminal ao Ministério Público. Este último caso, um dos de maior
gravidade entre os investigados, envolveu cidadãos residentes em Portugal.
Foram emitidas quatro notificações para alteração de conteúdos de sítios na internet detidos por residentes em
Portugal, emitida uma ordem e remetida informação a autoridades de supervisão estrangeiras no âmbito da
cooperação no combate à fraude internacional. A estreita cooperação com as autoridades de supervisão
congéneres no âmbito da IOSCO e da ESMA continuou a ser fundamental no combate a este fenómeno.
CAIXA 8 – DECISÕES JUDICIAIS EM 2012: CRIMES DE ABUSO DE INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA E DE MANIPULAÇÃO DE MERCADO
Abuso de Informação Privilegiada
Foi comunicada à CMVM a suspensão provisória de um processo de abuso de informação privilegiada, sujeita
ao cumprimento pelo arguido da injunção imposta: o pagamento de quantia monetária a uma Instituição
Particular de Solidariedade Social. Na sequência do cumprimento da injunção imposta ao arguido e do decurso
do prazo de suspensão, o processo foi arquivado pelo Ministério Público.
O objeto deste processo dizia respeito à aquisição em 2010, pelo arguido, de ações de uma sociedade admitidas
à negociação em mercado, em vésperas do anúncio preliminar de uma oferta pública de aquisição sobre as ações
desse emitente, as quais foram alienadas nas sessões posteriores ao anúncio preliminar com mais-valia embora
não muito expressiva. Do pagamento da injunção pelo arguido resultou a perda das mais-valias obtidas com a
transação.
O Ministério Público comunicou ainda à CMVM que, após concluída a fase de inquérito, deduziu acusação em
dois processos de abuso de informação que haviam sido iniciados na sequência de participações da CMVM. Em
ambos os casos os respetivos arguidos requereram abertura de instrução.
Num outro processo, cujos factos remontavam a junho, julho e agosto de 1999 (ainda na vigência do Código do
Mercado de Valores Mobiliários), encontrava-se pendente no Tribunal da Relação de Lisboa um recurso
interposto pelo Ministério Público, em 2006, de uma decisão de 1ª instância que havia absolvido dois arguidos
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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da prática do crime de abuso de informação de que tinham sido acusados e pronunciados. O Tribunal da Relação
de Lisboa informou que em abril de 2012 tinha sido proferido acórdão a julgar extinto, por prescrição, o
procedimento criminal.
Manipulação de mercado
No ano de 2012 foi proferida uma decisão, em recurso, no âmbito de um processo-crime por manipulação de
mercado decorrente de uma participação da CMVM. No âmbito deste processo, o Ministério Público deduziu
acusação contra o arguido, em 2009, pela prática do crime de manipulação de mercado, por aquele ter
introduzido uma oferta de venda de grande dimensão a muito baixo preço, cancelada momentos antes do fecho,
para atrair procura ao mercado e assim fazer subir o preço por forma a poder executar uma outra oferta de venda
introduzida, de menor dimensão e a preço superior, o que condicionou artificialmente a formação do preço
daquelas ações e o regular funcionamento do mercado, tendo o arguido sido igualmente pronunciado. A fase do
julgamento realizou-se em 2011, tendo sido proferida uma decisão absolutória do arguido pelos factos
imputados.
O Ministério Público recorreu da decisão absolutória para o Tribunal da Relação de Lisboa, designadamente por
contradição insanável da fundamentação e por erro notório na apreciação da prova. O Tribunal da Relação
negou provimento ao recurso e remeteu para a fundamentação da 1ª Instância. Considerou não só que é ao
tribunal que cabe apreciar livremente as provas de acordo com a convicção que geram no espírito do julgador
como também que a valoração da prova realizada estava condicionada pelo benefício da dúvida a conceder ao
arguido. Quanto ao erro notório, o Tribunal da Relação considerou que o mesmo teria que ser crasso, grosseiro
ou ostensivo. O acórdão do Tribunal da Relação não admitia recurso, por se tratar de uma decisão de
confirmação de uma decisão absolutória proferida em 1.ª Instância, tendo assim transitado em julgado.
Ainda relativamente a procedimentos criminais pelo crime de manipulação de mercado, o Ministério Público
deu conhecimento à CMVM que determinou, após concordância do Juiz de Instrução e verificados os
pressupostos legais exigidos, a suspensão provisória de um processo de manipulação de mercado, sujeita ao
cumprimento da injunção de pagamento de quantia pecuniária ao Sistema de Indemnização aos Investidores
(SII) por cada um dos três arguidos. O objeto do processo referia-se a factos praticados em 2008 por três
arguidos em concertação. Com o intuito de poderem adquirir ações objeto de uma oferta de venda sem limite de
preço e de quantidade elevada, inserida na pré-abertura, os arguidos foram introduzindo sucessivas ofertas de
compra de valor elevado de modo a impedir que outros investidores pudessem concorrer com eles na aquisição
das ações objeto da oferta de venda de dimensão elevada. Os arguidos cancelaram as suas ofertas instantes antes
de terminar o leilão o que fez descer o preço de fecho e assim viabilizou a compra das ações a preço reduzido. O
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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montante global pago pelos arguidos ao SII a título de injunção correspondeu a cerca de seis vezes a diminuição
do valor de compra das ações provocado com a diminuição do preço de abertura.
O Ministério Público comunicou ainda à CMVM que, na sequência de inquérito, deduziu acusação num
processo de manipulação de mercado com origem em participação da CMVM. O arguido requereu abertura de
instrução.
3.2.DEFESA DOS INVESTIDORES ENQUANTO AFORRADORES E CONSUMIDORES DE SERVIÇOS FINANCEIROS
3.2.1 Reclamações e Mediação
A CMVM recebeu 601 reclamações, 30 denúncias, 1.904 pedidos de informação e 2.272 pedidos de certidões.
Os intermediários financeiros continuaram a ser as entidades mais reclamadas, com destaque para os que
comercializam instrumentos financeiros a retalho, apesar de se ter verificado um acréscimo significativo de
outras entidades reclamadas, em particular auditores independentes.
Quadro 71 - Reclamações Entradas por Entidade
Foram analisados 1.065 processos de reclamação e foram concluídos 650 (61%). Um reduzido número de
reclamações (três) transitou para os Serviços de Mediação da CMVM para procedimento formal de mediação. A
aceitação deste procedimento pelas entidades reclamadas continua a manter-se pouco expressiva.
CAIXA 9 – CONSULTA ON-LINE DOS PROCESSOS DE RECLAMAÇÃO
A CMVM passou a disponibilizar aos investidores a consulta através do seu sítio na internet do estado dos
processos de reclamação apresentados contra os intermediários financeiros, emitentes ou outras entidades sob a
sua supervisão. Este serviço permite ao utilizador um acompanhamento mais célere e cómodo da evolução da
análise efetuada sobre o seu processo de reclamação desde que aquele dá entrada, ficando visível on-line que a
Reclamações Entradas por Entidade Reclamada 2011 2012
Intermediários Financeiros 533 536
Emitentes 48 16
Outros 17 49
598 601
Fonte: CMVM.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CMVM
mesma foi “recebida”, até ao momento em que é dado como “concluído” (passando por estados como “em
análise pela CMVM”, “questionada a entidade reclamada” e “em análise pela CMVM, sem prejuízo de
diligências adicionais junto da entidade reclamada”). A confidencialidade da informação está assegurada, uma
vez que o acesso ao sistema de consultas on-line só é possível através da introdução de um código pessoal e
intransmissível, previamente enviado ao reclamante.
A consulta on-line do estado do processo é mais um passo no reforço da prestação de informação e apoio aos
investidores. Entre 17 de dezembro, data de lançamento deste novo serviço, e 31 de dezembro foram registadas
553 consultas on-line aos estados do processo de reclamação, 26 das quais na versão inglesa.
Renovação da área de apresentação de reclamações on-line
A área de apresentação de reclamações através do sítio na internet também foi renovada, com a apresentação de
novos formulários, mais detalhados, que contribuem para uma maior celeridade no processo de admissão e
tratamento dos novos processos de reclamação uma vez que permitem uma integração imediata e completa na
plataforma interna de gestão de reclamações. Esta plataforma permitiu ainda a integração com a Rede
Telemática de Informação Comum (RTIC) da Direção-Geral do Consumidor.
A obrigatoriedade de preenchimento pelo reclamante de um conjunto mais alargado de campos permite à
CMVM dispor dos elementos necessários para dar início à análise do processo, sem a necessidade, que
anteriormente se tornara recorrente, de contacto com o reclamante para recolha de elementos adicionais que
permitissem aferir o assunto objeto da reclamação, a entidade contra a qual era dirigida ou até o instrumento
financeiro específico em causa.
Desde a entrada em funcionamento deste sistema integrado para a apresentação de reclamações através da
internet, a 17 de dezembro, registaram-se até ao final do ano 153 acessos aos formulários dos processos de
reclamação.
Na análise das reclamações procede-se à averiguação dos factos relatados confrontando-os com as regras legais
aplicáveis à situação reclamada, assegurando sempre o contraditório. No entanto, enquanto entidade que instrui
e dirige o processo de reclamação, a CMVM pondera das diligências adicionais necessárias e das evidências
documentais que devem constar do processo. Os intermediários financeiros têm adotado, em regra, uma postura
colaborativa e denota-se uma maior preocupação em resolver as reclamações a contento numa primeira fase.
Quando emite a análise final sobre a reclamação, a CMVM pugna pela reposição legal da situação, quando a
mesma possa ser sanável, nomeadamente nas reclamações que respeitam à comercialização de valores
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
186
CMVM
mobiliários e instrumentos financeiros ou à prestação de serviços de intermediação financeira, mediante o
reembolso pelo intermediário financeiro ao reclamante das perdas de capital por este incorridas. Dos 650
processos concluídos em 2012, 589 respeitavam a reclamações contra intermediários financeiros.
Quadro 72- Reclamações contra Intermediários Financeiros
A CMVM considerou ter existido uma resposta adequada por parte do intermediário financeiro em cerca de
76% das reclamações, e em 63% dos casos em que a resposta foi favorável ao reclamante verificou-se o
ressarcimento pelo intermediário financeiro de parte ou da totalidade dos prejuízos sofridos pelo reclamante (no
total, um valor superior a três milhões de Euros).
No tratamento das reclamações continuou a manter-se estreita cooperação com outras entidades nacionais, como
a Provedoria de Justiça, a Procuradoria-Geral da República, o Banco de Portugal, o Instituto de Seguros de
Portugal, os Provedores e Mediadores Públicos (Mediador do Crédito e Provedor dos Seguros), a Direção-Geral
do Consumidor no âmbito da Rede Telemática e de Informação Comum, e estrangeiras, como a autoridade de
supervisão europeia ESMA e as congéneres da CMVM contactadas quer direta quer indiretamente,
nomeadamente através das Redes FIN-Net e Consumer Protection. Merece especial destaque a cooperação
prestada à Provedoria de Justiça em sede de reclamações apresentadas quanto às Ofertas Públicas de Aquisição
sobre ações da Brisa e sobre ações da Cimpor e quanto à aplicabilidade e preenchimento dos requisitos para a
aquisição e alienação potestativas.
Transitadas Entradas Total Concluídas
2009 449 1.274(1) 1.723(1) 578(1)
2010 1442(2) 556 1698 1225
2011 490(3) 533 1023 535
2012 433(4) 536 969 589
Fonte: CMVM.
Nota: (1) Não inclui as reclamações contra o Banco Privado Português (1.143
entradas, 1.142 concluídas e uma transitada). (2) Ao número de reclamações
transitadas de 2010 foram subtraídas 3 reclamações que haviam sido
erroneamente contabilizadas (não se referiam a intermediários financeiros). (3)
O número de reclamações transitadas de 2011 inclui 17 reclamações
correspondentes a processos de 2010 que se tinham dado como encerrados mas
que foram reabertos em 2011. (4) A diferença face aos dados reportados em
2011 resulta da alteração metodológica decorrente da entrada em
funcionamento da plataforma eletrónica de gestão de reclamações.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CMVM
Quadro 73 - Resolução das Reclamações contra Intermediários Financeiros Concluídas por Tipo
Os instrumentos financeiros mais visados nas reclamações cuja análise foi concluída no ano foram, pela
primeira vez, os produtos financeiros complexos (primordialmente reclamações de comercialização
efetuada antes da entrada em vigor da regulamentação da CMVM de 2009, que estabeleceu pela
primeira vez a obrigatoriedade de haver um documento informativo). A CMVM tem estado, e está,
particularmente atenta aos problemas decorrentes da comercialização destes produtos junto de investidores não
qualificados. No âmbito do tratamento dessas reclamações foi percecionado que não era prestada aos
investidores, com suficiente clareza e destaque, informação quanto às características e riscos dos produtos e,
sobretudo, quanto ao risco de perda do capital investido ou de perdas superiores ao capital investido e ao risco
de liquidez do investimento. Esta constatação, a par de outras deficiências detetadas na comercialização dos
produtos financeiros complexos, tais como as menções e advertências colocadas em documentos de subscrição
de modo pouco percetível e compreensível para o investidor, foi um dos fatores que motivou a revisão profunda
do regulamento relativo a produtos financeiros complexos. Em particular, passou a exigir-se a aposição de
alertas gráficos de risco do produto nos respetivos documentos informativos e material publicitário, e tornou-se
obrigatório dar destaque às advertências aos investidores sobre as principais características do produto.
Estabeleceu-se ainda a regra de que não podem ser inseridas menções ou advertências legais ao investidor nos
documentos de subscrição sem que seja assegurada a respetiva autonomização e destaque. Ademais, de modo a
ser possível demonstrar que o investidor tomou contacto com os documentos informativos, passou a exigir-se
que o próprio investidor manuscreva e assine a tomada de conhecimento e a entrega dos referidos documentos.
Reclamações Concluídas por Tipo
Com resposta adequada do intermediário financeiro 445
Com resposta favorável ao reclamante 198
Com reembolso 124
Sem reembolso 74
Com resposta não favorável ao reclamante 247
Com resposta não adequada do intermediário financeiro 18
Fora da competência da CMVM 40
Desistência do reclamante 38
Esclarecimento pela CMVM sem necessidade de apresentação à entidade reclamada 28
Pendente de apreciação do tribunal 15
Não admitida 5
Total 589
Fonte: CMVM.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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Quadro 74 - Reclamações Concluídas por Tipo de Instrumento Financeiro
Os assuntos mais versados nas reclamações mantiveram-se idênticos aos de anos anteriores: i) à receção,
transmissão e execução de ordens; ii) à comercialização de organismos de investimento coletivo e de produtos
financeiros complexos; iii) ao registo e depósito de valores mobiliários; iv) a deveres de informação; e v) a
extratos, custos e comissões. Estes assuntos compreendem, a título exemplificativo, as seguintes matérias: i) a
comercialização de produtos sem garantia de capital em termos similares aos da comercialização de um depósito
a prazo; ii) a não prestação de informação relativa à existência de garantia de capital e à possibilidade de
resgate/resolução antecipada sem penalização, em particular quanto aos riscos do investimento em valores
mobiliários perpétuos, fundos de investimento, unit-linked ou swaps; iii) a comercialização de produtos
financeiros complexos a investidores com baixa ou nenhuma escolaridade e de produtos com maturidades
longas a investidores idosos; iv) a não observância das instruções dos reclamantes quanto à execução de ordens
de subscrição, resgate ou transferência entre contas; v) a deficiente comercialização de ações preferenciais e de
direitos inerentes; vi) o não envio de extratos e mudança da periodicidade do extrato sem consentimento do
cliente; vii) cobrança indevida ou excessiva de comissões; viii) irregularidades no preçário aplicável às
operações; e ix) a não adequação dos produtos aos conhecimentos e experiência dos reclamantes.
Instrumento Financeiro N.º Reclamações
Produtos Financeiros Complexos 200
Unit-linked 63
Swaps 51
Certificados, CFD, Credit Linked Notes e Outros IFC 42
Valores Mobiliários Perpétuos 28
Warrants 14
Organismos de Investimento Coletivo 137
Unidades de participação de fundos de investimento mobiliário/fundos de investimento imobiliário 118
Unidades de participação de fundos especiais de investimento 18
Ações 96
Obrigações 90
Títulos de participação 8
Fundos de pensões abertos de adesão individual 5
Valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis (VMOC) 2
Planos de Poupança em Ações (PPA) 1
Produtos financeiros fora da competência da CMVM 5
Outros (Direitos, SICAV e outros instrumentos financeiros) 41
Total 589
Fonte: CMVM.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CMVM
Os instrumentos financeiros mais relevantes nas reclamações entradas foram: i) ações (25%); ii) valores
mobiliários perpétuos e obrigações (20%); iii) unidades de participação de organismos de investimento coletivo
(13%); iv) produtos financeiros complexos (11%), entre os quais se destacam as reclamações sobre contratos
diferenciais (CFD) e valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis (VMOC); v) unit linked (8%); e swaps
de taxa de juro (4%). O aumento das reclamações relativas a ações é explicado pelas operações que tiveram
lugar durante o ano (e que visaram ações), tais como Ofertas Públicas de Aquisição, aumentos de capital e
Operações Públicas de Troca.
A colocação e comercialização de instrumentos financeiros manteve-se como o serviço mais reclamado
(39,4%), em particular no que respeita à percentagem de reclamações sobre a receção e execução de ordens
(12,7%) e sobre a cobrança de comissões e encargos (8,9%). É de assinalar o decréscimo do número de
reclamações sobre a comercialização de unidades de participação de organismos de investimento coletivo
(6,8%, o que compara com 12,4% em 2011). As reclamações respeitantes ao processamento do pagamento de
dividendos (3,7%) e à gestão de carteiras por conta de outrem (3,2%) foram serviços objeto de menor
reclamação.
Em 2012 houve um acréscimo de reclamações relativas à comercialização de valores mobiliários perpétuos
subordinados com juros condicionados, no âmbito de Ofertas Públicas de Distribuição e subsequentes Ofertas
Públicas de Troca sobre tais valores mobiliários. A comercialização muitas vezes foi feita a retalho e junto de
investidores sem perfil e conhecimentos adequados. Da documentação analisada foi possível constatar que,
apesar de a subscrição de valores mobiliários perpétuos pelos investidores cumprir formalmente os requisitos
aplicáveis (ou seja, existir documentação assinada pelos investidores de suporte às subscrições, como sejam
ordens de subscrição, testes de adequação e declarações de não adequação), sob o ponto de vista material tal é
contrariado por evidências, de que são exemplo: i) não ter sido clara nem suficiente a informação prestada pelo
intermediário financeiro aos seus clientes sobre o alto risco dos valores mobiliários perpétuos, cuja subscrição se
verificou ter sido aconselhada pelo próprio intermediário financeiro; ii) não ter sido devidamente esclarecido e
evidenciado perante os investidores que se tratava de valores mobiliários com perpetuidade e sem capital
garantido, e que nada têm em comum com as “Obrigações”, tanto mais que são instrumentos financeiros de alto
risco, ou seja, são valores mobiliários perpétuos subordinados com juros condicionados, adquiridos pelos
investidores no âmbito de Ofertas Públicas de Distribuição; iii) a maioria dos investidores só tomou consciência
das características dos valores mobiliários que adquiriram, nomeadamente no que respeita ao risco de não
voltarem a receber os juros e de não verem reembolsado o capital investido no final do prazo, aquando de
operações de Oferta Pública de Troca desses valores mobiliários perpétuos; iv) os reclamantes afirmaram que
nunca teriam investido num instrumento com estas características se tivessem sido informados sobre as mesmas;
v) os testes de adequação e o perfil de investimento daí resultante não espelharem a situação nem o perfil de
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
190
CMVM
risco do cliente; e vi) as declarações de inadequação da operação ao perfil do cliente não evidenciarem que os
investidores tomaram conhecimento das mesmas.
No que diz respeito às reclamações sobre comercialização de contratos de permuta de taxa de juro (swaps),
continuam a existir indícios de problemas ao nível da prestação de informação sobre as características do
produto e os respetivos riscos, bem como a existência de desequilíbrio contratual entre ganhos e perdas
potenciais e um desajuste entre o objetivo dos clientes na contratação do produto (gestão do risco da taxa de
juro) e a natureza dos contratos propostos pelos intermediários financeiros (predominantemente especulação
sobre a variação das taxas de juro).
Através da análise das reclamações constatou-se que, em geral, os requisitos legais impostos para a aferição da
adequação e da idoneidade dos investimentos ao perfil do investidor não estavam a ser respeitados de modo
consistente e rigoroso pelos intermediários financeiros. Uma vez que esse desrespeito coloca em risco a
proteção dos investidores, procedeu-se, tendo por referência as Orientações54 emitidas pela ESMA sobre o tema,
a uma análise exaustiva dos questionários de adequação e de idoneidade utilizados pelos intermediários
financeiros. Embora o estudo ainda esteja em curso, já foi possível apurar que há aspetos nesses questionários
que carecem de revisão. São os casos: i) do teor das perguntas formuladas aos investidores e o respetivo
contexto; ii) da utilização de conceitos indeterminados quer nas perguntas, quer nas opções de resposta,
salientando-se tais conceitos para aferir o nível de risco dos clientes associado a instrumentos financeiros (por
exemplo, nível baixo, médio, elevado, sem a respetiva quantificação dos conceitos) e à experiência e
conhecimentos (por exemplo, não definição dos instrumentos financeiros e período a que diz respeito); iii) da
valorização que é dada pelos intermediários financeiros a cada questão nas matrizes de ponderação das respostas
dos investidores; e iv) da ponderação e recolha pelo intermediário financeiro de toda a informação relevante e
necessária à classificação do cliente. O sentido e propósito dos deveres de adequação e idoneidade devem ser
escrupulosamente respeitados pelos intermediários financeiros e não se compadecem com um mero
cumprimento formal do questionário sem a preocupação de dele se retirarem as conclusões substanciais que se
impõem quanto aos conhecimentos, experiência e situação financeira do investidor e, quando aplicável, aos
objetivos de investimento.
Outro dos principais problemas que as reclamações têm evidenciado é o da aplicação do conceito de
aconselhamento personalizado no âmbito da consultoria para investimento. Tem-se verificado que os
intermediários financeiros aplicam as respetivas forças comerciais de retalho na venda de produtos e
instrumentos financeiros e aconselhamento aos clientes ou potenciais investidores. Todavia, a sugestão de
54 Orientações relativas a determinados aspetos dos requisitos da DMIF em matéria de adequação, 25 de junho de 2012 (Refa. ESMA/2012/387).
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
191
CMVM
investimento personalizada reconduz-se à atividade de consultoria para investimento e, mais concretamente, ao
aconselhamento personalizado a um cliente, para efeitos do disposto nos n.ºs 1 e 2 do artigo 294.º do CódVM,
tal como resulta das Orientações da ESMA sobre o assunto.55 A articulação entre a noção de mera execução de
ordens e a de aconselhamento para investimento também tem sido fonte de preocupação, e justificará
desenvolvimentos futuros. Este ponto é tão ou mais importante quanto se tem constatado que os intermediários
financeiros tendem a qualificar as subscrições como mero serviço de receção de ordens, ainda que não fique
demonstrada a iniciativa do cliente, posto que assim se desobrigam de proceder à avaliação da adequação da
operação, nos temos do artigo 314.º-D do CódVM.
CAIXA 10 – CLIENTE MISTÉRIO
A CMVM realizou um estudo com base em procedimentos de “Cliente Mistério” tendo por objeto instituições
bancárias que prestam serviços de intermediação financeira nos seus balcões. Entre agosto e novembro de 2012
foram feitas 516 entrevistas, repartidas pelos vários dias úteis da semana e períodos do dia, que tiveram por base
quatro perfis de cliente pré-definidos.
No perfil 1, o cliente tinha 65 anos, apresentava-se como reformado com habilitações ao nível do primeiro ciclo
do ensino básico, sem conhecimentos relevantes em matéria de investimentos financeiros ou experiência
anterior. O objetivo declarado deste cliente era o de investir 75.000 Euros, que identificava como poupanças de
uma vida para as quais procurava uma remuneração um pouco superior à dos depósitos a prazo. Afirmava ainda
não ter qualquer tolerância perante o risco, não estando disposto a incorrer em perdas nominais de capital. O
interesse do investidor seria uma única aplicação a um ano, mobilizável, com preferência por receber um
rendimento mínimo garantido.
No perfil 2, o cliente tinha 40 anos, apresentava-se como gerente de loja com o 12º ano de escolaridade e
poucos conhecimentos sobre instrumentos financeiros. Em termos de experiência reportava ter subscrito um
Plano Poupança Reforma dois anos antes. O valor a investir era de 25.000 Euros proveniente de uma herança
recente. A tolerância ao risco era baixa a moderada, admitindo um investimento com o horizonte máximo de
cinco anos. Quanto ao objetivo do investimento, pedia conselho ao intermediário financeiro sem apresentar
condicionantes. Afirmava, contudo, querer receber um rendimento trimestral ou semestral e admitia a subscrição
de mais do que um produto.
No perfil 3, o cliente tinha 30 anos e uma licenciatura em engenharia. Os conhecimentos sobre instrumentos
financeiros que declarava eram de nível médio, afirmando-se acionista de uma sociedade cotada desde a sua
55 Understanding the definition of advice under MIFID, CERS/10-293 e CERS/10-294, de 19 de abril de 2010.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
192
CMVM
privatização. O valor a investir por um período de dois anos era de 15.000 Euros proveniente da remuneração
laboral. O objetivo do investimento era obter rentabilidades elevadas (mais de 5%) afirmando não querer “os
ovos todos no mesmo cesto”. A tolerância ao risco declarada é elevada, dispondo-se a correr o risco de perder
até 20% do capital inicial.
No perfil 4, o cliente tinha 40 anos, era empresário e possuía habilitações ao nível da licenciatura ou superior. O
conhecimento sobre instrumentos financeiros declarado era médio/alto e tinha já larga experiência com
aplicações diversificadas que subscrevera individualmente (ações, obrigações, fundos de investimento e unit
linked). O valor disponível para investir era de 200.000 Euros provenientes do trabalho, de investimentos
imobiliários e de instrumentos financeiros. O objetivo do investimento era obter a maior rentabilidade possível,
sem comprometer a liquidez. O cliente revelava ter consciência de que era um investidor relevante. A tolerância
ao risco era moderada, estando disposto a perder uma parcela do capital investido. O horizonte de investimento
podia ajustar-se às aplicações propostas pelo banco mas nunca superando os cinco anos. O cliente revelava
querer aceder aos mercados internacionais, nomeadamente aos mercados emergentes, e a produtos das grandes
casas internacionais de investimento, nomeadamente hedge funds, private equity, ETF, CFD, Forex, futuros e
Commodities. Revelava ainda pretender pagar o mínimo de imposto possível.
As idades e as profissões dos perfis eram indicativas; as restantes variáveis estavam fixadas ainda que podendo
só ser reveladas após inquirição por parte dos colaboradores das instituições bancárias. Cerca de 80% dos
inquiridores já tinha alguma experiência de ‘Cliente Mistério’.
Foram visitados 132 balcões, onde se realizaram, por regra, quatro entrevistas, uma por cada perfil identificado.
As entrevistas tiveram por alvo balcões de 10 instituições bancárias, selecionados em função da dimensão
relativa das respetivas redes de balcões. Também se procurou aproximar a distribuição geográfica dos balcões
visitados à distribuição da população. Realizaram-se entrevistas em todos os distritos do continente com
exceção da Guarda, Bragança e Beja, e foram feitas entrevistas nas duas regiões autónomas.
Uma das matérias objeto do estudo foi a relacionada com o conhecimento do perfil do cliente. Em média, a
informação mais solicitada pelo colaborador bancário foi o montante a investir, seguida do prazo do
investimento. O colaborador bancário procurou informar-se sobre estes aspetos em 75% ou mais das entrevistas
realizadas para cada perfil. Todavia, conhecer o nível de aversão ao risco apenas foi preocupação declarada em
40% das entrevistas do perfil 2 (valor máximo de 57% no perfil 3), dados que revelam margem para franca
melhoria. Os colaboradores bancários revelaram muito pouco interesse em conhecer a situação patrimonial do
cliente em qualquer dos perfis, tendo sido também pouco frequentes perguntas sobre produtos já detidos ou
sobre a experiência do cliente em matéria de investimento. Neste último aspeto, particularmente importante por
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
193
CMVM
incorporar um tópico fundamental para a correta identificação dos produtos a sugerir ao perfil do cliente em
causa, destaca-se que apenas em 20% das entrevistas do perfil 1 e em 26% das entrevistas do perfil 2 foi
assinalada a preocupação de obtenção desta informação pelo colaborador bancário.
Gráfico A – Conhecimento do Cliente
Fonte: CMVM.
A informação prestada espontaneamente pelos colaboradores das instituições bancárias aos seus potenciais
clientes foi também analisada. A indicação da rentabilidade do produto nos vários cenários pertinentes ocorreu
em 62% das entrevistas dos clientes do perfil 3 (o valor mais elevado) e em 54% das do perfil 1 (o valor mais
baixo). Em relação a aspetos como a fiscalidade inerente, os riscos e perdas possíveis, a maturidade do produto,
a possibilidade de levantamento/resgate antecipado ou o custo existente caso haja reembolso ou resgate
antecipado, o perfil 1 registou sempre os valores médios mais elevados de informação prestada.
Sucedeu exatamente o oposto quanto à indicação da rentabilidade do produto nos vários cenários pertinentes e,
em particular, em relação à informação sobre a existência de comissões inerente ao produto. O perfil 2 também
se destaca dos demais por acumular os menores registos médios de informação espontaneamente revelada ao
cliente em cinco dos sete aspetos avaliados. Em termos gerais, a informação relativa às comissões cobradas foi a
menos sujeita a difusão junto dos clientes, atingindo, no máximo, um valor médio de 33% (perfil 4). A
informação sobre a fiscalidade associada aos produtos e ao custo existente em caso de reembolso ou resgate
antecipado seguiram-se-lhe como as menos reveladas, nunca atingindo os 50%. Mesmo as características mais
reveladas de forma espontânea, raramente o foram em mais de dois terços das entrevistas.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CMVM
Gráfico B – Informação ao Cliente
Fonte: CMVM.
De acordo com a autoavaliação efetuada pelo entrevistado, foi averiguada a adequação dos produtos propostos
ao perfil de cada cliente. Dessa avaliação resulta uma adequação média máxima de 68% relativa ao perfil 3,
seguida de perto pela do perfil 4. A maior percentagem de desadequação dos produtos propostos ao perfil do
cliente (acima dos 40%) ocorreu nos perfis onde o entrevistado personificou uma maior aversão ao risco.
Finalmente, apresenta-se a frequência de produtos (primeiras escolhas apresentadas pela força de vendas das
instituições bancárias) por cada um dos quatro perfis considerados. Uma das constatações mais evidentes aponta
para um maior esforço da força de vendas no sentido de promover a distribuição de depósitos a prazo, mesmo
entre os clientes que revelaram baixa aversão ao risco. Os depósitos a prazo foram, aliás, o produto financeiro
mais sugerido como primeiro opção de investimento em todos os perfis ainda que com menor frequência para os
perfis menos avessos ao risco. Os fundos de investimentos seguiram-se aos depósitos nos perfis 2 e 4, enquanto
as obrigações registaram a segunda maior frequência no perfil 3. No caso do perfil 1, a seguir aos 71,5% de
entrevistas em que o cliente foi conduzido para um depósito surgiram os Planos de Poupança Reforma com
5,8%, acompanhados de perto pelos Seguros de Vida (4,4%). O investimento direto em depósitos indexados,
ações e certificados de aforro registou referências marginais na maioria dos perfis.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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Gráfico C – Testes de Adequação
Fonte: CMVM.
Uma última nota para a relativa popularidade de uma categoria designada de “aplicações” na qual se inserem os
produtos financeiros complexos. Esta categoria foi a primeira recomendação dos colaboradores dos bancos no
caso dos clientes de perfil 2 (10,1% das entrevistas), um perfil que, recorde-se, se caracterizava por uma baixa a
moderada tolerância ao risco, muitas vezes não compatível com este tipo de produtos.
Gráfico D – Instrumentos Financeiro Oferecidos aos Clientes
Fonte: CMVM.
Este exercício mostra, pois, a importância de os intermediários financeiros assegurarem que a comercialização
de produtos financeiros complexos seja sempre realizada com intervenção de colaboradores que tenham
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CMVM
adquirido conhecimentos sobre mercados e produtos financeiros que lhes permitam compreender e esclarecer os
clientes sobre as características e os riscos dos produtos comercializados.
3.2.2 Informação
A CMVM respondeu a 1.904 pedidos de informação dos investidores, do público em geral e dos profissionais
da indústria financeira, o que representa um aumento de 18% face ao ano anterior. Mais de metade dos
esclarecimentos (56,4%) foram solicitados por telefone, através da Linha Verde de Apoio ao Investidor,
enquanto 40,5% optaram por utilizar o correio eletrónico ou preencher o formulário disponível para o efeito no
sítio de internet.
Gráfico 68 - Pedidos de Informação e Respetivo Meio de Acesso Utilizado
Fonte: CMVM.
As principais temáticas objeto de pedidos de informação respeitaram a dúvidas sobre os direitos que assistiam
aos investidores enquanto acionistas de sociedades abertas alvo de determinados eventos societários. Houve
muitas dúvidas de investidores sobre se perante a aquisição do controlo da sociedade por um acionista
maioritário, em consequência de uma Oferta Pública de Aquisição, a anterior oferente se encontrava obrigada a
comprar ou a aceitar propostas de venda que lhe fossem dirigidas relativamente às ações sobrantes e, em caso
afirmativo, qual o valor da contrapartida. Foi o caso das questões em torno do preenchimento dos requisitos da
aquisição e alienação potestativas na sequência do apuramento de resultados das Ofertas Públicas de Aquisição
lançadas sobre ações da Brisa, da Cimpor e da Fisipe.
0
200
400
600
800
1.000
1.200
1.400
1.600
1.800
2.000
2010 2011 2012Linha Verde E-mail Website Presencial Carta/Fax
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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Outras questões suscitadas com maior frequência nos pedidos de informação respeitaram a: i) operações
relativas a ofertas públicas de aquisição que envolveram emitentes como a Fisipe e o Belenenses, e o projeto de
fusão entre a ZON e a Optimus. No caso da Brisa foram também diversas as questões colocadas pelos
detentores de ações sobre as implicações decorrentes do pedido de perda de qualidade de sociedade aberta
apresentado pela TAGUS; ii) ofertas públicas de subscrição de obrigações e aumentos de capital (exercício de
direitos de subscrição e aquisição de ações preferenciais); iii) regras e procedimentos na negociação de
instrumentos financeiros, bem como questões sobre onde encontrar as cotações dos emitentes e/ou de
instrumentos financeiros por estes emitidos. Foram frequentes as dúvidas sobre onde podem ser consultadas
informações relativas às estruturas acionistas de sociedades abertas e aos resultados trimestrais e anuais dos
emitentes; e iv) atuação dos intermediários financeiros na sua relação com os clientes, tendo sido questionada a
conformidade legal de alguns procedimentos e comissões cobradas, e dúvidas sobre os procedimentos a seguir
no caso de transferências de carteiras de títulos para outra entidade financeira.
No plano da prevenção foram publicados 13 comunicados a alertar para a falta de registo ou de autorização para
o exercício da atividade de intermediação financeira ou de habilitação por parte de pessoas e sociedades que se
encontravam a operar em Portugal. No âmbito da cooperação internacional para a prevenção de fraudes e com o
objetivo de manter informados os investidores residentes que pretendam investir através de entidades sediadas
ou a exercer atividade em outras jurisdições, foram também publicados 502 alertas de intermediação financeira
não autorizada recebidos de autoridades de supervisão de outros países.
O número de novos documentos divulgados através do sítio na internet foi ligeiramente superior a 26.600, mais
4% do que no ano anterior. As comunicações dos emitentes, dos fundos de investimento e respetivas sociedades
gestoras, dos intermediários financeiros e entidades comercializadoras de produtos financeiros complexos
representaram 45% da totalidade de informação disponibilizada ao mercado. A informação não periódica é a
que assume maior preponderância em número de documentos e em número de consultas pelos destinatários. Em
2012 foram publicados 165 comunicados, entre os quais se destacam estudos, novos regulamentos, instruções,
consultas públicas, estatísticas e outros elementos decorrentes da atividade da própria CMVM. Foram também
divulgados 31 comunicados sobre decisões tomadas em processos de contraordenação e a decisões judiciais
sobre impugnações de sanções aplicadas pela CMVM. Foram ainda publicados cerca de 2.800 eventos na
“Agenda do Investidor”.
Entre as novas áreas criadas no sítio na internet, além da já mencionada respeitante à consulta on-line dos
processos de reclamação, destacam-se as relativas ao short selling e às dúvidas mais frequentes dos investidores.
A nova área respeitante ao short selling tem por objetivo agilizar o processo de reporte obrigatório ao mercado
de posições líquidas curtas, ao abrigo das normas que resultam da entrada em vigor do Regulamento (EU) n.º
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
198
CMVM
236/2012. As respostas às dúvidas mais frequentes dos investidores passaram a estar disponíveis na área de
apoio ao investidor do sítio. Através desta via, foram disponibilizadas informações relativas à oferta pública de
aquisição e à perda da qualidade de sociedade aberta da Brisa, à oferta pública de aquisição geral e obrigatória
sobre as ações da Fisipe, à oferta pública geral e voluntária sobre a Cimpor, aos requisitos para que se possa
considerar existir o dever de lançamento de uma Oferta Pública de Aquisição Potestativa e ainda referentes a
deveres de informação relativos a produtos financeiros complexos e à comercialização de operações e seguros
ligados a fundos de investimento, comissões e sistema de indemnização aos investidores.
Foram ainda renovadas algumas das áreas já disponibilizadas aos utilizadores do sítio na internet, com o intuito
de reforçar a acessibilidade e de melhorar a informação publicada, como é o caso da área relativa ao dossier de
registo para o exercício de atividades sob supervisão da CMVM e da área de divulgação das decisões relativas a
contraordenações graves e muito graves, a qual passou a consolidar na mesma página de acesso, quer as
decisões condenatórias da CMVM, quer as decisões judiciais que sobre elas recaiam. O número de utilizadores
do sítio foi de 2,8 milhões, tendo o número de páginas vistas ultrapassado os 50,3 milhões.
3.2.3 Sistema de Difusão de Informação
As entidades supervisionadas estão legalmente obrigadas à prestação de um conjunto alargado de informações
ao mercado. O sistema de difusão de informação permite que estas entidades – onde se incluem emitentes,
entidades gestoras de fundos de investimento, intermediários financeiros, entidades comercializadoras de
produtos financeiros complexos, incluindo unit-linked e fundos de pensões abertos de adesão individual –
cumpram os seus deveres de informação ao mercado sem necessidade de intervenção da CMVM no
procedimento, uma vez que podem efetuar essas comunicações de forma remota. Durante o ano, foram
divulgados 12.182 documentos por estas entidades.
Quadro 75 – Número de Comunicações Efetuadas Através do Sítio da CMVM na Internet
Fonte: CMVM.
2010 2011 2012
Factos Relevantes / Informação Privilegiada 1515 1610 1648
Outras Informações 2780 3906 4040
Prestação de Contas 550 499 506
Participações Qualificadas 315 421 354
Documentos de Ofertas 1525 1161 1150
Total 6685 7597 7698
Prospetos 1.316 1.137 1.149
Regulamentos de Gestão 414 346 392
Relatórios e Contas 897 929 888
Informação Relevante 1.443 1.474 1.519
Total 4.070 3.886 3.948
Intermediários Financeiros
Preçários 88 106 106
Total 88 106 106
Produtos Financeiros Complexos 201 236 180
Unit-Linked 272 177 177
Fundos de Pensões Abertos de Adesão Individual 56 93 73
Total 529 506 430
Entidades Emitentes
Entidades Comercializadoras de
PFC
Organismos de Investimento Coletivo
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
199
CMVM
3.2.4 Supervisão da Publicidade e da Comercialização de Produtos Financeiros
Complexos
Foram alcançados significativos progressos em matéria de supervisão da distribuição e da publicidade a
produtos financeiros complexos, o que não pode ser dissociado do regime consagrado na nova regulamentação
sobre produtos financeiros complexos publicada em 2012.
O Comité de Inovação Financeira (CIF) da CMVM, criado em 2011, continuou a analisar os documentos
informativos (agora designados de IFI - ‘Informação Fundamental ao Investidor’) e a publicidade respeitante
aos produtos financeiros complexos e às plataformas de negociação que suportam a respetiva transação.
Entre outras ações, a supervisão das redes de comercialização destes produtos foi intensificada. Escrutinou-se a
adequação de conhecimentos das respetivas equipas de vendas e a existência ou ausência de conflitos de
interesses na comercialização de produtos financeiros complexos e foi reforçado o efetivo cumprimento dos
deveres de informação que impendem sobre os comercializadores destes produtos.
No final do ano os produtos financeiros complexos sujeitos à supervisão comportamental da CMVM
compreendiam operações e contratos de seguro ligados a fundos de investimento, comummente designados unit-
linked, produtos duais (aplicação de fundos conjugada com instrumento financeiro autónomo), fundos de
pensões abertos de adesão individualizada, obrigações estruturadas, valores mobiliários representativos de
dívida com possibilidade de perda de capital (Notes), certificados, warrants autónomos, soluções de proteção de
taxa de juro, contratos de derivados sobre divisas, ETF e CFD, entre outros.
A CMVM analisou 220 peças de publicidade relativas a produtos do setor segurador e bancário (categorizados
como produtos financeiros complexos). Foi necessário solicitar alterações em 133 dessas peças, o que
correspondeu a 60% dos casos.
O número de peças publicitárias aprovadas sem necessidade de alterações, apesar de se situar ainda em apenas
40%, aumentou de forma significativa, situação que pode ser atribuída à maior clarificação introduzida pela
regulamentação sobre produtos financeiros complexos e pela crescente assimilação pelas entidades
comercializadoras dos requisitos a seguir na publicidade efetuada sobre estes produtos.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
200
CMVM
Quadro 76 - Análise das Campanhas Publicitárias de Produtos Financeiros Complexos
Em resultado da análise empreendida aos documentos de comercialização dos produtos financeiros complexos,
prospetos simplificados e documentos informativos foram efetuadas inúmeras recomendações para salvaguardar
os interesses dos investidores, assegurando que os mencionados documentos apresentam uma informação clara,
concisa e em linguagem facilmente compreensível, e que descrevem as principais características e riscos dos
produtos. Das recomendações mais frequentes efetuadas destacam-se: i) a necessidade de qualificação como
produto financeiro complexo; ii) a inclusão de uma caixa contendo advertências ao investidor; iii) a objetividade
e clareza das mensagens publicitárias; iv) a assertividade relativamente às características do produto; v) o
equilíbrio do conteúdo da mensagem quando destacadas características positivas face a outras características
menos positivas; e vi) a inclusão de menções obrigatórias.
3.2.5 Literacia Financeira
O Plano Nacional de Formação Financeira (PNFF), uma iniciativa do Conselho Nacional de Supervisores
Financeiros (CNSF) para o quinquénio 2011/2015, entrou na fase de desenvolvimento de projetos para
promover o aumento do nível de conhecimentos financeiros da população e a adoção de comportamentos
financeiros desejáveis por parte dos consumidores, contribuindo também por esta via para a estabilidade do
sistema financeiro.
O lançamento do portal “Todos Contam” pelos três supervisores financeiros, a 9 de julho de 2012, constituiu um
dos pilares para a promoção da literacia financeira junto do público em geral ao apresentar de forma integrada e
com uma linguagem simples e de fácil compreensão pelo utilizador matérias relativas à gestão das finanças
pessoais. Neste sítio na internet constam informações sobre os comportamentos financeiros mais adequados em
cada etapa da vida, apresentam-se conceitos financeiros básicos que permitem compreender melhor a
informação transmitida pelas entidades que operam no sistema financeiro e reduzir as assimetrias de
Peças analisadas
Alterações solicitadas
Peças analisadas
Alterações solicitadas
Produtos duais (aplicação de fundos conjugada com um instrumento financeiro autónomo) 1 1 0 -
Certificados 10 10 2 2
Seguros e operações ligados a fundos de investimento (unit-linked ) 27 26 46 17
Fundos de pensões abertos de adesão individual 33 32 35 19
Obrigações estruturadas* 35 30 19 19Outros 116 112 118 76
Total 222 211 220 133Fonte: CMVM.
Legenda: *Inclui credit-linked notes.
Tipo de Produtos
2011 2012
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
201
CMVM
informação, e explicam-se as principais características e riscos dos instrumentos financeiros mais
comercializados. São também disponibilizados simuladores que permitem ao utilizador avaliar custos,
remunerações e rentabilidades esperadas das aplicações financeiras e gerir o orçamento familiar. O portal é
ainda uma ferramenta de apoio à formação financeira nas escolas, com conteúdos úteis, disponíveis na sua
biblioteca, para serem lecionados nos diversos níveis de ensino (do básico ao universitário) e também para a
formação de adultos e para a formação de formadores. Como “a brincar também se aprende”, o portal apresenta
ainda uma biblioteca júnior onde estão disponíveis jogos e livros didáticos para os mais novos.
Reconhecida pelo CNSF a necessidade de intensificar o processo de literacia financeira nas escolas, a CMVM
foi uma das entidades participantes no grupo de trabalho que elaborou o Referencial de Educação Financeira
para a Educação Pré-Escolar, o Ensino Básico e Secundário e a Formação de Adultos. Este será o documento
orientador para a implementação da educação financeira em contexto letivo, estabelecendo metas de
aprendizagem adaptadas a cada nível de ensino. Ainda com o objetivo de promover o envolvimento da
comunidade escolar nas iniciativas de formação financeira, foi lançada a primeira edição do concurso “Todos
Contam” e realizadas um conjunto de iniciativas no âmbito das comemorações do “Dia Mundial da Poupança”.
CAIXA 11 – JORNADAS DA LITERACIA FINANCEIRA
O envolvimento da sociedade nos esforços para elevar o nível de formação financeira foi o mote para as
iniciativas executadas durante o ano no âmbito do Plano Nacional de Formação Financeira. As jornadas da
literacia financeira pautaram-se pelo lançamento do concurso “Todos Contam” e pela realização do Dia da
Formação Financeira.
Concurso Todos Contam
Na prossecução do objetivo traçado pelo CNSF para uma ampla cobertura das ações de literacia financeira a
nível nacional e para incentivar o envolvimento da população em idade escolar, a comissão de coordenação do
PNFF lançou em setembro de 2012 o concurso “Todos Contam”, uma iniciativa que contou com a colaboração
do Ministério da Ciência e Educação para a sua difusão junto das escolas.
O júri do concurso premiou os quatro melhores projetos de formação financeira apresentados por alunos dos três
ciclos do ensino básico e do secundário para concretização nas respetivas escolas ou agrupamentos escolares
durante o ano letivo 2012/2013 e atribuiu ainda um prémio especial para o melhor projeto destinado a alunos
integrados no currículo específico individual. Foram submetidas a concurso 59 candidaturas, que envolveram
190 escolas de todo o país e cerca de 17.000 alunos.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
202
CMVM
Dia da Formação Financeira
As comemorações do Dia Mundial da Poupança foram assinaladas com um conjunto de iniciativas dos três
supervisores financeiros, com a participação das entidades parceiras do PNFF e foram subordinadas ao tema
“Dia da Formação Financeira”. Estas iniciativas decorreram em Lisboa e no Porto, e contaram com a presença
de cerca de 2.500 visitantes.
Em Lisboa, as atividades concentraram-se no Páteo da Galé, com a realização de uma conferência institucional
dedicada à “Importância da Literacia Financeira Para a Estabilidade do Sistema Financeiro” e uma outra
promovida pelo Ministério da Educação e Ciência sobre a “Educação Financeira nas Escolas”. Ao longo do dia
realizaram-se também diversas atividades lúdicas e pedagógicas destinadas aos alunos das 28 escolas visitantes
e demais participantes nas jornadas da literacia financeira. Entre as atividades realizadas pelas diversas
entidades parceiras do PNFF destacam-se a realização de workshops e debates sobre literacia financeira,
financiamento e gestão do orçamento familiar, a apresentação das peças de teatro “Less Is More” e “Fazer
Contas à Vida”, a realização de espetáculos como as “Magias da Poupança” e “No Ritmo da Poupança”,
havendo também a possibilidade de escalar a “Parede da Poupança”.
No Porto, as iniciativas decorreram na Fundação Dr. António Cupertino de Miranda – Museu Papel Moeda e na
Faculdade de Economia. Na Fundação realizou-se uma sessão solene do Dia da Formação Financeira dirigida a
professores e alunos das escolas de ensino básico e esteve patente, ao longo do dia, uma mostra de trabalhos
sobre educação financeira realizados por alunos de escolas do ensino básico. Na Faculdade de Economia da
Universidade do Porto esteve patente uma mostra sobre literacia financeira que contou com a participação de
diversas entidades associadas ao Plano Nacional de Formação Financeira.
Além dos projetos desenvolvidos no âmbito do PNFF, a CMVM reforçou a atividade no domínio da literacia
financeira e da proteção do investidor ao publicar nove brochuras onde constam as características, riscos e
modos de funcionamento de instrumentos financeiros como ações, obrigações, fundos de investimento e
produtos financeiros complexos, e publicou brochuras com recomendações aos investidores e com informações
sobre deveres dos intermediários financeiros na sua relação com os clientes.
3.3. COMPETITIVIDADE E DINAMISMO DO MERCADO FINANCEIRO PORTUGUÊS
3.3.1 Reformas Legislativas e Regulamentares Concluídas e Principais Implicações
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
203
CMVM
A CMVM apoiou o Governo na negociação da revisão de quatro diretivas, na negociação de seis novos
regulamentos e na revisão do Regulamento Europeu relativo a Agências de Notação de Risco, e acompanhou os
trabalhos preparatórios da Comissão Europeia relativos a uma iniciativa no âmbito da regulação dos valores
mobiliários.
No plano nacional foram efetuadas duas consultas públicas em 2012 sobre a revisão da regulamentação relativa
a comercialização e publicidade de produtos financeiros complexos e sobre o anteprojeto legislativo que visou
transpor para o ordenamento jurídico nacional a Diretiva relativa ao prospeto a publicar em caso de oferta
pública de valores mobiliários ou da sua admissão à negociação (Diretiva 2010/73/EU) e a Diretiva relativa à
harmonização dos requisitos de transparência no que se refere às informações respeitantes aos emitentes cujos
valores mobiliários estão admitidos à negociação num mercado regulamentado (Diretiva 2004/109/CE). A
primeira deu origem ao Regulamento da CMVM n.º 2/2012 e a segunda materializou-se no Decreto-Lei n.º
18/2013, de 6 de fevereiro.
Das medidas legislativas e regulamentares concluídas (ou em curso) destacam-se as seguintes:
Reformas Regulamentares
Durante o ano findo a CMVM procedeu à revisão de vários regulamentos da sua responsabilidade. A revisão da
regulamentação relativa aos organismos de investimento coletivo foi também já iniciada em 2013 (Regulamento
n.º 1/2013 relativo a “Fundos do Mercado Monetário e Ajustamento ao Plano de Contabilidade dos Organismos
de Investimento Coletivo”) e será objeto de desenvolvimento no contexto da transposição da quarta diretiva dos
Organismos de Investimento Coletivo em Valores Mobiliários (OICVM IV) e respetivas diretivas de execução.
O Regulamento da CMVM n.º 4/2010 foi revogado com a publicação do Regulamento n.º 1/2012, decorrente da
entrada em vigor em 1 de novembro de 2012 do Regulamento Europeu n.º 236/2012 do Parlamento Europeu e
do Conselho, de 14 de março, sobre vendas curtas e certos aspetos dos credit default swaps. Apesar de o
referido Regulamento permitir aos Estados-membro manter em vigor até 1 de julho de 2013 regras nacionais
sobre short-selling que tenham entrado em vigor antes de 15 de setembro de 2010, situação em que se
encontrava o Regulamento da CMVM n.º 4/2010 (e a Instrução da CMVM n.º 2/2008), entendeu-se que esta
possibilidade não deveria ser utilizada. Com efeito, o novo enquadramento regulamentar da União permite uma
maior harmonização do regime entre os vários Estados-membro, o que favorece o seu cumprimento por parte
dos investidores e permite uma maior eficácia na supervisão, alcançando desse modo os objetivos de
estabilidade e de integridade dos mercados.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
204
CMVM
Foi aprovado o Regulamento da CMVM n.º 2/2012 sobre deveres informativos relativos a produtos financeiros
complexos e comercialização de operações e seguros ligados a fundos de investimento, que revogou o
Regulamento n.º 1/2009. Tendo por objetivo a simplificação dos processos de elaboração e supervisão dos
documentos informativos, mas igualmente em benefício da clareza da informação, foi regulamentado de forma
detalhada o formato e o conteúdo do documento de Informação Fundamental ao Investidor. Com esta
formatação pretendeu-se, em simultâneo, garantir uma redução do custo e da incerteza associados à elaboração
dos IFI e das peças publicitárias, e evoluir no sentido de uma maior homogeneidade da informação prestada ao
investidor, o que facilitará a sua familiarização com o tipo de informação em causa, bem como a
comparabilidade entre produtos. Pretendeu-se igualmente garantir que o IFI de produtos financeiros complexos
contém a informação considerada essencial para permitir ao investidor a formação de uma vontade de
investimento esclarecida e responsável, e que seja suficientemente sucinto de modo a evitar a inclusão de
informação excessiva e não desencorajar a respetiva leitura e compreensão. Com este propósito estabeleceu-se
uma dimensão máxima do IFI, à semelhança das regras já em vigor para os fundos de investimento
harmonizados e das tendências já publicamente reveladas das orientações da Comissão Europeia no que respeita
aos Packaged Retail Investment Products, que procuram uma aproximação às regras em vigor para os
organismos de investimento coletivo harmonizados (UCITS).
Procedeu-se igualmente ao alargamento e à tipificação das advertências aos investidores, além do que era
previsto no Regulamento n.º 1/2009. A experiência veio não só demonstrar a exiguidade das previsões
regulamentares nesta matéria como também apontar inequivocamente para a necessidade de uma maior
tipificação. O ritmo a que a inovação financeira ocorre igualmente aconselha que o quadro regulamentar nesta
matéria seja flexível de forma a permitir, de modo célere, adaptar os instrumentos regulatórios às novas
necessidades, adicionando advertências a esse elenco. Nesse sentido, foi introduzida a possibilidade de a
CMVM determinar a introdução de advertências nos IFI e nas peças publicitárias diferentes daquelas previstas
no Regulamento n.º 2/2012 sempre que tal se mostre necessário à proteção dos investidores. Por outro lado, a
tipificação do conteúdo das advertências constitui um elemento inovador e facilita o processo de produção dos
IFI e das peças publicitárias, bem como a sua apreciação e, quando aplicável, aprovação. Passou a exigir-se a
inclusão, quer no IFI, quer na publicidade, de um alerta gráfico que, de uma forma que se pretende apelativa,
comunique aos investidores de forma simples e direta características relevantes do produto financeiro complexo,
designadamente no que respeita à possibilidade de perder parte ou a totalidade do capital investido.
Relativamente à publicidade, consagrou-se um período de validade máximo de quatro meses para as peças
publicitárias aprovadas, sem prejuízo da existência de regras de caducidade específicas e da possibilidade de
renovação, reforçando-se desta forma a atualidade da informação como elemento essencial dessas peças
publicitárias.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
205
CMVM
O Regulamento n.º 2/2012 visou também a uniformização de linguagem, e procura evitar que a utilização de
expressões equívocas ou inapropriadas possa induzir os investidores em erro. Assim, estabeleceram-se as
definições de conceitos tidos por relevantes (tais como perda de capital e rendimento garantido) e interdita-se o
uso de determinadas expressões em contextos que não sejam apropriados. Além disso, elencam-se e definem-se
os fatores de risco que devem ser identificados no IFI, e estabelece-se a obrigação de definir os fatores de risco
não tipificados que o produto financeiro complexo adicionalmente contenha.
Um outro elemento inovador introduzido diz respeito ao estabelecimento da obrigatoriedade de apresentar
cenários em função da sua probabilidade de ocorrência. Passou a exigir-se que os cenários a apresentar sejam o
cenário pessimista (que corresponde ao percentil 10 das taxas de rentabilidades esperadas), o cenário central
(que corresponde à mediana das taxas de rentabilidade) e o cenário otimista (relativo ao percentil 90 das taxas
de rentabilidades esperadas). De modo a obviar à necessidade de cálculo de probabilidades em circunstâncias
em que a defesa dos interesses dos investidores delas não necessite, apenas se estabeleceu a obrigatoriedade de
apresentar tais cenários quando o IFI voluntariamente inclua cenários ou exemplos. Poderá ainda ser solicitada a
inclusão de cenários quando tal se afigure adequado à proteção dos investidores nos casos em que a amplitude
entre a taxa interna de rentabilidade máxima e mínima seja superior ou igual a cinco pontos percentuais ou a
distribuição de resultados seja fortemente assimétrica.
Reformas Legislativas
Revisão do Regime Jurídico dos Organismos de Investimento Coletivo
No âmbito dos trabalhos de transposição para o ordenamento jurídico nacional da Diretiva 2009/65/CE do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 13 de julho, que coordena as disposições legislativas, regulamentares e
administrativas respeitantes a alguns organismos de investimento coletivo em valores mobiliários (Diretiva
OICVM IV), o Conselho Nacional de Supervisores Financeiros realizou uma consulta pública em que submeteu
à apreciação do mercado um anteprojeto de revisão de todo o Regime Jurídico dos Organismos de Investimento
Coletivo e de alterações ao Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras e ao CódVM. Na
sequência da análise e ponderação dos contributos recebidos, o CNSF enviou ao Ministério das Finanças um
anteprojeto, que virá a ser aprovado já em 2013.
Atentas as alterações significativas que o novo Regime Jurídico irá introduzir, a CMVM reviu o regime
regulamentar aplicável aos OIC, devendo o diploma ser submetido a consulta pública em 2013.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
206
CMVM
Revisão da Diretiva 2004/39/CE relativa aos Mercados de Instrumentos Financeiros
A Comissão Europeia apresentou em outubro de 2011 as propostas de revisão da Diretiva relativa aos mercados
de instrumentos financeiros (DMIF), materializadas numa Diretiva e num Regulamento, com o objetivo de
tornar os mercados financeiros mais eficientes, resilientes, transparentes e de reforçar a proteção dos
investidores. As propostas em discussão visam dar respostas às alterações verificadas nos mercados financeiros
desde a adoção da DMIF em 2004, marcadas designadamente pelo desenvolvimento de novas plataformas de
negociação (como as broker crossing networks), de novos produtos e de progressos tecnológicos que permitem
a negociação de alta frequência. Entre as medidas propostas pela Comissão Europeia incluem-se: i) a criação de
uma nova forma organizada de negociação (organised trading facilities ou OTF), com o objetivo de dar
enquadramento a formas de negociação alternativas não reguladas; ii) o alargamento das regras de divulgação
de informação pré e pós-negociação, bem como o reforço e a harmonização das regras de reporte de informação
às autoridades competentes, de modo a aumentar a transparência dos mercados financeiros e a qualidade da
informação divulgada às autoridades competentes para efeitos de supervisão; e iii) o reforço dos requisitos de
organização interna e de normas de conduta de intermediários financeiros e operadores de mercados
regulamentados, incluindo novos deveres de organização e de conduta para dar resposta aos riscos inerentes à
negociação com recurso a algoritmos ou de alta frequência. As licenças de emissão de gases com efeito de
estufa serão qualificadas como instrumentos financeiros com o objetivo de sujeitar a respetiva negociação à
regulação dos mercados financeiros. Prevê-se também que seja regulamentada a negociação obrigatória de
derivados elegíveis em estruturas organizadas de negociação, o reforço dos poderes de intervenção sobre a
detenção de posições em derivados e regras de acesso a estruturas organizadas de negociação e câmaras de
compensação.
São ainda de destacar as propostas de extensão de regras da DMIF à comercialização de depósitos bancários
complexos; a criação de mecanismos com vista à consolidação da informação pós-negociação; o alargamento
dos poderes das autoridades nacionais e da ESMA, no sentido de poderem proibir ou restringir a
comercialização de instrumentos financeiros ou o exercício de determinadas atividades financeiras
(designadamente quando esteja em causa a proteção dos investidores ou a estabilidade dos mercados
financeiros); regras harmonizadas para o acesso de empresas de investimento de países terceiros; e a
harmonização de sanções e medidas administrativas aplicáveis pelas autoridades competentes.
A aprovação da nova diretiva relativa aos mercados de instrumentos financeiros e do regulamento está prevista
para 2013.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
207
CMVM
Revisão da Diretiva 2003/6/CE relativa ao Abuso de Informação Privilegiada e à Manipulação de Mercado
A proposta da Comissão Europeia de revisão da Diretiva 2003/6/CE, relativa ao abuso de informação
privilegiada e à manipulação de mercado, foi apresentada em outubro de 2011. O projeto de Regulamento
destina-se a substituir as regras atualmente previstas na Diretiva e passará a ser o instrumento principal de
regulação do regime do abuso de mercado na União Europeia. As principais alterações propostas incluem: i) o
alargamento do âmbito das regras previstas na Diretiva 2003/6/CE aos instrumentos financeiros negociados
exclusivamente em sistemas de negociação multilateral ou em OTF; ii) a clarificação da aplicação de regras do
regime de abuso de mercado a determinados instrumentos financeiros derivados, designadamente os credit
default swaps; iii) a clarificação dos conceitos de informação privilegiada e de manipulação de mercado
relativamente a instrumentos derivados de matérias-primas; iv) medidas que visam dar resposta a estratégias de
manipulação de mercado com recurso à negociação de elevada frequência e ao uso de algoritmos; v) a previsão
de obrigação dos emitentes de comunicação às autoridades competentes da decisão de diferimento de
divulgação de informação privilegiada; vi) a criação de um regime de autorização para diferimento de
divulgação de informação privilegiada por razões de risco sistémico; e vii) a harmonização de regras sobre a
elaboração de listas de insiders e de divulgação de transações de dirigentes.
Estão previstos poderes reforçados para as autoridades competentes, regras mínimas sobre sanções
administrativas aplicáveis por essas autoridades e a criação de um regime de proteção e incentivo à denúncia de
violações das proibições e deveres previstos no Regulamento (whistleblowing). A Comissão Europeia
apresentou ainda uma proposta de Diretiva que determina a obrigação de os Estados-membro preverem sanções
penais para o abuso de informação privilegiada e de manipulação de mercado, com o objetivo de aproximar as
sanções penais para este tipo de crimes na União Europeia. Está previsto que o novo regime do abuso de
mercado seja aprovado em 2013.
Revisão da Diretiva 97/9/CE relativa aos Sistemas de Indemnização aos Investidores
Em julho de 2010 a Comissão Europeia apresentou uma proposta de diretiva, que altera a Diretiva 97/9/CE do
Parlamento Europeu e do Conselho, relativa aos sistemas de indemnização aos investidores (SII). A proposta
inicial da Comissão Europeia continha um conjunto de alterações importantes para harmonizar as regras de
financiamento dos SII e reforçar a confiança dos investidores nos mercados financeiros, incluindo o aumento do
limite mínimo de indemnização, regras de financiamento antecipado dos sistemas e o alargamento do âmbito de
cobertura dos sistemas. A posição comum adotada centrou-se, principalmente, i) na fixação de um intervalo
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
208
CMVM
indemnizatório entre EUR 30.000 e 100.000 por participante; ii) na obrigação de os Estados-membro
implementarem sistemas de financiamento adequados aos mecanismos de compensação de modo a assegurar
uma cobertura suficiente para fazer face às reclamações dos investidores; iii) na exclusão do âmbito de
aplicação do SII de entidades terceiras junto das quais o investidor tenha depositado os instrumentos financeiros
(em particular custodiantes); e iv) na exclusão do âmbito de aplicação do SII de participantes em fundos de
investimento harmonizados.
Regulamento relativo a transações de derivados OTC, a contrapartes centrais e repositórios de transações
Em resposta ao mandato do G20, foi aprovado o Regulamento (UE) n.º 648/2012, do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 4 de julho, relativo aos derivados do mercado de balcão (over-the-counter ou OTC), às
contrapartes centrais (CCP) e aos repositórios de transações (TR) – European Market Infrastructure Regulation
(EMIR). O EMIR prevê deveres de compensação centralizada através de CCP e a adoção de técnicas de
mitigação de risco para os contratos de derivados negociados OTC, bem como deveres de reporte de informação
relativa aos contratos de derivados. São, igualmente, previstos requisitos prudenciais e comportamentais para o
funcionamento e exercício das atividades de CCP e TR. Tendo entrado em vigor no dia 16 de agosto de 2012, a
plena aplicação do EMIR está, contudo, dependente de normas técnicas de regulamentação (regulatory
technical standards ou RTS) propostas pela ESMA e pela EBA e sujeitas à aprovação da Comissão Europeia,
depois da não objeção do Parlamento Europeu e do Conselho. O processo de negociação do EMIR, iniciado em
2010, foi acompanhado pela CMVM, em conjunto com o Ministério das Finanças e com o Banco de Portugal. A
nível nacional, foi criado um grupo de trabalho constituído no âmbito do CNSF, com a missão de apresentar
uma proposta de alteração legislativa e regulatória que adapte o quadro jurídico português ao novo regime,
nomeadamente no domínio sancionatório.
Regulamento sobre medidas para reforçar a segurança e a eficiência da liquidação de valores mobiliários na
União Europeia e sobre centrais de valores mobiliários
No quadro do esforço prosseguido pela União Europeia no sentido de criar um sistema financeiro mais sólido, a
Comissão Europeia apresentou no dia 7 de março de 2012 a proposta de Regulamento sobre medidas para
reforçar a segurança e a eficiência da liquidação de valores mobiliários na UE e sobre centrais de valores
mobiliários (Central Securities Depositories ou CSD), completando, assim, o quadro regulamentar da União
para os mercados de valores mobiliários e criando um regime jurídico europeu comum para as CSD. A Proposta
introduz alterações materiais, nomeadamente no que respeita à redução (e harmonização) do tempo de
liquidação para T+2, à desmaterialização de valores mobiliários até 1 de janeiro de 2018, à prestação de serviços
bancários auxiliares aos serviços principais da CSD, às regras comportamentais e prudenciais comuns às CSD
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
209
CMVM
inspiradas nos Princípios CPSS-IOSCO, ao regime de passaporte para as CSD autorizadas ao abrigo do novo
regime e respetivo quadro sancionatório.
A Proposta foi transmitida no dia 9 de março de 2012 ao Parlamento Europeu e ao Conselho. A CMVM, em
colaboração com o Banco de Portugal e com o Ministério das Finanças, acompanhou a negociação do diploma.
É expectável que o novo regime seja aprovado em 2013.
Proposta de Diretiva do Parlamento Europeu e do Conselho que altera a Diretiva 2009/65/CE que coordena
as disposições legislativas, regulamentares e administrativas respeitantes a alguns organismos de
investimento coletivo em valores mobiliários (Diretiva OICVM), no que diz respeito às funções dos
depositários, às políticas de remuneração e às sanções
A Comissão Europeia apresentou uma proposta legislativa no dia 3 de julho de 2012, que prevê alterações à
Diretiva OICVM. As alterações propostas pela Comissão assentam na experiência extraída da crise financeira e
têm como objetivo continuar a garantir a segurança dos investidores e a integridade do mercado. A Proposta
prevê as seguintes matérias: i) funções e responsabilidades do depositário do OICVM; ii) regras sobre a
remuneração da entidade gestora do OICVM, estabelecendo, designadamente, que as modalidades dessa
remuneração não devem incentivar a assunção de riscos excessivos e que a política de remuneração tenha
sobretudo em conta os interesses dos investidores a longo prazo e a realização dos objetivos de investimento do
OICVM; e iii) regime sancionatório aplicável às infrações ao quadro jurídico dos OICVM, instaurando normas
comuns sobre os níveis das coimas administrativas de forma a assegurar que sejam sempre superiores aos
potenciais benefícios resultantes da violação das disposições em vigor.
A CMVM, em colaboração com o Banco de Portugal e o Ministério das Finanças, acompanhou a negociação da
Proposta, estando prevista a sua conclusão no decurso de 2013.
CAIXA 12 – A DIRETIVA DOS GESTORES DE FUNDOS DE INVESTIMENTO ALTERNATIVOS
A Diretiva dos Gestores de Fundos de Investimento Alternativos (GFIA) foi aprovada no âmbito da reforma do
sistema financeiro da União Europeia, iniciada em 2008/2009 no apogeu da crise financeira mundial. A crise
revelou as vulnerabilidades e o impacto sistémico representado pelo setor dos fundos de investimento que
escapam às regras da Diretiva 2009/65/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 13 de julho de 2009, que
coordena as disposições legislativas, regulamentares e administrativas respeitantes a alguns OICVM.
A Diretiva GFIA é uma diretiva de harmonização mínima que regula a atividade dos GFIA, deixando aos
Estados Membros a disciplina jurídica da atividade dos fundos de investimento alternativos (FIA) por aqueles
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
210
CMVM
geridos. O objetivo geral da Diretiva GFIA é a criação de um quadro regulatório abrangente e de um regime de
supervisão eficaz para as entidades gestoras de organismos de investimento alternativos em toda a União. Como
objetivos específicos apontam-se os seguintes: i) assegurar que todos os GFIA são sujeitos a adequados
requisitos de autorização ou registo; ii) estabelecer mecanismos de gestão dos riscos e requisitos organizacionais
com vista a mitigar o risco micro-prudencial; iii) proteger os investidores; iv) aumentar a transparência de FIA
que detenham participações importantes ou de controlo em empresas; e v) desenvolver o mercado interno para
GFIA.
Em traços gerais, a Diretiva estabelece o regime relativo a: i) condições de acesso à atividade de GFIA
(autorização ou registo, capital inicial e fundos próprios); ii) condições de funcionamento (requisitos
organizacionais, incluindo política de remuneração, gestão dos riscos, gestão da liquidez, delegação de funções
e depositários); iii) requisitos de transparência; iv) condições de gestão e comercialização de FIA por GFIA da
UE, incluindo o regime do passaporte europeu para FIA da UE; e v) condições de gestão e comercialização de
FIA extra-UE (relações com países terceiros).
A Diretiva prevê ainda o regime de distribuição de competências entre a ESMA e as autoridades nacionais, bem
como os procedimentos de cooperação entre elas, sem esquecer um enquadramento sancionatório próprio.
O prazo de transposição da Diretiva termina em 22 de julho de 2013. A CMVM iniciou os trabalhos de
transposição no segundo semestre de 2012, os quais deverão desenvolver-se no seio de um Grupo de Trabalho a
constituir sob a égide do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros.
Proposta de Regulamento relativo às informações-chave sobre estruturas de produtos de investimento de
retalho
Em 3 de julho de 2012 a Comissão Europeia apresentou uma proposta de Regulamento do Parlamento Europeu
e do Conselho relativo às informações-chave que devem acompanhar a comercialização de determinados
produtos de investimento, denominados estruturas de produtos de investimentos de retalho (Packaged Retail
Investment Products ou PRIP). Esta proposta, de vocação transversal a todo o setor financeiro, destina-se a
munir o investidor não qualificado ou não profissional de um documento informativo curto, simples e
padronizado quanto à estrutura, apresentação e conteúdo, que lhe permita compreender o produto de
investimento que lhe é proposto e compará-lo a outros, com vista à tomada de uma decisão esclarecida de
investimento.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
211
CMVM
Os produtos de investimento objeto da proposta são, genericamente, cuja rentabilidade do investimento depende
da evolução de um ativo não diretamente adquirido pelo investidor. Nesta medida, trata-se de produtos de
investimento, comercializados no mercado de retalho, não muito diferentes na sua essência dos produtos
financeiros complexos previstos no ordenamento jurídico português e, quanto aos produtos sob supervisão da
CMVM, regulados pelo Regulamento n.º 2/2012.
A CMVM tem participado na negociação deste diploma europeu, juntamente com o Ministério das Finanças, o
Banco de Portugal e o Instituto de Seguros de Portugal.
Revisão do Regulamento (CE) n.º 1060/2009 relativo às agências de notação de risco
Durante o ano teve lugar a segunda revisão do Regulamento (CE) n.º 1060/2009, de 16 de setembro, relativo às
agências de notação de risco (CRA 3), aprovado pelo Parlamento Europeu em janeiro de 2013 e cuja entrada em
vigor se encontra prevista para o primeiro semestre de 2013. As principais alterações introduzidas visam,
nomeadamente, o aumento da transparência dos ratings soberanos, a redução da dependência excessiva ou
“mecânica” dos ratings, o reforço da independência e da accountability das agências de notação de risco
(responsabilidade civil) e uma maior exigência relativamente à notação de produtos estruturados.
Regulamento Europeu n.º 236/2012 do Parlamento Europeu relativo às vendas a descoberto (short-selling) e
certos aspetos dos credit default swaps
Em 1 de novembro entrou em vigor o Regulamento Europeu n.º 236/2012 do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 14 de julho, relativo às vendas a descoberto e certos aspetos dos credit default swaps. Este
Regulamento foi complementado por três outros regulamentos da CE, dois de execução (826 e 827/2012, de 29
de junho) e três outros delegados (918 e 919/2012, de 5 de julho). Os regulamentos consagram um regime
europeu harmonizado sobre as condições e restrições à realização de operações de venda a descoberto sobre
ações e sobre dívida soberana, estabelece deveres de transparência em relação à detenção de posições curtas
relevantes e suas vicissitudes, e proíbe a detenção de CDS a descoberto. Os regulamentos disciplinam ainda os
poderes de intervenção das autoridades de supervisão nacionais e da ESMA em situações excecionais,
nomeadamente os poderes para proibir ou estabelecer restrições adicionais às operações de venda curta ou a
quaisquer operações de que resulte a constituição ou o aumento de posições curtas sobre ações ou sobre dívida
soberana.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
212
CMVM
Outras Intervenções Legislativas e Regulamentares
No plano nacional foram efetuadas duas consultas públicas (ver ponto 3.3.2) e foram promovidas alterações de
atualização a 11 instruções da CMVM, a maioria das quais relacionadas com o reporte de informação sobre
organismos de investimento coletivo.
3.3.2 Coordenação Nacional da Supervisão e da Promoção da Estabilidade
Financeira
Comité Nacional para a Estabilidade Financeira
A CMVM, através do seu Presidente, toma assento no Comité Nacional de Estabilidade Financeira (CNEF),
órgão criado em 2007 e que se destina a promover a estabilidade do setor financeiro mediante a estreita
cooperação e troca de informações entre os três presidentes dos supervisores do setor financeiro e o Senhor
Ministro de Estado e das Finanças. Na sequência da emissão de recomendações do Comité Europeu de Risco
Sistémico sobre o mandato macro-prudencial das autoridades nacionais, com o objetivo de estreitar a
coordenação das políticas macro-prudenciais visando a estabilidade financeira, o CNEF preparou o
enquadramento legal que, em 2013, deverá corporizar a adoção em Portugal daquelas recomendações. O CNEF
constituiu-se ainda como um fórum de coordenação e de reflexão sobre possíveis iniciativas legislativas no
âmbito do sector financeiro.
Conselho Nacional de Supervisores Financeiros
O CNSF intensificou a sua análise regular do sector financeiro nacional e dos riscos por ele incorridos. Esta
análise passou a ser objeto de relatórios semestrais onde se tratam em maior profundidade as inter-relações
existentes entre os sectores da banca, dos seguros e do mercado de valores mobiliários.
O CNSF foi o local privilegiado de coordenação das intervenções das entidades de supervisão do sector
financeiro português no Comité Europeu de Risco Sistémico. É de destacar a discussão de temas como high
frequency trading, short-selling ou shadow banking. O CNSF foi também um fórum de partilha mútua de
informação sobre os temas em discussão nas diversas autoridades europeias de supervisão do setor financeiro e
de coordenação da representação portuguesa no Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI). Neste
domínio, o CNSF colaborou ativamente na elaboração das novas recomendações do GAFI e apresentou mais um
relatório de avaliação do regime nacional de luta contra o branqueamento de capitais e o financiamento do
terrorismo. A CMVM deu ainda um contributo muito relevante na coordenação de propostas de transposição de
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
213
CMVM
legislação comunitária, com destaque para a Diretiva dos Organismos de Investimento Coletivo em Valores
Mobiliários (OICVM IV) e a Diretiva dos Gestores de Fundos de Investimento Alternativo. O CNSF tem,
igualmente, procedido à articulação regular de outras matérias relevantes para a supervisão do sistema
financeiro nacional.
No âmbito do Plano Nacional de Formação Financeira (ver seção 3.2.5), o CNSF organizou diversas atividades
integradas nas comemorações do dia Mundial da Poupança e lançou um Portal na internet
(www.todoscontam.pt) onde se disponibiliza um amplo conjunto de informações de carácter financeiro com
utilidade para as famílias portuguesas.
Conselho Nacional de Supervisão de Auditoria
Os representantes da CMVM nas equipas de inspeção e de juristas designadas pelo CNSA deram continuidade
aos processos que resultaram das ações de inspeção. Em face das matérias detetadas e do resultado do processo
administrativo instaurado, o CNSA deliberou o cancelamento do registo na OROC de dois Revisores Oficiais de
Contas e conceder um prazo à SROC para refazer a sua estrutura societária na sequência do cancelamento do
registo dos auditores, tendo ambos recorrido para a via judicial. Relativamente a um outro auditor, registado na
CMVM, o CNSA deliberou a abertura de um processo de contraordenação, que se encontra em curso.
A CMVM esteve envolvida em diversas atividades do CNSA, de que se destacam: i) participação no
Secretariado Permanente do CNSA; ii) envolvimento na supervisão sobre o processo de controlo de qualidade
efetuado pela OROC; iii) apoio jurídico nos processos que o requerem; iv) participação nos trabalhos de
supervisão do controlo de qualidade desenvolvido pela OROC; vi) apreciação prévia de normativos técnicos a
emitir pela OROC; vi) análise das denúncias recebidas; e vii) elaboração dos documentos emitidos e divulgados
pelo CNSA e de respostas a pedidos de esclarecimentos colocados sobre matérias diversas.
Outras Colaborações Institucionais
A CMVM tem representação no Conselho Geral e no Comité de Normalização Contabilística Empresarial da
Comissão de Normalização Contabilística (CNC), órgão responsável pela preparação dos projetos de normas de
contabilidade para empresas em Portugal. A CNC procura a melhoria constante do Sistema de Normalização
Contabilística (SNC), e a participação da CMVM contribui para articular o posicionamento português no
desenvolvimento das normas internacionais de contabilidade e para o alinhamento do SNC com as IFRS,
assegurando assim uma maior facilidade de integração vertical da contabilidade das empresas, como seja no
caso do processo de consolidação. Esse alinhamento facilita tendencialmente o acesso aos mercados financeiros
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
214
CMVM
por parte dos investidores tendo em conta a maior comparabilidade entre as demonstrações financeiras
preparadas com base em normativos que, apesar de diferentes, tenham princípios contabilísticos similares.
Foi também prestada colaboração ao Gabinete do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais do Ministério das
Finanças no relatório para o “The Global Forum on Transparency and Exchange of Information for Tax
Purposes”, da OCDE, sobre a aplicação dos padrões internacionais das práticas de transparência fiscal e de
intercâmbio internacional de pedidos de informação.
A CMVM continuou a cooperar ativamente com o Ministério Público em situações específicas em que foi
solicitada a sua colaboração e no que respeita aos processos-crime em curso resultantes das participações que
efetuou.
3.4. ATIVIDADE INTERNACIONAL 3.4.1. Colégio de Reguladores
Colégio dos Supervisores da NYSE Euronext
Na esfera da supervisão internacional a CMVM participou no Colégio de Reguladores da NYSE Euronext (no
Steering Committee e nos grupos de trabalho específicos). A atividade do Steering Committee concentra-se na
gestão das atividades técnicas de supervisão da operação dos mercados pela NYSE Euronext, delegadas nos
working parties (WP3, WP5 e WP7), no acompanhamento da atividade geral do grupo NYSE Euronext e no
apoio ao comité que reúne os presidentes das respetivas autoridades de regulação (CMVM, a Autorité des
Marchés Financiers de França, a Autorité des Services et Marchés Financiers da Bélgica, a Authority for the
Financial Markets da Holanda e a Financial Services Authority do Reino Unido).
Não se tendo concretizado a operação de fusão entre a NYSE Euronext, Inc e a Deutsche Börse AG, a atividade
do Colégio de Reguladores (CoR) refocou-se na estratégia entretanto apresentada pela NYSE Euronext,
nomeadamente na reorganização funcional do grupo, na área do clearing em que no segundo semestre foram
revistos os contratos respeitantes à compensação do mercado de derivados, e para o mercado de pequenas e
médias empresas europeias (cf. projeto denominado “Creating The Entrepreneurial Exchange”), e no
continuado acompanhamento dos (novos) projetos.
Em dezembro de 2012, a IntercontinentalExchange, Inc comunicou a intenção de adquirir a NYSE Euronext,
Inc., o que veio redirecionar novamente a atenção do CoR para a análise das consequências naturais de um
processo com estas caraterísticas em todas as suas dimensões, nomeadamente quando foi também publicamente
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
215
CMVM
comunicada a possibilidade, após a concretização com sucesso desta operação de aquisição, de a área de
negócio composta pelas entidades gestoras dos mercados europeus continentais da NYSE Euronext poder ser
alienada. Este processo continuará em 2013.
O WP3 tem como objetivo a análise das regras harmonizadas da NYSE Euronext. O ano foi caraterizado pela
revisão periódica de algumas das regras de funcionamento do mercado em que se destaca, nomeadamente, a
procura de maior coerência e consistência nas regras de condicionamento da negociação por eventos
extraordinários (i.e. trading safeguards e tick changes). Em termos de projetos, realce para a análise efetuada
sobre i) a renovação do programa denominado Supplemental Liquidity Provider que visa aumentar a liquidez
gerada pelos membros do mercado sobre um conjunto de cabazes de ações admitidas à negociação na NYSE
Euronext, ii) o projeto denominado Retail Trading Facility também focado na promoção da liquidez das ofertas
provenientes dos investidores não qualificados, e iii) o projeto denominado NAV Trading Facility que consiste
num meio complementar de transação de unidades de participação em fundos de investimento.
Por sua vez, o WP5 esteve envolvido no enforcement da aplicação das regras nos mercados regulamentados
operados pela NYSE Euronext. Consequentemente, o WP5 procedeu à análise e aprofundamento das seguintes
matérias: i) processo de harmonização dos serviços de monitorização dos mercados a contado e de derivados,
denominado European Market Service, com implementação prevista para o primeiro semestre de 2013; ii)
harmonização dos circuit breakers aplicáveis à transação de ações de baixo valor unitário relativo, nos mercados
operados pela NYSE Euronext; iii) novos serviços fornecidos pela NYSE Euronext, nomeadamente, o novo
segmento destinado aos investidores não qualificados (Retail Trading Facility) que entrou em funcionamento
em janeiro de 2013; iv) harmonização dos procedimentos de envio de informação relativa à negociação de
derivados às entidades reguladoras; e v) plano de atividades desenvolvidas pela área de Compliance e do reforço
da colaboração institucional.
Na sequência do trabalho iniciado ainda no final de 2011, foi dado particular ênfase à análise do cumprimento
pela NYSE Euronext das recomendações da IOSCO e das orientações da ESMA relativas à utilização das
tecnologias na negociação e, em especial, ao algorithmic trading e ao high frequency trading (HFT).
Finalmente, o WP7 prosseguiu com as atividades de acompanhamento da estrutura organizativa e dos recursos
humanos afetos ao funcionamento dos mercados, bem como dos mecanismos que visam assegurar o controlo
regular e a segurança dos sistemas informáticos utilizados como suporte às plataformas de negociação da NYSE
Euronext. Das iniciativas levadas a cabo são de destacar o projeto de migração dos mercados de derivados para
a plataforma de negociação Universal Trading Platform (UTP), a análise do processo de formalização das
funções subcontratadas intra-grupo e a análise da adequação da estrutura organizativa em vigor, em especial no
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
216
CMVM
que respeita à verificação dos meios necessários ao exercício da atividade. Em relação ao processo de migração
para a plataforma UTP, refira-se a migração do mercado de derivados português – Mercado de Futuros e
Opções, gerido pela Euronext Lisbon, para esta plataforma. A partir de 10 de setembro de 2012 todos os
derivados negociados no mercado a prazo gerido pela Euronext Lisbon passaram a ser negociados na plataforma
UTP, não se tendo verificado incidentes decorrentes desta migração. O processo de migração dos mercados da
NYSE Euronext para a nova plataforma tem sido feito de forma faseada (teve início no final de 2011) e
estimando-se que a sua conclusão ocorra no primeiro trimestre de 2013.
Quanto ao processo de formalização dos procedimentos em matéria de outsourcing ao nível das funções
asseguradas intra-grupo, procurou-se dotá-lo de maior clareza e segurança quanto ao desempenho das funções
adstritas à gestão de cada mercado gerido pela NYSE Euronext. Este tema tem especial relevo dado o modelo de
organização que carateriza o grupo NYSE Euronext, em particular a localização pluri-jurisdicional das
plataformas de negociação em contraste com a centralização das funções de middle e back-office.
À semelhança do verificado no passado, o WP7 dedicou particular esforço à verificação da existência e
manutenção dos recursos necessários ao desempenho das funções cometidas ao operador de mercado. Neste
âmbito destaca-se a análise efetuada a novos projetos, em especial quando se trata de projetos non-core, no
sentido de assegurar a disponibilidade dos meios necessários para garantir a gestão dos mercados
regulamentados sob a sua responsabilidade.
Por último, importa referir os trabalhos relacionados com o controlo e segurança dos sistemas informáticos
utilizados e os mecanismos com vista à identificação e vigilância dos riscos resultantes do exercício da sua
atividade e, em particular, a análise efetuada ao Business Continuity Plan e ao funcionamento das áreas de Risco
e de Auditoria da NYSE Euronext.
LCH.Clearnet
A CMVM participou na supervisão colegial da LCH.Clearnet, S.A (clearing house dos negócios realizados nos
mercados geridos pela Euronext Lisbon) através do Co-ordination Committee on Clearing (CCC), órgão onde a
supervisão desta entidade é prosseguida conjuntamente pelas autoridades portuguesas, francesas, holandesas e
belgas. Os principais assuntos tratados no âmbito do CCC, foram os seguintes: i) avaliação dos impactos resultantes
da alteração dos contratos entre a LCH.Clearnet, S.A. e a NYSE Euronext: foi analisado o novo contrato de
Clearing relativamente às operações executadas no mercado a contado nas plataformas geridas por aquela
sociedade gestora de mercados; ii) conclusão da análise do cumprimento das Recomendações CESR/ESCB pela
LCH.Clearnet S.A., cuja avaliação foi coordenada pelo Banco de França e que teve início em 2011; iii) atualização
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
217
CMVM
do Crisis Communication Pack, a utilizar numa eventual situação de crise, tendo em conta a evolução da estrutura
de supervisão das diferentes jurisdições que compõem o CCC; iv) o termo do contrato com a Secfinex, que
implicou alterações ao Rule Book e Instruções da LCH.Clearnet, S.A.; v) Alterações ao Rule Book e Instruções da
LCHClearnet, S.A. no âmbito: a) dos limites de posições em derivados sobre mercadorias; b) do Default fund
withdrawal and replenishment; e c) aos Membership Requirements; vi) alterações às Instruções da LCH.Clearnet,
S.A. na sequência da entrada em vigor, no dia 1 de Novembro de 2012, do Regulamento (UE) n.° 236/2012 do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 14 de março de 2012, relativo às vendas a descoberto e a certos aspetos dos
swaps de risco de incumprimento (European Short Selling Regulation); vii) continuação do acompanhamento da
revisão da política da aceitação e gestão de colaterais da LCHClearnet, S.A., particularmente em dívida soberana
tendo em conta a volatilidade dos mercados, bem como as suas implicações face à interoperabilidade com a câmara
de compensação italiana, nomeadamente no que se refere ao risco de contraparte entre câmaras de compensação; e
viii) acompanhamento dos projetos de negócios iniciados pela LCH.Clearnet, S.A..
No que respeita ao grupo LCH.Clearnet Group, Ltd., a supervisão colegial é efetuada através do grupo Joint
Regulatory Authorities (JRA) que compreende, além das entidades representadas no CCC, a Financial Services
Authority (FSA) do Reino Unido e o Bank of England. No JRA foram analisadas, entre outras, as políticas e os
projetos do grupo, nomeadamente: i) as implicações do processo denominado combination entre a Deutsche Börse
e a NYSE Euronext, Inc. uma vez que as câmaras de compensação do Grupo prestam serviços de clearing em
relação às operações executadas nas plataformas europeias geridas pela NYSE Euronext; ii) as implicações da
operação Takeover bid da Markit and London Stock Exchange sobre o LCH.Clearnet Group Ltd, nomeadamente no
que se refere à atuação das diferentes autoridades do JRA quanto aos procedimentos administrativos que esta
operação poderia implicar nas diferentes jurisdições; e iii) a evolução dos colégios de reguladores no âmbito da
regulamentação europeia, nomeadamente o Regulamento (UE) n.º 648/2012, do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 4 de julho de 2012, relativo aos derivados do mercado de balcão, às contrapartes centrais e aos
repositórios de transações (EMIR), que entrou em vigor em 16 de agosto de 2012.
MIBEL
O Conselho de Reguladores do MIBEL (CR MIBEL), constituído pelas entidades reguladoras dos setores
financeiros e energéticos de Portugal e Espanha, respetivamente a Comissão de Mercados de Valores
Mobiliários (CMVM) e a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), por um lado, e a Comissão
Nacional do Mercado de Valores (CNMV) e a Comissão Nacional de Energia (CNE), pelo outro, é responsável
pelo acompanhamento do Mercado Ibérico de Energia Elétrica e pela coordenação da atuação dos seus
membros. O exercício da atividade do CR MIBEL assenta num Comité de Presidentes e num Comité Técnico,
cuja presidência é assumida por períodos de seis meses, de forma rotativa, por cada uma daquelas entidades
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
218
CMVM
reguladoras. A CMVM presidiu ao CR MIBEL no segundo semestre do ano, sendo que no primeiro semestre
tais funções foram exercidas pela ERSE.
O CR MIBEL prosseguiu o desempenho das suas funções de acompanhamento da evolução do mercado à vista
e do mercado a prazo do MIBEL, da gestão a prazo da interligação Portugal-Espanha e os principais
desenvolvimentos internacionais com impacto no MIBEL. Do conjunto de atividades desenvolvidas é de
destacar a aprovação e o envio aos Governos de Portugal e de Espanha, em julho de 2012, do estudo “Integração
da Produção em Regime Especial no MIBEL e na operação dos respetivos sistemas elétricos – Propostas de
harmonização regulatória”, onde foi identificado um conjunto de temas suscetíveis de contribuírem para a
integração da produção em regime especial no MIBEL de forma harmonizada, coordenada e facilitadora do
desenvolvimento do mercado ibérico. Foi também dado destaque à gestão a prazo da interligação entre Portugal
e Espanha, com vista à harmonização no âmbito do MIBEL (i.e. realização do primeiro leilão harmonizado a
nível ibérico), aos desenvolvimentos internacionais sobre essa matéria, designadamente o acoplamento de
mercados ao nível europeu, e à adesão à plataforma harmonizada a nível Europeu (CASC.EU). Procedeu-se
ainda ao acompanhamento dos leilões de colocação de energia elétrica adquirida pelo Comercializador de
Último Recurso, realizados na plataforma gerida pelo OMIP durante o ano (março, junho, setembro e
dezembro).
Em termos de relacionamento institucional do CR MIBEL, no segundo semestre de 2012, além da regular
audição dos operadores de mercado à vista e a prazo (OMIE, OMIP e OMIClear) e dos operadores de sistema
(REN e REE), deve destacar-se o convite feito às associações de pequenos e grandes consumidores do espaço
ibérico, com o intuito de auscultar todas as entidades que participam no MIBEL sobre diversos assuntos
relativos ao funcionamento do mercado. Durante este semestre, foi igualmente convidado, para uma reunião
técnica, um importante prestador de serviços aos participantes nos mercados de energia.
Foram ainda acompanhadas as principais iniciativas legislativas, no espaço ibérico e europeu, com impacto no
MIBEL, salientando-se o conjunto de medidas fiscais anunciadas em Espanha em relação ao setor elétrico e o
Regulamento Comunitário n.º 648/2012, de 4 de julho de 2012, relativo aos derivados do mercado de balcão, às
contrapartes centrais e aos repositórios de transações (EMIR) e o seu impacto na autorização e no
funcionamento das câmaras de compensação, com funções de contraparte central.
Finalmente, importa destacar o esforço de racionalização e de coerência acrescida dos conteúdos do sítio
www.mibel.com, bem como a entrada em funcionamento da versão em inglês desse sítio, em 31 de dezembro de
2012, contribuindo desta forma para o aumento da visibilidade deste mercado a nível internacional.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
219
CMVM
3.4.2 Participação em Organismos Internacionais A CMVM continuou a ter uma presença forte e empenhada em organismos internacionais. O presidente do
Conselho Diretivo da CMVM exerce o cargo de vice-presidente da ESMA, de presidente do Comité Regional
Europeu da Organização Internacional das Comissões de Valores Mobiliários (IOSCO) e de membro do Board
da IOSCO.
O Comité Regional Europeu da IOSCO reúne as comissões de valores mobiliários europeias que integram esta
organização56 e tem vindo a debater temas e a coordenar posições com particular relevância para a região
europeia. São os casos dos riscos e das tendências emergentes nos mercados financeiros dos vários membros,
dos desenvolvimentos regulatórios nas respetivas jurisdições, das matérias relacionadas com a troca regular de
informações entre supervisores e do posicionamento dos membros europeus face aos temas regulatórios e
organizacionais em debate no Board.
A participação em organismos internacionais orientou-se também para a identificação, prevenção e mitigação de
riscos nos mercados de valores mobiliários, designadamente nos casos do Standing Committee on Risk and
Research da IOSCO, presidido pelo presidente do Conselho Diretivo da CMVM, e do Committee on Economic
and Market Analysis da ESMA, que foi presidido por um membro do Conselho Diretivo da CMVM. A CMVM
também esteve representada no Comité Europeu do Risco Sistémico (CERS)57, instituição criada no âmbito do
Sistema Europeu de Supervisores Financeiros.
ESMA
Um membro do Conselho Diretivo da CMVM (Carlos Alves) continuou a presidir ao Committee of Economic
and Markets Analysis (CEMA), grupo da ESMA focado na análise económica do mercado de valores
mobiliários e na identificação dos respetivos riscos. O trabalho deste grupo tem assumido uma importância
crescente na nova arquitetura de supervisão financeira europeia, tendo sido analisados temas relevantes como os
credit default swaps, short-selling, transações com base em algoritmos e de alta frequência e a comercialização
de produtos financeiros complexos junto de investidores de retalho.
O Review Panel continua a ser um dos instrumentos mais importantes que a ESMA possui para prosseguir o seu
objetivo de convergência de regulação e de métodos de supervisão. Fiel ao princípio de ter constantemente três
56 E ainda a Comissão de Valores Mobiliários de Israel que em 2012 passou a ser membro pleno do Comité Regional Europeu. 57 European Systemic Risk Board (ESRB).
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
220
CMVM
linhas de atividade em execução, foram desenvolvidos os trabalhos que levaram à aprovação de dois relatórios
de “peer review” – sobre as “CESR Money Market Funds Guidelines” e sobre práticas de supervisão
relativamente ao Abuso de Mercado – e a um exercício de “mapping” relativo às práticas de supervisão ao
abrigo da DMIF em matéria de “Conduct of Business Rules”. Entretanto, foram concluídos os exercícios sobre a
utilização efetiva de sanções ao abrigo da Diretiva de Abuso de Mercado e sobre o modo como a Diretiva dos
Prospetos estava a ser implementada em cada jurisdição.
O ESMA-Pol ocupa-se dos temas do abuso de mercado e da supervisão de mercados. Promove ainda a
cooperação operacional entre as autoridades de supervisão bem como a troca de experiências sobre casos
investigados. O ESMA-Pol preparou, através de um sub-grupo técnico em que a CMVM participou, as
propostas de aconselhamento da ESMA à Comissão Europeia que deram origem aos regulamentos delegados e
aos regulamentos técnicos que concretizaram o Regulamento europeu sobre short-selling e certos aspetos dos
CDS (236/2012, de 14/3/2012). Antes da entrada em vigor do Regulamento europeu, em 1 de novembro, o
ESMA-Pol coordenou os trabalhos de adaptação e de implementação do novo regime. Ainda em sede de short-
selling, preparou, através de um sub-grupo no qual a CMVM participou, as orientações respeitantes à aplicação
das normas de isenção dos market-makers e primary dealers, aprovadas em dezembro. A CMVM integrou
também o conjunto de supervisores que discutiram e trocaram informações relacionadas com a monitorização e
a investigação de negociação automatizada.
A ESMA tem vindo a desenvolver e a reforçar o seu papel na supervisão das agências de notação de risco no
espaço europeu, depois de a competência de registo e supervisão lhe ter sido atribuída em julho de 2011
(Regulamento (EU) n.º 513/2011, de 11 de maio). As autoridades competentes nacionais, entre as quais a
CMVM, têm cooperado sobretudo através da participação no Technical Committee on Credit Rating Agencies,
no que respeita à elaboração de projetos de normas técnicas de regulamentação, bem como à emissão de
orientações e de recomendações relativas à atividade de supervisão e registo das agências. Em fevereiro de 2012
a ESMA publicou, pela primeira vez, uma base de dados central (“CEREP”) com informação sobre as notações
emitidas pelas agências de notação de risco registadas na União Europeia, o que permitirá aos investidores aferir
da performance das notações e das agências. As estatísticas foram atualizadas em junho e outubro (apesar de
estar prevista a sua atualização em base semestral). Em 2012 entrou em vigor o Regulamento (EU) n.º
446/2012, de 21 de março, que define o conteúdo e o formato do reporte periódico de informação sobre os
ratings a submeter pelas agências à ESMA para efeitos de supervisão.
A CMVM manteve a sua participação no Investor Protection and Intermediaries Standing Committee (IPISC),
e colaborou na elaboração de Orientações relativas a determinados aspetos dos requisitos da DMIF em matéria
de adequação e de Orientações sobre os requisitos associados à função de verificação do cumprimento no
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
221
CMVM
quadro da DMIF. Em finalização, em processo pós consulta, estão ainda as Orientações relativas a políticas de
remuneração adotadas pelos intermediários financeiros que prestem serviços e atividades de investimento.
Participou ainda na elaboração de um ‘Guia de investimento’ destinado a facilitar as decisões de investimento
por parte dos investidores menos experientes, e de duas notas informativas relativas ao regime previsto quanto
ao teste de adequação e ao regime de mera execução. Começou igualmente a preparar o trabalho relativo aos
projetos de normas técnicas relativas às propostas de alteração da DMIF. A CMVM participa especialmente na
Task Force 3, onde se inclui a matéria da execução das ordens dos clientes nas melhores condições.
O principal trabalho do Post-Trading Standing Committee (PTSC) foi enquadrado no âmbito dos poderes
conferidos pelo Regulamento (UE) n.º 648/2012, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de julho, relativo
aos derivados do mercado de balcão (over-the-counter ou OTC), às contrapartes centrais (CCP) e aos
repositórios de transações (TR) – European Market Infrastructure Regulation (EMIR). A CMVM acompanhou
os trabalhos de elaboração das propostas de regulatory technical standards (RTS) e implementing technical
standards (ITS). O PTSC desenvolveu, em cooperação com as autoridades de supervisão nacionais, propostas
de RTS e ITS sobre as seguintes matérias: i) requisitos relativos às classes de derivados OTC sujeitos a
compensação centralizada, e foram desenvolvidas regras de mitigação de risco a observar por contrapartes
financeiras e não financeiras em relação aos derivados não sujeitos à referida obrigação; ii) composição e
funcionamento dos colégios com competência nomeadamente para autorizar a constituição de CCP, bem como
requisitos organizacionais a observar por estas infraestruturas; iii) requisitos organizacionais para repositórios de
transações, bem como regras em relação à transparência e acesso aos dados. Na elaboração e discussão dos RTS
e ITS, a intervenção da CMVM assumiu uma particular relevância, por um lado, quanto à sua posição em
relação à necessidade de estabelecer uma menor dependência dos ratings externos no que respeita à análise de
risco do colateral; e, por outro lado, quanto à admissibilidade da utilização como colateral de garantias prestadas
por bancos comerciais pelos membros compensadores não financeiros de CCP.
A CMVM participou ativamente nos trabalhos de implementação do EMIR, nomeadamente quanto i) à troca de
informação em relação à composição dos futuros colégios; ii) à participação no exercício de simulação em
relação às classes de derivados OTC sujeitos à obrigação de compensação centralizada (no caso português, os
derivados OTC compensados pela OMIClear); e iii) à elaboração de um conjunto significativo de modelos
relacionados com a notificação de classes de derivados OTC sujeitas a compensação obrigatória ou objeto de
isenção e com a constituição e funcionamento dos colégios das CCP através da proposta de um contrato comum
(common template agreement).
Por fim, foram acompanhados os trabalhos desenvolvidos ao nível da liquidação e à maior eficiência no seu
funcionamento, destacando-se o apoio a medidas que imponham uma maior penalização das falhas na
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
222
CMVM
liquidação. Esta orientação foi acolhida na proposta de regulamento apresentada pela Comissão Europeia sobre
a liquidação de valores mobiliários e a necessidade de promover uma maior eficiência nesta área.
O Secondary Market Standing Committee (SMSC), com a participação da CMVM, centrou o seu trabalho no
desenvolvimento das Orientações sobre “Sistemas e controlos para plataformas de negociação, empresas de
investimento e autoridades competentes num ambiente de negociação automatizado”, aplicadas ao fenómeno da
negociação de alta frequência e outros relacionados com a negociação em ambientes automatizados. A versão
final das Orientações data de 24 de fevereiro 2012, com entrada em vigor a 1 de maio do mesmo ano. Procedeu-
se ao reajustamento do Protocolo sobre as suspensões e retirada de instrumentos financeiros da negociação,
divulgado a 20 junho (ESMA/2012/378), nos termos do artigo 41.º da DMIF. No final do ano deu-se por
concluído o processo de análise das funcionalidades a operarem no mercado europeu, no âmbito da
transparência pré-negocial. A partir do início do segundo semestre as atenções centraram-se nas alterações que
deverão ser impostas com a aplicação da DMIF II e como dar resposta aos respetivos projetos de implementação
regulatória. Para o efeito foram criados e estão já em funcionamento quatro grupos de trabalho que deverão
preparar o trabalho técnico, com destaque nos requisitos de funcionamento das plataformas de negociação, nas
regras de transparência e na metodologia para recolha e divulgação da informação ao mercado.
O Corporate Finance Standing Committee (CFSC) é responsável pelo acompanhamento das matérias
relacionadas com as Diretivas do Prospeto, das OPA e da Transparência, para além das matérias relacionadas
com o Governo das Sociedades. As atribuições do CFSC abrangem também a eliminação de assimetrias de
supervisão e o esforço da convergência de práticas entre as diversas autoridades nas matérias referidas. Assumiu
especial importância o trabalho relacionado com o mandato dado pela Comissão Europeia à ESMA sobre
medidas de nível 2 a adotar pela Comissão no âmbito da Diretiva do Prospeto revista (2010/73/UE),
nomeadamente relacionadas com o consentimento expresso de revendas subsequentes de valores mobiliários ao
abrigo do mesmo prospeto (Retail Cascade), alterações ao Regulamento do Prospeto, requisitos de informação
em prospetos de dívida convertível ou permutável e da comparação dos regimes de responsabilidade decorrentes
da Diretiva do Prospeto em cada Estado-membro. O Takeover Bids Network - rede de autoridades com
competências na área das OPAs constituída no seio do CFSC - desenvolveu iniciativas no sentido da
harmonização do conceito de acting in concert, incluindo a preparação de orientações sobre situações que não
devem ser consideradas como tal, com o objetivo de evitar incertezas nos agentes económicos e incentivar o
dinamismo dos potenciais investidores, designadamente de países terceiros.
A CMVM participa no European Enforcement Coordination Sessions (EECS) da ESMA, grupo de cooperação
internacional sobre supervisão de informação financeira de emitentes de valores mobiliários admitidos à
negociação em mercado regulamentado. O principal objetivo deste grupo consiste em promover a harmonização
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
223
CMVM
e a consistência das decisões tomadas pelos seus membros, mediante a análise e a discussão de decisões pelos
diferentes reguladores relativamente a informação financeira, bem como através da identificação de áreas não
cobertas pelas IAS/IFRS ou cuja aplicabilidade possa originar diferentes interpretações. Foram divulgados três
documentos preparados pelo grupo, a saber: “Review of Greek government bonds accounting practices”,
“Summary of responses on considerations of materiality in financial reporting” e “Treatment of forbearance
practices in IFRS financial statements of financial institutions”.
A CMVM integra ainda o Corporate Reporting Standing Committee que se dedica ao reporte financeiro, à
auditoria e ao enforcement da aplicação das IFRS nas contas das entidades emitentes de valores mobiliários
admitidos à negociação em mercado regulamentado. Destaca-se a revisão dos standards de enforcement
(números 1 e 2) de emitentes de valores mobiliários admitidos à negociação em mercado regulamentado, a
discussão sobre a comparabilidade das demonstrações financeiras das instituições financeiras na EU, a análise
das forbearence practices seguidas no exercício de 2012, a revisão das práticas de contabilização da dívida
soberana e considerações sobre o uso de materialidade nas demonstrações financeiras.
O Investment Management Standing Committee e respetivo Operational Working Group têm por missão
principal prestar apoio à Comissão Europeia através da elaboração de normas técnicas de execução e de
regulamentação que implementam as diretivas comunitárias sobre fundos de investimento, entre outras matérias.
Durante o ano foram preparadas um conjunto de recomendações e de entendimentos no âmbito da gestão de
organismos de investimento coletivo, em particular no que se refere à clarificação de questões relacionadas com
a AIMFD, com a realização de operações de reporte e de empréstimo de instrumentos financeiros. Foram
também elaboradas e divulgadas respostas a questões mais frequentes relativas ao IFI (Informações
Fundamentais ao Investidor), aos mecanismos de mensuração de risco e de cálculo do seu nível de exposição
global, ao processo de notificação da comercialização de UCITS entre os diferentes Estados-membro, aos
fundos do mercado monetário e à política remuneratória dos Gestores de Fundos de Investimento Alternativos.
O Financial Innovation Standing Committee (FISC) da ESMA concentrou a sua atividade em três vertentes. A
primeira consistiu na definição de uma estrutura para a prestação, por cada um dos seus membros, de
informação quantitativa respeitante ao montante de colocação junto de investidores não qualificados de
instrumentos financeiros, com particular destaque para produtos financeiros complexos e às reclamações
recebidas pelas entidades supervisoras dos Estados-membro, pelos intermediários financeiros e pelas entidades
de mediação, quando tal seja aplicável. A recolha desta informação permitirá definir tendências na
comercialização de instrumentos financeiros de significativa complexidade ou risco junto de investidores não
qualificados. A segunda vertente de atuação tem sido a procura de linhas de orientação para os Estados-membro
que permitam uma abordagem minimamente harmonizada na comercialização de produtos financeiros
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
224
CMVM
complexos, uma vez que nem o conceito de produto financeiro complexo é inteiramente coincidente entre os
Estados-membro (nomeadamente quanto à inclusão de instrumentos financeiros do setor segurador ou bancário
em que se verifique risco de capital), nem a capacidade de intervenção das entidades reguladoras é similar em
cada um dos Estados-membro. A terceira vertente assentou no intercâmbio de conhecimento, e também de
análise, sobre as medidas adotadas em cada Estado-membro para a proteção dos investidores no âmbito da
comercialização de produtos financeiros complexos. Neste âmbito, a CMVM apresentou, em fevereiro de 2012,
o projeto de Regulamento sobre a comercialização de produtos financeiros complexos e, em novembro de 2012,
o Regulamento n.º 2/2012.
IOSCO A IOSCO deu continuidade à reestruturação interna, na sequência da aprovação das linhas de orientação
estratégica para o quinquénio 2011-2015. Em maio teve lugar a reunião inaugural do IOSCO Board, cujas
competências incluem funções de governo da Organização e de adoção de standards internacionais. A CMVM
tem assento neste órgão através do seu Presidente, que foi reeleito para o cargo de Presidente do Comité
Regional Europeu, também por ocasião da referida reunião anual.
O Presidente do Conselho Diretivo da CMVM continuou a presidir ao Standing Committee on Risk and
Research. O trabalho deste comité incidiu, entre outros, sobre a identificação e/ou construção de um conjunto de
indicadores úteis à monitorização do risco sistémico pelas entidades de regulação e de supervisão dos mercados
de valores, a identificação de riscos de mercado, a análise do mercado de credit default swaps e a colaboração
com o FSB na recolha de informação e avaliação do shadow banking.
O Assesssment Committee foi criado em setembro de 2011 e começou o seu funcionamento efetivo em 2012.
Este comité avalia em que medida os princípios da IOSCO estão a ser adotados pelas diversas jurisdições que a
integram, e a sua atividade desenvolve-se fundamentalmente através da realização de peer reviews – avaliação
de ambientes e práticas regulatórias efetuada pelos demais reguladores.
A “Implementation Task Force” continuará a funcionar, agora no âmbito do Assessment Committee, devendo
dedicar-se predominantemente à tarefa da atualização dos princípios da IOSCO e da respetiva metodologia de
avaliação. A CMVM integra tanto o Assessment Committee como a Implementation Task Force. Em 2012 o
Assessment Committee viu aprovado o seu mandato e iniciou os exercícios de avaliação. Existem
fundamentalmente dois tipos de avaliação – Thematic Reviews, nas quais é avaliado o modo como as jurisdições
cumprem alguns dos princípios da IOSCO (estando neste momento a decorrer a avaliação dos princípios58 6 e 7)
58 Os Princípios da IOSCO são um conjunto de 38 disposições às quais os sistemas regulatórios das jurisdições que fazem parte da IOSCO devem obedecer. Estes princípios visam essencialmente:
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
225
CMVM
e “Country Reviews” em que as jurisdições que o solicitem serão avaliadas à luz da metodologia de avaliação
dos princípios da IOSCO, tal como desenvolvida no passado pela “Implementation Task Force”.
A IOSCO criou em 2012 um novo grupo de trabalho Financing of SMEs throught the Capital Markets, onde a
CMVM se faz representar. O mandato atribuído a este grupo tem como objetivo o desenvolvimento de soluções,
adaptáveis a cada país, que permitam o financiamento de pequenas e médias empresas através do mercado de
capitais, como alternativa e complemento ao crédito bancário.
O IOSCO MMoU Screening Group é responsável pela avaliação das candidaturas das autoridades de supervisão
nacionais a signatárias do IOSCO Multilateral Memorandum of Understanding (MMoU), para decisão posterior
pelo Comité de Presidentes. A CMVM continuou a integrar uma das sete equipas de verificação que compõem o
Screening Group responsáveis pela avaliação detalhada da conformidade da legislação dos candidatos à
assinatura do MMoU. Trata-se do padrão de cooperação internacionalmente reconhecido entre as autoridades de
supervisão em matéria de enforcement.
Também no decurso de 2012, e no âmbito da revisão estratégica da IOSCO, foram reformulados os comités
permanentes da IOSCO, passando a existir sete comités. A CMVM integra três deles: o que se dedica a questões
relacionadas com a troca de informação e a cooperação internacional entre autoridades de supervisão -
Committee 4 on Enforcement and Exchange of Information (C4), o comité sobre a matérias relevantes para a
gestão de investimento coletivo - Committee 5 on Investment Management, e o Standing Committee on Risk and
Research.
Comité Europeu do Risco Sistémico
O CERS é responsável pela supervisão macro prudencial do sistema financeiro. A sua atividade contribui para a
prevenção e a mitigação dos riscos sistémicos e para a estabilidade financeira na União Europeia. O presidente
do Conselho Diretivo da CMVM é membro do conselho geral do CERS, principal órgão da instituição. A
CMVM participa também no Advisory Technical Committee (ATC), um comité de aconselhamento técnico do
CERS.
Durante o ano, o CERS desenvolveu um painel de indicadores com o objetivo de disponibilizar um quadro geral
sobre o risco sistémico do sistema financeiro na União Europeia. Este painel inclui um conjunto de indicadores
• A proteção do Investidor; • Assegurar que os mercados funcionam de um modo justo, eficiente e transparente; • Reduzir o risco sistémico.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
226
CMVM
quantitativos e qualitativos relacionados com os riscos sistémico, macroeconómico, de crédito, de liquidez e
financiamento, de mercado e de rendibilidade e solvabilidade.
Paralelamente e no âmbito das suas competências, o CERS participou ativamente em consultas elaboradas pela
Comissão Europeia sobre uma possível recuperação e quadro de resolução para as instituições financeiras que
não sejam bancos, e pela ESMA, em questões relacionadas com o EMIR. Neste último caso, o trabalho incidiu
sobre os artigos 10.º (utilização de derivados, em mercado OTC, pelas instituições não financeiras) e 46.º
(posição macroprudencial sobre as garantias elegíveis para as contrapartes centrais).
Ao CERS foi ainda requerida a emissão de parecer sobre “Shadow Banking”, exposto no green paper elaborado
pela Comissão Europeia e “grandes riscos”, divulgado no documento de consulta pública emitido pela EBA no
âmbito do projeto para a elaboração das Implementing Technical Standards.
3.4.3 Outras Colaborações Internacionais
OECD Corporate Governance Committee
Mediante designação dos Ministérios das Finanças e dos Negócios Estrangeiros, a CMVM continuou a
representar Portugal no Corporate Governance Committee (CGC) da OCDE, tal como sucede desde 2000, e
integra ainda, desde 2008, o respetivo Bureau (Comité Executivo).
Durante o ano o CGC desenvolveu trabalho nos seguintes domínios:
• Concluiu a avaliação sobre Designação e Nomeação dos Membros de Órgãos de Administração e de
Fiscalização (Peer Review on Board Nomination and Election);
• Iniciou uma nova avaliação sobre Supervisão e Enforcement dos Princípios da OCDE sobre o Governo
das Sociedades (Peer Review on Supervision and Enforcement);
• Lançou um novo projeto de trabalho Corporate Governance, Value Creation and Growth;
• Promoveu iniciativas paralelas, asseguradas pelo Secretariado e pelo Comité Executivo, ao nível da
Taskforce of MENA Stock Exchanges for Corporate Governance (workshops levadas a cabo em
conjunto com as Bolsas da Turquia, Marrocos e Líbano);
• Colaborou com o OECD Working Party on State Ownership and Privatisation Practices (WP SOPP) no
projeto Competitive Neutrality and State-Owned Enterprises;
• Colaborou na elaboração do relatório OECD-Gender Diversity on Corporate Board, no âmbito de um
projeto mais amplo em curso OECD Wide Gender Initiative;
• Prosseguiu a avaliação da Rússia, Eslováquia e China, no âmbito da candidatura destes países à OCDE.
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
227
CMVM
A CMVM participou ainda ativamente nas duas reuniões anuais (abril e novembro), com especial
responsabilidade, na reunião de abril, na avaliação da Holanda no âmbito do Peer Review on Board Nomination
and Election, e intercalarmente no desenvolvimento dos relatórios e documentos, através de contributos ao nível
do Comité Executivo.
Parceria Mediterrânica
A Mediterranean Partnership é um agrupamento de supervisores do mercado de valores mobiliários de ambas
as margens do Mediterrâneo, e integra os supervisores de Argélia, Egipto, Espanha, França, Grécia, Itália,
Marrocos, Portugal e Tunísia. Tem como principal missão a promoção da convergência da regulação que rege
os mercados de valores mobiliários dos Estados da orla sul do Mediterrâneo para o ambiente regulatório da
União Europeia, de modo a facilitar a circulação de investimentos entre as duas regiões. Em 2012 procedeu-se a
uma atualização da informação disponível sobre o enquadramento regulatório dos diversos Estados envolvidos,
tendo-se decidido concentrar os esforços em torno do processo de equivalência de prospetos e de temas como o
financiamento das PME ou a educação de investidores.
IIMV – Instituto Ibero-americano de Mercados de Valores
O Instituto Ibero-Americano de Mercados de Valores continuou a sua intensa atividade de formação profissional
e de divulgação de práticas de supervisão, nomeadamente em temas como os desafios da regulação perante
mercados de valores mobiliários crescentemente integrados, a atuação dos supervisores perante o comércio
eletrónico de valores mobiliários, o papel da educação financeira na proteção dos investidores e o modo como
os códigos de governo corporativo estão a ser implementados na América do Sul e na Península Ibérica.
Grupo de Peritos em Direito das Sociedades
O Grupo de Peritos em Direito das Sociedades (Company Law Expert Group, abreviadamente “CLEG”) é um
grupo consultivo da Comissão Europeia sobre direito das sociedades. Em 2012, o grupo analisou as Propostas
de Diretiva e de Regulamento, ambos do Parlamento Europeu e do Conselho, relativos, a primeira, às
demonstrações financeiras individuais e consolidadas e relatórios conexos de certas formas de empresas e, o
segundo, aos requisitos específicos para a revisão legal das contas de entidades de interesse público.
Cooperação com congéneres da CMVM
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
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CMVM
Acentuaram-se as trocas de informação entre a CMVM e as suas congéneres. Foram efetuados 63 pedidos de
assistência internacional pela CMVM (54 em 2011) e recebidos 14 pedidos de assistência por parte das nossas
congéneres (seis em 2011).
3.5 DESENVOLVIMENTOS PRÓXIMOS
A crise financeira em curso aumentou a exigência relativa à atividade dos reguladores e supervisores do sistema
financeiro. O alargamento e o reforço, por via legislativa, das suas responsabilidades, o aumento da capacidade
técnica, a adaptação à inovação, a agilização das respostas e a cooperação entre entidades têm permitido dar
passos relevantes no sentido de uma supervisão mais alargada, mais eficaz e mais eficiente.
Em 2013 prosseguirá a orientação definida para os anos mais recentes, com reforço da componente da
supervisão direta. Embora seja ainda necessário concluir a adaptação legislativa em curso, a atividade de
supervisão irá, com base na utilização plena das capacidades técnicas adquiridas, explorar o raio de ação
proporcionado pelo reforço e pelo alargamento de poderes conferidos pela nova legislação e regulamentação,
nomeadamente a relativa aos organismos de investimento coletivo e a produtos financeiros complexos. Neste
âmbito, o desenvolvimento em 2013 das linhas de orientação definidas para o biénio 2011-2012 incidirá
especialmente sobre os domínios da proteção dos investidores, da defesa da integridade do mercado, do reforço
da supervisão (com ênfase nas componentes prudencial e das plataformas de negociação on-line), da
participação forte e qualificada nos fora internacionais de regulação, do reforço dos instrumentos de análise e de
tratamento da informação, da atualização do plano de contingência e continuidade de negócio e, por último, da
qualificação dos recursos, da promoção de maior agilidade e eficiência nos procedimentos de gestão interna e
nos procedimentos administrativos.
No domínio da proteção dos investidores serão desenvolvidas ações tendentes a melhorar o processo de
tratamento das reclamações assegurando, nomeadamente, a redução do número de processos de reclamação
transitados; o aprofundamento da análise das questões suscitadas pelos processos de reclamação, com destaque
para a comercialização de instrumentos financeiros; o tratamento mais eficiente dos processos de reclamações,
diminuindo o tempo da sua apreciação pela CMVM e o tempo do seu tratamento efetivo pelos intermediários
financeiros, e reforçando a componente de auditoria interna respeitante à investigação de eventuais reclamações
contra a CMVM. Ainda neste domínio procurar-se-á desenvolver a mediação e a arbitragem, assegurando que,
na sequência da análise das reclamações recebidas, a CMVM irá continuar empenhada na mediação voluntária
de conflitos, no sentido de se obter soluções de acordo entre as partes. Por outro lado, irá prosseguir a
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
229
CMVM
estruturação do Centro de Arbitragem de Valores Mobiliários, produzindo-se a respetiva regulamentação e
assegurando-se o seu indispensável financiamento.
Uma outra área privilegiada no domínio da proteção de investidores será o desenvolvimento de ações tendentes
ao aumento da literacia financeira, nomeadamente através da colaboração no Plano Nacional de Formação
Financeira e da participação nos vários grupos criados neste âmbito. Espera-se também concluir o
desenvolvimento do portal do investidor, renovar o boletim da CMVM e produzir em tempo útil estudos,
estatísticas e relatórios periódicos.
O lançamento de um novo sítio na internet, com entrada em produção prevista para o início do último trimestre
de 2013, a promoção da continuada melhoria da qualidade da informação disponibilizada pelas entidades
emitentes de instrumentos financeiros, o estímulo à adoção das melhores práticas - em particular, através da
revisão do regulamento e das recomendações da CMVM relativas ao governo das sociedades - contribuirão
igualmente para a proteção dos investidores.
No domínio da defesa da integridade do mercado prosseguirão os esforços para combater o abuso de mercado,
nomeadamente através da análise e da investigação das situações suscetíveis de indiciar a prática de crimes ou
de outras práticas conexas com abuso de mercado, da investigação das situações suscetíveis de indiciar
intermediação financeira não autorizada, do aprofundamento dos instrumentos automáticos de análise, através
da revisão e do desenvolvimento do SIVAM e do alargamento do combate ao abuso de mercado a todos os
segmentos e tipos de operações que a inovação financeira se encarregue de originar.
Também neste domínio se procurará garantir a eficácia sancionatória, através de uma elevada taxa de sucesso na
manutenção das suas decisões em processos de contraordenação, ainda que objeto de escrutínio judicial, e da
rapidez na aplicação das sanções por via de maior celeridade na dedução das acusações e nas decisões dos
processos de contraordenação. Continuar-se-á a assegurar a colaboração com entidades externas e a responder
às suas solicitações, nomeadamente Tribunais, Ministério Público e Departamento Central de Investigação e
Ação Penal, além da colaboração com outros supervisores não nacionais.
No domínio do reforço da supervisão, será dado ênfase à componente prudencial e ao acompanhamento da
atividade das plataformas de negociação on-line. Procurar-se-á ainda contribuir para uma supervisão mais
dirigida, antecipando áreas e temas críticos da supervisão e concretizando um número significativo de ações de
supervisão presencial no calendário estabelecido. Adicionalmente, serão reforçados os procedimentos de
supervisão de dívida pública e privada, assegurando o acompanhamento e a supervisão permanente das várias
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
230
CMVM
componentes do mercado. Será também reforçada a cooperação com os outros supervisores financeiros, no
âmbito do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros e do Conselho Nacional de Supervisão de Auditoria.
A participação forte e qualificada nos fora internacionais de regulação continuará a assumir uma grande
relevância. Assim, a CMVM manterá o seu envolvimento em diversos fora internacionais, através de
representação até ao mais alto nível e com elevado comprometimento, com destaque para a intervenção na
ESMA, no ESRB e na IOSCO. Na colaboração com a ESMA, continuará a participar ativamente na elaboração
de technical standards e guidelines, designadamente, no âmbito da legislação EMIR, da DMIF e da AIFMD. No
caso da IOSCO, continuará a participar no respetivo Board, através do seu Presidente, que continuará também a
presidir ao Comité Regional Europeu daquela organização. A CMVM terá ainda representantes no Assessment
Committee, no Monitoring Group, no Comité Permanente especializado na gestão de ativos e no Comité
Permanente do Risco Sistémico, atualmente também presidido pelo Presidente do Conselho Diretivo da
CMVM. A CMVM manterá igualmente a participação nos Colégios de Reguladores da Euronext e do MIBEL, e
continuará a colaborar com outras instituições internacionais, com especial relevo para a Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Económicos (OCDE).
Outra linha de ação a prosseguir é o reforço dos instrumentos de análise e de tratamento da informação, com
vista à criação de um sistema global adequado, integrado e eficiente. Será também atualizado o plano de
contingência e de continuidade de negócio. Assim, em 2013 dar-se-á início à execução do Plano Estratégico de
Sistemas de Informação (PESI), um plano a três anos com o objetivo de posicionar a CMVM a par das mais
recentes evoluções tecnológicas, disponibilizando aos utilizadores ferramentas adequadas à prossecução da sua
função. Além do investimento em infraestrutura, encontra-se prevista no PESI a adoção de iniciativas
consideradas prioritárias, tais como a construção do novo website cmvm.pt e de um novo sistema de gestão
documental. Do ponto de vista da segurança da informação, será dada continuidade à implementação do plano
de recuperação de desastres, na sequência da constituição do centro informático alternativo, e será reanalisada a
política de classificação da informação.
Por último, com vista a assegurar maior eficiência e eficácia no desempenho das suas funções, serão
prosseguidos os esforços de qualificação dos recursos humanos e de agilização e melhoria da eficiência nos
procedimentos de gestão interna e nos procedimentos administrativos. No que respeita à qualificação dos
recursos humanos será elaborado e dinamizado um plano de formação, essencialmente interna, versando a
transmissão e a partilha de conhecimentos relacionados com práticas e experiências dos colaboradores na área
da supervisão, em particular da supervisão presencial. Serão ainda planeadas e dinamizadas ações de formação
profissional internas e externas, de natureza transversal ou específica em função dos objetivos definidos pelo
Conselho Diretivo para as Unidades Orgânicas. Com vista à adequação, agilização e aumento da eficiência dos
Relatório Anual 2012 sobre a Atividade da CMVM e sobre os Mercados de Valores Mobiliários
231
CMVM
procedimentos internos serão atualizados os manuais de procedimentos, serão definidos prazos exigentes de
execução e será assegurado o seu cumprimento; será revista a circulação de documentos entrados e saídos e o
manual de procedimentos da documentação; adotar-se-á uma única ferramenta de gestão documental; será
promovida a adoção de novos métodos de trabalho na gestão de sistemas e tecnologias de informação,
instituindo as melhores práticas de gestão nesta área, e serão realizadas auditorias internas à eficácia e à
eficiência das operações e ao conjunto dos sistemas de informação. Serão também desenvolvidas acções
tendentes a melhorar a cooperação e a qualidade das atividades interdepartamentais, nomeadamente mantendo
atualizadas as bases de dados e procedendo à sua análise crítica permanente, atualizando o software de gestão da
Biblioteca, participando na rede nacional e internacional de troca de informação bibliográfica, lançando e
mantendo atualizada a página da intranet e fomentando a sua utilização como instrumento de comunicação
interna e de coesão institucional.