SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃOFACULDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE CAMPO
MOURÃO – FECILCAM PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEEDSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS – DPPEFACULDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE CAMPO MOURÃO –
FECILCAMPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE
VÁRIAS POSSIBILIDADES DE LEITURA
DO TEXTO POÉTICO
MARIA SOCORRO CORDEIRO ALDIVINO
Artigo Final apresentado à Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão – FECILCAM – e à Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED, como requisito para conclusão da participação no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, sob orientação do Professor Ms. Wilson de Moura Rodrigues.
CAMPO MOURÃO2012
VÁRIAS POSSIBILIDADES DE LEITURA DO TEXTO POÉTICO
Autor: Maria Socorro Cordeiro Aldivino1
Orientador: Ms. Wilson de Moura Rodrigues2
Resumo
Este trabalho foi desenvolvido em uma escola pública no município de Quinta do Sol – PR, para estimular a leitura de textos poéticos junto aos professores e consequentemente aos alunos, procurando compreender as dificuldades que os mesmos têm em ler e trabalhar com textos poéticos. Desta forma, propôs-se leitura de textos sobre o gênero poesia aos professores, incentivando-os a trabalharem com este gênero com os seus alunos. A aplicação do projeto deu-se em 8 encontros com os professores, fazendo uso do material pedagógico criado pela pesquisadora, sobre a importância dos textos poéticos e a análise de poemas de Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto, utilizando-se os níveis de leituras propostos por FRANCO JUNIOR (1996). Metodologicamente, o trabalho consistiu em leituras diversas para o embasamento teórico, baseado nos estudos de BAKTHIN (1992), ZILBERMAN (1998), MARCUSCHI (2002), as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa (2008), dentre outros, da organização de encontros com os professores de língua portuguesa das 8ªs séries do colégio e da seleção de poemas dos autores citados. Como resultados, obteve-se excelente participação e interesse dos professores, a realização de varal de poesias pelos alunos e a inserção deste projeto na proposta pedagógica da escola, no Planejamento Anual e no Plano de Trabalho Docente. O trabalho foi implementado também no GTR – Grupo de Trabalho em Rede para professores da rede pública de ensino de diversas cidades do Paraná.
Palavras-chave: leitura; texto poético; professor, aluno.
INTRODUÇÃO
11 Professora PDE, da rede pública de ensino, do Estado do Paraná, lotada no município de Quinta do Sol – PR.
22 Professor Orientador da Instituição de Ensino Superior – FECILCAM.
Apesar de todos os recursos disponíveis na escola, especialmente livros em
abundância, tem-se observado que os alunos ainda leem muito pouco e
consequentemente também escrevem pouco, alegando falta de tempo e também
devido à falta de hábito de leitura da comunidade escolar.
Percebe-se também que os livros mais lidos na escola são os que trazem
textos da literatura clássica, principalmente os do gênero romance. Sendo assim, o
gênero poético é ignorado e subestimado a um gênero secundário. Logo, quem lê
poesia é considerado romântico anacrônico. Desta forma, entendeu-se que
precisava incentivar, no primeiro momento, os professores a lerem textos poéticos e,
no segundo momento, estes motivariam os seus alunos, contribuindo, assim, para o
pleno desenvolvimento dos mesmos.
O trabalho objetivou compreender por que professores e alunos das 8ªs
séries do Colégio têm dificuldades para ler textos poéticos, assim como criar
condições para desenvolver a leitura e consequente produção dos mesmos; propor
leitura teórica sobre o gênero poesia aos professores de Língua Portuguesa,
inserindo o projeto de poesia no Projeto Político Pedagógico do referido colégio,
para que o mesmo aconteça na escola de forma contínua; incentivar os professores
a trabalharem com este gênero junto a seus alunos e construir um material
pedagógico sobre a importância da leitura de textos poéticos, para ser utilizado e
divulgado entre os professores de Língua Portuguesa das 8ªs séries do Colégio.
Realizou-se a leitura teórica sobre o gênero poesia aos professores,
incentivando-os a trabalharem com os seus alunos. O trabalho foi desenvolvido em 8
(oito) encontros com os professores, com a utilização do material pedagógico criado
pela pesquisadora, analisando os poemas de Carlos Drummond de Andrade e João
Cabral de Melo Neto, e, além da leitura e da contextualização do poema, houve
questionamentos sobre o que o poema dizia e que sensações produziam no leitor,
para, em seguida, analisar o poema e quando necessário, fazer uma releitura do
mesmo. Desta forma, em um primeiro momento, as atividades de leituras levaram ao
conhecimento do conjunto das regras e das combinações de seu funcionamento, da
descoberta de um sentido real para o texto, do entendimento de palavras e
expressões em seus contextos e dos conhecimentos das relações gramáticas
básicas.
Em um segundo momento, os participantes do grupo distinguiram as
características básicas do texto (no caso, o poema), em razão de seu formato e
conteúdo, utilizando, para tanto, os níveis de leituras propostos por FRANCO
JUNIOR (1996). Metodologicamente, o trabalho consistiu em leituras diversas para o
embasamento teórico, baseado nos estudos de BAKTHIN (1992), ZILBERMAN
(1998), MARCUSCHI (2002), as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa
(2008), dentre outros, da organização de encontros com os professores de língua
portuguesa das 8ªs séries do colégio, da seleção de poemas dos autores citados. O
trabalho foi desenvolvido também no Grupo de Trabalho em Rede – GTR, com
professores de várias escolas do Estado do Paraná.
Como resultados, obteve-se excelente participação e interesse dos
professores, a realização de varal de poesias pelos alunos e a inserção deste
projeto na proposta pedagógica da escola, no Planejamento Anual e no Plano de
Trabalho Docente.
I VÁRIAS POSSIBILIDADES DE LEITURA DO TEXTO POÉTICO
A leitura na escola vem, nos últimos tempos, apenas cumprindo uma
formalidade. Desde muito cedo, na fase da alfabetização, quando se prioriza sons e
letras, a decodificação de palavras isoladas, a formação de frases e períodos,
afasta-se o aluno do real sentido da leitura. Também tem-se percebido que muitos
livros didáticos apresentam propostas de leituras totalmente desvinculadas da
realidade do aluno, provocando desinteresse e desconhecimento de como os textos
poéticos podem intervir na motivação por determinada prática pedagógica.
ZILBERMAN (1988, p. 94), afirma que:
A leitura é o fenômeno que respalda o ensino da literatura e, ao mesmo tempo, o ultrapassa, porque engloba outras atividades pedagógicas, via de regra de tendência mais prática. De modo que, a literatura enquanto evento cultural e social, depende do modo de como a literatura é encarada pelos professores, por extensão, pelos livros didáticos que encaminham a questão; pois de uma maneira ou outra, eles se encarregam de orientar a ação docente em sala de aula.
Ler é um direito de todos e leva o cidadão à cultura e ao conhecimento e,
sem dúvida, desenvolver o prazer pela leitura é o grande desafio da escola, nos dias
de hoje. A mesma autora diz que formar leitores envolve um posicionamento firme
da escola e dos professores:
Pensar a questão da formação do leitor não significa, portanto, constatar tão-somente uma crise de leitura; o tema envolve, antes de mais nada, uma tomada de posição relativamente ao significado do ato de ler, já que se associa a ele um elenco de contradições, originário, de um lado, da organização específica da sociedade brasileira, de outra, do conjunto da sociedade burguês e capitalista (ZILBERMAN, 1988, p. 20).
Segundo AZEVEDO (2009, p. 66), “a leitura de ficção e de poesia pode ter
um papel regenerador e insubstituível”, e ainda afirma que a função da literatura,
principalmente através da poesia, possibilita o contato direto com o “discurso
subjetivo”, ou seja, um mesmo texto didático e impessoal pode se transformar em
algo que traz sensações diferentes. Para o autor,
(...) é pela literatura que se entra em contato com temas humanos complexos, ausentes dos livros utilitários, mas essenciais: a paixão, a busca do autoconhecimento, a angústia, a luta do velho contra o novo, o ciúme, a confusão entre a realidade e a fantasia, a mentira, a existência nos diferentes pontos de vista sobre um mesmo assunto, etc. (Carta na escola, p. 66).
Uma proposta na escola que priorize a leitura de textos poéticos, sem
dúvida, contribuirá para o despertar do aluno, para o mundo da literatura,
contribuindo para sua formação, ampliando sua visão de mundo.
As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, de Língua Portuguesa, que
doravante serão utilizadas como DCEs, (2006, p. 31), afirmam que:
A leitura compreende, assim, o contato do aluno com uma ampla variedade de textos produzida numa igualmente ampla variedade de práticas sociais. Trata-se de propiciar o desenvolvimento de uma atitude crítica que leva o aluno a perceber o sujeito presente nos textos e, ainda, a uma atitude responsiva diante dele.
Para que o leitor seja competente, é preciso ultrapassar a compreensão da
superfície textual, isto é, não entender somente as informações que estão explícitas
no texto. Ler um texto consiste num processo dinâmico entre sujeitos que instituem
trocas de experiência por meio do próprio texto. Por isso, a presença de textos no
contexto escolar colabora na formação desse leitor competente.
As DCEs também compreendem a leitura como
(...) um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler, o indivíduo busca as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem (DCEs, 2008, p. 56).
Quanto mais dialogar com o texto, mais experiências significativas o leitor
tem com o texto escrito, mais desenvoltura o aluno vai adquirir para dialogar com
ele. Nesse sentido, as DCEs também afirmam que o texto literário “permite múltiplas
interpretações, uma vez que é na recepção que ele significa (...), traz lacunas,
vazios, que serão preenchidos conforme o conhecimento de mundo, as experiências
de vida, as ideologias, as crenças, os valores, etc., que o leitor carrega consigo”
(DCEs, 2008, p. 59).
Ao se entender que a principal função do texto é a interlocução, a
abordagem textual deve reconhecer as diversidades existentes em tipos de textos,
as características que os formam e onde eles são usados, ou seja, o seu contexto,
para, assim, identificar e até classificar os mesmos.
O texto poético
Ao optar em trabalhar com este tipo de texto, o professor estará,
consequentemente, favorecendo um ambiente de aprendizagem e formação de
leitores para toda a vida. MARCUSCHI (2002), defende o trabalho com textos na
escola a partir da abordagem do gênero textual, que segundo ele é “uma noção
vaga para os textos materializados encontrados no dia-a-dia e que apresentam as
características sócio-comunicativas definidas pelos conteúdos, propriedades
funcionais, estilo e composição característica” (MARCUSCHI, 2002, citado por
SILVA, 2010, p. 29). Já para BAKTHIN (1992, p. 261), os gêneros são tipos
relativamente estáveis de enunciados elaborados pelas mais diversas esferas da
atividade humana, ou seja, ou seja, são as ações sócio-comunicativas que permitem
a interação.
Sem dúvida, o texto faz parte do nosso cotidiano. O prazer da leitura vem
das emoções que ela desperta em cada leitor, pois o texto age sobre o leitor,
causando reações de recepção; a relação daquele com este é sempre receptiva e
ativa, de aceitação ou de recusa, já que a leitura é uma experiência que modifica
atitudes, emociona, distrai, informa e convence. Como afirma BAKTHIN, (1992, p.
298),
A obra predetermina as posições responsivas do outro nas complexas condições da comunicação verbal de uma dada esfera cultural. A obra é um elo na cadeia da comunicação verbal; do mesmo modo que a réplica do diálogo, ela se relaciona com outras obras – enunciados: com aquelas a que ela responde e com aquelas que lhe respondem, e, ao mesmo tempo, nisso semelhante à réplica do diálogo, a obra está separada das outras pela fronteira absoluta da alternância dos sujeitos falantes.
Sendo o texto uma unidade discursiva e “não um objeto fixo num dado
momento no tempo, ele lança seus sentidos no diálogo intertextual, ou seja, o texto
é sempre uma atitude responsiva a outros textos, desse modo, estabelece relações
dialógicas” (DCEs, 2008, p. 51), o trabalho com gêneros textuais e, portanto, textos
diversificados, é uma oportunidade de trabalhar com a língua em seus usos do dia-
a-dia, neste caso, o trabalho com poemas.
Para realizar um trabalho de forma competente com textos, é preciso que o
professor conceba a linguagem como uma forma de diálogo, também presente no
texto poético. MOISÉS (1973, p. 47 e 53), define a poesia como criar, no sentido de
imaginar, e é expressa em versos. Afirma ainda que “o poema comunica ao leitor a
poesia que existiu no poeta (...)” e “a poesia passa para o poema na medida em que
este funciona como o reservatório de signos que conduzem à poesia ou preservam-
na de esvair-se”.
Também se considera importante colocar aqui o significado de poesia e
poema, devido à confusão que os dois termos normalmente causam:
Poesia é a linguagem subjetiva, que utilizamos para exprimir nossos sentimentos e nossas emoções, com elementos sonoros: ritmo, rima e verso. Até a Idade Média, a poesia era cantada. Só depois é que se separou o poema da música. Já o poema é a forma da poesia. Em geral, confundimos poema com poesia, porque escrevemos poesia em poema, embora se possa escrever também poesia em prosa. Um poema é composto de vários versos e estrofes. Vamos dizer que o poema é a roupa mais comum da poesia. É a parte concreta da poesia enquanto a poesia é a parte imaterial. Os poemas têm elementos sonoros importantes, como métrica, ritmo e rima, justamente porque eram acompanhados de música e dela guardam esses elementos (LACERDA, 2010, s/d).
Já para FERREIRA (1993), a poesia é a que tem caráter que emociona, toca
a sensibilidade, sugere emoções por meio de uma linguagem, enquanto que o
poema é a obra em verso em que há poesia. E para OBERG (2006, p. 147), “a
poesia, como de resto toda a literatura, é a arte da palavra – sua essência é
linguagem esteticamente organizada, de modo a buscar a expressão e a
comunicação.”
A mesma autora afirma que a poesia toca, emociona, mobiliza o ser
humano, “tanto no nível racional quanto no emocional, possibilitando uma vinculação
diferenciada do homem consigo mesmo, com o outro e com o mundo (p. 147)”.
Desta forma, a presença de muitos textos poéticos na sala de aula, cria vínculos
com o leitor, tornando possível compartilhar experiências poéticas também com os
outros alunos,
A leitura de textos poéticos exige a participação ativa do aluno na construção
de imagens, sensações e conceitos presentes nos textos. Muito mais do que um
instrumento de comunicação, a leitura permite trabalhar com o mundo dos símbolos
e da fantasia. Essas viagens criativas e imaginativas, realizadas pelos leitores
possibilitam o desenvolvimento da crítica, que é uma das mais importantes
capacidades humanas.
As DCEs de Língua Portuguesa afirmam que a leitura de um poema é
diferente da leitura de um artigo de opinião, já que neste, elementos como local e
data de publicação, contexto e tema, dentre outros, devem ser analisados: “Numa
atividade de leitura com o texto poético, é preciso observar o valor estético, o seu
conteúdo temático, dialogar com os sentimentos revelados, as suas figuras de
linguagem, as suas intenções” (2008, p. 72). O mesmo documento salienta que no
trabalho com textos poéticos, o professor deve trabalhar com a leitura expressiva,
estimulando, assim, nos alunos, a sensibilidade estética. Também é preciso que
antes de “apresentá-lo para os educandos, o professor deve estudar, apreciar,
interpretar, enfim, fruir o poema” (2008, p. 76).
Para OBERG (2006, p. 149),
Os poemas não são feitos com o objetivo de ensinarem conteúdos curriculares ou de servirem como estratégias ao ensino dos temas transversais ou de outras disciplinas. E é, exatamente, neste suposto, “não ensinar” formal que eles nos ensinam. Trata-se, no entanto, de uma outra qualidade de acaso educativa, mais ampla e relacionada à formação humana e cultural dos sujeitos.
O ato de ler um poema justifica-se em si mesmo, pois “a linguagem poética
requer formas de aproximação, que incluem não apenas aspectos cognitivos, mas
também imaginativos, afetivos e sensoriais” (OBERG, 2006, 149).
Sem dúvida, para que o professor estimule o aluno a ler e o faça com prazer,
é preciso primeiro que o próprio professor goste do que está realizando. O professor
pode também propor outras atividades após a leitura dos poemas, como desenhar,
dramatizar, escrever novos poemas e conhecer novos gêneros, aprimorando a
compreensão, interpretação e análise, adequando ao nível da sala e de cada aluno.
Professores
O trabalho com a leitura de textos poéticos realizado junto aos professores
deu-se por meio de 8 encontros, na própria escola, que objetivou mostrar-lhes a
importância da leitura deste gênero, orientando-os. Para tanto, realizou-se a leitura
dos textos com uma breve análise dos poemas, sempre os incentivando a falarem,
exporem suas opiniões sobre os textos lidos, explorando as sensações produzidas
pelo texto.
Desta forma, nos encontros, os professores declamaram os poemas uma
vez ou mais, respeitando rimas e ritmos e foram orientados ainda que essas
atividades ocorram a partir de estratégias bastante simples e diversas, desde as
leituras e declamações realizadas pelo professor em algum momento de sua aula,
até atividades mais elaboradas, como ensaios e preparação para um jogral, por
exemplo.
Na interpretação de poemas com o grupo de professores, pôde-se
demonstrar a importância da declamação (leitura em voz alta, com ritmo e melodia).
Os autores escolhidos foram Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo
Neto, cujas poesias foram assim trabalhadas:
- leitura do poema (pelos professores ou por mim);
- breve contextualização do texto (época, autor);
- questionamento sobre o que poema nos diz, que sensações produziram no leitor;
- análise do poema;
- releitura do mesmo (nos momentos em que se fizeram necessários).
As atividades de leitura levaram a um conhecimento do conjunto das regras
e das combinações de seu funcionamento, da descoberta de um sentido real para o
texto, do entendimento de palavras e expressões em seus contextos e do
conhecimento das relações gramáticas básicas. A partir disto, os participantes do
grupo foram instigados a distinguir as características básicas do texto (no caso, o
poema), em razão de seu formato e conteúdo, utilizando-se os níveis de leitura,
explicitados por FRANCO JUNIOR3 (1996) quais sejam: nível de decodificação, da
associação, da análise e da interpretação.
No primeiro nível, o da decodificação, é o que diz o texto, ou seja, abrange o
conjunto de signos linguísticos que constitui a expressão corporal da mensagem,
que é o texto. Neste momento, ao ouvir os professores, esta pesquisadora explicita
o vocabulário do texto, decodificando a palavra, por meio de perguntas como O quer
diz o texto? O que significa as palavras tal e tal?
O nível da associação é aquilo que o texto faz lembrar; o leitor coloca o texto
lido “num conjunto de paradigmas que lhes são fornecidos, quase que
automaticamente, pela sua memória afetivo-intelectual” (FRANCO JUNIOR, 1996).
Este nível interfere na construção da leitura e na interpretação do texto literário.
Neste momento, associa-se o texto à experiência do aluno, realizando
questionamentos. Ao analisar o poema Consolo na praia, de Drummond, por
exemplo, é possível perguntar ao aluno: Você já se sentiu meio perdido na vida?
Você já teve uma grande perda?, incentivando-o a falar.
No terceiro momento, verifica-se como o texto diz o que diz, no nível de
análise. Neste nível, é preciso dominar um conjunto mínimo de conceitos que
permita estudar o texto literário com rigor e objetividade, privilegiando a identificação
dos elementos que constituem a sua estrutura e estudando as relações. Realiza-se
neste momento, a análise do texto, explorando detalhes que possam passar
despercebidos pelo aluno.
Já o nível de interpretação, implica naquilo que o texto quer dizer com aquilo
que diz, ou seja, é um juízo crítico e um posicionamento de valor do leitor perante o
texto. Juntamente com os níveis anteriores, este nível corrobora para que a leitura
ocorra com profundidade.
33 FRANCO JR, Arnaldo. Níveis de leitura: teoria e prática. Maringá: EDUEM, 1996.
Também aqui, no nível de interpretação, o aluno posiciona-se criticamente
sobre o poema, é o momento em que o aluno argumenta e reflite sobre o conteúdo
do texto. Tomando como exemplo o mesmo poema, pode-se questionar ao aluno:
Você acha que para se ganhar algo na vida, é preciso sempre perder algo? O que
significa pra você o último verso do poema? Por que o título Consolo na praia?
Sendo o poema a expressão de sentimentos, emoções e experiências, como
afirmam as DCEs (2006, p. 32), ao colocar que o texto “carrega em si ideologias,
mas somente a partir da visão do mundo de quem o lê é possível estabelecer
relações que venham aceitar ou refutar os valores ali presentes”, entende-se que o
poema tem sua organização tanto sintática quanto interpretativa e por isso,
aplicando cada um dos níveis acima, pôde-se analisar os elementos, atribuindo ao
poema valores significativos.
ZAFALON (2008) ao citar BAKHTIN (1997), também afirma que o texto não
é um objeto fixo num momento histórico; ele lança seus sentidos e tem sua
continuidade nas composições de leitura que ele suscita. Então, não se pode
apenas perguntar “O que o texto pode querer dizer?”, mas também “Como o texto
funciona em relação ao que quer dizer?”.
Mesmo o trabalho tendo sido realizado com os professores, houve a
preocupação em desenvolver cada etapa de interpretação dos poemas, para que os
mesmos possam, de fato, levá-los para a sala de aula, associando-os à experiência
do aluno e incentivando-os a participar.
Em encontros posteriores, observaram-se relatos de professores que, ao
trabalharem com os textos poéticos junto a seus alunos, houve maior interesse e
participação, melhorando a aprendizagem dos mesmos.
II. PERMANÊNCIA DO PROJETO NA ESCOLA E SUA ARTICULAÇÃO
Os professores participantes do projeto, num total de 8 (oito), tiveram uma
mudança de postura, com nova visão do trabalho com textos poéticos, o que
contribuiu para que o aluno também tivesse outro olhar sobre os textos.
Verificou-se que as salas de aula foram melhoradas, com exposição de
muitos textos, inclusive no pátio da escola. Os professores facilitaram o acesso aos
textos, realizando exposições (tanto de poemas quanto de livros de poesias), na
biblioteca da escola e nas salas de aula.
Outro aspecto importante foi que o projeto ficou conhecido por todos na
escola, vindo a fazer parte do Projeto Político Pedagógico da escola, da Proposta
Curricular de Língua Portuguesa e do Plano de Trabalho Docente dos professores,
ampliando assim, a leitura de textos poéticos no âmbito escolar.
As atividades de leitura de poemas culminaram com o varal de poesias,
sendo que os alunos produziram seus textos, expondo-os, assim como textos de
autores consagrados. Desta forma, na realização do varal, ocorreu a leitura de
poemas, de forma individual e em grupo, após a pesquisa dos textos. Na
oportunidade, os alunos leram, interpretaram, apreciaram e discutiram textos
poéticos dos autores pesquisados. Também foi importante a maneira como o varal
se compôs, por meio de peças de roupas e tecidos estendidos, sendo que cada
peça representava uma poesia, de modo criativo, estimulando os alunos a lerem os
poemas.
Assim, determinou-se no cronograma de atividades anual da escola, as
datas em que os Varais de Poesias devem acontecer, sendo um no primeiro
semestre e outro no segundo semestre do ano.
Os professores decidiram também que uma vez por mês acontecerá, em
ambientes diferentes da escola (laboratório de informática, refeitório, biblioteca e em
salas de aula), uma roda de contos, os quais serão selecionados pelos professores
e alunos, priorizando a poesia dos contos.
CONCLUSÃO
Ao se trabalhar com a leitura de textos poéticos, sabe-se que o aluno
compreenderá melhor a sua realidade e seu papel como sujeito nela inserido, ou
como cita LAROSSA (2000), que “ler consiste em ver as coisas diferentes, coisas
dantes nunca vistas, entregar-se ao texto, abandonar-se nele e não apenas
apropriar-se dele para nossos fins” (ZAFALON, 2008, p. 3) e, ainda, ao levar a
poesia aos alunos, entende-se a leitura como um processo de interação entre o
texto e o leitor que produz significado, como afirmam as DCEs de Língua
Portuguesa.
Pode-se afirmar ainda que o trabalho com textos poéticos leva os alunos a
exercerem o seu pensamento crítico e criativo, expondo as suas ideias e
preenchendo as lacunas que são deixadas pelos mesmos. É possível afirmar ainda
que ao estabelecer uma ligação entre o aluno e o texto, o professor está cumprindo
a função humanizadora da literatura e, como afirma LAJOLO (2001), citada por
ZAFALON (2008), que outro aspecto a ser destacado na leitura é a percepção dos
elementos de linguagem que o texto manipula.
Dessa forma, cabe à escola promover esse encontro entre leitor e texto,
para que o leitor se reconheça na obra, sinta que a sua cultura está vinculada, de
alguma forma, com o texto lido, e, ainda, que os professores percebam que o texto
literário é um material riquíssimo, tanto para aquisição de conhecimento quanto para
a discussão e reflexão sobre temas e assuntos que envolvem os alunos.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Ricardo. Qual a “função” da literatura?, Revista Carta na Escola. Seção Carta ao professor. Disponível em http://almaquiobastos.blogspot.com/2009_08_01_archive.html. Acesso em 16 de fevereiro de 2011.
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 261-305.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
LACERDA, Priscila Brasil Gonçalves. O texto poético: poemas e letras de música. Disponível em http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=18835 acessado em 02 de março de 2011.
MARCUSCHI, L. A. (2002). Gêneros textuais: definição e funcionalidade In SILVA, Silvio Ribeiro da. Gênero textual e tipologia textual. Disponível em http://www.algosobre.com.br/gramatica/genero-textual-e-tipologia-textual.html
MOISES, Massaud. A criação literária: introdução à problemática da literatura. 5. ed. São Paulo, Melhoramentos, 1973.
PARANÁ, Governo do Estado do. Secretaria de Educação do Estado do Paraná. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa. Curitiba, 2006.
___________. Governo do Estado do. Secretaria de Educação do Estado do Paraná. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa. Paraná, 2008.
OBERG, Silvia. Como vai a poesia? In: Práticas de Leitura e escrita. Maria Angélica Freire de Carvalho, Rosa Helena Mendonça (orgs.). – Brasília : Ministério da Educação, 2006.
ZAFALON, Miriam. Refletindo sobre a leitura e o ensino da literatura. (2008). Disponível em http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/192-4.pdf. Acesso em julho de 2011.
ZILBERMAN, Regina. A leitura e o ensino da literatura. São Paulo: Contexto, 1988.