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I Colquio Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade
nas Artes Performativas e Audiovisuais
Matemtica e Movimento em Performance:
um estudo de caso
Telma Joo Santos
A matemtica, preciso diz-lo, muito bonita. Tem afinidades com a esttica, com
o corpo, com tudo. (Jos Gil)
Introduo
Conceitos como conjunto, sucesso, funo, continuidade, limite, bem como
turbulncia, so apenas alguns exemplos de noes matemticas que so, de alguma
forma, parte tambm do vocabulrio usado em processos de criao artstica. So de
alguma forma porque de facto estas noes no esto ainda formalmente assentes ou
definidas no contexto dos estudos em performance. Proponho aqui usar alguns destes
conceitos em diversas camadas atravs de um estudo de caso.
Apresento neste artigo um modelo aberto em processos artsticos onde alguns dos
conceitos so apresentados como uma base terica para um processo de construo
onde est presente a interdisciplinaridade entre matemtica e performance com a
utilizao de uma reformulao (ou remediation1) desses conceitos, e onde outros
conceitos pertencem a outras camadas no contexto da construo, sendo ferramentas
concretas com as quais se manipulam e constroem novas interpretaes possveis
relativamente ao objecto final, e onde surge um trabalho transdisciplinar a partir das
relaes entre a matemtica, as tcnicas de dana, a performance, a multimdia (e
tambm a antropologia visual).
Neste artigo apresento tambm um estudo de caso, a performance On a Multiplicity,
onde a matemtica usada em vrias direces no seu processo de construo e que,
juntamente com a improvisao de movimento onde so usadas tcnicas de dana e
1Para mais detalhes relativamente ao conceito de remediatione seu enquadramentono contexto da arte e dos estudos da performance ver (Santos 2013).
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de performance, permitem um conjunto de conexes intersubjectivas atravs da
multimdia. Proponho ainda a performance On a Multiplicitytambm como um
ambiente onde a questo como que me apresento ao exterior ou ao mundo
essencial2, referindo-me s formas actuais de comunicao e performance do
indivduo nas redes sociais e profissionais onde vrias variveis esto presentes, bem
como diferentes noes do que o real e o virtual.
Na primeira seco este artigo vou apresentar algumas relaes interdisciplinares e
transdisciplinares j conhecidas entre a matemtica e a dana ou entre a matemtica e
a performance. Na segunda seco vou abordar em geral como se relacionam a
matemtica, o movimento e a multimdia na construo de uma performance, usando
conceitos gerais, bem como um modelo e uma abordagem bastante generalizados para
que o estudo de caso On a Multiplicity seja no final visto como um exemplo concreto
desta mesma abordagem. Na terceira seco vou reflectir sobre o que esta nova
abordagem nos traz de novo nas perspectivas interdisciplinar e transdisciplinar. Na
quarta e ltima seco vou apresentar a performance On a Multiplicity, descrevendo-a
e apresentando-a tambm como um exemplo concreto do modelo abordado
anteriormente bem como exemplo das relaes inter e transdisciplinares entre a
matemtica, o movimento e a multimdia, tendo em conta ainda uma perspectiva
autoetnogrfica e documental.
1. Algumas relaes interdisciplinares e transdisciplinares conhecidas entre a
matemtica e a dana ou entre a matemtica e a performance
Tradicionalmente a Matemtica e a Dana so olhadas como elementos dualistas, no
sentido em que a Matemtica est naturalmente associada a um lado lgico-racional
do indviduo, e a Dana, ou o Movimento num sentido mais geral, associada a um
lado sensrio-emocional. Alguns trabalhos tm sido realizados entre a Matemtica e a
Dana, o que nos permite afirmar que o dualismo racional/emocional atravs da
relao Matemtica/Dana tem sido abandonado nestas ltimas dcadas, com o
trabalho de vrios Matemticos, Coregrafos, Performers, como por exemplo a dupla
Erik Stern & Karl Schaffer, Katarzyna Wasilewska e Esther Ferrer.
Erik Stern & Karl Schaffer tm desenvolvido um trabalho em torno da
divulgao do movimento do corpo como parte da aprendizagem de conceitos
2Esta pergunta tem a sua origem em (Noe 2012).
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Refiro aqui tambm a performer do pas basco Esther Ferrer devido sua
relao com o corpo enquanto ferramenta essencial de todo o seu trabalho, bem como
a questo recorrente do infinito que Esther Ferrer trabalha atravs dos nmeros
primos, ou atravs da existncia de nmeros irracionais ou dzimas infinitas no
peridicas como o !, ou seja, a sua relao com conceitos matemticos.
Relativamente aos nmeros primos, e como no se sabe no infinito se estes se
mantero como nmeros primos ou se no infinito todos os nmeros sero divisveis
por outros nmeros que no eles prprios e a unidade. Relativamente a !, impe-se a
questo de saber se algum dia se chegar ao ltimo decimal de !. Para Esther Ferrer
os nmeros primos esto de alguma forma relacionados com o cosmos no sentido em
que o cosmos est em expanso, e por outro lado quanto mais se avana na srie de
nmeros primos, mais distncia existe entre eles, como se respirassem e se
ampliassem.
2. Como se relacionam a Matemtica, o Movimento e a Multimdia na
construo de uma Performance
Nesta seco vamos abordar alguns conceitos mais gerais onde a matemtica, o
movimento e a multimdia so utilizados na construo de uma performance. De uma
forma geral, temos o esquema:
Performer
Movimento
Tcnicas deImp
(Laban)Corpo-Instrumento
Multimedia
Tcnicas de Edio
Corpo-Memria
Matemtica
Conceitos-ConstruoFoco no Movimento
Performance
MultiplicidadedeAuto-Representaes
IdentidadeMedia/Redes Sociais
Construo contra-
exemplos para oDualismo
Cartesiano
Processo documental
autoetnogrfico
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Existem vrias direces nas quais a matemtica, o movimento e a multimdia se
relacionam. Na construo da performance On a Multiplicity est implcita uma
estrutura: so apresentadas projeces de multimdia a partir de vdeos como registo
de improvisao de movimento bem como sobre vrios discursos sobre a construo
da performance e sobre o trabalho de pesquisa que se est a desenvolver. A esta
primeira camada chamamos o trabalho autoetnogrfico que depois transformado em
material visual e sonoro. Os discursos podem ser tambm sobre a investigao em
Matemtica desenvolvida ao longo da construo da performance propriamente dita.
A performance final composta por projeces de vdeo e som, bem como
improvisao de movimento e som em tempo real.
Assim, temos 4 direces especficas:
1. Foco na investigao (em curso) em matemtica antes ou durante a improvisao
em movimento que filmada e depois projectada na performance;
2. Utilizao na performance dos discursos de apresentao de resultados da
investigao em matemtica em conferncias som editado e som trabalhado em
tempo real;
3. Utilizao de alguns conceitos de matemtica na construo de paradigmas nos
processos de criao em performance;
4. Performance como matriz intersubjectiva resultante de investigao e
experimentao em matemtica, movimento e multimdia.
Relativamente ao ponto 1, temos ento 2 sentidos ou camadas de relao entre a
investigao em matemtica a que o intrprete se dedica no decorrer do processo de
criao como foco de pensamento: uma delas diz respeito a pelo menos 5 horas de
investigao em matemtica (seguidas) e no mximo 10 minutos de pausa entre o
final destas 5 horas e a improvisao em movimento filmada. A outra o foco nainvestigao em matemtica (em curso) durante a improvisao em tempo real na
apresentao pblica da performance. Nesta direco estamos ento a referir-nos
relao entre a matemtica e a improvisao de movimento, seja a que se segue a
vrias horas de foco na investigao em matemtica e que filmada, seja a que
acontece durante a apresentao pblica da performance. Aqui apenas nos referimos
ao foco de pensamento e ateno na investigao em matemtica, seja porque o
intrprete passou vrias horas com esse foco de ateno e em seguida improvisamovimento, no com o foco na investigao em matemtica mas com a influncias
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que as vrias horas com esse foco deixaram, seja o foco de ateno enquanto
improvisa movimento em tempo real. H assim uma relao interdisciplinar entre a
matemtica e a improvisao de movimento, e portanto entre a matemtica e a dana
no sentido em que se tenta de alguma forma relacionar a matemtica e a dana,
usando a matemtica como foco de pensamento e as tcnicas de dana como
instrumentos concretos. No entanto h tambm uma relao transdisciplinar entre a
matemtica e a improvisao de movimento no sentido em que a improvisao de
movimento aps vrias horas de foco na investigao em matemtica deixa de ser
apenas improvisao de movimento com o foco de ateno noutro tema qualquer e
passa a ser um intrprete especfico a criar um novo ambiente de improvisao de
movimento a partir de estados de percepo especficos consequentes das vrias horas
de investigao em matemtica. A transdisciplinaridade est tambm presente quando
existe o foco de ateno na investigao em matemtica enquanto o intrprete
improvisa movimento em tempo real na apresentao da performer, no sentido em
que, tambm pelo facto de a investigao em matemtica se debruar sobre problemas
novos e ainda por resolver, permite o aparecimento de um conjunto de novas
abordagens nos estudos da performance.
No que respeita o ponto 2, ou seja, a utilizao na performance dos discursos de
apresentao de resultados da matemtica em conferncias som editado e som
trabalhado em tempo real, temos presentes a utilizao de raciocnio matemtico
associado investigao que decorre no contexto e ao longo do processo de criao
artstica, bem como a forma como ela partilhada em contexto de conferncias de
matemtica como uma das ferramentas multimdia na performance. Ou seja, so
gravadas o som apenas - rplicas das apresentaes feitas, ou a fazer no futuro, em
conferncias de matemtica, e em especial de Clculo das Variaes, que so depois
editadas e reformuladas como material sonoro a utilizar na performance concreta.Tambm em tempo real so executados alguns excertos dessas apresentaes ou
preparaes das mesmas como material performtico, e portanto como objectos. A
utilizao dos discursos de matemtica como objectos na criao artstica um
elemento transdisciplinar desta proposta para processos de criao artstica, pois
pretende gerar-se um conjunto de multiplicidades onde estejam presentes a
matemtica, a multimdia e a autobiografia no contexto da performance. O som
gravado e manipulado usado como banda sonora dos vdeos de improvisao demovimento gravados aps vrias horas de estudo e foco de ateno sobre os
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problemas sobre os quais os discursos se debruam. O som em tempo real est
associado a discursos relativos investigao em curso na altura da apresentao
pblica. Ou seja, se existir um intervalo suficientemente grande entre duas
apresentaes, existiro excertos de discursos diferentes em tempo real. Isto acontece
pelo facto deste trabalho ser auto biogrfico e tambm autoetnogrfico, e assente na
improvisao e na relao com o tempo real como tcnicas principais.
Esquematicamente, temos:
Relativamente ao ponto 3, ou seja, a utilizao de alguns conceitos de matemtica na
construo de paradigmas nos processos de criao em performance, vamos
apresentar um pouco melhor uma proposta de modelo de criao artstica, que assenta
em alguns conceitos matemticos na sua base, mas que pode na verdade ser vistocomo um modelo bastante geral. Comeamos ento por introduzir alguns conceitos e
em seguida descrever o modelo e a forma como ele pode ser entendido e aplicado.
Assim, temos:
Definio 1.1 Um axioma uma proposio que no demonstrada, mas
considerada como auto-evidente ou sujeita a deciso necessria. Assim, a sua
verdade tomada como certa e serve como ponto de partida para a deduo de
outras verdades (estas j dependentes de uma teoria).
Utilizao de raciocnio matemtico associado investigao e forma como
ela partilhada em contexto de conferncias como uma das ferramentas
multimdia na performance.
Som Editado a partir darplica de uma apresentao
pblica
Som em tempo real a partir
das questes que esto a serinvestigadas
Gerador de multiplicidades no contexto
da performance
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A noo de axioma refere-se naturalmente ao que no demonstrado ou
questionado no que respeita a sua origem, dentro de um processo de criao. Por
exemplo, a ideia inicial ou conceito de partida de uma performance concreta tem uma
origem axiomtica. Reflecte-se sobre ela, mas no se questiona o seu aparecimento. A
partir deste conceito deduzem-se e encontram-se outros conceitos, mas considero
neste trabalho o primeiro conceito inquestionvel na origem.
Neste modelo so usadas definies como as de Imagem Axiomtica, Sub-Imageme
Dinmica que introduziremos mais frente. Para tal, vamos primeiro introduzir o
conceito de imagem como entendida neste artigo e neste contexto. Em (Damsio,
The Feeling of What Happens: Body, Emotion and the Making of Consciousness
1999) Antnio Damsio afirma que o termo imagens significa os padres mentais
com uma estrutura construda usando a moeda corrente de cada uma das modalidades
sensoriais: visual, auditiva olfactiva, gustativa, somatosensorial. De forma muito
simples, podemos dizer que a forma como entendemos e lidamos com o mundo que
nos rodeia traduz-se no crebro como um conjunto de imagens pertencentes a
diferentes nveis de conscincia. Este conceito de imagem o que vou seguir neste
trabalho, ainda que se entendam aqui as modalidades sensoriais de forma no-
dualista, ou seja, tambm relacionadas com as imagens abstractas.
Os padres mentais tm uma natureza organizada e estruturada, ainda que no
tenhamos conhecimento total sobre o que acontece no crebro. Os neurocientistas
ainda procuram uma resposta definitiva para a forma como gerimos estas imagens e
as transformamos em conceitos. Neste processo de conscincia e gesto das imagens
no crebro, tambm autores como Alva No discutem e argumentam a importncia da
experincia do corpo, a forma como o mundo se nos mostra/apresenta/representa e
como ns nos mostramos/apresentamos/representamos ao mundo (ver por exemplo
(No 2002)). Neste trabalho sigo a ideia defendida por Alva No de que a conscinciano algo que acontece, algo que fazemos, indo para alm da ideia de que a
conscincia algo que est dentro de ns, separada do mundo exterior, o que
podemos ainda considerar uma outra forma de dualismo.
Uma ferramenta muito importante o valor atribudo s imagens e padres
mentais. Uma abordagem mais abrangente s noes de imagem e o seu valor
fornecida em (Damsio, Self Comes to Mind: Constructing the Conscious Brain
2010): o autor defende que o dualismo cartesiano no faz sentido pois a partir doscasos estudados, emoo tambm razo e razo tambm emoo, corpo tambm
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mente e mente tambm corpo, em diferentes propores, dependendo das
circunstncias e respectivo valor que lhes atribumos. Assim,
Definio 2.1 Uma Imagem Axiomtica (IA) uma imagem inicial que surge
axiomaticamente, tendo como condies suficientes a criao de conscincia e de
padres mentais relativamente ao que rodeia um indivduo, e que permitem que tal
acontea.
Uma Imagem Axiomtica uma proposio que no demonstrada, o que em
qualquer performance especfica pode ser visto como um conceito, ideia ou universo
conceptual limitado, que no pode ser demonstrado, sendo a sua validade tomada
como certa. A origem axiomtica da Imagem Axiomtica quase sempre no lgica,
no sentido em que no contexto de uma qualquer performance especfica lidamos
principalmente com ideias, conceitos e aces subjectivos e que derivam de outras
mais simples. Assim, no tem que ser verdadeira universalmente, apenas considerada
certa no contexto de alguma perspectiva de vida e arte, com teoria e conceitos
matemticos associados.
Qualquer processo de criao tem o seu incio efectivo quando a IA surge e
comea a ser modelada no processo de construo de padres mentais e conscincia
dos mesmos. Obviamente, determinamos o momento do seu aparecimento como
aquele em que nos apercebemos da sua origem e pertinncia. Podemos tambm
afirmar que a IAdefine o universo de pesquisa em que o performer est envolvido.
Podemos tambm dizer que temos umaIAque surge como um conjunto de conjuntos
de padres mentais. Depois de um processo de improvisao e compreenso das
capacidades de percepo, considerando-as teoricamente, obtemos vrias funes
quase-contnuas, cada uma delas associada a um conjunto de padres mentais nos
quais todas essas tcnicas de improvisao, percepo e teoria se juntam. O passo
essencial considerar e analisar os limbos de cortes destas funes quase-contnuas,pois estes pontos so aqueles em que podemos mudar de direco ou criar novos
universos multidimensionais.
Em seguida temos ento a definio de Sub-Imagem:
Definio 2.2 UmaSub-Imagem(SI) uma imagem que um corte no processo de
disseminao quase contnua da IA.
Claro que existem muitas podem at ser infinitas possibilidades de
considerar e definir Sub-Imagens, dependendo das funes quase-contnuas, etambm dos cortes considerados ao longo do processo de criao. Existe um ponto
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ponto limite neste processo de gerar as SI no sentido em que, quanto mais SI
gerarmos, mais tendemos a distanciarmo-nos da IA, pois um universo limitado.
Assim, existe um momento em que paramos, pois atingimos ou aproximamo-nos
com uma distncia infinitesimal - do ponto limite que pertence fronteira do conjunto
mais geral definido pela IA. Se no pararmos, passamos a fronteira e atingimos o
exterior daIA, o que j no nos interessa neste trabalho.
Cada SIpode ser vista como um conjunto onde podemos considerar uma funo que
representa todas as aces dentro da SI. Tambm podemos considerar subconjuntos
onde as funes diferentes so definidas. No contexto da criao de Dinmicadentro
de cada SI, estas funes esto associadas a aces concretas. Como criar esta
Dinmica? Consideramos um primeiro movimento ou aco ou ainda estado de
presena/ausncia como axiomtico. Em seguida seguimos a metodologia j
introduzida - em que geramos SIa partir daIA usando tcnicas de improvisao e
percepo tal como abordagens tericas associadas neste contexto especfico. Estas
tcnicas e abordagens tericas levam-nos a gerar funes quase-contnuas com pontos
de descontinuidade que sero os cortes que analisamos e nos quais podemos parar ou
continuar o percurso associado funo utilizada, ou ainda mudar de direco e este
corte torna-se um ponto de mudana para outras direces possveis. Ou seja,
Definio 2.3 A Dinmica dentro de uma SI um conjunto de funes quase
contnuas do conjunto de tcnicas de improvisao e percepo, bem como de
abordagens tericas num ricochetear entre cortes e continuidade.
Assim, tendo em cada SIum subconjunto e uma funo quase-contnua em
que podemos parar, analisar e mudar de direco nos seus cortes, tambm possvel
criar subconjuntos de aces, movimentos multidireccionais que faro parte da
narrativa. Isto significa que criamos a partir de um conjunto e de uma funo quase
contnua em cada SI vrias funes quase-contnuas, tendo em conta as possveismudanas de direco em cada ponto de descontinuidade ou corte.
Para mais detalhes relativamente aos vrios conceitos matemticos aqui utilizados,
ver (T. J. Santos, On a Multiplicity: deconstructing Cartesian dualism using
mathematical tools in Performance 2015)
Relativamente ao ponto 4, temos que de facto, e utilizando este modelo lgico
de construo de processos artsticos, uma performance pode efectivamente ser vista
como uma matriz intersubjectiva resultante de investigao e experimentao emmatemtica, movimento e multimdia, tendo em conta a pesquisa autoetnogrfica
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associada. Como refere Daniel N. Stern em (Stern, The Present Moment in
Psychotherapy and Everyday Life 2004), our mental lide is cocreated. This
continuous cocreative dialogue with other minds is what I am calling the
intersubjective matrix, referindo ainda no mesmo livro que obviamente a cocriao
pode ser com a sua prpria mente. Ou seja, o dilogo intersubjectivo entre conceitos,
ideias e disciplinas o que permite a construo de uma matriz intersubjectiva, mas
ela pode envolver apenas o dilogo de uma mente consigo prpria, tendo em conta
que cada indivduo em si uma multiplicidade. No nosso caso, a matriz
intersubjectiva cocriada por trs elementos: matemtica, movimento e multimdia
nas suas vrias interelaes e interdependncias possveis. Por outro lado, esta matriz
intersubjectiva tem um comportamento rizomtico com tendncia a lquido, onde
rizoma um conceito de G. Deleuze e F. Guattari e introduzido em (Deleuze e
Guattari 2008), e lquido um conceito de Z. Bauman definido em (Bauman 2000).
Temos ento que o nosso modelo pode ser descrito de forma esquemtica da seguinte
forma:
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3. A Interdisciplinaridade e a Transdiciplinaridade
Nesta seco queremos referir-nos ao que defendemos neste trabalho ser
Interdisciplinar e Transdisciplinar, referindo a importncia de ambas para que o
trabalho e a performance sejam vlidos de vrias perspectivas, seja na perspectivacientfica e respectiva importncia que cada disciplina nos traz, bem como as novas
formas de fazer e pensar sobre o que a transdisciplinaridade nos permite. Temos que,
esquematicamente,
O que neste modelo e nesta abordagem interdisciplinar e transdisciplinar? Existemaqui 3 disciplinas ou reas de estudo que so centrais: matemtica, movimento e
multimdia. Por um lado existe um trabalho interdisciplinar entre elas no sentido em
que so usadas como ferramentas com o objectivo de fornecerem mais informao e
mais capacidade de compreenso das outras disciplinas. No entanto, o que mais
interessante e inovador neste trabalho e nesta abordagem efectivamente a
transdisciplinaridade, no sentido em que estas trs reas geram nas suas relaes
intersubjectivas novas formas de fazer performance, bem como novas formas destas
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disciplinas se descreverem, apresentarem, bem como de serem vistas como novas
possibilidades de si. Temos ento:
4. A performance On a Multiplicity
Nesta seco final vamos ento descrever a performance On a Multiplicity e
argument-la como exemplo de aplicao do modelo descrito na seco 2.
On a Multiplicity , na sua forma final, uma performance multimdia, onde a
projeco de vdeo e som, bem como o trabalho de movimento e criao de som em
tempo real, formam uma ideia de multiplicidade. Surgiu da Imagem Axiomticamais
geral de pensar a nossa multiplicidade enquanto seres humanos, com a capacidade de
sermos conscientes das nossas existncias e aces, a partir de uma perspectiva
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pessoal; ou seja, usei a minha experincia pessoal como exemplo de multiplicidade.
Assim, restrinjo o universo da IA para a minha experincia pessoal, para a minha
prpria multiplicidade, usando uma abordagem autoetnogrfica.
O processo de construo de On a Multiplicity foi dividido em duas fases.
Numa primeira fase, a que decidi chamar Srie de Improvisaes, documentei-me em
vdeo a improvisar movimento usando algumas tcnicas de dana contempornea, em
especial improvisao a partir da tcnica de Laban, e com regras bastantes restritas no
que respeita o espao e o foco mental. Na segunda fase editei e manipulei estes
vdeos, juntamente com investigao em voz sobre possveis discursos volta de
vrios assuntos relacionados com matemtica e performance, e a partir da foram
criados dois vdeos com som a serem projectados e com eles constru a performance
concreta, com movimento e som em tempo real. Estas duas fases deste projecto
podem ser vistas como independentes no sentido em que podem ser consideradas
individualmente como objectos artsticos e/ou materiais de investigao.
Fotografia de Filipe Oliveira
Fotografia de Tiago Frazo
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A performance On a Multiplicity pode tambm ser vista como uma
experincia visual e performativa autoetnogrfica, em especial por trs razes: em
primeiro lugar, porque este trabalho tem uma srie de experincias visuais
documentais onde estou essencialmente interessada em mim como um ser com
multicamadas contextualizado num tempo, num espao e num lugar. Em segundo
lugar, acredito que esta performance produz efectivamente objectos que questionam
as fronteiras entre o visual como ferramenta de construo de objectos artsticos, e
tambm como ferramenta para investigar em etnografia visual, a partir de vrias
perspectivas diferentes. Em terceiro e ltimo lugar, considero esta performance na sua
forma final como um exemplo concreto de como Tami Spry define performing
autoethnography em (Spry 2001), dado que estou a ser performer de mim prpria a
partir de uma perspectiva contextualizada em multicamadas.
Em Srie de Improvisaes decidi registar-me em vdeo aps pelo menos 5
horas de investigao em clculo das Variaes Matemtica, dentro de algum
espao especfico de cada uma das casas em que vivi entre o final de 2010 e Setembro
de 2011, tempo em que desenvolvi o processo de registos em vdeo ou filmagens. Ao
longo deste tempo mudei de casa/residncia regular 3 vezes, definindo aqui
casa/residncia regular como o lugar onde vivo, onde desenvolvo a maior parte do
meu trabalho e consequentemente onde estou a maior parte do tempo. Em cada casa
escolhi alguns espaos especficos relacionados com a ideia de que o espao
escolhido seria um dos espaos onde passava a maior parte do tempo ou com a qual
sentia bastante empatia.
Uma parte da essncia da construo desta performance a escolha de estar
sozinha e portanto filmei-me sozinha, procura de um ambiente onde fosse possvel
reconfigurar-me a um nvel infinitesimal em espaos ou circunstncias restritos.
tambm desenvolvida, naturalmente, uma relao com a cmara neste processo.I want a corner, I want a wall, I want to feel the machine and to know that I cannot
move too much in order to fit inside the screen (excerto de registos escritos ao longo
do processo de registo de Srie de Improvisaes).
Assim, foi aceite uma primeiraImagem Axiomtica: Eu e os Meus Eus. Defini
tambm cinco Sub-Imagens: Corredor, Sala de Estar, Espao Entre, Casa de Banho,
Cozinha. Observemos que as SI no so mutuamente exclusivas ou independentes
umas das outras. Elas pertencem a uma matriz intersubjectiva de eus (como j foireferido, matriz intersubjectiva foi um termo introduzido por Daniel N. Stern em
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(Stern, The Present Moment in Psychotherapy and Everyday Life 2004)). ADinmica
introduzida em cada SIda Srie de Improvisaes caracterizada pela investigao de
movimento usando algumas tcnicas de improvisao de Laban, bem como
referencias de Nicole Peisl e Alva No (ex-bailarina da companhia de Dana Forsythe
e filsofo da Universidade de Berkeley) no que respeita algumas tcnicas de
percepo em estados de presena/ausncia3. Gostaria tambm de referir os trabalhos
de performers portugueses como Tnia Carvalho4e a dupla Sofia Dias & Vtor
Roriz 5 . No trabalho de Tnia Carvalho inspiram-me os novos universos de
movimento construdos, bem como a importncia da msica e do canto. O trabalho da
dupla Sofia Dias & Vtor Roriz inspira-me pelo trabalho de percepo bastante
meticuloso. Alguns vdeos sobre Srie de Improvisaespodem ser encontrados em
http://telmasantos76.wix.com/onamultiplicity e que tambm podem ser encontrados
no meu site pessoal http://www.telmajoaosantos.net.
Para mais detalhes sobre a relao desta performance com o conceito matemtico de
turbulncia, ver ainda (T. J. Santos, On turbulence: in between mathematics and
performance 2014).
Bibliografia
Wasilewska, Katarzyna. Mathematics in the world of dance. Bridges 2012:
Mathematics, Music, Art Architecture, Culture. 2012. 453-456.
Bauman, Zygmunt. Liquid Modernity. Cambridge: Polity Press, 2000.
3Ver, por exemplo, http://www.youtube.com/watch?v=zMT-pFHy3D0, uma conversaentre William Forsythe e Alva No sobre conscincia. Pode tambm consultar-sehttp://blip.tv/dancetechtvbliptv/dance-as-a-way-of-knowing-interview-with-alva-no%C3%AB-1003324para um aprofundamento das ideias de Alva No no querespeira a dana como forma de conhecer e explorar as expreincias na relao com o
mundo atravs do movimento.4Tnia Carvalho uma bailarina/performer portuguesa que tem feito exploraesinteressantssimas no que respeita movimentos considerados diferentes, como
podemos ver nos videos: http://www.youtube.com/watch?v=CNR7imd44N4,http://www.youtube.com/watch?v=0jylzf-tPis,http://www.youtube.com/watch?v=1VnPZ9Wy_9s. Ela faz tambm experincias e
performances com voz e canto que podem ser vistas em:http://www.youtube.com/watch?v=lE6lfsU5bNc,http://www.youtube.com/watch?v=RoA9IYqwqW4.5O trabalho desenvolvido pela dupla Sofia Dias & Vtor Roriz um dos maisinteressantes desta gerao, na minha opinio, no que respeita ao trabalho sobre
percepo e construo de ambientes que se metamorfoseiam ao longo das peas deforma extraordinria: http://www.youtube.com/watch?v=VNjhEbcEfOQ.
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7/25/2019 SANTOS, Telma Joo. Matematica e Movimento Em Performance Um
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