Download - Sermão da sexagésima análise
Padre António VieiraPadre António Vieira
O PROCESSO ARGUMENTATIVO
Um sermão é uma peça de oratóriaoratória, que é a arte arte de discursarde discursar, a arte da eloquênciaarte da eloquência.
Os teóricos modernos apontam quatro tipos de quatro tipos de discurso discurso ou peças de oratória, que são:
o académicoacadémico, constituído por agrados ou homenagens, também chamado de panegírico;
o judiciáriojudiciário, aquele que acusa ou defende;
o políticopolítico, que trata de questões públicas;
e o religiosoreligioso, este também chamado de parenética, cuja função é discutir dogmas da religião com vistas a incuti-los nos ouvintes.
A oratória de carácter religiosooratória de carácter religioso, a parenética, compõe-se de textos que podem ser classificados de acordo com sua função:
a homiliahomilia, que é a explicação de um tema ou de uma passagem evangélica;
o panegíricopanegírico, que é uma oração de louvor;
a oração fúnebreoração fúnebre;
e, finalmente, o objecto do estudo, o sermãosermão, também chamado de prédicaprédica, um discurso importante, longo, demoradamente elaborado, com o objectivo de convencer o auditório.
SermãoSermão vem do latim, sermone, e originariamente significa conversação. O significado do termo evoluiu para um discurso religioso, pregado geralmente no púlpito.
Chama-se prédicaprédica porque se desenvolve a partir de um conceito predicávelconceito predicável, ou seja, que é possível de ser pregado.
Esse conceito predicável é um texto bíblico texto bíblico que o orador comenta de acordo com o o tema tema e as teses que se propõe a desenvolver.
A estrutura clássica: os sermões de Vieira tinham
tanto o “poder” de convencer quem ouvia tanto pela razão quanto pela emoção.
• Na unidade do assunto: o tema é estudado em todos os aspectos.
• Na circularidade do desenvolvimento: através da retomada constante das premissas iniciais que são repetidas até o fim do sermão.
• Na divisão em cinco partes:
Tema
Intróito
Invocação
Argumentação
Peroração ou Epílogo
TemaTema – Vieira abre os sermões evocando uma passagem bíblica que ilustre o assunto sobre o qual vai pregar. Essa citação bíblica será retomada insistentemente em toda a peça oratória e serve para despertar e manter a atenção do leitor ou ouvinte. Funciona como um enunciado da tese.
IntróitoIntróito – O orador expõe o plano geral do sermão antecipando os elementos que serão desenvolvidos e definindo os termos essenciais à compreensão do argumento.
Invocação – O sermonista invoca a protecção divina ou da Virgem Maria, para que inspirem a pregação.
Argumentação Argumentação – O pregador propõe a tese, sustentando-a com exemplos bíblicos, encíclicas papais, obras teológicas dos doutores da Igreja. Vale-se de todo o arsenal da lógica e da estilística (silogismos, sofismas, associações inesperadas, paradoxos, trocadilhos). Utiliza o método parenético que consiste em lançar o argumento e pensar todas as possibilidades de contestação do ouvinte/leitor, antecipando-se às conclusões do auditório e desarmando as possíveis objecções.
Peroração ou Epílogo Peroração ou Epílogo – O orador apresenta a conclusão e exorta (aconselha) a observância das verdades morais pregadas.
O Sermão da Sexagésima foi um dos mais
famosos. Através dele, o pregador esmerou-se
na retórica, contando com sua memória
prodigiosa e rara habilidade no domínio da
palavra.
O Sermão da Sexagésima versa sobre a arte
de pregar.
Nele, Vieira usa de uma metáfora:
pregar é semear.
O sermão é um todo de 10 pequenos capítulos e é considerado seu mais importante sermão: uma crítica monumental ao estilo barroco, sobretudo ao Cultismo.
Como foi pregado na Capela Real, em Portugal, podemos concluir que o auditório era particular, composto por católicos da nobreza portuguesa da época. O autor procura aproximar-se do auditório dirigindo-lhe perguntas que ele mesmo, o autor, responde. O autor procurou no sermão a adesão do auditório à sua tese principal de que se não havia conversões em massa ao catolicismo na sua época era por culpa dos pregadores de então.
Traçando paralelos entre a parábola bíblica sobre o semeador que semeou nas pedras, nos espinhos (onde o trigo frutificou e morreu), na estrada (onde não frutificou) e na terra (que deu frutos), Vieira critica o estilo de outros pregadores contemporâneos seus, que pregavam mal, sobre vários assuntos ao mesmo tempo (o que resultava em pregar em nenhum), ineficazmente e agradavam aos homens ao invés de pregar servindo a Deus.
ESTRUTURA DO SERMÃO
1- PRÓLOGO: parte que inicia o sermão.
Tema: passagem do evangelho que irá ilustrar o sermão.
Intróito ou exórdio: exposição do plano do discurso. Apresenta grande variedade de temas, abordando questões filosóficas, políticas ou morais. Factos históricos ou sociais também entram em pauta no sermão. (capítulos I e II)
Invocação: pedido de auxílio divino. Geralmente é feito à Virgem Maria.
2- DESENVOLVIMENTO ou ARGUMENTAÇÃO: corpo do sermão. (capítulos III a VIII)
Uso de vários recursos retóricos: exemplificação, comparações, indagações, deduções, enfim, uma série de procedimentos argumentativos.
Para fortalecer a argumentação recorre-se a passagens bíblicas, além daquela utilizada como tema.
Proposta do tema é seguida da antecipação de qualquer possibilidade de questionamento ou de contestação que possa ser empreendida pelo auditório, anulando-se assim qualquer forma de refutação.
3- PERORAÇÃO ou CONCLUSÃO: recapitulação do tema com o epílogo.
(capítulos IX e X)
Faz-se a EXORTAÇÃO, ou seja, a advertência relativa aos valores propostos pelo sermão.
OBS. O sucesso do sermão se deve à aplicação da RETÓRICA, ciência criada por Aristóteles, desenvolvida em Roma e amplamente utilizada pelos pensadores cristãos. “(...) arte de achar os meios de persuasão que cada caso comporta.”