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Rogério Duílio Genari
Parabéns Colegas Biólogos,
2010 é o Ano Internacional da Biodiversidade. No dia 03 de setembrode 2010 comemoramos o Dia do Biólogo. Com esta edição especial daRevista BIOPARANÁ sobre biodiversidade fazemos uma homenagem avocê, Biólogo. O 31º aniversário de nossa profissão é uma data para sercomemorada todos os dias. O profissional Biólogo atua na EDUCAÇÃO denossos filhos, amigos e familiares, levando o conhecimento sobre os mis-térios e a importância da vida animal e vegetal em nosso planeta. Traba-lhamos na área de MEIO AMBIENTE para que a sociedade tenha um am-biente mais equilibrado, ajudando a minimizar e compensar os impactosnegativos de empreendimentos humanos, pesquisando e gerando novosconhecimentos a partir da mais nobre das matérias-primas: a natureza.Atuamos na área da SAÚDE com pesquisas que geram bem-estar e des-cobrem novos meios de combater as doenças. Estamos inseridos na áreade BIOTECNOLOGIA E PRODUÇÃO, colaborando com o agronegócio, napesquisa de novas técnicas e na sustentabilidade.
O nosso trabalho colabora com o crescimento do Brasil, ajudando a tor-nar a nossa sociedade mais sustentável. Fazemos isso com total respeitoao meio ambiente. Há mais de 31 anos, estamos inseridos nas Universida-des, Empresas, ONGs, Ministérios e Secretarias, Autarquias, Laboratóriosde Pesquisa, disponibilizando novas práticas de ação e descobertas, quetornam a vida das pessoas muito melhor.
Mas a luta não acabou, precisamos trabalhar ainda mais. Nosso país estácrescendo e a nossa profissão de Biólogo é muito importante para o Brasil.Você faz parte disso. O CRBio-07-PR é o órgão de fiscalização e orientação aoBiólogo. Atua para o exercício ético da profissão na defesa da sociedade.Neste Ano Internacional da Biodiversidade o nosso dever é mostrar à socie-dade a importância da vida em todas as suas formas, com respeito a todaselas, pois a sua complexidade e inter-relação em nosso planeta é que nos dáa possibilidade de estarmos aqui, de fazermos parte da grande teia.
Nos próximos dias estaremos exercendo o nosso poder de voto. O votoconsciente que o nosso BRASIL necessita. Quanto vale o seu voto? Como eleserá utilizado? Você conhece as pessoas em quem votará? Não esqueça, pois,além de votarmos certo, devemos cobrar dos eleitos o seu compromisso coma ética e o desenvolvimento sustentável.
Os Conselheiros do CRBio-07-PR desejam a você sucesso e muitas reali-zações na sua vida profissional e familiar.
CONSELHO REGIONAL DEBIOLOGIA DA 7ª REGIÃO - PARANÁ
Presidente:Rogério Duílio Genari
Vice-Presidente:Jorge Augusto Callado Afonso
Conselheira Secretária:Pollyana Andrea Born
Conselheiro Tesoureiro:Paulo Aparecido Pizzi
CONSELHEIROS TITULARESCésar Augusto Koczicki
Erick Caldas Xavier
Ivo Alberto Borghetti
Laurindo Dalla Costa
Mário Luis Orsi
Vergínia Mello Perin Andriola
CONSELHEIROS SUPLENTESAndrea Graciano dos Santos
Figueiredo
Deni Lineu Schwartz Filho
Edson Tadeu Iede
Fernanda Goss Braga
Gisley Paula Vidolin
Juliana Quadros
Maurício Frederico
Norma Catarina Bueno
Paulo Luciano da Silva
Vinícius Abilhoa
Endereço:Av. Marechal Floriano Peixoto,
170 - Conj.307 - 3º Andar
Centro - Curitiba - PR
CEP 80020-915
Fone/Fax: (41) 3079 0077
www.crbio-7.gov.br
BIOPARANÁPublicação trimestral do Conselho
Regional de Biologia da 7ª Região
- Paraná
COMISSÃO DE DIVULGAÇÃO
PresidenteJorge Augusto Callado Afonso
Andrea Graciano dos Santos
Figueiredo
Edson Tadeu Iede
Erick Caldas Xavier
Jornalista ResponsávelKaren Monteiro (DRT–PR 2412)
Reportagem e ediçãoKaren Monteiro
Projeto gráfico e diagramaçãoSonia Oleskovicz
ImpressãoEditora Progressiva
Tiragem4 mil exemplares
Os artigos assinados são de
responsabilidade dos seus autores
Fale Conosco: SAB - Serviço deAtendimento ao Biólogo
pelo site www.crbio-7.gov.br
(41) 3079 [email protected]
IMPRESSO EM PAPEL RECICLATO
EDITO R I A L
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A vigésima terceira reunião plenária do CR-Bio-07-PR, em Cascavel, foi marcada pela dis-cussão de vários assuntos relevantes para acategoria profissional.
Os conselheiros abordaram o tema inclusãode Biólogos, por parte do Instituto Ambientaldo Paraná (IAP), na realização de relatórios am-bientais (cadastro de propriedades no SISLEG,autorizações florestais e outros), que deve seraceita mediante a realização de um curso decapacitação, ofertado aos profissionais inte-
ressados. No Ano Internacional da Biodiversi-dade, é pertinente essa discussão sobre incluirum profissional com o perfil do Biólogo, quetem visão ampla do processo de conservação.
SISLEG
SISLEG é Sistema de Manutenção, Recupe-ração e Proteção da Reserva Florestal Legal eÁreas de Preservação Permanente, que foi ins-titucionalizado por meio do Decreto Estadual387/99, estabelecendo um sistema estadual de
tem a presença de representantesPlenária em Cascavel
das universidades
DESTAQUE
Os participantes da 23ª plenária se reuniram em Cascavel para mais uma reunião itinerante.
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implantação de Áreas de Preserva-ção Permanente e de Reserva Legal,previstas no Art. 16 da Lei Federal4771/65 (Código Florestal). Temcomo diretrizes básicas a manuten-ção dos remanescentes florestaisnativos, a ampliação da coberturaflorestal mínima, visando a conser-vação da Biodiversidade e o uso dosrecursos florestais, além do estabe-lecimento das zonas prioritárias paraa conservação e recuperação de áre-as florestais pela formação dos cor-redores de Biodiversidade. O Para-ná é o pioneiro no sistema e um dospoucos Estados onde o governo dis-põe de um mecanismo eficiente pararealização dessas atividades.
Para preenchimento da Anotação de ResponsabilidadeTécnica (ART) pela internetsiga os passos que estão no tutorial disponível no site www.crbio-7.gov.br
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Em seguida aparece o menu com todos osserviços que você tem acesso. Se tiveralguma dúvida clique na opção FALECONOSCO ou envie um e-mail [email protected].
Biólogo tematendimento
personalizado viainternet
PRESENÇA DAS UNIVERSIDADES
A 23ª reunião plenária teve a presença das BiólogasMargarete Nakatani, coordenadora do curso de CiênciasBiológicas da UNIOESTE e Sônia Aparecida de Mello, co-ordenadora do curso de Ciências Biológicas da UNIPAR –Universidade Paranaense de Cascavel. Sônia teve a opor-tunidade de participar pela primeira vez de uma reuniãoplenária. “Agora que são realizadas de forma itinerante pos-sibilitam a nossa participação e que nos mantenhamosinformados das ações, o que sem dúvida é importante paraacompanharmos o andamento das atividades e podermossaber como contar com o Conselho para nos auxiliar emquestões pertinentes a área de atuação. Neste encontrotive oportunidade de acompanhar discussões e decisõesde extrema relevância para os Biólogos além de conhe-cer outros colegas Biólogos que realizam trabalhos mui-to interessantes”, resume Sônia.
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Biólogos têm renovação delicenças ambientais
ampliada pelo IAPO presidente do CRBio-07-PR, Rogério
Duílio Genari, foi recebido pelo secretário doMeio Ambiente e Recursos Hídricos, JorgeAugusto Callado Afonso, e pelo presidentedo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Vol-nei Bisognin para a cerimônia de assinaturada portaria 110 do Instituto Ambiental do Pa-raná que permite aos consultores ambientaiscom formação em biologia renovar automa-ticamente pedidos de Licença Ambiental deInstalação (LI) e Licença Ambiental de Ope-
ração (LO) dos empreendimentos sobre suaresponsabilidade. A medida desburocratiza oprocesso e os pedidos de renovação de li-cenças ambientais ganham mais agilidade.
O presidente, Rogério Duílio Genari, afir-ma que a portaria irá ampliar o mercado detrabalho e também promover um progressosustentável. “Esta integração fará com que a
O secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Jorge Augusto
Callado Afonso e o presidente do Instituto Ambiental do Paraná
(IAP), Volnei Bisognin entregam a portaria assinada para o
presidente do CRBio-PR, Rogério Duílio Genari
sociedade tenha à sua disposição um númeromaior de profissionais para defender o meioambiente. Além disso, a valorização da pro-fissão aumenta a responsabilidade dos nos-sos Biólogos nos processos de licenciamentoambiental”, declarou.
O secretário do Meio Ambiente e Recur-sos Hídricos, Jorge Augusto Callado Afonso dizque a portaria, além de representar a abertu-ra do campo profissional, significa a celerida-de que queremos no processo de licenciamen-to ambiental”. Para ele, a transversalidade daquestão ambiental permite que profissionaisde diferentes áreas possam atuar em prol daconservação dos recursos naturais.
Benefício para os registrados
Os Biólogos terão a análise de seus proces-sos acatados sem vistoria prévia. A medidamantém a responsabilidade técnica, civil e cri-minal do profissional pelas atividades registra-das, o que evita falhas na obra e impactos aomeio ambiente.
Os benefícios da portaria só serão válidospara os profissionais registrados no Conselhoe com documentação atualizada que realiza-rem os pedidos 120 dias antes do vencimentodas licenças. O órgão ambiental poderá solici-tar relatórios e documentos comprobatórios deauditorias de empreendimentos que necessitemde adequações. A portaria prevê ainda queexiste a possibilidade dos profissionais nãocumpridores das determinações perderem seusregistros junto ao IAP.
Os Biólogos poderão participar de um trei-namento, promovido pelo IAP, na área de licen-ciamento ambiental e elaboração de estudosde impactos ambiental.
Leia a íntegra da portaria no site do Conse-lho: www.crbio-7.gov.br
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Biólogos têm renovação delicenças ambientais
ampliada pelo IAP
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Os Biólogos registrados no CRBio têmcondições especiais na assinatura darevista Terra da Gente. A revistabrasileira de conservação ambientaltem como base a agenda positiva. Suaproposta é mostrar a biodiversidadebrasileira, a fauna, a flora e o usosustentável do meio ambiente. Terra da
Gente é mensal e possui tiragem de 25.000exemplares, distribuídos em todo o país.
É preciso informar o número de seu registroprofissional para obter o desconto.
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0800 703 3788
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O convênio com a Faculdade deApucarana prevê desconto de 10%
nos cursos de Pós-Graduação Lato Sensuofertados pela instituição de ensino.
Para ter acesso à Bolsa, o Biólogo deve
estar registrado no Conselho e nãopossuir débitos pendentes.
Informações:
(43) 3033 8900www.fap.com.br
Informações:
(43) 3375 7400www.unifil.br
O Conselho Regional de Biologia da 7ªRegião apóia a ABPROL, um fundo deAutogestão, administrado pela C.S.Assistance.
Os associados ganham o direito de usufruiro que existe de melhor em planos desaúde, desfrutando de benefícios comoplano odontológico UNIODONTO,academia de ginástica, desconto nacompra de medicamentos, atendimentos
via rede UNIMED em nível nacional,programas de prevenção e muitomais. Basta ser registrado no CRBio-07-PR eestar em dia com as anuidades. Dependentestambém são aptos a participar.
Informações: (41) 3028 6900 ou 3022 6964www.assistancesaude.com.br/
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possuir débitos pendentes.O benefício é estendido aos dependenteslegais do profissional registrado.
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(41) 3271 [email protected]
O Conselho e o Centro UniversitárioFiladélfia (UNIFIL) de Londrina firmaramconvênio que dá direito à bolsa de 10%nos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu,MBA Executivo e Especializações.
Para ter acesso à Bolsa, o Biólogo deve
estar registrado no Conselho e nãopossuir débitos pendentes.
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MERCADO DETRABALHO
A atuação dos guias deobservadores
avesde
FAZER UM PASSEIO PARA
OBSERVAR AVES PODE SER
BEM MAIS DO QUE UMA
OPÇÃO DE FINAL DE
SEMANA. PARA O BIÓLOGO
QUE GOSTA DESSA PRÁTICA,
EXISTE A POSSIBILIDADE
DELA SE TRANSFORMAR EM
FONTE DE RENDA. GUIAR
GRUPOS PARA REALIZAR
BIRDWATCHING É UMA
ATIVIDADE QUE, AOS
POUCOS, VAI GANHANDO
POPULARIDADE NO BRASIL,
PAÍS QUE OCUPA O
TERCEIRO LUGAR EM
NÚMERO DE ESPÉCIES DE
AVES NO MUNDO.
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Nos Estados Unidos, Europa e Austrá-lia é muito comum. As pessoas tornam-se observadoras de aves (birders) desdecrianças, com o incentivo dos pais. Clu-bes de observadores são mais do que co-muns. A atividade é tão popular que podeser comparada ao futebol aqui no Brasil.Esses amantes dos pássaros viajam porvários países em busca das espécies maisraras e de distribuição restrita.
No Brasil, o trabalho de profissionaisque organizam grupos para realizar a ati-vidade conhecida em todo mundo porbirdwatching vem sendo realizado hámais de 25 anos, mas de forma pontual.Dá para contar nos dedos de uma mãoo número de empresas que oferecem oserviço. Os destinos são para todas asregiões do Brasil, principalmente MataAtlântica (local de maior endemismo),Pantanal e Amazônia.
O interesse, por parte dos turistas,em observar espécies que só habitamo sul do Brasil aumenta gradativamen-te. Somente há alguns anos o Paranávem sendo incluído nos tours de obser-vação de pássaros. Os lugares mais bus-cados são os arredores de Curitiba, aSerra do Mar, principalmente a da Gra-ciosa, e a baixada litorânea, como abaía de Guaraqueçaba, onde é possívelver o papagaio-de-cara-roxa. Mas, olugar que recebe mais observadores éo Parque Nacional do Iguaçu, o mais vi-sitado não só no Paraná, mas tambémno Brasil. O grande fluxo acontece nãosó para ver aves, mas também para co-nhecer a beleza do ponto turístico.
Os brasileiros que mais têm pratica-do a observação de aves são fotógra-fos ou pesquisadores da área. São en-contros nacionais regulares que auxi-liam na divulgação do trabalho.
Para o Biólogo Raphael E. FernandesSantos (45.317-07D) que atua orientan-do turistas “a pouca popularidade da ati-vidade é vista com estranheza por parte
dos estrangeiros, pois com um país imen-so como o nosso, com tantos biomas eformações vegetacionais, que tem umagrande riqueza de espécies, não existeinteresse por parte da população em ge-ral. Nós temos tantos locais ótimos aquino Brasil, que são visitados praticamentesó por turistas estrangeiros”, comenta.
Como o turismo é voltado para quemvem de fora, o inglês é peça obrigatóriapara os guias.
DEMANDA
A maior demanda de trabalho é noperíodo de junho a outubro, chamado dealta temporada. É na seca que aconteceo período anterior ao acasalamento.Nessa época em que as aves estão ini-ciando a corte pré-nupcial, a atividadevocal é intensa. Elas também defendemmais agressivamente seus territórios, fa-cilitando a visualização.
Quanto à remuneração, depende donível de experiência. Somente o Biólogoque já trabalha há bastante tempo con-segue viver somente desse trabalho.
A maioria não é profissional Biólo-go e sim turismólogo ou apenas guia daEMBRATUR. “Isso nos destaca no ce-nário, pois guias Biólogos têm certa-mente um conhecimento mais apura-do sobre diversas questões ecológicasque atuam sobre as espécies em ques-tão. Isso nos faz ter um ótimo diferen-cial”, analisa Raphael.
A Curucaca (Theristicus
caudatus) ou Buff-necked
Ibis pode ser observada
no Paraná. Também é
conhecida regionalmente
como Curicaca ou
Caricaca. Pertence a
família Threskiornithidae.
Têm costumes
monogâmicos. Preferem
fazer seus ninhos no topo
das araucárias e nas
proximidades
das fazendas. Nesses
locais, em que se sentem
mais seguras, criam
normalmente um filhote
ao ano. Ele sai do ninho
quando tem praticamente
o tamanho dos pais.
Quando adultas chegam
a 50 cm de altura,
pesando em torno de 1,5
kg. Alimentam-se de
insetos e larvas coletados
na grama com seu bico
longo e curvo. Curucaca
significa ave das
araucárias.
O Biólogo Raphael E. Fernandes que atua como guia
de observadores de aves.
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CURSOS
Não existem cursos de especializa-ção nesta área, tampouco são minis-tradas aulas específicas em cursos degraduação. Os bons profissionais es-tudam por conta própria e o longo pe-ríodo de experiência é o que os tornamaptos para ser guias de observadoresde aves. A dedicação é individual e exi-ge muitas horas de campo, de prefe-rência, com pessoas experientes. Nãobasta saber, por exemplo, que deter-minado local é ótimo para observa-ção. É preciso procurar os bons pon-tos, conhecer os habitats específicospara determinadas espécies. O impor-tante é ir à região diversas vezes para,
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O Pavó (Pyroderus
scatatus) é considerado o
maior pássaro de hábitos
frugíveros da fauna
brasileira. Entre as diversas
aves que passam por
Curitiba em determinadas
épocas do ano, é uma das
mais incomuns. Não se
sabe exatamente de onde
ela vem. O pavó
geralmente fica no interior
da copa das árvores, por
isso é difícil de ser
visualizado. Pertencente à
família Cotingidae, a ave
está presente no Livro
Vermelho da Fauna
Ameaçada no Estado do
Paraná, lançado pelo
Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis
(IBAMA).
aí sim, começar a guiar.
Investimentos em viagens e com-pra de equipamentos são necessários.Um bom começo para se tornar ob-servador é ter um bom binóculo eum livro chamado guia de campo deaves. Quem quiser se aprofundar vaiprecisar de gravador com microfone,ipod com arquivos sonoros e caixa desom portátil, além de uma luneta eoutros acessórios. O aprendizadoessa ligado ao reconhecimento doscantos de cada ave. Essa é, sem dúvi-da, a parte que mais exige paciência ededicação. Porém, é isso que identi-ficará um bom guia.
Este Ano Internacional da Biodiversidade está sendo decisivo para a biodiversi-dade do planeta. A décima Conferência das Partes da Convenção sobre DiversidadeBiológica (COP-10/CDB) da Organização das Nações Unidas começa em outubro noJapão. A expectativa é que sejam definidas metas de conservação da biodiversidadepara os próximos 10 anos.
A definição de um mecanismo que regulamente o acesso aos recursos genéticosda biodiversidade e a repartição de seus benefícios (ABS, da sigla em inglês de “ac-cess and benefit sharing”) é um dos temas que têm gerado mais expectativas paraessa COP, principalmente por parte dos países em desenvolvimento, ricos em biodi-versidade. Eles esperam que seja assinado um protocolo internacional eficiente so-bre o tema. Isso envolve a discussão sobre o repasse de recursos, por parte dospaíses ricos, às nações em desenvolvimento, para a manutenção de seus biomas.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirma que “as discussões sobrebiodiversidade no mundo só irão avançar e assumir uma importância similar a do aque-cimento global se fizermos o que fizemos no IPCC (Painel Intergovernamental sobreMudanças Climáticas): colocarmos a variável econômica no centro do debate”.
BIODIVERSIDADE
Ano decisivo para
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No Ano da Biodiversidade, 69 aves estão cada vez mais difíceis de serobservadas no Paraná. O Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado
do Paraná, disponibilizado no site do Instituto Ambiental do Paraná,relaciona essas espécies. O desmatamento e a consequente destruiçãodos habitats é a principal causa da ameaça de extinção para os animais,especialmente para as aves, que têm uma estreita relação com avegetação. É o que ocorre com a gralha violeta (Cyanocorax cyanomelas),um dos mais belos pássaros do Paraná, da mesma família Corvidae dagralha azul (Cyanocorax coeruleus), ave símbolo do estado. Outro exemploé o papagaio-de-cara-roxa, que vive exclusivamente nas florestaslitorâneas do sul de São Paulo e Paraná. Os dados divulgados por órgãosambientalistas indicam que hoje existem somente quatro mil indivíduosdessa espécie. Por ser restrita ao seu habitat, é uma ave vulnerável. Masnão é só um problema de desmatamento. Essa espécie está incluída narota do tráfico de animais silvestres.
Em Curitiba existem minicursos de observação de aves. Uti-lizando binóculos para localizá-las, os alunos participantesrecebem informações teóricas e, em seguida, partem para aprática, que pode ser realizada em locais próximos, por exem-plo, ao jardim zoológico, onde existem trilhas e uma grandequantidade de animais.
Algum tempo atrás, periquitos e papagaios-verdadeiros sóeram vistos na capital em gaiolas. Atualmente, é possível vê-los em liberdade. Representantes dessas espécies fugiram decativeiros e começaram a se instalar na cidade, onde encon-traram condições para reprodução. Os periquitos necessitamapenas uma árvore oca para fazer ninhos, o que não é difícilde encontrar. Os papagaios-verdadeiros são observados tan-to em topos de árvores quanto pousados em prédios, já quepossuem território dentro da cidade.
Os ornitólogos costumam dizer que Curitiba é uma cidadebastante atrativa aos pássaros. Isso acontece em função daexistência de muitas árvores que asseguram alimento e con-dição para reprodução. Na capital, também há menor pres-são humana para que as aves se estabeleçam. Por essa razão,elas, em geral, sentem-se pouco ameaçadas pelas pessoas econvivem pacificamente.
Observação nos grandes centros
Espécies maisameaçadas
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FALAR DO RESPEITO À NATUREZA POR MEIO DA ARTE, FAZERCOM QUE O ACESSO A ELA NÃO FIQUE RESTRITO AO INTERIORDE UMA GALERIA OU MUSEU. A OBRA DE ARTE COM ALCANCEECOLÓGICO, SOCIAL E CULTURAL MOTIVA CADA VEZ MAISARTISTAS. ELES CRIAM, IMAGINAM, DEFENDEM UM MUNDOMELHOR. NÃO É DE HOJE QUE OS ARTISTAS AMBIENTAISUTILIZAM A ARTE PARA TENTAR TRANSFORMAR A REALIDADE. NADÉCADA DE 60, ELES ERAM CONHECIDOS POR PARTICIPAR DE UMMOVIMENTO CHAMADO LAND ART.
EDU
CA
ÇÃ
O
E CU
LTU
RA
A imagem mostrada no telejornal denuncia-va um rastro de destruição, deixado por um va-zamento de petróleo no mar, que tirou o sonodo artista plástico Sebastião Souza e deu ori-gem a várias obras de arte e a um grande pro-jeto de preservação. O projeto Vale da Vida, naregião de Cornélio Procópio, é visto por Sebas-tião, que também é seu coordenador, comouma obra aberta. As pessoas que passam porali e que plantam árvores são consideradas co-autoras do trabalho. O espectador parte da crí-tica para uma ação prática e positiva.
O local já não tem mais função produtiva.Não é utilizado como produtor de grãos ou car-ne, mas de oxigênio para a vida selvagem quepoderá se instalar.
O Vale da Vida, diz o idealizador Sebastião,“é uma escultura em processo de expansão”.Essa visão é também conhecida por Land Artou Arte da Terra, um movimento artístico nas-cido nos anos 60 que tem por característica usar
protegerA arte de
Seres-humanos
“amarrados” pelo lixo na
obra do artista plástico
Sebastião Souza
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a natureza como suporte paraa realização de obras. Os artis-tas da Land Art abandonaramos museus e passaram a inter-vir nas paisagens naturais,como desertos, cânions, lagose mares e também nas áreasurbanas.
Muitos destes artistas tra-balhavam a partir da questãoque a obra só poderia ser sen-tida se o espectador estivessedentro dela. Após várias telas pintadas com o uso de diversas marcas, nuances e diferentes diluições de
tinta preta, o artista Sebastião Souza passou a usar como suporte não mais a tela de
algodão e sim câmaras de ar recortadas e esticadas em chassis para pintura, como nessa
tela em que peixes nadam em águas pretas.
É assim que a artista plástica Ilka Soares sesente hoje. No início de 2003, ela recebeu umdiagnóstico de câncer. Procurou vários médi-cos, mas as opiniões foram pessimistas. Pas-sou, então, a pintar freneticamente. “Resolvi
Em comunhãocom a natureza
que o resto de minha vida, fosse longo ou cur-to, seria aproveitado a cada minuto. Eu já ti-nha uma pesquisa antiga, desde a década de90, sobre animais em risco de extinção e decidipintá-los”, lembra. A pesquisa foi motivada porreportagens em revistas e em canais de TV acabo. A pesquisa incluía fotos, vídeos, textos,entrevistas, livros carinhosamente arquivadospor ela. “Sempre me emocionei com este pa-radoxo: animais muito mais fortes do que o ho-mem estão sendo destruídos por este preda-dor ‘racional’ insensível e ganancioso”. Com aprópria vida ameaçada, Ilka decidiu por em prá-tica o antigo projeto de pintar quadros sobreesses animais, usando como referência estéti-ca as fotos guardadas.
Ela se antecipou ao Ano da Biodiversidadee fez no ano passado uma exposição que mos-trou animais brasileiros seriamente ameaça-dos: a onça pintada, o lobo guará, a tartarugaverde, o veado campeiro, o tamanduá-bandei-ra, o papagaio de cara roxa, o boto cor-de-rosa,o colhereiro. A artista proveitou o evento parachamar a atenção sobre os dados alarmantesa respeito da vida dessas espécies.
Ilka Soares pintou espécies ameaçadas
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Ela sempre gostou de desenhar e pintar.Quando frequentava as aulas de Biologia na Fa-culdade Estadual de Londrina, Patrícia Giloni(25031/07-D) não tinha dificuldades para retra-tar os organismos que estudava. Sempre rece-bia elogios dos colegas, filhos e marido. Foi como apoio dele que iniciou o curso de pintura naEspanha. Detalhe: além de pintar, estudava emparalelo para o doutorado na Universidade es-panhola de León. Precisou pesquisar muito naárea de ecotoxicologia. Trabalhou com afinconos sistemas de depuração de esgotos domés-ticos por macrófitas e sua capacidade de absor-ção de nutrientes (N e P). Entre um estudo e outro para conter o aumento ex-cessivo de algas, ela fazia questão de deixar espaço para as aulas de pintura.
Patrícia, formada em Biologia desde 1995, se considera uma iniciante naarte da pintura. A primeira fase comoaprendiz se refletiu numa releitura deobras de pintores famosos. “A escolhadas obras sempre tem relação com aquestão ambiental. O primeiro quadro, Oentardecer de Vincent Van Goh vejo comouma busca pela simplicidade da vida, pelocontato com a natureza... Hoje em dia,muitas vezes, envolvidos pelo excesso detrabalho, pela correria cotidiana e o es-tresse causado pelas obrigações nos es-quecemos que é na simplicidade da vidaque podemos encontrar o equilíbrio deque necessitamos para sermos felizes“,comenta.
A Bióloga acredita que a arte permi-te ver a natureza com os olhos da imagi-nação. “O homem, muitas vezes, não seinclui como parte dela e sim como um serque domina e transforma a natureza. Naverdade, fazemos parte de um todo eacredito que a arte nos transcende e nosintegra com esse universo”, conclui.
Patrícia Giloni (à esquerda, com sua
professora de pintura) encontra na arte
uma forma de integração com a natureza.
Uma Biólogapintora
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Mais informações:[email protected]
A Bióloga Fernanda de Almeida atua em váriosprojetos de conservação
Nesta seção da revista BIOPARANÁ você fica
conhecendo iniciativas de Biólogos que
atuam no interior do estado. Participe,
enviando sua sugestão de reportagem para
[email protected] NO PARANÁ
Dourado (Salminus brasiliensis), piapara (Le-porinus elongatus), piaparão (Leporinus obtusi-dens) e piava (Schizodon intermedius). Segun-do análises realizadas pela Bióloga FernandaSimões de Almeida (66027/07-D) que atua emprojetos de conservação da Biodiversidade dasespécies da bacia hidrográfica do Rio Tibagi eParanapanema são esses peixes que merecemmais cuidado na região.
As três primeiras espécies são migratórias etêm sofrido pelas seguintes razões: represa-mento do rio, pesca – já que são espécies deimportância econômica – e repovoamentos re-alizados sem conhecimentos biológicos, desres-peitando as características de estruturação ge-nética de cada espécie. Esses peixes apresen-taram uma queda no tamanho populacional euma diminuição da variabilidade genética. Asconclusões foram obtidas com dados genéticose biológicos ao longo de dez anos de avaliaçãona região do médio e baixo Paranapanema.
nas bacias do Tibagi
O Dourado (Salminus brasiliensis) é um dos peixes que merecem mais
cuidados, de acordo com os estudos da Bióloga Fernanda de Almeida
e Paranapanema
Conservando a biodiversidade
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“Uma atitude já foi tomada para tentarreverter o processo. O fechamento, no perío-do da piracema, das escadas para transposi-ção de peixes existentes nas usinas de CanoasI e Canoas II – que estava causando uma de-pleção dos peixes à jusante – já tem ajuda-do. Atualmente estamos na fase do monito-ramento das espécies com intenção de pro-por melhores ações de manejo para a con-servação dessas e de outras espécies impor-tantes”, comenta Fernanda.
A Bióloga vem desenvolvendo, desde 2002,pesquisas na área de Genética Animal em cola-boração com projetos de conservação da Ictio-fauna e Variabilidade Genética nos Laboratóriosde Ecologia e Genética Animal (LAGEA) e Labo-
ratório de Ecologia de Peixes do Museu de Zoo-logia da Universidade Estadual de Londrina.
Fernanda participa dos seguintes projetos depesquisa: Monitoramento da Ictiofauna da Re-presa da usina Escola Mackenzie (Represa Capi-vara), Rio Paranapanema - parte I - Aspectos Bio-lógicos e parte II - Análise Genética. Eles fazem omonitoramento da manutenção da variabilidadegenética e estrutura populacional de dez espéciesque foram estudadas em um projeto, realizadoentre os anos de 2000 e 2003, intitulado “Carac-terização Genética da Ictiofauna do Reservató-rio de Capivara”. Fernanda é docente do Centrode Ciências Biológicas, Departamento de Biolo-gia Geral da Universidade Estadual de Londrina.Leciona na disciplina de genética.
Coordenar o laboratório de Ecologia eConservação de Mamíferos e Tartarugasmarinhas (LEC) do Centro de Estudos doMar da UFPR é um trabalho que envolve odesenvolvimento de muitas atividadespara a Bióloga Camila Domit (50.867-07D).Uma delas é o estudo de avaliação de im-pacto e qualidade ambiental, utilizando osbotos-cinza como sentinelas ambientais(bioindicadores).
O Boto-cinza é um cetáceo de peque-no porte, com comprimento máximo de2,06m e peso máximo observado de 121kg.Sua dieta inclui principalmente peixes, crus-táceos e cefalópodes, havendo indícios deseletividade de presas entre sexos e entrediferentes fases de desenvolvimento. Sãoobservados com frequência em grupos de2 a 10 indivíduos. Alguns podem ser obser-
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A Bióloga Camila Domit anota os dados do boto-cinza, que
morreu ao encalhar na praia
no litoralPesquisando cetáceos
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Mais informações:[email protected]
vados sozinhos, sobretudo em áreas protegi-das, como no interior das baías e estuários docomplexo paranaense. Os animais recém-nas-cidos apresentam uma região acinzentada nodorso e o corpo é róseo. A coloração cinzaocorre gradualmente conforme o animal sedesenvolve. Nos adultos, o dorso e as nada-deiras são totalmente cinzas, o ventre possuiuma pequena região rosada ou esbranquiça-da e nas laterais do corpo ocorrem manchascinza-claro. O comportamento também auxi-lia no reconhecimento dos infantes. Duranteos primeiros meses de desenvolvimento per-manecem sempre junto à mãe. Os maiores,que estão aprendendo a pescar e que em al-guns momentos estão afastados dos adultos,são facilmente reconhecidos, pois executamdiversos comportamentos de brincadeiras.
As principais ameaças que afetam a espé-cie estão diretamente relacionadas com o de-senvolvimento urbano nas regiões costeiras.As ações portuárias (dragagem, derrocagem,vazamentos de óleo), a captura incidental emredes de pesca, o choque com embarcações,o turismo desordenado, o molestamento porembarcações de turismo e lazer, além da ex-ploração e o desmatamento das zonas lito-râneas são algumas das ações responsáveispelo impacto negativo sobre os cetáceos.
A poluição é um problema sério. Além dacontaminação por agentes químicos, a ingestãode polietileno e náilon e a geração de ruído porfontes antrópicas afetam os botos/golfinhos, jáque os animais desenvolvem suas relações so-ciais e com o meio de forma essencialmenteacústica. Detonações subaquáticas, construçãode estruturas que avancem mar adentro ou mes-mo à beiramar e atividades de dragagem, causamdanos e podem levar à morte de baleias e golfi-nhos presentes nas proximidades, com lesões au-ditivas comprovadas. “É necessário estabelecerdistâncias e normas de conduta que garantammenor probabilidade de causar danos físicos aosmamíferos marinhos, acredita Camila”.
A população do boto-cinza no estado do Pa-raná foi estudada quanto à ecologia alimentar,a parâmetros biológicos, como idade, cresci-mento, desenvolvimento gonadal e dimorfismosexual. O número de botos em algumas baíasfoi estimado e o comportamento da espéciedescrito para a região. Ele vem sendo monito-rado em todas as Baías do Complexo Estuari-no de Paranaguá. Essa análise faz parte de umatese em andamento. Também vêm sendo de-senvolvidos estudos sobre a forma de uso dohabitat e os padrões de residência, além da in-teração com a pesca artesanal e os índices decontaminação nos tecidos.
O golfinho-rotador encalhou vivo no litoral do Paraná e a Bióloga Camila, de
roxo, acompanhada dos colegas, ajuda a levá-lo para o mar novamente.
DEBATE
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NO ANO EM QUE REPRESENTANTES DE TODO MUNDO TÊM ENCONTRO
MARCADO, EM OUTUBRO, NA CONFERÊNCIA DE BIODIVERSIDADE DA
ONU, QUE ACONTECE EM NAGOYA, NO JAPÃO, A FIM DE AVALIAR OS
RESULTADOS DAS AÇÕES ASSUMIDAS EM 2002 PARA PRESERVAR A
BIODIVERSIDADE, A REVISTA BIOPARANÁ ABORDA UM TEMA QUE AFETA
DIRETAMENTE OS ECOSSISTEMAS: CORREDORES ECOLÓGICOS.
QUANDO O CONCEITO DE CORREDORES ECOLÓGICOS SURGIU NA
DÉCADA DE 90, DEFENDIA A MINIMIZAÇÃO DO IMPACTO PROVOCADO
PELA FRAGMENTAÇÃO DESSES LOCAIS. NOS FRAGMENTOS FLORESTAIS
ISOLADOS, OBSERVA-SE UM EMPOBRECIMENTO CONTÍNUO DE
POPULAÇÕES E ESPÉCIES, QUE ATINGE TODO O FUNCIONAMENTO DO
SISTEMA. O ESTABELECIMENTO DE CORREDORES É UMA ESTRATÉGIA
BASEADA NA NECESSIDADE DE SE CONECTAR FRAGMENTOS FLORESTAIS,
PERMITINDO O MAIOR FLUXO GÊNICO ENTRE AS POPULAÇÕES E
AUMENTANDO A ÁREA PARA A SOBREVIVÊNCIA DAS ESPÉCIES.
O QUE ACHAM OS ESPECIALISTAS DESSA ESTRATÉGIA? DE QUE DEPENDE
A EFICIÊNCIA DOS CORREDORES? QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DE UNIR
DUAS POPULAÇÕES DE DETERMINADA ESPÉCIE, QUE ESTAVAM ISOLADAS
POR MUITO TEMPO?
Até onde vai a eficáciados
Ecológicoscorredores
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““O estabelecimento dos corredores ecológicos não é suficiente para pro-
mover a conservação da biodiversidade. Nas últimas décadas uma nova
modalidade da ciência tem tratado desta questão, a Ecologia da Paisa-
gem. Vários outros aspectos devem ser levados em consideração, como
por exemplo, o tamanho do fragmento e da faixa a ser conectada, a ma-
triz da paisagem, tipo de ameaças humanas, dentre muitos outros, que
inclusive variam consideravelmente de acordo com o ecossistema.
Outro aspecto de fundamental importância é o nível de alteração dos
fragmentos. Os fragmentos melhor conservados são a fonte da biodiversi-
dade de muitos grupos de animais e plantas e consequentemente de pro-
cessos funcionais. Os processos de restauração e da promoção do estabe-
lecimento de corredores não serão bem sucedidos se estes fragmentos não
forem conservados. Além de serem fontes de propágulos para a restaura-
ção dos ecossistemas, qualquer tipo de alteração acarreta perdas de bio-
diversidade, na maior parte das vezes irreversíveis.
Outro conceito de corredores está relacionado a gestão de grandes por-
ções do território, como é a política adotada pelo Ministério do Meio Am-
biente, chamada de corredores ecológicos. É o caso dos corredores da
Amazônia e da Mata Atlântica.
Estes dois conceitos se complementam visando a conservação da biodi-
versidade a partir da gestão da paisagem em diferentes escalas, espaci-
ais, econômicas, sociais e políticas. Nessa concepção, além dos aspectos
biológicos para uma estratégia ótima de seleção de fragmentos ao longo
da paisagem, suas conexões, conserva-
ção de áreas prioritárias, estabeleci-
mento e implementação de Unidades de
Conservação, é importante o desenvol-
vimento de instrumentos econômicos e
de políticas públicas.
Um dos primeiros passos para viabi-
lizar essas estratégias de conservação
são os chamados zoneamentos ecoló-
gicoS econômicos, já definidos há mais
de uma década como uma política pú-
blica importante, mas não implantada,
sem que se tenha uma explicação
razoável até o momento.
A partir das zonas estabelecidas e
definidas de acordo com a especificida-
de de cada região, se estabelece a ges-
tão da paisagem, incluindo o planejamento de corredores e principalmente
das áreas que precisam ser conversadas para não dilapidar mais ainda o
patrimônio natural tão necessário à sociedade.
Ricardo Miranda de Britez
(05.319/07-D) é Biólogo,
mestre em Ciências do
Solo e doutor em
Engenharia Florestal.
Trabalha com botânica,
ecologia vegetal, manejo
de Unidades de
Conservação e
restauração ambiental há
mais de 25 anos. Em
2001, coordenou um
estudo que apontou o
risco de extinção das
Florestas com Araucária
no Estado do Paraná.
Atualmente, integra a
equipe da ONG Sociedade
de Pesquisa em Vida
Selvagem e EducaçãoAmbiental – SPVS –, onde
coordena projetos que
aliam a temática
conservação da
biodiversidade e
mudanças climáticas.
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“
19
““Em paisagens fragmentadas, a manutenção da biodiversidade de-
pende, dentre outros fatores, da conectividade dos fragmentos. As co-nexões podem ser feitas por meio de corredores contínuos ou por pe-quenas áreas situadas entre os fragmentos, os chamados “steppingstones” ou pontos de conexão. As florestas ciliares podem formar co-nexões naturais entre habitats isolados, além de prestar importantesserviços ambientais. Quando bem conservadas, funcionam como cor-redores eficientes para muitos grupos animais, fornecendo-lhes abri-
go e alimento, além deuma área de passagem.
Daí a importância dasua preservação ou, na suaausência, recuperação. Amanutenção e a recompo-sição de todo e qualquer re-manescente florestal, inde-pendente do seu tamanhoe localização, aqui incluí-das as áreas de Reserva Le-gal, também é fundamen-tal para a formação deuma malha florestal, pormeio da formação de pon-tos de conexão. Sugere-seque, onde e quando possí-
vel, a recuperação dessas áreas seja induzida por meio de técnicas deatração de dispersores de sementes e nucleação como o uso de polei-ros artificiais para aves e de óleos essenciais de frutos para morcegos.A principal vantagem dessas técnicas, além do baixo custo em relaçãoà produção e ao plantio de mudas, é o grande potencial de reprodu-ção da composição e estrutura originais da vegetação local, dificilmenteatingida por meio do plantio de mudas. A efetividade dos corredores,originais ou recuperados, para a manutenção da biodiversidade, noentanto, precisa ser avaliada, inclusive para o seu correto delineamen-to (p.ex. dimensões, estrutura). Nesse caso devem ser empregados in-dicadores, tais como parâmetros populacionais das espécies de inte-resse, medidas do fluxo de indivíduos, propágulos ou genes entre osremanescentes, comparando o uso dos diferentes elementos da paisa-gem, notadamente dos corredores florestais. Com relação a problemade depressão por exocruzamento, isso realmente pode acontecer. Noentanto, sempre e quando falamos de corredores, a função éreconectar habitats que estavam conectados no passado recente, nãogeológico. Assim, corredores não devem ser instalados entre habitatsque nunca foram conectados. No entanto, em ambientes terrestres,essas considerações são mais teóricas do que práticas, já que dificil-mente um corredor vai conseguir unir ambientes ou ecossistemas com-pletamente isolados.”
Sandra Mikishi (08.466/
07-D) é Bióloga, mestre e
doutora em Zoologia,
pesquisadora da Embrapa
Florestas na área de
Ecologia. Desenvolve
pesquisas com ecologia de
aves e mamíferos,
frugivoria e dispersão de
sementes, manutenção e
recuperação de ambientes
florestais.
19
“
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E N T R E V I S T A
BOTÂNICOHATSCHBACHGERDT
20Gerdt em Sapitanduva, no litoral do Paraná. Por mais de 20
anos a reserva pertenceu a ele. Os anos passaram e o
botânico precisou vendê-la, pois já não podia viajar com
frequência para cuidar do local, que reunia as mais variadas
espécies. Gerdt fazia questão de manter as plantas
identificadas para que os visitantes, de várias partes do
mundo, pudessem ter informação sobre elas.
Ele perdeu as contas de quantas vezes osatendentes de hotel negaram pousada ou olharamdesconfiados depois de entrar na portaria todo cheiode barro, suado e despenteado por ter passado o diainteiro no meio da mata, fazendo coleta de espécies,primeiro, para a sua coleção particular; mais tardepara o museu que ele fundou em 1965 no PasseioPúblico. Hoje a sede do Museu é no Jardim Botânico.
Ao publicar essa entrevista com Gerdt Hatschbach,BIOPARANÁ quer fazer uma homenagem a essebotânico e químico que, em agosto, completou 78anos. Ele chega em 2010, no Ano da Biodiversidade,como o responsável por apresentar à ciência 500novas espécies. Hoje já não pode fazer mais longasexpedições, por recomendação médica. Após aangioplastia e com o marca-passo, colocado há doisanos, as viagens de coletas tiveram que sersuspensas. Mas, a saudade daquela época ficou. Emparte, ela é amenizada pelo meio período que Gerdtpassa no Museu, abrindo as incontáveis caixas eenvelopes de correspondências que chegam de todaparte do mundo, contendo espécies das maisvariadas.
Em seu artigo publicado originalmente em 01 desetembro de 1988, o jornalista paranaense jáfalecido, Aramis Millarch, lembra que nas suaspesquisas para colher espécimes da floraparanaense, o então jovem Gerdt Hatschbach foi umdos primeiros a escalar o Marumbi e outraselevações da Serra do Mar. Isso no início dos anos40. Quando o Brasil declarou guerra aos países doEixo, a sua atividade de cientista na Serra do Mar foiconfundida com a “de espião nazista”. Ao voltar deuma de suas expedições acabou preso. O que osalvou de ficar mais de um dia na prisão foi odiploma de colaborador voluntário, assinado peloentão interventor Manoel Ribas, pelos seus 10 anosde ajuda espontânea ao Museu Paranaense, “semnunca ter recebido um centavo”.
Trabalhando como representante comercial parasobreviver, Gerdt preferia sempre “os lugares maisdifíceis e inóspitos, mas que tinham uma fauna rica”e assim, dando mais atenção à coleta de exemplaresde plantas do que aos negócios, foi fazendo o seupróprio acervo - que, mais tarde, incorporaria aoMuseu Botânico.
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BIOPARANÁ: De onde vem essa
fascinação pelas plantas?
GERDT HATSCHBACH: Meu pai tinhafábrica de calçados e tambémuma coleção de orquídeas. Gos-tava delas e também dos insetos.Com 10 anos eu coletava ara-nhas. Colocava os insetos vivosdentro de caixas e guardava numquartinho próximo da cozinha danossa casa. Um dia minha mãeabriu a caixa e quase morreu desusto com aquele monte de ara-nhas lá dentro. Ficou brava comi-go. Um pouco mais tarde chegueia montar uma coleção de cincomil coleópteros (besouros e es-caravelhos). Com quinze anos, co-nheci o Padre Jesus Moure, espe-cialista em abelhas silvestres e queme ensinou muito sobre plantas.
BIOPARANÁ: O senhor tem ideia
de quantas espécies coletou
depois que começou a
trabalhar como auxiliar
voluntário da Subseção de
Invertebrados de Zoologia do
Museu Paranaense, em 1941?
GERDT HATSCHBACH: Perto de 80 milespécies foram coletadas pormim das 360 mil catalogados aquino Museu Botânico. Antes de fi-car guardadas aqui, ficavam nomeu laboratório que, primeiro,era de química, depois virou umlocal para abrigar as espécies queeu coletava.
BIOPARANÁ: Mesmo aposenta-
do o senhor continua traba-
lhando no Museu?
GERDT HATSCHBACH: Hoje vou aomuseu só meio período. Foi o queo médico liberou depois que co-loquei marca-passo dois anosatrás. Não posso mais fazer es-forço e viagens longas. A últimaque fiz foi para Minas Gerais, háuns seis anos.
Sabe que muitas vezes viajavacom o meu próprio carro, já queo museu não tinha dinheiro. Fizuma viagem longa assim para Per-nambuco. Algumas vezes viajavade avião. Mas não gosto muito,não. Numa viagem de volta deManaus, um dos motores falhoue o avião passou a voar muitobaixo. Imagina que só havia flo-resta lá embaixo... Depois disso,passei a ter receio de voar.
No museu separo as plantas eabro as correspondências quechegam de toda parte do mundo.O museu faz muitas permutas.Recebo caixas e caixas com es-pécies de vários países. Faz pou-co tempo, recebi quatro caixasque vieram do México.
BIOPARANÁ: O senhor viajou
muito coletando espécies de
plantas. Alguma dessas
viagens foi mais marcante?
GERDT HATSCHBACH: Comecei via-jando aqui pelo Paraná. Subi oMarumbi muitas vezes, mas nãoescalava os paredões porque nãogostava muito. Preferia a mata evegetação baixa, que apresenta-va espécies tão diferentes. Colo-cava minha mochila nas costas elá ia. Os amigos sempre acaba-vam me deixando para trás. Fica-va encantado com uma e outraespécie. Ia devagar para não dei-xar passar nenhuma diferente.
Nas muitas viagens que fazia para
coletar plantas Gerdt levava a mulher
Maria. O botânico fazia do carro
particular, veículo de trabalho.
Em 2003, o casal foi para Cristalina, em
Goiás. Toda planta que coletava, Gerdt
mostrava à mulher. O casal, que não
teve filhos, parece nas fotos, estar em
eterna lua-de-mel. O marido sempre se
lembrava de presentear Maria com sua
segunda paixão: as plantas.
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Sempre me lembro também deuma viagem para Manaus que eufiz em 74. Coletei muito materi-al lá, mais de mil espécies. Umaparte trouxe comigo para Curi-tiba e a outra pedi para um téc-nico de lá enviar para mim pelocorreio. Só que o material nun-ca chegou. Eram espécies mara-vilhosas. Até hoje me lembro dis-so com tristeza.
Um outro episódio que me cau-sou tristeza foi a vez que uma es-tufa pegou fogo no laboratório naminha casa. Os vizinhos vieramacudir. Foi um susto e uma frus-tração, depois de tanto trabalho.Isso faz muito tempo. Ainda nemera casado.
BIOPARANÁ: Quando o senhor se
casou?
GERDT HATSCHBACH: Em 1972. De-pois disso, a Maria me acompa-nhou na maioria das viagens decoleta.
BIOPARANÁ: O senhor sente
saudade daquela época?
GERDT HATSCHBACH: Sinto sim. Só oque não me agradava muito enão me agrada é a política. Naépoca da ditadura então... Acha-va um absurdo ter que cantar ohino nacional antes de começar aaula... Mas de maneira geral con-sidero a minha vida maravilhosa.Sempre fiz tudo que gosto...
Gerdt no Museu Botânico que hoje tem sede no Jardim Botânico.
Quando foi criado em 1965, funcionava no Passeio Público, em
Curitiba.
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Apesar dos significativos avanços científi-
cos e conservacionistas ocorridos no País
nos últimos trinta anos, o Brasil carece de
boas sínteses em linguagem acessível, tan-
to para os alunos de graduação e pós-gra-
duação como para os gestores de áreas
protegidas de projetos de conservação, de
comitês de bacias hidrográficas, de corre-
dores ecológicos e de projetos de recupe-
ração ambiental. O livro
oferece importante contri-
buição para que se possa
melhor orientar os esfor-
ços governamentais e pri-
vados de conservação da
biodiversidade no Brasil.
“Biologia da Conservação:
Essências” não é uma re-
visão exaustiva de todo o
campo da Biologia da con-
servação.
Uma característica dessa
obra é a ênfase dada ao
valor e à limitação das atu-
ais teorias e das modernas metodologias
disponíveis, bem como a farta apresenta-
ção de exemplos brasileiros. O livro vem pre-
encher uma lacuna na literatura nacional e
é demonstração do grau de maturidade da
comunidade científica brasileira.
L I V R O S
A Publicação traz conteúdo científico de
forma lúdica e destina-se a professores e
educadores que trabalham o tema biodi-
versidade com crianças e jovens. A obra é
uma adaptação brasileira de “Exploring
Biodiversity”, guia lançado pela Conser-
vação Internacional e pelo WWF nos Es-
tados Unidos.
O livro reúne textos e
atividades práticas.
Embora a faixa etária
recomendada para a
aplicação prática do
material seja a partir
dos 11 anos, os auto-
res ressaltam que di-
versas atividades po-
dem ser adaptadas
para grupos de crian-
ças mais novas e
adultos.
Foi preciso incluir um capítulo na publi-
cação original, já que a biodiversidade no
Brasil é diferente, mais rica. O livro tam-
bém aborda os corredores de biodiversi-
dade, que são pontes entre diferentes am-
bientes naturais e não existem nos EUA,
onde o livro fez muito sucesso.
O livro está disponível para download
nos sites:
Conservação Internacional
(www.conservacao.org)
WWF-Brasil (www.wwf.org.br).
Para adquirir um exemplar, enviar
solicitação para
EDITORA: Ed-Rima
Autores: Maria Alice dos Santos Alves
/ Helena de Gogoy Bergallo / Carlos
Frederico Duarte da Rocha
BIOLBIOLBIOLBIOLBIOLOGIA DOGIA DOGIA DOGIA DOGIA DAAAAACCCCCONONONONONSERVSERVSERVSERVSERVAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO:Essências
guia de apoio aoseducadores do Brasil
INVESTIGANDO ABIODIVERSIDADE:
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