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No presente texto, pretendemos trabalhar com os sindicatos e, principalmente, a questão
da liberdade sindical no sentido de ser um meio capaz de propiciar aos trabalhadores
condições de vida e trabalho com dignidade.
Com efeito, o que se quer, neste local, é demonstrar a possibilidade de atuação de um
sindicato livre e, por conseguinte, capaz de garantir os direitos conquistados pela classe e
ainda trabalhar no sentido de alcançar as condições mais favoráveis aos empregados, que
são a parte hipossuficiente da relação de trabalho.
A própria Constituição de 1988 traz em seu bojo o princípio da liberdade sindical, inserido
em seu art. 8º.
No âmbito internacional, encontramos as normas da Organização Internacional do
Trabalho que disciplinam a liberdade sindical em suas Convenções.
Trabalharemos com a Convenção nº. 87 da OIT, que traz à baila os princípios da liberdade
sindical, consagrando a liberdade sindical individual e coletiva, além de falar de liberdade
sindical de empregados e empregadores, o que analisaremos neste texto.
Ocorre que a liberdade sindical precisa ser vista como meio eficaz de proteção aos
trabalhadores de um país que não passou pelo estágio do Estado Providência e, por isso,
necessita de mais atenção aos direitos sociais, os quais podem ser defendidos e
conquistados através de um sindicato livre de quaisquer influências, sejam estas
provenientes do governo ou dos empregadores.
Em razão desta importância fundamental do sindicato, principalmente de um sindicato
livre, é que impende encontrar mecanismos capazes de impedir os atos anti-sindicais,
mecanismos estes que poderão ser de prevenção, ou ainda de reparação.
Enfim, o que se pretende, neste trabalho é demonstrar que a liberdade sindical é um
mecanismo fundamental num Estado Democrático de Direito, onde deve-se valorizar o
dissídio para que, a partir dele, sejam encontradas as soluções capazes de proporcionar
vida digna para todos.
1– O SINDICATO
1.1– ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA
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O direito de preferência à luz da Lei nº 12.395/2011. Análise da atualização da Lei Pelé
e sua aplicação no ordenamento jurídico atual
O primeiro movimento sindical data de 1864, com a fundação de uma entidade
sindical por Karl Marx.
No Brasil, o movimento sindical tem sua origem nas Ligas operárias, que reivindicavam
salários e redução da jornada de trabalho, que ainda tinham um papel fundamental na
questão da assistência como a Liga operária de Socorros Mútuos (1872) e ainda havia as
Ligas de Resistência, que eram mais homogêneas e se desenvolviam e fundavam filiais
em outras cidades, como a Liga de Resistência das Costureiras.
Podemos citar ainda as Uniões como a União dos Trabalhadores em Fábricas de Tecido
(1907), União dos Empregados do Comércio (1903).
A expressão sindicato surge em 1903 e, segundo Azis Simão [1], o primeiro nome de
sindicato que aparece no Estado de São Paulo é o Sindicato dos Trabalhadores em
Mármore, Pedra e Granito (1906).
A disciplina legal dos sindicatos começa em 1903, dos rurais, com o decreto 979, que
permitiu a associação de trabalhadores da agricultura e indústrias rurais, e em 1907, dos
sindicatos urbanos, com o decreto 1.637.
No período de 1890 a 1920, surge o anarcossindicalismo, que influenciou grandemente o
sindicalismo revolucionário. Esse movimento centrava-se nos seguintes pontos: combateao capitalismo, desnecessidade de leis, evanescência do Estado, combate ao governo e à
autoridade. Todavia, esse movimento acabou dando causa a uma campanha anti-
sindicalista.
A partir de 1930, Getúlio Vargas impôs o modelo corporativista italiano. Atribuindo aos
sindicatos funções de colaboração com o Poder Público, com a publicização dos
sindicatos. Em 1931, foi promulgada a Lei dos Sindicatos, que sustentava tais princípios.
A Carta de 1934 assegurava a pluralidade sindical, já que assim dispunha o parágrafo
único do art. 120: "A lei assegurará a pluralidade e a completa autonomia dos sindicatos".
O texto de 34 estabeleceu, pela primeira vez, os princípios da liberdade e autonomia
sindical.
A Constituição de 1937 instituiu a organização corporativa da ordem econômica, que ficou
vinculada à organização sindical.
A constituição de 1946 deixava para a lei ordinária a regulamentação dos sindicatos.
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Art. 159. "É livre a associação profissional ou sindical, sendo regulada por lei a forma de sua
constituição, a sua representação legal nas convenções coletivas de trabalho e o exercício de
funções delegadas pelo poder público".
Ocorre que muito pouco se alterou, e uma lei feita num regime autoritário, perdurava num
regime democrático, sem alterações em sua essência. Já que a Constituição de 37
dispunha sobre a unicidade sindical, e a constituição que pretendia ser democrática, e
penso que realmente era, nesse aspecto deixou a desejar porque, propositalmente
renunciou ao direito de regular o regime da pluralidade sindical que se harmoniza
perfeitamente com a democracia.
A constituição de 1967, assim como a emenda constitucional n.º 01, de 1969 não
dispuseram sobre a unicidade ou unidade sindical, e neste sentido foi mais "democrática"
do que a Carta outorgada em 1937.
Com o fim do autoritarismo e a restauração do regime democrático, tinha que ser
elaborada uma nova constituição. Que acabou sendo promulgada em 05 de outubro de
1988.
A Magna Carta de 1988 dispõe que "é livre a associação profissional ou sindical", mas diz
também que devem ser observadas algumas questões. Dentre elas encontramos a
manutenção da unicidade sindical, sendo proibida mais de uma entidade na mesma base
territorial, todavia, deixa a definição de base territorial por conta dos empregados e dos
empregadores, não podendo ser inferior à área de um município.
Uma inovação do texto constitucional é a que concerne ao conceito de trabalhador que se
alarga para fins de enquadramento e representação sindical, compreendendo também
aquele que proprietário ou não, trabalhe individualmente ou em regime de economia
familiar". [2]
1.2 – CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA DO SINDICATO Amauri Mascaro Nascimento[3] diz que "o sindicato é um sujeito coletivo, como organização destinada a representar
interesses de um grupo, na esfera das relações trabalhistas. Tem direitos, deveres,
responsabilidades, patrimônios, filiados, estatutos, tudo como uma pessoa jurídica". Em
França, há leis no sentido de reconhecer o sindicato como pessoa jurídica. A doutrina se
divide quando da indagação acerca de o sindicato ser um ente do direito público ou de
direito privado. Os autores mais modernos afirmam ser uma pessoa jurídica de direito
privado, já que é criado por iniciativa de particulares, para representação e defesa de seus
interesses. Há ainda quem considere ter natureza semipública, vez que os sindicatos têm
fins específicos, de caráter profissional, enquanto que as associações têm finalidades
diversas. O professor De La Cueva [4] advoga a tese de que os sindicatos são pessoa
jurídica de direito social. Ele diz que "o sindicato é um novo órgão produtor de direito
objetivo e não pode ser, conseqüentemente, uma pessoa de direito privado".
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Há uma corrente doutrinária surgida em França que vê no sindicato uma instituição.
Sustenta que surge uma instituição toda vez que uma idéia diretora se impõe
objetivamente a um grupo de homens. Tem como defensores Maurice Hauríou, Georges
Renard, entre outros.
2.– A LIBERDADE SINDICAL
É a partir desse momento que queremos centrar nossas atenções, para o objetivo
específico deste trabalho que, após dar algumas informações que pensamos ser de
fundamental importância, passaremos a analisar a questão mesma da liberdade sindical.
Se o sindicalismo surge como um movimento de lutas, de conquista de direitos para a
classe operária, se pressupõe que este movimento deve ser sustentado, mantido, pelaliberdade, em outras palavras, deve se apoiar na idéia de liberdade.
O professor José Cláudio Monteiro de Brito Filho [5] ensina que "liberdade sindical consiste
no direito de trabalhadores (em sentido genérico) e empregadores de constituir as
organizações sindicais que reputarem convenientes, na forma que desejarem, ditando
suas regras de funcionamento e ações que devam ser empreendidas, podendo nelas
ingressar ou não, permanecendo enquanto for sua vontade".
Para o mestre Antonio Ojeda Avilés, [6] "é el derecho fundamental de los trabajadores a
agruparse establemente para participar en la ordenación de las relaciones productivas".
Alguns autores trazem a baila vários aspectos em que pode ser encarada a liberdade
sindical. Aos quais passaremos a discorrer:
O sentido político significa o caráter privatístico do sindicato, desligado do Estado, e sem
compromissos com este, como havia no período totalitário.
A liberdade sindical pode, ainda, ser vista sob dois outros aspectos, quais sejam, a
liberdade individual e a liberdade coletiva.
Arnaldo Süssekind [7] professa que "a liberdade sindical individual é o direito de cada
trabalhador ou empresário filiar-se ao sindicato de sua preferência, representativo do
grupo a que pertence e dele desligar-se," enquanto que a coletiva "corresponde ao direito
dos grupos de empresários e de trabalhadores, vinculados por uma atividade comum,
similar ou conexa, de constituir o sindicato de sua escolha, com a estruturação que lhes
convier".
Na lição do professor Avilés [8], a liberdade individual pode ser compreendida em algumas
dimensões:
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A primeira seria a liberdade constitutiva, que permite a qualquer trabalhador criar um
sindicato em conjunto com outros companheiros.
Num segundo plano, há a liberdade de filiação, sendo que esta ainda se divide em positiva
e negativa. A primeira caracteriza-se pela possibilidade de filiar-se ao sindicato de sua livre
escolha e não naquele previamente determinado por um terceiro. Enquanto que a
liberdade de filiação negativa é o direito que tem o trabalhador de não filiar-se a nenhum
sindicato.
Contudo, ele finaliza dizendo que não se pode falar de poder de criação e eleição do
sindicato se o trabalhador não puder interferir na vida do sindicato, então, seria a
participação na vida do sindicato que torna reais os direitos de criação e eleição do
sindicato.
Ocorre que há algumas restrições para o exercício da liberdade sindical individual plena. Oprofessor Amauri Mascaro do Nascimento [9] traz a baila algumas dessas restrições como
v. g . a closed shop, que se presta a vedar o acesso, às empresas, de trabalhadores não
sindicalizados; a yellow dog contract , em que o empregado compromete-se a não filiar-se
a nenhum sindicato depois que for admitido pela empresa; a unions shop, em que o
empregado compromete-se a se sindicalizar após certo tempo de admissão; a preferencial
shop, que traduz a preferência na contratação de sindicalizados. E, de acordo com o
mestre Benjamim M. Shieber [10], existe ainda a agency shop¸ caracterizada pela
obrigatoriedade das contribuições ao sindicato, embora não seja preciso a ele filiar-se.
Essas restrições ocorrem no plano contratual, ou seja, feitas por particulares.
A Corte Européia dos Direitos do Homem, numa sentença de 13 de agosto de 1981, já
afirmou a ilegitimidade de tais práticas contratuais, alegando violação à Convenção
européia de direitos do homem de 1950.
Essas cláusula s são passíveis de ação anulatória, para que seja declarada a sua
nulidade.
Agora iremos observar que no Brasil, também a lei se encarregou de fazer alguns tipos de
restrições.
(TRT, 2ª Região, Ac. nº. 02970643019, decisão em 18/11/97, Recurso Ordinário, Órgão
Julgador: 3ª Turma – Relator Silvia Regina Pondé Galvão Com o art. 8º, V, da CR/88, a
liberdade sindical estaria aparentemente consagrada: "ninguém será obrigado a filiar-se ou
manter-se filiado a sindicato". Acontece que, como foi consagrada a unicidade sindical, a
liberdade de escolha dos trabalhadores fica reduzida a um único sindicato existente na sua
base territorial.
Outra restrição pode ser verificada é a que autoriza a contribuição compulsória por parte
dos sindicatos, independente da condição de os trabalhadores serem associados ou não,de acordo com o art. 8º, IV, in fine, e art. 149, que sustentam a manutenção da
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contribuição sindical prevista na CLT, em seus artigos 578 a 610. Dessa forma, se a
liberdade de não-associação fosse completa, não haveria a possibilidade de contribuição
compulsória.
Todavia, a jurisprudência vem se posicionando, tanto no Tribunal Superior do Trabalho
como nos Tribunais Regionais, no sentido de não permitir a cobrança aos empregados que
não sejam sindicalizados, ou seja, não tenham vínculo com o sindicato, em respeito ao
princípio da liberdade sindical, mais especificamente ao da liberdade negativa, dito de
outra maneira, a liberdade de não associar-se a nenhum sindicato.
Neste momento trazemos à colação dois acórdãos, um do E. TST e outro do Tribunal
Regional do Trabalho da 2ª Região.
EMENTA:
(...)
2. CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL. EMPREGADOS NÃO ASSOCIADOS.
Tratando-se de modalidade de contribuição de nítido caráter assistencial ou de solidariedade, que,
embora possa ser fixada em acordos, convenções e sentenças normativas, deve restringir seu
âmbito de aplicação pessoal aos filiados à categoria.
Assim ocorre em respeito ao princípio da liberdade sindical, agasalhado na Constituição Federal.
Tendo o trabalhador o direito constitucional de filiar-se ou não, de associar-se ou não, de ingressar nas entidades da sua profissão ou categoria, nela permanecendo enquanto o desejar, e retirando-se
no momento em que entender, não se pode impor àquele que não quis filiar-se ou associar-se
nenhum ônus, nem mesmo de natureza financeira. Neste sentido, acha-se a Orientação
Jurisprudencial nº 17 da SDC do TST e o Precedente Normativo nº 119 da SDC do TST."
3. DA CONTRIBUIÇÃO CONFEDERATIVA.
Tendo em vista que o princípio da liberdade sindical confere a cada empregado o direito de
participar de associações e de sindicatos, a conseqüência lógica e sistemática da análise das
normas que integram o sistema jurídico é a de que o trabalhador não seja obrigado a contribuir para
entidades das quais não tem interesse de associar-se.
Esse entendimento assenta-se na Carta Magna, que assegura em dois
dispositivos (incisos XX do art. 5º e V do art. 8º), o direito de associação e o de filiar-se, ambos
decorrentes da liberdade sindical.
A contribuição confederativa, instituída em assembléia geral dos trabalhadores e prevista no inciso
IV do art. 8º da Constituição da República é compulsória apenas para os filiados dos sindicatos,
qualquer que seja o instrumento coletivo que a abrigue: acordo ou convenção coletiva ou sentença
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normativa. Não detendo essa contribuição natureza de tributo, não se pode estendê-la aos
empregados não filiados. Aplicação à espécie do artigo 149 da Constituição da República.
Neste sentido, acha-se a Orientação Jurisprudencial nº 17 da SDC do TST e o Precedente
Normativo nº 119 da SDC do TST.
(TST, Rel. Juíza convocada Eneida Melo, DJ 10.05.2002)
E ainda, no mesmo sentido:
EMENTA:
Contribuição assistencial. Previsão em cláusula de norma coletiva. Ofensa a direito negativo de
filiação ao sindicato. A exigência de recolhimento da contribuição assistencial por pessoas não
filiadas ao sindicato da categoria, através de previsão em cláusula de instrumento normativo, fere oprincípio da liberdade sindical e o direito negativo à filiação a sindicato, prevista no artigo 8, V, da
Constituição Federal de 1988.
Devonald)
No que concerne à liberdade coletiva, podemos fazer uma divisão em quatro aspectos em
que ela se apresenta. São eles: liberdade de associação, liberdade de organização,
liberdade de administração e liberdade de exercício das funções.
A liberdade de associação nasce quando o Estado permite o direito de sindicalização. Ditode outra forma, quando empregados e empregadores podem criar sindicatos. Não
importando se têm liberdade ou se são controlados pelo Estado.
A liberdade de organização caracteriza-se pela possibilidade de os trabalhadores e
empregadores definirem seu modelo de organização, não podendo haver qualquer tipos
de vedação ou limitação do direito de livre estruturação das entidades.
A liberdade de administração diz respeito ao direito que as entidades têm de determinar
sua organização interna sem interferência de terceiros ou do Estado.
A liberdade de exercício das funções significa que deve ser reconhecido o direito de as
entidades sindicais defenderem os direitos de seus representados, executando as ações
necessárias ao cumprimento de suas finalidades.
3– A OIT E OS PRINCÍPIOS DA LIBERDADE SINDICAL
A Organização Internacional do Trabalho foi criada em 1919, pelo Tratado de Versailles, e
é pessoa jurídica de direito público internacional.
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A OIT num primeiro momento, após a 1ª Guerra Mundial teve sua atuação restrita à
regulamentação do trabalho. Depois da 2ª Grande Guerra, a Organização passou a se
preocupar com questões referentes aos Direitos humanos fundamentais dos
trabalhadores. Uma de suas características é o tripartismo, que significa que é formada por
integrantes que representam os Governos, os trabalhadores e os empregadores de cadaEstado-membro.
De acordo com o sistema brasileiro, confirmado pelo STF, se exige que os Tratados e
Convenções sejam aprovados pelo Congresso Nacional e promulgados por Decreto pelo
Presidente da República, independente de edição de lei para sua incorporação no
regulamento interno. [11]
Acontece que o mesmo STF tem entendido que, mesmo ratificadas, as Convenções da
OIT têm um caráter meramente programático, ou seja, estabelecem diretrizes que deverão
ser traçadas pela legislação interna.
No campo da liberdade sindical a Convenção mais importante da OIT é a de nº. 87, que
ainda não foi ratificada pelo Brasil.
A citada Convenção nº. 87 da OIT tem uma trajetória acidentada no que concerne à sua
ratificação pelo governo Brasileiro, conforme demonstra Almir Pazzianoto Pinto [12].
Segundo ele, o documento foi encaminhado em 31 de maio de 1949, pelo presidente
Eurico Gaspar Dutra, como mensagem nº. 256, assinada pelo Ministro das Relações
Exteriores Ciro de Freitas Vale. Acontece que a mensagem se perdeu, reaparecendo em
agosto 1966, recuperada pela Comissão de Relações Exteriores. Em março de 1968, oentão Ministro do Trabalho e Previdência Social se pronunciou pela inconstitucionalidade
da Convenção em face de duas exigências contidas no art. 159 da Constituição de 1967,
que tratavam do recolhimento compulsório de contribuição sindical anual, pelos
associados e não-associados e a obrigatoriedade do voto nas eleições sindicais. Em 1984
o deputado relator da Comissão de Constituição e Justiça lavrou parecer no sentido de sua
aprovação e em seguida a Comissão de Trabalho e Legislação Social opinou no mesmo
sentido, com parecer do Deputado Francisco Amaral. Aprovado pela Câmara, o Decreto foi
submetido ao Senado e em agosto de 1995, com parecer da Senadora Benedita da Silva,
foi sustentada a compatibilidade da Convenção com a Constituição da República. Emmarço de 2000, o projeto foi para a Comissão de Constituição e Justiça.
Vale a pena ressaltar que, no âmbito do Mercosul, a Argentina já tem ratificada esta
Convenção, desde 1960, assim como Uruguai, 1954 e Paraguai, 1962.
A Convenção nº. 87, aprovada em 1948, em conferência realizada na cidade americana de
São Francisco consagrou os princípios do direito sindical.
O art 2º da Convenção diz que: "Os trabalhadores e os empregadores, sem distinção de
qualquer espécie, têm o direito, sem autorização prévia, de constituir organizações de sua
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escolha, assim como o de se filiar a estas organizações, à condição única de se
conformarem com os estatutos destas últimas."
Este artigo consagra a liberdade sindical individual e a coletiva, além de garantir ao grupo
organizador do sindicato o direito de estruturá-lo livremente.
O artigo 3º assegura o direito de as organizações elaborarem seus estatutos e
regulamentos administrativos, bem como eleger livremente seus dirigentes. Os estatutos
podem ter negado o registro sindicais se eles tiverem alguma finalidade extra-sindical.
Vale a pena ressaltar que os estatutos podem estabelecer o direito de greve que, todavia,
não pode ser absoluto, uma vez que o verbete nº. 372 do Comitê de Liberdade Sindical diz
que " As greves de caráter meramente público (...) não se enquadram nos princípios da
liberdade sindical ". [13]
O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos e Culturais, elaborado no âmbito da
ONU, em 1966,estabelece, no art. 8º, o compromisso dos Estados em garantir o direito de
liberdade sindical e também o direito de greve.
O artigo 4º garante a não-intervenção da autoridade administrativa na associação sindical.
O sindicato está sujeito ao princípio da legalidade, mas só o Poder Judiciário poderá
penalizar uma possível violação a este princípio.
No artigo 5º é garantido aos sindicatos criarem federações e confederações, bem como a
ela se filiarem, e ainda se filiarem a organizações internacionais de empregados eempregadores.
O princípio da legalidade deve ser respeitado pela organização sindical de acordo com o
artigo 8º da Convenção 87.
O artigo 9º permite excluir da incidência da Convenção as Forças Armadas e a Polícia.
O artigo 10 conceitua que a organização sindical tem "por fim defender os interesses dos
trabalhadores e dos empregadores".
Há que se falar, ainda, na Convenção nº. 98, que complementa a anterior e trata da
aplicação dos princípios do direito de sindicalização e de negociação coletiva, esta
ratificada pelo Brasil em 1952.
As principais contribuições desta Convenção estão nos seus artigos 1º e 2º.
O primeiro destina-se a proteger o trabalhador contra atos de seu empregador que visem
impedir a sua liberdade sindical individual.
O segundo pretende a proteção das organizações sindicais, de empregados e
empregadores contra outras entidades de pessoas.
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O que estas convenções pretendem é uma melhoria das condições de vida do trabalhador,
tendo o direito de se reunir e apresentarem propostas buscando a dignidade de vida.
É importante asseverar que esta Convenção veda a existência de sindicatos "fantoches"
ou "amarelos", que têm a característica de serem sindicatos de trabalhadores que são
sustentados pelos empregadores ou suas associações. Este é um meio indireto de impedir
a liberdade sindical efetiva, feita de modo a preservar os interesses dos trabalhadores
porque, neste caso, o sindicato seria mantido, ou receberia ajudas dos empregadores,
com o fim de terem algum tipo de influência nas decisões do sindicato.
4 – A LIBERDADE SINDICAL COMO PREMISSA, RESULTADO E BEM JURÍDICO
TUTELADO [14]
A liberdade sindical como premissa surge porque será a partir do seu conceito mesmo que
será possível sua defesa.
A liberdade sindical é um direito de atividade. Dito de outra maneira, é o direito de se
exercer as funções sindicais e que pode ser desenvolvido por uma associação sindical, um
grupo profissional ou, até mesmo, por um só trabalhador.
O exercício da liberdade sindical inclui medidas de proteção e estímulos aos indivíduos e
às coletividades para permitir um pleno e eficaz desenvolvimento dessa atividade sindical.
Num segundo plano, temos a liberdade sindical como resultado, o que significa que o bom
funcionamento das medidas de proteção da atividade sindical determina a existênciaefetiva da liberdade sindical. São essas medidas que torna possível a liberdade sindical.
Assim, ao mesmo tempo que aparecem como premissa teórica, por outro lado, produzem
a efetividade do resultado concreto.
Por fim, podemos analisar a liberdade sindical como bem jurídico tutelado.
Nos mecanismos de proteção à atividade sindical, o principal bem jurídico tutelado é a
liberdade sindical, exatamente porque ela aparece, num primeiro momento como premissa
e depois como o resultado concreto e efetivo da proteção do sindicato.
Nessa ordem de idéias podemos concluir que a liberdade sindical se apresenta como
premissa, para a criação de um sindicato e como um fim, já que para que haja o pleno
exercício de suas atividades, ele deverá ter a possibilidade de atuar com liberdade para
defender os interesses de seus representados.
5 – AS DIFICULDADES DA LIBERDADE SINDICAL NO FINAL DO SÉCULO XX
A liberdade sindical se afirmou em países capitalistas de centro, que se caracterizaram
pelo modo de produção fordista, além de uma distribuição efetiva de renda.
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Com uma sociedade assalariada, uma divisão de renda atendendo aos anseios da
população, além de uma segurança produzida pelos mecanismos previdenciais
propiciados pelo Estado, a liberdade sindical tinha grande possibilidade de se desenvolver.
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O direito de preferência à luz da Lei nº 12.395/2011. Análise da atualização da Lei Pelé
e sua aplicação no ordenamento jurídico atual
Acontece que no Brasil não tivemos o Estado providência (welfare state) e os
direitos sociais constitucionalmente previstos (ainda) não são desfrutados pelauniversalidade da população, o que temos é numa espécie de direitos congelados, que
ainda não estão "prontos para usar".
Com isso, no Brasil, a liberdade sindical não atingiu, ainda, a dimensão pretendida na
Constituição de 1988.
A liberdade sindical precisa ser vista no contexto dos direitos fundamentais. Num sistema
de liberdade sindical o que se pretende é a proteção dos direitos sociais, além do
abandono de formas autoritárias de decisão.
6 – PROTEÇÃO DA LIBERDADE SINDICAL FRENTE AO ESTADO (A partir de um
controle internacional)
a)Procedimento especial de proteção da liberdade sindical na OIT
Em 1950 a OIT criou um procedimento especial, que tem como objeto verificar o respeito à
liberdade sindical nos Estados membros. Foi feito um acordo com a ONU e ainda foram
criados dois organismos especializados: o comitê de liberdade sindical e a comissão deinvestigação e conciliação, que têm a missão de examinar as queixas apresentadas contra
algum Estado por organizações de trabalhadores ou empregadores, quando estes países
infringirem alguma convenção, mesmo que não tenha ratificado.
O comitê de liberdade sindical tem uma composição tripartite, com representação dos
empregados, dos empregadores e dos governos, num total de nove membros, nomeados
pelo Conselho de Administração e não poderão tomar partes os cidadãos do país que se
encontre em exame.
A comissão de investigação e conciliação se forma por experts também nomeados pelo
Conselho de Administração e no momento de sua criação assumia a função de um
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tribunal, instruído pelo Comitê de liberdade sindical, procurava conciliar as partes
oferecendo termos transacionais. Depois este comitê adquiriu uma autonomia submetendo
os informes diretamente ao Conselho de Administração, com isso essa comissão sofreu
uma queda muito grande em suas atividades, porque quando se tratasse de países que
não haviam ratificado as convenções sobre liberdade sindical, para que houvesseinvestigação, era necessária a autorização do governo denunciado.
Apesar de não ter uma atividade ou uma efetividade grande, sua jurisprudência tem um
valor moral, pois tornam públicos os problemas submetidos a uma instância internacional.
b) Convenção Européia de Direitos Humanos e Tratado Europeu de Estrasburgo.
Os países do Conselho Europeu firmaram, em 1950, em Roma, uma Convenção,
reconhecendo em seu art. 11.1 o direito de fundar sindicatos e filiar-se a eles. A
Convenção ainda estabelece um Tribunal Europeu de Direitos Humanos para atender reclamações contra possíveis infrações a seus preceitos.
Cabe asseverar que as pessoas físicas e grupos particulares podem propor litígios
indiretamente ante ao Tribunal dirigindo-se anteriormente à Comissão Européia de Direitos
Humanos e a sentença pode condenar o Estado a indenizar o demandante
eqüitativamente. Todavia, isso só será possível se o Estado tiver firmado o correspondente
compromisso e se forem esgotados os recursos judiciais no país.
c)A vigilância de outras convenções sobre liberdade sindical
Algumas convenções, a Carta Social Européia, o pacto sobre direitos Econômicos, Sociais
e Culturais têm um controle muito frágil, então, os Estados membros poderão fazer seus
informes e enviá-los diretamente à comissão de Direitos Humanos para exame.
A Carta social Européia tem uma forma de vigilância mais apurada, funcionando da
seguinte forma: os Estados que a ratificaram apresentam a cada dois anos memorandos
de aplicação da Carta a um Comitê de Experts que passa suas conclusões a um sub
comitê social, que informa ao Comitê de Ministros e este, finalmente, pode dirigir
recomendações às partes contratantes.
Dessa forma, o que se pretende, são mecanismos para verificar se está existindo uma
aplicação das convenções pelos Estados participantes.
7 – MECANISMOS DE PROTEÇÃO CONTRA OS ATOS ANTI-SINDICAIS
Pensamos que não podemos terminar este trabalho sem nos referirmos ao sistema de
proteção da atividade sindical, em outras palavras, ao sistema que permite a existência
dos sindicatos para, a partir daí, falarmos em atuação com liberdade.
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Num sistema de proteção da atividade sindical podemos distinguir os mecanismos de
prevenção, de reparação.
Os mecanismos de prevenção são os que procuram evitar que se chegue a produzir o ato
anti sindical ou, pelo menos, seus efeitos. [15]
Aqui, o que se pretende é que o que for feito para impedir a realização do ato como
despedida ou transferência seja comunicada a um órgão judiciário, administrativo, para
que seja permitida a prática do ato.
Dentre os mecanismos reparatórios há os que têm a finalidade de suspender o ato
discriminatório, os que pretendem anulá-lo, ou uma simples indenização.
A melhor forma é a que se resolve com a declaração de nulidade do ato discriminatório.
Como conseqüência temos a restauração da situação anterior.
No Brasil, foram registradas algumas decisões, criticadas pela doutrina, que admitem a
substituição da efetiva reintegração por mera indenização. [16]
Uma reparação de natureza compensatória, uma indenização é considerada uma solução
reparatória imperfeita. Porque não se trata de um problema de ordem econômica, mas
uma liberdade fundamental cerceada.
A indenização pode ser um montante tarifado ou um cálculo dos danos sofridos. Além doque, em alguns casos será muito difícil de se estabelecer um montante para pagamento.
objetivo.
1 ALCANCE SUBJETIVO DA PROTEÇÃO
A liberdade sindical é a premissa lógica de uma teoria sobre a proteção contra os atos
anti-sindicais. É a liberdade sindical o principal bem jurídico tutelado, estando presente
antes e depois, como suposto e resultado do funcionamento do sistema jurídico de
proteção (URIARTE, 1989, p. 21).
A expressão liberdade sindical é, no Brasil, vulgarmente utilizada para designar a liberdade
de associação sindical plural, ou seja, aquela que permite que os sindicatos sejam
organizados independentemente da orientação do Estado, nos termos da Convenção 87
da OIT. Rumo a esse Norte, poder-se-ia concluir que não há liberdade sindical no Brasil,
dada à peculiaridade da unicidade sindical, no contexto de um sistema corporativo.
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Todavia, o conceito de liberdade sindical é mais amplo, dividindo-se em, pelo menos, três
aspectos: (i) liberdade sindical coletiva, pela qual empresários e trabalhadores têm o
direito de constituir sindicatos que os representem; (ii) liberdade sindical individual, pela
qual cada trabalhador ou empresário tem o direito de filiar-se ao sindicato de sua categoria
e de se desfiliar; (iii) autonomia sindical, correspondente à liberdade de organizaçãointerna e de funcionamento da associação sindical, bem como a faculdade de constituir
federações, confederações e centrais. (LIMA, 2007, n/p).
A liberdade individual ainda se divide em: (i) liberdade de aderir a um sindicato; (ii)
liberdade de não se filiar a um sindicato; e (iii) liberdade de se demitir de um sindicato.
(CUNHA, 2006, n/p).
Nesse novo prisma, pode-se concluir que há liberdade sindical no ordenamento jurídico
nacional, muito embora não seja ela idêntica à preconizada por aquela Convenção. No
ordenamento nacional, pode-se citar, como exemplo de liberdade sindical coletiva, a livreassociação, porém com unicidade sindical (art. 8°, caput da CF/88). Da liberdade sindical
individual, a liberdade de trabalhar (art. 5º da CF/88) e a liberdade de filiação (art. 8°, V da
CF/88, OJ 20 da SDC do TST e Convenção 98 da OIT - ratificada). Como exemplo de
autonomia sindical, a liberdade de organização (art. 8°, II da CF/88), de administração (art.
8°, I e IV da CF) e de atuação (art. 8°, III da CF/88) dos sindicatos.
A liberdade sindical brasileira, portanto, existe na estrutura da Constituição de 1988, muito
embora não seja totalmente simétrica com a idealizada na Convenção 87. Assim, é
possível se falar em proteção ante os atos anti-sindicais que atentem contra a liberdade do
trabalhador, seja ela dentro ou fora da ideologia da Convenção 87, porque se trata de um
direito fundamental, eleito pela Declaração da Filadélfia (1944) como um princípio
fundamental básico da OIT e, em 1948, [...] identificada como direito humano fundamental
na Declaração Universal dos Direitos do Homem da Organização das Nações Unidas –
ONU. (ARAÚJO, 2006, p.31).
A liberdade que nos é dada pela Constituição, ampliativa ou restritiva, deve ser efetiva,
donde surge a necessidade de se criarem mecanismos jurídicos de proteção a ela. Mas
quem é livre? Quais são os destinatários da liberdade inserida na Constituição? É o que se
verificará a seguir.
1.2 Sujeitos protegidos
Partindo da premissa de que a liberdade sindical é um direito fundamental decorrente do
reconhecimento, por parte do Estado, do direito de associação dos trabalhadores
(ARAÚJO, 2006, p. 29), a outra conclusão não se admite chegar senão àquela mais
ampliativa em relação aos sujeitos protegidos. Também é esse o epílogo a que se aporta,
a partir da leitura de Hegel.
Para Hegel, o Estado cria, com legitimidade ( politicidade) e autoridade (normatividade), aliberdade. É dado ao Estado, portanto, o poder-dever de firmar o dever-ser , ou seja, de
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dizer o que é liberdade. Se esse Estado é Democrático de Direito, tal qual o é o brasileiro
(art. 1º da CF/88), a interpretação acerca dos sujeitos protegidos deve ser, portanto, plural.
Consoante Hegel, fora da lei do Estado não há liberdade, há apenas livre-arbítrio. Este é a
capacidade que qualquer pessoa tem de agir, inclusive arbitrariamente. Para o filósofo
alemão, a representação mais vulgar que se faz da liberdade é a do livre-arbítrio, meio-
termo que a reflexão introduz entre a vontade simplesmente determinada pelos instintos
naturais e a vontade livre em si e para si. (HEGEL, 2003, p. 22).
Assim, a hipótese de um Estado que somente garanta a liberdade sindical de parte dos
sujeitos não se traduz em liberdade, mas, sim, em livre-arbítrio de uma parte em relação a
outra.
Quando em convivência com o outro, em uma sociedade, o homem experimenta a
liberdade como livre-arbítrio e, de forma ética, entra em contato com o livre-arbítrio dooutro, sendo este o segundo momento. A síntese entre as espécies de liberdade citadas é
a autonomia, no sentido de que o indivíduo perde o seu isolamento como portador de uma
liberdade absoluta e reconhece no outro também um ser livre, com o qual deve
compatibilizar o exercício da liberdade. (SALGADO, 1996, p. 479).
A sociedade sem a presença da lei (ordem) não é verdadeiramente livre, porque cada um
agirá conforme suas próprias inclinações, sem reconhecer que o outro também é livre. Isso
porque, entre o forte e o fraco, entre o rico e o pobre, entre o senhor e o servidor, é a
liberdade que oprime e é a lei que liberta, como já afirmou Lacordaire.
O Estado, ao organizar o convívio social, distribui a liberdade verdadeiramente livre a
todos. Assim é que o eu só é livre quando faz do não-eu seu objeto, o que é organizado
historicamente pelo Estado.
A idéia de que alguém somente é livre, se todos os outros também forem igualmente
livres, permite concluir que não se pode falar em liberdade sindical, sem incluir em seu
bojo todos os sujeitos coletivamente ou individualmente envolvidos na relação jurídica,
quais sejam, os sindicatos, os dirigentes sindicais, os empregados (filiados ou não aos
sindicatos) e os empregadores.
A transposição da teoria de Hegel para o Direito do Trabalho deve ser feita com extrema
cautela, adverte-se. Isso porque, nesse ramo do Direito, há a peculiaridade da
desigualdade presumida (porque ela é flagrantemente real). Assim, muito embora também
disponha o empregador de proteção contra atos anti-sindicais, muito mais freqüentemente
será ele visto como o autor de tais atos, dada a desigualdade na relação capital-trabalho.
Isso não impede, contudo, a sua proteção contra atos que ofendam sua liberdade, tal qual
seria o caso da iminência de destruição de seu estabelecimento empresarial por um
movimento grevista.
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A superioridade econômica do capital sobre o trabalho somente faz parecer que o
empregador está imune às práticas anti-sindicais de seus empregados. Mas somente faz
parecer. Para Uriarte, as hipóteses reais nas quais o empregador é objeto de atos "anti-
sindicais", são sumamente escassas – se não inexistentes -, pelo menos na América
Latina, salvo quando se os utiliza para limitar o exercício da greve ou outras formas deação coletiva. (1989, p. 34).
Outro sujeito geralmente excluído da noção de proteção de práticas anti-sindicais é o
desempregado. O mesmo se pode dizer dele, de maneira que sua condição temporária de
exclusão do vínculo de emprego certamente não deve afetar sua condição de sujeito de
direitos, notadamente o direito à liberdade sindical.
Aduz Oton Vasconcelos Filho que:
Toda esta discussão tem o condão de preservar as liberdades sindicais, e estas dizem respeito aosdireitos humanos fundamentais daqueles que desejam ter uma vida digna a partir do trabalho, mas
não necessariamente, do emprego, com o fim de criar, organizar e administrar os sindicatos, sem
intervenção estatal, com independência no exercício de suas funções, assim como no direito de
filiar-se ou não às entidades. (2008, n/p).
A proteção à liberdade sindical começa por identificar os atos anti-sindicais. É o que se
passa a fazer, em apertada síntese.
2 ALCANCE OBJETIVO DA PROTEÇÃO
A princípio e de forma mais genérica, são anti-sindicais quaisquer atos que venham a
prejudicar indevidamente o titular de direitos sindicais, quando em exercício de atividade
sindical. (SILVA, 2004). Uriarte os define, também de forma ampla, como toda atitude ou
conduta que prejudica a causa da atividade sindical ou que limita além do que decorre do
jogo normal das relações coletivas. (1989, p. 35). Mais precisamente a eles, refere-se
Francisco Menton Marques de Lima:
Anti-sindicais são as condutas: estatais - tendentes a inibir ou impedir que os sindicatos
desenvolvam suas atividades; dos empregadores - que constituam empecilhos aos
trabalhadores para o exercício de seus direitos sindicais; e dos próprios sindicatos -
mediante a instituição de privilégios ou limitações pelo fato de o trabalhador ser ou não ser
sindicalizado. Por outro ângulo, tipifica conduta anti-sindical o abuso do dirigente sindical
no exercício das funções de direção, extrapolando os poderes estatutários e as
prerrogativas legais. (2007, n/p).
Uriarte explica que a expressão mais difundida na Améria Latina é a de foro sindical .
Originariamente, a idéia de foro sindical reportava a uma proteção maliciosamenterestringida, pois identificava a proteção do dirigente sindical contra a despedida.
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(URIARTE, 1989, p. 9). Segundo o jurista uruguaio, o termo evoluiu, ampliando-se para
além do núcleo essencial (de proteção contra a despedida e outras sanções imotivadas),
abraçando um conjunto de medidas acessórias (como atividades de manutenção de local
de serviço e de horário, o quadro de avisos etc.), tendendo a abranger tudo que seja
proteção contra atos anti-sindicais, práticas desleais etc. (URIARTE, 1989, p. 10).
Nos Estados Unidos da América, a proteção jurídica à liberdade sindical estendeu-se ao
enfrentamento das práticas desleais . Em 1935, a Lei Nacional das Relações de Trabalho,
conhecida como Lei Wagner, proibiu determinadas condutas patronais denominadas de
práticas desleais (unfair labour practices), quais sejam, originariamente, a obstrução do
exercício dos direitos sindicais, os atos de ingerência dos empregados nas organizações
dos trabalhadores, certos atos de discriminação anti-sindicais e a recusa de negociar
coletivamente. (URIARTE, 1989, p. 11).
Calha fazer menção a uma definição autêntica [01] , trazida pelo Estatuto dos Trabalhadoresda Itália. Neste diploma, o art. 28 não definiu a conduta anti-sindical a partir de elementos
estruturais, mas preferiu uma identificação em chave teleológica, no sentido que qualifica
como anti-sindicais todos aqueles comportamentos que são direcionados a "impedir ou
limitar o exercício da liberdade e da atividade sindical, bem assim o direito de greve" (§ 1º) .
(LEVI, 2004, n/p).
Segundo Alice Monteiro de Barros, o termo conduta anti-sindical é mais abrangente, capaz
de abrigar em seu conceito tanto o foro sindical quanto as práticas desleais:
Nem sempre o termo conduta anti-sindical vem inserido nas legislações. Por ser ele mais
abrangente, compreende o chamado "foro sindical" utilizado pelo Direito Coletivo do Trabalho de
alguns países da América Latina (art. 449 da Lei do Trabalho da Venezuela, art. 450 do Código
Substantivo do Trabalho da Colômbia e art. 49 da Lei Argentina n. 20.615), como também as
"práticas desleais" identificadas com as condutas anti-sindicais pelo Código do Trabalho Chileno1.
(BARROS, 1998, n/p).
Diga-se, por fim, que as condutas anti-sindicais podem ainda ser tipificadas ou
genericamente definidas por normas autônomas, com nas convenções ou acordos
coletivos de trabalho. Decorrentes da lei ou não, todas as condutas que atentem contra aliberdade sindical serão inócuas, se contra elas não forem destinados mecanismos
efetivos de proteção, capazes de trazer o Estado-juiz à presença dos sujeitos, para
restabelecer a liberdade ferida. Esse é o objeto do próximo ponto.
2.2 Instrumentos de proteção contra atos anti-sindicais
Os instrumentos de proteção se vêem regulados em lei, em norma coletiva ou igualmente
podem ser fruto de construção jurisprudencial . (ARAÚJO, 2006, p.39). Segundo Uriarte:
Numa sistematização dos meios de proteção da atividade sindical – os que não envolvem entre si,mas que podem ser complementares ou acumulativos -, podem distinguir-se: a) os mecanismos de
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proteção; b) os mecanismos de reparação; e c) outros mecanismos, tais como a publicidade de
decisões administrativas ou judiciais, a aplicação de decisões administrativas ou penais, e a
autotutela coletiva. (1989, p. 45).
Da classificação de Uriarte, a doutrina elabora três tipos de tutela: a preventiva, a
reparatória e a inibitória. A primeira é constituída por manifestações que impedem os atos
anti-sindicais, antecedentes destes. Em geral se caracteriza por medidas em que se exige
a comunicação ou autorização para a prática de determinado ato (ARAÚJO, 2006, p. 40) a
um órgão heterônomo (estatal) ou autônomo (criado pelas partes).
A tutela reparatória, como proposta por Uriarte, divide-se em perfeita e imperfeita. A
primeira seria a única inteiramente adequada à proteção da liberdade sindical, resolvendo-
se com a declaração de nulidade do ato discriminatório:
A conseqüência dessa nulidade é o restabelecimento da situação alterada, que é, a rigor, o únicoque retira, efetivamente, todos os obstáculos que o ato ilícito perturbador da ação sindical havia
oposto à mesma; quer dizer, é o único mecanismo que protege de forma acabada e direta o bem
jurídico tutelado. (URIARTE, 1989, p. 49).
A imperfeita resolve-se com uma indenização pelos prejuízos e danos decorrentes da
conduta anti-sindical. Adriane Reis de Araújo destaca o duplo interesse dessa medida:
São casos em que há um duplo interesse jurídico afetado: o do trabalhador e o da entidade, de tal
forma que a indenização deve ser direcionada a ambos. Pode consistir em uma quantia pré-fixada,
ou em um valor a ser calculado em função dos danos e prejuízos que efetivamente possam ocorrer,
ou ainda numa acumulação desses critérios. (SILVA, 2004).
Essa indenização tanto pode destinar-se ao indivíduo diretamente ofendido quanto à
organização sindical privada de sua liberdade. A ordem de cessar a conduta anti-sindical
pode ser acompanhada de sanções administrativas e prisão do agente renitente em
cumprir a ordem citada. (ARAÚJO, 2006, p. 40).
Além da tutela preventiva e da reparatória, há a tutela inibitória. Diversamente da primeira,
a segunda e a terceira atuam após o ato lesivo, destinando-se a suspender as condutas
anti-sindicais, com a possibilidade de imposição do pagamento de multa pelo
descumprimento da obrigação de não-fazer: astreintes. (ARAÚJO, 2006, p. 40).
Outros mecanismos podem estar previstos em norma coletiva, a qual poderá estabelecer
sanções convencionais. Pode ser também que a conduta anti-sindical constitua fato típico
da legislação nacional, de maneira que o agente será punido através de sanções criminais,
as quais podem variar da restrição de direitos e aplicação de multas à privação temporária
da liberdade.
Uriarte enumera três instrumentos complementares destinados à garantia da efetividadedas citadas medidas, sendo eles: (i) a suspensão do ato anti-sindical, para evitar a
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consolidação dos seus efeitos; (ii) a inversão do ônus da prova, dada a dificuldade do
hipossuficiente de produzi-la, de maneira que ficaria a cargo do ofensor a demonstração
de que sua conduta não feriu a liberdade sindical; e (iii) a celeridade do processo, uma vez
que, nesses casos, o tempo produz efeitos devastadores para a reparação dos danos e a
demora equivale a uma denegação de justiça. (URIARTE, 1989, p. 55).
2.3 A proteção da liberdade sindical no Direito Internacional e no Comparado
2.3.1 A proteção na perspectiva da Organização Internacional do Trabalho
No plano internacional, a OIT editou, em 1949, a Convenção n. 98 [02], para tratar do direito
de organização e negociação coletiva. Logo em seu artigo primeiro, aquela norma
internacional estabelece que os trabalhadores devem beneficiar-se de proteção adequada
contra todos os atos de discriminação que tendam a lesar a liberdade sindical em matéria
de emprego, referindo-se, especialmente, aos atos que tenham por fim: (a) condicionar oemprego à não-filiação ou que deixe de fazer parte de um sindicato; b) despedir o
trabalhador ou causar-lhe prejuízo por quaisquer outros meios, por motivo de filiação
sindical ou de participação em atividades sindicais dentro ou fora da jornada de trabalho.
No artigo seguinte, a referida Convenção garante a proteção contra atos de ingerência.
Estes, na definição da própria norma, são todas as condutas destinadas a provocar a
criação de organizações de trabalhadores dominadas por um patrão ou uma organização
de patrões, ou a manter organizações de trabalhadores por meios financeiros ou outros,
com o desígnio de subordinar aquelas organizações a um patrão ou a uma organização de
patrões.
Muito embora exista tal classificação distintiva entre atos de ingerência e de discriminação,
expressões estas que constituem uma superação dos conceitos foro sindical e práticas
desleais (URIARTE, 1989, p. 13), há um consenso em torno do qual as expressões
condutas, práticas ou atos anti-sindicais, surgidas no Congresso de Buenos Aires, de
1987, comportam todas as demais espécies anti-sindicais, conforme salienta Alice
Monteiro de Barros:
[...] os atos de discriminação anti-sindical dirigem-se a um ou a vários trabalhadores, embora
reúnam valores individuais ou coletivos, enquanto os atos de ingerência dirigem-se mais
diretamente à organização profissional. Sustenta a doutrina que a expressão condutas, práticas ou
atos anti-sindicais utilizada como tema de Congresso Regional de Direito do Trabalho e da
Segurança Social, realizado em Buenos Aires, em 1987, engloba os atos de discriminação anti-
sindical, atos de ingerência e práticas desleais, coincidindo com a evolução desses conceitos, cuja
tendência é estender seu campo de aplicação a outras condutas, além daquelas originárias, que
implicam violação de direitos do dirigente sindical. Além do mais, a conduta ou ato anti-sindical tem
seu alcance ampliado quando se elimina o termo discriminação, o qual pressupõe ruptura com o
princípio da igualdade, pois o ato anti-sindical poderá ir além e abranger até tratamento de favor.
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Considerando o disposto na citada fonte internacional, os países que a ratificaram devem introduzir
no seu ordenamento jurídico interno as obrigações ali compreendidas. (BARROS, 1998, n/p).
Assim, a Convenção 98 da OIT, juntamente com outras tantas, como a Convenção n. 84
(acerca da associação sindical), a Convenção n. 111 (sobre a discriminação no emprego),
a Convenção n. 135 a (referente ao representante de empresa), a Convenção n. 141
(relativa à organização dos trabalhadores rurais), a Convenção n. 154 (que trata da
negociação coletiva) e as Recomendações 91 e 163 (sobre contrato coletivo e negociação
coletiva), se somam, formando um complexo normativo aberto, capaz de abrigar novas
interpretações do que seja ato anti-sindical, conforme conduzir o caso concreto.
2.3.2 A proteção na perspectiva dos Estados Unidos da América
Nos Estados Unidos da América, a Lei Wagner, ou National Labor Relations Act de 1935,
descreve diversas práticas anti-sindicais (unfair labor practices). Como exemplos, citam-seas descritas na aliena "a", relativas aos atos do empregador:
1) Interferir, controlar, ou coagir os empregados no exercício dos direitos garantidos na
Seção 7ª; [03]
2) Dominar ou interferir na formação ou administração de qualquer sindicato ou contribuir
financeiramente ou dar qualquer outro tipo de ajuda ao mesmo.
3) Discriminar em relação a empregar ou manter o emprego ou qualquer termo ou
condição de emprego para encorajar ou desencorajar membro de sindicato.
4) Dispensar ou praticar qualquer outro ato de discriminação contra um empregado pelo
fato de ele ter feito reclamação ou ter sido testemunha em procedimento relacionado às
práticas anti-sindicais.
5) Recusar-se a negociar coletivamente com os representantes dos seus empregados.
Tadeu Henrique Lopes da Cunha comenta que, para provar a violação da lei, basta
mostrar que nas atitudes do empregador há uma tendência anti-sindical:
Para se estabelecer uma violação desse preceito não é necessário demonstrar - por testemunho
direto dos empregados ou de outra forma - que os empregados foram coagidos; é suficiente mostrar
que as atitudes do empregador tenderiam a coagir o empregado. Esse padrão objetivo facilita a
prova de atos anti-sindicais e também evita o constrangimento de um depoimento do empregado
contra seu empregador. (CUNHA, 2006, n/p).
O modelo adotado para a organização sindical nos Estados Unidos conduz a práticas
desleais peculiares. Naquele País, a representação sindical se dá por empresa, de
maneira o sindicato eleito para representar todos os empregados de um empregador pode
ser qualquer um dentre os que se candidatarem. Dessa forma, como em qualquer sistema
político, surgem situações típicas, como o favorecimento da empresa a algum sindicato ou
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a discriminação deste próprio em relação ao empregado que foi contra a sua escolha.
Brotam, portanto, atos de ingerência e discriminação.
A prática anti-sindical mais comum do empregador em relação aos empregados é a
dispensa daquele que é eleito membro, ou que dá apoio ao sindicato. É dentro desse
contexto que se insere a cláusula denominada yellow dog, que era freqüentemente
incluída nos contratos individuais de trabalho e pela qual o empregado não poderia se filiar
a qualquer sindicato (CUNHA, 2006, n/p).
Quanto ao procedimento adotado contra as práticas anti-sindicais, explica Cunha que:
A prática de um ato anti-sindical poderá ser denunciada pelo ofendido ao National Labor Relations
Board (Board). Para tanto, deverá ser seguido um procedimento, que acabará com a análise pelo
Board, que verificará se cabe ou não um mandado (injunction) para interromper a prática anti-
sindical. Se a demanda for julgada improcedente, o Board oferecerá a oportunidade de a parteretirar a acusação, ou, se preferir, ela poderá apelar. Sendo procedente, à parte acusada será
ofertada a oportunidade para conciliação ou celebração de um acordo antes que uma reclamação
formal seja expedida. Se não houver acordo, a reclamação formal será emitida para audiência
perante um juiz de direito administrativo. Proceder-se-á a nova instrução. No julgamento o juiz
prolatará decisão escrita e um mandado de recomendação, o qual poderá ser objeto de apelação
perante o Board, em Washington, e por fim, junto às Cortes Federais. (CUNHA, 2006, n/p)
As decisões do Board podem ser revisadas pela Corte de Apelação e pela Suprema Corte
dos Estados Unidos da América.
2.3.3 A proteção na perspectiva européia
Explica Cunha (2006, n/p) que, até 1983, o Direito espanhol previa como sanção apenas a
nulidade do ato anti-sindical. A indenização era possível, mas estava respaldada na
legislação civil e não na sindical. Hodiernamente, existem três tipos de sanções: (i) penal,
com penas privativas de liberdade de seis a três anos e multa para atos de discriminação;
(ii) civil, com a reparação indenizatória pelos prejuízos causados; e (iii) administrativa,
através da imposição de multa àquele que violou a liberdade sindical.
Já o sistema sindical francês, ainda nas lições de Cunha (2006, n/p), caracteriza-se pelo
alto grau de pluralismo, de maneira que lá é comum coexistirem dentro da mesma
empresa delegados do sindicato, de pessoa, de comitês etc. O empregador poderá sofrer
sanções penais (pena de dois meses a um ano de prisão e/ou multa) e civis (reintegração
do dispensado arbitrariamente e indenizações pelos prejuízos sofridos), caso viole
qualquer dos seguintes direitos:
(i) remuneração das horas dedicadas ao exercício da função de representação. Durante o
mês, o representante pode expender quinze horas para realizar atividades específicas da
representação, sendo todas elas remuneradas como se essa pessoa houvesse trabalhadodurante todo esse período;
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(ii) liberdade de circulação e de deslocamento, para que possa conhecer a situação da
empresa e dos trabalhadores, exercendo de forma mais efetiva seu mister de
representação; e (III) proteção contra dispensa, a qual somente poderá ocorrer com a
autorização do comitê de empresa, ou do inspetor do trabalho. (CUNHA, 2006, n/p).
Informa Alberto Levi (2004, n/p) que na Itália, com fulcro no procedimento especial previsto
no art. 28 do Estatuto dos Trabalhadores, a prática de um ato anti-sindical pelo
empregador possibilita ao ofendido (através do sindicato, que dispõe de legitimidade
exclusiva, restando ao indivíduo as vias ordinárias) recorrer ao Tribunal do lugar no qual foi
praticada a conduta. O Tribunal terá um prazo (ordinatório ou não peremptório) de dois
dias para decidir a questão. O procedimento, que, em sua primeira fase, é sumário (ou de
urgência), prevê a convocação das partes para colheita de sumárias informações, no êxito
das quais, onde considere subsistente a conduta anti-sindical, adota uma decisão
motivada e imediatamente executiva, com a qual ordena ao empregador [...] a cessação
do comportamento censurado e a remoção dos seus efeitos. (LEVI, 2004, n/p).
Eventualmente, avança-se para a segunda fase do procedimento, ainda perante o juízo de
primeiro grau, todavia, com cognição plena (LEVI, 2004, n/p). Descumprida a ordem
judicial pelo empregador, há previsão de sanções penais, como adverte Levi:
Quando, pois, o empregador não cumprir a ordem do juiz, o art. 28, § 4º, através do chamamento
previsto pelo art. 650 do Código Penal, introduz uma sanção de natureza penal, constituída - exceto
se o fato não integrar os extremos de um mais grave delito - desde a prisão por três meses até o
pagamento de multa de até 206 euros. Tal norma do Código Penal - que representa uma evidente
forma de coação indireta - pune quem não observe um provimento legalmente emanado da
autoridade por razão de justiça ou de segurança pública, ou ordem pública ou de higiene. E a este
específico propósito foi sublinhado pela doutrina que a coação indireta ao adimplemento da ordem
judicial integra uma das principais novidades do Estatuto dos Trabalhadores. Em particular, tenha-se
presente que no processo penal instaurado em aplicação ao art. 650 do mesmo, os organismos
locais das associações sindicais nacionais estão legitimados a constituir-se partes civis.
Além disso, em caso de condenação penal do empregador inadimplente, a autoridade judiciária
ordena a publicação da sentença penal no modo estabelecido pelo art. 36 do Código Penal, vale
dizer, de ofício, sobre um ou mais jornais especificados pelo Juiz e às expensas do condenado (art.28, § 5º, do Estatuto).
Por último, para completar o quadro sancionatório, se recorda que o art. 7º, § 7º, da Lei n.
388, de 2000, estabelece que no caso de condenação, com provimento definitivo, por
conduta anti-sindical, são revogadas as facilitações fiscais previstas pelo mesmo art. 7º, a
fim de incentivar nova ocupação. (LEVI, 2004, n/p).
Na Alemanha, os trabalhadores podem unir-se livremente em associações constituídas
para a defesa de seus interesses. Lá, qualquer ato ou pacto que limite ou atrapalhe o
exercício desse direito de liberdade associativa (que inclui a filiação a um sindicato,permanência e desfiliação) será ilícito e nulo. A repressão a tais atos encontra-se no
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âmbito civil, podendo os prejudicados pleitear judicialmente ação de ressarcimento.
(CUNHA, 2006, n/p). O sistema de proteção alemão, portanto, não permite a cláusula
closed shop.
Segundo Cunha, na Alemanha os mais conhecidos conflitos de trabalho são a greve, o
lock out e o boicote. Essas condutas somente serão ilegais, quando violarem as leis de
proteção aos trabalhadores, ou os bons costumes. A sanção no âmbito civil é a
responsabilidade por ato ilícito, cabendo ação indenizatória em face do autor do dano.
(CUNHA, 2006, n/p).
2.3.3 A proteção na perspectiva da América Latina
Segundo Uriarte, nos sistemas predominantes na América Latina, a proteção contra atos
anti-sindicais parte da extensão ou ampliação do conceito de "foro sindical",
originariamente circunscrita à despedida dos dirigentes sindicais (URIARTE, 1989, p. 58),depois largamente estendida a outros trabalhadores. É o que se percebe do contato com a
legislação da Venezuela e do Chile.
O Código do Trabalho venezuelano, na seção sexta, assegura garantia de emprego aos
trabalhadores detentores de foro sindical, além de proibir a sua transferência
discriminatória. Segundo Alice Monteiro de Barros, o foro sindical abrange não só os
dirigentes sindicais, mas também os trabalhadores que aderirem a um sindicato em
formação e os que estiverem na fase de negociação coletiva ou de tramitação de um
conflito de trabalho (art. 450, 451 e 459). (BARROS, 1998, n/p).
No Chile, o Código do Trabalho identifica os atos anti-sindicais no art. 289, os quais se
referem às ações que atentam contra a liberdade sindical. Entre esses atos estão aqueles
que:
[...] criam obstáculo à formação ou funcionamento de sindicatos de trabalhadores, negando-se,
injustificadamente, a receber os seus dirigentes ou a proporcionar-lhes a informação necessária ao
cumprimento de suas obrigações, exercendo pressões mediante ameaças de perda do emprego, de
benefícios ou de fechamento do setor, do estabelecimento ou da empresa, na hipótese de o
trabalhador concordar com a constituição de um sindicato. Viola, igualmente, a liberdade sindical
quem, maliciosamente, executar atos tendentes a alterar o quorum de um sindicato. As condutas
relatadas acima, mesmo quando se refiram aos Comitês Paritários de Higiene e Segurança ou aos
seus integrantes, são consideradas como práticas desleais. Constituem também violação à
liberdade sindical: a concessão de benefícios especiais, com o fim de desestimular a formação de
um sindicato; as ações que visem evitar a filiação sindical; os atos de discriminação com o fim de
incentivar ou desestimular a filiação sindical do trabalhador; os atos de ingerência sindical, tais como
intervir ativamente na organização sindical, exercer pressões para que o trabalhador se filie a um
determinado sindicato, discriminar os sindicatos, outorgando facilidades a alguns em detrimento de
outros ou condicionar a contratação de um empregado, à circunstância de pertencer a um
determinado sindicato. (BARROS, 1998, n/p).
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A legislação chilena prevê sanções criminais e civis (multas e indenizações) para o autor
das práticas desleais.
Na Argentina, a Lei n. 20.615, em seu art. 49, assegura a estabilidade no emprego
(durante o mandato e até um ano após o seu término) dos empregados ocupantes de
cargos eletivos ou representativos em associações profissionais com personalidade
sindical. O foro sindical estende-se aos delegados ou subdelegados de pessoal, de seção,
membros de comissões internas ou trabalhadores que atuem em cargos representativos
similares. (BARROS, 1998, n/p).
Quanto ao Equador, Peru e Uruguai, explica Uriarte que:
[...] não existem normas que identifiquem concretamente atos de discriminação, embora se utilizem
melhor formas gerais que reiteram os termos dos Artigos 1 e 2 da Convenção n. 98, como sucede
com o Peru e Uruguai, ou se identificam alguns poucos atos anti-sindicais determinados, comodespedida do dirigente sindical ou do grevista no Equador. Ao revés, o projeto uruguaio de 1986,
sem estabelecer uma lista de atos discriminatórios, contém uma exemplificação dos "condutos anti-
sindicais" (a discriminação no emprego, a despedida, os tratamentos discriminatórios e os atos de
ingerência), junto com uma enumeração das "garantias complementares" que se concedem aos
dirigentes, representantes e delegados sindicais. (URIARTE, 1989, p. 42).
O modelo sindical brasileiro segue a tradição corporativista latino-americana de ampliação
da proteção ao foro sindical, dada a não ratificação da Convenção 98 da OIT. Como
adverte Adriane Reis de Araújo, esse modelo tem tradição tutelar e unilateral, ou seja,
regulamenta através de lei a proteção da pessoa do dirigente sindical ou do trabalhador.(ARAÚJO, 2006, p. 42). De fato, é o que se percebe da leitura dos arts. 5º, incisos XVII e
XVIII, e 8º da CF/88 e do art. 543, §3º da CLT, por exemplo.
Além da legislação, também o Tribunal Superior do Trabalho, através de Precedentes em
dissídios coletivos, tem procurado tornar efetivo o exercício da liberdade sindical:
[...] consagrando, a par das garantias ao dirigente sindical (art. 543 consolidado e Precedente
Normativo 83 do TST, que assegura a freqüência livre desses dirigentes às assembléias sindicais
devidamente convocadas e comprovadas), o direito de afixar, no interior da empresa, publicações
relativas à matéria sindical, dando virtualidade ao comando contido no art. 614, § 2º consolidado. É
o que se infere do Prec. DC 104 do TST, quando assegura o direito de afixação, na empresa, de
quadro de avisos do sindicato, para comunicados de interesse dos empregados, vedados os de
conteúdo político-partidário ou ofensivo. (BARROS, 1998, n/p).
Como expõe Francisco Menton Marques de Lima (2007, n/p), a prática de atos anti-
sindicais, pela grave afronta ao princípio constitucional da liberdade associativa e sindical,
insculpido no art. 8º, caput, e inc. I, da CF, poderá ensejar: (i) ação para cessação da
prática danosa; (ii) restituição ao status quo ante; (iii) ações penais cabíveis
(constrangimento ilegal, crime contra a organização do trabalho, atentado contra aliberdade de associação, paralisação seguida de violência, paralisação de obra pública de
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interesse coletivo, invasão de estabelecimento e sabotagem e frustrar direito assegurado
por lei trabalhista); (iv) a concessão de indenização ao trabalhador e/ou à organização
sindical, pelos danos materiais e morais e prejuízos causados pelo ato anti-sindical,
inclusive ação indenizatória de danos morais coletivos. (LIMA, 2007, n/p).
No direito brasileiro, como propõe Araújo (2006, p. 45), há previsão de todas as
modalidades de tutela. Como exemplo de tutela preventiva, cita a jurista o inquérito para
apuração de falta grave do dirigente sindical (arts. 853 e 855 da CLT). No que tange à
proteção reparatória perfeita, o art. 9º da CLT pode propiciar interpretação expansiva, para
abrigar a anulação de todo e qualquer ato anti-sindical. Para a reparação imperfeita, é
citada pela douta Procuradora do Trabalho a indenização decorrente da conduta ilícita,
que tenha o objetivo de impedir a filiação do empregado ou a organização de associação
de classe ou sindical ou, ainda, que impeça o empregado de exercer os direitos inerentes
à condição de sindicalizado (art. 543, § 6º, da CLT). Quanto às outras medidas, acrescenta
que:
Se o ato praticado constituir discriminação do trabalhador pelo exercício de atividade
sindical e resulte no rompimento da relação de emprego, o empregado poderá optar entre
a anulação do ato e a sua reintegração ao serviço ou então ao recebimento de
indenização nos moldes do art. 4º, inciso II, da Lei n. 9.029/95(34), de aplicação analógica.
O dirigente sindical tem assegurado o exercício da função sindical e a permanência em
local que possibilite o desempenho da sua atividade sindical (art. 543 da Consolidação das
Leis do Trabalho). Soma-se a isso o seu direito à reintegração no emprego, se a
despedida não estiver assentada em justo motivo previsto no art. 482 da Consolidação
Trabalhista, consoante o art. 8º, inciso VIII, da Constituição Federal.
A cautela precária poderá ser concedida em antecipação da tutela (art. 461, § 3º, do
Código de Processo Civil, com alteração da Lei n. 8.952/94), a qual configura instrumento
amplamente recepcionado pela jurisprudência laboral. Especificamente no diploma
trabalhista, o art. 659, inciso X, da Consolidação das Leis do Trabalho, estabelece a
concessão de liminar para a reintegração no emprego de dirigente sindical afastado,
suspenso ou dispensado pelo empregador.
O art. 533, letra a, da Consolidação das Leis do Trabalho estabelece o pagamento de
multa administrativa pela prática de alguns atos anti-sindicais contra o empregado (art.
543, § 6º, do mesmo texto legal). (ARAÚJO, 2006, p. 46).
Em remate, vale lembrar que o art. 199 do Código Penal Brasileiro tipifica o crime de
atentado contra a liberdade de associação, com pena de detenção de um mês a um ano, e
multa, além da pena correspondente à violência, para aquele que constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a participar ou deixar de participar de determinado
sindicato ou associação profissional.
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CONCLUSÃO
Das indagações propostas, após a compreensão do tema, pode-se chegar às conclusões
que seguem.
Em primeiro lugar, quanto ao alcance subjetivo da proteção, no conceito hegeliano de
liberdade, não há espaço para a exclusão de qualquer sujeito que componha ou participe,
direta ou indiretamente, da relação jurídica coletiva de trabalho. A inclusão do outro, no
âmbito da proteção contra atos anti-sindicais, decorre da própria natureza da idéia de
liberdade, que pressupõe o pluralismo e se opõe à desigualdade. Nesse passo, no âmbito
da proteção, devem estar incluídos não só o dirigente sindical, mas todos os
trabalhadores, empregados ou desempregados, filiados ou não a um sindicato, bem como
aos empregadores, sob pena de desvirtuamento lógico do sistema idealizado. Ademais,
concebendo-se a liberdade sindical como direito fundamental, cerceá-la em sua
perspectiva subjetiva é ferir diretamente a idéia de justiça.
Em segundo plano, quanto ao alcance objetivo da tutela contra os atos anti-sindicais,
verifica-se a necessidade de se ampliar o conceito de conduta, prática ou ato anti-sindical,
para abrigar qualquer atitude tendente a impedir a concretização da liberdade sindical.
Para tanto, o sistema jurídico deve estar preparado para oferecer ao ofendido instrumentos
heterônomos (preventivos, reparatórios e inibitórios) e autônomos, permitindo, quanto a
estes, que os sujeitos participantes da negociação coletiva criem outros mecanismos, além
dos disponíveis na legislação, para impedir e reprimir quaisquer atos que atentem contra a
liberdade sindical, no contexto do que dispuser o ordenamento nacional.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Adriane Reis de. Liberdade sindical e os atos anti-sindicais no direito
brasileiro. Revista do Ministério Público do Trabalho - 32 - Ano XVI - Outubro, 2006. p. 29-
48.
BARROS, Alice Monteiro de. Condutas anti-sindicais. In RIBEIRO, Lélia Guimarães
Carvalho; PAMPLONA FILHO, Rodolfo (Org.). Direito do Trabalho: estudos em
homenagem ao Prof. Luiz de Pinho Pedreira da Silva. São Paulo: LTr, 1998. (Obra em
versão virtual não paginada, consultada na íntegra através da Biblioteca Digital LTr).
CUNHA, Tadeu Henrique Lopes da. Proteção contra atos anti-sindicais in SANTOS,
Enoque Ribeiro dos; SILVA, Otávio Pinto (Org.). Temas Controvertidos do Direito Coletivo
do Trabalho no Cenário Nacional e Internacional. São Paulo: LTr, 2006. (Obra em versão
virtual não paginada, consultada na íntegra através da Biblioteca Digital LTr).
HEGEL, G. W. F. Princípios da Filosofia do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
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LEVI, Alberto. A repressão da conduta anti-sindical na Itália. Trad. Yone Frediani. In
FREDIANI, Yone; ZAINAGHI, Domingos Sávio (Org.). Relações de Direito Coletivo Brasil-
Itália. 1ª ed. São Paulo: LTR, 2004. (Obra em versão virtual não paginada, consultada na
íntegra através da Biblioteca Digital LTr).
LIMA, Francisco Menton Marques de. Elementos de Direito do Trabalho e Processo
Trabalhista. 12ª ed. São Paulo: LTR, 2007. (Obra em versão virtual não paginada,
consultada na íntegra através da Biblioteca Digital LTr).
SALGADO, Joaquim Carlos. A Idéia de Justiça em Hegel. São Paulo: Edições Loyola,
1996.
SILVA Otavio Pinto e. Subordinação, Autonomia e Parassubordinação nas Relações
de Trabalho. São Paulo: LTR, 2004. (Obra em versão virtual não paginada, consultada na
íntegra através da Biblioteca Digital LTr).
URIARTE, Oscar Ermida. A proteção contra os atos anti-sindicais. Trad. Irany Ferrari.
São Paulo: LTr, 1989.
VASCONCELOS FILHO, Oton de Albuquerque. Liberdades sindicais e atos anti-
sindicais. São Paulo: LTr, 2008. (Obra em versão virtual não paginada, consultada na
íntegra através da Biblioteca Digital LTr).
Notas
1. Autêntica porque é dada pela própria lei.
2. Ratificada pelo Brasil em 18/11/1952.
3. Seção relativa ao direito associação.
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SLIDE
1--------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------
PRINCÍPIO DA LIBERDADE SINDICAL NA CF/1988
LIBERDADE SINDICAL INDIVIDUAL:
CF, arts. 5°,inciso XVIII e 8°,inciso V
LIBERDADE SINDICAL COLETIVA:
CF, arts. 5°, inciso XVIII e 8°, caput
SLIDE
2--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
A Magna Carta de 1988 dispõe que "é livre a associação profissional ou sindical",
entretanto estabelece a manutenção da unicidade sindical, pela qual veda a criação
de mais de uma entidade na mesma base territorial, todavia, deixa a definição de base
territorial por conta dos empregados e dos empregadores, não podendo ser inferior à área
de um município.Uma inovação do texto constitucional é a que concerne ao conceito de
trabalhador que se alarga para fins de enquadramento e representação sindical,
compreendendo também aquele que proprietário ou não, trabalhe individualmente ou em
regime de economia familiar".
SLIDE
3-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
----------------------------------------------------------------------------
Com o art. 8º, V, da CR/88, a liberdade sindical estaria aparentemente consagrada:
"ninguém será obrigado a filiar-se ou manter-se filiado a sindicato". Acontece que, como foi
consagrada a unicidade sindical, a liberdade de escolha dos trabalhadores fica reduzida aum único sindicato existente na sua base territorial.
Outra restrição pode ser verificada é a que autoriza a contribuição compulsória por parte
dos sindicatos, independente da condição de os trabalhadores serem associados ou não,
de acordo com o art. 8º, IV, in fine, e art. 149, que sustentam a manutenção da
contribuição sindical prevista na CLT, em seus artigos 578 a 610. Dessa forma, se a
liberdade de não-associação fosse completa, não haveria a possibilidade de contribuição
compulsória.
Todavia, a jurisprudência vem se posicionando, tanto no Tribunal Superior do Trabalho
como nos Tribunais Regionais, no sentido de não permitir a cobrança aos empregados que
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não sejam sindicalizados, ou seja, não tenham vínculo com o sindicato, em respeito ao
princípio da liberdade sindical, mais especificamente ao da liberdade negativa, dito de
outra maneira, a liberdade de não associar-se a nenhum sindicato.
SLIDE
4-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--------------------------------------------------------------------------------------
Acórdãos do TST e do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região
EMENTA:
(...)
2. CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL. EMPREGADOS NÃO ASSOCIADOS.
Tratando-se de modalidade de contribuição de nítido caráter assistencial ou de solidariedade, que,
embora possa ser fixada em acordos, convenções e sentenças normativas, deve restringir seu
âmbito de aplicação pessoal aos filiados à categoria.
Ocorre em respeito ao princípio da liberdade sindical, agasalhado na Constituição Federal. Tendo o
trabalhador o direito constitucional de associar-se ou não nas entidades da sua profissão ou
categoria, nela permanecendo enquanto o desejar, e retirando-se no momento em que entender,
não se pode impor àquele que não quis filiar-se ou associar-se nenhum ônus, nem mesmo denatureza financeira.
Neste sentido, acha-se a Orientação Jurisprudencial nº 17 da SDC do TST e o Precedente
Normativo nº 119 da SDC do TST
SLIDE
5------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
3. DA CONTRIBUIÇÃO CONFEDERATIVA.
Tendo em vista que o princípio da liberdade sindical confere a cada empregado o direito de
participar de associações e de sindicatos, a conseqüência lógica e sistemática da análise das
normas que integram o sistema jurídico é a de que o trabalhador não seja obrigado a contribuir para
entidades das quais não tem interesse de associar-se.
Esse entendimento assenta-se na Carta Magna, que assegura em dois dispositivos (incisos XX do
art. 5º e V do art. 8º), o direito de associação e o de filiar-se, ambos decorrentes da liberdade
sindical. A contribuição confederativa, instituída em assembléia geral dos trabalhadores e previstano inciso IV do art. 8º da Constituição da República é compulsória apenas para os filiados dos
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sindicatos, qualquer que seja o instrumento coletivo que a abrigue: acordo ou convenção coletiva ou
sentença normativa. Não detendo essa contribuição natureza de tributo, não se pode estendê-la aos
empregados não filiados. Aplicação à espécie do artigo 149 da Constituição da República.
Neste sentido, acha-se a Orientação Jurisprudencial nº 17 da SDC do TST e o Precedente
Normativo nº 119 da SDC do TST.
(TST, Rel. Juíza convocada Eneida Melo, DJ 10.05.2002).