Download - Revista Leal Moreira 26
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nº 2
6Leal M
oreira
ano 7 número 26
Conheça a história de Marcos Bassi, o grande “artesão da carne” do Brasil
Bassi
BerlimEdyr ProençaFernando PiresMarcelo Rosenbaum Kamilla Salgado
Aqui tem muito mais felicidade
por metro quadrado.
A felicidade é feita de momentos. Quando o espaço onde sua
família vive é um Leal Moreira, esses momentos se multiplicam.
Cada metro quadrado é pensado por nós com esse propósito.
É por isso que sempre fazemos o convite: viva um Leal Moreira.
Viva o seu Leal Moreira
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Aqui tem muito mais felicidade
por metro quadrado.
A felicidade é feita de momentos. Quando o espaço onde sua
família vive é um Leal Moreira, esses momentos se multiplicam.
Cada metro quadrado é pensado por nós com esse propósito.
É por isso que sempre fazemos o convite: viva um Leal Moreira.
Viva o seu Leal Moreira
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PREVISÃO DE ENTREGA:
OUTUBRO/2010PREVISÃO DE ENTREGA:
JUNHO/2011PREVISÃO DE ENTREGA:
MARÇO/2011
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Sua próxima conquista: um Leal Moreira.
Sua vida já merece um espaço
privilegiado. Escolha viver no
conforto de um Leal Moreira e dê
este prêmio a sua família.
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Caro leitor,
Bons exemplos, desde que o mundo é mundo, são bem-vindos. São eles que nos ajudam a
enxergar as melhores possibilidades e acreditar que forças como talento e criatividade podem ser
a solução para dificuldades que enfrentamos no dia a dia. Em tempos difíceis como estes, ter um
bom espelho à disposição parece ser tão raro quanto necessário. Esta edição da Leal Moreira Living
partiu em busca de alguns deles.
Exemplos como o de Marcelo Rosenbaum, designer que se esforça para, por meio de sua ati-
vidade profissional e a partir da notoriedade conquistada, levar melhorias às condições de vida de
cidadãos menos favorecidos. Ou de Kamilla Salgado, paraense reconhecida como uma das mulhe-
res mais belas do Brasil, que encontra espaço na agenda para apoiar projetos sociais de auxílio a
crianças com câncer em Belém e no interior do estado. Ou do paulista Marcos Bassi, que de carre-
gador de carnes no Mercado Municipal de São Paulo se transformou, com méritos e muito trabalho,
em uma das maiores autoridades do planeta quando o assunto é requinte no preparo de carnes.
Estes três são apenas algumas das personagens que permeiam as próximas páginas. Nesta edi-
ção, também contamos a trajetória do designer de sapatos Fernando Pires, que trocou a arquitetura
pela criação desses eternos objetos de desejo feminino e conquistou a admiração e clientela de
estrelas dentro e fora do Brasil.
Por falar em mundo, quem nunca sonhou em desbravá-lo que atire a primeira mochila. Conver-
samos com pessoas que partem em busca do desconhecido munidas apenas de coragem e - por
opção - completamente sozinhas. Eles, os viajantes solitários, suas histórias, idiossincrasias e boas
dicas se transformaram também são assunto nesta RLM.
A trajetória do artista visual Geraldo Teixeira, a beleza da multicultural Berlim, obras de arte na
decoração de ambientes, a praticidade do “finger-food” e a qualidade dos textos de nossos colabo-
radores, abordando temas que passeiam pelo cotidiano, pela música e pela literatura, estão dispo-
níveis para você a partir de agora.
Um grande abraço e boa leitura.
André Moreira
Criação e coordenação Double M ComunicaçãoRealização Publicarte EditoraDiretor editorial André Leal MoreiraDiretor executivo Hilbert Nascimento (Binho)Diretor comercial Juan Diego CorreaDiretor de criação e projeto gráfi co André LoretoEditor-chefe Elvis Rocha Produção editorial Tyara de La-RocqueIlustrações e design Gabriel “Gabiru” Cavalcante Fotografi a Luiza CavalcanteReportagem Alan Bordallo, Arthur Nogueira, Camila Barbalho, Catarina Barbosa, Deyse Freitas, Guto Lobato, Mayara Luma, Marcelo Damaso, Ricardo Schott.Colunistas Arthur Dapieve, Álvaro Jinkings, Celso Eluan, Edyr Proença, Marcelo Viegas, Nara Oliveira, Rodrigo Aguilera e Saulo Sisnando.Revisão José Rangel e André Melo
Gráfi ca Santa MartaTiragem 12 mil exemplaresComercial BelémEmília RodriguesF. 55 91 [email protected]
Fale conosco: (91) 3321-6869 [email protected]
Leal Moreira Living é uma publicação trimestral da Publi-carte Editora para a Construtora Leal Moreira. Os textos assinados são de responsabilidade dos autores e não refl etem, necessariamente, a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, sem autorização.
Tiragem e distribuição auditadas por
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São PauloRua Geraldo Flausino Gomes, 78 – cjto.33/34Brooklin Novo – São Paulo – SP – CEP.04575-060F.11-3464-6464Sócio Diretor: Antonio Manuel [email protected] Comercial: Isidro de [email protected]. 11 3464 – 6464Cel: 11 8288 – 6489 BrasíliaSQN – 305 – BLOCO “L” – APTº.208 – 2ºANDARASA NORTE – Brasília – DF – CEP 70737-120F.61 – 3328 – 2644Diretor Comercial: Odair Carneirobrasí[email protected] Rio de JaneiroRua Voluntários do Pátria 292/602Botafogo Rio de Janeiro RJ – CEP 22270-010Diretor Comercial: Maurilo [email protected]
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Construtora Leal MoreiraDiretor Presidente: Carlos MoreiraDiretor Financeiro: João Carlos Leal Moreira Diretor de Novos Negócios: Maurício MoreiraDiretor de Marketing: André Leal MoreiraDiretor Executivo: Paulo Fernando MachadoDiretor Técnico: José Antonio Rei MoreiraGerente Financeiro: Dayse Ana Batista SantosGerente de Marketing: Ana Paula GuedesGerente de Clientividade: Murilo Nascimento
Revista Leal Moreira Living
editorial
expediente
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São mais que empreendimentos.São 4 opções de estilos de vida.
pagtripla Quarteto predios LealAgre indd 1 26/08/10 18:52modelo26_RLM01.indd 7 22/09/2010 19:41:55
apresentam:
e
Torre Résidence: Memorial de incorporação Registrado no Cartório do 2º Ofício, sob o nº de matrícula 7227 R.1, livro 2-J.E, 04.05.2009 protocolo 171.653. • Torres Trivento: Memorial de incorporação registrado no Cartório de Registro de Imóveis do 1º Ofício – Comarca de Belém - R-11/43172, em 25/09/2009. • Torres Floratta: Memorial de Incorporação registrado no Cartório de Imóveis do 2º Ofício - Comarca de Belém - R1/8130JH, em 26/11/2009. Protocolo 176.465. • Torre Triunfo: Memorial de Incorporação registrado no Cartório de Imóveis do 2º Ofício - Comarca de Belém – R.1/9099JL, em 26/03/2010. Protocolo 179.191. Impresso em setembro de 2010.
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índice
Kamilla Salgado é uma das mulheres mais bonitas do Brasil. Repre-sentante do país na disputa do Miss Mundo, em outubro, na China, a paraense de 23 anos combina a puxada rotina com o apoio incondi-cional a projetos sociais. Uma beleza que vai muito além.
dicas pg 12
Edyr Proença pg 30
Celso Eluan pg 38
confraria pg 52
horas vagas pg 62
Arthur Dapieve pg 66
galeria pg 68
tech pg 74
gourmet pg 84
vinhos pg 88
institucional pg 91
sex & sábado pg 98
capaMarcos BassiFotografado por Fernanda Brito
esp
ecia
l
Marcos Bassi construiu, ao longo de mais de 50 anos, a sóli-da reputação que o faz ser reconhecido, mundo afora, como o “artesão da carne”. Nada mal para um ex-carregador de vísceras do Mercado Municipal de São Paulo que, hoje, pode se orgulhar de ser a principal referência brasileira no assunto.
perf
il
entr
evis
ta
Berlim, durante parte do século passado, foi conhecida como o grande símbolo da Guerra Fria. Após a queda do Muro que dividia as duas Alemanhas e a reunificação do país, no início dos anos 1990, a cidade passou a ser lem-brada novamente por aquela que é a sua verdadeira voca-ção: ser patrimônio cultural do mundo.
destin
o
beleza
Obras artísticas ajudam a harmonizar ambientes e caem bem em escri-tórios e residências. Então, na hora de planejar a decoração do am-biente de trabalho ou do aconchego do lar, vale a pena ouvir os espe-cialistas e emprestar ainda mais beleza ao seu espaço.
decor
“Quando você vai sozinho, vai mais longe.” Partindo dessa premissa, são muitos os que abrem mão de companhia quando chega o mo-mento de colocar a mochila nas costas e desbravar o mundo lá fora. Conheça as histórias dos solitários por opção.
comportamento
Marcelo Rosenbaum é um idealista. À frente do projeto “A Gen-te Transforma”, no Capão Redondo, em São Paulo, ou coman-dando o quadro “Lar Doce Lar”, do programa Caldeirão do Huck, o designer faz da sua rotina uma batalha para popularizar a profissão e leva-lá àqueles que mais precisam.
Ex-estudante de arquitetura, o designer de sapatos Fer-nando Pires comemora décadas de sucesso absoluto junto ao público feminino. Com uma clientela que vai de Madonna a Hebe Camargo, o paulista conversou com a Revista Leal Moreira sobre trabalho, projetos, fetiches e, claro, sapatos.
ano 7 número 26
Conheça a história de Marcos Bassi, o grande “artesão da carne” do Brasil
Bassi
BerlimEdyr ProençaFernando PiresMarcelo Rosenbaum Kamilla Salgado
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Às vezes a Amazôniaé vista como uma terra de bichinhos estranhos. Alguns já não são tão estranhos assim.
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belém
San Paolo
Quem não dispensa um bom cardápio no jantar aliado à elegância do jazz
como fundo musical precisa conhecer o restaurante San Paolo. Aconche-
gante, discreto e com um toque de refinamento, o San Paolo é a mais nova
opção de gastronomia, localizada em uma das avenidas mais charmosas de
Belém, a Braz de Aguiar . No cardápio, o restaurante traz variedades e ho-
menageia a culinária de alguns países, como o Brasil, Marrocos, Itália, entre
outros. De quarta a domingo, a partir das 21h, o público confere o “Clube de
Jazz San Paolo”, com Esdras de Souza. Durante o dia, o San Paolo também
oferece aos clientes um buffet de segunda a domingo.
Avenida Bráz de Aguiar, 756, Nazaré. Informações: (91) 3224 6210
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Casa D`Noca
Avenida Braz de Aguiar, 728, Nazaré | (91) 3223 8198
Inspirado nos bares da Lapa, do Rio de Janeiro, o bar Casa
D`Noca é o mais novo ambiente na capital paraense para os que
gostam de samba e MPB. Com decoração temática, adereços
que lembram a cultura dos sambistas, dois espaços, um climati-
zado e outro ao ar livre, o bar, em pouco tempo de funcionamen-
to, já ganhou fiéis adeptos de quarta a domingo.
A yogurteria Yoforia é uma deliciosa alternativa para refrescar o calor da Cidade das Manguei-
ras. Discreta, confortável e atraente, é praticamente impossível passar na frente da sorveteria,
na Braz de Aguiar, e não sentir vontade de entrar. Com um cardápio que oferece frozen yogurt,
parfait de frutas, smoothie, toppings, entre outras guloseimas, a franquia da Yoforia em Belém
já conquistou fãs paraenses.
Rua Nove de Janeiro, 1677, São Brás
Yoforia
foto
s di
vulg
ação
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brasil
Peppo CucinaO restaurante Peppo Cucina é um cantinho
especial da gastronomia italiana na capital do
Rio Grande do Sul. Construído em uma casa
da década de 50, o local conserva alguns tra-
ços históricos na decoração, mas traz também
tendências da arquitetura moderna. Um am-
biente agradável, charmoso, sofisticado, infor-
mal e ótimo para quem deseja degustar bons
pratos inspirados na culinária da Itália, desde
os mais tradiconais aos mais ousados. Molhos
agridoces, massas recheadas com especia-
rias e risotos com carne de caça são algumas
delícias do menu do Peppo Cucina. O balcão
rústico no local é cenário para a variedade de
bebidas e saborosos petiscos, além da carta
de vinhos com os melhores exemplares con-
servados em adega climatizada. Para quem
está em Porto Alegre, é imperdível!
Localizado no bairro do Bexiga, em São
Paulo, o Templo da Carne traz especiali-
dades variadas no cardápio de carnes e
saladas. A cozinha é assinada pelo pró-
prio dono do restaurante, Marcos Bassi,
que, não à toa, é conhecido no universo
da gastronomia como “artesão da car-
ne”. Entre as opções do menu, estão a
Bisteca fiorentina, considerada a melhor
da capital paulista, além das suculen-
tas picanhas, carré de cordeiro, costela,
entre outros. Um ambiente belo, que na
decoração tem o charme de revestimen-
to em tijolos aparentes e iluminação sua-
ve, além de diversidade de espaços que
vão desde o salão de refeições até um
bar, uma adega e uma sala dedicada a
eventos gourmet. A adega abriga mais de
1.500 vinhos nacionais e importados.
Templo da Carne
Rua Treze de Maio, 668 | São Paulo - São Paulo, Bela Vista - Centro | (11) 3288 7045/ http://www.templodacarne.com.br/
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mundo
Honigmond
Plaza Athénée
Durante uma estadia na capital ale-
mã, vale a pena conferir as espe-
cialidades servidas por este clássico
café-restaurante. Fundado em 1920,
em um prédio de estilosa arquitetu-
ra, o Honingmond oferece tanto es-
pecialidades da cozinha alemã, onde
a batata certamente será um dos
ingredientes, como outros sofistica-
dos pratos da cozinha internacional.
Alguns pratos vegetarianos também
são servidos no local como o objeti-
vo de atrair a mais variada clientela.
Reservas para almoço ou jantar são
sempre aconselháveis em caso de
grupos maiores.
A Dior Institut e o Plaza Athénée são a perfeita combinação entre Instituto de be-
leza e Hotelaria, em Paris. O local é pura excelência, requinte e inovação. Quem
procura boa hospedagem, o Plaza oferece um dos melhores serviços parisienses
de hotel, e inclui, em alguns pacotes, translados de limusine para o cliente. Para
se embelezar ou simplesmente relaxar em um SPA, a Dior Institut é a dica. Insta-
lada no próprio Plaza Athénée, a Dior Institut possui uma variedade de tratamen-
tos de beleza para homens e mulheres, que vão desde cuidados com o rosto e
corpo até sessões de relaxamento. Além disso, no local são encontrados centro
de fitness, sauna hammam, salas com quarto de casal, lounge, entre outros atra-
tivos. Em Paris, é mais uma das paradas obrigatórias.
25 avenue Montaigne, 75008 Paris, France / http://www.plaza-athenee-paris.com/spa-fitness
Borsigstrasse, 28 - Mitte (Berlim)/ http://www.honigmond-berlin.de
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perfil
Kamilla Salgado: beleza paraense conquistando o mundo
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Alémdabeleza
Kamilla Salgado, a mulher mais bonita do Brasil,prepara-se para mostrar ao mundo o que a paraense tem
“O mais importante não é fazer boni-
to, mas sim a mensagem que você
quer passar.” A frase pontua bem
a imagem que a paraense Kamilla Salgado, 23,
quer transmitir ao mundo. Engajada em projetos
sociais, a mulher mais bonita do país administra
quatro lojas com a ajuda da mãe, faz um MBA
(Master in Business Administration) em gestão
empresarial e ainda concilia tudo isso com um re-
lacionamento de quatro anos e meio.
Cumprindo o reinado de miss, Kamilla Salgado
quer usar sua visibilidade para ajudar ainda mais
os projetos sociais dos quais faz parte. Ligada à
família e principalmente à mãe, a jovem gosta de
livros de suspense e músicas que a fazem dançar,
foi bailarina na infância e esportista na adolescên-
cia, chegando a representar o Pará na seleção de
basquete feminino. Além disso, fez natação por
10 anos por recomendação médica, por causa da
asma.
Em uma entrevista descontraída, concedida
em seu apartamento em Belém – um dia antes
de se mudar para São Paulo –, Kamilla, na com-
panhia de Lex Of York News, um maltês de dois
anos, que não desgruda da dona, falou sobre o
concurso, o amor pela família, a mudança para
São Paulo, o carinho pela Praça Batista Campos,
a dedicação ao projeto da Casa do Menino Jesus
e a preparação para o concurso Miss Mundo, que
acontece no dia 30 de outubro, na China. »»»
Catarina Barbosa Jaime Souzza
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Você é a primeira paraense a conquistar o título de Miss Mundo Brasil. Qual é a sensação de ter sido elei-ta a mulher mais bonita do país?
É uma honra. Eu me sinto muito feliz em levar o
nome do Pará a uma visibilidade nacional em termos
de mulher, beleza, simplicidade e conteúdo. É uma
imagem que estou tentando passar o máximo que
posso, pra dar às mulheres paraenses o que elas re-
almente merecem: o reconhecimento por serem in-
dependentes, por se esforçarem em conciliar a vida
profissional e pessoal, por correrem atrás dos seus
objetivos, por serem verdadeiras guerreiras.
Você está de mudança para São Paulo. Como vai ser ficar longe da família?
Essa é a parte mais difícil com certeza, porque eu
nunca morei longe da minha família. Além do con-
curso na China, há uma agenda extensa para cum-
prir durante o ano inteiro e também os contratos fora
do Brasil. Então, até outubro, como a preparação vai
ser intensa, fica realmente difícil ver pai, mãe, namo-
rado, irmãs. Mas depois do concurso, seja lá qual for
o resultado, eu volto pra minha terra, se Deus quiser
com o título, então terei tempo para ver todo mundo.
Do que vai sentir mais saudade de Belém?Tirando a minha família, amigos e as pessoas que
eu amo aqui, a culinária e a cultura. Em Belém, nós
temos certas peculiaridades: a dança, a comida
– que é fantástica –, o clima, o cheiro da cidade, a
chuva da tarde, essa sensação de que tudo é per-
to. Eu vou sentir falta dessa cidade grande/pequena
ao mesmo tempo. Você vai a uma festa ou a um
barzinho e sempre encontra gente conhecida. Fora
isso, os gostos do paraense, que são praticamen-
te os mesmos, ou seja, você mistura um pouquinho
de tudo: forró, brega, MPB, tudo em uma noite só.
O acolhimento também é algo muito elogiado. Vou
sentir falta do povo da minha terra.
Você vai morar em que local em São Paulo?Vou morar no apartamento das misses. Ainda não
sei como vai ser, mas parece que eu vou morar com
a miss do ano passado. Eu vou a São Paulo só ar-
rumar minhas coisas e na seguida sigo para o Rio
Grande do Sul para uma maratona de entrevistas e
homenagens. Depois vou direto para o Rio de Janei-
ro, onde vai ter um programa da Unidos da Tijuca,
porque eu vou sair como destaque do Carnaval do
ano que vem. Depois a gente volta pra São Paulo
e aí eu irei para a Venezuela, onde terei 20 dias de
maratona intensa.
Como será a preparação na Venezuela?É preparação pra miss. Eles são especialistas no
assunto. Na verdade quem vai me tratar é o “missó-
logo” mais famoso que existe: Alexander Gonzáles.
Ele é muito bom e competente. Este ano, ele não
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vai tratar nem a Miss Mundo Venezuela, só a Miss
Mundo Brasil. Então é uma equipe que está apos-
tando todas as fichas em mim.
Eu percebo que você tem uma paixão por proje-tos sociais. Você já participava de algum antes ou teve a oportunidade de desenvolver esse lado por causa do concurso?
Antes do Miss Mundo Brasil, eu participei do
“Natal dos amigos”. Eles arrecadam brinquedos e
no dia do Natal doam para uma creche. Lembro
que, em 2008, quando eu ainda era Rainha das
Rainhas fui a uma creche entregar o presente para
as crianças. Eu dei, pessoalmente, o presente de
cada uma delas e foi um momento mágico pra
mim. Às vezes, você ir a uma instituição de carida-
de abraçar, conversar, ouvir uma pessoa já é uma
ajuda. Então, como miss, eu sei que tenho mais
visibilidade e quero fazer disso uma causa boa,
que realmente ajude quem precisa. Além do “Na-
tal dos amigos”, participei de movimentos contra
a violência e o trabalho escravo.
Você ganhou o “Beleza com Propósito” – uma etapa que soma pontos dentro do concurso Miss Mundo Brasil – e escolheu a Casa do Menino Jesus como instituição para receber a ajuda. Hoje, a Ins-tituição passa por uma reforma com a colaboração da Leal Moreira. Como você se sente em relação ao projeto?
Pra mim foi Deus que colocou esse projeto na
minha vida. Eu precisava entregar o relatório do
“Beleza com Propósito” e pra isso visitei umas 15
instituições e fui atrás de vários patrocínios. Só
que a maior parte delas não estava regularizada
e comecei a ficar aflita. Em uma conversa com a
minha mãe e a minha cunhada tocamos no nome
da “Casa do Menino Jesus” e eu fui lá. Depois que
entrei no local e comecei a conversar com a irmã
Silvanice – que toma conta da instituição – eu ti-
nha certeza que era aquele lugar que eu ia querer
ajudar.
Por que você se sensibilizou mais com esse pro-jeto?
Eu me emocionei muito com a questão apela-
tiva da casa. São crianças com câncer, doenças
cardíacas, nos rins. Conseguimos uma doação
de 20 mil reais e uma semana depois o dinhei-
ro já estava com a irmã Silvanice, que conseguiu
adiantar bastante a obra de reforma da instituição
e também vai comprar remédios para as crian-
ças. A Casa do Menino Jesus é um projeto que
quero levar para o Miss Mundo. É um projeto que
eu quero levar adiante. Tenho outras coisas em
mente para ajudar ainda mais e a minha coorde-
nação também.
Falando em projetos, você recebeu duas bolsas de estudos como prêmio do concurso. Você já deci-diu o que irá fazer?
Ainda não. Um dos prêmios é uma bolsa na
Oswaldo Cruz, no valor de 100 mil reais e outro é
uma pós-graduação na COC em São Paulo, que
também é excelente. Então eles são úteis tanto
para a minha carreira como artista – eu poderia
fazer jornalismo com a graduação – quanto para
a de administradora, onde eu poderia fazer uma
graduação em economia, contabilidade ou psico-
logia para atuar na minha área de executiva ou
ainda um MBA em marketing, que também é uma
área que me interessa bastante.
Alguma pessoa que admira?A minha mãe. É uma excelente empreendedo-
ra. Uma pessoa que eu sempre admirei: esforça-
da, mãe, presente em todos os momentos. Ela é
um espelho pra mim.
Quero usar a visibilidade de ser miss para causas boas,
ajudando quem precisa
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CIA Belém Lançamentos Imobiliários. Rua dos Mundurucus, nº 3100, 20° andar - Ed. Metropolitan Tower - Belém - PA - CRECI J-300. Diariamente das 08h às 18h, inclusive sábados e domingos. Leal Moreira Imobiliária. Rua dos Mundurucus, nº 3100, Sala 13 - Ed. Metropolitan Tower - Belém - PA - CRECI 305-J. Diariamente das 8h às 18h, sábados e domingos no estande de vendas. Os materiais e os acabamentos integrantes estarão devidamente descritos nos documentos de formalização de compra e venda das unidades. Plantas e perspectivas ilustrativas como sugestão de decoração. Os móveis e o acabamento representados nas plantas não fazem parte integrante do contrato. As medidas são internas e de face a face das paredes. Vitta Offi ce Memorial de Incorporação registrado no Cartório de Imóveis do 2º Ofício - Comarca de Belém - RG/9680JN, em 16/06/2010. Protocolo 181.328. Impresso em setembro de 2010.
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perfil
Da arquitetura para o design de sapatos, Fernando Pires fez a escolha certa. Hoje é um dos profi ssionais mais festejados em sua área de atuação.
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Arquitetovaidadeda
Ex-estudante de arquitetura, designer de sapatos Fernando Piresbrinca com o imaginário feminino e faz de suas coleções sucessos de vendas
Fernando Pires não precisou construir se-
quer um prédio para ser considerado um
dos maiores arquitetos da atualidade. Mas
não um arquiteto comum, destes que fazem ca-
sas ou decoram apartamentos. Fernando é um
arquiteto da beleza e da vaidade feminina, des-
de o dia em que desistiu de vez da arquitetura e
passou a desenhar sapatos que são verdadeiras
obras de arte. Há cerca de vinte anos no ramo,
Fernando contabiliza mais de quatro mil criações,
que costumam circular em pés famosos, como os
de Hebe Camargo, Claudia Raia, Adriane Galisteu
e até de Madonna. Nesta entrevista, o designer
fala sobre sua carreira, a crise econômica e culpa,
com bom humor, a Cinderela pela obsessão femi-
nina por calçados.
Você estudou arquitetura, chegou a se formar, exerceu a profissão e até hoje parece que gos-ta muito dela. Como foi a decisão de mudar para moda?
Eu não decidi nada. Até hoje ainda não decidi.
Foi a vida que me empurrou para esse outro ca-
minho. Tudo começou com uma cliente que me
contratou pra fazer uma casa no interior de São
Paulo. Na época, anos 80, eu morava em San-
tos e era cerca de quatro horas para chegar até
lá, então sempre levávamos algumas revistas no
carro e íamos tagarelando sobre moda. Quando a
obra acabou, nós já estávamos tão próximos que
ela me convidou para fazermos sandálias juntos
e vender no litoral. Na hora, eu não entendi nada.
Eu já tinha feito roupa com a ajuda da minha mãe,
que era costureira. Durante a faculdade, cheguei
a vender algumas peças para uma butique de
Santos. Quando ela falou em fazer sandália, lem-
brei de um sapateiro que tinha ao lado da casa da
minha mãe, fomos lá e fizemos uma peça, que
logo foi vendida. De uma fiz duas, depois quatro,
oito, dezesseis...Percebi que não podia mais con-
tinuar sendo arquiteto pela tarde e brincando de
sapateiro de manhã. Foi quando pedi demissão,
montamos uma microempresa, chamada Ponto
de Apoio, em Santos, que durou até 1989. Depois
disso, pensei em voltar para a arquitetura, mas os
sapateiros que trabalharam comigo não me dei-
xaram mais. Iam à porta da minha casa, ficavam
batendo palma, me pedindo pra voltar. Voltei e aí
começamos toda a brincadeira do zero de novo.
Costuma-se falar que o mundo da moda é muito fechado, que é difícil conseguir um espaço de des-taque. Você concorda com isso? Como foi a con-quista do seu espaço?
Olha, eu acredito que sim, que deva ser mui-
to difícil mesmo. Mas, para mim, foi um caminho
tão natural, tão espontâneo, eu não tive que suar
muito para conseguir o meu espaço. Mas, no iní- »»»
Mayara Luma Fernanda Brito
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Todos os modelos para todos os gostos: marca registrada do designer
cio, não pretendia chegar aonde eu cheguei. Para
mim, fazer sapato era sempre uma coisa que eu
ia fazer só mais um, sempre esperando para ver
até onde aquela brincadeira ia chegar.
Mas também tem muito de talento, não é?É...Mas isso é uma coisa que é Ele, lá em cima,
quem comanda. Acho que todo mundo tem chan-
ces iguais, alguns agarram, outros, talvez, nem
mereçam. Acho que tem muito de merecimento
também. Mas, por trás de tudo, está sempre o de
lá de cima. Se Ele não desenhar lá em cima, eu,
aqui embaixo, também não desenho.
Você está sempre falando sobre essa ligação com a luz, com Deus...
Estudei Cabala por causa da Madonna (de
quem Fernando é fã incondicional) e, lá, Deus é
dito como a luz, por isso é que estou sempre fa-
lando dessa conexão necessária com a luz. Por
exemplo, tem dias que quero desenhar, que pre-
ciso desenhar, mas a conexão com a luz não vem
e aí não adianta, preciso desistir e tentar em outra
ocasião. E mesmo quando eu insisto em dese-
nhar, em cortar e montar sapato sai cada coisa
horrorosa e, vendo a peça pronta depois, penso:
“Meu Deus, eu não fiz isso!”. Mas é assim mes-
mo, são dias que não consigo a conexão com a
luz, talvez porque tenha feito alguma coisa ruim,
xingado no trânsito ou tenha sido reativo com al-
guém. A Cabala era um caminho que eu já se-
guia, mas intuitivamente, e, depois que comecei a
estudar, passei a seguir ainda mais.
E falando em inspiração, de onde vem a sua?Comigo, essa coisa de criar, às vezes funcio-
na muito mais sob pressão, quando eu tenho
uma data, um estande comprado em uma feira
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e a coleção tem que estar pronta para ser apre-
sentada. Quando faltam cinco dias, geralmente,
eu fico melhor, mas aí já não dá tempo de fazer
muita coisa (risos). Acontece que as melhores
peças quase sempre são essas, as que eu faço
na adrenalina, em dois segundos, desenho e já
corto, às vezes, não dá tempo nem de montar os
dois pés, aí, monta um só mesmo. Nessa corre-
ria, sai muita coisa boa.
E sobre a expansão da marca? Recentemente foi aberta uma loja em Curitiba, não é?
Na verdade, não é uma loja Fernando Pires,
não acho que eu tenha um mix de produtos
grande que justifique ter uma franquia, mas é
uma loja exclusiva chamada “House of shows by
Fernando Pires”. Quase no Brasil inteiro já se en-
contra alguma coisa de Fernando Pires, a maio-
ria é vendida em lojas multimarcas. Inclusive,
tem uma pessoa que tem conversado comigo
para começar a vender meus sapatos em Be-
lém, espero acertar essa questão o mais rápido
possível.
O que você julga que tenha de diferente para continuar na mídia, mesmo com tantas grifes exis-tentes hoje?
Olha, acho que a mídia e os produtores de
moda entendem o sapato como conceitual. E
como eu não tenho tanto – é lógico que sempre é
preciso ter – uma preocupação com o comercial,
muitos sapatos eu faço por prazer mesmo, o que
eu quero, o que eu gosto, às vezes é arte pura.
Não quero saber se vai vender 50 ou 100 pares,
eu quero que aquele modelo esteja na coleção.
E o melhor é que sempre vão ter umas loucas
que vão querer. Acho que na hora de fotografar,
é o que eles buscam mesmo, peças conceituais. »»»
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Está virando uma tendência o lançamento de li-nhas mais em conta por estilistas famosos. O Ale-xandre Herchcovitch e a Isabela Capeto, por exem-plo, fizeram coleções para uma grande loja de departamentos. Você também lançou uma nova linha mais acessível, não é?
O meu caso é diferente. Os dois que você citou
estão licenciando o nome para a loja e assinan-
do, talvez também desenhem. Já eu me ocupo
de tudo, não estou fazendo para outra loja, sou eu
mesmo. Já estamos na terceira coleção da linha
Fernando Pires Chic (www.fernandopireschic.com.
br), na qual os sapatos têm preços bem mais aces-
síveis. Eu terceirizei a produção – não tinha como
fazer na minha fábrica, onde toda a mão de obra
é de artesãos, como antigamente, e é tudo total-
mente em couro - e investi em sapatos com saltos
não tão altos, rasteiras, os enfeites já vêm prontos
da China, então, por tudo isso, conseguimos ofe-
recer sapatos mais baratos nessa linha. E resolvi
fazer isso por uma série de motivos. Todos os dias
a gente recebe um monte de emails de pessoas
dizendo que o maior sonho é ter um Fernando Pi-
res, mas que não têm condições de comprar. Aí,
sempre me perguntam se não tem um usado por
aqui ou com algum defeito para ser vendido por
um preço mais baixo. Essa nova linha vem, então,
para atender um público maior. Sem contar que
isso vai me dar um respaldo para eu continuar brin-
cando na minha loja, porque com o volume de pro-
dução daqui não dá nem pra pensar em ficar rico.
E as pessoas também podem encontrar sapatos seus com preços bem legais no site www.bazarfer-nandopires.com.br. Como é que funciona esse site?
Pois é, lá é minha ponta de estoque, todos os
sapatos com preço de fábrica chegam a ter 60%
de desconto. Todos os dias saem caixinhas e cai-
xinhas deles para o Brasil inteiro.
Você ficou conhecido pelos saltos altíssimos. O seu conceito de elegância está ligado a isso? Uma mulher precisa estar de salto para ser elegante?
Acho que uma mulher não pode sair de casa
sem salto; a não ser para trabalhar o dia inteiro,
lógico, é preciso ter bom senso. Mas, para sair à
noite, para um evento tem que estar de salto. Para
mim, é algo indispensável! Acho que é o símbolo
maior da feminilidade, é uma coisa que homem
não usa e nunca vai usar.
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Para mim, o mundo
se divide na esquina
da Tiradentes com a
Quintino Bocaiúva. Ao
menos, para os que
usam a Tiradentes, em
direção ao centro. Ex-
plico: o trânsito é forte e
recebe carros da Antonio
Barreto, bem como da
Doca. É uma subida inten-
sa, e desafia a habilidade
dos motoristas em man-
ter o carro embreado, mas
parado. Quase chegando à
tal esquina, uma faixa contínua avisa, segundo as Leis de Trânsito,
que está proibida a ultrapassagem. Portanto, quem quiser dobrar à
direita, para a Quintino, deve, bem antes, escolher o seu lado, bem
como os que seguirão em frente. Mas aí é que está. Enquanto uma
minoria, que seguirá em frente, obedece às instruções, a maioria, fiel
à máxima de “sou brasileiro e tenho de levar vantagem em tudo”,
aproveita-se e vem, lépida, esperta, alegre e saltitante, ultrapassando
os “idiotas obedientes”, seguindo em frente, ganhando alguns metros,
se tanto. Vale a pena se preocupar com isso? Bem, eu me preocupo.
Infelizmente, para mim, vem de dentro uma espécie de espírito puni-
tivo, talvez de outra encarnação em que posso ter sido um daqueles
legionários que surravam escravos na galé onde estava Ben Hur, sei
lá, pois vem de dentro, num crescendo, e preciso reagir. Acho que
faço a minha parte.
Há motoristas de táxi, e me vem uma baba sagrada, por sabê-los
interessados em qualquer nesga por onde possam levar vantagem.
Há garotos em carros fantásticos, enormes, ansiosos para demons-
Edyr Augustoescritor
trar sua ousadia e competência, em driblar os bobalhões, ali, na fila.
Há estúpidos, sempre aborrecidos, que cometem o ato, meramente
por grosseria. E mulheres com falso ar ingênuo, tentando levar vanta-
gem. Eu gosto. Antevejo. Percebo sua chegada discreta, atabalhoada,
dissimulada, agressiva. Vejo nisso, um quadro da nossa sociedade.
Toda a má educação, a falta de cultura e civismo que nos assola, não
interessa a marca e o ano do carro. Eles se aproximam, certos de que
no momento preciso, me cortarão a frente e ganharão os tais metros,
saindo felizes, sorriso no rosto, pensando “mais um idiota para trás”.
Só de pensar, me dá um arrepio. Eles vêm, com a certeza da impuni-
dade. Não tem a ver com superioridade econômica, luta de classes,
sei lá. É preciso boa noção de espaço, domínio do carro e do tempo.
Sangue frio. Dissimulação. Estamos lado a lado. Com um discreto
olhar, de relance, percebo sua intenção, a respiração do carro, com
seu pé no acelerador, a posição em diagonal para realizar a manobra.
Percebo sua intenção. Permaneço estático, como um leso, mais um
leso a ser enganado, vencido. Fico ali, inerte. É preciso manter mínima
distância do carro à frente, mesmo que seja uma subida. É agora.
Uma pequena aceleração e o bico do meu automóvel toma a frente,
para susto do oponente. Ué, o que aconteceu? Pior, a partir daquela
esquina, a Tiradentes fica mais estreita, exatamente para a esquerda,
de onde vêm os obedientes “idiotas”. Assim, com o bico do carro à
frente, resta ao então confiante e panaca do outro carro, a calçada,
a não ser que freie, repentinamente, inesperadamente, um corte nas
suas certezas, e aguarde a próxima nesga, para, ainda assim, fazer
valer sua manobra irregular.
Minha mulher se irrita com meu ato, por mais que concorde ser um
absurdo aquela esquina. Estamos juntos e vamos chegando ao pon-
to. Ela, no banco do carona, percebe o “adversário”. Sabe o que vou
fazer. Reclama. Eu sei que ela me olha, mas estou ocupado, traba-
lhando. Digo para não torcer contra. Quero sua cumplicidade. Depois,
é só olhar pelo retrovisor suas pragas, reclamações, como garotos
apanhados em travessura. Alguns vêm atrás, ligam farol alto, querem
vingar-se, mas a rua é estreita, não permitindo ultrapassagem e al-
guns metros adiante, a maioria cai em si e percebe que estava errada,
deixando para lá. Também não é toda vez que venço a parada. Há
alguns mais rápidos, sagazes, audaciosos ao ponto, último ponto, em
que decido perder a parada a talvez, machucar meu carro. Fico irri-
tado, mas alguns metros depois, já passou. Minha mulher não gosta,
mas já me confessou ter feito a mesma coisa, estando ao volante,
talvez, ela me disse, por estar na TPM. Não tenho TPM, nada assim,
a não ser as irritações do dia a dia, mas para mim, o mundo se divide
naquela esquina. Já vi outros “colegas” fazendo a mesma coisa. Que
bom não estar sozinho nesta guerra. Alivia o peito. Amansa o tal “es-
pírito punitivo”. Mas antes de tudo, é um pedido a cada um, para que
retornemos à civilização e suas leis. No mais simples ato, como esse,
na esquina da Tiradentes com a Quintino, está resumido todo o nosso
problema. O mundo se divide ali. De que lado você está?
MundoOnde
Divide
o
se
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31Rua Antônio Barreto, 127 ( próximo a Doca) - Umarizal - Belém - Pará Tel.: (91) 3075-9400 * Informações publicadas pela Suzuki Motor Corporation no site http:// www.globalsuzuki.com/globalnews
100 ANOS DE INOVAÇÃO
VENHA FAZER UM
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comportamento
No interior da Argentina, o fotógrafo Dener Pastore curte o prazer de ser um viajante solitário por opção. Como ele, muitos preferem não ter amarras quando o assunto é desbravar o planeta.
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Marcelo Damaso Arquivo pessoal
mundoSoltosno
As histórias dos que partem rumo ao desconhecidotendo um mochilão como a única companhia
“QQuando você vai sozinho, você vai
mais longe.” Com uma sentença tão
desafiadora e libertária como esta, é
quase impossível para uma pessoa que se acos-
tumou a viajar só pensar em arrumar um parceiro
de viagem depois de já ter vivido grandes experi-
ências. Fátima Pinheiro, bancária aposentada, diz
a frase durante a entrevista com muita proprieda-
de e segurança, a mesma que se percebe nos
outros entrevistados, que planejam e executam
suas viagens traçando um caminho para os pró-
prios passos.
Fátima viaja só. Assim como a jornalista Pollyan-
na Bastos e o fotógrafo de polícia científica de São
Paulo Dener Pastore. Cada um fala de seus mo-
tivos (nem sempre parecidos) para não ter um
parceiro de poltrona ou para dividir o quarto. E o
que mais influencia nesta opção solitária é a tal da
liberdade, que é o que faz com que os aconteci-
mentos “naturais” tracem o roteiro da viagem.
A mochila simboliza liberdade. O que cabe nela
é o suficiente para dar um mergulho no desconhe-
cido e embarcar em aventuras que podem render
emoções e muita história pra contar. Basta esco- »»»
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lher um lugar do planeta, dar asas à inquietação
e usufruir do mais alto grau de liberdade que o
ser humano pode ter, seja em qualquer país da
Europa como em Caracas, a capital venezuelana.
Em paz com a concepção de que uma viagem
pode ser melhor sem depender de ninguém, a
jornalista Pollyanna Bastos experimentou conhe-
cer a Venezuela e Cuba dando os próprios pas-
sos e dispensando qualquer ideia de perigo para
uma mulher que viaja sozinha. “Nunca viajei com
namorado, então não sei se viajar em casal seria
bom. Mas com amigos é difícil. Quando eu viajei
para a Europa fui com uma amiga, e em menos
de uma semana nossa convivência já estava pés-
sima. Ela gostava de dormir até tarde, eu não que-
ria perder um minuto. Então começamos a nos
separar. Eu ia para um canto e ela para o outro, e
foi ótimo assim.” Foi a partir daí que Polly ganhou
confiança para viajar sozinha e ser dona de seu
próprio roteiro e horários, sem depender de nin-
guém.
E é a mesma liberdade que conduz as viagens
do fotógrafo Dener Pastore. “Sempre viajei só,
prefiro. Acho bem melhor você ter a liberdade
de decisão sobre quaisquer questões que surgi-
rem na viagem”, conta Dener, que percebeu isso
desde a primeira viagem que fez sozinho. “Nunca
gostei de grupinhos”, destaca.
Dener tem a seu favor o trabalho que lhe propor-
ciona uma escala de folgas flexível. Trabalha em
regime de plantões, cumprindo 24 horas e gozan-
do 72 de folga - isso com a possibilidade de trocar
os plantões com outros fotógrafos e acumular fol-
gas ao preço de trabalhar seguido. “Minha média
de viagens anuais já foi bem maior. Lembro que
em um ano fiquei cinco meses fora de minha ci-
dade. Isso contando os períodos ‘picados’”.
Ele já rodou pela Europa, Brasil e América do
Sul. Um de seus pontos favoritos é Belém, onde
já esteve por cinco anos seguidos fotografando o
Círio de Nazaré. “Nesse segundo semestre voltei
pra faculdade e estou deixando as viagens meio
de lado por agora, mas minha próxima será a visi-
ta anual a Belém em outubro mesmo.”
Desvantagens
“A desvantagem é que alguns custos se tornam
mais altos, em alguns lugares é difícil achar hos-
pedagem para solteiro, por exemplo. Então tenho
que pagar pelo quarto sozinha, sendo que, se eu
estivesse com alguém, poderia dividir e o preço
da hospedagem, que cairia pela metade”, conta
Polly, sobre uma das desvantagens de viajar só. A
outra, ela diz, é a de não ter com quem dividir as
A jornalista Pollyana Bastos se aventurou por Cuba e Venezuela, enquanto Fátima optou pela Europa. Ambas não abrem mão de traçar os próprios roteiros sem a interferência de terceiros.
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histórias interessantes que podem acontecer na
viagem. Nessas horas ela acaba gastando tempo
e dinheiro no telefone ligando para a família.
Fátima também aprendeu que sozinha as pos-
sibilidades de se fazer uma viagem exatamente
como se planejou são bem maiores. Ela sempre
viu em suas férias uma necessidade muito grande
de sair de sua cidade e conhecer o mundo. “Pa-
recia que eu trabalhava só para poder tirar férias.
Nas minhas viagens eu sempre saio de Belém
sozinha, mas acabo encontrando pessoas em
outros lugares ou amigos que se encontram co-
migo”, conta.
Quando foi para a Suíça, ela lembra que não
tinha contato nenhum, mas que um sobrinho ha-
via ido e conhecido um morador local. Ela pegou
o e-mail, escreveu e foi recebida pela anfitriã que
nunca a tinha visto na vida.
Facilidade
O processo de viajar só e já contar com alguma
facilidade tem sido algo cada vez mais constante
graças à internet e ao fluxo de informações dadas
por publicações sobre o tema. Sites como Hospi-
tality Club e Couch Surfer (ver Box na página 36)
proporcionam estes intercâmbios com pessoas
que tem em comum o fascínio por viagens, co-
nhecer novas culturas e pessoas.
A publicação Lonnely Planet pode se tornar
uma bíblia para quem gosta de viajar só. A Lon-
nely Planet (www.lonnelyplanet.com) desenvolve
seus guias por meio do site e em livros e revistas,
além de formatos mais modernos e perfeitos para
mochileiros hi-techs, como guias em CD-ROM e
Ipads.
E entre todas as vantagens contadas por quem
gosta de viajar só, a maior delas está nas histórias
interessantes que se acumulam pelos quilômetros
percorridos. Como Polly, que se viu em um barco
no Caribe com o motor quebrado em meio a onda
violentas. E a de Dener, que apressado para pegar
um trem na Bolívia, fez uns sanduíches simples
de queijo e serviu para umas mulheres bolivianas,
que achavam que se tratava de uma comida típi-
ca brasileira.
Tem momentos que não é uma presença ao
lado que vai fazer com que a magia se estenda.
E que também não é uma boa narrativa que vai
descrever o que aconteceu. As fotografias servem
para ajudar a memória, mas as sensações de se
viajar só vão mais além do que equipamentos re-
gistram. “Eu gosto das sensações, da liberdade,
do vento no rosto, do tato. Nada disso cabe em
foto”, finaliza Polly.
Dener já chegou a passar cinco meses longe de casa em viagens que incluem América Latina, Europa e os quatro cantos do Brasil
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DICAS DOS VIAJANTES
Se o texto acima despertou uma vontade de
experimentar sair por aí sozinho, pegue algumas
dicas com nossos viajantes solitários, que servirão
não só para lhe fazer planejar melhor a viagem,
como a tomar certos cuidados e encarar alguns
desafios:
Fátima Pinheiro
O site www.hospitalityclub.com. O site é como uma
rede de relacionamento, mas dedicado somente
a quem tem a intenção de viajar. Um dos mais
conhecidos é o Couch Surfer, que como o nome
sugere, reúne pessoas que disponibilizam lugares
para abrigar viajantes em troca de disponibilizar
sua casa também. Fátima diz que o Couch Surfer
é dedicado mais a viajantes jovens. Ela revela que
no Hospitality Club é voltado para pessoas mais
velhas. Ela destaca os métodos de avaliação para
quem hospeda e é hospedado.
Dener Pastore
“Uma das coisas mais legais de viajar só é não
estar fechado ao próprio grupo e aos valores e
preconceitos que, inevitavelmente, se acaba le-
vando junto. A dica é aproveitar o momento de
estar só e se abrir pra conhecer outros viajantes
e principalmente o povo da região que se visita,
que sempre tem coisas muito interessantes para
nos passar sobre sua própria cultura e visão de
mundo.”
Pollyanna Bastos
“Acho que a dica mais importante é não ter
medo! Depois de uma experiência assim, você
passa a ser uma pessoa mais confiante e aprende
que pode se virar sozinha em diversas situações.”
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Celso Eluanempresá[email protected]
Estou convencido: estamos em meio a uma guerra civil no país. A
violência urbana assumiu tais proporções que pode ser percebida por
qualquer um, de qualquer classe social em qualquer grande cidade.
Não vou me estender muito sobre essa percepção, pois certamen-
te quem me lê já teve alguma experiência ou relato de experiência
traumática. Apenas acrescento a minha mais recente, citando o caso
da filha de um grande amigo recentemente baleada na fuga de um
assalto na região da Doca, em seu carro.
Os números ajudam no argumento. Dados de 2008 apontavam
uma média de 46 mortes violentas durante o conflito no Iraque para
cada 100 mil habitantes. No mesmo período, de acordo com
a ONG Human Rights Watch, no Brasil estimou-se em 50
mil o número de homicídios. Isso equivale aproximada-
mente a 26 mortes para cada 100 mil habitantes.
Pior que os números é a clara percepção de insegu-
rança. Também nem vou me estender, você já sente isso
nas ruas, no seu carro, no ônibus ou mesmo na sua casa.
Onde quero pontuar é nas causas. Não aceito mais os ar-
gumentos de sempre: má distribuição de renda, miséria,
fome, corrupção, falta de investimentos em segurança, má
vontade política e tantas outras ladainhas. Não que não seja
verdade, o problema é que de tanto repeti-las sem a devida avaliação
e mudança do cenário, acabam virando paisagem na janela: servem
apenas de assunto, mas ninguém se importa mais com elas de tão
corriqueiras.
Estou cada vez mais convencido de que uma das principais razões,
senão a principal, e ainda não devidamente explorada, é uma cer-
ta relativização das leis, algo como a relativização cultural que aceita
sem culpas uma condenação à morte por adultério. Essa flexibiliza-
ção das leis, e uma certa leniência moral, permite que a sociedade
como um todo aceite pequenas transigências que vão se acumulando
e criando a percepção de que tudo pode.
No futebol isso fica logo claro: quando os jogadores percebem que
o árbitro está deixando o jogo correr solto, todos se sentem no direito
de entrar mais pesado, a violência vai aumentando e o juiz não con-
segue mais segurar o jogo. Ou aplica a lei com os cartões amarelo e
vermelho ou o jogo vira batalha campal.
A vida imita o jogo, ou damos o cartão amarelo e impomos o respei-
to às leis nas pequenas contravenções, ou todos vão achar que tudo
pode e acaba o jogo. Essa política ficou patente na Nova Iorque dos
anos 80 com o prefeito Rudolph Giuliani e sua “tolerância zero”. Não
houve acréscimo de leis, apenas passou-se a cumprir as leis que já
existiam.
Esse é outro problema tupiniquim. Você sabia que pode ser multado
se não atravessar na faixa de segurança? Pois é, nossos legislado-
res têm o péssimo hábito de querer regulamentar tudo, nos mínimos
detalhes, e esquecem-se de avaliar como essa lei poderá ser imple-
mentada, cumprida e vigiada. Agora mesmo estão criando mais um
monstrinho, a “Lei da Palmada”. Você, caro leitor, poderá ser punido
se vier a dar uma palmada no seu filho. O problema não é a punição
em si, mas como controlar isso. Daí que ou teremos uma lei que não
servirá pra nada ou teremos uma lei que poderá ser usada contra
você pelos motivos mais escusos, já que qualquer um poderá lhe de-
nunciar e abrir um processo. Ora, já há leis demais contra abusos e
maus-tratos, não importa se criança ou não, pra quê mais uma espe-
cífica e tão invasiva no seio da família e na privacidade do cidadão?
Pois é, aí está o ovo da serpente, cultuamos um império de leis,
adoramos ter milhões de leis e uma Constituição que define até os
juros que devem ser aplicados, mas não temos nenhum apego a se-
guir às leis. E, não estou falando de juízes, senadores ou governantes,
estou falando de todos nós, que aceitamos corromper um guarda de
trânsito, que bebemos antes de dirigir, que toleramos o filho viciado,
que compramos DVDs piratas, que convivemos pacificamente com
as pequenas contravenções do dia a dia e achamos que isso não
causa nenhum problema. Quando colocamos isso no microscópio da
ciência social podemos ver o vírus da violência sendo gestado.
GuerraCrônicas Certa
de uma
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entrevista
Marcelo Rosenbaum investe em projetos com comunidades carentes para popularizar a sua profi ssão e provar que ela pode ser agente de transformação social
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O designer Marcelo Rosenbaum é um ide-
alista. Daqueles que procuram mobilizar
todo mundo para as suas causas. Entre
elas, a popularização de sua profissão (“o design
sempre foi visto como uma coisa de elite”, con-
ta). Também busca um design mais sustentável,
que tenha o reaproveitamento como bandeira. E
mantém a vontade de conhecer o que é que o
povo deseja, que mobiliário e que decoração são
as preferidas da galera. Para isso, ele se entrega
diariamente ao trabalho em seu escritório em São
Paulo, e a projetos que ajudam a democratizar os
benefícios de sua profissão, como o quadro “Lar
Doce Lar”, no Caldeirão do Huck (que o faz ser
abordado na rua para dar dicas a desconhecidos).
Ou o programa de rádio “De coração pra você”,
na Globo AM, de segunda a sexta, às 11h25. Ou o
“A Gente Transforma”, que levou modificações ao
Parque Santo Antônio, comunidade no bairro do
Capão Redondo, na Zona Sul paulistana. Unindo
música, arte e esporte, o projeto convidou 30 es-
tudantes de arquitetura e design de cinco univer-
sidades do Brasil (selecionados por intermédio de
um game) a pintarem 63 casas do entorno do Par-
que. Numa das áreas tidas como sendo uma das
mais violentas de São Paulo, criaram-se projetos
como a construção de uma biblioteca (que vai ga-
nhar mil livros e acesso à internet) e um grupo de
discussões a respeito do Córrego do Freitas, que
corta o parque e é um esgoto a céu aberto. Sem-
pre com a participação efetiva da comunidade,
que adotou o projeto.
“Nos jornais, saiu que fomos pintar o Capão Re-
dondo, mas foi mais que isso. Queremos o empo-
deramento da comunidade”, diz Rosenbaum, que
torce para que o projeto deixe marcas não só no
Parque, mas nas várias localidades do Brasil que
sofrem com o abandono e com a violência. O olhar
para o outro é o que move o trabalho deste pau-
listano de 42 anos, que é casado há dez, tem dois
filhos, (Berta, 7 anos, e Ian, de 4), é fã de samba
e pagode e tem como hobby estar com a família
e os amigos. À Leal Moreira Living, falou sobre as
alegrias da profissão, e revelou o que está fazendo
naquele pedaço de terra popularizado pelas pá-
ginas policiais dos jornais – e que agora, graças
à sua ação e ao esforço da comunidade, ganha
cara nova, esteticamente e politicamente.
Ricardo Schott
Designque transforma
Marcelo Rosenbaum usa a profi ssão na defesa de ideais e mobiliza colegas para levar benefícios aos que mais precisam
»»»
Fernanda Brito
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Queria que você falasse um pouco do “A Gente Transforma”, que, além de levar alguma coisa para as comunidades, ainda dá aos estudantes algo mais do que apenas a formação universitária. Como começou isso?
Começou faz muito tempo. Nós temos vonta-
de de trabalho que tenha uma utilidade maior,
um design mais útil... Um trabalho que dê retorno
em outra dimensão. E a gente acredita muito na
multiplicação do nosso pensamento, no olhar, no
popular. Enxergar a dimensão, a necessidade do
popular, o desejo do povo. Um grande sonho do
nosso escritório sempre foi trabalhar com o mó-
vel popular. Fazer a casa do povo brasileiro. Isso
sempre foi uma vontade, que acaba não aconte-
cendo. A indústria não comporta, a escala para
produção do móvel popular sempre é muito gran-
de... O gosto do popular é muito diferente do que
a gente poderia impor.
A ideia é ver então a necessidade da população.Isso. A gente não impõe. No Parque Santo An-
tonio, procuramos ver os desejos, em vez de só a
questão do mobiliário, da casa. Não é só isso que
precisa ser mudado, ainda tem muita coisa. Há
anos que a gente já trabalha com isso e fazemos
cenários, projetos para ONGs que trabalham com
inclusão social da dança, etc. Entramos através de
contatos ajudando outras ações de mobilização...
Isso já é o perfil de nosso escritório. E aí surgiu a
oportunidade de montar um projeto. Um projeto
de verdade que possa virar uma forma de negó-
cio. E queríamos ir para a comunidade, estar com
os estudantes. Ver uma realidade em que qual-
quer coisa é muito, tomar contato com ela. Por-
que aí estamos falando de algo que começa aqui
no Parque Santo Antonio e, na verdade, existem
Parques Santo Antonio em todas as esquinas do
Brasil, se você for ver. E esse é um exercício que
está começando. E que eu espero realmente que
seja só um começo. A gente juntou algumas em-
presas, que são contatos nossos, com as quais a
gente vai acabar trabalhando... E o mais impor-
tante de tudo: expandir a oportunidade para os
estudantes de arquitetura e design. Eles trazem
o conhecimento e veem quais são os desejos da
comunidade. O que desejam os moradores da
comunidade, quais são as necessidade deles,
das pessoas que vivem lá. Existe tudo para con-
sertar lá. Aliás, nem é para consertar, é para fazer.
E nada acontece por lá.E nada acontece. E aí criamos uma mobiliza-
ção, com uma transformação e um despertar
para todo mundo que vai participar desse projeto.
Entram as empresas patrocinadoras, o pessoal
que vai pôr a mão na massa, a comunidade que
vai participar disso, que vai falar dos seus desejos,
da sua vontade... Muitas vezes sai na imprensa
que o projeto é pintar o Capão Redondo. Não é
isso, só. Vai ter essa ação da capacitação dos
pintores, a aula prática vai ser pintar o entorno do
campo do Astro. E isso já rendeu várias reuniões
com a comunidade que mora nesse entorno quer
realmente que isso aconteça, se eles querem re-
almente ter sua casa pintada, qual a cor que eles
querem... O trabalho é todo assim, não tem impo-
sição nenhuma. O principal é o empoderamento
da comunidade, descobrir os talentos da comuni-
dade e levar a empresa a conhecer esse merca-
do, esse público. Levar os estudantes a conhecer
essa comunidade e seus desejos. As pessoas
muitas vezes saem da universidade achando que
vai ter só um tipo de trabalho a fazer. E não é isso.
Temos a iniciativa privada do nosso lado, visamos
a participação de todos os meios, mas queremos
atenção do setor público. Ele é que efetivamente
precisa se mobilizar para trabalhar com a maior
necessidade do bairro, que é resolver o problema
de um córrego, que hoje inunda toda a área. Com
qualquer chuva que cai, acaba inunando todo o
entorno. A gente não tem como mexer nisso, mas
vamos empoderar toda a comunidade. Eles já se
mobilizaram para criar uma associação depois do
projeto feito e lutar.
Biblioteca?Sim, o projeto ainda tem a implantação de uma,
que é a Bilbioteca Para Todos, um outro projeto
nosso dentro do A Gente Transforma. A gente vai
levar essa blbioteca, que é um espaço doado pe-
los próprios jogadores do campo de futebol. Esse »»»
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Estudantes de cinco universidades brasileiras foram selecionados para participar do projeto “A gente transforma”, na periferia de São Paulo
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O envolvimento da comunidade nas ações promovidas pelo grupo comandado por Rosenbaum tem sido motivo de satisfação para os organizadores
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campo de futebol é uma área de 600 m2 dentro
da comunidade, e é a unica área de lazer deles.
Existem hoje 18 times formados que jogam nesse
campo. E existe um vestiário, caindo aos peda-
ços, mas que está lá. Eles doaram esse vestiário,
vão construir uma biblioteca no andar de baixo.
E o vestiário no andar de cina. E o projeto é só
tudo isso. Eu lasquei de falar e não parei mais,
né? (rindo)
Nada! E como praticamente tudo no teu trabalho é uma coisa que começa no design, na decoração e abre bastante o leque. No seu programa de rádio, de coisas de design você começa a falar de água, de meio ambiente... Como é fugir desse trivial e abraçar essas questões?
Hoje eu mobilizo muita gente por conta da te-
levisão. O Caldeirão do Huck dá uma visibilidade
muito grande. E quero aproveitar justamente isso
para poder mobilizar. Quero trazer um retorno que
seja para mais pessoas, que não seja só para
mim. A sustentabilidade está diretamente ligada à
educação. E é uma coisa emergencial. Acho que
todo mundo quer um mundo melhor para todos.
Para os filhos, para os netos, para as próximas ge-
rações. A coisa não pode parar só em uma pes-
soa. E vejo isso como sendo a grande história de
tudo isso, daqui para a frente.
Como você tem visto a mobilização dos estudan-tes que vão participar do evento?
Nossa, os estudantes que já participaram do
game, que foram selecionados, adoraram. Estão
todos muito mobilizados. Antes do projeto, eles
só conheciam o Parque Santo Antonio através
dos nossos posts, através do portal do A Gente
Transforma. Mas o legal é exatamente a ação
multiplicadora do projeito. Além de capacitar, de
mobilizar, ela é multiplicadora porque só vai che-
gar quem realmente já mobilizou e já transformou
alguma coisa, nem que seja em si próprio. A gen-
te chegou a mobilizar 130 jovens. E é fantástico,
se você pensar nisso, num curto espaço de tem-
po, né? E jovens... A gente poder estimular esse
olhar, o que eles já colocam dentro do projeto, no
espaço do Twitter... É impressionante!
E como começou esse olhar para o outro em seu trabalho?
Ah, não tem um começou, né? Essa coisa tá
dentro. É natural, é uma coisa que... sempre tive,
desde criança já era assim. Se falarmos num co-
meço, aconteceu mesmo quando eu era mole-
que, e fazia natação num clube, no estádio mu-
nicipal lá de Santo André - minha família é lá do
ABC paulista. O meu melhor amigo era o cara
mais simples da galera. Eu me identifiquei com
isso, é uma coisa natural minha. Apesar de ter
vindo de uma família abastada, de classe média,
e de nunca ter me faltado nada, sempre tive um
olhar para isso. Foi um caminho que segui mes-
mo.
Como começou sua carreira como designer? Você lembra qual foi a primeira coisa que você fez que acabou dando certo?
Lembro! Acho que a primeira loja que eu fiz aca-
bou dando supercerto. Dela, brotaram montes de
outras. As pessoas viram, gostaram, começaram
a me indicar. Eu comecei a trabalhar muito cedo,
eu estava no primeiro ano de faculdade e, naque-
la época, estavam montando o primeiro shopping
do ABC paulista, de São Bernardo. Na época eu
tinha uma namorada cuja mãe era dona de uma
multimarcas, e ela comprou um ponto nesse sho-
pping. Pedi para fazer o projeto da loja dela. Fiz
o projeto, ela adorou, e daí para a frente foi. E aí
eu fui morar na Alemanha, eu estava no final da
faculdade, consegui um estágio num escritório de
arquitetura na Alemanha... E quando voltei, nem
terminei a faculdade. Eu não tenho o curso ter-
minado. Não dá para dizer que seja exatamente
um bom exemplo, né? Mas nunca mais parei de
trabalhar. Sou um cara mão na massa! Autodida-
ta, trabalhando muito, tive escritório muito cedo,
fui fazendo obra... Comecei depois disso a fazer
design, as coisas começaram a dar certo, um tra-
balho foi dando continuação a outro. »»»
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46
E o Lar Doce Lar? Como é isso para você em ter-mos de notoriedade? Isso te ajuda no teu trabalho?
Na verdade, nem é que ajude, já que já vinha
trabalhando muito há tempo. Acho que é uma tro-
ca, porque eu já tinha um certo reconhecimento
na área onde eu atuava, naquele nicho. Mas com
a televisão, a dimensão é outra. Para mim, tudo
cabe como uma luva. É uma bênção de Deus,
porque a gente consegue atingir o popular, esse
público, que é o grande Brasil. Entramos de cara
com essa história de trabalhar com a grande mas-
sa. Que sempre foi meu desejo. Para isso, a televi-
são é fantástica. Eu abraço todas as causas e ten-
to aproveitar o máximo tudo isso que eu consigo,
com a dimensão da popularidade, do respeito. E
a televisão proporciona isso.
Vira uma vitrine para você...
Pois é, acho que o principal é que democratiza.
Você leva para quem está do outro lado da te-
levisão uma profissão que até então era só para
a elite. Que era quem tinha acesso a essas coi-
sas, que podia entender essas coisas. Imagina,
você conseguir ter acesso a uma casa, a benefi-
ciar uma família... E, mais do que isso, não é só a
família que está sendo beneficiada, são todas as
pessoas que estão assistindo ao programa. Elas
passam a entender o benefício desse trabalho, e
a democratização disso.
E as pessoas estão percebendo que dá para fazer isso reaproveitando coisas, que é uma grande ban-deira do seu trabalho, não?
Sim, o reaproveitamento é uma grande bandei-
ra, exatamente. E é uma grande responsabilidade.
Você é muito parado na rua para dar dicas para os outros? A TV te deu notoriedade?
Ah, sim, isso acontece o tempo todo. Nem é
esse o mote do trabalho, mas tem carinho, né?
Eu tento tratar como uma continuação do que eu
faço. Respondo com o mesmo carinho com o
qual as pessoas me abordam. Não tenho nenhum
deslumbre com relação a isso.
Teve algum momento do programa que te tocou especialmente?
Olha, todos! Mas teve um que foi especial. A
gente fez um abrigo, que era uma casa com 54
crianças adotadas. E eu entrei na casa com as
crianças, pela primeira vez, elas todas de mãos
dadas. Quase todas tinham alguma deficiência,
históricos de rejeição, porque a dona da casa, a D.
Abigail, adotava só crianças com algum histórico
desses – de terem alguma síndrome, ou algo do
tipo. E eram crianças muito felizes, do jeito deles.
Eles entraram e viram o que a gente fez. E todas
choraram. Eles começaram a beijar a cama, o
lençol, as prateleiras que a gente colocou. Fiquei
realmente muito emocionado. Como aconteceu
também em outros casos, né? Cada um tem sua
particularidade. Mas esse, quando dei por mim,
estava chorando junto com todo mundo. E dá
para entender o quão transformador e útil é o nos-
so trabalho. É algo que vem para confirmar, esse
desejo, esse olhar, essa vontade de fazer o que
eu faço.
No que você se inspira? O que está por trás da sua criação?
Ih... (rindo)
Muita coisa, eu sei...Muita! O dia a dia, né? O olhar do entorno, tudo.
Nem tem um conceito, um objetivo. Você acaba
nem tendo esse olhar artístico só. Você acaba ten-
do as encomendas, o prazo, o briefing do cliente,
a vontade dele... O trabalho acaba sendo meio
por aí.
Você é do tipo de decorador que está na casa dos amigos e dá dicas para eles?
(rindo) Sim, claro, é natural! Essa parte do tra-
balho é um prazer, faço isso sempre por adorar
muito meu trabalho. Estar na casa de um amigo e
dar umas dicas sempre é muito bom, nem chega
a parecer que estou trabalhando. É minha forma
de comunicação. Me comunico com as pessoas
geralmente a partir disso.
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Com “Tia Dagui”, parceira na ONG Casa do Zezinho, e conferindo de perto os trabalhos
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decor
Obras artísticas valorizam e dão um tom de sofi sticação aos ambientes
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Arte cantoem todo
Obras artísticas ajudam a harmonizar ambientes e caem bem seja em escritórios, residências...
Decorar um ambiente não é tarefa simples,
mas também não é um bicho de sete ca-
beças. Um recurso que vem sendo bas-
tante utilizado para harmonizar um espaço, resi-
dencial ou não, é a utilização de obras de arte.
Segundo o artista plástico Marinaldo Santos, que
fornece seus trabalhos para residências e escri-
tórios há anos, a obra oferece outro espírito ao
lugar, emprestando beleza e elegância, além de
ser uma fonte inesgotável de elementos a serem
descobertos. Para a designer de interiores Fátima
Rego, a tendência tem um efeito claro: faz com
que o espaço seja melhor percebido e mais agra-
dável para quem o habita ou trabalha. Bastam cui-
dados na hora de pensar na harmonização dos
ambientes.
Por uma questão estética, já que representa
sofisticação, uma obra artística, seja uma pintura,
escultura, fotografia ou de outra natureza, valoriza
o ambiente no qual está inserida. Mas isso não é
algo novo, como explica a designer de interiores
Fátima Rego. Antigamente, na Europa, Grécia em
especial, as obras de arte eram fatores de distin-
ção entre as classes sociais. “Houve um tempo
em que as obras de arte foram supervalorizadas
e incentivadas, por fazerem a diferença entre
classes sociais. Muitos comerciantes abastados
se transformavam em Mecenas e investiam em
artistas que hoje são nossas referências. Nessa
época foi que surgiram gênios, pintores e escul-
tores, como Michelangelo, Da Vinci e muitos ou-
tros. É claro que hoje em dia, com a valorização
dos espaços em que trabalhamos ou vivemos, os
objetos de arte passaram a ser cada dia mais pro-
curados, o que levou muitos artistas a acreditarem
ser possível viver de arte”, diz ela.
Um desses artistas a que Fátima se refere é o
paraense Marinaldo Santos, de 48 anos, pintor
desde a década de 70. Marinaldo, que já teve
obras expostas em galerias francesas, holan-
desas, alemãs, portuguesas, e outros países do
Velho Continente - além de ter sido premiado di-
versas vezes no Arte Pará - atesta que hoje o pa-
norama é outro: embora se declare gratificado por
viver da arte, encontra barreiras até para divulgar
o trabalho, pela falta de galerias que sirvam como
referência em Belém. “O artista acumula a função
de comerciante de arte também. E é meio com-
plicado”, explica.
A falta de um mercado de arte no Estado aca-
bou abrindo espaço para que sua pintura invadis-
se ambientes de trabalho ou residenciais. Alguns
de seus clientes, como o advogado Jorge Alex
Athias, que, em seu escritório, tem “a vida toda” de
Marinaldo, reproduzindo uma hipérbole do artista.
Na opinião do pintor, qualquer ambiente pode re-
ceber uma obra de arte como peça decorativa. “A
obra de arte fala por ela mesma em qualquer am-
biente”, diz ele, recomendando apenas cuidados
com - no caso específico de quadros - a moldura
Alan Bordallo Luiza Cavalcante
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que poderá ser utilizada. “Muitas vezes a moldura
acaba chamando a atenção demais. O olhar vai
direcionado àquela moldura, por causa da cor ou
do tamanho” - e do local onde o adereço ficará.
“Se misturar com muitos elementos você acaba
realmente dificultando. Acaba perdendo a leitura
do trabalho. Quanto mais limpo o ambiente maio-
res são as oportunidades de se fazer uma leitura
melhor, visualmente falando. Fica mais fácil até
contemplar o trabalho”, diz.
Fátima vai além: para a designer, obras de arte
são manifestações de subjetividade, passíveis de
encontrarmos em coisas do cotidiano. Ela reco-
menda que o ambiente que será adornado seja
arrumado de maneira que coloque em destaque
a peça escolhida, primando por uma peça de ilu-
minação que evidencie a beleza do objeto, apesar
de defender que não há um lugar certo, nem um
errado. “O que existe é um lugar mais indicado
e outro menos para se colocar”, explica. Nesse
caso, o primeiro passo é perceber quais são as
preferências do morador, para residências, ou do
profissional que irá abrigar em seu ambiente de
trabalho. Ela diz que se preciso aconselha o clien-
te, posicionando a obra no local devido, o que, na
maioria das vezes, é aceito.
Para Marinaldo, a ousadia também é importante
no processo. Ele se diz avesso às novas tendên-
cias de decoração que são mostradas em revistas
especializadas, onde todos os elementos apare-
cem em sintonia uns com os outros. “Acho que
hoje existe uma preocupação muito grande em
pensar que ‘isso tem que combinar com aquilo,’
senão não funciona. Eu sou contra”, diz. “Eu não
coloco dessa forma, não faria isso em casa, de
procurar um quadro que combine com a pare-
de ou outro adereço com o ambiente. Acho que
está mais para o saber como arrumar. Você pode
misturar, mas de uma forma equilibrada, toman-
do cuidado com cores conflitantes, o que, aí sim,
pode tirar a atenção da obra”, diz.
Em resumo: se você procura uma obra de arte
para enfeitar o quarto ou sua sala, tenha em mente
que tipo de sensação você quer causar em quem
a vê, e de maneira nenhuma escolha algo que
não tenha a ver com a sua personalidade. “A arte
em si, inserida no ambiente, muda a concepção
do espaço para quem chega e para quem vive
no espaço. Sempre digo que com uma obra de
arte a cada dia você descobre um elemento que
muitas vezes passa despercebido”, completa Ma-
rinaldo. Fátima aconselha. “A arte faz com que o
espaço habitado reflita cada vez mais a personali-
dade de seus donos, desperta um interesse maior
e continuado pelo seu espaço, trazendo conforto
e prazer em permanecer nesse espaço. Seja de
trabalho, onde isso é muito importante, ou seja em
sua casa, local de descanso e de convivência com
a família e amigos.”
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51
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confraria
Os
preç
os e
dis
poni
bilid
ade
dos
prod
utos
são
de
resp
onsa
bilid
ade
dos
anun
cian
tes
Belém tem uma nova opção para quem curte arte. Trata-se do Casarão Estúdio, projeto da artista plás-tica Cíntia Ramos. Entre exposições e eventos para fomentar a arte na cidade, os visitantes podem comprar obras como „Azulejaria‰. Arte em casa nunca é demais.
AzulejariaPreço: R$ 8.900,00Telefone: (91) 3366-3747Endereço.: Casarão Estúdio Galeria, Av. Con-selheiro Furtado (entre Roberto Camelier e Tupinambás).
Coleção Círio 2010Manufatura
Azulejaria
Coleção Sabores do Brasil, Culinária Marajoara
A maior manifestação católica do povo paraense inspira a Manufatura a criar camisas estilizadas em homenagem à Virgem de Nazaré. Este ano, a coleção Círio 2010 conta com 5 modelos exclusivos, criados a partir da parceria com um grupo de artesãs de um projeto social e tem como ponto forte a sobreposição de tecidos, detalhes e recortes que remetem à cultura indígena.
ManufaturaPreço: R$ 70,00Telefone: (91) 3223-3082Endereço: Travessa D. Romualdo de Seixas 884(entre Bernaldo Couto e Jerônimo Pimentel)
O livro „Sabores do Brasil. Culinária Marajoara‰ é um livro de receitas criadas pelo saudoso chef Paulo Martins, que recentemente nos deixou. Paulo foi ao Marajó, em 2006, conhecer e entender melhor a respeito dos ingredientes e dos pratos típicos desta região. A partir da experiência, recriou várias receitas e trouxe ao público a culinária marajoara com uma pitada de inovação e sofisticação. As fotos do livro são do fotógrafo Renato Chalu e fazem parte do documentário que acompanha o livro. A produção da Coleção é da Imageria Filmes e Livros.
Nas livrarias da cidadePreço: R$ 48,00
A
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destino
Portão de Brandenburgo, o mais importante cartão-postal de Berlim, um dos patrimônios culturais da humanidade
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Renata Rath
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Multicultural e repleta de atrações, a capital alemã mostra ao mundo por que é a nova queridinha do Velho Continente
As mil faces deBerlimImagine uma cidade cercada por uma riquíssima herança
histórica e onde arte, cultura, multiculturalismo e boemia se
juntam a uma qualidade de vida que pouquíssimas metró-
poles no mundo podem oferecer. Apesar de parecer uma rea-
lidade cada vez mais distante para as grandes capitais do pla-
neta, para muitos, a metrópole ideal existe e tem nome: Berlim.
Com cerca 3,5 milhões de habitantes, a capital da República
Federativa da Alemanha desponta hoje como um dos mais im-
portantes centros culturais da Europa e, junto de cidades como
Londres, Paris e Roma, já é um dos lugares mais visitados no
Velho Continente. O fervor cultural berlinense, que cada vez
mais atrai jovens artistas e intelectuais para a capital alemã,
tem feito da metrópole um dos lugares mais “descolados” do
momento. Há quem diga também que sua atmosfera cosmo-
polita e pulsante lembra muito Nova Iorque na época em que
artistas imigrantes procuravam a cidade para mostrar sua pro-
dução em meio a toda efervescência cultural nova-iorquina na
década de 80.
A importância histórica e geográfica de Berlim no continente
europeu começou no século XVIII, quando a cidade foi escolhi-
da para ser a capital do Reino da Prússia, que mais tarde daria
origem ao grande Império Alemão, existente até o início do
século XX. Já como Alemanha, a cidade tornou-se capital da
República de Weimar, governo instaurado logo após a Primeira
Guerra Mundial, e em seguida passou a ser sede do Terceiro
Reich, como foi denominado o período do governo nazista no
país entre a Primeira e a Segunda Guerra mundiais.
No entanto, foi durante a Guerra Fria que Berlim passou a
ser mundialmente mais conhecida. A cidade representou du-
rante a guerra bipolar o principal símbolo de separação entre
o mundo capitalista e socialista. A construção de um muro,
em 1961, com mais de 1.300 quilômetros de extensão dividiu
a Alemanha em lado oriental e ocidental, marcando mais um
período tenso no país, que ainda se recuperava das cicatrizes
Dayse Freitas
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deixadas pela devastação da guerra anterior.
Vinte anos após a queda do Berliner Mauer (Muro de Berlim
em alemão), a capital alemã convive aparentemente em har-
monia com suas heranças históricas e com o boom de mo-
dernização que recuperou o país e o transformou na principal
potência econômica da União Europeia.
Hoje, o que sobrou da “cortina de ferro” serve de atração
turística para os mais variados tipos de turistas que visitam dia-
riamente a cidade. Um passeio de bicicleta para conhecer o
que restou do muro, o chamado “Mauerweg”, pode provocar
uma verdadeira sensação de viagem no tempo. Aliás, a bici-
cleta é um dos principais meios de locomoção na cidade, ape-
sar do eficiente sistema de transporte oferecido à população.
Segundo os dados divulgados pela rede hoteleira da cidade,
só em 2009 quase 19 milhões de pernoites foram registrados
na capital alemã. O balanço não inclui as visitas diárias e aco-
modações alternativas.
Orgulho cultural
Conhecer os monumentos históricos de Berlim, sem dú-
vida, está entre as atividades quase obrigatórias para quem
deseja conhecer a metrópole. A famosa “Ilha dos Museus”,
um complexo arquitetônico de cinco imponentes construções
quase destruídas durante a Segunda Guerra, já torna boa parte
da viagem uma grande experiência no campo das artes, por
exemplo. A “cidade templo” foi declarada há dez anos Patri-
mônio Cultural da Humanidade e já chegou a ser comparada
com outras maravilhas do mundo como as Pirâmides do Egito
e a Grande Muralha, na China.
Para visitar todos os cinco museus que fazem parte da ilha,
o visitante precisa reservar, talvez, mais que um ou dois dias
para o programa. No entanto, depois de ter a oportunidade
de conhecer o famoso Museu Pergamon, que abriga grandes
tesouros da antiguidade, ou a Antiga Galeria Nacional Alemã,
qualquer pessoa poderá entender por que o complexo recebe
cerca de três milhões de visitas por ano e representa um dos
maiores orgulhos culturais do povo alemão. O ticket para cada
um dos museus custa em média 8 euros, mas é possível visitar
gratuitamente todos os cinco locais durante as quintas-feiras.
Outro lugar bastante disputado para visitas é o tocante Mo-
A Ilha dos Museus recebe cerca de três milhões de visitantes do mundo inteiro a cada ano
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numento ao Holocausto, inaugurado em 2005. Mais de 2.700
blocos de concreto formam a gigante obra de arte e prestam
uma homenagem às vítimas assassinadas durante o nazismo.
Se depois da visita ao local ainda sobrar tempo e interesse pelo
assunto, vale a pena visitar o Museu Judaico (Jüdisches Mu-
seum Berlin), localizado na Lindenstrasse, com um acervo que
mostra mais de dois mil anos de história entre a Alemanha e o
povo judeu. A entrada custa 5 euros para cada adulto.
Ainda bem próximo ao Monumento do Holocausto, é possí-
vel aproveitar o passeio e fazer belas fotos em frente ao Portão
de Brandemburgo, o mais importante cartão-postal de Berlim.
A porta de entrada da cidade, construída em 1793 para repre-
sentar a paz, passou a ser o principal símbolo da vitória alemã
contra a invasão de Napoleão Bonaparte, em 1814. Durante a
existência do muro, o local também servia para marcar a divi-
são da cidade, mas após a reunificação alemã o portão voltou
a ser palco das grandes datas comemorativas do país.
Para todos os gostos
Com tanta diversidade cultural e uma atmosfera totalmente
O Monumento ao Holocausto presta homenagem às vítimas de um dos períodos mais sombrios da história mundial
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“multi-kulti”, expressão usada pelos berlinenses para se referir
ao caráter cosmopolita da cidade, Berlim vem conquistando
cada vez mais a preferência, não só da juventude alemã, mas
de jovens estrangeiros de todo o mundo que buscam a perfeita
combinação entre a grande metrópole e a boa qualidade de
vida existente na Alemanha em geral.
O paraense Rodrigo da Costa é um dos muitos brasileiros
que não demonstram nenhum arrependimento em ter esco-
lhido a capital alemã para viver. Há mais de dois anos, o pro-
gramador de computadores saiu de Belém com o objetivo de
estudar alemão e passar uma temporada no país. Três meses
após chegar à Alemanha, o jovem recebeu um contrato de
trabalho e desde então adotou a metrópole como o novo lar.
”Berlim é extremamente ativa no aspecto cultural e uma quali-
dade de vida incrível se fizermos uma comparação com outras
metrópoles mundiais. Talvez por não possuir muitas indústrias,
já que a maioria das fábricas está em outras regiões do país”,
comenta o paraense, que depois de se estabilizar na capital
também convidou a namorada para morar em Berlim.
O casal vive hoje em Kreuzberg, o bairro mais alternativo e
boêmio da cidade. Sobre o cotidiano, eles ressaltam principal-
mente a forte arborização na capital, que possui mais de 40%
de área verde do total de sua extensão territorial. “Berlim não
é lotada e nem claustrofóbica. Tem muitos parques, lagos e
mesmo estando no centro da cidade é comum encontrarmos
coelhos e raposas circulando livremente. É uma cidade muito
organizada”, elogia o paraense.
Em Prenzlauer Berg, antigo bairro operário da Berlim Oriental
e hoje o mais caro da cidade, turistas e moradores se mistu-
ram para apreciar pequenas galerias de arte, restaurantes das
mais diversas nacionalidades, cinemas alternativos e uma
infinidade de opções culturais que movimentam o bairro to-
dos os dias. Uma visita ao Kulturbrauerei, uma antiga fábri-
ca de cerveja transformada em um grande centro cultural,
também pode proporcionar ótimas experiências durante um
passeio pelo bairro.
No Hackescher Markt, uma pausa para degustação das famosissímas cervejas alemãs
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Quem optar por uma hospedagem em Mitte, o bairro no co-
ração de Berlim, também estará cheio de boas opções duran-
te a estadia na cidade. Lá estão localizadas a Alexanderplatz
(praça central) e a torre de televisão, uma atração turística com
368 metros de altura que, além de uma visão panorâmica da
cidade, ainda oferece um elegante restaurante giratório para
os visitantes.
Outro programa considerado imperdível é o tour pelo Rio Spree,
que corta uma parte central de Berlim. O passeio dura aproxima-
damente uma hora e mostra outros importantes pontos turísticos
da cidade. O tour custa entre 8 e 12 euros e oferece guias em
alemão, inglês e outros idiomas, dependendo da preferência.
Depois de tantas atividades durante o dia, o cenário sugestivo
de uma capital europeia pode ser perfeito para conhecer os ele-
gantes bares e restaurantes localizados no Hackescher Markt,
também em Mitte. A degustação de uma típica cerveja alemã,
uma das melhores do mundo, certamente será um convite para
uma próxima visita.
Passeios pelo Rio Spree, que corta a parte central da cidade, são alguns dos programas obrigatórios em Berlim. Abaixo, um detalhe de como o tradicional convive em harmonia com o moderno.
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Sites interessanteshttp://www.berlin.de
(Dicas de turismo em geral na cidade. Em alemão, inglês e outros idiomas)
http://www.berlinonbike.de
(Informações sobre passeios de bicicleta pela cidade e ao longo do muro)
http://www.bvg.de
(Informações sobre o sistema de transporte em alemão e inglês)
Melhor época para visitaEntre junho e setembro, período que compreende todo o verão e início
do outono europeu. No inverno e parte da primavera (entre novembro
e março), a cidade registra temperaturas muito baixas, o que pode
inviabilizar os programas ao ar livre
ComunicaçãoCódigo de País: +49
Código de Internet: .de
Para voar do BrasilOs voos com destino a Berlim saem tanto de Guarulhos, em São Paulo, como do
Rio de Janeiro e de algumas capitais nordestinas como Recife e Salvador.
Transporte na capitalBerlim possui um sistema que integra U-Bahn (metrô), S-Bahn (metrô de superfí-
cie), Strassebahn (bonde elétrico) e Bus (ônibus). Um ticket com validade de duas
horas custa 2,10€ e dá direito à locomoção em qualquer um dos meios de trans-
porte urbanos.
Transporte AéreoAeroportos: Conta com os terminais Berlim-Tegel (central) e Berlim-Schönefeld
(para voos menores). Em 2012, o Aeroporto Tegel deverá ser fechado em virtude
de um grande projeto arquitetônico, que deverá transformar Schönefeld em “Ae-
roporto Internacional Berlim-Brandemburgo”.
Onde fica?A cidade está localizada no leste da Alemanha e cerca de 70 quilômetros ao oeste
da fronteira com a Polônia, no continente europeu.
O Muro de Berlim, que durante décadas simbolizou a divisão do país, agora é palco de manifestações culturais e ponto de encontro para celebrar a nova Alemanha
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horas vagas
Liv
ros
Alvaro JinkingsJornalista
*da redação
Os Cangaceiros, de Luiz Bernardo Pericás, contribui de forma significativa com um tema de grande im-
portância na História do Brasil. Baseado em extensa bibliografia, o autor traça as vias pelas quais o cangaço
surgiu e se desenvolveu durante o Estado Novo. Faz uma reavaliação crítica da historiografia dedicada ao
assunto e desmonta as explicações unilaterais que tentaram entender personagens como Lampião, Co-
risco, Sinhô Pereira e outros. Não escapam de sua crítica autores consagrados como Eric Hobsbawn, que
incluiu o cangaço na categoria do banditismo social. A obra nega que a miséria pura e simples estivesse na
raiz da motivação para a entrada no banditismo nordestino. Pelas biografias dos principais líderes ficamos
sabendo que tinham origem relativamente abastada. Além disso, Pericás consegue superar a propaganda
dos próprios cangaceiros e não titubeia em mostrar também a crueldade deles. O cangaço, fenômeno que
começou na segunda metade do século XIX e terminou mais ou menos em 1940, é uma escolha felicíssi-
ma de mais este lançamento da Boitempo.
Os cangaceiros – ensaio de interpretação histórica
Luiz Bernardo Pericás - Boitempo
Ponto finalMikal Gilmore
Os anos 1960 são, ao que pare-
ce, uma fonte inesgotável de as-
sunto para escritores e jornalistas.
A importância da arte produzida
no período, a música em especial,
segue firme e forte como objeto
de análise e discussões através
dos anos (e fonte de lucro para
artistas, editoras, gravadoras etc).
“Ponto final”, do jornalista Mikal
Gilmore, vem se somar à avalan-
che de obras que tentam jogar al-
guma luz sobre a época. Partindo
de perfis de personalidades que
se destacaram em suas áreas de
atuação, Gilmore traça um pano-
rama artístico, social e político dos
sixties, e contextualiza vida e obra
de gente como John Lennon, Al-
len Ginsberg, Bob Dylan, Timothy
Leary, entre outros. Os textos, pu-
blicados originalmente na Rolling
Stone americana, são um ponto
de partida para quem quer des-
cobrir mais um pouco sobre esses
loucos anos da história recente.
90 livros clássicos para apressadinhosHenrik Lange
O tempo é curto e a existência
mais ainda, resumiria o filósofo.
Entre as quase mil páginas de
Ulisses e a vida, há muitos que
não hesitam em optar pela se-
gunda alternativa. Se você se en-
quadra nesse perfil - ou tem bom
humor o suficiente pra não levar
essas palavras iniciais a ferro e
fogo -, o quadrinista Henrik Lange
tem o que você precisa.
Em “90 clássicos para apres-
sadinhos”, o sueco produziu um
compêndio onde tesouros - ou
nem tanto - da literatura univer-
sal podem ser compreendidos na
profundidade de quatro quadri-
nhos. Quer saber o que se passou
nas obras de Nabokov, Herman
Melville, Dan Brown e Gabriel Gar-
cia Márquez? É só folhear a obra,
que pode ser tanto uma arma
para apressadinhos em mesas
de bar como também uma porta
de entrada para que estes saiam,
oxalá, à procura dos originais.
Conversa sobre o tempoDapieve, Veríssimo, Zuenir Ventura
Amizades de longa data en-
sinam. E quando envolvem dois
dos grandes cronistas da vida
recente do país, ensinam mais
ainda. Foi a partir dessa premis-
sa que a Editora Agir trancou,
durante quatro dias, o jornalista
Arthur Dapieve (colunista da Leal
Moreira Living) e os escritores
Zuenir Ventura e Luís Fernando
Veríssimo em uma fazenda es-
condida no interior fluminense.
Na pauta, tudo. Vinte anos de
amizade passados a limpo com
pinceladas generosas sobre fa-
tos e costumes que ajudaram a
construir a história do século XX,
do qual os dois - aliás, os três -
foram observadores atentos.
Como bem observou Dapieve,
ao fim dos dias de clausura e das
consequentes 254 páginas de
bate-papo transcritos, os gran-
des premiados desse “Big Bro-
ther” das ideias, os que podem
comemorar, somos nós, leitores.
Eu quero aquele sapato!Paola Jacobbi
Reza a lenda que uma das ra-
zões para o descontentamento de
Eva nos jardins do paraíso seria o
fato de Deus, ocupado com a ta-
refa de criar todas as coisas em
intervalo tão curto de tempo, ter
esquecido de fornecer à primeira
mulher um único par de sapatos.
A partir dessa falta, teríamos a
serpente, a maça, a expulsão do
Éden e o processo eleitoral brasi-
leiro.
Brincadeiras à parte, é a obses-
são feminina por esses pequenos
objetos de desejo o mote do livro
“Eu quero aquele sapato!”, da jor-
nalista italiana Paola Jacobbi. De
Audrey Hepburn a Imelda Marcos,
de Cinderela a Marilyn Monroe,
os textos do livro passeiam com
bom humor e leveza pela história
e mostram como um olhar mais
cuidadoso para esses acessórios
pode ser útil na árdua tarefa de
decifrar, um pouquinho que seja,
os mistérios do universo feminino.
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Músi
ca
Marcelo ViegasMúsico
Detentor de voz única e musicalidade imensa, Tim Maia rei-
na no espaço destinado ao soul e ao funk em nosso país. Título
justo e conquistado entre várias outras sumidades – Gerson King
Combo, Cassiano, Jorge Ben, Di Melo - o músico carioca, com
seu som inconfundível, fez parte do maravilhoso e hoje quase es-
quecido movimento Black Rio, que explodiu no meio da década
dos 70 no Brasil.
É justamente nessa fase que seus discos atingem o auge da
fina mistura. Passando pelos dois discos da “Fase Racional” –
hoje existe mais um terceiro – e com os lançamentos dos álbuns
homônimos de 1976, 1977, mais o “Tim Maia Disco Club”, a dé-
cada dos 70 é, com grande certeza, a mais criativa da carreira
de Tim..
Para admiradores convictos essa afirmação pode pesar. Afinal,
como esquecer os sucessos de “Azul Da Cor Do Mar”,“Você”,
“Primavera”? Músicas compostas no início da carreira, que nun-
ca foram excluídas do repertório do artista e estão diretamente
associadas a sua imagem – muito mais que canções da fase do
movimento Black Rio?.
O fato é que a fase iniciada no meio da década dos 70 não dei-
xou de produzir outras músicas de impacto. E talvez essa seja a
explicação para o reinado de Tim Maia e sua fama para além do
referido movimento: a alta perícia em criar hits. Analisando seus
discos, é muito fácil identificar o enfoque sempre dado às can-
ções, ora baladas ora grooves inspiradíssimos, todas com dura-
ção perfeita para tocar do início ao fim nas rádios, que ainda era o
melhor meio de fazer chegar música ao ouvidos. Soma-se a isso
canções com dinâmica que se assemelham de disco para disco.
Prova é a similaridade da fórmula de “Nobody Can Live Fo-
rever”, do disco de 1976, com “All I Want”, do “Tim Maia Disco
Club”. Outro exemplo seria a temática nordestina da “Festa de
Santo Reis, continuando a ideia da interpretação de “Coroné An-
tônio Bento”.
Que fique claro: tamanhas concepções nunca trouxeram em-
bargos à música de Tim Maia. Tudo graças a sua criatividade
musical, que sempre tornava viva cada fórmula por ele abordada.
Essa percepção serviu, sim, para transformá-lo em gigante, a
ponto de produzir a maioria dos seus discos sem o apoio de uma
grande gravadora, e dar-lhe o destaque necessário para influen-
ciar uma vasta gama de músicos que sorvia sua matéria musical
do funk e do soul estadunidense .
Os discos resenhados abaixo, tirando os da fase Racional, se
referem ao tempo em que o funk teve força tremenda no Brasil.
Tempo também em que Tim Maia usou músicos da famosa ban-
da Black Rio para compor sua aclamada Vitória Régia, deixando–
os livres para produzir faixas instrumentais, experimentar linhas
de sopros sensacionais, sempre visando dar mais vida a sua
grave voz – de onde provinham todos os arranjos de sua música.
Não ignorando as outras fases da carreira de Tim Maia, essa foi
das maiores. Maior até que sua massa corpórea, eu diria.
Tim Maia, funk soul bróder
Tim Maia(1976)
Desiludido com a Cultura Ra-
cional, o músico voltou às letras
profanas, costumes ilícitos, e in-
tensificou o som da banda para
continuar a construir canções
cheias do então “deep funk”, an-
tecipando o mergulho em direção
ao movimento Black Rio.
“Rodésia” e sua levada magní-
fica, belo solo de Paulinho Guitar-
ra, é a música mais forte do disco
– inclusive foi relançada na dé-
cada de 80, quando o país mu-
dava de nome para Zimbábue.
“Márcio Leonardo e Telmo” é de
arrepiar. Nessa música os sopros
são substituídos pelo belo timbre
do Clavinete.
“Batata Frita, O Ladrão de Bi-
cicletas” e “Nobody Can Live Fo-
rever” são pérolas de um disco
injustamente esquecido.
Tim Maia Disco Club(1978)
Feito sob encomenda para a
Atlantic/Wea, “Tim Maia Disco
Club” caiu como um petardo no
mundo funkeado do movimento
Black Rio.
“Sossego”, com seu groove
hipnótico e maravilhoso, mos-
tra toda a potencialidade da voz
de Tim Maia, impulsionada pela
potência da Vitória Régia. “All
I Want” é outra maravilha que
nunca poderá ser esquecida. O
Instrumental de “Vitória Régia Es-
tou Contigo e Não Abro” é outra
genialidade conduzida pela be-
líssima banda de Tim Maia, que
nesse álbum perdia seu grande
chefe, Paulinho Guitarra, mas
experimentava dois novos músi-
cos: Renato Piau e Pepeu Gomes
(Ele mesmo). Disco famoso, com
todo o mérito, e fundamental.
Racional Volume I (1975)
Começando pela famosa e
marcante “Imunização Racional
(Que Beleza)”, o primeiro contato
com o disco mais apreciado de
Tim Maia rapidamente encanta. A
maravilhosa execução instrumen-
tal conflita com o espanto causado
pela lírica influenciada pela Cultu-
ra Racional que - nas suas letras
– é “conhecimento advindo do
mundo superior”.
Com a Vitória Régia precisa, ins-
pirada, e ajudado pela crescente
qualidade sonora de gravação,
trazida com o advento dos anos
70, o repertório apresenta beleza
sem igual: “Bom Senso”, “Conta-
to Com O Mundo Racional”, “Uni-
verso em Desencanto”, “Rational
Culture” estão entre as melhores
músicas já gravadas por Tim Maia
e sua mágica banda.
Racional Volume II(1976)
Devido à estranheza das letras,
a Phillips acabou recusando o
que seria o primeiro álbum duplo
do músico, até então “Racional”.
Com isso, o lançamento foi feito
pela recém-fundada gravadora de
Tim Maia (Seroma), marcando o
início de seu caminho como mú-
sico independente.
Lançado um ano depois do pri-
meiro volume, o que se ouve é de
arrepiar: “Que Legal” e seu clima
contagiante de salsa; a malemo-
lente e funkeada “O Caminho do
Bem”, além da suíngada ““Guiné
Bissau, Moçambique e Angola
Racional” são destaques.
“Ela Partiu”, também conheci-
da como “Quer Queira Quer Não
Queira”, é uma aula de arranjo e
vocalizações soul, com Tim Maia
esbanjando vitalidade vocal.
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Escritores não são astros pop. Não atraem multidões como roquei-
ros ou artistas de Hollywood. Exceções como J.K.
Rowling, autora
da série Har-
ry Potter, ou
Paulo Coe-
lho apenas con-
firmam a regra. Há,
claro, países onde o hábito
da leitura é bem mais arraigado do
que no Brasil, como a intelectualizada
França, que reserva um cantinho discreto para
os seus escritores na área VIP. Seja como for, não
se equipara a um estrelato. Basta comparar com o que
acontece quando uma moça bonita, tipo a Carla Bruni (antes
mesmo de se tornar primeira-dama), começa a miar uma balada
vagamente parecida com uma bossa nova.
Na verdade, a maioria dos escritores já nem se preocupa tanto
com o tamanho da sua fatia de leitores, salvo, claro, porque dela de-
pende ao menos parcialmente para pôr comida na mesa. Muitos têm
outras profissões durante as horas “úteis”. Excetuando-se aqueles
que ainda almejam acertar um tiro na listas dos livros mais vendidos,
a maioria sabe – ou tenta se convencer – que o importante não é a
quantidade, mas a qualidade dos leitores. O que são, afinal, algumas
dezenas de milhares de exemplares vendidos se se tem, ali, fiéis,
centenas de pessoas inteligentes, realmente comprometidas com a
boa leitura?
Contudo, existem ocasiões, que por sorte e por perseverança estão
se tornando cada vez mais numerosas também no Brasil, nas quais
os escritores se sentem um pouquinho como astros pop. São as bie-
nais do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Belo Horizonte; é a Feira
do Livro de Porto Alegre; a Jornada de Passo Fundo; o Fórum das
Letras de Ouro Preto; a Tarrafa Literária, de Santos; a Festa Literária
Internacional de Paraty; a Fliporto, agora em Recife; e, claro, é a Fei-
ra Pan-Amazônica do Livro, em Belém. Certamente esqueço algum
outro evento dessa natureza, mas esse meu inevitável esquecimento
só virá a comprovar o que digo ali em cima: eles estão se tornando
cada vez mais numerosos.
Claro que há diferenças de dimensões e de propósitos entre eles.
Uns privilegiam o acesso do leitor aos livros, outros pretendem apro-
ximar leitores e autores, outros ainda buscam reunir tudo, literatura,
mercado editorial e consumidores. Uns ocorrem em cidades colo-
niais, outros em grandes metrópoles, outros ainda em importantes
centros regionais. Todos, porém, têm em comum o fato de que, seja
como protagonista seja como principal coadjuvante, o escritor se
sente prestigiado, vivo, útil. Nessas feiras e festas, ele não disputa es-
paço nem com os figurantes de Malhação nem com a última banda
emo; ele é que é o tal. Já vi uma multidão de crianças cercar reve-
rentemente o Luis Fernando Verissimo na Praça da Matriz, em Paraty,
atrás dos autógrafos que ele com certeza deu agradecido.
Em encontros maiores, são famosas as filas de crianças, adoles-
centes e adultos que se formam à espera de uma assinatura de Ziral-
do ou de Thalita Rebouças em seus livros infanto-juvenis. Para quem
ama ler, e para quem vive de escrever, dá gosto de ver. Quando são
realizadas em grandes espaços, como o Riocentro, o Anhembi ou
a Expominas, o trânsito dos autores de um ponto a outro da bienal
talvez seja até efetuado num carrinho elétrico, como os usados nos
campos de golfe. O sujeito/a sujeita vai ali, no lugar de honra, cha-
mando a atenção e os flashes inclusive de quem não tem a menor
ideia de quem ele/ela seja. A lógica é: “Se está ali, só pode ser autor/
autora importante.” E isso faz sentido.
Acho que é fácil imaginar o quanto uma ocasião dessas
massageia o ego de quem necessariamente trabalha sozinho, iso-
lado do mundo, na companhia apenas da sua imaginação e, se for
o caso, de outros livros para consultar _ mas que, talvez contra a
própria índole, cada vez mais frequentemente tem de sair da toca
para promover o trabalho e lembrar ao leitor que, ora bolas, o autor
existe. Até por isso, admiro escritores como o mineiro acariocado
Rubem Fonseca ou o curitibano convicto Dalton Trevisan, que fazem
raríssimas aparições públicas e, tá louco?, nunca em encontros de
escritores, feiras do livro ou noites de autógrafos. Queria ter o telefone
dos seus psicanalistas. É preciso ter um ego sólido, aliado a uma não
menos sólida convicção moral, para agir assim, evitando o assédio.
Porque eventos que reúnem escritores, livros e leitores não
são somente ocasiões autocongratulatórias, mas também proporcio-
nam uma bela oportunidade para se encontrar amigos e conhecidos
e para transformar desconhecidos em amigos. São, enfim, eventos
sociais, que, no caso de Paraty ou de Ouro Preto, lugares onde se
bebe uma boa pinga, podem resultar em porres homéricos. Aliás, o
grego Homero, que por alguma razão qualifica mais a carraspana do
que qualquer outra coisa extraordinária, era poeta. Não era nem ad-
vogado nem engenheiro. Não que esses não possam beber, e bem,
mas faz parte do charme da literatura ter sempre uma dose dupla de
um negócio qualquer à mão. Ninguém confiaria muito em petições
e obras tocadas sob a influência do álcool, certo? E ninguém levaria
muito a sério livros que não tenham sido feitos com as entranhas
aquecidas.
Ou seja, para arredondar, esses encontros literários nos quais os
autores se sentem os tais são uma espécie de “circo da Fórmula
1” sem carros, milhões de dólares e modelos. Todavia, tal como o
seu primo rico, o “circo da literatura” faz mais ou menos os mesmos
aventureiros se encontrarem em variados pontos do mapa. Isso não
tem como ser ruim, no duro que não. Muito menos se o pretexto for
algo tão bacana quanto um singelo livro.
O circo daliteratura Arthur Dapieve
jornalista
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galeria
A curiosidade aguçada e a liberdade criativa sempre marcaram o trabalho de Geraldo Teixeira
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liberdade
Arthur Nogueira Luiza Cavalcante
Na década de 1940, no livro “A Rosa do Povo”, Carlos
Drummond de Andrade deu um conselho ao poe-
tas: “Convive com teus poemas antes de escrevê-
los”. Aos 57 anos, Geraldo Teixeira parece seguir a cartilha
do itabirano, porém adaptando o verso a uma realidade que,
segundo ele, está presente em sua vida “desde que se en-
tende por gente”: as artes visuais. Em seu ateliê, em Belém,
o artista vive cercado de materiais diversos e cotidianos,
como madeira, alumínio, ferro e vidro, com os quais desen-
volve um trabalho original, sempre à procura de significados
que, de tão óbvios, podem passar despercebidos em meio
à correria da cidade grande.
“Sou curioso”, diz o artista entre esculturas, telas e latas de
tinta. “Em tudo vejo possibilidades.” Atuante no ramo desde
1975, sua obra faz jus à personalidade inquieta, cujo tempo
não amolece, mas arrebata. Fundador da Associação dos
Artistas Plásticos do Pará e outrora curador geral do Salão
Paraense de Arte Contemporânea, Geraldo Teixeira já parti-
cipou de inúmeras exposições individuais e coletivas no Bra-
sil, Estados Unidos e Europa, e possui obras em acervos de
importantes museus brasileiros.
Quando olha para trás, Geraldo Teixeira define a própria
trajetória como um mergulho: “É assim, você vai e não tem
volta”. Das lembranças é que ele acende o fogo, como diz a
Senhorda própria
Sem amarras, Geraldo Teixeira vem construindo, ao longo de 35 anos, um trabalho marcado pela curiosidade sem fi m
»»»
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canção que Edith Piaf tornou hino, sem jamais perder o viço.
“Gosto de ser artista visual e ainda me entusiasmo com isso
aos 35 anos de carreira.” Parar? Não está nos seus planos.
“Quero morrer entusiasmado”, assegura.
Não à toa, a produção de Geraldo Teixeira permanece
efervescente, como retrato de seu tempo. São telas, escul-
turas e instalações que remetem a símbolos reconhecíveis,
desde imagens sacras até elementos da cultura amazôni-
ca, trabalhados a partir de técnicas como pintura, colagem
e desenho. “Gosto do termo ‘artista visual’ porque admite
todas essas possibilidades”, diz ele, que já utilizou nas obras
carcaças de embarcações (cavernames), madeira esculpi-
da, restos de metais, resíduos das indústrias e outros mate-
riais, coletados pelos lugares onde andou, como o observa-
dor minucioso que é.
Em 2005, por ocasião da exposição “Láminas d’água”,
inúmeros artistas, pesquisadores e amigos escreveram suas
impressões sobre a obra de Teixeira, com a linha comum de
exaltar sua percepção particular acerca do que é reconhe-
cível. A arquiteta Jussara Derenji, diretora do museu da Uni-
versidade Federal do Pará (UFPA), pontuou que “a trajetória
de Geraldo, sem ser linear, é constante, não dá saltos, evo-
lui, com segurança, com firmeza” e que ele é o “senhor da
própria liberdade”. Já Rosana Charone Bitar, pesquisadora
em arte, ressaltou que o artista valoriza, a partir da maneira
peculiar de viver e produzir, o que pode ser descrito como »»»
De imagens sacras a elementos da cultura amazônica, nada escapa do olhar do artista
Gosto de ser artista visual e ainda me entusiasmo com
isso 35 anos depois
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“lealdade ao produto”. De fato, Geraldo conta
que, em muitas ocasiões, chegou a persistir
em uma tela, sem sucesso, quando ela pró-
pria já dava sinais de que estava concluída.- “Aí
aprendi que a obra fala e você deve ouvi-la.”
Uma fase que ele aponta como uma das
preferidas é o “Santo de casa”. São telas que
reproduzem imagens sacras, como São Se-
bastião e São Miguel, sobre elementos mun-
danos, como tabuleiros de jogos, e cores
fortes, entre as quais vermelho-sangue e dou-
rado. “As imagens desses santos já estão no
imaginário popular e suas histórias têm muito
a ver com a nossa”, explica. Segundo o artista,
o mundo sente a necessidade do sagrado, daí
expressões como “meu Deus” ou “se Deus
quiser” serem tão recorrentes, independente
da religião de quem as pronuncia.
Recentemente, em reconhecimento ao tra-
balho que realiza, o artista deixou seu ateliê-
residência em Belém para uma temporada
de 20 dias na Europa. Ele recebeu um con-
vite da Colorida Art Gallery, em Lisboa, para
montar “Organicidade”, sua primeira mostra
individual no Velho Mundo. Trata-se de uma
coletânea de trabalhos cujo foco é a azuleja-
ria, tradição portuguesa que, pelas mãos de
Geraldo Teixeira, adquire nuances brasileiras.
“A tradição provoca o mundo contemporâ-
neo e você precisa, de alguma maneira, se
situar nela”, adverte. Nas telas, os azulejos
portugueses ressurgem em tons tropicais e
texturas diversas.
Para o amigo e artista plástico Jorge Eiró,
Geraldo Teixeira propõe em “Organicidade”
não só uma viagem plástica de redescobri-
mento da azulejaria, mas um processo artís-
tico que agrega referências clássicas e, ao
mesmo tempo, ligadas ao “intrigante univer-
so experimental contemporâneo”. É a luta
que o artista trava, ainda segundo Eiró, com
“as matérias de seu tempo”.
Espirituoso e antenado, Geraldo Teixeira
garante que não abre mão de desfrutar dos
prazeres cotidianos, seja com a família ou
os amigos. Desde jovem se empenhou na
construção de um circuito de arte em Be-
lém, com o objetivo de criar novas possibili-
dades à produção visual da cidade.
Por seu empenho, até recebeu a alcunha,
dada por Marisa Morkazel, mestre em His-
tória da Arte e doutora em Sociologia, de
“guerreiro navegante”. Segundo ela, por-
que se trata de um ser humano dedicado
às lutas e conquistas da classe artística,
que permanece em vigília, na busca por
“novos lemes”. No final das contas, fica a
prova de Drummond, como lá no início:-
“Que se dissipou, não era poesia / que se
partiu, cristal não era”.
“le
qu
em
pr
ap
p
re
b
d
fo
ra
im
a
o
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[91] [email protected]
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especial
Cinco décadas de carreira transformaram o paulista Marcos Bassi na maior autoridade em carnes do país
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O sorriso estampado na cara faça sol, faça chuva re-
flete a personalidade forte e o perfeccionismo com
que administra tudo o que faz na cozinha – do bife
mais simples, típico da culinária caseira, ao corte de carne
servido em refinados encontros gourmet. As mãos, que na
juventude carregavam vísceras nos arredores do Mercado
Municipal de São Paulo, hoje estão por trás de um dos cardá-
pios mais badalados do segmento gastronômico do Sudeste
brasileiro. A figura do paulista Marcos Guardabassi, conhe-
cido como o “artesão da carne”, é referência certa quando
o assunto é comer bem, tudo resultado de décadas de es-
pecialização na arte de preparar carnes e, pouco a pouco,
disseminar suas técnicas e sua marca no Brasil e no exterior.
Descendente de italianos, nascido e criado nos arredores
do Mercado Municipal, na zona central de São Paulo, Bassi
– como prefere ser chamado – entrou na carreira de empre-
sário do setor de carnes bem cedo. Não é à toa que diz, sem
titubear e com ares de brincadeira, ter dedicado nada menos
que 50 de seus 62 anos de idade à tal “vida de açougueiro”.
Desde a infância, o paulistano vendia miúdos – vísceras – de
carne nos arredores do Mercadão, levando adiante uma tra-
dição de parte da família. O pai era alfaiate e tomava conta
da indumentária de artistas de teatro no Brasil e no exterior;
já a mãe, costureira, era filha de vendedores de alimentos do
centro paulistano. “Rodava aquela área do mercado de bici-
cleta, vendendo miúdos, depois entrei no mercadão e traba-
lhei por lá algum tempo. Mas ainda não conhecia a fundo o
produto que vendia”, lembra.
A oportunidade para ir além do trabalho braçal veio na
adolescência. Aos 14 anos – quando já conhecia e namo-
rava sua futura esposa, Rosa Maria –, Bassi teve a oportuni-
dade de trabalhar em uma casa de carnes na rua Humaitá,
CarneArtesão
da
A história do paulista Marcos Bassi, o homem que se tornou referência quando o assunto é comer bem
»»»
Guto Lobato Fernanda Brito
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no distrito da Bela Vista, então um dos endereços da elite
paulistana, composta em sua maioria por descendentes de
italianos, franceses e ingleses. O contato com os diferentes
universos culturais que a refinada clientela trazia serviu para
que ele, pouco a pouco, começasse a definir um perfil de
trabalho muito além de seu tempo.
O primeiro passo foi mudar a própria imagem de açou-
gueiro. Para atender à clientela, todos os funcionários utiliza-
vam aventais de linho, lavados e trocados diariamente para
manter o aspecto de limpeza. Além disso, pouco após as-
sumir a administração da casa, Bassi começou a elaborar
cortes especiais, inspirados na culinária europeia. “Tornou-se
imperativo traduzir a gastronomia, o gosto desses clientes,
em cortes específicos de carne”, argumenta. Foi a partir des-
sas “exigências de mercado” que o artesão autodidata ad-
quiriu o hábito, até hoje mantido, de estudar a anatomia bovi-
na, em especial sua estrutura muscular – principal elemento
definidor da maciez e sabor dos diferentes cortes de carne,
de acordo com especialistas. “Foi a época em que comecei
a ver o preparo da carne como uma arte que envolve estudo
em tempo integral, contato diário com produtores e interesse
em conhecer outras culturas e formas de preparo.”
Fome de novidade
Daí em diante, a carreira do “açougueiro” deslanchou e se
fixou no concorrido cenário gastronômico da metrópole. Já
com recursos acumulados e um público consumidor cativo,
Bassi inaugurou nos anos 1970 dois empreendimentos: uma
central frigorífica, dedicada ao abastecimento de restauran-
tes e consumidores ilustres da cidade, e um restaurante es-
pecializado em carnes. Este último acabou tornando-se a
menina dos olhos do paulistano e permanece em ativida-
de até hoje, com renovações eventuais em sua arquitetura
e cardápio. Já a marca de cortes que leva seu nome e a
central de processamento foram vendidas há pouco mais de
uma década.
Instalado na rua Treze de Maio, no coração do bairro do
Bixiga – tradicional reduto cultural e gastronômico de São
Paulo, pelo qual Bassi tem afeição singular –, o hoje intitulado
Templo da Carne contrasta com as cantinas e trattorias ita-
lianas que o cercam. O ambiente, charmoso, mas nem por
isso intimidador, inclui pé-direito alto, revestimento em tijolos
aparentes, iluminação suave e uma diversidade de espaços
que contempla desde o salão de refeições até um bar, uma
adega e uma sala dedicada a eventos gourmet.
À frente do “Templo da Carne”, no coração do bairro do Bixiga, Bassi celebra o prazer de comer bem, oferecendo o que há de melhor aos clientes
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Fora o cardápio e os funcionários, que atendem cada
mesa individualmente, os clientes ainda recorrem à obser-
vação pura na hora de escolher seu prato; isso porque os
cortes são expostos in natura em uma mesa, ao centro do
salão principal, para que se tenha uma ideia do que virá à
mesa após ser feito o pedido. O restaurante funciona como
uma churrascaria à la carte – muito embora o termo não seja
dos mais precisos. “Nosso formato foi concebido para deixar
as pessoas mais à vontade para escolher, ver o produto cru,
antes do preparo. Tomamos o cuidado de deixar os cortes à
mostra porque eles são a ‘estrela’ do negócio”, reitera Bassi.
Quanto ao desafio de manter um restaurante especializado
em tempos de valorização do ecletismo nos cardápios, Bassi
é categórico: “Não é difícil, é quase impossível (risos). Mas
temos nossa proposta bem definida e não vamos mudar.
Não somos um steakhouse, tampouco uma churrascaria.
Não fazemos rodízio. Somos uma casa de carnes”.
Mesmo após três décadas de trabalho no restaurante, o
artesão garante que a rotina jamais se esgota – principal-
mente quando o assunto é inventar novidade. Até a finaliza-
ção desta matéria, o artesão já contabilizava 160 invenções
próprias, entre cortes industriais e os que são servidos com
exclusividade no Templo da Carne. Alguns são referência na
alta gastronomia brasileira, como o “Bom-Bom” – corte sem
gordura, feito do miolo da alcatra –, a “Bisteca Fiorentina”,
com seus 950 gramas de filet mignon, contrafilé e alcatra,
e o “Olho de bife”, parte nobre do contrafilé. A inspiração
para tantas variações é a mesma dos tempos de Merca-
dão. “Além de apreciar o sabor da carne bovina, vejo nela
uma infinidade de texturas e sabores... e possibilidades. Sou
o mesmo garoto criativo de décadas atrás, só que com mais
conhecimento! Tenho fome de novidade”, brinca.
Olhos abertos...
Além de “artesão”, como imprensa, amigos e frequen-
tadores do Templo da Carne continuam intitulando-o, Bas-
si também se mostra um empresário de mão firme, atento
ao segmento de produção bovina no país. Fiel defensor das
boas carnes, comercializadas com rigor e qualidade, ele faz
questão de fiscalizar tudo aquilo que oferece a seus clien-
tes diariamente. “Isso aprendi desde os tempos de açougue:
temos que ficar de olhos abertos para o mercado de pro-
dução, saber escolher bem nossos fornecedores e cobrar
deles profissionalismo. Não é raro termos que negar certas
mercadorias, exigir controle mais rígido. O Brasil, ao mesmo
tempo em que é um dos maiores celeiros do mundo, é, tam- »»»
A rotina jamais se esgota quando o assunto é inventar
novidades
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bém, leigo no que concerne aos cuidados com o consumo
de carne vermelha”, alerta.
A experiência acumulada em visitas às regiões brasileiras
e a mais de 40 países, fosse como convidado para eventos
gastronômicos, fosse para experimentar e conhecer cultu-
ras distintas, fez com que o artesão se tornasse cada vez
mais exigente e perfeccionista. Isto se vê no próprio cardápio
do Templo da Carne, em que detalhes minuciosos sobre o
preparo dos pratos são apresentados ao consumidor leigo.
“Vários chefs internacionais já vieram aqui e fizeram ques-
tão de conhecer o processo. Creio que o consumidor leigo,
que vem ao Templo para jantar, também merece ter essas
informações, seja lendo o cardápio ou pedindo informação
ao garçom. Quando você resolve se intitular um especialista
em carnes, precisa ter em mãos o máximo de conhecimento
possível – e saber repassá-lo”, afirma Bassi.
Parte dessa experiência já foi transformada em um DVD
de ampla repercussão no meio gastronômico. “A magia do
churrasco”, vídeo em que Bassi apresenta alguns de seus
truques para elaborar bons cortes e qualificar um dos maio-
res símbolos da culinária popular brasileira, foi a evolução
natural de uma sequência de mais de 900 palestras que o
artesão deu pelo país, esclarecendo ao público leigo de que
forma a qualidade da carne se reflete na mesa do brasileiro.
A repercussão foi tão boa que Bassi diz receber mais de 50
e-mails diários de pessoas que viram o vídeo. Pelo menos
metade deles vem de fora do Brasil. “Isso é um sinal de que
a meta que eu queria atingir com o DVD se concretizou. A
ideia era falar mais com o açougueiro e com o consumidor
do que com o produtor especializado, fazê-los deixarem de
ser vendedores e comensais ‘acomodados’, acríticos. Isso
deu certo, não só no Brasil como em outros países em que o
DVD chegou de alguma forma”. A web também é excelen-
te meio de divulgação, segundo Bassi. No site Youtube, por
exemplo, partes do vídeo “A magia do churrasco” que foram
postadas têm média de 3 mil acessos por dia.
...E para o futuro
Casado há 39 anos, pai de duas filhas – Tatiana e Fabiana
– que atualmente ajudam na administração do Templo da
Carne e de sua marca, Bassi se diz um homem românti-
co, idealista e satisfeito com os rumos que sua vida tomou.
“Amo meu restaurante, minha esposa, minhas filhas... e meu
trabalho de artesão, claro (risos). Hoje olho para trás e vejo
que já construí uma trajetória importante, tanto para projetar
nosso país como um produtor de boas carnes e cortes como
para trazer pratos mais saborosos e saudáveis para o brasi-
leiro consumir”, diz. “Mas ainda tenho muita coisa para fazer,
Vídeos postados por Bassi na internet chegam a receber
três mil visitas por dia
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nem penso em me aposentar”, complementa.
A gratidão ao bairro do Bixiga, que o acolheu desde os
tempos de açougue, é uma das principais motivações para
que Bassi tente reinventar seu negócio após décadas de tra-
balho. Recentemente, ele e as filhas iniciaram um processo
de revitalização da rua Treze de Maio, bem no perímetro em
que seu primeiro restaurante foi aberto, logo após a praça
Dom Orione, onde, aos sábados, acontece a tradicional Fei-
ra de Antiguidades do Bixiga. Reformas nas calçadas e nas
construções da via são o jeito que o artesão encontrou de
demonstrar o prazer de fazer parte da tradição gastronômica
do bairro – ideia semelhante já foi conduzida em São Paulo
pelo proprietário do restaurante Famiglia Mancini, que revita-
lizou a rua Avanhandava, no bairro da Consolação.
“É uma proposta interessante. Mas eu quis fazer isso na
Treze de Maio mais para presentear os moradores e o bairro
do que para atrair turismo. É uma reforma que vai além do
visual”, aponta.
A alma inquieta de empreendedor encontra apoio nas
ideias das filhas Tatiana e Fabiana, que estudaram nos Esta-
dos Unidos e refrescaram as ideias de Bassi. Inspirado por
elas, o artesão pretende inaugurar, até novembro, uma es-
pécie de “joalheria” de carnes – espaço em que serão vendi-
dos cortes finos, especiais, e que também terá como ende-
reço a Treze de Maio. Outra novidade – essa já apresentada
ao público – é a incursão de Bassi pela web. Quem quiser
conhecer detalhes sobre sua carreira, história de vida ou
mesmo sobre o cardápio do Templo da Carne pode aces-
sar o blog http://blogdomarcosbassi.blogspot.com/, o twit-
ter http://twitter.com/marcosbassi e o site oficial http://www.
marcosbassi.com.br/. “Tudo isso é novidade para mim,
mas estou aprendendo a lidar. Tiro eventuais dúvidas com
as meninas (risos)”.
Com tanta história – e tanto prazer em contá-la –, Bassi é
o tipo de pessoa cuja trajetória renderia um bom livro. Pois é
isso que deve acontecer até fim do ano: o jornalista Thomaz
Souto Corrêa está prestes a finalizar a biografia do artesão,
ainda sem título. Também está previsto para o final do se-
mestre o lançamento de um livro, editado pelo Serviço Na-
cional de Aprendizagem Comercial (Senac), sobre preparo
e elaboração de cortes de carne. “O livro vai ser direcionado
aos estudantes de culinária e gastronomia. Se estudei desde
anatomia bovina até culturas da Europa para chegar aonde
cheguei, é porque quero levar algo de novo às pessoas – do
produtor e do vendedor ao consumidor leigo. Quero que as
pessoas saboreiem a carne que põem na mesa, mas tam-
bém a conheçam”. Lição nada difícil para a grande maioria
da população brasileira aprender.
“Nem penso em me aposentar”, diz o especialista, que anda hoje se alimenta de novas ideias para seguir adiante na carreira
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Algumas dicas para preparar uma boa carne
Conheça seu fornecedor. Mesmo que vá comprar a carne
no supermercado, busque saber o nome dos produtores, a
procedência exata da carne até chegar à prateleira. Bassi
frisa que, mesmo sendo um dos maiores celeiros mundiais,
o Brasil ainda carece de certo profissionalismo no setor bovi-
no. “É incrível como a forma com que o boi foi produzido se
reflete no gosto e na textura de sua carne. É preciso ficar de
olho”, diz o artesão.
Estude a estrutura muscular do boi. Não precisa ter co-
nhecimentos aprofundados para compreender que os mús-
culos são o que mais influi à hora de definir o que é carne
de primeira e de segunda na carne bovina. Para começar a
inventar seus próprios cortes, Bassi estudou cada centímetro
do animal – e aprendeu a aproveitar o que de melhor havia
em cada carne.
Não tenha preconceito com tipos de carne. E quem disse
que coxão duro, patinho e acem não podem figurar em pra-
tos de qualidade? Quem tem mania de só dar valor ao filet,
ao contrafilé, à picanha e à alcatra pode se surpreender com
sabores especiais proporcionados por cortes menos nobres.
Como diz Bassi: não existe carne de primeira ou segunda;
existe boi de primeira ou segunda.
Realce o sabor, em vez de disfarçá-lo. É regra geral no
restaurante de Bassi: como a carne é a alma do negócio,
nada de exagero nos molhos e temperos. Procure prepará-
la de forma que os acompanhamentos não ofusquem, e sim
valorizem, o sabor da carne. O artesão, por exemplo, é fiel
defensor do sal grosso – não só no churrasco como, tam-
bém, nas carnes servidas à la carte;
Sirva sem muitos acompanhamentos. No Templo da Car-
ne, reza a cartilha que a carne é a “rainha” do negócio. Por-
tanto, os acompanhamentos circulam em torno de saladas
e grãos – elementos leves que, além de saudáveis em com-
binação à proteína da carne, favorecem o sabor dela e tor-
nam o prato mais equilibrado. “Como a carne é algo pesado,
é bom jogar com saladas e grãos leves, de fácil digestão.
Além de bonito e chamativo, o prato se torna mais saudável”,
argumenta Bassi.
Para lerBlog – http://blogdomarcosbassi.blogspot.com/
Twitter – http://twitter.com/marcosbassi
Site oficial – http://www.marcosbassi.com.br/
Para assistir“A magia do churrasco”. Brasil, 2008. Preço médio: R$ 32,90
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“Meu trabalho é cozinhar na casa das pessoas.”
É com essa frase que o chef Felipe Gema-
que define o trabalho que vem desenvolvendo
desde a graduação em gastronomia na Univali, em Balneário
Camboriu-SC. Ele faz o que se chama de “cozinha de au-
tor”: conhece várias escolas e linguagens diferentes dentro
da culinária, sem se prender a nenhuma. “Eu cozinho o que
acho que fica bom”, sintetiza, com a simplicidade que lhe é
peculiar. Felipe também é adepto do Slow Food – um mo-
vimento mundial com origem na Itália, antagonista do fast-
food, que prega a alimentação consciente e o sabor original
dos alimentos, em vez de “simplesmente comer”. Para isso,
estabelece seu foco na faculdade de fortalecer e prevenir o
corpo de coisas ruins que a comida tem. Nas palavras dele,
“vale mais se alimentar bem que frequentar farmácias”.
Assim também é o que ele propôs apresentar à revista
Leal Moreira Living: batizados de finger-food, os aperitivos
que, literalmente, se come com os dedos funcionam em
quase todo tipo de evento. “São receitas simples, informais,
para se fazer numa reunião com amigos no domingo à noi-
te”, resume o chef.
Felipe nos recebeu em seu apartamento com o balcão da
cozinha americana repleto de receitas vistosas – mini-ham-
búrguer, bruschetta de shiitake, mini-quiche de alho-poró,
salmão com molho teriaki, tomate recheado com creme de
queijo, canudos de peito de peru com tomate seco – com o
rosto cheio de expectativa. “Adoro ver as pessoas comendo”,
ele diz. Fernanda, a irmã atenta, observa tudo e desaprova:
“Ele nem fez a barba”. Felipe, com um largo sorriso, explica
que não deu tempo – “Tô cozinhando desde ontem”.
É nesse clima de descontração que ele conta como se en-
volveu com a arte de cozinhar. Decidido a trabalhar no ramo
desde os 15 anos, certa vez encontrou com Alex Atala, um
dos nomes mais celebrados da atual gastronomia, na pri-
meira edição do Ver-o-Peso da Cozinha Paraense. Então,
perguntou a ele como se fazia para ser um chef. A resposta
veio como uma diretriz: “Trabalhe muito”. De lá em diante,
empenhou-se e contou com o apoio de profissionais como
Paulo Martins e Fábio Sicília, que abriram as portas de suas
cozinhas para Felipe observar e aprender. O próximo passo?
“Ainda não sei. Devo construir um local pra dar aula, minicur-
sos...”, adianta.
O jovem chef começou a trilhar sua carreira ainda na uni-
versidade. O único do norte do país na sua turma, passou a
conviver com influências diversas. Trabalhou em restaurante
mexicano, mediterrâneo, italiano, oriental... Em Santa Catari-
na, depois de algumas experiências profissionais, começou
a cozinhar para reuniões de “feirinos” (amigos que se encon-
tram uma vez na semana, segunda-feira, terça-feira... Daí a
expressão) e viu que esse era um campo interessante.
Quando voltou para Belém no ano passado, sem ter certe-
za se iria ficar por aqui nem do que queria, Felipe optou por
ser um personal chef: ele prepara o cardápio e estrutura uma
refeição completa a partir de um evento específico – saben-
do para quem se está cozinhando, qual é o evento, que pes-
soas virão e outras variáveis. A experiência deu tão certo que
ele se tornou especialista nisso. Felipe explica que a graça é
encontrar um ponto entre trabalhar com o que o cliente espe-
ra e ainda assim surpreendê-lo. “Gastronomia é algo muito
particular. Então eu trabalho na expectativa do dono do even-
to, existe todo um trabalho de pesquisa em torno disso, e aí
eu posso tomar a liberdade de surpreender, misturar estilos...
E com a experiência de cozinhar para vários eventos desse
tipo aqui em Belém, a gente vai conhecendo aos poucos o
gosto do paraense, que é mais particular ainda.”
Para a sessão Gourmet da Leal Moreira Living, Felipe mis-
tura a cozinha italiana com a oriental, num prato simples e
surpreendente como o chef que o apresenta. Confira.
Pode usarasmãos
Finger-Food: a simplicidade das receitas informaiscriadas pelo “personal chef” Felipe Gemaque
Camila Barbalho Luiza Cavalcante
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Ingredientes• 1 pão baguete
• 5 unidades do cogumelo shiitake
• ¼ de cebola roxa
• 2 dentes de alho
• 15ml de molho inglês
• 15g de queijo parmesão
• Cheiro-verde, sal e ajinomoto a gosto
Corte o baguete em fatias, como se fossem torradas. Então, corte o shiitake,
a cebola roxa e o alho em tiras. Refogue-os com sal e ajinomoto. Por último,
acrescente o molho inglês. Separe. Coloque as fatias de baguete em uma assa-
deira, e cubra-as com o refogado de shiitake. Em cima, coloque o cheiro-verde
e o parmesão. Leve ao forno para gratinar. Depois, é só servir – a receita rende
10 unidades.
preparo
receita
Bruschettade Shiitake
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santa marta
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Georges VernayLes Chailets De Lenfer Condrieu 2006
Delas Domaine de GrandsChemins Crozes-Hermitage 2007
Vinícola: Domaine George Vernay
Pais: França
Região: Rhône - Condrieu
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Domaine du Pegau Chateauneufdu Pape ‘Cuvee Reservee’ 2006
Georges VernayCotes du Rhone Saint Agathe 2007
Vinícola: Domaine George Vernay
Pais: França
Região: Côtes du Rhône
Variedade: 100% Syrah
Preço: R$ 119,00
Com aproximadamente 80.000 hectares de vinhedos, o
Vale do Rhône é a segunda maior região de vinhos de qua-
lidade do mundo. O rio Ródano (Rhône) nasce nos alpes
suíços, entrando na França até o Mediterrâneo. Porém, é no
sul da França, começando na cidade de Vienne e indo mais
ao sul até Avignon, é que temos os melhores vinhos produ-
zidos. A região conhecida como Vale do Rhône, dividi-se
em Rhône Norte e Sul. No norte, temos os disputados e ca-
ros vinhos das regiões de Côte-Rôtie, Condrieu (grandes vi-
nhos brancos feitos da cepa Viogner), Hermitage e Crozes-
Hermitage; no sul as regiões mais importantes são: Côtes
du Rhône, Vacqueyras, Gigondas, Châteauneuf-du-Pape e
Tavel (excelentes vinhos rosé). As uvas mais utilizadas são:
Syrah, Grenache, Mourvèdre, Carignan e Cinsault para os
tintos e Marsanne, Roussanne, Viognier, Grenache Blanc,
Clairette e Muscat para os brancos. É uma região que apre-
senta uma diversidade enorme em estilos, indo de um 100%
Syrah de Crozes-Hermitage até um corte de até 13 uvas em
Châteauneuf-du-Pape. Acho que esta na hora de começar
a desbravar esta fantástica região.
O Vale do Rhône
Vinícola: Domaine du Pegau
Pais: França
Região: Rhône - Chateauneuf Du Pape
Variedade: Corte Chateauneuf Du Pape
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Vinícola: Delas
Pais: França
Região: Norte de Rhône - Crozes-Hermitage
Variedade: Syrah
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No dia 6 de agosto de 2010, no Espaço Café Leal Moreira, foi realizada uma
celebração ao Dia dos Pais, com distribuição de brindes e a leitura de textos
homenageando a todos os presentes. Uma belíssima reunião para comemorar
esse dia especial.
Dia dos Pais
A Leal Moreira, em parceria com a Prefeitura de Belém, aderiu no último mês
de junho ao Fundo Ver-o-Sol, um programa de inclusão digital, cursos e oficinas
com o objetivo de capacitar mão-de-obra sem custos aos funcionários e seus
dependentes. Os interessados em participar deverão passar pelo RH para aná-
lise e preenchimento da ficha de inscrição no curso desejado.
Inclusão digital
José dos Santos Pereira, com o apoio da Leal Moreira, sagrou-se vencedor
do Campeonato Pan-Americano de Karatê-do, que ocorreu entre os dias 26 de
julho e 2 de agosto na República Dominicana, com a participação de atletas de
20 países. A Leal Moreira acredita no potencial dos nossos conterrâneos e in-
veste nos esportes, levando o nome do Pará cada vez mais longe.
Karatê
O 1ª Laje – Programa Leal Moreira de Melhoria, convenção com o propósito de
iniciar o processo interno de transformação organizacional e de crescimento
seguro da empresa, foi realizado no dia 10 de agosto, reuniu funcionários da
Leal Moreira Engenharia e contou com palestra do Engenheiro e Mestre em En-
genharia Frederico Martinelli. O evento foi um grande sucesso!
1ª Laje
A Leal Moreira estabeleceu uma importante parceria com o SESI, oferecendo
cursos para os funcionários e seus dependentes, vagas no programa de Edu-
cação de Jovens e Adultos e introduzindo a prática de Ginástica Laboral dentro
da empresa. Uma iniciativa importantíssima para a capacitação e bem-estar de
todos os que trabalham na construtora.
Parceria
O Bureau de Marketing e Pesquisa (BMP) realiza a pesquisa Top de Negócios há
13 anos, avaliando as preferências do consumidor em relação a marcas e em-
presas de segmentos estruturados do mercado. A Leal Moreira foi eleita a me-
lhor construtora por 27,40% do público, consolidando-se cada vez mais como
símbolo de excelência entre as construtoras da região.
A melhor construtora
O senhor Carlos de Moraes Moreira, fundador da Leal Moreira, recebeu o prê-
mio de Pai do Ano da Assembleia Paraense. A cerimônia de premiação foi reali-
zada no dia 8 de agosto com uma missa celebrada na boate Aquarius, seguida
de um almoço no salão de festas da AP. O homenageado recebeu o carinho de
seus familiares e da diretoria do clube.
Pai do Ano
A Leal Moreira e a Agre firmaram uma parceria com a Multiplus. A campanha
é válida até o dia 30 de setembro e é simples: na compra do seu apartamento,
você ganha pontos que podem ser trocados por diversos prêmios, podendo
optar entre diárias de hotéis, DVD`s, supermercado grátis, combustível e até
passagens aéreas. A promoção já começou e está conquistando os clientes.
Campanha Multiplus
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Vinte anos de economia aberta é pouco para su-
perar séculos de protecionismo e portas fechadas ao
mercado externo. Apesar dos números exuberantes
da economia do Brasil, e notadamente a do Norte,
precisaremos de mais duas gerações de profissio-
nais para construirmos outra personalidade no que
tange a condutas mais sadias no trabalho.
O problema vem de todo lado, não é concentrado
em um nível da cadeia alimentar organizacional nem
em idade. O problema é da cultura do brasileiro a
respeito do que se convencionou a chamar de tra-
balho.
Parece que profissionais de todos os credos e ra-
ças esperam que lhes digam o que fazer e mesmo
depois de explicações caminham com dúvidas que
só vão tirar quando da entrega do referido job. Ini-
ciativa é até onde não venha incomodar e o que o
chefe não vê. Com o advento de metas, diretrizes e
as mudanças oriundas da globalização insistindo em
adentrar nossas vidas quer pela TV, shoppings e a
alteração da rotina que advém de tudo isso, o discur-
so de que o empresário só quer sugar perdeu força,
mas a velha separação do grupo dos que gerenciam
e os que sofrem com os primeiros continua forte e
saudável. Alimentado pela baixa estima e pelo fazer
pouco e lucrar muito do brasileiro, a qualidade dos
produtos individuais gerados é vinculada sempre ao
que dá para fazer e não ao que precisa ser feito.
De fato, somos filhos de uma época onde não se
sabia certamente para quem se trabalhava, onde a
cobrança por resultados não existia, naquele tempo
em que o perfil pesava menos e o que contava era a
indicação que o profissional conseguia. Onde o tra-
balhar era um mal necessário e o comprometimento
com o produto final não era uma palavra composta
cujo entendimento era fato.
Assim, vivemos a era da transformação. Os ato-
res que encontram- se no palco destas décadas
tem a responsabilidade de influenciar na transfor-
mação da postura frente ao trabalho dos brasileiros.
Para que possamos construir uma economia sólida
precisamos de profissionais comprometidos com o
erro zero, a busca da qualidade em primeiro lugar,
cidadãos responsáveis e homens de palavra. Sem
este novo caldo cultural vamos patinar entre políti-
cos corruptos, subdesenvolvimento industrial e fica-
remos sempre como um país de indústria de base
e extração que vende riquezas e compra produtos
transformados oriundo destas.
Conheço pelo menos um grupo razoável de exe-
cutivos e gestores que possuem o mesmo incômo-
do. Esta energia precisa ser transformada em ação,
ação que gere resultados. Esta, entretanto, não é
uma fórmula que se deduza em curto prazo, mas
como todas as ações estruturantes, precisamos de
diversas frentes hoje para termos o amanhã que
queremos.
A culpa éda viúva Nara Oliveira
Consultora empresarial
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E K O A R AT O R R E S
C o n d o m í n i o C l u b
Conheça um pouco mais sobre a construtora acessando o site www.lealmoreira.com.br.Nele, você fica sabendo sobre todos os empreendimentos em andamento, novos projetos e ainda pode fazer simulações de compras.
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Hoje faz dois anos que tu morreste, meu amor. E embora dois
anos pareça tanto tempo, na nossa casa nada mudou. Os móveis
estão no mesmo lugar e as paredes ainda estão pintadas de azul.
Tudo está igual!
E eu...
Eu ainda continuo dormindo apenas do lado direito da cama e, às
vezes, me pego colocando dois pratos na mesa.
O canário morreu!... Mas já comprei outro para pôr na gaiola.
Os peixes... Sempre compro da mesma espécie: são cinco peixes
dourados e dois daqueles miúdos. Um aquário, um universo per-
manente. Estático. E imortal!
Eu emagreci um pouco, as roupas ficaram frouxas e eu tive que
comprar novos vestidos: todos vermelhos! Era a cor que tu sempre
disseste que me caía bem. Ainda ando com a frouxa aliança presa
ao meu dedo magro.
Semana passada aconteceu uma coisa engraçada. Fui ao mé-
dico e, na saída, ele mandou lembranças para ti. Sorri e não tive
coragem de dizer que já tinhas morrido, meu amor. E já morreste?
O telefone parou de tocar. Nossos amigos não ligam mais... Não
perguntam mais se estás melhor... Nem dizem que, com certeza,
não passaria de uma gripe e que logo logo estarias de pé.
Vou a tua cova duas vezes por semana. Sempre levo livro de po-
emas de Neruda e sento a lê-lo para ti. Já li dezenas... Centenas...
Milhares de vezes... E estarei disposta a ler mais outras inúmeras.
Tua mãe me liga de vez em quando, geralmente aos domingos,
me convidando para almoçar; mas eu nunca vou!
E todos os dias quando volto para casa depois do trabalho, sem-
pre evito passar em frente àquele campo, pois sempre acho que
vou te ver correndo, com teu corpo elástico recortando o horizonte.
Prefiro dar a volta no quarteirão e passar em frente à barbearia na
qual sempre cortavas teus cabelos. Mas a verdade é que por onde
eu ande e para qualquer lugar que eu olhe sempre há lembranças
tuas: os porta-retratos na estante, os quadros mal pintados pendu-
rados no corredor. O Morro dos Ventos Uivantes ainda guardado na
mesinha de cabeceira... E os óculos para perto que ainda marcam
a página 171.
O teu guarda-roupa está intocado. Eu ainda me visto de vermelho
e me pinto toda para sair para jantar às sextas.
Me deixaste tão só. Não tenho para quem dizer “Boa-noite”...
nem preparo mais o café para dois. Me deixaste tão só sem que eu
tivesse chance de aprender a caminhar sem te ter.
Me deixaste tão só, meu amor, que eu nem sei mais o que é viver!
Saulo SisnandoEscritormorreu
Cartapara alguém
que já
* como Maria Eduarda
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Aqui tem muito mais felicidade
por metro quadrado.
A felicidade é feita de momentos. Quando o espaço onde sua
família vive é um Leal Moreira, esses momentos se multiplicam.
Cada metro quadrado é pensado por nós com esse propósito.
É por isso que sempre fazemos o convite: viva um Leal Moreira.
Viva o seu Leal Moreira
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nº 2
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ano 7 número 26
Conheça a história de Marcos Bassi, o grande “artesão da carne” do Brasil
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