SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAISCOORDENAÇÃO ESTADUAL DO PDE
RITA RENI COSMO
INCLUIR: É HORA DE APRENDER
CASCAVEL2009
RITA RENI COSMO
INCLUIR: É HORA DE APRENDER
Artigo apresentado ao Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE),
na disciplina de Educação Física do
NRE de Cascavel - PR, como um dos
requisitos para certificação ao término
das atividades do programa no ano
letivo de 2009.
CASCAVEL2009
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INCLUIR: É HORA DE APRENDER
RITA RENI COSMO1
EDILSON HOBOLD2
ZELINA BERLATTO BONADIMAN3
Resumo: Este artigo tem como tema a inclusão de crianças com deficiência nas escolas regulares. O objetivo desta pesquisa é fornecer materiais teórico-metodológicos aos professores de Educação Física para que estes oportunizem a seus alunos, por meio de atividades didático-pedagógicas, a vivência das dificuldades motoras encontradas por crianças com necessidades especiais no seu dia-a-dia. Ao propor essas vivências o professor estará abrindo espaço para que a inclusão seja abordada de forma relevante dentro da comunidade escolar a que pertence. A implementação pedagógica se fez com um grupo de estudos denominado como grupo de apoio aos professores de Educação Física em oito encontros. O trabalho faz uma retrospectiva histórica, descreve sobre as deficiências visual, auditiva, motora e a importância da atividade física como fator de superação e inclusão nas aulas de Educação Física. Os resultados apontam para a necessidade de capacitação continuada do corpo docente para que a inclusão aconteça de forma consciente e responsável.
Palavras-chave: Crianças; escola; inclusão.
Abstract: This article has as subject the inclusion of children with deficiency in the regular schools. The objective of this research is to supply methodology material and theoreticians to the teachers of Physical Education so that these oportunizem its pupils through pedagogical didactic activities to live the difficulties of the function of the body for children with necessities special in its day-by-day. When considering these experiences the teacher will be opening space so that the inclusion is boarded of excellent form inside of the school community the one that them belongs. The pedagogical implementation it was made through a group of studies called group of support to the teachers of Physical Education carrying through eight meeting. It makes a historical retrospect, it describes on the deficiencies visual, auditory and motor, the importance of the physical activity as factor of overcoming and to include in the lessons of Physical Education. The results point with respect to the necessity of continued qualification so that the inclusion happens of conscient and responsible form.Word-key: Children; school; inclusion. 1 Professora PDE da Rede Estadual de Educação do Estado do Paraná, graduada em Educação Física, com es-pecialização em Administração e Planejamento de Sistemas Educacionais.2 Professor orientador da Unioeste, Mestre em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina, Professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste.3 Professora co-orientadora da Unioeste, Mestre em Educação Especial (Educação do Indivíduo Especial) pela Universidade Federal de São Carlos. Professora do Curso de Educação Física da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste.
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Crianças com deficiência não vivem em uma sociedade especial, mas em
uma sociedade comum a todos, portanto é necessário que gestores, pedagogos e
em especial que os professores revejam e reformulem suas práticas pedagógicas e
acreditem principalmente no seu potencial de mudanças, para que a inclusão se
efetive de fato.
A inclusão pode sim trazer benefícios para todos. Para crianças com
deficiência, ela significa uma oportunidade importantíssima para o seu
desenvolvimento afetivo, assim como para a sua inserção social. Para o professor e
colegas de turma, certamente será uma experiência enriquecedora e marcante, uma
lição de respeito à diversidade, cidadania, amizade e solidariedade.
A construção deste artigo tomou como ponto de partida o referencial
bibliográfico da retrospectiva dos diferentes momentos da história universal das
pessoas com deficiência, evidenciando práticas segregacionistas da pré-história até
os dias atuais, de informações sobre as deficiências: visual, auditiva e motora, não
como classificação patológica, mas como informações de condutas, valorizando as
potencialidades e necessidades educativas e a organização de um grupo de apoio
para levar as informações teórico-pedagógicas contidas no projeto inicial, visando à
preparação da escola para receber crianças com deficiência.
O grupo de apoio foi formado por professores de Educação Física da escola
de atuação da professora PDE e que ministram aulas no ensino fundamental e
médio. As atividades foram divididas em oito etapas com quatro horas de duração,
com datas previamente definidas. Os temas foram antecipadamente selecionados
pela professora PDE, contendo as informações pertinentes do projeto de
intervenção, da produção didática e de materiais teóricos.
Os temas abordados e debatidos foram distribuídos da seguinte maneira:
a) leitura e análise do projeto de intervenção da professora PDE. Leitura e
debate do texto: Inclusão o que é?, De Maria Tereza Eglér Montoan, 2003;
b) leitura e reflexão da fundamentação teórica do projeto de intervenção da
professora PDE: Trajetória das pessoas com deficiência: da pré-história até os dias
atuais;
c) estudos dirigidos sobre o texto: Fundamentos do ensino inclusivo, de
Susan Stainback e Willian Stainback, 2006;
d) leitura e debate da produção didática: A atividade física como fator de
inclusão e conhecendo um pouco das deficiências: visual, auditiva e motora;
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e) atividades práticas: vivências das deficiências: visual, auditiva e motora;
f) estudos dirigidos sobre a legislação das pessoas com deficiência;
g) elaboração de um plano de aula para sensibilizar os alunos da necessidade
de acolher, compreender e respeitar as pessoas com deficiência;
h) Avaliação do grupo de apoio.
O princípio de inclusão na disciplina Educação Física, assim como as demais
disciplinas, é o de que todos têm direitos ao acesso do processo de
ensino-aprendizagem.
Nas aulas de Educação Física inclusiva é preciso segundo Gaio (2006, p.17),
“[...] acreditar e agir no sentido de inserir todos os educandos portadores de
deficiência de modo que assumam papéis, que participem, juntamente com os
outros, todos os momentos vividos no ambiente escolar”.
Tornar as aulas de Educação Física ambientes inclusivos é também acreditar
que, além de ensinar os conteúdos específicos, deve-se priorizar os valores da
dimensão humana na participação de todos, na construção de valores, sentimentos,
idéias e atitudes.
Ainda de acordo com Gaio (2006, p. 21), “falar de uma única Educação Física
para todos é refletir sobre as discussões que ocorreram e ainda estão ocorrendo
sobre os corpos deficientes no ensino regular”.
Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Física (2007 p. 33) a
respeito da inclusão destaca que:
De fato, as aulas de Educação Física pode constituir excelentes oportunidades de revisão de conceitos, de desenvolvimento de idéias, de respeito às diferenças e de valorização humana para que sejam levados em conta o outro, o exótico, o distante. Destaca-se que a inclusão não representa caridade ou assistencialismo, mas condição de afirmar a pluralidade, a diferença, o aprendizado com o outro, algo que todos os alunos devem ter como experiência formativa.
“A pedagogia da exclusão tem origens remotas condizentes com o modo
como são construídas as condições de existência da humanidade em determinado
momento histórico” (RODRIGUES, 2006, p.162). Para muito estudiosos, esse
diálogo com a história é necessário, pois para que seja possível entender e refletir
sobre o presente é necessário conhecer o passado histórico no qual estavam
inseridas as pessoas com deficiência. Segundo Gaio (2006, p. 11), “Ser corpo
deficiente não é fato novo, isolado como também não é o fato destes corpos serem
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estigmatizados, desvalorizados, discriminados pelas leis, valores e sentimentos ao
longo da história humana”.
Na história da humanidade podemos encontrar momentos distintos de
exclusão em relação às pessoas com deficiência. Os principais momentos foram o
de abandono ou de extermínio, na institucionalização, na integração e na inclusão.
No período pré-histórico, a sociedade primitiva dependia do que a natureza
podia lhes oferecer, necessitando assim deslocar-se constantemente. “[...] em
função desta prática, abandonavam aqueles que não pudessem mover-se com
agilidade ou que tivessem alguma diferença que impedisse sua mudança de um
lugar para outro com agilidade” (BIANCHETTI, 1998 apud PEE, 2006, p. 20).
Nas sociedades grega e romana, já se encontravam a preocupação e a
supervalorização do corpo, perfeito, saudável e forte, pois gregos e romanos se
dedicavam, quase que exclusivamente, às guerras com o intuito de conquistar
territórios e escravos. É deste período a realização dos Jogos Olímpicos Antigos.
Em Esparta, a educação era voltada para a formação militar. Praticavam a
ginástica, a dança, os jogos e as lutas como forma de preparo físico necessária para
defender a pátria. Segundo Bianchetti e Freire (2006, p. 29), “Entre as sociedades
patriarcais, nunca valorizou tanto a mulher como essa: partia-se da convicção de
que a mulher bela e forte era a preconização para gerar o guerreiro”. Nesta
sociedade a prática da eugenia era utilizada, as crianças que apresentassem
qualquer diferença contra o ideal prevalecente eram eliminadas. Em Atenas, além da
preocupação com a perfeição do corpo, a sociedade era voltada para o intelecto e a
contemplação do corpo, marginalizando as crianças com deficiência.
Para os romanos, as pessoas nascidas com anomalia eram ligadas a casas
comerciais, a tavernas a bordéis, onde meninas cegas se prostituíam, a atividades
circenses para trabalhar em determinadas tarefas. Ainda em Roma, “deficientes
mentais, em geral tratados como ‘bobos’ e eram mantidos nas vilas ou nas
propriedades das abastadas patrícias, como protegidos da parte familiar”
(BIANCHETTI, 1998 apud PEE, 2006, p.27).
“Quanto à concepção de corpo, principalmente por meio da obra do Platão,
abre-se um interstício, uma fresta, uma fenda entre o corpo e a mente, através da
qual vai sopra um vento frio pelo resto da história do mundo ocidental cristão”
(BIANCHETTI; FREIRE, 2006, p. 30). Aos escravos (corpo) eram designados a
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obedecer e cumprir tarefas degradantes, já aos livres (mente) cabia a parte de
comandar, ordenar.
Segundo Bianchetti e Freire (2006, p. 30), “esse paradigma é assumido no
âmbito da teologia trazendo profundas repercussões com base até na sua
terminologia. A dicotomia de ser corpo/mente passa a ser corpo/alma”.
Neste período as anomalias físicas, mentais e sensoriais são vistas sob o
aspecto místico, consequentes de forças demoníacas ou como forma de pagamento
por pecados cometidos por seus ancestrais.
Com a ascensão do Cristianismo, como a morte não era mais aceitável, as
pessoas com deficiências deixam de ser exterminadas e passam a ser segregadas
em confinamentos como casas, porões, vales e ilhas.
No século XVIII, antecedendo o mundo moderno surge o Renascimento
considerado por muitos estudiosos como um dos períodos mais importantes na
história da humanidade. Muitos dos costumes medievais foram desaparecendo,
dando lugar a corrente humanista onde o ser humano se sobrepôs ao ser divino.
Antecipando o mundo moderno, é no Renascimento que acontecem muitas
transformações e modificações no âmbito da cultura, economia, política, religião e
ciência, surgindo às primeiras pesquisas no campo das deficiências. Apesar deste
avanço, verificou-se, neste mesmo século, a institucionalização das pessoas com
deficiências. Os considerados incapazes para o sistema organizacional social
passaram a ser internados em asilos, manicômios e hospícios.
Em relação à educação sistematizada das pessoas com deficiências que
ocorreu neste período, inicialmente não atingiu as camadas populares,
restringindo-se apenas às classes burguesas, deixando-os assim sem nenhuma
assistência educacional. A preocupação destas camadas desfavorecidas contribuiu
para o surgimento na metade do século XVIII das primeiras instituições para surdos
(1760) e cegos (1784).
A intenção inicial destas instituições era dar oportunidades educacionais a
todos. Com o passar do tempo foi perdendo seu caráter educativo e pessoas menos
favorecidas foram obrigadas ao internamento sendo isoladas e encaminhadas e
destinadas ao “[...] trabalho forçado, manual e tedioso, parcamente remunerado,
quando não em troca de um lugar no maravilhoso espaço do asilo-escola-oficina”
(BUENO, 1993 apud PEE, 2006, p. 47).
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Por não se ajustarem à organização social voltada para capital e lucro,
pessoas com deficiências começaram então a serem mantidas, geralmente, por
ações filantrópicas. Aos poucos este exemplo de filantropia foi seguido por quase
todos os países do mundo.
Na metade do século XX, esta ‘prática’ começou a ser criticada devido à luta
pelos direitos humanos. Como resultado deste movimento surge o paradigma da
integração. A maior dificuldade deste modelo estava na oferta de serviços às
pessoas com deficiência mental, auditiva e visual. Devido ao seu ‘defeito’,
diferenciavam-se dos demais cidadãos, tornando-se um problema inseri-las e
integrá-las ao convívio social.
Este paradigma se desenvolveu principalmente nas escolas especiais. Por
receber críticas de associações e setores representativos de pessoas com
deficiência começa-se a ‘gestar’ o paradigma da inclusão, no qual, segundo Brasil
(2000) apud PEE (2006, p. 49) “não é a pessoa com necessidades especiais que
deve se ajustar à sociedade, mais é a sociedade que deve garantir suporte
necessário para que possam buscar seu desenvolvimento e cidadania”.
No século XX, dois documentos de alcance nível mundial merecem destaque,
tendo a eliminação do analfabetismo na educação básica com pessoas com
deficiência como meta a ser atingida. O primeiro é “Educação para Todos” – plano
de ação para satisfazer às necessidades básicas da aprendizagem dos alunos,
oriundo da Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada em Jomtien,
Tailândia, 1990. as necessidades básicas de aprendizagem das pessoas portadoras de
deficiência requerem atenção especial. É preciso tomar medidas que
garantam a igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e
qualquer tipo de deficiência como parte integrante do sistema educativo.
O segundo documento, a Declaração de Salamanca, inicia afirmando:
Nós, os delegados da Conferência Mundial sobre Necessidade Educativas Especiais, representando noventa e dois governos e vinte e cinco organizações internacionais, reunidos nesta cidade de Salamanca, Espanha, entre 07 a 10 de Junho de 1994, reafirmamos pela presente Declaração nosso compromisso com a Educação para Todos, reconhecendo a necessidade e urgência de ser um ensino ministrado, no sistema comum de educação, a todas as crianças, jovens e adultos com necessidades educativas especiais [...] (p.9).
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O princípio fundamental desta Linha de Ação é que as escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiência e crianças bem dotadas; crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças de populações distantes ou nômades; crianças de minoria lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidos ou marginalizados (p. 17-19).
O século XX foi também um marco para a Educação Física. Os mutilados da
Segunda Guerra Mundial e os deficientes que já existiam encontram no esporte uma
forma de sua inserção na sociedade.
Entre os séculos XX e XXI, a educação é considerada uma das áreas mais
envolvidas no processo de inclusão das pessoas com deficiências. No que diz
respeito à Educação Física, após ter iniciado como auxiliar na recuperação de
pessoas mutiladas no século anterior, neste século, através do esporte, pessoas
com deficiências já superam desafios e ultrapassam seus limites “[...] evidenciando
que este corpo se torna eficiente a partir do momento que lhe é dado oportunidade
de participação” (RECHINELI, 2008).
É nesta perspectiva que ao receber alunos com deficiência nas aulas de
Educação Física é necessário que professor e alunos conheçam as diferentes
deficiências. Assim, ao promover em suas aulas manifestações corpóreas como o
esporte, a dança, a ginástica, os jogos e as lutas, através da cultura corporal, o
professor, junto com o aluno com deficiência e colegas, possam superar limites
como o medo, a insegurança e a falta de informação. Para sanar esta falta de
informação o conhecimento sobre alguns conceitos das deficiências visuais,
auditivas e motoras é primordial.
Desde o nascimento, muito do aprendizado das crianças se dá pela imitação
de gestos e atitudes do adulto. Privada do sentido da visão, a criança cega, não
dispõe deste mecanismo para absorver informações, sendo assim sua atenção será
voltada para o som e a exploração tátil do ambiente físico e social, o que propicia
condições suficientes para sua interação com o meio que o cerca.
Na visão subnormal as crianças possuem níveis diferentes de informações
visuais e é imprescindível buscar informações para identificar suas possibilidades e
limitações. Baseada em dados clínicos a classificação visual educacional se difere
da classificação esportiva. “Sob o enfoque educacional, a cegueira representa a
perda total ou resíduo mínimo de visão que leva o indivíduo a necessitar do método
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Braille como leitura e escrita, além de outros recursos didáticos e equipamentos a
educação” (DIEHL, 2008, p. 63).
Segundo Conde (1994) apud Diehl (2008, p. 66), “as defasagens
psicomotoras apresentadas pelas pessoas cegas e de baixa visão são: esquema
corporal, postura, expressão facial, coordenação motora, direcionalidade, dificuldade
de relaxamento”.
Por não se sentirem suficientemente confiantes na sua locomoção e por não
se sentirem acolhidos na participação das atividades em grupo, o desenvolvimento
socioafetivo pode ser comprometido, podendo a criança apresentar baixa
autoconfiança e baixa autoestima, medo de situações e ambientes, apatia,
insegurança, isolamento e ansiedade, o que dificultará na sua autonomia. Por
possuir informações visuais a criança com baixa visão, responde melhor a estímulos
do que as crianças cegas, possibilitando-as a terem um melhor desenvolvimento
perceptivo. Será de grande auxílio a utilização de cores fortes e contrastantes para
sinalizar espaços, degraus e direção para a prevenção de acidentes.
As aulas de Educação Física é uma das grandes oportunidades para que
crianças cegas ou com baixa visão possam se desenvolver no aspecto motor, pois
possuem reduzidas oportunidades de movimentação, por sua impossibilidade de
observar os diversos movimentos. Jogos adaptados de tabuleiros como xadrez,
trilha e dama estimularão a atenção, concentração, espírito de decisão, lógica e
competitividade, permitindo que participem em condições de igualdade com o
adversário.
O teatro e a dança, além de aumentarem a auto-estima e a inserção de seus
participantes, proporcionam à pessoa cega um imenso ganho de coordenação, ritmo
e expressão.
O professor deve estar ciente que em algumas atividades não haverá
possibilidades da participação de crianças cegas, principalmente nos esportes de
competição, mas poderá convidar um colega para ser narrador, incluindo, assim, o
deficiente, como futuro expectador dentro das suas possibilidades.
Nas atividades propostas alguns cuidados devem ser tomados, assim como
haverá necessidade da utilização de alguns recursos para a sua realização. Como a
comunicação é verbal, o professor da atividade, utilizando uma linguagem simples e
objetiva, explicará o que será feito. Se a criança não entender na primeira vez deve
repetir a explicação de forma diferente; não mudar de lugar ao explicar as atividades
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para que o aluno não perca a direção de onde está vindo a informação; o professor
deverá deixar o aluno senti-lo através do tato, o movimento deve ser explicado;
orientar o espaço físico onde está sendo ou será realizada a atividade e o material
que deverá ser utilizado; é necessário o silêncio de todos no comando das
atividades; usar se possível recursos sonoros como bolas com guizo, pulseiras e
tornozeleiras sonoras.
Para os alunos com resíduo visual o professor deverá sempre demonstrar a
atividade que irá ser realizada; utilizar bolas, colchões, marcações de traves de gol,
quadra com cores contrastantes e brilhantes; utilizar cores e luzes que não
ofusquem, em atividades em que há participação de alunos com albinismo ou
glaucoma; controlar a luminosidade do ginásio dependendo da sensibilidade ou
necessidade ‘autoestimulação’ do aluno.
Caberá ao professor fazer as adaptações necessárias e planejar
cuidadosamente e de forma responsável e criativa as atividades proporcionadas a
estes alunos para que se percebam pertencentes ao grupo, auxiliando-os a serem
independentes, ativos e colaboradores nas aulas e na sociedade.
“Na deficiência auditiva muitos são os nomes utilizados ao se referir àqueles
que têm o sentido da audição comprometido ou inexistente, tais como: ‘surdos’,
‘surdos-mudos’ e deficientes auditivos”. (WRIGLEY, 1996 apud DIEHL, 2008, p. 41).
A expressão surda é a mais utilizada pela comunidade surda que possui língua,
identidade e costumes próprios. Sua comunicação se dá por meio de gestos
codificados conhecida com língua de sinais. Por receber influências culturais cada
país possui a sua língua de sinais, estabelecendo sua língua-mãe.
No Brasil, a língua de sinais reconhecida como meio legal de comunicação e
expressão dos surdos é chamada Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS),
estabelecida pela Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002.
O alfabeto datilológico (manual) é usado como auxiliar na comunidade surda
para soletrar e dar significados a palavras que ainda não possuem um sinal
específico como nomes próprios (pessoas, cidades, etc.). Na língua de sinais o
nome de cada pessoa possui um sinal escolhido que a identificará dentro da
comunidade surda a que pertence.
Atualmente já se pensa em desenvolver, além da língua de sinais, a língua
escrita de sinais, devido às dificuldades encontradas pelo surdo brasileiro na escrita,
pois se comunica em Libras e escreve em seu segundo idioma, o português.
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Segundo Freitas e Cidade apud Diehl (2008, 56), “no plano emocional os
surdos têm tendências de apresentar maior emotividade, introversão acentuada,
profundo sentimento de inferioridade, ausência de precisão e rigidez de
pensamento”.
Atividades como dança-teatro e jogos de imitação são ótimas técnicas para
estimular a expressão corporal, auxiliando-os na sua comunicação e na perda da
timidez.
A capoeira é uma das atividades que além de desenvolver a percepção dos
diferentes rítmicos aprimora as habilidades motoras, podendo, assim, auxiliar na sua
interação social.
As atividades aeróbicas podem auxiliar, ainda que indiretamente, para o
aprendizado da emissão de sons. Criança que não utilização a fala, possui uma
respiração “curta”, por não encherem completamente os pulmões, deixam de
exercitar os pulmões, impedindo a expansão da caixa torácica.
Devido à falta de equilíbrio, atividades como rolamentos, estrelas e
cambalhotas devem ter uma supervisão especial por parte do professor.
Quando o professor não possuir fluência em LIBRAS, deverá utilizar alguns
critérios metodológicos para a sua comunicação com o aluno surdo: ao falar dirigir o
olhar de forma que facilite a leitura labial e as expressões faciais; evitar falar quando
o aluno estiver de costas; dar instruções claras; não há necessidade de gritar, pois
ele não poderá ouvi-lo; antes de dar qualquer instrução verificar se o aluno está
atento, pois eles possuem facilidade de distrair-se, gesticular trará a sua atenção de
volta para a explicação; promover habilidades de liderança.
A maioria dos alunos surdos poderá participar das atividades físicas como
qualquer outro aluno, se lhes forem dadas oportunidades iguais para aprender.
“A paralisia cerebral (PC) é um grupo de sintomas incapacitantes
permanentes resultantes de danos a áreas do cérebro responsáveis pelo controle
motor” (WINNICK, 2004, p. 208). Dependendo da gravidade e do local do
comprometimento cerebral os sintomas podem variar desde severo, em que há
perda total dos movimentos até muito leves, somente com dificuldades na fala.
As atividades de consciência corporal, recreativas e esportivas, são de suma
importância e devem ser priorizadas, principalmente as que envolvem discrição
entre esquerdo e direito, orientação espacial e direcionalidade. Como perdem
facilmente o equilíbrio contemplar atividades que auxiliem nesta defasagem motora.
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Crianças e jovens com paralisia cerebral poderão apresentar
comprometimento na fala, o que pode acarretar uma comunicação troncada. Exigirá
paciência de todos para entendê-los.
Ao ser estimulada a realizar atividades que outras crianças realizam, a
criança com paralisia cerebral terá maior autoaceitação e maior autoestima, o que
vai ajudá-la a ultrapassar os seus limites e “refletirá’ nas suas conquistas futuras.
Para que o desafio da inclusão de alunos com deficiência nas escolas
regulares avance, ele requer ações consistentes, além de mudanças nas políticas
públicas são necessárias que sejam realizados cursos de capacitação continuada.
Foi com esta intenção que através do projeto de implementação pedagógica Incluir:
é hora de aprender ofertou-se o grupo de apoio contendo as oito etapas com
referenciais teórico-práticos para os professores de Educação Física.
Nos estudos com o grupo de apoio criaram-se etapas para possibilitar e
facilitar as discussões e reflexões.
Na primeira etapa foi realizada a leitura e a análise do projeto de intervenção
da professora PDE. Leitura e análise do texto: Inclusão escolar: o que é?, de Maria
Tereza Égler Montoan (2003). No primeiro momento deste encontro os participantes
fizeram uma segunda leitura do projeto, que já havia sido apresentado no início do
ano letivo. Foi analisada com maior aprofundamento a sua aplicabilidade nas aulas
de Educação Física e a aceitação por parte dos alunos. No segundo momento, foi
feita a leitura do texto: Inclusão: o que é, contido no caderno Inclusão Social
(BRASIL, 2007), módulo 4. Este texto aborda a necessidade de mudança do atual
do paradigma da educação que é excludente. Após discussões e reflexões sobre o
texto, tem-se ciência de que a escola ainda não está preparada para a mudança
defendida pela autora e que elas não dependem somente dos professores, mas
também de políticas educacionais e sociais sérias.
A segunda etapa constituiu-se pela leitura da fundamentação teórica do
projeto de intervenção: Trajetória das pessoas deficientes da pré-história até os dias
atuais. Durante a leitura desta retrospectiva, os participantes que já conheciam
acrescentaram alguns fatos que não estavam contidos no projeto, ressaltando no
final que, apesar de todas as conquistas, ainda há muitas barreiras para que a
sociedade os reconheça como cidadãos capazes, com direitos e deveres como
qualquer outro cidadão. Como proposta, foi definida a possibilidade de se trabalhar
este histórico nas aulas de Educação Física com todos os alunos, para que se
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sensibilizem e compreendam o momento histórico da inclusão após séculos de
segregação.
Na terceira etapa foi feita a leitura e reflexão do texto: Fundamentos do
Ensino Inclusivo, de Susan Stainback e Willian Stainback (2006). Neste encontro foi
feita a leitura do primeiro capítulo do livro dos autores acima citados, que descreve
os benefícios da educação inclusiva para todos: alunos, professores e sociedade.
Os participantes chegaram ao consenso de que ações conjuntas são mais eficazes
em todas as esferas que as ações isoladas, mas que há necessidade de toda uma
preparação prévia com cursos de capacitação, principalmente para professores,
para que os alunos com deficiência sejam realmente incluídos e não apenas
integrados.
Na quarta etapa foi realizada leitura e o debate do tema da Produção Didática
Pedagógica da Professora PDE: Conhecendo um pouco sobre as deficiências:
visual, auditiva e motora. A intenção deste encontro foi levar informações aos
integrantes do grupo sobre as defasagens psicossociais e motoras e a importância
da atividade para as pessoas portadoras das deficiências. Os participantes tinham
informações vagas sobre as deficiências acima citadas. Estas informações foram
importantes para que trabalhem com maior segurança, quando receberem alunos
com deficiências. Foi um estímulo para buscarem mais informações sobre estas e
outras deficiências ainda desconhecidas por eles.
Na quinta etapa foram realizadas atividades práticas das vivências das
deficiências: visual, auditiva e motora de origem cerebral proposta na Unidade
Didática. A intenção deste encontro foi apresentar aos professores do grupo de
apoio sugestões de atividades, que foram elaboradas por meio da Unidade Didática,
com o intuito de que pudessem aplicá-las em suas práticas pedagógicas com os
alunos. A prática pedagógica como fonte permanente e priviligiada de reflexões e
atuação propicia a análise das construções teóricas e das atividades práticas.
Estas vivências retiradas da cartilha Novos têm como objetivo principal levar
ao conhecimento dos alunos as dificuldades que as crianças com deficiência
encontram no seu dia a dia. Materiais como vendas pretas, objetos que são
utilizados nas atividades ou tarefas do dia-a-dia e outros desconhecidos como, por
exemplo, alguns utensílios domésticos serão necessários para a realização da
primeira atividade de simulação de pessoas com deficiência visual. Nesta atividade,
devem ser incluídos alguns objetos usados por pessoas cegas como, por exemplo,
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uma bola de guizo e um dado. O objetivo da atividade é permitir aos alunos que
“reconheçam” através do tato diferentes objetos. Os alunos deverão formar um
círculo e em seguida colocar as vendas nos olhos. O professor passará um objeto
de cada vez para o primeiro aluno. Este passará para o colega ao lado e, assim,
sucessivamente até que o objeto passe por todos os integrantes do grupo. Ao final
da atividade, promover debate sobre as dificuldades encontradas na atividade,
questionando: Reconheceu todos os objetos? Quais as dificuldades que você
encontrou?
Na segunda atividade os alunos formarão pares e terão a orientação de como
conduzir corretamente um cego. Um aluno colocará a venda nos olhos e o outro
será o seu acompanhante. O objetivo do acompanhante é estar ao lado do “cego”
para oferecer sua ajuda e conduzi-lo. Em seguida, os pares serão orientados para
se locomoverem no espaço escolar por um tempo determinado pelo professor.
Terminado esse tempo os alunos trocarão de função. O objetivo desta atividade é
fazer com que os alunos percebam como é “precisar de ajuda” e ajudar uma pessoa
com deficiência visual. Ao final da atividade, promover discussões sobre questões
das dificuldades encontradas, questionando: Como você se sentiu simulando uma
pessoa cega? Como você se sentiu simulando o acompanhante? Qual é a melhor
forma que você e seu colega “cego” encontrarão para fazer as atividades juntos?
O objetivo da terceira atividade é permitir que os alunos “experimentem” como
a pessoa com deficiência visual também sente prazer em participar de atividades
nas aulas de educação física. Uma bola de basquete e vendas pretas serão
necessárias para a realização desta atividade. Após formarem duas colunas e
estarem com os olhos vendados os alunos participarão de uma atividade de
competição, simulando uma pessoa cega. A bola que está com os primeiros alunos
das colunas deverão passar a bola por cima das suas cabeças, quando os segundos
receberem a bola passarão para os terceiros por entre suas pernas, estes deverão
passar para os quartos por cima de suas cabeças e, assim, sucessivamente.
Quando as bolas chegarem nos últimos integrantes das colunas, estes deverão
trazê-las para frente e reiniciar o jogo. Será vencedora a equipe cujo primeiro
integrante aparecer novamente no início da coluna por primeiro. Ao final da atividade
promover discusões sobre questões das dificuldades encontradas, questionando:
Qual foi a melhor maneira que o grupo encontrou para trazer a bola até o início da
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coluna e tentar ganhar a competição? Por quê? Que sensação a atividade despertou
em vocês? Será que uma pessoa cega teria essa mesma sensação?
Nas atividades de simulação de pessoas com deficiência auditiva foram
desenvolvidas três atividades.
A primeira atividade tem como objetivo que os alunos tomem conhecimento
de que as “dicas” visuais são essenciais no processo de informação de uma pessoa
com deficiência auditiva. Serão utilizados nesta atividade: aparelho de TV, papel e
lápis para cada aluno. Após ligar o aparelho de TV para os alunos assistirem o filme,
tire completamente o som. Observando as diferentes reações tais como: distração,
dispersão, tensão, etc. No final da atividade promover discussões sobre questões
das dificuldades encontradas, questionando: Como você se sentiu não podendo
ouvir o filme? Quais foram as melhores dicas no filme para que você pudesse
entender o filme? O que precisaria para que as pessoas com deficiência auditiva
entendessem melhor um programa ou um filme?
A segunda atividade de simulação de pessoas com deficiencia auditiva tem
como objetivo permitir aos alunos “experimentarem” as dificuldades que pessoas
com deficiência auditiva têm por não participar do mundo dos sons. O material
utilizado será imã, bandeira e uma bola de handebol. Após a turma estar dividida em
equipes, terá início o jogo de handeboll. As equipes que estiverem jogando devem
estar atentas ao jogo e à arbitragem, combinada anteriormente com o professor, que
a fará com a bandeira. As equipes que não estiverem jogando observarão o
comportamento dos alunos estiverem em quadra. Após determinado tempo, o
professor trocará as equipes. Ao final do jogo, promover discussões sobre questões
das dificuldades encontradas na atividade, questionando: É difícel jogar e estar
atento à arbitragem? Quando os colegas estavam jogando lembravam de olhar para
a bandeira?
Na terceira atividade o professor escreverá no quadro várias palavras e pedirá
aos alunos que formem duplas e que cada aluno escreva em uma tira de papel uma
frase simples e curta com qualquer palavra que esteja no quadro sem que o colega
veja a sua frase. Exemplo: No quadro uma das várias palavras que o professor
escreveu foi corda. A frase escrita por um dos alunos das duplas é: Ontem eu pulei
corda com meu irmão. O aluno que escreveu a frase colocará a fita na boca (para
evitar que fale) e por meio de gestos tentará passar o conteúdo da frase para o
colega de dupla e este tentará compreendê-la. Através de afirmativas e negativas o
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aluno que está gesticulando irá orientando o colega se este está ou não acertando o
que está escrito na frase. Após determinado tempo estipulado pelo professor, o
aluno que estava gesticulando lerá a frase para o colega. Em seguida troca as
funções da dupla. O objetivo é fazer com que“experimentem” a dificuldade de
comunicação enfrentadas pelas pessoas com deficiência auditiva. Reflexões e
relatos devem ser feitos após o término desta atividade, questionando: Como você
se sentiu não podendo falar uma simples frase para o seu colega? É difícil fazer com
que as pessoas entedam o que você quer dizer com gestos?
Foram definidas três atividades de simulação sobre como ser portador de
deficiência física de origem cerebral. Na primeira atividade o professor deverá pedir
para que os alunos tragam meias grossas para a realização da atividade. Em
seguida dividirá os alunos em grupo de 4 integrantes. Cada um deverá vestir a meia
na mão que utiliza para escrever e em seguida brincarão de Stop. Não poderão tirar
a meia das mão enquanto estiverem escrevendo com objetivo “experimentar” a
rigidez muscular das mãos que é consequência de paralisia cerebral. Ao término,
deverão ser feitos relatos e reflexão, sobre: Como você se sentiu escrevendo com a
meia nas mão? Sentiu vontade de desistir?
Na atividade seguinte ainda com o grupo de quatro integrantes e com o
objetivo de permitir aos alunos “experimentarem” a dificuldade de como falar e ouvir
alguém com deficiência na fala, geralmente, consequente de paralisia cerebral. O
professor escreverá no quadro uma frase da sua escolha e pedirá que os alunos
leiam, todos juntos, o que está escrito no quadro com a língua presa nos dentes do
fundo da boca. É importante que o professor participe dessa leitura e reafirme a
seriedade dessa atividade. Em seguida, o professor deve pedir para os alunos que
façam alguns minutos de silêncio para permitir que escrevam, por exemplo, uma
poesia ou um pedaço de uma música ou provérbios, canções infantis, etc. Um aluno
do grupo simula a deficiência na fala lendo o que escreveu para os seus colegas do
grupo. Os outros escutam até que ele termine e então procuram entender o que foi
dito. Se o grupo não conseguir entender, o aluno repetirá a leitura. Se o grupo
continuar não entendendo, o aluno repete a leitura sem simulação. A atividade
termina quando todos do grupo fizerem suas leituras. Ao final da atividade, escrever
no quadro as questões e pedir aos alunos para refletirem silenciosamente nas
respostas sobre: Como você se sentiu simulando a deficiência na fala? Como você
se sentiu ouvindo alguém com deficiência na fala?
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O objetivo da terceira e última atividade de simulação é permitir aos alunos
“experimentar” a limitação dos movimentos do braço que, geralmente, é
consequência de paralisia cerebral. Os alunos, divididos em grupos de 6, ficarão
sentados em círculos. Dois alunos, com o cotovelo encostado no corpo e preso pela
fita crepe. A bola passará de mão em mão dos componentes do grupo. Ao ouvir o
som do apito os alunos devem parar de passar a bola. O aluno que ficou com a bola
na mão “pagará uma prenda” como: dizer um verso, cantar, etc. Repetir mais
algumas vezes a simulação com os mesmos alunos, contemplando todos os alunos
com a simulação.
Ao final da atividade promover discussões sobre questões da atividade,
questionando: Quais dificuldades você teve em passar a bola para os colegas?
Como você se sentiu vendo que os colegas passavam a bola mais rápido que você?
Estas atividades de simulação também foram vivenciadas pelos professores
do grupo de apoio. Após o término das atividades, foram proporcionados momentos
de reflexão e relatos. Nas atividades práticas das vivências da deficiência visual, os
professores tiveram grandes dificuldades em reconhecer os objetos manipulados
com os olhos vendados. Na atividade de locomoção como pessoas cegas, apesar
de conhecerem o local, quando colocada a venda nos seus olhos, para se
locomoverem naquele ambiente, e perguntado onde eles se encontravam nenhum
professor sabia onde estava.
Na simulação de pessoas com deficiência auditiva os professores assistiram a
um filme de vinte minutos com ausência do som, percebeu-se nessa atividade que
houve momentos de dispersão, desinteresse e inquetação. A próxima atividade era
sobre as dificuldades de comunicação. Um professor foi o simulador e usando uma
fita crepe na boca tentou falar uma frase escrita numa folha de papel para os outros
ouvintes. Todos passaram para pelas duas situações. Foram observadas angústias e
nervosismo de ambas as partes, por não conseguirem realizar a atividades.
Nas atividades de simulação de deficiência motora de origem cerebral os
professores colocaram uma meia grossa em uma de suas mãos (a mão que utilizam
para a escrita) e foi pedido que copiassem do quadro um texto com um determinado
tempo para executar tal atividade. Houve certa angústia e negativas por acharem
que não conseguiriam terminar a atividade, devido à lentidão provocada pelo uso da
meia. Na atividade seguinte, foram simuladas as limitações dos movimentos
consequentes da paralisia cerebral. Passado uma fita crepe em torno do tronco,
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para prender o cotovelo ao corpo e dificultar o movimento do braço. Os participantes
formaram um círculo e passaram bolas de diversos tamanhos entre si. Houve
dificuldade em manter a bola na mão, passá-la para o colega com preocupação para
não deixá-la cair.
Ao término, reflexões e relatos sobre estas atividades foram feitos. Quando
perguntado ao professores sobre a experiência destas atividades, a professora A co-
mentou:
Através da inclusão da pessoa portadora de deficiência todos tem a oportunidade de crescer, todos ganham tanto o portador de deficiência que terá oportunidade de desenvolver-se plenamente, quantos seus colegas e todos os envolvidos dentro do ambiente escolar que estarão tendo verdadeiras experiências de cidadania.
A professora B relatou:
Antes de receber um aluno com alguma necessidade especial é fundamental conversar com os alunos sobre o novo colega, desmistificando alguns conceitos para que haja mudanças de pensamentos em relação a esse assunto e também mudança nas atitudes com o novo colega com necessidade especial. Estas atividades fazem com que os alunos coloquem no lugar do outro, neste caso no lugar do colega necessidade especial.
Na sexta etapa foram realizadas leituras e debates sobre os dois documentos
de maior repercussão, em nível mundial, sobre inclusão: Conferência Mundial de
Jomtien e Declaração de Salamanca. Estes dois documentos eram desconhecidos
dos participantes.
Na sétima etapa foi elaborado pelos professores o plano de uma primeira aula
abordando o tema inclusão: No início da aula expor uma gravura grande ou uma
imagem de uma criança com movimentos normais; instigando os alunos para que
falem sobre o que acontece com as crianças que não possuem os movimentos
observados; perguntar aos alunos se conhecem alguma pessoa com deficiência e
pedir para que falem sobre ela; falar sobre igualdade e diferença entre os seres
humanos; finalizar destacando para os alunos que sempre existirão pessoas com
deficiências e que merecem todo respeito.
Na última etapa foi realizada a avaliação do grupo de apoio. Pediu-se aos
professores que avaliassem os encontros e respondessem se eles lhes trouxeram
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alguma significação e contribuição para o seu crescimento profissional. Foram
selecionados alguns destes relatos que serão apresentados a seguir. A professora A
relata que:
O projeto, através de seu desenvolvimento e bibliografia, contribuiu significativamente para meu enriquecimento no trato com crianças com necessidades especiais. Meu trabalho com essas crianças tornou-se mais eficiente e fundamentado. Possibilitou ainda, utilizar as atividades explicitadas no projeto em classe regular, observando o comportamento de todos os alunos e suas reações, no entendimento do respeito às diferenças e as semelhanças individuais.
A professora B faz alguns comentários sobre o material teórico:
A produção de suporte teórico e prático acerca dos assuntos sobre inclusão é algo de grande importância, pois ainda existe escassez de tais materiais. A oportunidade de produzir e ainda poder refletir sobre este assunto com outros professores, oportunizando o crescimento de todos os envolvidos é o ponto o qual considero de maior mérito nesta proposta.
A professora C relata que:
A dificuldade é grande, mas acredito que a insegurança é a maior de todas as barreiras para a inclusão escolar. Recebendo um aluno com necessidades especiais é fundamental conhecer suas dificuldades, para que possamos fazer um trabalho correto e seguro e de propostas não venham trazer risco para o mesmo, para isso temos que buscar informações com outros profissionais especializados na necessidade em questão, temos que também buscar mais informações sobre as deficiências visuais, auditivas e motoras.
Considerações finais
Considerando-se as reflexões e a experiência deste estudo, pode-se concluir
que para participar do processo de inclusão é preciso que o professor, antes de
tudo, esteja pré-disposto a transformar as aulas em espaços que respeitem a
diversidade e conhecer principalmente as necessidades e possibilidades de cada
aluno, assumindo o seu papel de coparticipante no processo de inclusão.
Os resultados deste estudo apontam que os cursos de capacitação
continuada propiciam aos professores novos enfoques que possibilitam mudanças
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na metodologia e no planejamento de atividades, incorporando práticas inclusivas e
avançando nas propostas de construção de uma Educação Física inclusiva.
O projeto foi importante pela possibilidade de levar todo o material pesquisado
sobre práticas inclusivas aos professores, pois há uma lacuna muito grande entre a
formação inicial e a atuação profissional atual.
Incluir não é tarefa fácil. Ela é feita de erros e acertos. O caminho é longo e
nunca estará totalmente definido ou acabado. Para que a inclusão aconteça de fato
é necessário um olhar atento dos professores que incentivem seus alunos a terem
atitudes de respeito que valorizem toda e qualquer diferença.
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. A integração do aluno com deficiência na rede de ensino. Com os pés no cotidiano.
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