SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A ADOLESCENTES
PORTADORES DE LINFOMA NÃO-HODGKIN
Roselaine Clementino da Silva (relatora)¹
Adrielly Luênia Alves de Souza²
Leiliane Teixeira Bento Fernandes³
Menacela Oliveira Domingues4
Mércia Bastos Lima5
RESUMO
Objetivo: Relatar a experiência de acadêmicas de enfermagem ao identificar os principais
diagnósticos e intervenções de enfermagem CIPE® relacionados ao Linfoma não- Hodgkin em
adolescentes a fim de incentivar sua aplicação na Sistematização da Assistência de Enfermagem no
cotidiano do enfermeiro. Metodologia: Relato de experiência vivenciado pelas discentes da
disciplina Saúde da Criança e do Adolescente II, do Curso de Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal da Paraíba, no período de dezembro de 2013 a março de 2013, no Hospital
Universitário Lauro Wanderley (HULW), localizado na cidade de João Pessoa-PB.. Resultados e
discussões: No contexto do adoecimento, o enfermeiro deve realizar e desenvolver competências
técnico-científicas que contribuam e favoreçam a organização e sistematização do cuidado. Diante
da importância da temática é imprescindível a construção de protocolos de assistência que venham a
embasar as ações do enfermeiro. Neste estudo foram elencados 16 diagnósticos de enfermagem
CIPE® são eles: Apetite prejudicado, Baixo peso, Obstipação, Diarréia, Náusea, Vômito, Dispnéia,
Sistema imunológico prejudicado, Integridade da pele prejudicada, Disúria, Dor oncológica, Sono e
repouso prejudicados, Atividades recreativas interrompidas, Baixo nível de conhecimento do
processo patológico, Autoimagem comprometida, Angústia espiritual; suas respectivas intervenções
e resultados esperados. Considerações Finais: A elaboração de um plano de enfermagem é de
extrema importância, pois ajuda na individualização do paciente, elaborando e executando o
cuidado, tornado a assistência de enfermagem adequada para o cliente, de modo eficiente, atingindo
as metas e aumentando a qualidade de vida do mesmo.
Descritores: linfoma não-Hodgkin; adolescente; enfermagem.
1 INTRODUÇÃO
A adolescência é uma fase da vida entendida como fase de crescimento e desenvolvimento,
relacionada à boa condição física, ao apetite exacerbado, ao vigor, aos exercícios, esportes e lazer.
Ou seja, a adolescência é associada ao bem-estar, à saúde e à vida. É provável que em virtude
desses fatores torne-se difícil para a sociedade associar juventude a adoecimento e hospitalização.
¹ Graduanda em Enfermagem pela UFPB. E-mail: [email protected]
²Graduanda em Enfermagem pela UFPB. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Saúde da Criança e do Adolescente - GEPSCA. HULW. E-mail: [email protected]
³ Graduanda em Enfermagem pela UFPB. Pesquisadora da Iniciação Científica na área de Obstetrícia. E-
mail: [email protected] 4 Graduanda em Enfermagem pela UFPB. E-mail: [email protected]
5Enfermeira Assistencial. E-mail: [email protected].
Há alguns anos atrás, os adolescentes podiam considerar-se um grupo saudável e com um
número reduzido de internações. No entanto, com o desenvolvimento das ciências da saúde, a
criança que morria precocemente, portadora de patologias predominantes da infância, hoje
consegue alcançar a adolescência, o que altera o perfil de morbi-mortalidade, elevando o percentual
de adolescentes que se hospitaliza. Um outro agravante é determinado pelas dramáticas
transformações da sociedade, configurando o risco caracterizado por acidentes e violência
(ALMEIDA; et al, 2007).
Os sentimentos gerados pela hospitalização independem da faixa etária, pois em qualquer
época da vida a hospitalização se constitui em fonte de estresse. Contudo, esse processo é mais
grave na adolescência, exacerbado pelos sentimentos comuns dessa fase de transformações e
mudanças. A presença do acompanhante pode amenizar os sentimentos negativos gerados pela
hospitalização e favorece a aceitação do tratamento pelo adolescente (TOLEDO, 2000).
No campo das patologias crônicas passíveis de internação o linfoma é uma doença que
atinge todos os membros da família, pois acarreta preocupações decorrentes da doença, exigindo
readaptações frente à nova situação e estratégias para o seu enfrentamento. Esse processo depende
tanto da complexidade e gravidade da doença quanto da fase em que a família se encontra e das
estruturas disponíveis para satisfazer suas necessidades e readquirir o equilíbrio. (MARCON et. al,
2007).
Os linfomas representam um grupo de neoplasias malignas com origem de células linfóides,
e que se diferem da leucemia linfocítica por se apresentarem na forma de massas tumorais sólidas e
se originarem de tecidos linfóides como os linfonodos, já que as leucemias iniciam-se na medula
óssea e atingem o sangue periférico, não formando massas tumorais. Os linfomas podem ser
divididos em dois grupos principais: Linfoma Não-Hodgkin (LNH) e Linfoma de Hodgkin ou
doença de Hodgkin (DH) (BORBA et. al, 2007).
Os LNH correspondem à cerca de 80% dos casos de linfoma. Podem ter origem de células B
ou T, sendo que cerca de 85% dos casos são de células B. A incidência deste tumor vem
aumentando no mundo inteiro nas últimas décadas, atingindo mais homens do que mulheres, numa
relação de 1,5:1. Os LNH têm um padrão de crescimento difuso ou multicêntrico e tendem a se
disseminar nos estágios iniciais da doença. A etiologia dos LNH é discutida, e alguns casos podem
estar associados a vírus como o EBV (Epstein-Barr) (POTÁSIO et. al, 2009).
A doença ou linfoma de Hodgkin é aproximadamente 5 vezes menos comum que o LNH.
Esta doença pode ocorrer em qualquer faixa etária; no entanto, é mais comum na idade adulta
jovem, dos 15 aos 40 anos, atingindo maior frequência entre 25 a 30 anos. Em contraste com os
LNH, a DH origina-se sempre num linfonodo, nunca num tecido extranodal, e dissemina-se de
modo característico para os linfonodos anatomicamente contíguos (SOUZA et. al, 2010).
Neste contexto do adoecimento, o enfermeiro deve realizar e desenvolver competências
técnico-científicas que contribuam e favoreçam a organização e sistematização do cuidado. A
Enfermagem atual deve utilizar os conhecimentos e procedimentos organizados com base em teoria
e reformulados para implementar a Sistematização da Assistência de Enfermagem, conhecida como
SAE (SANTOS e RAMOS, 2012).
No entanto, COLLET et. al (2010), afirma que a equipe de enfermagem tem realizado um
cuidado centrado em tarefas, que compreende ser de sua competência, tendo ainda como modelo
assistencial um cuidado centrado apenas no processo de cura da doença. Diante da sistematização
desse trabalho os profissionais não conseguem estabelecer um vínculo junto ao paciente e sua
família. Desta forma a equipe está cada dia mais distante do binômio paciente-família e, portanto,
de atender integralmente as suas necessidades, ficando estas muitas vezes de responsabilidade da
família, já que ambos, recebem por parte da equipe um cuidado esporádico e superficial.
Neste embasamento, o enfermeiro tem um papel preponderante de buscar promover o bem
estar do ser humano, considerando sua liberdade, unicidade e dignidade, atuando na promoção da
saúde, prevenção de enfermidades, no transcurso de doenças e agravos, nas incapacidades e no
processo de morrer (CARVALHO et. al, 2009; BURILLE et. al, 2007).
A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é o modelo metodológico ideal para
que o profissional de enfermagem possa aplicar seus conhecimentos técnico-científicos na prática
assistencial, favorecendo o cuidado e a organização das condições necessárias para que ele seja
realizado de maneira integral (NASCIMENTO et. al, 2011; GARCIA e NÓBREGA, 2000).
Para tal a CIPE® (Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem) se faz uma
ferramenta integrada de linguagem no processo de enfermagem organizada em eixos que permitem
a criação de diagnósticos elencados por foco de atenção, em que, para cada um deles, são
incorporadas as intervenções de enfermagem de reabilitação compreendidas como as necessárias
para o tratamento/recuperação ou manutenção do bom estado geral do paciente (ICN, 2011).
Portanto, a reconstrução das práticas em saúde no contexto do cuidado ao indivíduo
hospitalizado e sua família, que se pretendem integral e humanizadas, assumem um caráter político.
Para além do conteúdo técnico- cientifico do significado e importância das relações pessoais entre
paciente-família-equipe, do estabelecimento de vínculos e responsabilizações, da escuta e do
diálogo como produtores de sujeitos. (COLLET et. al, 2010).
Baseado o que foi proposto, o presente estudo objetiva relatar a experiência de acadêmicas
de enfermagem ao identificar os principais diagnósticos e intervenções de enfermagem CIPE®
relacionados ao Linfoma não-Hodgkin em adolescentes a fim de incentivar sua aplicação na
Sistematização da Assistência de Enfermagem no cotidiano do enfermeiro.
2 METODOLOGIA
Este estudo consiste em um relato de experiência vivenciado pelas discentes da disciplina
Saúde da Criança e do Adolescente II, do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal da Paraíba, no período de dezembro de 2013 a março de 2013, no Hospital Universitário
Lauro Wanderley (HULW), localizado na cidade de João Pessoa-PB.
No que se refere à sistematização desse processo, o estudo foi organizado com base nas
seguintes etapas operacionais:
1ª etapa: inicialmente ocorreram às aulas teórico-práticas da disciplina, posteriormente houve a
escolha da situação problema, onde foram escolhidos os pacientes portadores de linfoma não-
Hodgkin aos quais foi prestada a assistência de enfermagem e a seleção dos diagnósticos e
intervenções mais frequentes nesta amostra. A população e amostra selecionada foram os 3
pacientes internados na Clínica durante o período de aulas teórico-práticas, com idade entre 12 a 18
anos, conforme a determinação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) sobre a
adolescência (BRASIL, 1990); e que possuíam diagnóstico médico de linfoma não-Hodgkin
2ª etapa: Após isto foi realizada a revisão literária sobre o tema, onde foram selecionados 20
trabalhos, compreendendo os seguintes critérios de inclusão: texto completo em português; artigos,
monografias, teses; manuais; além de 3 livros impressos e sites do governo brasileiro. Não houve
como critério de eliminação o período de publicação dos mesmos. A busca foi realizada na
Biblioteca virtual em Saúde e os trabalhos foram selecionados a partir das bases de dados Scielo e
Lilacs. Os descritores utilizados foram: linfoma não-Hodgkin; adolescente; enfermagem.
3ª etapa: identificação, a partir dos documentos selecionados, dos artigos mais relevantes inerentes à
temática. Nesta etapa, foram extraídos artigos relacionados que continham a sistematização da
assistência consolidada a pacientes adolescentes portadores de linfoma não-Hodgkin, bem como
utilizada a CIPE® versão 2.0 para construção dos diagnósticos e intervenções e resultados de
enfermagem.
4ª etapa: construção do texto, visando ao alcance do objetivo proposto pela investigação. Nesta
etapa, foi elaborada a redação final do texto, contemplando a elaboração do plano de cuidados com
base na CIPE® e na literatura.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na infância, o LNH é mais comum do que o DH, sendo a terceira neoplasia em indivíduos
com menos de 16 anos de idade, depois da leucemia e dos tumores do sistema nervoso central.
Existe predominância de soropositividade no sexo feminino e, paradoxalmente, maior
acometimento de doença no sexo masculino, numa razão de 1,4:1. Os sinais clínicos mais
encontrados ao exame físico são a adenomegalia (60%), hepatomegalia (26%), esplenomegalia
(22%) e lesões de pele (39%). Sintomas de desconforto abdominal, diarréia, cólica, ascite e tosse
estão associados com determinados subtipos de Linfoma/Leucemia de céluas T do Adulto (L/LTA)
(BORBA et. al, 2007).
Não existem causas específicas para o aparecimento do linfoma, porém as literaturas
apontam como predisponentes a hereditariedade, fatores ambientais e ocupacionais, hábitos
alimentares, Síndromes de imunodeficiência e alguns agentes infecciosos como o Epstein-Barr,
herpes vírus, vírus da hepatite C e Helicobacter pylori (ARAÚJO et. al, 2008).
A prevenção constitui-se em um método simples e comum na prevenção de outros tipos de
câncer, seria a mudança de hábitos alimentares incluindo na dieta verduras e frutas que poderiam
dar esse efeito protetor, sobretudo contra os LNH (INCA, 2013).
Os LNH envolvem doenças relacionadas com problemas na maturação das células linfoides
B e T das quais se originam (INCA 2001).
Existem vários subtipos de LNH, mas os especialistas dividem de acordo com a velocidade
de crescimento em: baixo grau com velocidade de crescimento lenta e alto grau com velocidade de
crescimento rápida (MANUAL ABRALE, 2013). Os linfomas de baixo grau possuem também
baixa agressividade apesar de formarem grandes massas linfonodais a partir da multiplicação lenta
de células pequenas, já os de alto grau a multiplicação celular ocorre em maior número e é
caracterizado por linfadenopatias localizadas de alta agressividade. O primeiro caso quando não
tratado ainda há sobrevida, mas o segundo a sobrevida seria de semanas a meses (ARAÚJO et. al,
2008).
Os sinais e sintomas vão depender da localização do tumor, no geral há presença aumentada
de linfonodos (em maioria no pescoço, axilas ou virilha), febre, suor noturno, fadiga, perda de peso
ou perda de apetite. Se o local de gênese da doença for um local sem linfonodo como, por exemplo,
ossos, pulmão ou pele, os sinais/sintomas são dores nos ossos, tosse, dor no peito, erupções ou
nódulos na pele (MANUAL ABRALE, 2013).
Para confirmação diagnóstica se faz necessária a história clínica do paciente, dados colhidos
no exame físico, exames complementares (hemograma com plaquetometria, exames sorológicos
para Sífilis, hepatite e HIV, parasitológico e fezes) e biópsia da região acometida (INCA, 2001).
Exame físico torna-se essencial, pois dele emergem os sinais e sintomas que podem sugerir a
presença de um linfoma.
Mais da metade dos casos de LNH estudados foi na região intra-abdominal e o local
primário foi quase absoluto no trato gastrointestinal, sendo o intestino delgado mais presente.
Dentre os sinais e sintomas comuns nesses casos são: dor abdominal, vômitos, massa abdominal
palpável, febre, distensão abdominal, emagrecimento e enterorragia (PORTA, 1981).
O tratamento é feito por meio da quimioterapia, que são drogas usadas isoladas ou em conjunto
com outras que visam destruir ou impedir o crescimento das células tumorais até levar a remissão
completa da doença. A escolha do tratamento vai depender do tipo de linfoma (que varia conforme
atinja a célula B ou T), estágio da doença, envolvimento extranodal, idade e sintomas (MANUAL
DA ABRALE, 2013).
No geral os efeitos colaterais aos tratamentos vão depender da região do linfoma, idade do
paciente e condições médicas coexistentes. Dentre os efeitos colaterais estão: Anemia (causa
palidez e cansaço), diminuição das plaquetas (leva a risco de sangramento), diminuição de glóbulos
brancos (aumenta o risco de infecção evidenciado por febre e calafrios), pode ocorrer inflamação no
local da pele onde a quimioterapia foi aplicada, dor de garganta, dor para urinar, diarreia,
constipação, feridas na boca, náuseas, vômitos, fadiga, febre, tosse, comprometimento da função
normal do pulmão, perda de cabelo, sensações de formigamento. São efeitos passageiros que
desaparecem com o termino da quimioterapia (MANUAL ABRALE, 2013).
Estudos mostram que a combinação de quimioterapia e radioterapia é muito eficaz no
tratamento, devendo ser levado em consideração a idade e a maturidade do paciente na hora da
escolha terapêutica para diminuir o número de sequelas deixadas pela radioterapia, sendo esse um
dos motivos para alguns quererem retira-la do tratamento.
Diante da importância da temática para garantir a confiabilidade à assistência de
enfermagem a pacientes com essa patologia, por meio de procedimentos seguros, baseados em
ações as mais científicas possíveis, é imprescindível a construção de protocolos de assistência. Por
protocolos de assistência entende-se aqui um conjunto de dados que permitem direcionar o trabalho
e registrar oficialmente os cuidados executados na resolução ou prevenção de um problema.
(BARROS et. al, 2003).
Vale enfatizar ainda que o enfermeiro é também responsável pela parte burocrática
relacionada ao controle de material e suprimentos, gerenciamento e coordenação da equipe de
Enfermagem, além de registros feitos de forma não sistematizada, dessa forma, a não realização de
uma assistência com base em sistematizações pode tornar-se desqualificada, pois a assistência de
enfermagem visa o preparo do paciente para procedimentos diagnósticos, cirúrgicos e clínicos, a
explicação dos efeitos colaterais do tratamento, a realização de procedimentos que minimizem
sinais e sintomas da doença, além de suporte ao paciente e a família (COLLET et. al, 2010).
A SAE proporciona o direcionamento da assistência, garantindo segurança do usuário do
sistema de saúde e dos profissionais, representando assim, o instrumento de trabalho do enfermeiro
(MENEZES et. al, 2011). Esta sistematização é organizada em cinco etapas inter-relacionadas:
Coleta de dados ou Histórico de Enfermagem, Diagnóstico, Planejamento, Implementação e
Avaliação.
A inter-relação das etapas deve ser preservada, pois, uma coleta mal feita, deficiente, leva a
achados incorretos ou inexistentes além de determinação de intervenções, soluções errôneas e
inapropriadas (AMANTE et. al, 2009). Ao se registrar no prontuário, torna-se necessário a
utilização de terminologias de enfermagem. Elas propõem estruturas classificatórias para diferentes
etapas da metodologia da assistência (FULY et. al, 2008; PIRES, 2008).
Com base na literatura e nos sinais e sintomas apresentados por pacientes portadores de
LNH internados no Hospital Universitário elaborou-se um plano de cuidados para norteamento das
ações do enfermeiro, visando a seleção dos diagnósticos de enfermagem CIPE® mais frequentes
neste público-alvo e elaboração das respectivas intervenções e resultados esperados. O plano de
cuidados é uma ferramenta que permite ao enfermeiro a implementação de suas ações, sendo
também passível de modificações respeitando sempre a individualidade do cliente.
Na tabela a seguir são descritos os diagnósticos, intervenções e resultados de enfermagem
CIPE® selecionados:
Tabela 1 – Plano de cuidados aos pacientes portadores de linfoma não-Hodgkin
Diagnósticos de
Enfermagem
Resultados
Esperados
Intervenções de Enfermagem
Apetite
prejudicado
Apetite melhorado
Identificar problemas relacionados
com a alimentação;
Estimular o paciente a escolher os
alimentos que lhe pareçam
apetitosos;
Avaliar a capacidade do paciente de
mastigar, engolir e sentir sabores;
Orientar sobre a importância da
dieta alimentar para recuperação do
estado de saúde;
Planejar o atendimento para que
procedimentos desagradáveis não
ocorram antes das refeições;
Controlar o peso diariamente ou em
intervalos pré-estabelecidos;
Baixo peso
Baixo peso
melhorado
Investigar hábitos alimentares;
Investigar sobre a ingestão calórica
diária;
Administrar fórmulas de
alimentação por sonda, conforme
necessidade e prescrição;
Obstipação
Ausência de
obstipação
Estimular deambulação;
Encorajar maior ingestão liquida e
de alimentos ricos em fibra;
Investigar se existem fatores
causadores para constipação;
Registrar as eliminações intestinais
quanto à frequência, consistência,
volume e cor;
Instruir balanceamento de
alimentos formadores de volume
fecal;
Avaliar a utilização de fármacos e
averiguar as interações ou os
efeitos colaterais;
Avaliar a existência de impacção
fecal, quando for o caso;
Administrar emolientes fecais e
enemas, conforme prescrição;
Diarréia
Ausência de
Observar e comunicar sinais de
desidratação;
Solicitar avaliação nutricional;
Realizar higiene corporal e do leito
sempre que necessário;
Conversar com outros profissionais
para estabelecer o(s) fatores
etiológicos;
Avaliar e anotar a frequência das
diarréia evacuações, observando o aspecto
das fezes;
Observar a administração da dieta
na sonda nasoentérica, mantendo o
gotejo em 45 gotas/min e a
temperatura em aproximadamente
37ºC, quando necessário;
Náusea
Ausência de Náusea
Manter a cabeceira do leito elevada
e orientar respiração profunda em
casos de ânsia de vômito;
Administrar e monitorar a resposta
aos fármacos que evitam ou
aliviam a náusea;
Estimular a criança a ingerir
refeições fracionadas e intercaladas
ao longo de todo o dia;
Aconselhar o paciente a chupar
cubos de gelo ou balas azedas ou
duras, se possível;
Vômito
Vômito melhorado
Administrar medicações
antieméticas conforme prescrição
médica;
Observar aspecto, frequência e
quantidade das eliminações e
registrar;
Avaliar a eficácia do antiemético e
registrar;
Orientar o cliente a evitar o jejum e
ingerir menor quantidade de
alimento em intervalos mais
frequentes;
Manter próximo ao cliente,
recipiente para que possa utilizar
nos episódios eméticos;
Dispnéia
Ausência de
Dispnéia
Determinar a frequência e a
profundidade das respirações e tipo
de padrão respiratório;
Avaliar se o paciente tem tosse;
Fazer nebulização conforme
prescrição;
Avaliar a resposta a terapia
respiratória prescrita;
Sistema
imunológico
prejudicado
Sistema
imunológico efetivo
Incentivar alimentação adequada;
Monitorar calendário vacinal;
Manter técnicas assépticas ao
realizar os procedimentos;
Manter ambiente isolado;
Educar paciente e família quanto ao
risco de reações alérgicas;
Orientar a família a lavar as mãos
antes e após contato com o
paciente;
Orientar o paciente a dar
preferência aos alimentos cozidos
devido ao risco de infecção
gastrintestinal;
Manter o acesso salinizado para o
mesmo permanecer fluente;
Utilizar técnicas assépticas;
Investigar as vias invasivas, como o
acesso venoso, a cada 72 horas,
observando sinais de hiperemia e
flogose;
Verificar temperatura axilar
diariamente;
Orientar a equipe multiprofissional
sobre o uso de técnica asséptica em
todos os procedimentos invasivos e
administração de medicamentos
endovenosos;
Utilizar EPI (máscara, luvas) ao
manusear o paciente;
Integridade da
pele prejudicada
Integridade da pele
melhorada
Estimular ingestão de líquidos
(500ml) em doses fracionadas;
Manter a higiene da pele;
Promover hidratação da pele por
meio de cremes e hidratantes 2x
dia;
Monitorar as áreas ressecadas da
pele;
Massagear as proeminências ósseas
e evitar atrito quando precisar
movimentar o paciente;
Trocar a posição no leito/cadeira a
intervalos regulares;
Disúria
Ausência de disúria
Avaliar as características de
eliminação urinaria após cada
episódio;
Orientar quanto a importância de
higiene intima a cada micção;
Identificar possíveis sinais de
infecção;
Indagar as características da dor de
modo a incluir os fatores
precipitantes;
Orientar o paciente a informar à
equipe a sensação de dor,
principalmente periumbilical,
suprapúbica;
Dor oncológica
Dor oncológica
melhorada
Determinar o impacto da dor sobre
o sono, apetite, cognição e
atividade de lazer;
Controlar a luminosidade
excessiva, capaz de influenciar no
quadro álgico;
Administrar analgésicos conforme
prescrição médica;
Promover o alívio da dor e demais
sintomas estressantes sob avaliação
individualizada do paciente;
Melhorar a qualidade de vida do
paciente, dando-lhe assistência
contínua e reabilitadora;
Avaliar dor segundo escala
instituída;
Sono e repouso
prejudicados
Sono e repouso
preservados
Ensinar ao paciente técnica de
relaxamento;
Monitorar o padrão do sono e a
quantidade de horas dormidas;
Ouvir as queixas subjetivas
referentes à qualidade do sono;
Administrar analgésicos prescritos
1h antes de o paciente dormir;
Administrar cautelosamente
barbitúricos e outros fármacos
prescritos para dormir;
Atividades
recreativas
interrompidas
Atividades
recreativas
reestabelecidas
Rever a história de
atividades/passatempos prediletos e
possíveis modificações;
Propor atividades recreativas
mentais;
Baixo nível de
conhecimento do
processo
patológico
Conhecimento
satisfatório do
processo patológico
Determinar o nível de
conhecimento do paciente e do
acompanhante;
Conversar para explorar
conhecimentos existentes;
Avaliar a dinâmica familiar;
Autoimagem
comprometida
Autoimagem
melhorada
Aferir autoimagem;
Ensinar as mudanças fisiológicas;
Incentivar a expressão de
sentimento de insatisfação com a
imagem corporal;
Aferir sinais/sintomas de
depressão;
Angústia
espiritual
Angústia espiritual
melhorada
Avaliar as crenças espirituais;
Investigar o desejo de prática
espiritual acessível;
Investigar se há prática hospitalar
em conflito com suas crenças;
Oferecer literatura religiosa
conforme solicitação da cliente e
disponibilidade do serviço;
Ouvir as necessidades espirituais da
cliente;
Proporcionar privacidade e silêncio
necessários para as orações diárias;
Solicitar visita de líder espiritual, se
o cliente estiver de acordo;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O recebimento de um diagnóstico de linfoma provoca vários sentimentos, inquietações e
preocupações nas pessoas, justamente porque o futuro torna-se obscuro, muitas vezes sem
perspectivas, pois a ameaça da vida parece tornar-se mais próxima quando o diagnóstico encontra-
se estabelecido. Esses sentimentos surgem mesmo com o alcance de cura e da sobrevida de muitos
tipos de neoplasias, através dos avanços técnico-científicos conseguidos nessas últimas décadas. No
entanto, a cultura, valores, crenças e preconceitos também impostos ao longo do tempo, ainda
possui forte poder em promover a patologia como estritamente correlacionada à terminalidade.
A importância da assistência de enfermagem tem como principal característica a melhor
compreensão no que diz respeito a esclarecimentos sobre a doença propriamente dita, a dor e aos
sentimentos por ela desencadeados no paciente. O profissional de enfermagem convive diariamente,
consciente ou inconscientemente com questões ligadas a morte, dor, sofrimento, tratamentos
longos, e demais situações desgastantes, além de ter que lidar com múltiplas complicações do
tratamento e efeitos colaterais, problemas psicossociais, religiosos e conflitos familiares o que exige
destes profissionais, habilidade tanto técnico-científica, relações interpessoais, afetividade,
comunicação, sinceridade, comprometimento e empatia. Tudo isso soma uma boa aceitação do
paciente ao tratamento, consequentemente uma reposta também a altura.
A elaboração de um plano de enfermagem é de extrema importância, pois ajuda na
individualização do paciente, elaborando e executando o cuidado, tornado a assistência de
enfermagem adequada para o cliente, de modo eficiente, atingindo as metas e aumentando a
qualidade de vida do mesmo. Atualmente, a padronização é considerada a mais fundamental das
ferramentas gerenciais.
O presente estudo nos possibilitou melhorar as nossas habilidades frente ao processo de
cuidar em pediatria uma vez que nos proporcionou sistematizar o processo de enfermagem e nos
aprofundar nos assuntos referentes a este cuidado e a patologia.
REFERÊNCIAS
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