Download - RESPIRAÇÃO HOLOTRÓPICA
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Grupo Omega de Estudos Holsticos e Transpessoais
Instituto Superior de Cincias da Sade de Minas Gerais -
INCISA
MARCEL COSTA NONATO
Respirao Holotrpica:
Uma Tcnica eficaz para a cura de traumas
Salvador
2010
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MARCEL COSTA NONATO
Respirao Holotrpica:
Uma Tcnica eficaz para a cura de traumas
Monografia apresentada Banca
Examinadora do Programa de Ps-
Graduao em Terapia Transpessoal do
Instituto Superior de Cincias da Sade,
como exigncia parcial para obteno do
ttulo de Ps-Graduado em Terapia
Transpessoal.
Orientador: Carla Mirrele
Salvador
2010
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AGRADECIMENTO
Eu gostaria de agradecer a minha Me pela a vida.
A minha namorada Renata, pelo incentivo e pela digitao do material desta
monografia.
Ao Psiclogo e Terapeuta Transpessoal Felipe Passos, pela orientao desta monografia
e pela correo nos moldes da ABNT.
Aos amigos que me incentivaram para concluir este trabalho acadmico.
Agradeo a Deus pela minha sade.
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Faa o bom uso!
Autor desconhecido
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MARCEL COSTA NONATO
Respirao Holotrpica:
Uma Tcnica eficaz para a cura de traumas
Monografia aprovada como requisito parcial para obteno do titulo de Ps-graduao
em Terapia Transpessoal no Instituto Superior de Cincias e Sade pela banca
examinadora formada pelos seguintes professores:
Professor titulo Instituio
Professor titulo Instituio
Salvador BA
2010
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RESUMO
Esta pesquisa foi realizada no intuito de investigar se a Respirao Holotrpica
uma ferramenta teraputica eficaz na superao de traumas, seja no nvel fsico,
psquico e emocional. Observamos que esta tcnica, desenvolvida por Grof, torna-se
um recurso teraputico eficiente na cura de traumas. Para comprovar a verdadeira
eficcia deste procedimento, foi utilizado a pesquisa bibliogrfica e relatos de
experincias catalogadas em sesses de Respirao Holotrpica.
Palavras Chaves: Psicologia Transpessoal; Respirao Holotrpica; Cura; Trauma;
Transio de Paradigmas.
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ABSTRACT
This research was purposed to investigate if holotropic breathing is an effective
therapeutic tool to overcome trauma, in the physical, mental and emotional level.
We note that this technique, developed by Grof, becomes an effective therapeutic
resource in the healing of trauma. We use the literature and reports of experiences
cataloged in Holotropic breathwork sessions to prove the effectiveness of procedure.
Keywords: Transpersonal Psychology, Holotropic Breathwork, Healing, Trauma,
Transition Paradigm
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SUMRIO
1 INTRODUO 8 2 A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL 11 2.1 A mudana ocorre mais uma vez 11
2.2 A psicologia transpessoal no Brasil 19
2.3 Estados no comuns de conscincia 20
2.4 A nova cartografia da psique 24
2.5 Os sistemas COEX 31
2.6 Terapia Holotrpica 33
2.7 Papel do Terapeuta Transpessoal 36
2.8 Instrumentos Teraputicos 41
2.8.1 Meditao 41
2.8.2 Exerccios Psicofsicos 42
2.8.3 Tcnicas envolvendo prticas respiratrias 42
3 RESPIRACAO HOLOTRPICA 45
3.1 Respirao Holotrpica 45
3.2 O uso da respirao controlada 48
3.3 Trabalho Corporal 50
3.4 Msica 50
3.5 Vivencias de pessoas de respiraram 55
4 CONCLUSO 61
REFRNCIA 62
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1. INTRODUO
Na histria do mundo sempre existiu ganncia e violncia, tanto que se tm inmeros
casos de guerras, lutas armadas, por motivos religiosos, polticos, financeiros, pessoais e
familiares. Nos ltimos vinte anos, o mundo vem passando por diversas crises no s
pessoais como mundiais, no que diz respeito sade, o modo de vida, o meio ambiente,
a economia, a poltica, as relaes sociais, moral e espiritual. A raa humana est
vivendo real ameaa de extino, assim como a vida de todo o planeta, com uma grande
parte da populao passando por necessidades como: falta de moradia, sede, fome,
violncia domstica e desemprego.
Mesmo aps guerras violentas a natureza foi capaz de se recuperar das conseqncias.
Mas a partir do sculo XX, isso tudo mudou. O progresso tecnolgico, a produo
industrial, o crescimento populacional, a descoberta de energia atmica esto trazendo
conseqncias desastrosas na vida atual. Podemos citar a poluio industrial do solo, da
gua, do ar, a ameaa de acidentes e lixo nucleares, a destruio da camada de oznio, o
efeito estufa, o desmatamento e queimadas, a extino dos animais e o pior, famlias em
crise, desaparecimento de valores espirituais, falta de esperana, de pensamentos
positivos e falta de contato com a natureza. A humanidade agora vive uma angstia a
beira de uma catstrofe nuclear e ecolgica, enquanto possui uma tecnologia avanada
semelhante ao mundo da fico cientfica.
As grandes naes se dedicam a fabricao de armamentos para guerra e armas
nucleares que levam a gastos exagerados, a degradao do nosso meio ambiente natural
vem acompanhada do aumento nos problemas de sade, enquanto que doenas
nutricionais e infeccionais so as maiores responsveis pelas mortes no terceiro mundo.
Nos pases industrializados so as doenas crnicas e degenerativas como o derrame, o
cncer e enfermidades cardacas e quanto ao aspecto psicolgico, depresso,
esquizofrenia e outros distrbios de comportamento parecem brotar de uma deteriorao
paralela de nosso meio ambiente social (CAPRA, 1982).
Outros sinais de desintegrao social esto em alta como o aumento do alcoolismo e
consumo de drogas, o grande nmero de crianas com deficincia de aprendizagem e
distrbios de comportamento, o aumento de crimes violentos e suicdio de pessoas
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jovens. Anomalias econmicas como o desemprego em grande escala, inflao alta,
distribuio desigual de renda e criminalidade.
Ou seja, a humanidade encontra-se em crise, mas no uma crise qualquer, a crise
atual, no apenas uma crise de indivduos, governos ou instituies sociais, uma
transio com dimenses planetrias, como indivduos, como sociedade e civilizao e
ecossistema planetrio. Segundo Capra (1982) estamos chegando a um momento
decisivo.
A atual crise global basicamente de natureza psicoespiritual: ela reflete o
nvel de evoluo de conscincia da espcie humana [...] a transformao
psicoespiritual da humanidade no apenas possvel, mas j est ocorrendo,
a pergunta e se ela pode ser rpida o suficiente para reverter a atual
tendncia autodestrutiva da humanidade moderna (GROF, 2007, p.321).
De acordo com Brennan (2006) existe uma fora criativa em cada ser humano e esta
fora liberada em momentos de crise. A liberao dessa fora criativa nos permite
resolver os problemas com que nos deparamos, todos ns podemos aprender a ter
acesso fonte profunda das energias criativas.
Neste cenrio, o ser humano vem tentando desenvolver procedimentos que visam entrar
em contato com esta energia no intuito de liber-la. O processo de liberao desta fora
faz com que ele entre em contato com seus traumas e como consequncia disso os
elimine, fazendo-o triunfar na direo da sade e do bem-estar. Brennan (2006) coloca
que se o ser humano passar por este processo ele se cura.
Existem inmeras ferramentas desenvolvidas na humanidade para a cura, vamos estudar
uma delas, a Respirao Holotrpica. Este trabalho, portanto, prope-se em investigar
se a Respirao Holotrpica uma ferramenta teraputica eficaz na superao de
traumas.
Para verificar se esta hiptese vlida ou no, foi utilizada a pesquisa bibliogrfica.
Esta consiste em realizar um levantamento de dados j existentes sobre um tema. A
abordagem utilizada a pesquisa qualitativa, pois visamos interpretar os fenmenos que
envolvem a Respirao Holotrpica sem trat-los estatisticamente. Para alcanar este
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fim, utilizamos o mtodo descritivo que visa expor as caractersticas de um fenmeno,
no caso, a Respirao Holotrpica.
O referencial terico utilizado foram os principais conceitos da Psicologia Transpessoal,
especificamente os construdos por Stanislav Grof, o principal difusor desta nova escola
da psicologia. Os dados da amostra, para verificar a eficcia da tcnica, foram coletados
a partir dos estudos e pesquisas catalogadas de Grof. Os escolhemos por ele ser o
responsvel pela criao da tcnica. Foram usados, tambm, relatos de participantes do
curso em processos holotrpicos, realizado na cidade de Salvador, Bahia, no ano de
2010.
Inicialmente o que levou ao estudo do tema foram as experincias realizadas com
grupos de aprofundamentos em Processos Holotrpicos com enfoque em
hiperventilao, msica evocativa e senso percepo. Realizado no curso de Ps
Graduao, do Grupo Omega, Centro de Estudos Holsticos e Transpessoais.
Neste curso de aprofundamento, foi experimentado por diversas vezes a tcnica da
Respirao Holotrpica, alm de acompanharmos diferentes situaes de pessoas que
entraram neste processo. Foi observada a cura de vrios traumas, que mudaram a vida
das pessoas e que as ajudou a conscientizar dos seus processos internos.
Desta forma, foi resolvido que a Respirao Holotrpica seria objeto de estudo desta
monografia, por acreditar que esta tcnica muito eficaz no tratamento de traumas. Para
isso, no primeiro captulo ser analisado a mudana de paradigmas e contextualizado o
aparecimento da Psicologia Transpessoal.
No segundo captulo ser analisado a tcnica da Respirao Holotrpica, e em seguida
ser mostrado ao leitor a concluso deste trabalho, onde ser demonstrado a eficcia da
tcnica da Respirao Holotrpica na cura de traumas.
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2 A Psicologia Transpessoal
2.1 A mudana ocorre mais uma vez
V-se que a humanidade est passando por uma crise profunda, que est passando, mais
uma vez, por uma transio. Segundo Capra (1982) pode-se reconhecer a confluncia de
diversas transies ao longo da histria da humanidade, algumas delas esto
relacionadas com os recursos naturais, outras com valores e idias culturais, outras so
partes de flutuaes que acontece estarem coincidindo no presente momento. Dentre
elas, existem trs que afetaram o nosso sistema social, econmico e poltico.
A primeira transio deve-se ao declnio do patriarcado, nele os homens determinam
que papel as mulheres devem ou no desempenhar e no qual a fmea est em toda parte
submetida ao macho. Esse era o nico sistema que, at data recente, nunca tinha sido
abertamente desafiado em toda a histria. Hoje, porm, a desintegrao do patriarcado
tornou-se evidente, o movimento feminista uma das mais fortes correntes culturais do
nosso tempo e ter um profundo efeito sobre a nossa futura evoluo.
A segunda transio imposta pelo declnio da era do combustvel fssil como petrleo,
carvo e gs natural, que tem sido as principais fontes de energia da moderna era
industrial. Quando esgotar estes recursos, essa era chegar ao fim, os combustveis
fsseis estaro esgotados por volta de 2300, mas os efeitos econmicos e polticos desse
declnio j esto sendo sentidos. Essa dcada ser marcada pela transio da era do
combustvel fssil para uma era da energia renovvel oriunda do sol. Essa mudana
envolver transformaes radicais em nossos sistemas econmicos e polticos.
A terceira transio envolve o que hoje freqentemente chamado de mudana de
paradigma, uma mudana profunda no pensamento, percepo e valores que formam
uma determinada viso da realidade. O paradigma que dominou nossa cultura, durante
centenas de anos, foi o newtoniano-cartesiano, no qual modelou nossa moderna
sociedade Ocidental e influenciou o resto do mundo.
Este paradigma compreende a crena de que o mtodo cientfico a nica abordagem
vlida do conhecimento, enxerga a concepo do universo como um sistema mecnico
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composto de unidades materiais elementares e tem a crena do progresso material
ilimitado a ser alcanado atravs do crescimento econmico e tecnolgico. Nas dcadas
mais recentes, conclui-se que todas essas idias e esses valores esto seriamente
limitados e necessitam de uma reviso radical.
A atual mudana de paradigma faz parte de um processo mais vasto, uma flutuao
regular de sistemas de valores, que pode ser apontada ao longo de toda a civilizao
Ocidental e da maioria das outras culturas.
A partir do sculo XVI e XVII a noo de um universo orgnico e espiritual foi
substituda pela noo do mundo como se ele fosse uma mquina. Isso se deu devido
mudanas revolucionrias na fsica e na astronomia, culminando nas realizaes de
Coprnico, Galileu e Newton, e baseada tambm nos mtodos de Francis Bacon e
Descartes (CAPRA, 1982).
Ren Descartes usualmente considerado o fundador da filosofia moderna, visualizou
um mtodo que lhe permitiria construir uma completa cincia da natureza. Baseada na
matemtica em princpios fundamentais que dispensam demonstrao. Na sua
concepo, s podemos acreditar naquelas coisas que so perfeitamente conhecidas e
sobre as quais no pode haver dvidas (CAPRA, 1982).
A aceitao do ponto de vista cartesiano como verdade absoluta e do mtodo de
Descartes, como nico meio vlido para se chegar ao conhecimento, desempenhou um
importante papel na instaurao de nosso atual desequilbrio cultural. O cogito
cartesiano, fez com que Descartes privilegiasse a mente em relao a matria e levou-o
a concluso de que as duas eram separadas e fundamentalmente diferente. Desta forma,
ele afirmou que no h nada no conceito de corpo que pertena mente, e nada na
idia de mente que pertena ao corpo (DESCARTES apud CAPRA, 1982, p.55).
A diviso cartesiana entre matria e mente teve um efeito profundo sobre o pensamento
Ocidental, ela nos levou a atribuir ao trabalho mental um valor superior ao trabalho
manual, impediu os mdicos de considerarem seriamente a dimenso psicolgica das
doenas e os psicoterapeutas de lidarem com o corpo de seus pacientes. Na fsica tornou
extremamente difcil, aos fundamentos da teoria quntica, interpretar suas observaes
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dos fenmenos atmicos, nas cincias humanas, a diviso cartesiana redundou em
interminvel confuso a cerca da relao entre mente e crebro.
Para Descartes o universo material era uma mquina, no havia propsito, vida ou
espiritualidade na matria e a natureza funciona de acordo com leis mecnicas. Esse
quadro mecnico da natureza tornou-se paradigma dominante da cincia no perodo que
seguiu a Descartes, passou a orientar a observao cientfica e a formulao de todas as
teorias dos fenmenos naturais, at que a fsica do sculo XX ocasionou uma mudana
radical.
Segundo Capra (1982), Descartes errou, pois a fsica do sculo XX mostrou-nos que
no existe verdade absoluta em cincia, que todos os conceitos e teorias so limitados e
aproximados. A crena cartesiana na verdade cientfica , ainda hoje, muito difundida e
se reflete no cientificismo que se tornou tpico de nossa cultura ocidental, tanto
cientistas como no cientistas.
A base filosfica dessa secularizao da natureza foi a diviso cartesiana entre esprito e
matria, em conseqncia dessa diviso, acreditava-se que o mundo era sistema
mecnico suscetvel de ser descrito objetivamente, sem meno alguma ao observador
humano, e tal descrio objetiva da natureza tornou-se ideal de toda a cincia.
Em nossa sociedade atual as pessoas esto convencidas de que o mtodo cientfico o
nico meio vlido de compreenso do universo. O mtodo de pensamento de Descartes
e sua concepo da natureza influenciaram todos os ramos da cincia moderna e podem
ainda hoje serem muito teis, mas s sero se suas limitaes forem reconhecidas.
De acordo com Capra (1982), Descartes criou a estrutura conceitual para a cincia do
sculo XVII, mas o homem que deu realidade ao sonho cartesiano e completou a
revoluo cientfica foi Isaac Newton. Nascido na Inglaterra em 1642, Newton
desenvolveu uma completa formulao matemtica da concepo mecanicista da
natureza e, portanto, realizou uma grandiosa sntese das obras de Coprnico e Kepler,
Bacon, Galileu e Descartes. A fsica newtoniana forneceu uma consistente teoria
matemtica do mundo, que permaneceu como slido alicerce do pensamento cientfico
at boa parte do sculo XX.
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O decisivo insight de Newton aconteceu quando ele viu uma ma cair de uma rvore e
compreendeu que ela era atrada para a terra pela mesma fora que atraia os planetas
para o sol. Empregou, ento, seu novo mtodo matemtico para formular as leis exatas
do movimento para todos os corpos, sob influncia da fora da gravidade. A
significao dessas leis reside em sua aplicao universal, comprovou-se que eram
vlidas para todo o sistema solar. Assim, pareciam confirmar a viso cartesiana da
natureza.
O universo newtoniano era, de fato, um gigantesco sistema mecnico que funcionava de
acordo com leis matemticas exatas e ele escreveu: o tempo absoluto, verdadeiro,
matemtico, de si mesmo e por sua prpria natureza, flui uniformemente, sem depender
de qualquer coisa externa (NEWTON apud CAPRA, 1982, p.60).
Na mecnica newtoniana, todos os fenmenos fsicos esto reduzidos ao movimento de
partculas materiais, causado por sua atrao mtua, ou seja, pela fora da gravidade. O
efeito dessa fora sobre uma partcula ou qualquer outro objeto material descrito
matematicamente pelas equaes do movimento enunciadas por Newton, as quais
formam a base da mecnica clssica.
Na concepo newtoniana, Deus criou, no princpio, as partculas materiais, as foras
entre elas e a leis fundamentais do movimento todo. O universo foi posto em
movimento desse modo em contnuo funcionamento, desde ento, como uma mquina,
governado por leis imutveis. No se pensava que os fenmenos fsicos, em si, fossem
divinos em qualquer sentido. Assim, quando a cincia tornou cada vez mais difcil de
acreditar em tal Deus, um deus monrquico que governaria o mundo a partir do alto,
impondo-lhe sua lei divina, o divino desapareceu completamente da viso cientfica do
mundo, deixando em sua esteira o vcuo espiritual que se tornou caracterstica da
corrente principal de nossa cultura.
Os sculos XVIII e XIX serviram-se da mecnica newtoniana com enorme sucesso e
sua teoria foi capaz de explicar o movimento dos planetas, luas e cometas, assim como
o fluxo das mars e outros fenmenos relacionados com a gravidade. A imagem do
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mundo como uma mquina perfeita, que tinha sido introduzida por Descartes foi
considerado um fato comprovado e Newton tornou-se seu smbolo.
Durante o sculo XIX, os cientistas continuaram a elaborar o modelo mecanicista do
universo na fsica, biologia, qumica, cincias sociais e psicologia. Somente em
iniciados do sculo XX tornou-se claro que a idia de uma cincia pesada, ou seja, a
fsica clssica que se baseava na idia newtoniana de que os tomos so elementos
bsicos, duros e slidos, da matria, era parte do paradigma cartesiano newtoniano, um
paradigma que seria superado (CAPRA, 1982).
Em consonncia com Capra (1982), as novas descobertas e as novas formas de
pensamento evidenciaram as limitaes do modelo newtoniano e prepararam caminho
para as revolues cientficas do sculo XX. Esta revoluo diz respeito ao
aparecimento do novo paradigma o chamado de paradigma Transpessoal. Ele vem
responder crise que a humanidade e todo o sistema esto passando.
A psicologia foi moldada pelo paradigma cartesiano, Descartes, alm de estabelecer
uma distino ntida entre o corpo humano perecvel e a alma indestrutvel, sugeriu
deferentes mtodos para estud-los, a alma ou mente, deve ser estudada por
introspeco, o corpo, pelos mtodos da cincia natural. Desde ento, todas as escolas
da psicologia seguiram este modelo, como por exemplo, o behaviorismo, a gestalt e a
psicanlise. Com a emergncia deste novo paradigma e psicologia avanou, surgiu a
Psicologia Transpessoal, filha deste novo paradigma (CAPRA, 1982).
Segundo Ferreira, Brando e Menezes (2005), o desenvolvimento da Psicologia
Transpessoal foi beneficiado pelas descobertas da nova fsica, ela baseada nas teorias
qunticas e da relatividade e possui a viso do mundo quantum-relativista, constituindo-
se holstica. Busca analisar seu impacto na mente humana, principalmente no que diz
respeito aos diferentes nveis de conscincia, produzidos pela presena de determinada
forma de ver o mundo (cartesiana newtoniana X unidade dinmica da fsica
moderna). Bem como as tecnologias alteradoras de conscincia e suas repercusses na
construo de um novo sentido para o mundo.
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Psicologia Transpessoal muito semelhante ao modelo quantum relativismo
da fsica moderna subatmica, modelos que procuram apresentar um ponto
de vista integrado da teoria de quantum e relatividade [...] o universo todo
(material energia) uma entidade dinmica em constante mudana num todo
indivisvel (MATOS, 1992, p.11).
Busca estudar estados de conscincia experenciados pelo observador, os quais desvelam
a realidade. A apreenso do universo do que real, sempre inclui o observador. Um de
seus mtodos de investigao , portanto fenomenolgico, estudando estados de
conscincia para conhec-los como nveis de realidade. A realidade nesta perspectiva
surge inesperada do observador (FERREIRA, BRANDO e MENEZES, 2005).
Para esta nova cincia, como no estamos de fato separados (a separatividade real para
um nvel de conscincia ordinrio e iluso para o nvel de conscincia de unidade)
somos um todo, inteiro e coerente, envolvido em um incessante processo de mudana: o
holomovimento. Bohm coloca o mundo em fluxo constante onde estruturas estveis de
qualquer espcie, so nada mais que abstraes, e qualquer objeto descritvel, entidade
ou eventos, so vistos como derivados de uma totalidade indefinvel e desconhecida
(BOHM apud FERREIRA, BRANDO e MENEZES, 2005).
De acordo com Ferreira, Brando e Menezes (2005), a Psicologia Transpessoal com sua
viso holstica, prope-se a estabelecer pontes entre as filosofias (principalmente as de
tradies Orientais) e a cincia Ocidental, respaldando-se no paradigma quntico-
relativstico da realidade. Seu objetivo resgatar o conhecimento da totalidade e
integr-lo no das especialidades abarcando o complexo no simples, o coletivo no
singular, o comum no particular e o universal no individual. A Transpessoal vem
legitimar, por meios cientficos, estas tradies espirituais milenares.
As culturas Orientais desenvolveram tambm tradies espirituais que se fundamentam
em experincias msticas que levaram a criao de elaborados modelos de conscincia
que no podem ser entendidos dentro da estrutura cartesiana, mas que esto em
concordncia com recentes conquistas cientfica. As tradies msticas Orientais no
so primeiramente interessadas na formulao de conceitos tericos, elas so, sobretudo
caminhos de libertao. Buscam a transformao da conscincia, durante sua longa
histria, desenvolveram tcnicas sutis para mudar, em seus adeptos, a percepo
consciente de sua prpria existncia e de sua relao com a sociedade humana e o
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mundo natural. Assim as tradies como o taosmo, yoga e budismo assemelham-se
muito mais a psicologia do que a filosofia ou religies (FERREIRA, BRANDO e
MENEZES, 2005).
Em relao conscincia, as teorias dos pensamentos newtonianos tm em comum
que a conscincia e a inteligncia criativa no so derivadas da matria e sim das
atividades neurofisiolgicas do crebro. O crebro ficava responsvel por tudo e a
religio, tica, moral e arte constituam-se como subprodutos seus (FERREIRA,
BRANDO e MENEZES, 2005).
No sentido Transpessoal a conscincia vista de maneira nova, libertada a idia de
que a conscincia criada dentro do crebro humano. Esta viso vai alm da crena de
que a conscincia s existe do resultado de nossas vidas individuais, ela v como uma
coisa que existe, fora e independente de ns mesmos, algo sem fronteiras materiais.
Diferente da nossa vida diria a conscincia independente de nossos sentidos fsicos, a
conscincia transpessoal infinita, vai alm dos limites de espao e tempo (GROF,
1992).
Nesta nova viso da conscincia, nossa vida no formada por influncias ambientais
momentneas, a partir do dia de nosso nascimento, mas tambm modelada de igual
importncia por influncias ancestrais, culturais, espirituais, csmicas e muito mais do
que percebemos no sentido fsico (GROF, 2007).
No campo trans-pessoal experimentamos uma expanso ou extenso da conscincia
alm dos limites usuais do nosso corpo e do nosso ego, tanto quanto muito alm dos
limites fsicos de nossa vida diria (GROF, 1994, p.113).
uma ampliao da conscincia comum com viso direta de uma realidade que se
aproxima muito dos conceitos da fsica moderna (WEIL, 1990, p.9).
Portanto, a Psicologia Transpessoal, constitui-se como uma nova escola da psicologia,
especializada no estudo dos estados de conscincia, mais especificamente da
conscincia csmica, ou estados ditos superiores, ampliados a transpessoais da
conscincia que podem ser compreendidos como: entrada numa dimenso fora do
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espao-tempo, tal como costuma ser percebida pelos nossos cinco sentidos
(FERREIRA, BRANDO e MENEZES, 2005).
A Psicologia Transpessoal desponta como movimento sistematizado a partir de 1969,
tendo como alvo expandir o campo da pesquisa psicolgica, incluindo reas da
experincia e do comportamento humano associadas sade e ao bem-estar extremo.
Com a formao da associao de Psicologia Transpessoal e a publicao de sua revista,
nasceu uma primeira definio de Psicologia Transpessoal, assim expressa por Sutich
(1969 apud WEIL, 1990, p.29):
Psicologia Transpessoal (ou Quarta Fora) o ttulo dado a uma fora emergente no campo da psicologia representada por um grupo de psiclogos
e profissionais de outras reas, de ambos os sexos, que esto interessados
naquelas capacidades e potencialidades ltimas que no possuem um lugar
sistemtico na teoria positivista ou behaviorista (Primeira Fase), na teoria psicanaltica clssica (Segunda Fora), ou na psicologia humanstica (terceira fora).
O termo Transpessoal foi adotado depois de uma considervel deliberao em torno dos
relatos de praticantes de vrias disciplinas da conscincia que falavam de experincias
de uma extenso da identidade para alm da individualidade e da personalidade, e a
origem do termo atribuda a Carl Jung e Roberto Assagioli.
Sem cair nos reducionismos ou mesmo no corporativismo, a Psicologia Transpessoal
busca fazer uma sntese das diversas contribuies das tendncias teraputicas.
Seguindo esse curso, ela abriga no seu bojo os diferentes ramos do saber psicolgico
donde se destacam aspectos da psicologia no mbito experimental, fisiolgica,
patolgica, clnica evolutiva, behaviorista, gestaltista, psicanaltica, existencial e
humanstica.
Esta integrao prope uma conexo, na qual os recursos destas disciplinas com suas
respectivas tecnologias so agregados sem esfacelamentos, desse modo, foge-se do
ecletismo, que poderia ser identificado como o uso isolado de tcnicas e recursos de
diversas disciplinas sem fins de conectividade.
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Em consonncia com Ferreira, Brando e Menezes (2005), a Psicologia Transpessoal
nada exclui, pelo contrrio, inclui todas as dimenses do ser humano, proporcionando-
lhe, enquanto abordagem psicoteraputica, meios para enfrentar o sofrimento e
transcender sua identidade egoca, fonte permanente desse sofrimento.
2.2 A Psicologia Transpessoal no Brasil
A entrada da Psicologia Transpessoal no Brasil deve-se por trs vias principais: a) ao
individual ou via dos pioneiros; b) movimento popular e comunidades teraputicas ou
via alternativa; c) oficial ou via acadmica.
Na primeira via, tivemos psiclogos com formao acadmica tradicional que
mantinham suas atividades dentro desses enfoques, mas que em suas vidas privadas
tiveram experincias em estados ampliados de conscincia ou mantinham algum contato
com tradies espirituais que usavam o transe como caminho de cura. Esta via era
geralmente ambivalente e dicotmica, pois os padres de crenas, vises de homem e
mundo da psicologia oficial excluam qualquer possibilidades de incluso do sagrado,
de forma que a represso e a negao eram os mecanismos mais comuns para lidar com
estes fenmenos.
Os pioneiros emergiam e comearam a introduzir os estudos dos estados ampliados de
conscincia em seus trabalhos, bem como tentaram equilibrar suas vises de mundo
com os modelos de psicologia j presentes e reconhecidos em nossa cultura.
Na segunda via, tivemos a influncia dos trabalhos em grupo junto aos movimentos
populares e as comunidades teraputicas, aqui marcadamente uma influncia do
encontro com o humanismo Rogeriano e os movimentos de contracultura emergentes da
dcada de 60. Era possvel em um encontro discutir problemas de segurana pblica e
violncia, alm de vivenciar dinmicas de grupo que geravam confiana e ao final orar e
cantar pedindo proteo a deus e aos orixs.
Outro grande grupo, nesta via, era formado por psiclogos que tiveram oportunidade de
contactar in loco com as comunidades Orientais. O estilo de vida Oriental, com os seus
modelos de integrao mente e corpo, que incluam pratica de yoga, meditao,
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respirao conduzida, visualizaes na busca por liberao de padres negativos de
comportamento, possibilitavam aos psiclogos uma primeira tentativa de integrao de
sua viso de mundo, de forma que muitos se engajaram nestes movimentos.
Na Psicologia Transpessoal brasileira dois nomes se destacam Pierre Weil (1990), que
alm de ter sido pioneiro na introduo da teoria transpessoal, percorreu no incio vrias
regies do pas, divulgando o surgimento dessa nova escola no mundo acadmico e at
hoje atua com contribuio terica inestimvel. O segundo Leo Matos (1992) que
influenciou intensamente a formao das primeiras geraes de psicoterapeutas
transpessoais, alm de ter aberto, com seus cursos na ndia, um canal de comunicao
com as psicologias Orientais.
Admitimos que as dificuldades existentes ainda hoje das universidades brasileiras em
adotar a Psicologia Transpessoal em seus currculos, nos cursos de formao de
psiclogos, resultam no apenas da desinformao nos meios acadmicos, mas,
principalmente da mudana de paradigma, no que se refere ao conhecimento da
dinmica psquica, e da viso de mundo propostas pelas vises no-duais. notrio que
a atual vigncia do novo paradigma cientfico, com o advento da fsica quntica, vem
respaldar a viso integral Desta nova escola, conferindo-lhe o escopo de credibilidade
nos meios cientficos mais adiantados.
Entretanto, a Psicologia Transpessoal esta ganhando espao na academia, mas ainda
perdura uma resistncia do conselho Federal de psicologia em aceit-la. Quando isso
acontecer vai mudar drasticamente a realidade das faculdades de psicologia no Brasil.
2.3 Estados no comuns de conscincia
A cincia Transpessoal realiza seus estudos nos estados de conscincia que transcendem
a personalidade e o conceito do ego, Grof (2007) os chamou de estados no comuns de
conscincia. Estes estados sutis so amplos e gerais e incluem uma variedade de
condies que so de interesse para esta perspectiva.
Grof (1994) focaliza seus estudos apenas em um subgrupo que difere do restante,
representando uma preciosa fonte de informaes sobre a psique humana, tanto na
-
sade como na doena, e representa sobremaneira um notvel potencial teraputico e
transformador.
Grof (2007) destaca que o nome holotrpico significa, literalmente, buscando a
totalidade ou movendo-se para o todo, do grego holos = todo e trepein = movendo-se
em direo a.
Nos estados holotrpicos temos uma compreenso da dinmica inconsciente da nossa
psique, descobrimos como nossa viso de ns mesmos e do mundo influenciada por
memrias esquecidas ou reprimidas da infncia, do nascimento e da vida pr-natal.
Alm disso, nesses estados, podemos nos identificar com outras pessoas, animais,
plantas e com o mundo inorgnico, tais vises trazem e podem transformar nossa viso
do mundo. Portanto, quando os estados holotrpicos emergem a conscincia, alm de
ocasionar a transformao, eles tambm possibilitam a cura (GROF, 2007).
Segundo Grof (2007), nestes estados, a conscincia entra em uma mudana profunda
que no causa danos a ela. Como nas condies de causa orgnica, o indivduo
permanece orientado no sentido de tempo e espao, e no perde o total contato com a
realidade diria. Ao mesmo tempo, a conscincia acessa outras dimenses da existncia
muito intensas, assim existe uma experincia de duas realidades distintas.
Nos estados holotrpicos ocorrem mudanas de percepo sensorial, por exemplo,
quando fechamos os olhos podemos ter vises de nossa histria pessoal, do inconsciente
coletivo e individual, ter vises de reinos animais e botnicos, da natureza e do cosmo.
Este estado pode levar, tambm, aos domnios de seres arquetpicos e a regies
mitolgicas, podemos ter sensaes de bem aventurana celestial, muita paz, tambm
podemos acessar a raiva assassina, desespero total, terror, culpa e outras formas de
sofrimento emocional. Podemos ir parar em reinos paradisacos ou inferno, podemos
experienciar sabores, sons e sensaes variadas (GROF, 2007).
No que diz respeito aos pensamentos, o intelecto no fica debilitado e age de forma
diferente do seu funcionamento dirio. Podemos ter revelaes de vrios aspectos da
natureza e do cosmo, que transcende nosso conhecimento, temos insights psicolgicos
-
de nossa histria pessoal, inter pessoal e emocional, porm os mais interessantes
insights tratam de questes espirituais, filosficas e metafsicas (GROF, 2007).
De acordo com Grof (2007), podemos experimentar seqncias de morte e
renascimento psicolgico, sensao de unio com a natureza, com Deus e com outras
pessoas, podemos nos comunicar com seres desencarnados. Estes estados so a chave
para compreender a vida ritual e espiritual da humanidade, desde o xamanismo,
cerimoniais sagrados, aborgenes at grandes religiosos do mundo.
Observa-se uma grande diferena de atitude entre a civilizao industrial do Ocidente e
as culturas antigas pr-industriais, com relao aos estados holotrpicos. Ao contrrio
da humanidade moderna, as culturas nativas davam grande nfase a estes estados de
conscincia, dedicando tempo e esforo para atingi-los. Todas as culturas antigas e pr-
indstrias demonstravam grande interesse pelos estados no comuns de conscincia que
os fazem se ligar mais a natureza dos ancestrais e seres superiores (GROF, 2007).
Em consonncia com Grof (2007), as culturas nativas utilizavam esses estados como
principal meio em sua vida ritual e espiritual. Os estados no comuns permitiam contato
direto com divindades, reinos mitolgicos e foras da natureza, alm de curar vrias
desordens. Apesar dessa cultura ter conhecimentos em remdios naturais, davam
prioridade para a cura meta-fsica.
Nestes povos a inspirao artstica, idias para rituais, pinturas, esculturas e canes
vinham naturalmente nesses estados, tanto que culturas antigas e aborgenes dedicavam
significativa quantidade de tempo e energia ao desenvolvimento de tcnicas do
sagrado. Eram utilizados vrios procedimentos para alterar a conscincia e induzir a
estados holotrpicos com propsitos espirituais e rituais (GROF, 2007).
Dentre estes mtodos, esto combinaes de tambores e outros tipos de percusso,
msica, cantos, danas, controle da respirao, longo perodo de isolamento,
permanncia em cavernas no deserto, no gelo em montanhas altas. Intervenes
fisiolgicas so utilizadas tambm para chegar a esses estados, como, por exemplo,
desidratao e imposio de dores severas (GROF, 2007).
-
Segundo Grof (2007), a prtica da induo de estados holotrpicos o trao
caracterstico mais importante do Xamanismo, o sistema espiritual e arte de cura mais
antigo da humanidade. O xamanismo est conectado a esses estados de outra maneira:
os xams experientes so capazes de entrar em transe por pura vontade e de forma
controlada e usam esses estados para curar, diagnosticar doenas e explorar diferentes
dimenses.
Alm desses mtodos, existe tambm a utilizao de plantas e substncias psicodlicas,
como os diferentes tipos de cnhamo que servem para serem fumados ou ingeridos em
diversos pases. So plantas que alteram a mente com muita eficcia, como o cacto
mexicano (peiote), o cogumelo sagrado teonanacalt e ololiuqui e a ayahuasca. Esta
uma decoco de um cip da selva combinado com uma planta. H, tambm, o
composto psicodlico de origem animal, como as secrees da pele de certos sapos
(bufo alvarius) e a carne do peixe Kyphosus fuscus, do Pacfico (GROF, 2007).
De acordo com Grof (2007), a pesquisa psicofarmacolgica moderna enriqueceu os
mtodos de induo a esses estados, adicionando substncias psicodlicas em forma
qumica pura, seja isolada de plantas ou sintetizada em laboratrios. Nelas se incluem os
tetra hidro canabinol (THC), princpio ativo do haxixe e da maconha, a mescalina do
peiote, a psilocibina, a psilocina, dos cogumelos mgicos mexicanos, o LSD ou
dietilamida, do cido lisrgico e vrios derivados da triptamina, dos raps psicodlicos.
Na dcada de 50 e 60, com a descoberta do LSD, abriram novos caminhos para estudos
da conscincia humana, a sua introduo foi revolucionria para as pesquisas
relacionadas conscincia e mudou a viso que muitos tinham da psicanlise, pois
proporcionou mais viagem, no s, pela primeira e segunda infncia, mas tambm pelo
cosmos, pela natureza, pela gestao, morte renascimento, encontros com divindades,
tribos. Surgiu grande interesse por prticas espirituais, filosofias, xamanismo,
misticismo, prticas Orientais, psicoterapias experimentais e outras exploraes da
psique humana (GROF, 2007).
O uso de substncias psicodlicas est entre os meios mais poderosos e diretos de
promover estados incomuns de conscincia. Grof (2007) destaca os riscos de seu uso,
-
tanto por problemas legais, como por requerem uma ampla estrutura de apoio para dar
suporte aos efeitos colaterais produzidos por elas.
O isolamento sensorial uma tcnica laboratorial muito eficaz para alterar a
conscincia, envolve uma reduo significativa de estmulos sensoriais expressivos, em
sua modalidade mais extrema. O indivduo privado de qualquer informao sensorial
atravs da submerso em um tanque escuro e a prova de som, com gua na temperatura
do corpo. Outra tcnica laboratorial de mudanas de conscincia o biofeedback, onde
o indivduo guiado, com sinais eletrnicos de feedback (retroalimentao), a estados
holotrpicos de conscincia. Existe tambm, a tcnica de privao de sono e sonhos e o
sonhar lcido (GROF, 2007).
Segundo Grof (2007), importante dizer que episdios de estados holotrpicos de
durao variada podem ocorrer espontaneamente, muitas vezes contra a vontade da
pessoa envolvida. Como a psiquiatria moderna no faz diferena entre estados msticos,
espirituais e doenas mentais, as pessoas nesses estados so rotuladas psicticos, so
hospitalizadas e recebem tratamentos de rotina com supressores psicofarmacolgicos.
Grof e Christina se referem a esses estados como crises psicoespirituais ou emergenciais
espirituais que devidamente apoiadas e tratadas podem resultar em cura emocional e
psicossomtica, transformando positivamente a personalidade e evoluindo a
conscincia.
2.4 A nova cartografia da psique
Para explicar o fenmeno dos estados holotrpicos Grof (2007) faz um modelo com
imagem mais abrangente de psique humana, em uma compreenso da conscincia
radicalmente diferente. Esse mapa contm alm do nvel biogrfico usual, os domnios
transbiogrficos: o perinatal, relacionado com o trauma do parto biolgico e o
transpessoal, que explica fenmenos de identificao com animais, plantas, outras
pessoas, natureza, memrias ancestrais, crmicas, raciais, filogenticas, vises de
regies mitolgicas, experienciais de identificao com a mente universal, com o vazio
supra-csmico e meta-csmico. Esses fenmenos tm sido descritos h muitos anos pela
literatura religiosa mstica e oculta de vrios pases do mundo.
-
Segundo Grof (2007) O domnio biogrfico da psique consiste de nossas memrias de
infncia, adolescncia e vida adulta. Esse domnio muito conhecido pela psicologia,
psiquiatria e psicoterapia tradicionais, porm a nova descrio da psique do nvel
biogrfico, em estados holotrpicos, revelou novas dinmicas desse domnio que
ficaram desaparecidas pelos pesquisadores da psicoterapia verbal. Nesses estados a
pessoa sente emoes originais, sensaes fsicas, percepes sensoriais da poca, ao
ponto de rugas dessas pessoas desaparecerem temporariamente quando atingem esses
nveis de conscincia.
Alm do nvel de memrias da infncia, h o nvel perinatal do inconsciente, onde
encontramos sensaes fsicas e emoes de extrema intensidade que podem ultrapassar
qualquer coisa que pudssemos previamente ter considerado humanamente possvel.
A medicina tradicional nega que a criana possa experimentar o nascimento de forma
consciente, ela alega que esse evento no fica guardado na memria e no se houve
falar em experincias perinatais. Na opinio mdica tradicional, s um nascimento
muito difcil, que possa causar danos irreversveis as clulas cerebrais, pode causar
conseqncias patolgicas e em sua maior parte de natureza neurolgica, como retardo
mental e hiperatividade. Devido o crtex cerebral de um recm nascido no est
totalmente cobertos com mielina, h a negao da possibilidade de memria do
nascimento, mas essa idia particularmente absurda, quando consideramos que a
capacidade de memria existe em muitas formas de psicoterapia experimental (GROF,
2007).
Grof (2007) tem evidncias convincentes de que o parto biolgico o trauma mais
profundo de nossas vidas, ele fica gravado em nossa memria at o nvel celular e tem
um efeito profundo sobre nosso desenvolvimento psicolgico. E a experincia de
reviver aspectos do parto biolgico pode se autntica, mesmo se a pessoa no tenha
conhecimento intelectual sobre seu nascimento.
Podemos, por exemplo, descobrir se nascemos com o cordo umbilical enrolado no
pescoo, se houve utilizao de frceps, podemos sentir ansiedade, fria biolgica a dor
fsica e at reconhecer o tipo de anestesia utilizada. Isso costuma vir acompanhado de
-
movimentos no tronco, braos, pernas, podem surgir marcas, inchaos e outras
mudanas na pele.
Essas observaes sugerem que o registro do trauma do nascimento tem um alcance que
vai at o nvel celular, alm da grande conexo entre nascimento e morte, pois reflete o
fato do nascimento ser potencial ou real ameaa a vida.
As experincias que tem origem neste nvel do inconsciente surgem em quatro padres
experienciais distintas, dos quais se caracterizam por emoes, sensaes fsicas e
imagens simblicas especficas, as quais Grof (2007) se refere como matrizes Perinatais
bsicas ou MPBs.
Primeira Matriz Perinatal Bsica (MPB1) chamada de unio primordial com a me. A
existncia intra-uterina anterior ao incio do trabalho de parto, o universo amnitico,
representa a MPB1. O feto no diferencia interno e externo e no tem percepo de
fronteiras, podemos nos identificar com galxias, com o espao inter-estrelas ou com
todo o cosmo, identificao com animais aquticos, como peixes, guas-vivas,
golfinhos, baleias. As experincias neste domnio podem ser associadas a vises
arquetpicas da me natureza, segura, linda e acolhedora, imagens mitolgicas do
inconsciente coletivo, reinos celestiais e parasos. Estas experincias representam o
tero bom (GROF, 2007).
Quando as memrias intra-uterinas so de tero mal, sentimos que estamos sendo
envenenados, sentimos sensaes de ameaa obscura, imagens retratando guas
poludas e depsitos de lixo txico, vises e arqutipo de assustadores demnios,
ameaa universal, vises apocalpticas do fim do mundo. Isso reflete ntimas
interconexes entre eventos em nossa histria biolgica e os arqutipos Junguianos
(GROF, 2007).
A segunda Matriz Perinatal Bsica (MPB2) chamada por Grof (2007) de
engolfamento csmico sem sada ou inferno. Nesta MPB quando estamos revivendo o
incio do parto biolgico. Podemos ter a sensao de que o mundo inteiro, ou csmico,
est sendo engolfado e isso pode vir associado a imagens de monstros arqutipos
-
devoradores como leviat, drages, cobras gigantes, tarntulas ou polvos, sensao de
uma ameaa vital que pode levar a uma ansiedade intensa ou parania.
Outra experincia da MPB2 o descer ao reino da morte ou inferno. Reviver esse
estgio do nascimento uma das piores experincias, pois as contraes do tero
comprimem o feto periodicamente, a crvice ainda no est aberta e o feto ameaado
pela falta de oxignio. Sentimo-nos presos, dentro de um monstruoso pesadelo
claustrofbico, exposto a dores fsicas e emocionais, parece que nunca vai passar esse
momento, e so acompanhados de seqncias que envolvem pessoas, animais, seres
mitolgicos em situao de dor e desespero semelhantes ao feto. Podemos nos
identificar com vtimas da inquisio, prisioneiros em campos de concentrao, asilos
para loucos ou experimentar a agonia de Cristo na cruz (GROF, 2007).
Enquanto estamos na influncia desta matriz, somos incapazes de ver algo positivo em
nossas vidas, a conexo com o divino parece est perdida e a forma mais rpida de dar
trmino a esse estado insuportvel render-se completamente a ele aceitando-o. Esse
estado conhecido na literatura espiritual como a noite escura da alma, ele um estagio
de abertura espiritual que pode ter um grande efeito purificador e libertador.
De acordo com Grof (2007), a MPB3 denominada: A luta de morte e renascimento.
Esta MPB est associada ao segundo estgio clnico do parto biolgico. Este estgio
caracterizado pela propulso do feto atravs do canal de parto, aps a abertura do colo
do tero e a descida da cabea at a plvis. Nesta fase existem as contraes uterinas,
mas a crvice j est dilatada, o que permite a gradual propulso do feto pelo canal de
parto, o que envolve dores, asfixia, interrupo de circulao sangunea. Algumas coisas
podem acontecer, como o cordo umbilical pode ser esmagado entre a cabea e a
abertura plvica ou ficar enrolado em volta do pescoo, a placenta pode se soltar
durante o parto ou obstruir a sada, o feto pode inalar vrios tipos de material biolgico
e se os problemas forem mais extremos pode-se ter o uso de frceps ou at uma
cesariana de emergncia.
Na MPB3, alm de reviver diferentes aspectos da luta no canal de parto, ela envolve
imagens arquetpicas da natureza e histria humana, as mais importantes so as batalhas
-
titnicas, seqncias sados-masoquistas e agressivas, experincias de sexualidade
desviada, envolvimento escatolgico e encontro com fogo.
O aspecto sado-masoquista e agressivo desta matriz referem fria biolgica do
organismo, cuja sobrevivncia ameaada pela asfixia. Neste aspecto da MPB3
podemos experienciar cenas de assassinatos e suicdios violentos, mutilaes, guerras,
revolues, sacrifcios, sangrentos combates.
No que diz respeito s experincias sexuais desta matriz perinatal, h uma grande
intensidade por sua qualidade mecnica no-seletiva e por sua natureza exploradora,
pornogrfica e desviada, que so representadas em cenas de bordeis, praticas erticas
extravagantes e seqncias sados-masoquistas, como tambm, episdios de incesto,
estupro, crimes sexuais, canibalismo e necrofilia (GROF, 2007).
O aspecto escatolgico do processo morte e renascimento tem sua base biolgica no
fato de que, durante a fase final do parto, o feto pode entrar em contato com vrias
formas de matria biolgica, como sangue, secrees vaginais, urina e fezes, levando-o,
em estados holotrpicos, a envolver-se em cenas por dentro de esgoto, lixo ou beber
sangue e urina.
Ao passo que se aproxima do trmino do processo da MPB3 a atmosfera dominante de
extrema paixo, as imagens so de conquistas de novos territrios, caa a animais
selvagens, esportes desafiadores, atividades essas que envolvem ondas de adrenalina.
Nesses momentos podemos encontrar figuras arquetpicas ou divindades, semi-deuses,
ter vises de Jesus, em seu tormento e humilhao pelo caminho da cruz, mas antes da
experincia do renascimento psicoespiritual, caracterstica desta MPB, comum o
contato com o fogo (GROF, 2007).
Esse tema pode ser experimentado em sua forma comum do dia-a-dia ou na forma
arquetpica do fogo do purgatrio. Podemos ter vises de cidades e florestas em chamas
e o nosso corpo tambm em chamas. Um smbolo clssico da transio da terceira para
quarta MPB o lendrio pssaro fnix, que morre no fogo e eleva-se e ressuscita das
cinzas.
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A quarta matriz perinatal bsica chamada por Grof (2007) de experincias de morte
renascimento. Ela se configura por ser o terceiro estgio clnico do parto, onde acontece
expulso final do canal de parto e o corte do cordo umbilical. Nessa matriz
contemplamos o processo anterior, de propulso pelo canal de parto, atingimos uma
liberao explosiva e emergimos para luz; esse processo pode ser acompanhado por
memrias de vrios aspectos especficos a esse estgio do nascimento. Podem incluir
experincias da anestesia, as presses do frceps e outras sensaes associadas a parto.
Essa no uma simples experincia, tambm uma experincia de morte e
renascimento psicoespiritual. Mas no apenas isso, precisamos nos dar conta que esse
processo inclui alguns outros elementos importantes. Devido o feto est totalmente
confinado durante o nascimento e no poder expressar suas emoes, a memria desse
fato fica sem ser assimilada psicologicamente. Como consequncia, a nossa auto-
definio em relao ao mundo em nossa vida ps-natal, so contaminadas por essa
lembrana de vulnerabilidade e fraqueza que vivemos no nascimento, pois nascemos
anatomicamente, mas emocionalmente no nos damos conta disso (GROF, 2007).
A morte do ego que precede o renascimento a morte de nossos antigos conceitos de
quem somos e de como o mundo quando purgamos essas antigas programaes,
tornando-as consciente. Elas perdem sua carga emocional, mas estamos to
identificados com elas que a aproximao do momento da morte do ego parece ser o fim
da nossa existncia e apesar de parecer assustador esse processo muito curativo e
transformador.
Em consonncia com Grof (2007), quando deixamos as coisas acontecerem, temos
experincia de aniquilao total, destruio fsica, desastre emocional, fracasso moral,
derrota filosfica e at maldio espiritual. Tudo que parece significativo em nossas
vidas destrudo e aps essa experincia de total aniquilao somos tomados por vises
de luzes brancas e douradas de irradiao e beleza sobrenatural.
Aps termos sobrevivido a essa experincia de fim apocalptico de tudo, somos
abenoados por demonstraes de belos arco-ris, cenrios celestiais, luz divina, o
encontro com a figura arquetpica da grande Deusa Me em sua forma universal. Aps
essa experincia de morte e renascimento psicoespirituais, sentimo-nos redimidos e
-
abenoados experimentando o xtase, somos tomados por ondas positivas em relao a
ns, a outras pessoas e a natureza.
bom lembrar que esse tipo de experincia curadora ocorre quando a parte biolgica
no foi muito debilitante devido anestesia, se for esse o caso no temos essa sensao
positiva e sim uma sensao semelhante a uma lenta recuperao de uma doena ou
acordar de uma ressaca.
O segundo novo domnio, da nova cartografia da psique humana em estados
holotrpicos, descritos por Grof (2007), o Transpessoal que significa atingindo o
alm-pessoal ou transcendendo o pessoal. Envolve a transcendncia do nosso corpo
e ego e as limitaes do espao tridimensional e do tempo linear, que restringem nossa
percepo do mundo nos estados comuns de conscincia.
Nos estados normais de conscincia nossa viso do mundo restringida pela limitao
de nossos rgos de sentidos e pelas caractersticas fsicas do ambiente, no podemos
ver objetos do outro lado da parede, s podemos vivenciar acontecimentos no momento
presente. Diferentemente nos estados transpessoais de conscincia, nenhuma limitao
absoluta, qualquer uma pode ser transcendida, no h limites para o alcance de nossos
sentidos e podemos experimentar episdios que ocorreram no passado e at mesmo
episdios que ocorrero no futuro (GROF, 2007).
O espectro de experincias transpessoais, descrito por Grof (2007) muito rico e inclui
vrios e diferentes nveis da conscincia e podem ser dividido em trs grandes
categorias:
1- Extenso experiencial dentro do espao-tempo e da realidade consensual;
2- Extenses experimentais alm do espao-tempo e realidade consensual;
3- Experincias transpessoais de natureza psicide.
A primeira delas apresenta-se experincias de fuso com outras pessoas a unio
dual, isso assumir a identidade de outra pessoa ou identificar-se com a conscincia de
todo um grupo de pessoas como, por exemplo, com todas as mes do mundo ou todos
os prisioneiros dos campos de concentrao. Podemos tambm, identificar-nos com a
conscincia de animais, plantas, objetos inorgnicos e at mesmo todo o planeta ou o
-
universo material, como se tudo no universo tivesse seu aspecto objetivo e subjetivo,
como descrito pelas grandes filosofias espirituais do oriente. Nessa primeira categoria
podemos ter tambm memrias embrionrias ou fetais autnticas de diferentes perodos
da vida intra-uterina, alm de fantsticas experincias de DNA associadas a insights do
mistrio da vida, da reproduo e da hereditariedade (GROF, 2007).
A segunda categoria de fenmenos transpessoais que a nossa conscincia pode alcanar
so domnios e dimenses considerados irreais pela cultura industrial do Ocidente,
como identificao com divindades e demnios arqutipos de vrias culturas e visitas a
paisagens mitolgicas. Podemos compreender smbolos universais como a cruz, o
pentagrama, a estrela de seis pontas, a sustica ou o smbolo yin-yang. Nessa categoria a
conscincia pode identificar-se com a conscincia csmica ou mente universal (Buda,
Cristo csmico, Al, o Tao, Brahman) e o ponto culminante dessas experincias o
vazio supracsmico ou metacsmico.
A terceira categoria compreende o que Grof (2007) denomina de psicide. Grupo esse
que inclui situaes nas quais experincias intra-psquicas associam-se a eventos
correspondentes no mundo externo com as quais tem correlaes significativas. As
experincias psicides cobrem um vasto campo, desde sincronicidade, cura espiritual e
magias cerimoniais, at a psicocinese e outros fenmenos de mente sobre a matria,
conhecidas pela literatura iogue.
Esta nova cartografia vem revolucionar, no s a psicologia, mas a forma de
compreender e enxergar o ser humano, reflete, assim em todas as disciplinas,
principalmente aquelas que trabalham com o ser humano. Este novo conhecimento o
que Grof (2007) intitula no seu livro, como a Psicologia do Futuro.
2.5 Os sistemas COEX
O novo conceito que surgiu atravs dessas novas pesquisas de Grof (2007), foi a
descoberta de que memrias relevantes emocionalmente no ficam guardadas no
inconsciente tal como um mosaico com gravuras isoladas, mas sim em forma de
complexas constelaes dinmicas, a qual Grof denominou sistemas COEX (sistemas
de experincia condensada).
-
Um sistema COEX consiste de memrias com carga emocional, de
diferentes perodos de nossas vidas, que se assemelham pela qualidade da
emoo ou sensao fsica que compartilham. O inconsciente de um
determinado indivduo pode conter vrias constelaes COEX (GROF,
2007, p.37).
Por exemplo: as camadas de um determinado sistema podem conter todas as principais
lembranas de humilhao, degradao e experincias vergonhosas que causaram danos
a sua auto-estima. J em outro sistema COEX, o denominador comum pode ser a
ansiedade causada por sensaes de confinamento, claustrofobia, asfixia. Outro tema a
rejeio e privao emocional que pode levar a dificuldade de confiar em homens e
mulheres e pessoas em geral (GROF, 2007).
Um sistema COEX de particular importncia so os que contm lembranas de
situaes de ameaa a vida, a sade e a integridade fsica, mas no s de memrias
dolorosas e traumticas que esto no COEX, h tambm aquelas que compreendem
memrias de situaes e momentos agradveis ou at de xtase.
De acordo com Grof (2007), este conceito surgiu da psicoterapia com clientes que
surgiram de psicopatologias graves, onde o trabalho com os aspectos traumticos de
vida tiveram uma grande importncia, por isso as constelaes que envolvem
experincias dolorosas receberam mais ateno, mas o sistema COEX no se limita a
memrias traumticas.
Nos estgios iniciais de suas pesquisas Grof (2007) descreveu os sistemas COEX como
princpios que governavam a dinmica do nvel biogrfico do inconsciente, devido
experincias dele e do estreito modelo biogrfico da psique, herdado de professores e de
seus analistas freudianos.
Na compreenso atual, Grof v que os sistemas COEX vo mais alm, suas razes mais
profundas consistem de varias formas de fenmenos transpessoais, como experincia de
vidas passadas, arqutipos Junguianos, identificao consciente com vrios animais e
plantas. Eles so os princpios gerais de organizao da psique humana e se assemelha
at certo ponto as idias de Jung sobre os complexos psicolgicos (JUNG, 1905 apud
GROF, 2007) e a noo de Hanskail Leuner sobre sistemas dinmicos
-
transfenomenolgicos (LEUNER, 1962 apud GROF, 2007), mas contm outros
aspectos que diferem dos dois.
Os sistemas COEX podem influenciar a forma pela qual percebemos a ns mesmos, a
outras pessoas, ao mundo e como nos sentimos e agimos. Entre os sistemas COEX e o
mundo externo, h uma interao dinmica, pois acontecimentos externos podem ativar
especificamente sistemas COEX correspondente, e esses COEX ativos podem nos fazer
perceber e reagir de tal forma que recriamos seus temas centrais em nossa vida atual,
Isso pode ser observado com clareza no trabalho experimental em estados holotrpicos,
pois o contedo das experincias, a percepo do ambiente e o comportamento de
clientes so determinados em geral pelos sistemas COEX que domina a sesso (GROF,
2007).
2.6 Terapia Holotrpica
De acordo com Grof (2007, p.184), a expresso Terapia Holotrpica deve ser reservada
para nosso procedimento de tratamento que combina respirao controlada, msica e
outras formas de tecnologia sonora, e trabalho corporal focalizado.
Esta terapia tem como pressuposto a idia de que a maioria dos indivduos, de nossa
cultura, com nveis de desenvolvimento mdio, subtiliza seus potenciais devido ao
aprisionamento rgido a uma identificao com o seu corpo fsico e com o ego.
Segundo Grof (2007), um dos princpios centrais da Terapia Holotrpica est ligado ao
reconhecimento do carter transformador dos estados ampliados de conscincia, de
forma que busca, atravs de tcnicas, promoverem estes estados, objetivando acessar os
potenciais curativos espontneos do organismo.
Na Terapia Holotrpica os estados no comuns de conscincia, induzidos ou no, h
uma seleo automtica de material mais relevante e emocionalmente carregado do
inconsciente da pessoa, o que tiver mais emergente em nosso complexo vem tona,
tornando disponvel para nossa mente consciente. Grof (2007) chamou este mecanismo
de radar interno, ele faz emergir a conscincia o contedo inconsciente, que tem
maior carga emocional e que so psicodinamicamente mais relevantes na ocasio. Essas
-
memrias que emergem atravs do radar interno, no s so de fatos emocionais, mais
tambm de eventos que ameaaram a integridade do corpo fsico.
O radar interno livra o terapeuta de precisar decidir sobre quais problemas que surgem
do inconsciente do cliente, so importantes ou no. Desta forma, traz vantagem
psicoterapia verbal, nesta o cliente trs informaes variadas e o terapeuta decide o que
importante questionar. Logo a tendncia pessoal do terapeuta ir interferir na sesso
teraputica (GROF, 2007).
De acordo Grof (2007), nos estados holotrpicos o terapeuta no toma decises, pois
uma vez que o cliente atinge esse estado, o material a ser processado escolhido quase
automaticamente e resta ao terapeuta aceitar e apoiar o que estiver acontecendo, estando
ou no de acordo com seus conceitos tericos e expectativa. A funo do terapeuta de
apoiar o cliente com total confiana, sem tentar direcion-lo ou modific-lo, o processo
guiado pela inteligncia curativa do prprio cliente. O terapeuta a pessoa que ajuda
no processo de cura e no um elemento ativo, sua tarefa consertar o cliente, mesmo
que ele no entenda racionalmente o que se passa.
A terapia verbal pode ser til para o aprendizado interpessoal e para retificar desajustes
nos relacionamentos humanos, mas ineficaz para lidar com bloqueios emocionais e
bioenergticos e com macro traumas que subjazem a muitas desordens emocionais e
psicossomticas. Logo, na primeira metade do sculo XX, os estados holotrpicos eram
associados patologia e no a cura, situao essa que comeou h mudar nos anos 50
com o aparecimento da terapia psicodlica e com inovaes radicais na psicologia
(GROF, 1994).
Grof (2007) aponta outra diferena entre as terapias verbais e a terapia que envolve os
estados holotrpicos, que na segunda, a pessoa muitas vezes revive o trauma,
principalmente os de natureza fsica. Elas revivem experincias de afogamento,
acidentes, cirurgias, doenas infantis e esses materiais surgem de forma espontnea.
comum encontrar histricos de trauma fsico em clientes que sofrem de asma,
enxaqueca, dores psicossomticas, fobias, tendncias suicidas ou sado masoquista. O
reviver dessas memrias pode levar a muitas conseqncias teraputicas boas. Este fato
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contrasta com a posio da psiquiatria e da psicologia acadmica, que no reconhece o
impacto psicotraumtico dos traumas fsicos.
Grof (1994) revela que neste tipo de terapia os sintomas surgem como denunciadores
dos limites auto imposto ao organismo, bem como tentativas de alcanar a realizao de
seu potencial. Sendo assim, passam a ser vistos como uma tentativa de cura espontnea
do organismo. Os sintomas so utilizados como potencializadores das mudanas,
cabendo ao assistente da cura, o terapeuta, apoiar o processo experiencial com plena
confiana em sua natureza, sem tentar mud-lo.
Influenciado pelo seu modelo sistemtico de trabalho, os psiquiatras tendem a ver a
intensidade dos sintomas como um indicador da seriedade das desordens emocionais e
psicossomticas. Logo a intensificao dos sintomas vista como piora e sua
diminuio como melhora de sua condio clnica (GROF, 1994).
De acordo com Grof (1994), a pesquisa de estados holotrpicos revelou que sintomas
psicopatolgicos e sndromes de origem psicopatognicas no podem ser explicados por
traumas da biografia ps-maternal. Estas pesquisas revelaram que essas condies tm
estrutura dinmica com vrios nveis que inclui elementos dos domnios perinatal e
transpessoal da psique.
Essa descoberta revela porque a abordagem verbal de orientao biogrfica tem sido
desapontadoras no tratamento de problemas clnicos graves, pois seus mtodos so
incapazes de atingir as razes da condio que esto tentando curar. Nos estados
holotrpicos no s revelam que as desordens emocionais e psicossomticas tm
dimenses perinatais e transpessoais significativas, como fornece acesso a eficazes
mecanismos teraputicos novos que agem nesses nveis profundos da psique (GROF,
1994).
Portanto, a Terapia Holotrpica tem por objetivo principal ativar o inconsciente,
desbloquear a energia presa nos sintomas emocionais e psicossomticos e converter o
equilbrio esttico desta energia na corrente de experincia, favorecendo o
desenvolvimento da conscincia (GROF, 1994).
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2.7 Papel do Terapeuta Transpessoal
Wittine (apud FERREIRA, BRANDO e MENEZES, 2005, p.136) apresenta a Terapia
Transpessoal como:
Uma abordagem de cura/crescimento que visa estabelecer uma ponte entre a
tradio psicolgica Ocidental, inclusive as perspectivas psicanalticas e
psicolgicas existenciais, e a filosofia perene universal. O que diferencia a
terapia transpessoal de outras orientaes no nem a tcnica nem os
problemas apresentados pelo pacientes, mas a perspectiva espiritual do
terapeuta.
Aqui compreendemos a perspectiva espiritual do terapeuta como espao onde ele se
insere, considerando a natureza espiritual ou transcendente do ser-no-mundo, como uma
categoria a ser vivenciada quando trabalhada com seus clientes. De modo que
importante o processo de integrao das dimenses transpessoais com as dimenses
pessoais do ser.
O terapeuta transpessoal um ser humano comum em processo de crescimento pessoal
e desenvolvimento espiritual, ele no um mago ou mgico que promete curas
milagrosas atravs da expanso da conscincia. Porm, espera-se que ele seja um ser
humano vivenciador ou buscador de valores elevados, tica, conscincia ampliada e
conhecedor da capacidade de transcendncia da dimenso humana. necessrio que ele
no negligencie seu prprio trabalho interior e busque aliar o conhecimento de prticas
espirituais, as tcnicas que melhor se identifica com um profundo resgate e integrao
de suas sombras (FERREIRA, BRANDO e MENEZES, 2005).
Dentro deste contexto, h uma diferena entre aquele psiclogo que concorda com a
abordagem transpessoal e o psicoterapeuta transpessoal. O psiclogo transpessoal
possui o conhecimento terico autodidata ou adquirido em congressos, simpsios,
leituras ou mini-cursos informativos que no conferem uma formao completa e no
habilitam a atividade psicoteraputica (FERREIRA, BRANDO e MENEZES, 2005).
J no caso do psicoterapeuta transpessoal, alm da formao convencional, em
psicologia ou psiquiatria, indispensvel que ele tambm possua uma formao terica
vivencial em psicologia e psicoterapia transpessoal, incluindo certos requisitos mais
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exigentes do que em outras abordagens. importante tambm que ele tenha o
conhecimento das questes espirituais, procurando no seguir dogmatismo, mas ficando
aberto a grande variedade dessas questes, dentro do mbito das diversas religies,
filosofias e tradies multicentenrias.
O terapeuta deve estar aberto a todas as manifestaes religiosas e enfocar sua atuao
num contexto antropolgico e fenomenolgico, sem, no entanto, induzir o cliente as
suas crenas particulares, mantendo o mximo de cuidado com esse aspecto tico para
no vincular a psicologia transpessoal a qualquer corrente religiosa especfica sob risco
de adulterar seus pressupostos de abertura integral e de pluralidade (FERREIRA,
BRANDO e MENEZES, 2005).
Tcnicas inspiradas no xamanismo e nas filosofias e tradies Orientais tem que ser
muito bem aplicadas e o terapeuta ter o conhecimento da interferncia que elas podem
causar na dinmica psquica mediante suas correlaes bio-psi-socio espirituais.
Salienta-se que elas no devem ser usadas aleatoriamente; o terapeuta deve ter o
domnio de sua aplicabilidade e utiliz-la com conscincia.
Supe-se que o terapeuta transpessoal pretenda facilitar ao seu cliente de ir alm do ego,
portanto, indispensvel, que ele prprio esteja no investimento pessoal de transcender
seu prprio ego. Acreditamos no ser possvel guiar algum num caminho que no
trilhamos, ainda mesmo conhecendo o mapa, pois O mapa no territrio
(FERREIRA, BRANDO e MENEZES, 2005).
Se dentro do contexto da terapia surge a necessidade do toque fsico, o terapeuta
transpessoal pode faz-lo, explicitando a importncia do seu gesto, mas respeitando a
individualidade e os limites dos clientes. indispensvel evitar manipulao por parte
do terapeuta, como provocaes sensuais e atitudes sedutoras, mesmo que estas tenham
um pretexto de quebrar resistncias, desbloquear a sexualidade ou atitudes
semelhantes.
Segundo Ferreira, Brando e Menezes (2005), no que diz respeito s possibilidades de
atendimento no h contra-indicao para o terapeuta transpessoal atender pessoas
prximas, desde que essa proximidade no o impea de exercer o seu papel com
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assertividade, amorosidade e firmeza. Desde que os vnculos egocos estejam bem
claros no trabalho, evitando assim as distores das manifestaes transferncias.
Se a nica motivao do terapeuta ajudar o cliente, ele poder faz-lo baseando sua
atitude na verdade e na sinceridade, sem a tendncia de querer agradar seu amigo-
cliente, pois a sua funo no a de ser bonzinho, e sim benefici-lo no processo de
crescimento.
O psicoterapeuta transpessoal lida com a transferncia e contratransferncia
diferentemente do psicanalista, pois a psicanlise tem na transferncia seu eixo de cura
e por isso a estimula. Em psicoterapia transpessoal, reconhecem-se e se clarificam os
fenmenos transfernciais tanto os da parte do paciente quanto o do terapeuta,
principalmente quando se est trabalhando no nvel biogrfico da conscincia.
A ttulo de esclarecimento e para evitar dvidas, informamos que o uso de cristais,
florais, tar, reiki, pndulo, do-in, massagem, shiatsu, alinhamento do
chakras, entre outros, no se traduz por psicoterapia transpessoal e por isto mesmo
estas no compem o conjunto de tcnicas pesquisadas, aplicadas e validadas nesta
abordagem cientfica.
No entanto, a Psicologia Transpessoal no invalida a utilizao destes recursos como
facilitadores do equilbrio bio-psico-espiritual, na medida em que eles mobilizam
mudanas atravs da manipulao do campo energtico, largamente pesquisado em
outros modelos de sade.
Veremos agora os postulados de Wittine (apud FERREIRA, BRANDO e MENEZES,
2005) sobre alguns norteamentos da Psicologia Transpessoal e de que como o terapeuta
deve proceder.
Postulado 1: A Psicoterapia Transpessoal uma abordagem de transformao que se
dirige a todos os nveis do espectro da identidade - egoco, existencial e transpessoal.
Dentro desta perspectiva, o terapeuta considera que as problemticas vividas pelo
paciente podem se encontrar em qualquer um desses trs nveis, de forma que as
respostas de cunho essencialmente existencial, como quem sou?, de onde venho?
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para onde vou?, to centrais no campo da psicologia e tambm da filosofia, dependem
do nvel de conscincia ou da posio fenomenolgica onde o indivduo esta espectro da
conscincia.
Postulado 2: A Psicoterapia Transpessoal reconhece que a percepo do terapeuta sobre
o eu em desenvolvimento, bem como a viso espiritual de mundo desse eu, so
essenciais ao processo de formulao da natureza e ao resultado da terapia. O trabalho
teraputico quando se centraliza no processo de transformao do EU, ou dos pequenos
eus, com vistas ampliao do nvel egoco, facilita ao paciente o processo de
crescimento e transformao. Esta atuao do terapeuta pode facilitar ao paciente a
ampliao de seu senso de identidade, de forma que se perceba alm de suas defesas e
limitaes.
Postulado 3: A Psicoterapia Transpessoal o processo de despertar de uma identidade
inferior para uma identidade superior. A metfora de transformao da conscincia de
uma identidade inferior para uma superior utilizada dentro do contexto transpessoal,
de forma que a passagem de nveis egocos de funcionamento para nveis transpessoais
de conscincia buscada, dentro da psicoterapia transpessoal sem, no entanto, haver
uma perspectiva de hierarquizao rgida como vimos no postulado 1.
Postulado 4: A psicoterapia transpessoal facilita o processo do despertar atravs do
enriquecimento da conscientizao interior e da intuio. Baseando-se nos princpios da
filosofia e psicologia perene, a psicoterapia transpessoal coloca o processo de
crescimento a nveis mais saudveis e profundos como decorrentes de uma expanso
continua da conscincia. A mudana de foco da atuao para nveis internos
considerada por si mesma curativa, abrindo espao para o uso da intuio, bem como de
outros recursos alm dos cognitivos na resoluo de problemas.
Postulado 5: Na psicoterapia transpessoal, a relao teraputica um veculo para o
processo de despertar tanto no caso do cliente quanto do psicoterapeuta. Para a
psicoterapia transpessoal, no vnculo teraputico, na condio de campo de contato
existencial, que esto s sementes para o processo de transformao interior. neste
espao vital e algo virtual que se estabelece um profundo contato entre os seres que
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ocupam o lugar de cliente e terapeuta. a que emerge o potencial de cura direcionado
ao cliente, mas que reverbera tambm no prprio terapeuta.
Postulado 6: A compreenso do contexto, contedo e do processo so fundamentais na
conduo da psicoterapia transpessoal. A psicoterapia transpessoal tem como meta a
obteno de nveis de sade psicolgica mais ampliada, ou seja, que favorecem a
expanso da conscincia para alm das necessidades bsicas de sobrevivncia
(alimentao, abrigo e relacionamento), incluindo necessidades de ordem superior,
ligadas a auto-realizao.
Postulado 7: A natureza essencial humana espiritual. A Psicologia Transpessoal
concorda que a natureza da identidade humana multifacetada, abrangendo um amplo
espectro de categorias que vo do fsico ao social. Contudo, sua viso coloca uma
primazia na origem espiritual, como suporte e sustentao da estrutura psicolgica do
Self. A mente, conforme aponta Wilber (1996), a realidade ltima da dimenso
psquica e apresenta-se de forma no dual. Acess-la permitiria o rompimento com as
estruturas limitantes do ego. A sade psicolgica ltima estaria associada ao
reconhecimento da natureza ilimitada sempre presente em ns, bem como sua expresso
nas aes cotidianas.
Postulado 8: Estados ampliados de conscincia so um caminho de acessar potenciais
curativos e de crescimento do ser. A psicoterapia transpessoal foi pioneira na
explorao e pesquisa de outros nveis e estados de conscincia, ampliando o campo de
estudos da psicologia, que considerava estados ampliados como patolgicos.
Diante de tantos requisitos importantes expostos e mediantes as condies explicitadas,
o psicoterapeuta transpessoal precisa, antes de tudo, ter amor e respeito por aquele Ser
que circunstancialmente surge diante dele no papel de cliente, estando ambos pactuados
por ocasio do estabelecimento do contrato teraputico.
Com o intuito de transmitir aos leitores de que tcnicas podem ser utilizadas no
contexto clnico, selecionamos alguns procedimentos que podem facilitar o seu
exerccio profissional.
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2.8 Instrumentos Teraputicos
2.8.1 Meditao
Na terminologia yogue o termo meditao Dhyana que literalmente significa fluir da
mente. um estado de concentrao, ateno no presente, que permite a mente fluir
livremente em direo a nveis mais ampliados de conscincia.
Visando a flexibilizao da mente e facilitando estados de conscincia mais claros e
profundos, na prtica clnica transpessoal, a meditao includa geralmente como um
recurso complementar da psicoterapia. Contudo, o ponto central da meditao em
psicoterapia transpessoal permitir a pessoa permanecer no presente, incorporada em
mente/corpo e aberta para o fluxo de todas as manifestaes possveis de contato.
No mundo Ocidental, atualmente, ocorre uma invaso das prticas meditativas
Orientais, tanto com objetivos teraputicos quanto propsitos espirituais.
Os efeitos fisiolgicos e psicolgicos da prtica meditativa j so do conhecimento
pblico: baixa a presso sangunea, atravs da estimulao do hipotlamo, aumenta a
oxigenao, diminui a atividade do sistema nervoso simptico, reduz a produo e o
acmulo de cido ltico nos msculos, reduz a pulsao cardaca, aumenta a percepo
auditiva e o reflexo da coordenao motora e amplia a percepo corporal.
No mbito psicolgico reduz o dilogo interno predispondo a serenidade mental e a
tranqilidade emocional, contribui para o auto conhecimento, afasta emoes
inadequadas como medo, raiva e outras, favorecendo o despertar do discernimento, da
alegria e do amor universal.
No aspecto teraputico, pesquisas revelam que a meditao eficaz em casos de
ansiedade e dependncia de drogas levando a acentuada mudana de comportamento,
mas a prtica contra-indicada para esquizides porque podem piorar a apreenso da
realidade, para os obsessivos compulsivos por estarem fechados demais a novas
experincias ou por exacerbar a obsesso nos esforos, tambm na depresso profunda
porque acentua o estado de apatia e inao nesses casos.
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Aqui esto alguns elementos comuns que esto presentes em toda orientao prtica da
meditao. Postura corporal: sentar com pernas cruzadas na posio Oriental, quando
possvel, coluna imvel, relaxado e confortvel. Olhos fechados, abertos ou semi-
abertos, dependendo da tradio. Tambm de acordo com a abordagem, a lngua fica
voltada para a apalatina, evitando o excesso de salivao.
O controle da energia feito a partir da respirao calma e abdominal, apenas seguir o
ritmo natural da respirao a recomendao bsica.
Postura de mente: aqui se podem realizar reflexes analticas, como, por exemplo,
analisar um item especfico, buscando compreende-lo nos mnimos detalhes, no Oriente
est prtica conhecida como Vipassana. Outro caminho de colocar a mente em
meditao deixando-a em uma atitude aberta, observando o fluxo dos pensamentos
sem criar nenhum vnculo com eles. uma atitude semelhante a do observador
transpessoal (apud FERREIRA, BRANDO e MENEZES, 2005).
2.8.2 Exerccios Psicofsicos
Os exerccios psicofsicos visam integrar a dualidade mente/corpo, geralmente presente
na maioria das pessoas, que buscam os servios psicolgicos. Eles favorecerem a
integrao, tambm so usados para dar apoio ou possibilitar o desbloqueio dos ns
emocionais concentrados no corpo.
Grande parte dos exerccios psicofsicos realizados na clnica transpessoal, foi adaptada
do yoga milenar, onde so denominados de asanas. Eles podem ser usados para facilitar
o processo psicoteraputico do cliente. Estes exerccios possuem a propriedade de
ampliar a senso-percepo, focando a ateno nos processos corporais, favorecendo,
assim, um contato maior com as emoes bloqueadas. Esta prtica feita
concomitantemente com a respirao e atua em todo o organismo promovendo o
equilbrio das secrees hormonais do sistema glandular (apud FERREIRA,
BRANDO e MENEZES, 2005).
2.8.3 Tcnicas envolvendo prticas respiratrias
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Tcnicas respiratrias redutoras de ansiedade e estresse tm-se, por princpio, acalmar
uma energia j ativada, buscando integr-la no fluxo ordinrio da conscincia. Tem por
objetivo dissolver tenses, dores, desconforto ou incmodos localizados. Veremos trs
delas.
Primeira: A pessoa deve proceder da seguinte forma: Deitar-se em colchonetes ou
sentar-se em poltrona confortvel; Relaxar o corpo todo de forma progressiva a partir
dos membros inferiores at a cabea; Usar a respirao diafragmtica prolongando a
exalao para aprofundar o relaxamento; Focalizar a ateno na rea dolorida ou
desconfortvel; Durante algum tempo o desconforto pode aumentar. Escute o que seu
corpo est falando atravs desse incomodo e utilize a linguagem que expressa
necessidade de ateno ou protesto; Prolongue a expirao, sentindo como se o ar
expelido fosse o prprio incomodo diluindo-se; Prossiga o exerccio at desaparecer o
incmodo.
Segunda: Trs respiraes calmantes. Nesta, a pessoa deve tranquilamente focalizar a
sua ateno na respirao. Calmamente, respire trs vezes. Procure respirar lentamente e
demoradamente. Crie um ritmo. Inspirando lentamente e profundamente, segure o ar
por alguns segundos, e, depois, expire relaxando, deixando o ar sair livremente,
transformando o seu corpo e a sua mente.
O Lama Padma Santem, um grande mestre budista, ensina que este ritmo pode ser
acompanhado por palavras: Inspirando, acalmo o corpo e tenho paz, expirando, desfruto
a beleza deste momento. Inspirando, acalmo a mente, expirando, desfruto a paz deste
momento.
J a terceira uma respirao para soltar e aliviar tenses. indicada para ajudar nos
processos de integrao do cliente no aqui-e-agora, ajudando a liberar tenses residuais
das vivencias em estados ampliados. Instruo: De p com as pernas ligeiramente
afastadas inspirar elevando os braos para frente e para cima. Reter o ar por alguns
segundos. Expirar abaixando rapidamente (apud FERREIRA, BRANDO e
MENEZES, 2005).
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Portanto, neste captulo vimos os principais pontos da Psicologia Transpessoal.
Gostaramos de destacar que esta nova escola est crescendo, os psiclogos e as pessoas
que se inclinam para este ramo, percebem a sua eficcia e utilidade para tratar o ser
humano.
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3 Respirao Holotrpica
Neste captulo iremos expor uma tcnica desenvolvida por Grof, chamada de
Respirao Holotrpica, buscando analisar se ela eficaz na cura de traumas em todos
os nveis da psique.
3.1 Respirao Holotrpica
Grof (2007) e sua esposa Christina desenvolveram a Respirao Holotrpica, um
mtodo teraputico que combina respirao acelerada, msica evocativa, expresso
artstica e uma tcnica de trabalho corporal que ajuda a liberar bloqueios bioenergticos
e emocionais residuais. Ela tem a capacidade de induzir a estados holotrpicos e une e
integra vrios elementos de tradies antigas e aborgenes, filosofias espirituais
Orientais e psicologia profunda do Ocidente.
De acordo com Grof (2007), a resposta fsica da Respirao Holotrpica varia de pessoa
para pessoa, no incio apresentam-se manifestaes psicossomticas, na qual os manuais
de fisiologia respiratria definem como sndrome de hiper-ventilao. Porm, muitos
indivduos no apresentam sndrome e sentem um relaxamento progressivo, uma intensa
excitao sexual e experincias msticas. Outros desenvolvem tenses em vrias partes
do corpo e em repetidas sesses holotrpicas, essa tenso muda de uma parte do corpo
para outra, variando de pessoa para pessoa, com sua subseqente resoluo.
Isso acontece, pois em um longo perodo de respirao acelerada muda a qumica do
organismo de forma que energias fsicas e emocionais bloqueadas, associadas a
memrias traumticas, so liberadas e ficam disponveis para o processamento e
descarga perifrica, possibilitando que emoes antes reprim