UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
MESTRADO EM CIÊNCIAS DA REABILITAÇÃO
JESSICA JULIOTI URBANO
Resistência e complacência de pulmões
descelularizados de camundongos através das
técnicas de perfusão pela traqueia e artéria
pulmonar.
São Paulo
2016
i
JESSICA JULIOTI URBANO
Resistência e complacência de pulmões
descelularizados de camundongos através das
técnicas de perfusão pela traqueia e artéria
pulmonar.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação Stricto
Sensu da Universidade Nove de Julho como requisito para
obtenção do título de Mestre em Ciências da Reabilitação.
Orientador: Prof. Dr. Luis Vicente Franco de Oliveira.
São Paulo
2016
ii
FICHA CATALOGRÁFICA
Urbano, Jessica Julioti.
Resistência e complacência de pulmões descelularizados de
camundongos através das técnicas de perfusão pela traqueia e artéria
pulmonar. / Jessica Julioti Urbano. 2016.
86 f.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Nove de Julho - UNINOVE,
São Paulo, 2016.
Orientador (a): Prof. Dr. Luis Vicente Franco de Oliveira.
1. Pulmões. 2. Descelularização. 3. Traqueia. 4. Artéria Pulmonar. 5.
Mecânica ventilatória.
I. Oliveira, Luis Vicente Franco de. II. Titulo.
CDU 615.8
v
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus por ter trilhado o meu caminho até aqui, por ter
aberto janelas nos momentos em que muitas portas se fecharam e fazer das minhas
escolhas as melhores possíveis.
São muitos que gostaria de agradecer, mas em especial hoje agradeço ao professor
Luis Vicente por todas as oportunidades desde que cheguei ao laboratório para
Iniciação Científica. Sempre, como um verdadeiro líder, mantem os seus alunos em
foco nos seus objetivos e não poderia deixar de agradecer por isso. Nunca deixou de
acreditar no meu potencial, nem mesmo nos momentos em que eu mesmo duvidei. Meu
muito obrigada por ser especial e um espelho.
A Renata que não importa a hora e o lugar, sempre disposta a me ajudar e socorrer.
Sem você também não estaria aqui hoje. A humildade e o respeito em pessoa acredito
que te descreva bem, também sendo um espelho para mim. Muito obrigada por tudo.
A Leticia que também sempre me ajudou quando precisei, obrigada pela confiança. Aos
amigos e colegas do Laboratório do Sono Ezequiel, Eduardo, Israel, Ismael e Newton.
E a Nina, amiga presente no laboratório durante o meu primeiro ano de mestrado.
Ao Anderson, meu companheiro no qual divido cada momento, obrigada por estar ao
meu lado, pelo carinho e cuidado que nunca deixou de ter. Obrigada por buscar
sempre o melhor para nós. Aos seus pais e irmãs pelo apoio. Serei sempre grata.
A minha mama e minha mãe, que sempre me acompanham e incentivaram a continuar,
amo vocês por isso. Ao meu irmão, Giovanni, meu melhor amigo, sempre ao meu lado,
me ajudando e cuidando de mim. Aos meus tios Simone e Renato, que nunca deixaram
de ajudar e incentivar, muito obrigada pelo apoio. Aos meus tios Denilson, Wilson,
Celso, Gelson, Emerson e Grette pelo cuidado em tempo integral. E aos meus primos
Renan, Rafael, Yasmin, Lauryn e Daniel que sempre me fazem querer buscar o melhor
para que possa ser um exemplo.
A Universidade Nove de Julho (UNINOVE) pelo espaço aberto e oportunidades desde a
graduação, sempre acreditando no potencial dos seus alunos.
Muito obrigada a todos!
Agradeço a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
pelo suporte financeiro.
vi
RESUMO
A abordagem científica atual para a bioengenharia de órgãos é baseada na utilização da
matriz extracelular natural do pulmão descelularizado como partida inicial para
posterior reconstrução do órgão por recelularização em um biorreator. A técnica de
descelularização pode ser realizada por duas vias de perfusão, uma através da traqueia e
a outra pela artéria pulmonar. O objetivo deste estudo foi investigar em um modelo
experimental animal, através da técnica de oclusão ao final da inspiração (OFI) e
equação do movimento (EM), o comportamento das propriedades mecânicas elásticas,
viscosas e viscoelásticas de pulmões descelularizados de camundongos pelos métodos
de perfusão através da traqueia e da artéria pulmonar. Foram utilizados 30
camundongos machos da raça C57BL/6, com peso de 17-18 g (7-8 semanas de idade),
anestesiados e eutanasiados por exsanguinação pela aorta abdominal. O protocolo de
descelularização seguiu as etapas de coleta, limpeza, congelamento e descongelamento,
lavagem com dodecil-sulfato de sódio e tampão fosfato-salino. Para a realização dos
estudos I e II, os pulmões foram divididos em grupo controle (GC = 10), grupo
descelularização pela traqueia (TDG = 10) e grupo descelularização pela artéria
pulmonar (PDG = 10), sendo 5 pulmões em cada grupo para o estudo I que teve a
análise através da técnica de OFI e 5 pulmões em cada grupo para o estudo II com
análise através da EM. No estudo I, os valores de elastância estática (Eest = CG: 226,9
± 4,1; PDG: 162,6 ± 3,9; TDG: 154,8 ± 1,7) e dinâmica (Edyn = CG: 240,9 ± 6,7; PDG:
176 ± 5,4; TDG: 177,6 ± 1,6) foram significativamente menores em TDG e PDG
quando comparados com o CG. Já no estudo II, o valor da resistência pulmonar
apresentado no TDG foi significativamente menor em relação aos outros dois grupos (R
= CG: 5,32 ± 0,26; PDG: 5,94 ± 0,24; TDG: 2,85 ± 0,14) e o valor da elastância de CG
apresentou-se maior de forma significativa em comparação com a TDG e PDG, e no
PDG a diferença foi menor significativamente em relação à TDG (E = CG: 279 ± 13,81;
PDG: 146 ± 19,04; TDG: 209,6 ± 12,06). Podemos observar que, quando avaliadas
pelas técnicas de OFI e EM, as duas vias de descelularização foram eficazes na geração
de um scaffold pulmonar ideal para posterior recelularização. Além disso, a técnica de
descelularização através da artéria pulmonar mostrou-se eficaz para a obtenção de um
scaffold pulmonar em menor período de tempo, uma vez que o protocolo pode ser
realizado em um dia, o que facilita o processo de obtenção de pulmões funcionais.
Palavras-chave: pulmões, descelularização, traqueia, artéria pulmonar, mecânica ventilatória
vii
ABSTRACT
The actual scientific approach to bioengineering organs is based on the use of natural
extracellular matrix of decellularized lung as initial departure for subsequent
reconstruction of the organ for recellularization in a bioreactor. The decellularization
technique can be performed by two infusion ways, one through the trachea and other by
pulmonary artery. The aim of this studies was to investigate in an experimental animal
model, by the occlusion at the end of inspiration (OEI) and movement equation (ME),
the behavior of the elastic, viscous and viscoelastic mechanical properties, of mice lungs
after the process of decellularization through the trachea and the pulmonary artery.
Were used 30 male mice C57BL/6, weighing 17-18 g (7-8 weeks of age), anesthetized
and euthanized by exsanguination through the abdominal aorta. The decellularization
protocol comprised the following steps: collecting, cleaning, freezing and thawing,
rinsing with sodium dodecyl sulfate and phosphate buffered saline. For the studies I and
II, the lungs were divided into the control group (GC = 10), the decellularization group
by the trachea (TDG = 10) and the pulmonary artery decellularization group (PDG =
10), 5 lungs in each group for the study I that had the analysis through the technique of
OEI and 5 lungs in each group for the study II with analysis through the ME. In the
study I, the values of static elastance (Eest = CG: 226.9 ± 4.1, PDG: 162.6 ± 3.9, TDG:
154.8 ± 1.7) and dynamics (Edyn = CG: 240 , 9 ± 6.7, PDG: 176 ± 5.4, TDG: 177.6 ±
1.6) were significantly lower in TDG and PDG when compared to CG. In study II, the
value of lung resistance presented in TDG was significantly lower in relation to the
other two groups (R = CG: 5.32 ± 0.26; PDG: 5.94 ± 0.24; TDG: 2.85 ± 0.14) and GC
elastance was significantly higher in comparison with TDG and PDG, and in PDG the
difference was significantly lower in relation to TDG (E = CG: 279 ± 13.81; PDG: 146
± 19.04, TDG: 209.6 ± 12.06). We can observe in both the two-way decellularization
are effective to provide a scaffold ideal for pulmonary later recellularization when
evaluated by the OEI and ME. Furthermore, the decellularized lungs through the
pulmonary artery may be used to create a pulmonary scaffold in less time, because the
protocol can be performed in a day, which facilitates the process for obtaining
functional lungs scaffolds.
Keywords: lungs, decellularization, trachea, pulmonary artery, mechanical ventilatory
viii
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................. ...... x
LISTA DE ABREVIATURAS .......................................................................................................... xi
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1
1.1. Bioengenharia de órgãos .............................................................................................. 1
1.1.1. Transplante de órgãos .................................................................................... 1
1.1.2. Técnicas de descelularização pulmonar ........................................................ 1
1.1.3. Avaliação do comportamento das propriedades mecânicas ....................... 2
1.2. Justificativa ............................................................................................................... ..... 4
1.3. Hipótese .......................................................................... ............................................... 4
2. OBJETIVO ........................................................................................................................... 5
2.1. Objetivo geral ................................................................................................................ 5
2.2. Objetivos específicos ..................................................................................................... 5
3. MÉTODOS ........................................................................................................................... 5
3.1. Escopo do estudo ........................................................................................................... 5
3.2. Caracterização do estudo ............................................................................................. 5
3.3. Caracterização da amostra .......................................................................................... 5
3.4. Aspectos éticos e legais .................................................................................................. 6
3.5. Protocolo experimental ................................................................................................. 7
3.5.1. Descelularização dos pulmões ........................................................................ 7
3.6. Avaliação do processo de descelularização ................................................................. 8
3.6.1. Avaliação da mecânica ventilatória ............................................................... 8
3.6.2. Método de oclusão ao final da inspiração ..................................................... 9
3.6.3. Equação do movimento .................................................................................. 10
3.6.4. Microscopia eletrônica de varredura ............................................................ 11
4. RESULTADOS ..................................................................................................................... 11
4.1. Estudo I .......................................................................................................................... 12
4.1.1. Introdução ....................................................................................................... 12
4.1.2. Métodos ............................................................................................................ 12
4.1.3. Resultados ........................................................................................................ 16
4.1.4. Discussão .......................................................................................................... 17
4.1.5. Conclusão ......................................................................................................... 18
4.2. Estudo II ........................................................................................................................ 19
4.2.1. Introdução ....................................................................................................... 19
4.2.2. Métodos ............................................................................................................ 19
4.2.3. Resultados ........................................................................................................ 21
4.2.4. Discussão .......................................................................................................... 22
4.2.5. Conclusão ......................................................................................................... 23
ix
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 24
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 25
7. APÊNDICES ......................................................................................................................... 30
7.1. Estudo I – Plos One ....................................................................................................... 30
7.2. Estudo II – Journal of tissue engineering and regenerative medicine ....................... 48
8. ANEXO – Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) .............................................. 60
9. Publicações durante o mestrado ......................................................................................... 62
9.1. Artigo publicado em colaboração ................................................................................ 62
9.2. Artigo publicado em 1ª autoria .................................................................................... 65
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Fluxograma dos estudos_________________________________
6
Figura 2. Processo de descelularização_____________________________ 7
Figura 3. Pulmão durante o processo de descelularização por artéria
pulmonar_____________________________________________________
8
Figura 4. Esquema do sistema de ventilação mecânica_________________
9
Figura 5. Curvas de fluxo e pressão traqueal em relação ao
tempo________________________________________________________
10
Figura 6. Fluxograma do estudo I__________________________________
13
Figura 7. Exemplos representativos de imagens MEV comparando seções
de pulmões nativos e pulmões descelularizados através da artéria pulmonar e
da traqueia____________________________________________________
16
Figura 8. Elastâncias estática (A) e dinâmica (B) em pulmões nativos e
descelularizados (através da artéria pulmonar e traqueia) determinado pelo
método de oclusão da via aérea ao final da inspiração. _________________
17
Figura 9. Elastância (E) e resistência (R) calculadas a partir da equação do
movimento durante ventilação mecânica convencional_________________
21
xi
LISTA DE ABREVIATURAS
ΔV: variação de volume
CL: complacência pulmonar
CRF: capacidade residual funcional
Crs: complacência do sistema respiratório
∆E: diferença entre a elastância dinâmica e estática.
E: elastância
EL: elastância pulmonar
Edyn: elastância dinâmica
Ers: elastância do sistema respiratório
Est: elastância estática
MEC: matriz extracelular
MEV: microscopia eletrônica de varredura
∆P: diferença de pressão
∆Ptot: variação total de pressão
Pao: pressão na abertura das vias aéreas
PBS: tampão fosfato-salino
PEEP: pressão expiratória positiva final
Pel: pressão de retração elástica
Pel,rs: pressão elástica do sistema respiratório
pH: potencial hidrogeniônico
Pi: ponto de inflexão
Piva: pressão inertiva
Pmáx: pressão máxima inicial
Po: pressão residual ao final da expiração
Pres,rs: pressão resistiva do sistema respiratório.
Ptr: pressão de abertura da via aérea
R: resistância
RL: resistência pulmonar
Rti: resistência tecidual
Rw: resistência da caixa torácica
SDS: dodecil-sulfato de sódio
V: volume
V’: fluxo das vias aéreas
VC: volume corrente
1
1. CONTEXTUALIZAÇÃO
1.1. Bioengenharia de órgãos
1.1.1 Transplante de órgãos
Doenças respiratórias significantes como a obstrução pulmonar crônica,
enfisema, fibrose pulmonar idiopática, hipertensão arterial pulmonar primária, doença
intersticial pulmonar, fibrose cística e deficiência de α-1-antitripsina resultam em danos
pulmonares estruturais irreversíveis, tendo o transplante de pulmão como a única
indicação terapêutica quando a doença atinge uma progressão avançada1.
Infelizmente, o sucesso do transplante pulmonar é limitado, principalmente
devido à escassez do número de doadores de órgãos e incidência de bronquiolite
obliterante, o que resulta em uma resposta autoimune provocada pelas disparidades
entre o doador e os antígenos do receptor. Além disso, o envelhecimento progressivo da
população aumenta a lista de espera de pacientes com doenças respiratórias graves e
diminui a disponibilidade de doadores1.
Os pacientes que obtem sucesso na lista e recebem um órgão do doador, são
obrigados a lidar com um tratamento imunossupressor ao longo da vida, além do risco
de rejeição crônica e morbimortalidade associada2. O índice de sobrevivência de 50%
após o transplante de pulmão está confinado a aproximadamente cinco anos1.
As atuais limitações em relação às doações requerem, portanto, estratégias para
aumentar a disponibilidade de órgãos para transplante. Neste contexto, a bioengenharia
de pulmões é considerada uma alternativa terapêutica em potencial, porém as pesquisas
atuais encontram-se em estágios preliminares e esforços científicos mais intensos são
necessários3.
1.1.2. Técnicas de descelularização pulmonar
A abordagem científica atual para a bioengenharia de órgãos é baseada na
utilização da matriz extracelular (MEC) natural do pulmão descelularizado como partida
inicial para posterior reconstrução do órgão por recelularização em um biorreator. A
técnica de descelularização foi anteriormente utilizada para a engenharia de uma
diversidade de tecidos, incluindo ossos, esôfago, artérias, bexiga, traqueia e coração4-12
e tem sido demonstrada que com a utilização de protocolos adequados, o pulmão pode
ser completamente descelularizado para obter uma MEC intacta13,14.
2
Os tecidos e órgãos são formados por células associadas a MEC, que por sua
vez, é sintetizada por células residentes únicas e específicas do tecido.
Tradicionalmente, os tecidos foram considerados como células apoiadas por um estroma
estático e em oposição a esta ideia, a MEC é dinâmica, agindo de forma recípocra as
células que a estão formando15,16.
As células residentes da MEC são influenciadas pelas condições do
microambiente, tais como a concentração de oxigênio do meio, o potencial de
hidrogênio ionte (pH), as forças mecânicas e a composição bioquímica específica11.
Estes fatores irão direcionar o seu perfil genético, o proteoma e a sua funcionalidade.
Por sua vez, as células secretam componentes adequados e moléculas que podem
garantir a sua sobrevivência, função e comunicação com outras células. Essa interação
recíproca assegura a manutenção de um estado de homeostase tecidual17-19.
A permanência de componentes da MEC é essencial no processo de
decelularização. Entretanto, ainda é desconhecida qual combinação de proteínas deve
permanecer para manter a sinalização para as funções celulares. O protocolo de
descelularização a ser utilizado, deve ao mesmo tempo assegurar uma remoção eficaz
da população de células nativas e garantir que todos estes componentes da matriz
tenham uma alteração mínima20.
Os protocolos de descelularização baseiam-se na utilização de diferentes
combinações de meios físicos, iônicos, químicos e enzimático e, diversas constantes de
tempo (horas ou semanas)20. Além disso, a técnica de descelularização pode ser
realizada por duas vias de perfusão, uma através da traqueia e a outra pela artéria
pulmonar. Estudos recentes demonstraram que controlando a resistência vascular
durante e após o processo de descelularização pela artéria pulmonar será produzido um
scaffold apropriado para futura recelularização. Entretanto ainda não foi verificado se há
diferença nas propriedades mecânicas pulmonares entre as duas técnicas21,22.
1.1.3. Avaliação do comportamento das propriedades mecânicas
A interpretação de variáveis ventilatórias do sistema respiratório, como volume,
fluxo e pressão sob condições tanto fisiológicas como patológicas, permitem avaliar o
comportamento mecânico do sistema e de seus componentes isoladamente23.
3
Vários estudos com modelos experimentais animais de mecânica pulmonar
mostraram que as propriedades mecânicas do sistema respiratório podem ser estudadas
sob dois submodelos, pulmão e parede torácica, apresentando um arranjo em paralelo,
uma vez que são submetidos à mesma variação de volume.
Os tecidos dos pulmões são constituídos por fibras elásticas, cartilagens, células
epiteliais e endoteliais, glândulas, nervos, vasos sanguíneos e linfáticos com
propriedades elásticas que permitem o retorno do sistema respiratório à sua forma
original após sofrer deformação23.
A relação entre volume e pressão independe da velocidade com que o volume é
atingido (fluxo), são medidas em condições estáticas. A relação entre a variação de
volume (ΔV) gasoso mobilizado e a pressão motriz, diferença entre as pressões na
abertura das vias aéreas e no ar ambiente, determina a complacência do sistema
respiratório (Crs), sendo esta, o inverso da elastância (Ers). Logo, onde
Pel,rs, representa a pressão elástica do sistema respiratório. Uma maior Crs indica maior
distensibilidade dos tecidos, assim como, a diminuição representa rigidez ou perda de
complacência pulmonar, da parede ou ambas24.
A complacência pulmonar (CL), que avalia a propriedade elástica do pulmão
como um todo, é determinada pela equação sendo Pel,L, a diferença
entre a pressão na abertura das vias aéreas (Pao) e a pressão intrapleural25. A resistência
do sistema respiratório ao fluxo de ar é muito importante na determinação do
comportamento mecânico do sistema26, sendo representada por ,
onde Pres,rs é a pressão resistiva do sistema.
A Rrs é determinada pela resistência das vias aéreas, pela resistência à
movimentação dos tecidos pulmonares (RL) e pela parede torácica (Rw). A resistência
pulmonar é constituída pela resistência das vias aéreas, que é a relação entre o gradiente
de pressão total ao longo das vias aéreas e o fluxo, e pela resistência tecidual (Rti)24.
A resistência tecidual é determinada pelas perdas energéticas geradas pela
viscosidade (atrito) pertinente à movimentação dos pulmões e depende da velocidade de
deslocamento do ar, sendo importante na inspiração e na expiração. Quanto maior a
força dissipada para vencer a resistência ao atrito dos tecidos durante a expiração,
menor será a força elástica disponível para vencer a resistência pulmonar. Em
indivíduos normais, a resistência tissular corresponde a 20% da resistência pulmonar,
sendo o restante representado pela resistência de vias aéreas27.
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V
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4
As propriedades viscoelásticas permitem que os tecidos, quando subitamente
deformados e posteriormente submetidos à deformação constante, apresentem redução
da tensão (stress relaxation). Esse comportamento é observado tanto em tecido
pulmonar como em parede torácica, permitindo intercâmbio de pressão entre o
componente elástico e resistivo28,29.
Segundo Kochi et al.30, durante uma pausa inspiratória, a energia potencial
acumulada nos componentes elásticos pode ser dissipada na forma de calor nos
componentes resistivos. Afinal, a dissipação de energia por parte dos tecidos
pulmonares não cessa no mesmo momento em que se interrompe o fluxo26.
1.2. Jutificativa
O scaffold pulmonar deve ser obtido com a preservação de sua estrutura e
propriedades mecânicas. No entanto, dados sobre a diferença entre as vias para a
realização da técnica de descelularização, como traqueia e artéria pulmonar, avaliados
pela oclusão ao final da inspiração e equação do movimento são atualmente
desconhecidas.
Diante do exposto, este estudo foi dividido em dois momentos para caracterizar
o comportamento das propriedades mecânicas do pulmão descelularizado de
camundongos. Inicialmente, foi realizado um estudo que comparou a técnica de
descelularização através da traqueia e da artéria pulmonar com avaliação das
propriedades mecânicas pela oclusão ao final da inspiração e das estruturas da via aérea
pela microscopia eletrônica de varredura (MEV). O segundo estudo, determinou a
comparação das duas vias de descelularização com avaliação das propriedades
mecânicas pela equação do movimento. Dessa forma, buscou-se um protocolo e método
de avaliação mais eficaz no processo de descelularização.
1.3 Hipóteses
A hipótese do estudo é que não há diferença nas estruturas das vias aéreas e no
comportamento das propriedades mecânicas de pulmões de camundongos após o
processo de descelularização pelos métodos de perfusão através da traqueia e da artéria
pulmonar.
5
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Investigar em um modelo experimental animal, o comportamento das
propriedades mecânicas elásticas, viscosas e viscoelásticas de pulmões de camundongos
após o processo de descelularização pelos métodos de perfusão através da traqueia e da
artéria pulmonar.
2.2 Objetivos Específicos
- Avaliar a resistência, a elastância dinâmica e a elastância estática pulmonares após o
processo de descelularização;
- Comparar através da microscopia eletônica de varredura as estruturas das vias aéreas
dos pulmões descelularizados.
3. MÉTODOS
3.1. Escopo do estudo
Inicialmente, um primeiro estudo experimental foi realizado para verificar se
existe diferença nas estruturas de vias aéreas de pulmões descelularizados pelo
detergente dodecil-sulfato de sódio (SDS) por meio da traqueia e da artéria pulmonar,
avaliados através do método de oclusão ao final da inspiração e MEV (Estudo 1).
Posteriormente, um segundo estudo foi realizado para avaliar as diferenças entre
os grupos através da equação do movimento e MEV (Estudo 2).
3.2. Caracterização do estudo
Trata-se de um estudo controlado experimental animal, realizado no Laboratório
Experimental de Mecânica Cardiorrespiratória do Programa de Pós-Graduação
Mestrado e Doutorado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho
(UNINOVE).
3.3. Caracterização da amostra
Foram utilizados 30 camundongos machos da raça C57BL/6, com peso de 17-18
g e 7-8 semanas de idade, acondicionados no biotério da UNINOVE e mantidos em
ambiente limpo e seco, com luminosidade natural, respeitando o ciclo claro/escuro de
12h, temperatura e umidade relativa do ar adequadas.
6
A ração e a água permaneceram ad libitum e monitoramento diário para troca de
palha e água, até o momento do experimento. Os animais foram distribuídos em grupos,
conforme fluxograma da figura 1.
Figura 1. Fluxograma dos estudos.
3.4. Aspectos Éticos e Legais.
O protocolo deste estudo foi aprovado pelo Comissão de Etica no Uso de
Animais (CEUA) da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), sob protocolo de
número 0038/2011. Foram seguidos os Princípios Éticos na Experimentação Animal,
editados pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal – COBEA/Junho de 1991
para os experimentos a serem realizados no Brasil.
Pulmões frescos
(n= 30)
Grupo perfusão pela artéria pulmonar
(n= 10)
Grupo perfusão pela traqueia
(n= 10)
Protocolo
descelularização
Mecânica Pulmonar
Oclusão (n=15) e
Movimento (n=15)
Análise dos dados
(n= 30)
Grupo Controle
(n= 10)
7
1 2
3 4
3.5. Protocolo experimental
3.5.1 Descelularização dos pulmões
Para a obtenção dos pulmões, os camundongos foram anestesiados com Xilazina
e Quetamina (1 mg/kg, intraperitoneal) e eutanasiados por exsanguinação pela aorta
abdominal. O protocolo de descelularização compreendeu as etapas de coleta, limpeza,
congelamento e descongelamento, lavagem com SDS e tampão fosfato-salino (PBS)
(figura 2)31,32.
Figura 2. Processo de descelularização.
Legenda: PBS = tampão fosfato-salino; SDS = dodecil-sulfato de sódio
O bloco traqueia, esôfago, pulmões e artéria pulmonar foram retirados e limpos
para a remoção dos tecidos linfáticos e conjuntivos anexos. Os pulmões foram isolados
e armazenados a -80 ºC até que o processo de descelularização fosse iniciado. Os
pulmões foram, posteriormente, descongelados em banho-maria a 40ºC e congelados
rapidamente em gelo seco, seguido por descongelamento. Este processo foi repetido
quatro vezes para induzir o dano celular e facilitar a perda de células.
O grupo descelularizado através da traqueia (n=5) foi perfundido com detergente
PBS 1X através de uma cânula pela traqueia sendo injetado por uma seringa de 5ml, até
que se elimine a maior quantidade de células sanguíneas. Após o PBS 1X foram
perfundidos com H20 destilada autoclavada através da traqueia. Por último, foram
perfundidos com o SDS 1%.
Os pulmões foram inseridos em um frasco estéril com SDS 1% e então
colocados em agitação por 20 horas aproximadamente. No dia seguinte, repetiu-se a
lavagem com os detergentes colocando em novos frascos estéreis com SDS 1% porém
sem a agitação durante o mesmo período.
Extração do pulmão
Ciclos de congelamento e
descongelamento
PBS e água deionizada PBS
SDS 1%
8
Na próxima etapa ocorreu a perfusão do PBS 1X através da traqueia até que se
eliminasse a maior quantidade de detergente restante no pulmão. Ao finalizar os lavados
os pulmões foram colocados em um frasco estéril com PBS 1x em agitação por
aproximadamente 20 horas. Após esse período, o lavado com PBS 1X é repetido e os
pulmões são novamente armazenados porém agora sem a agitação.
O grupo descelularizado através da artéria pulmonar (n=5) teve a canulação da
traqueia e da artéria pulmonar conectadas ao sistema experimental adotando a seguinte
sequência de meios descelularizantes, perfundidos através da artéria pulmonar, com
uma pressão constante de PPA=20 cmH2O, (1) PBS 1x, durante 30 minutos, (2) agua
deionizada durante 15 minutos, (3) 1% de SDS, durante 150 min e (4) PBS durante 30
minutos. A traqueia canulada foi conectada a um gerador de fluxo contínuo de pressão
positiva nas vias aéreas (CPAP) para fornecer uma pressão traqueal (transpulmonar) de
10 cmH2O, insuflando os pulmões a um volume fisiológico e evitando atelectasias21. A
figura 3 apresenta um dos pulmões durante o processo de descelularização.
Durante o processo de extração e descelularização não houve perda da amostra,
verificado através da análise da ventilação mecânica.
Figura 3. Pulmão durante o processo de descelularização por artéria pulmonar.
3.6. Avaliação do processo de descelularização
3.6.1. Avaliação da mecânica ventilatória
A cânula traqueal foi conectada a uma extremidade do pneumotacógrafo para
animais, seguindo recomendações de Mortola e Noworaj33 e a outra, ao ventilador
mecânico. Uma das saídas laterais é conectada a um transdutor de pressão para
mensurar a pressão traqueal (Ptr), e as outras duas contralaterais, a um transdutor de
diferencial de pressão para mensurar fluxo das vias aéreas (V’).
9
Os transdutores de sinais foram conectados a um condicionador de sinais para
captação dos sinais através de um microcomputador, utilizando o software WindaqTM
2.81 (DATAQ Instruments, Akron, Ohio, USA). O fluxo do ventilador é gerado através
de um cilindro de oxigênio comprimido, conectado ao ventilador por um redutor de
fluxo, conforme figura 434-36.
Figura 4. Esquema do sistema de ventilação mecânica.
3.6.2 Método de oclusão ao final da inspiração
A mecânica respiratória foi avaliada pelas propriedades elásticas, viscosas e
viscoelásticas dos pulmões, analisadas através de parâmetros obtidos pela ventilação
mecânica, utilizando-se o método da oclusão ao final da inspiração, descrito por Bates
et al.37. Após conectar a traqueia ao ventilador, com volume corrente (VC), V’ e pressão
expiratória positiva final (PEEP) constantes, os pulmões foram ventilados, sendo
submetidos a 10 pausas inspiratórias de 6 segundos, para a realização das medidas.
10
Conforme a figura 5 após a oclusão das vias aéreas ao final da inspiração, ocorre
uma queda súbita da pressão traqueal (Ptr), da pressão máxima inicial (Pmáx) até um
ponto de inflexão (Pi), a partir do qual o decaimento da pressão assume caráter mais
lento, atingindo um platô. Essa fase de platô corresponde à pressão de retração elástica
dos pulmões (Pel). A diferença de pressão (∆P1) que caracteriza a queda rápida inicial,
representada pela diferença entre a Pmáx e Pi, corresponde ao componente viscoso.
Figura 5. Curvas de fluxo e pressão traqueal em relação ao tempo.
A segunda variação de pressão (∆P2), representada pela queda lenta, de Pi ao
Pel, reflete a pressão dissipada para vencer o componente viscoelástico. A soma de ∆P1
e ∆P2 fornece a variação total de pressão nos pulmões (∆Ptot). As elastâncias estática
(Est) e dinâmica (Edyn) podem, então, ser obtidas dividindo-se Pel e Pi,
respectivamente, pelo volume corrente, sendo ∆E a diferença entre Edyn e Est29.
Para obtenção do Pi, será utilizado um ajuste não-linear para decaimento
exponencial de duas curvas, determinando tempo de queda rápida e lenta, e a partir
deste, o valor da pressão no momento da passagem de ΔP1 para ΔP2.
3.6.3 Equação do movimento
No início do século XX, Rohrer analisou a influência dos componentes elástico,
resistivo e inertivo ao estudar os fenômenos físicos envolvidos no movimento mecânico
do sistema respiratório.
11
Modelou a equação do movimento [equação 1] pela soma da Pres, relacionada
com o V’, da pressão inertiva (PIva), relacionada com a derivada temporal do fluxo e a
Pel, relacionada com o volume (V) acima da capacidade residual funcional (CRF), mais
uma pressão residual ao final da expiração (Po), onde Ptr é a pressão de abertura da via
aérea, RL é a resistência, EL é a elastância, In é a inertância do sistema respiratório, V’ é
o fluxo e é a derivada temporal do fluxo38.
3.6.4 Microscopia eletrônica de varredura
As amostras dos pulmões descelularizados foram preparadas para análise em
MEV, seguindo um protocolo padrão para a preparação de amostras de tecido. As
amostras de tecido são fixadas com glutaraldeído 2% e paraformaldeído 2,5% em
tampão cacodilato 0,1 M por 2 horas em temperatura ambiente, em seguida, lavados em
tampão cacodilato, cortados, e desidratados através de um gradiente de etanol. As
amostras são posteriormente desidratadas em hexametildisilizano por 10 minutos e
secas durante a noite, então revestidas (sputter coater) com ouro e analisados através do
microscópio eletrônico de varredura.
4. RESULTADOS
Os resultados dos estudos realizados serão apresentados no formato de artigos
científicos que foram enviados a publicação. O estudo I, intitulado ‘Effects of two
diferent decellularization routes on the mechanical properties of decellularized lungs.’
foi submetido para publicação no periódico Plos One e o estudo II, intitulado “Lung
decellularization by trachea increase resistance in compared to decellularization by
pulmonary artery.” foi submetido para publicação no periódico Journal of Tissue
Engineering and Regenerative Medicine.
4.1 Estudo I
Ptr = Po + EL × V + RL × V’
[1]
12
Efeitos de duas diferentes vias de descelularização nas propriedades mecânicas de
pulmões descelularizados.
4.1.1 Introdução
Várias doenças pulmonares resultam em dano pulmonar estrutural irreversível,
com o transplante de pulmão como a única indicação terapêutica quando a progressão
da doença é avançado1. Considerando o número limitado de doadores de pulmão39, o
tecido pulmonar descelularizado demonstrou ser uma alternativa potencial na
engenharia de pulmões adequados para transplante40,41. Um scaffold adequado para uso
na engenharia de tecidos de pulmão deve primeiro ser desprovido de células e
componentes celulares antes do processo de recelularização42,43. No entanto, alguns
protocolos de decelularização têm demonstrado que a ausência de células pode afetar a
estrutura, composição ou as propriedades mecânicas da MEC44,45, que podem afetar o
processo de recelularização posteriormente.
Os agentes para descelularização de pulmão podem ser aplicados usando duas
diferentes vias de infusão: a vasculatura pulmonar e as vias aéreas46. Um estudo anterior
mostrou que o processo de descelularização por ambas as vias não induziu quaisquer
diferenças significativas na rigidez local, em micro-escala do pulmão descelularizado47.
No entanto, não há dados disponíveis sobre a forma como as diferentes vias podem
afetar as propriedades mecânicas (principalmente elastância) de todo o pulmão acelular.
As propriedades mecânicas do pulmão descelularizado são importantes em
bioengenharia pulmonar devido a necessidade de ventilar o órgão durante o processo de
recelularização13. Portanto, o objetivo do presente estudo foi comparar a elastância
estática e dinâmica do pulmão por meio de duas vias diferentes no processo de
descelularização, a traqueia e a artéria pulmonar.
4.1.2. Métodos
Este estudo foi realizado em pulmões obtidos de quinze camundongos saudáveis
machos C57BL/6 de 7-8 semanas de idade (17-18 g), seguindo o procedimento
experimental aprovado pela Comissão de Ética em Uso de Animais da Universidade
Nove de Julho (protocolo número 0038/2011).
13
Foi realizado em conformidade com as recomendações do Guia para o Cuidado
no Uso de Animais em Laboratório dos Institutos Nacionais de Saúde, onde todas as
cirurgias foram realizadas sob anestesia e todos os esforços foram feitos para minimizar
o sofrimento.
Os animais foram divididos em três grupos: decelularização traqueal (TDG, n =
5), decelularização por perfusão pela artéria pulmonar (PDG, n = 5) e controle (CG, n =
5), conforme ilustrado na Figura 6. Os camundongos foram anestesiados com uretano
intraperitoneal (1 mg / kg) e sacrificados por exsanguinação através da aorta abdominal.
Imediatamente após a eutanásia, o diafragma foi retirado e a caixa torácica foi cortada
para revelar os pulmões. No PDG, a artéria pulmonar foi canulada e os pulmões foram
perfundidos com PBS contendo 50 U/mL de heparina (Sigma, St. Louis, Missouri,
EUA) e 1 μg/mL de nitroprussiato de sódio (SNP, Fluka, St. Louis, Missouri, EUA)
através do ventrículo direito para prevenir a formação de coágulos sanguíneos nos
pulmões. O bloco coração, pulmões e traqueia foram removidos e armazenados em um
congelador a -80 °C até o processo de descelularização ser realizado.
Figura 6. Fluxograma do estudo.
O primeiro passo no processo de descelularização do pulmão envolve
descongelar em banho maria a 37 °C e congelá-los novamente a -80 °C. Este ciclo foi
repetido quatro vezes. Após este primeiro passo, seguiram-se dois processos de
descelularização diferentes, dependendo se os pulmões foram previamente perfundidos
ou não.
14
Os pulmões sem perfusão prévia no TDG foram lavados entre 6 e 8 vezes por
instilação traqueal com 2 mL de PBS contendo estreptomicina (90 mg / mL), penicilina
(50 U / mL) e anfotericina B (25 mg/mL) até que o líquido extraído dos pulmões
apresentasse um aspecto transparente. Este passo foi repetido com 2,5 mL de água
desionizada várias vezes, e subsequentemente 2,5 mL de SDS a 1%. Os pulmões foram
mantidos em agitação durante 24 horas à temperatura ambiente em um tubo cónico de
poliestireno de 50 mL contendo 20 mL de SDS a 1%. Os pulmões foram enxaguados
novamente com 2,5 mL de PBS (com os componentes antibiótico/antimicótico acima
descritos) e mantidos em 20 mL de PBS em agitação durante 24 horas para terminar o
processo de obtenção do scaffold pulmonar34.
Os pulmões do PDG, que foram perfundidos antes da excisão, tinham a traqueia
e a artéria pulmonar canuladaa e colocadaa em um sistema experimental. A traqueia foi
conectada a um dispositivo de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) que foi
ajustado para proporcionar uma pressão traqueal (isto é, transpulmonar) de 10 cmH2O
para inflar o pulmão a um volume fisiológico numa tentativa de prevenir atelectasia.
Seguiram-se os passos de descelularização seguintes através da artéria pulmonar: 1)
PBS 1× durante 30 minutos, 2) água desionizada durante 15 minutos, 3) SDS a 1%
durante 150 minutos e 4) PBS durante 30 minutos, a uma pressão de 20 cmH2O21,22.
Foi mensurada a elastância pulmonar para avaliação das possíveis alterações
induzidas pelo uso de ambos os procedimentos de descelularização nas propriedades
mecânicas de todo o pulmão. As Edyn e Est foram determinadas nos 15 pulmões (5 CG,
5 TDG e 5 PDG imediatamente após decelularização). Para caracterizar a relação
pressão-volume sob condições mecânicas semelhantes às da respiração fisiologicamente
normal, os pulmões foram submetidos a ventilação mecânica convencional seguindo um
procedimento descritos em outros artigos34,48,49. Resumidamente, os pulmões foram
intubados traquealmente, verticalmente suspensos por gravidade e colocados dentro de
uma câmara (32 °C e 100% de humidade).
Um pneumotacógrafo, com um transdutor do diferencial de pressão, foi ligado à
entrada da cânula para medir o fluxo traqueal através da detecção da queda de pressão.
A pressão traqueal foi medida ligando um transdutor de pressão numa entrada lateral
colocada entre o pneumotacógrafo e a cânula. A entrada do pneumotacógrafo foi então
conectada a parte Y de um ventilador mecânico a volume projetado para ventilação
artificial com camundongos.
15
Os pulmões foram submetidos a ventilação convencional com um padrão de
fluxo quase sinusoidal com volume corrente de 10 mL/kg de peso corporal do
camundongo, frequência de 100 respirações/min e pressão expiratória final positiva de 2
cmH2O para neutralizar a ausência da pressão pleural negativa fisiológica. Os sinais de
fluxo e de pressão dos transdutores foram filtrados analogicamente, amostrados e
armazenados para análise subsequente.
As Est e o Edyn foram mensuradas pela oclusão ao final da inspiração obtida
pressionando o botão de controle correspondente do ventilador mecânico. Após uma
oclusão inspiratória final, a pressão pulmonar acelular (DP1) diminuiu rapidamente do
valor de pré-oclusão para o ponto de inflexão (com pressão Pi), seguida de um
decaimento da pressão lenta (DP2) até uma pressão de platô (Pel), correspondendo a
pressão elástica de recuo do pulmão. Considerando que DP1 está associada com a
pressão dissipada contra a resistência pulmonar, DP2 reflete as propriedades
viscoelásticas do tecido. Levando-se em conta o valor da pressão pré-inspiratória (Po), a
Est pulmonar foi calculada como a pressão de platô ajustada (Pel-Po) registrada após a
oclusão de 5 segundos dividida pelo VC. A Edyn foi calculada dividindo a pressão do
ponto de inflexão ajustada (Pi-Po) pelo VC35,48,49. Para cada pulmão nativo e
descelularizado, Est e Edyn foram obtidas com cinco oclusões ao final das inspirações,
em que cada uma foi realizada após 1 minuto de ventilação mecânica normal.
Foram preparadas amostras dos pulmões descelularizados e do controle para
formação de imagens. As amostras para MEV foram fixadas com glutaraldeído a 2% e
paraformaldeído a 2,5% em tampão cacodilato 0,1 M (EMD Biosciences, EUA) durante
2 horas à temperatura ambiente, lavadas em tampão cacodilato e desidratadas através de
um gradiente de etanol. As amostras foram ainda desidratadas em hexametildissilizano
durante 10 minutos e secas de um dia para o outro, revestidas por pulverização com
ouro e analisadas usando o microscópio eletrônico de varredura Hitachi Analytical
Table Top Microscope TM3000 (Hitachi, Tóquio, Japão), com aceleração de 15 kVa.
Após o teste de normalidade (teste de Kolmogorov-Smirnov) foi realizado o
teste de homogeinidade das variâncias (teste da média de Levene). As comparações
entre os valores obtidos para o Est e Edyn entre cada grupo foram realizadas pelo teste
one-way ANOVA e o teste de Tukey-Kramer para comparações múltiplas. Os dados
foram apresentados como média ± erro padrão. O valor de p foi considerado
estatisticamente significativo ao nível de 5%.
16
4.1.3. Resultados
Os scaffolds obtidos a partir do procedimento de descelularização pulmonar
(usando a artéria pulmonar e a traqueia) em comparação com os pulmões nativos (grupo
controle) tiveram suas estruturas pulmonares relativamente bem mantidas, como
observado pela MEV (Figura 7).
Figura 7. Exemplos representativos de imagens MEV comparando seções de pulmões nativos e pulmões
descelularizados através da artéria pulmonar e da traqueia.
Como mostrado na Figura 8, os valores de elastância (EST e Edyn) medidos nos
pulmões acelulares foram muito próximos, independentemente da via no qual foi
realizado o processo de descelularização (Eest = CG: 226,9 ± 4,1; PDG: 162,6 ± 3,9;
TDG: 154,8 ± 1,7, Edyn = CG: 240,9 ± 6,7; PDG: 176 ± 5,4; TDG: 177,6 ± 1,6), com
valores de elastância menor do que dos pulmões nativos, determinado pelo método de
oclusão da via aérea ao final da inspiração.
17
Figura 8. Mecânica pulmonar. Elastâncias (A) estática (Est) e (B) dinâmica (Edyn) em pulmões nativos e
descelularizados (através da artéria pulmonar e traqueia) determinado pelo método de oclusão da via
aérea ao final da inspiração. Os dados estão em média ± SE. ***: p <0,01, ou seja houve diferença
estatistica do grupo controle com os grupos de descelularização.
4.1.4. Discussão
A criação de um scaffold de pulmão acelular adequado para recelularização é um
desafio. As propriedades mecânicas e a estrutura pulmonar após processos de
decelularização são parâmetros críticos susceptíveis ao definir scaffolds
descelularizados ideais. Portanto, foi demonstrado no presente estudo que a aplicação de
ambas as vias para decelularização do pulmão, vascular e das vias aéreas, resultou em
uma diminuição significativa na elastância pulmonar, aparentemente, mantendo as
estruturas pulmonares, tais como o septo alveolar e a pleura visceral.
18
A abordagem baseada em uso de detergentes é um dos mais utilizados entre os
métodos de descelularização pulmonar. Em vários estudos de nosso laboratório, o
detergente SDS foi perfundido através da traqueia34,48,49 e artéria pulmonar21,22,47,
resultando em um pulmão acelular com retenção de componentes da ECM específicas e
a remoção das células do pulmão nativo, que determina um processo de
descelularização ideal.
Neste estudo foi utilizado o mesmo protocolo que foi anteriormente aplicada a
descelularização de pulmão com SDS através da traqueia34 e da artéria pulmonar21.
Ambos os protocolos demonstraram preservação do septo alveolar e da pleura visceral,
que são estruturas pulmonares importantes que determinam os pulmões descelularizados
ideais, semelhante aos resultados anteriores.
Wang et al.46, comparou recentemente iguais vias para descelularização
pulmonar e demonstrou uma ECM preservada, mas a estrutura das vias aéreas e
arquitetura alveolar dos pulmões descelularizados foram parcialmente destruídas. Isso
provavelmente ocorreu devido ao elevado fluxo aplicado na artéria pulmonar durante o
processo de descelularização, ao contrário da pressão fisiológica constante aplicada em
nosso protocolo, que manteve as estruturas pulmonares.
Utilizamos a nossa abordagem experimental para avaliar o comportamento das
propriedades mecânicas pulmonares, que fornecem novos dados sobre a relação entre
Est e Edyn nos pulmões acelulares após a oclusão no final da inspiração21,34. Depois de
ambos os protocolos de decelularização pulmonares, TDG e PDG, o sistema
viscoelástico do pulmão acelular foi reduzido em comparação com os pulmões nativos,
isso ocorreu provavelmente devido à eliminação de células do pulmão (isto é, do tipo II
das células epiteliais alveolares), que secretam surfactante pulmonar aumentando assim
a complacência pulmonar. Portanto, considerando que nenhum dano foi observado nas
estruturas pulmonares, a alteração na viscoelasticidade provavelmente será restaurada
durante o processo de recelularização, e pesquisas devem ser realizadas neste sentido.
4.1.5. Conclusão
Em conclusão, não foram encontradas diferenças no comportamento das
propriedades mecânicas e danos na estrutura dos pulmões descelularizados utilizando a
traqueia e a artéria pulmonar como vias de aplicação das soluções descelularizantes.
Portanto, este estudo fornece informações que podem ser relevantes para produzir um
scaffold pulmonar viável para recelularização e transplante de pulmão futuro.
19
4.2. Estudo II
Descelularização de pulmões pela traqueia em comparação com a artéria
pulmonar.
4.2.1 Introdução
Desde o primeiro relato de descelularização por perfusão em coração11, muitos
grupos veem buscando estratégias semelhantes em outros órgãos, como pulmão44 e
fígado50, tornando a engenharia de tecidos uma área de investigação intensa para criação
de órgãos aptos a receber células tronco.
O processo de descelularização de pulmões busca remover as células e materiais
celulares, mantendo uma estrutura 3D intacta composta de MEC, preservando as vias
aéreas nativas e estrutura vascular e fornecendo assim uma matriz acelular funcional
para recelularização com células tronco51.
Um grande desafio com a preparação de órgãos descelularizados é conseguir a
consistência do produto final, em termos de composição e propriedades mecânicas.
Devido a isso, uma série de protocolos veem sendo desenvolvidos e comparados, a fim
de se obter um modelo ideal para a obtenção de scaffolds42.
Dentro dos protocolos de descelularização pulmonar é possível observar duas
rotas de perfusão, uma através da traqueia e a outra pela artéria pulmonar. Para avaliar
as diferenças desses dois métodos deve-se observar as propriedades mecânicas dos
pulmões, o que é de importância também para futura recelularização46,47. Por isso, o
objetivo desse estudo é comparar a resistência e a elastância obtidas pela equação do
movimento, de pulmões descelularizados por duas vias, traqueia e artéria pulmonar.
4.2.2. Métodos
Todos os procedimentos deste estudo seguiram as recomendações do Guia para
o Cuidado e Uso de Animais de Laboratório dos Institutos Nacionais de Saúde e foram
aprovados pela Comissão de Ética em Uso de Animais da Universidade Nove de Julho
(protocolo número 0038/2011).
Este estudo foi realizado em pulmões obtidos de quinze camundongos saudáveis
machos C57BL/6 de 7-8 semanas de idade (17-18 g), divididos em três grupos:
decelularização traqueal (TDG, n = 5), decelularização da perfusão da artéria pulmonar
(n = 5), e controle (CG, n = 5).
20
Os camundongos foram anestesiados com uretano intraperitoneal (1 mg/kg) e
sacrificados por exsanguinação através da aorta abdominal. Imediatamente após a
eutanásia, os procedimentos foram iniciados para prevenir a formação de coágulos
sanguíneos nos pulmões, como previamente descrito por Melo et al.47. O coração, os
pulmões e a traqueia foram dissecados e removidos em bloco, e armazenados em um
congelador a -80 °C até o processo de descelularização ser realizado.
Ambos os protocolos de decelularização compreendem as etapas de coleta,
limpeza, congelamento e descongelamento, e lavagem com dodecil sulfato de sódio
(SDS; Sigma-Aldrich, St. Louis, Missouri, EUA) e tampão fosfato salino (PBS; Sigma-
Aldrich, St. Louis, Missouri, EUA).
Os pulmões do TDG foram perfundidos com detergentes biológicos através de
uma cânula na traqueia, inseridos por uma seringa de 5 ml, até que todas as células
sanguíneas fossem eliminadas, de acordo com o protocolo descrito por Nonaka et al.49.
O PDG tiveram artérias pulmonares e traqueias canuladas e conectadas a um
sistema experimental descrito por Palma et al.21, e o meio decelularizante foi perfundido
através da artéria pulmonar com uma pressão constante de 20 cmH2O.
A mecânica ventilatória foi analisada com os valores de elastância e resistência
obtidos pela equação de movimento. Para isso, a cânula traqueal foi conectada a um
pneumotacógrafo33 que, por sua vez, estava ligado a um ventilador mecânico. Uma das
saídas foi conectada a um transdutor de pressão para medir a Ptr, e as outras duas saídas
contralaterais a um transdutor de pressão diferencial para medir o V'.
Os transdutores de pressão foram conectados a um condicionador de sinal para
gravação de sinais com um microcomputador usando o software WindaqTM 2,81
(DATAQ Instruments, Akron, Ohio, EUA). O fluxo do ventilador foi gerado usando um
cilindro de oxigênio comprimido conectado a um redutor de fluxo21.
A equação do movimento [equação 1] foi obtida pela soma da Pres, relacionada
com o V’, da pressão inertiva (PIva), relacionada com a derivada temporal do fluxo e a
Pel, relacionada com o volume (V) acima da capacidade residual funcional (CRF), mais
uma pressão residual ao final da expiração (Po), onde Ptr é a pressão de abertura da via
aérea, RL é a resistência, EL é a elastância, In é a inertância do sistema respiratório, V’ é
o fluxo e é a derivada temporal do fluxo38.
Ptr = Po + EL × V + RL × V’
[1]
21
Após o teste de normalidade (teste de Shapiro-Wilk) foi realizado o teste de
homogeinidade das variâncias (teste da média de Levene). As comparações entre os
valores obtidos para o R e E entre cada grupo foram realizadas pelo teste one-way
ANOVA e o teste de Tukey-Kramer para comparações múltiplas. Os dados foram
apresentados como média ± erro padrão. O valor de p foi considerado estatisticamente
significativo ao nível de 5%.
4.2.3. Resultados
O valor da resistência pulmonar apresentado no TDG foi significativamente
menor em relação aos outros dois grupos (R = CG: 5,32 ± 0,26; PDG: 5,94 ± 0,24;
TDG: 2,85 ± 0,14). Já o valor da elastância de CG apresentou-se maior de forma
significativa em comparação com a TDG e PDG, e no PDG a diferença foi menor
significativamente em relação à TDG (E = CG: 279 ± 13,81; PDG: 146 ± 19,04; TDG:
209,6 ± 12,06).
Figura 9. Elastância (E) e resistência (R) calculadas a partir da equação do movimento durante a
ventilação mecânica convencional. *p<0,05, ou seja houve diferença estatistica entre o grupo artéria
pulmonar e o grupo traqueia; ***p<0,001, ou seja houve diferença estatitica do grupo traqueia em relação
aos grupos controle e arteria para R e do grupo controle com os grupos de descelularização para E.
22
4.2.4. Discussão
A busca por protocolos apropriados para o processo de descelularização tornou-
se constante, uma vez que a recelularização subsequente depende de propriedades
mecânicas adequadas e estruturas pulmonares intactas após a descelularização. Portanto,
este estudo demonstrou que as vias da artéria e traqueia pulmonares são adequadas para
a descelularização, uma vez que apresentaram diferenças significativas esperadas na
resistência e elastância para criação do scaffold pulmonar.
Detergentes mais comuns utilizados no processo de descelularização são o SDS,
desoxicolato de sódio e Triton X-200. O SDS, em comparação com outros detergentes,
remove melhor os resíduos nucleares e a proteína citoplasmática e embora possa
desestruturar o tecido nativo não promove a remoção de tecido de colageno49,52.
Ott et al40 desenvolveram, para descelularização de pulmões de ratos, um
sistema de perfusão arterial pulmonar utilizando um protocolo com 0,1% de SDS e
aplicando uma pressão de perfusão fisiológica no tecido pulmonar. O processo resultou
em estruturas com vasculatura intacta, vias aéreas e alvéolos acelular. Nesta
concentração de SDS (0,1%), resíduos nucleares foram encontrados em anéis
cartilaginosos da traqueia e embora em concentrações mais elevadas de SDS (0,5%)
produziu a descelularização completa dos anéis, houve diminuição da arquitetura de
membrana em pequenos septos alveolares e vasos . Portanto, SDS a 0,1% foi usada para
experiências subsequentes.
Price et al44 utilizaram duas vias de perfusão para descelularização de pulmões
de camundongos, com água destilada, Triton X-100 e SDS para remover o material
celular. A infusão de soluções através da traqueia e do ventrículo direito mostrou uma
descelularização mais completa do que por uma via independente. Depois da
descelularização os pulmões foram ventilados de modo a avaliar os efeitos sobre a
estrutura da MEC. Após avaliação da matriz dos pulmões, incluindo colageno e elastina
estavam intactos. Esses dados conferem aos encontrados em estudos anteriores
realizados pelo nosso grupo34,49 e também por Ott et al40, uma vez que a mecânica foi
avaliada.
Neste estudo a elastância no TDG apresentou-se maior que no PDG, isso pode
ser explicado pela via de introdução do detergente, onde pela artéria pulmonar, como
apresentado em Palma et al21 há extravasamento do líquido da artéria para os alvéolos,
desta forma acreditamos que há perda de elastina, porém sem influência na mecânica
ventilatória e na estrutura.
23
Outra alteração demonstrada pela via de administração do detergente seria a
resistência, que apresentou-se menor no TDG, já que o detergente foi inserido pela
traqueia a própria pode ter sido descelularizada durante o procedimento.
4.2.5. Conclusão
Com este estudo pode ser concluído que ambas as vias de decelularização são
eficazes para proporcionar um scaffold pulmonar ideal para posterior recelularização,
quando avaliadas pela equação do movimento. Isto também demonstra que a técnica de
descelularização através da artéria pulmonar pode ser utilizada para criar um scaffold
pulmonar em menos tempo, uma vez que o protocolo pode ser realizado em um dia.
24
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como apresentado, a bioengenharia de órgãos é uma área científica em
crescimento com questões fundamentais ainda em aberto. A descelularização pulmonar
para a obtenção de uma MEC intacta é o primeiro passo para futura recelularização e
por isso existe a necessidade de protocolos automatizados que beneficiem o processo,
deixando-o mais rápido no preparo de scaffolds pulmonares.
A analise do comportamento das propriedades mecânicas elásticas, viscosas e
viscoelásticas dos pulmões através da equação do movimento e da oclusão ao final da
inspiração, após o processo de descelularização pelos métodos de perfusão através da
traqueia e da artéria pulmonar, apresenta a qualidade dos protocolos realizados, além de
comparar as duas vias para futura recelularização.
O presente estudo contribui em dois momentos, primeiro na avaliação das
propriedades mecânicas elastância estática e dinâmica pulmonar obtidas através da
técnica de oclusão ao final da inspiração, após o processo de descelularização pela
traqueia e a artéria pulmonar. Em seguida, no segundo momento, na avaliação da
resistência e da elastância pulmonar obtidas pela equação do movimento, também após
a descelularização pela traqueia e artéria pulmonar. Pode-se observar, em ambos
estudos, que as duas vias de decelularização são eficazes para a geração de um scaffold
pulmonar ideal para posterior recelularização, quando avaliadas pela oclusão ao final da
inspiração e equação do movimento.
Quando comparamos as estruturas das vias aéreas dos pulmões descelularizados
também foi possível demonstrar que a técnica de descelularização através da artéria
pulmonar pode ser utilizada para criar um scaffold pulmonar viável em menor período
de tempo, uma vez que o protocolo pode ser realizado em um dia, o que facilita o
processo na obtenção de pulmões funcionais.
25
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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