Download - relatorio anima forum 2007
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ANIMA FORUM 2007
Em sua segunda edição, o Anima Forum 2007
promoveu um ciclo de conferências cujo tema
abordado foi “O Mercado de Animação”.
O foco principal do II Anima Forum foi a
produção para TV – séries, longas metragens e
especiais. Para isto, discutiu-se em que bases
devem ser criadas condições para realização de
parcerias com rede de TV públicas e privadas e
co-produtores internacionais.
Neste contexto, o Forum se propõe a promover
ações positivas a fim de gerar resultados a
médio e longo prazo, tendo como pano de fundo
não só o mercado brasileiro, mas também o
internacional.
Ressaltamos aqui a importância da presença de
representantes dos principais canais de televisão
brasileiros, ora como participantes dos grupos de
mesas redondas, ora como público.
O Anima Forum estrutura-se entre a realização
de eventos presenciais (Palestras, Mesas
Redondas e Debates), que acontecem durante
o Anima Mundi (considerando também
aqui o tempo que precede o evento), e seus
desdobramentos na esfera virtual, com debates
periódicos na página criada dentro do site www.
animamundi.com.br.
O material coletado durante o Forum, depois de
editado, alimentará o site visando uma ampla e
duradoura plataforma de discussões que culminará
com a realização do Anima Fórum 2008.
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DIVULGAÇÃO
A divulgação do evento, a cargo de Vanessa
Cardoso, da empresa Incena Assessoria de
Imprensa, enviou release para as principais
redações da imprensa especializada e o evento
foi noticiado em vários veículos importantes
como O Globo, A Folha de São Paulo, O Estado
de São Paulo, Propaganda & Marketing e a revista
Meio&Mensagem.
Foram incluídas ainda três inserções no jornal
Valor Econômico, nos dias 06, 09 e 11 de julho.
Cerca de 300 convites foram enviados para
profissionais da área, 100 cartazes foram fixados
em escolas de animação e agências de publicidade.
Foram distribuídos 3000 folders, parte por correio
parte foi entregue diretamente ao público do
Anima Mundi.
PÚBLICO
A participação de público foi acima da
expectativa inicial. Um total de 160 pessoas
inscritas, entre profissionais atuantes e
estudantes.
Entre os participantes de São Paulo, Rio de
Janeiro, Pernambuco, Brasília, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, vários foram
representando suas empresas:
Liceu Pasteur, 4Bravo Comunicação, Flamma
Filmes, Bee Contact, Ilustração Digital, Bus
TV Brasil, Ligock Entertainment, Universidade
Metodista de São Paulo, Canal Brasil, Labo Cine
Digital, Procwork IBM, TV Pingüim, Fabrica de
Quadrinhos Núcleo de Artes, 3B Produções,
Fundação João Paulo II, Quark Produções, TV
Cultura, DFilmes, Colégio Cristo Rei/Anglo, Toon
Boom Animation Inc, Start Desenhos Animados,
Universidade Federal de Pernambuco, Valu
Amazing Graphics Ltda, Fundação Cultural de
Florianópollis Ltda, WCA Campinas.
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PROGRAMAÇÃO
�� DE JULHO
Palestra “Panorama Atual do Mercado Brasileiro
de Animação”.
Palestrante: Alê Machado, presidente da ABCA.
Palestra “BNDES – Alternativas de Financiamento
Para Produção de Filmes de Animação”.
Palestrantes: Luciane Gorgulho, Chefe do Dept°
de Economia da Cultura – BNDES; Andrés Lieban
– ABCA e Eliana Russi – ABPITV.
Mesa Redonda “Mecanismos de Financiamento
da Produção Para TV”
Participantes: Cadu Rodrigues (TV Globo);
Mario Diamante (Ancine); Marcelo Parada (TV
Bandeirantes); Mario Sergio (TV Ratimbum); Zico
Goes (MTV). Moderador: Kiko Mistrorigo (TV
Pingüim/ABCA)
�� DE JULHO
Mesa Redonda “TVs Públicas e a Produção de
Conteúdo Animado”
Participantes: Delcimar Pires Martins (TV
Pública); Jeannne Santos (TV Brasil); Paulo
Alcofarado (Ministério da Cultura); José Araripe
(CTAV).Moderadora: Marta Machado (Otto
Desenhos Animados/ABCA).
Mesa Redonda “Viabilizar a Produção Através de
Fontes Alternativas e Novas Mídias”.
Participantes: Edgar Steffen; Reynaldo
Marchezini (Flama Films) e Sebastião Bonfá
(Abral) Moderador: Cesar Coelho (Anima
Mundi/ABCA).
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SÍNTESE DAS PALESTRAS E MESAS REDONDAS REALIZADA
Festival discute animação como negócio
Quem pensa que desenhos e animações são
apenas para crianças está enganado. Também
podem ser um negócio lucrativo. É isso que
o Anima Forum 2007 mostrou nos dois dias
de debates, onde se discutiu o mercado do
setor, as linhas de financiamento e incentivos
governamentais e, o principal, como fazer para
que a produção chegue ao seu público.
De acordo com um dos diretores do Festival,
Cesar Coelho, o crescimento da produção em
animação no Brasil é evidente, algo que pode
ser visto no número de inscrições de obras
brasileiras no Anima Mundi deste ano, 350
dos quais 68 foram selecionadas, por isso
é importante que se tenha uma visão mais
econômica do setor, como se pensa hoje no
cinema brasileiro.
“Nossa idéia é começar a pensar em animação
como um negócio sério, precisamos ter
uma visão mais comercial do que estamos
produzindo. Discutir negócios, esse é o ponto”,
resume, completando em seguida que um
incentivo para tal crescimento no setor vem
também do ganho de visibilidade que tem
o Anima Mundi, que se tornou referência
e com boa repercussão internacional.
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“Por isso estamos propondo este debate para
aproximar quem produz dos investidores, tanto
que montamos uma sala de reuniões onde esses
agentes podem ter o primeiro contato”.
Para Ale Machado, presidente da Associação
Brasileira de Cinema de Animação (ABCA), que
proferiu palestra sobre o panorama atual deste
mercado brasileiro, o setor merece “respeito e
reconhecimento” e já se tem avanços importantes
na valorização do gênero, como a criação de canais
específicos de incentivos à produção, no Ministério
da Cultura e no Programa de Ação Social da
Secretaria de Estado da Cultura, que ajudam em
ações como o acesso a softwares e a realização de
festivais como o Anima Mundi. “O Festival é, sem
dúvida, o primeiro grande estímulo à maioria dos
animadores. Muitos pensam em produzir apenas
para participar do Anima Mundi”, diz.
Porém, ele reforça que é preciso pensar não
apenas em animar, mas também em como vender
e distribuir esse trabalho, para que ele possa
atingir o seu objetivo: ser visto.
“Temos um grande problema no Brasil com
relação à produção de animações, que é a falta
de incentivos, tanto que entre 1917 e 2007 temos
apenas 19 produções de longas-metragens.
Apesar de em 2006 terem sido feitas 7 dessas 19
animações, não houve incentivos, mesmo com os
concursos realizados pela Petrobrás. Já os curtas
têm ainda mais problemas, porque atualmente
eles não tem comercialização”.
Um caminho que muitos produtores têm tomado
para viabilizar as produções, principalmente
de séries para a televisão, são as parcerias
internacionais, hoje fechadas quase sempre com o
Canadá. De acordo com Machado, existem pontos
favoráveis e riscos, como em qualquer negócio.
“A possibilidade de viabilização dos projetos
com qualidade internacional e a garantia de
distribuição são os lados positivos dessa relação
que tem sido construída sempre com o Canadá.
Mas há o risco de o produtor brasileiro não
conseguir a sua parcela de investimento, por
causa da escassez de incentivos para o setor
de animação, e aí ficar com o ‘nome sujo’ no
exterior”, contrapõe.
Machado também alerta para outro perigo que
o Brasil corre nessa relação com dificuldades de
levantar dinheiro para concluir os projetos no país.
Ale Machado
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“Um risco que considero muito alto, e que se
continuarmos sem garantias de investimento
fatalmente ocorrerá, é o produtor internacional
enxergar o país como um celeiro de mão-de-
obra barata, ou seja, desvalorizar o trabalho e a
capacidade de criação brasileira”.
Outro bom motivo apresentado por ele para
que a animação seja vista com mais seriedade
é que, com mais dinheiro, o mercado cresce e
aumenta o número de postos de trabalho. Mas,
argumenta Machado, outras ações precisam
estar em sintonia com a viabilização de recursos,
uma delas é a capacitação profissional, com
a preparação das instituições de ensino para
a técnica de animação e a criação de cursos
profissionalizantes específicos para o setor.
“Nosso setor está baseado em três pilares
fundamentais: a produção, a mão-de-obra, e a
distribuição, e temos deficiências em todos eles”.
A distribuição, segundo ele, é uma das mais
ineficientes, pois a melhor forma de fazer com
que o projeto chegue ao público é através das
TVs abertas. Porém, estas não compram as
produções pelo medo do risco, já que o custo das
animações, principalmente as séries, que são o
interesse das emissoras, é muito alto.
“Uma série custa, em média, R$ 7 milhões. Como
elas não têm incentivos, e o público para esse
produto na televisão é essencialmente infantil
– em horários com pouca venda publicitária - as
emissoras preferem não arriscar em um produto
novo e que já não tenha passado em outros
lugares do mundo”.
Para Machado a distribuição também precisa
de estímulos para que sejam feitas parcerias
entre as TVs e a produção independente, além
de incentivos a programas de distribuição
cinematográfica, capazes de levar os filmes de
animação ao público.
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BNDES MOSTRA LUZ NO FIM DO TÚNEL
Já que a maior dificuldade para o forte crescimento
da animação brasileira é a captação de recursos
para viabilizar os projetos, mesmo que seja na
contrapartida nacional em parcerias internacionais,
o Anima Fórum, ainda no primeiro dia de debates,
discutiu as alternativas de financiamento para a
produção de filmes de animação.
Para essa conversa foram convidados Andrés
Lieban, da Associação Brasileira de Cinema de
Animação (ABCA), Eliana Russi da Associação
Brasileira de Produtoras Independentes de
Televisão (ABPITV) e Luciane Gorgulho, chefe do
Departamento de Economia da Cultura do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), que foi responsável por uma injeção de
ânimo no público presente.
Luciane contou que há alguns anos o BNDES tem
diversificado suas linhas de crédito, e investindo
também em áreas “mais soft”, como o setor
cultural, e apesar de ter iniciado esse processo
apenas como patrocinador, hoje o banco enxerga
o setor também como uma indústria lucrativa:
afinal, é onde estão 5% dos empregos formais, e
4% do PIB brasileiro.
“A economia da cultura é um setor muito importante
e por isso merece investimentos. O BNDES trabalha
como um banco comum, nós financiamos projetos,
hoje já fazemos esses empréstimos em longo prazo,
e com um leque maior de opções que podem ser
oferecidas como garantia por esse financiamento,
desde a casa, até a propriedade da obra, o que
facilita para que os animadores tenham o dinheiro
para a produção de seus filmes”.
Ela conta que a abertura para o setor de
animação é recente, mas já está inclusa nos
Editais do BNDES. Luciane explica o porquê
deste olhar para a animação, não só por parte do
banco, como de outros investidores:
“É um produto que tem grande reconhecimento
internacional, existe oferta, tem grande volume
de produção, intensivo em mão-de-obra
especializada, viaja melhor - pois a dublagem
pode ser feita em qualquer língua -, tem um
grande potencial de receitas de licenciamento, e
potencial em novas mídias”.
Segundo Luciane o banco ainda estuda outra
forma de facilitar a retirada de recursos, o penhor
da obra, algo que também pode ajudar no
crescimento do setor. Porém, há uma exigência
fundamental: a garantia de exibição.
Além dessas linhas de crédito, Luciene se
comprometeu, em nome de seu departamento, a ajudar
no envolvimento das TVs nessa cadeia produtiva;
afinal, toda animação deve chegar ao público.
Luciane Gorgulho
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Esta idéia também animou as emissoras que
participaram do terceiro debate do dia onde
estiveram presentes Mário Sergio Cardoso,
das TV’s Cultura e Rá Tim Bum, Zico Góes, da
MTV, Marcelo Parada da TV Bandeirantes, Cadu
Rodrigues, da Globo Filmes e Mário Diamante,
da Agência Nacional do Cinema (Ancine).
A discussão foi mediada pelo diretor da TV
Pingüim, Kiko Mistrorigo, que representou as
associações ABCA (Associação Brasileira de
Cinema de Animação) e ABPITV (Associação
Brasileira de Produtoras Independentes para TV).
Neste encontro, outra boa notícia para os
animadores, que vêm cobrando muito o apoio
e o aumento de incentivos governamentais,
foi dada por Mário Diamante, que falando das
alterações feitas na Lei do Audiovisual, pela Lei
11.347, deixou bem claro que as animações já
constam nos editais da Ancine. “Estão lá porque
entendo que animação não é um gênero, mas
sim uma técnica, e deve sim ser contemplada nos
editais”.
Ele também contou que uma das alterações
feitas é o Artigo 3º, que aumenta a possibilidade
de parcerias entre a indústria cinematográfica e
as TVs, e ainda acenou com a possibilidade de
criação de um “Funcine Animado”, ou seja, um
fundo de financiamento da Ancine específico
para os projetos de animação, como já existe
para o cinema brasileiro. “É uma idéia bastante
interessante, que prometo será muito bem
analisada”, garantiu.
Mas o ponto central da discussão foi mesmo
a falta de animações brasileiras nas grades das
principais emissoras, já que as TVs Cultura e Rá
Tim Bum se orgulham de transmitir conteúdos
100% nacionais. De acordo com Cadu, diretor
da Globo Filmes, isso se deve ao alto custo de
produção de séries animadas, que têm como
público alvo as crianças.
“Além do gasto alto, o tempo de produção
(em média dois anos) aumenta o risco, pois
não se sabe se aquele produto, depois de tudo
isso, terá o retorno esperado para o horário de
animação. A Globo tem produção nacional
em sua grade, aliás, é mais de 90% da
programação, mas o que dificulta são
essas questões”.
Cadu Rodrigues e Kiko Mistrorigo
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Já Marcelo Parada, da TV Bandeirantes, que
vê uma “descontaminação” do debate entre
as emissoras e as produtoras independentes,
explica que a grande dificuldade está na questão
publicitária pois, segundo ele, os horários
especificados para animação praticamente não
têm anunciantes. O fato do Ibope não medir a
faixa etária pré-escolar - principal público de
animação nas TV’s abertas - faz com que não
se tenha garantia de visibilidade para aquele
produto e pouca possibilidade de negociar com
os anunciantes.
“Adoraria fazer como faz a Record, que colocou
o Pica-Pau entre dois telejornais, apenas para
segurar a audiência e manter uma média,
mas não posso, porque se fizer isso não terei
anunciante. Veja o SBT, por exemplo, onde a
maior parte da programação é infantil, e perceba
que são poucos os anúncios, principalmente se
você deixar de lado o Baú e outros produtos do
Grupo Silvio Santos. Só que a Band não tem o
Baú e nem é mantido por dízimo”.
Zico Góes, da MTV, mostrou que fazer animação
pode ser barato. “Basta vontade e uma garotada
disposta a trabalhar. Na MTV fazemos as
animações em Flash, e tem um retorno fantástico
com um custo baixo. Optamos por uma produção
própria”.
Góes explicou que as animações estão na veia
da emissora, característica herdada da matriz
americana. Segundo ele, a MTV recebe trabalhos
nesse sentido diariamente e criou um canal de
exibição desse material em um dos programas do
VJ João Gordo. “Foi quando chegou uma animação
que nos deu a idéia de produzir uma série, o
vídeo já tinha tudo, uma qualidade interessante,
com história e enredo muito legais, daí nasceu
e começamos a produzir a Mega Liga de VJ’s
MTV que teve quatro temporadas. Contratamos
o animador que nos mandou aquela primeira
animação e continuamos produzindo séries”.
A MTV atualmente produz o Fudêncio, que está
na sua terceira temporada e ainda tem outros
dois projetos em fabricação para serem exibidos
em 2008.
Marcelo Parada
Zico Góes
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TV PÚBLICA: UMA ALTERNATIVA PARA ANIMAÇÃO
Se a cautela com os riscos de produção de
animações impera nas TVs abertas privadas, e
isso emperra a entrada de projetos brasileiros
nesses canais, o Anima Forum deste ano mostrou
que existem diversas alternativas para que o
animador consiga atingir seu principal objetivo,
o de fazer a sua obra chegar ao público. Uma das
possibilidades foi apresentada no segundo dia
do evento, em palestra sobre as TVs Públicas e a
produção de conteúdo animado.
A discussão teve participação de Jeanne de
Oliveira Santos, diretora de conteúdo da TV
Brasil – a TV pública internacional do Estado
brasileiro, que participa do Canal Integración
-, José Araripe, do Centro Técnico Audiovisual
da Secretaria do Audiovisual (CTAv/SAV)
do Ministério da Cultura, Paulo Alcoforado,
coordenador do Projeto DOCTV, Delcimar
Martins, da Secretaria de Comunicação do
Governo Federal, que representou a TV Pública,
que está em fase de regulamentação no
Congresso.
Para José Araripe, apesar de a animação ser a
prerrogativa do cinema, considerada como o
“primo pobre”, a entrada do setor na TV deve
ser feita com muito cuidado. O primeiro passo,
para ele seria um crescimento da animação
em escala industrial, bem como o mercado
publicitário, o que possibilitaria uma integração
e participação bem maior entre as duas áreas,
trabalhando juntas.
“Nada impede que propagandas sejam feitas
com animação. Mas acho que como todo artista
o animado vive o drama entre o trabalho que lhe
agrada e o trabalho encomendado, essa barreira
deve ser ultrapassada”, disse, completando
que o campo para animação é favorável, com a
inserção em editais e com parceria entre o setor e
as TVs públicas. “Há espaço para diálogo, é uma
questão de envolver mercado e trabalho autoral”.
Uma forma apontada por ele para que a
animação atinja nível industrial é a formação
de profissionais para atender ao mercado,
principalmente o de co-produções internacionais,
através do patrocínio da Petrobras para a
criação de um centro de formação, não só de
profissionais, mas de formadores de pessoal
qualificado para o setor.
Araripe prevê que não há possibilidade imediata de
produção para séries televisivas inéditas. “Isso é uma
questão temporal, que deve acontecer se o mercado
de animação produzir cada vez mais animações
de 60 segundos, para provocar o vício das TVs na
produção brasileira, através do mercado publicitário.
José Araripe
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Por exemplo, porque o Governo não usa animação
em propagandas de ações sociais? A parceria
com operadoras de telefonia para esse setor é
uma variação que pode dar certo e alavancar o
mercado de animação brasileiro”.
Mas para ele, esse crescimento só acontecerá se
a animação se organizar, pois “as promessas das
emissoras não são nada de concreto”. Araripe
também contou que a Secretaria abre editais para
produção de séries animadas para a TV.
A parceria entre a produção independente e as
TVs, principalmente as públicas, foi uma tecla
muito batida nas discussões, mas nesse debate
provou-se a viabilidade desse contato.
Como aconteceu com a TV Brasil, segundo
sua diretora de conteúdo, Jeanne de Oliveira
Santos, a partir de uma dificuldade de conseguir
recursos para a produção própria de programas.
“Não tínhamos recursos, então a solução foi
abrir as portas. É importante que a produção
independente chegue ao público, pois a TV
aberta é viciada e essa independência areja um
pouco, principalmente quanto à linguagem e ao
conteúdo”.
Ela ainda contou que a animação é usada
para vinhetas que têm como foco despertar
curiosidades com informações sobre a América
do Sul.
“A animação faz parte de nosso canal também
por nossa identidade visual. Nós a usamos em
português e espanhol, pois temos esse pensamento
de quebrar barreiras lingüísticas, justamente para
buscar a integração da região. Mas hoje buscamos
verbas para abrir editais e concursos, inclusive para
animação, porque é uma linguagem universal”.
Já Paulo Alcoforado sugeriu a formatação de um
projeto nos moldes do DOCTV, específico para
animação.
“Às vezes falta mais informação sobre as
possibilidades que realmente a falta de
incentivos e busca de dinheiro. O DOCTV
tem três objetivos: estimular a parceria entre
produção independente e as TVs, promover a
regionalização e ambientar em documentário,
para disseminar essa linguagem”.
Ele conta que o projeto funciona a partir da
captação de recursos federais e estaduais para
a produção de documentários, com exibição
garantida nos espaços delimitados nas TVs que
entraram em parceria, não só como exibidoras,
mas se envolvendo integralmente nos projetos, e
assim articulando a produção independente e as
TVs públicas.
Paulo Alcoforado
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Além disso, o programa promove diversas oficinas
para a capacitação de profissionais para o setor.
“A animação poderia fazer algo semelhante,
como desenvolver um concurso em duas fases,
onde na primeira seria selecionado um número de
projetos, que na segunda fase receberiam incentivos
financeiros para a produção de um piloto para séries
de TV, e aí a eleição do vencedor”. A idéia rendeu
e nasceu o compromisso de novas conversas
para viabilizar essas novas possibilidades que
podem ser uma porta de entrada para a animação
brasileira ganhar espaço nas TVs.
Uma nova perspectiva também nasceu desse
debate, Delcimar Martins, falou sobre a TV
Pública que está em formatação e receberá R$
350 milhões iniciais por ano. Segundo ele, essa
nova emissora, que se propõe a ser realmente
pública, irá integrar todas as demais emissoras
estaduais, criando uma rede e fortalecendo
as possibilidades de parceria com a produção
independente.
“Hoje temos a cultura das TVs públicas copiando
as comerciais e sendo produtoras, mas até por
uma questão orçamentária uma saída poderá ser
a produção independente. Mas há outra questão:
é parte fundamental dos produtores de animação
convencer os investidores que a Animação não
tem barreiras de comunicação, isso pode facilitar
a entrada de recursos”.
No debate seguinte deste segundo dia de
Anima Fórum, a discussão girou em torno das
formas para facilitar, justamente, essa captação
de recursos, para que se possa produzir as
animações brasileiras em série.
Edgar Stefen, especialista em Marketing Cultural,
que trabalhou na valorização do carnaval de Olinda
(PE), para aumentar o número de turistas, o dinheiro
vem quando se reduz o risco aos investidores.
“A diminuição de riscos se consegue valorizando o
produto cultural e dando garantias aos investidores”.
Mas uma forma aponta por outros dois
participantes da mesa redonda, que teve como
moderador Cesar Coelho, da ABCA, foi o
licenciamento da marca para uso na venda de
produtos diversos. Reynaldo Marchezini, da
Flamma, por exemplo, contou que essa manobra
pode facilitar a venda de uma série televisiva no
exterior, como a que sua empresa vem produzindo.
“Como o custo de uma série é alto, em torno de US$
7 milhões, é preciso captar um número grande de
investidores. No exterior, a média paga por uma
série é de US$ 20 mil, sendo assim, é preciso vender
esse produto a vários interessados. Uma forma que
facilita isso é o licenciamento, pois é uma variável
a mais para o investidor de ter o retorno daquele
dinheiro investido na compra da série”.
Reynaldo Marchezinie Cesar Coelho
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O licenciamento pode se tornar uma parcela
importante na viabilização financeira de projetos
de séries ou longas-metragens de animação. E
os personagens animados oferecem grandes
vantagens neste campo: têm um forte apelo para
todas as idades e classes sociais, não envelhecem
e transitam com facilidade por quase todas
as mídias inclusive as mais modernas como
Internet, celulares, etc., entre outras vantagens.
Sebastião Bonfá, da Associação Brasileiras
de Agências de Licenciamento, coloca esse
diferencial como importante. “Todo investidor
para o qual se oferece um licenciamento pergunta
se o personagem será um novo Pokemon, que
vendia tudo que tivesse essa marca. Aliás, o
licenciamento, nada mais é que o direito de usar
em produtos ou serviços marcas e propriedades
registradas. Ninguém sabe quando e de onde virá
o próximo Pokemon, mas isso não quer dizer que o
licenciamento de um personagem animado não vá
vender bastante”.
Sebastião Bonfá
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