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QUASE-DIGITAIS: anseios e visões dos jovens
universitários cariocas usuários de multiplataformas1 QUASI-DIGITAL: the young college students of Rio de
Janeiro and their media multiplatform use Anderson de Almeida Cano Ortiz2
Fátima Cristina Regis Martins de Oliveira3
Resumo: O artigo discute sobre as adoções jovens das multiplataformas conectadas à
internet e de que maneira essas práticas dialogam com os conceitos da cognição
inventiva. A discussão teórica sobre cognição, comunicação e juventude é
confrontada com os achados de pesquisa de campo qualitativa realizada, via
técnica de grupos focais, quando 59 jovens estudantes universitários da
Comunicação, divididos em oito sessões, foram ouvidos por mais de 20 horas de
conversas. Revela-se um jovem “quase digital”, altamente afeito aos usos das
tecnologias, mas carregando uma espécie de culpa por tamanha adesão. São
pesquisadas as visões dos jovens sobre juventude e tecnologias; práticas com as
mídias tradicionais e digitais; as adoções digitais em definitivo; as ações
empregando a lógica digital conectada; as habilidades e as competências que os
jovens reconhecem ter desenvolvido; as perspectivas desses jovens sobre aparatos
e corpos conectados; as visões sobre liberdade e inteligência nos tempos atuais.
Palavras-Chave: Cognição. Estudos de Internet e Cibercultura. Juventude. Tecnologias de
Informação e Comunicação
Abstract: The article discusses the young adoptions of multiplatforms connected to the
Internet and how these practices dialogue with the concepts of inventive cognition.
The theoretical discussion about cognition, communication and youth is confronted
with qualitative field research findings, through focus group technique, when 59
young university communication students were heard about 20 hours of chating,
divided into eight focus sessions. The young group heard reveals himself to be an
"almost digital" person, highly affectionate to the uses of technology, but carrying a
kind of guilt for such adherence. Youth visions on ‘youth and technologies’ are
researched; practices with traditional and digital media; the digital adoptions in
definitive; the actions employing the connected digital logic; the skills and
competencies that young people recognize to have developed; the perspectives of
these young people on connected gadgets and bodies; the visions of freedom and
intelligence in our times.
Keywords: Cognition. Internet Studies. Youth. Information and Communication Technologies
1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Comunicação e Cibercultura do XXVIII Encontro Anual da
Compós, PUC-RS, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2018. 2 PPGCOM-UERJ, Doutor em Comunicação, [email protected].
3 PPGCOM-UERJ, Doutora em Comunicação, [email protected]
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1. Introdução
A presente reflexão se baseia na tese Jovem e cognição multiplataforma: relatos dos
pioneiros de uma vida quase digital, com pesquisa qualitativa realizada entre 2017 e fins de
fevereiro de 2018, para apresentar de forma problematizada as competências cognitivas que
são colocadas em jogo com a adoção das multiplataformas de comunicação.
Ao contrário do que se assume em muitos círculos (acadêmicos, políticos, midiáticos
e outros), a aproximação com os grupos de jovens cariocas pesquisados na fase de campo da
pesquisa demonstra que a adoção das tecnologias de informação e comunicação (TIC) é feita
de forma negociada. Em linhas gerais, há uma aceitação da ideia de ambientes conectados,
dentro dos quais esses jovens estariam tranquilamente inseridos, a ponto de admitirem estar
sob um vício prazeroso; por outro lado, há enorme resistência desses mesmos jovens à ideia
de tornar os próprios corpos como parte da rede conectada. Essa objeção leva os
pesquisadores a assumirem o termo “quase-digitais” para descrevê-los. Se, em opinião, esses
jovens cariocas pesquisados sentem-se participantes plenos do contexto digital, percebe-se
que o corpo com próteses digitais de comunicação ainda é encarado pela perspectiva moderna
(‘meu corpo, meu templo’), rechaçando a ideia das próteses conectadas. Em ato, portanto, o
conectado digital encontra a barreira nos limites do próprio corpo. Ficções distópicas são
mobilizadas pelos jovens para defender que o corpo conectado está mais para a prisão do que
para os benefícios vários sinalizados, por exemplo, pelos avanços da nano e biotecnologia.
O artigo remonta, assim, a fundamentação teórica, sem qualquer pretensão de esgotá-
la, apenas situá-la. Evidencia como os hábitos oriundos do uso dos meios de comunicação
não-digitais4 ainda compõem o cotidiano (e imaginário) dos jovens cariocas contemplados na
pesquisa. E, por fim, as negociações que os jovens estabelecem entre ambientes conectados
como algo natural, usos arraigados de tecnologias a ponto de encará-los como ‘prisão com
prazer’ e rechaço à possibilidade de ter o próprio corpo como parte de uma rede social de
inteligência ampliada no seu cariz mais moderno filosoficamente.
Ao fim e ao cabo, evidencia-se a tessitura que os jovens usuários – apresentados ainda
na infância à lógica TIC – buscam estabelecer nas suas práticas ‘nem tanto ao mar, nem tanto
à terra’ do contexto atual do meio urbano imerso nas tecnologias multiplataformas.
4 Usaremos o termo “tradicional” para referir aos meios anteriores à internet: impresso, rádio e TV.
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2. Fundamentação teórica
A pesquisa toma por base três linhas de reflexão: cognição; comunicação; estudos
sobre juventude. Os conteúdos desdobram a pesquisa bibliográfica da tese sobre as ciências
da cognição, com ênfase na cognição inventiva; os estudos da comunicação pelos conceitos
de cibercultura, enredamento sociotécnico, relação homem-máquina; e os estudos teóricos e
empíricos sobre o recorte demográfico específico da juventude.
2.1 O domínio dos estudos da cognição
De maneira específica, a pesquisa identifica como os repertórios de atenção,
percepção e memória se apresentam nas práticas cotidianas; a cultura conectada e multitarefa
presente no meio jovem em contato com os modelos cognitivos estudados; as apropriações
híbridas dos meios tradicionais de comunicação e dos meios digitais multiplataforma,
explicadas por meio das teorias da Comunicação.
A revisão bibliográfica apresenta alguns dos paradigmas dos estudos da cognição.
Revisitam-se conceitos sobre atenção, percepção e memória, escolhendo-se a proposta de
cognição inventiva presente nos estudos de Kastrup (2004) como conceito operatório central
para explicar os tipos de atenção manifestados pelas práticas no meio digital.
O conceito de habilidades e competências cognitivas tendo a atenção-percepção-
memória como fio condutor é tratado em variadas perspectivas nas reflexões de autores como
Hutchins (1995); Perrenaud (1999); Kastrup (2004; 2009); Stoltz (2005); Schmidt e
Vandewater (2008); Sodré e Paiva (2010); Brasel (2011); Regis et al (2012); Ferreira (2014);
Jenkins et al (2014), dentre muitos outros.
As competências estão relacionadas com o processo de construção de conhecimento
que demanda o uso dos sentidos corpóreos e da experiência concreta, distinto do aprendizado
formal abstrato, concentrado e fora do contexto. A uma cultura escrita adiciona-se outra,
transformada pelo digital, que faz convergir repertórios anteriores de símbolos, imagens,
sons, movimento e oralidade que, longe de ser algo inovador, ao contrário, resgata e
transforma o humano ancestral que, na ausência da expressão textual, empregava a oralidade,
o símbolo e as imagens como elementos de aprendizado, culto e memória. O uso humano dos
conteúdos e seus suportes leva a uma ambiência integrada já apontada pelas ciências da
cognição – corrente da cognição atuada (VARELA, 1990) – e evidenciada nesse tópico como
aquilo que exige um repertório transformado de atitudes relativas à atenção.
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Como explica Kastrup (2004), na tradição da Psicologia Cognitiva, os elementos
psicológicos envolvidos com a aprendizagem preceituam que a atenção compõe o cardápio
daquilo que há a ser aprendido. Trata-se de tirar a atenção do seu estado natural, aprendendo
a concentrar-se para que um indivíduo possa condicionar-se para perceber e memorizar.
Nesse sentido, elementos como foco e concentração tornam-se variáveis importantes a
modular o processo atencional e o respectivo aprendizado, não apenas retendo o objeto que se
aprende, mas também imaginando usos inovadores desse objeto. A cognição inventiva leva a
outro nível o processo de construção de competências. Nesse processo se apresenta a
causalidade circular de Varela (1990), que envolve a problematização e a solução, mas indo
além, “como invenção de si e do mundo. (...) Ela é uma prática de invenção de regimes
diversos, co-engendrando, ao mesmo tempo, o si e o mundo” (KASTRUP, 2004, p.8).
O repertório envolvido com a atenção faz desembocar no consumo midiático, à
medida que os estímulos cresceram de forma vertiginosa para indivíduos que ainda são
formalmente preparados pela escola segundo um cardápio de atenção racionalizante, cuja
focalização é exigida para aprender. O que não impede que um aprendizado informal com os
meios de comunicação disponíveis na vida cotidiana altere essa capacidade cognitiva. Por
exemplo, mais de uma pesquisa (Rede Brasil Conectado e qualitativa da tese) corroboram
que o único meio de comunicação que a maior parte dos jovens dedica atenção exclusiva –
focada e concentrada – é o livro. Todos os demais meios são usados em conjunto com outros,
raramente isolados. O que seria equivocado fazer supor que tantos estímulos provocam
desatenção. O que positivamente se revela é que há uma redistribuição de um ‘estoque de
atenção’, que difere daquele repositório que um indivíduo dispunha há 30 anos.
Nesse ponto, os ambientes midiáticos, conectados à profusão, estão paulatinamente
assumindo funções variadas de memorização, com a preocupação crescente entre educadores
sobre as competências a ser desenvolvidas pelas crianças. Até há pouco, formava-se o
indivíduo para abstrair e aplicar, cuja ênfase era “conteudista” para ser arquivada na memória
humana. Agora, também se torna necessário prepará-lo para buscar, julgar sobre a fonte,
empregar o conteúdo de acordo com princípios intelectuais éticos e criar a partir de tudo o
que está à disposição nos suportes técnicos. Isso com as crianças imersas em uma infinidade
de estímulos midiáticos em paralelo, na maior parte das vezes mais atraentes do que qualquer
outro repertório educativo disponível.
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As evidências levantadas com a pesquisa revelam que as práticas de consumo
midiático atual dos jovens contam com novos repertórios de atenção, que se organizam a
partir de dinâmicas inventivas. De início, revela-se uma tolerância cada vez menor aos
formatos tradicionais do conteúdo audiovisual e impresso.
2.2 Cognição, comunicação e conexão às TIC
No entrecruzamento dos estudos das Ciências Cognitivas com os da Comunicação,
discute-se sobre a interação entre homens e aparatos em ambientes conectados à internet.
Conforma-se um paradigma em que homens, máquinas e ambientes co-engendram uma
inteligência que mobiliza a mente e o corpo, os objetos técnicos e os ambientes digitais
conectados. Algo diferente da concepção moderno-iluminista de cognição como um cultivo
da mente superior, que aprende com a qualidade do que é capaz de abstrair, na qual o corpo
tem atuação secundária. Isso se dá de acordo com a lógica das associações complexas, o que
significa admitir que nem sempre o homem será o protagonista nesses arranjos.
O corpo teórico que reflete a cibercultura tende a encarar o espaço oferecido pela
lógica digital e seus componentes como plataforma de aprendizado coletivo e individual,
desenvolvimento de práticas culturais em rede, nos mais variados campos, em autores como
Latour (2012); Benkler (2006); Lemos (2002); Parente (2013); Primo (2013); Jenkins et al
(2014); Castells (2015); Lopes et al. (2017); Recuero (2014), dentre muitos outros.
É certo que o repertório tradicional de habilidades é demandado dos usuários
multiplataformas, como capacidade de ler e escrever, entender a simbologia de ícones,
noções de língua inglesa, movimentos do corpo para interagir com os aparatos, entre outros.
Essas habilidades passam por um refinamento a partir dos usos atuais dos conteúdos
interativos digitais. Não à toa, pesquisas recentes tornam evidente que o abismo na adoção
das tecnologias encontra lugar na atualidade com fortes barreiras à incorporação nos públicos
com menor renda, menor nível de instrução, tipos de trabalho menos qualificados, mais
idosos, residentes no interior ou cidades de menor porte (BRASIL; SECOM, 2015).
Usos convergentes de tecnologias tornam-se hábitos cada vez mais assumidos pelos
públicos que estão se relacionando com as TIC. Não apenas conteúdos que se complementam
passam a ser distribuídos por múltiplas plataformas, mas especialmente conteúdos que
suplementam certa obra podem ser encontrados em distintos canais e formatos. Outro olhar e
outra forma de se concentrar em tais conteúdos tornam-se necessários. Apesar dos avanços
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feitos nesse sentido, os dados da pesquisa revelam que o tradicional televisivo e o digital
estão dividindo espaço no gosto do público (LOPES et al., 2017), embora a migração de
quase todos os demais suportes para o digital indique que a televisão provavelmente também
vá conhecer o mesmo destino.
Isso reforça que, para lidar com os novos suportes, é preciso ter acumulado
competências do modo de uso anterior das mídias tradicionais e que esse desenvolvimento de
habilidades não se distribui igualitariamente entre todos os estratos da sociedade.
Também são mobilizados os conceitos dos estudos de internet que oferecem um
quadro teórico da rede sociotécnica, tanto nos seus aspectos filosóficos quanto nos
sociológicos. Faz-se uma breve explanação das ambições que desde o século XVIII envolvem
a ideia de rede e como essa metáfora vai ser empregada no presente para caracterizar a
sociedade conectada. Explica-se nos termos da teoria ator-rede (LATOUR, 2012) a lógica das
associações, que se estrutura a partir de redes rizomáticas, cuja ausência de hierarquias
prévias tende a ser a tônica, o que não deve ser confundido, contudo, com a ausência de
padrões. Fundamenta-se o conceito de redes sociotécnicas e a formação de subjetividades,
indicando variáveis que servem de operadores interpretativos, tais como heterotopia,
pantopia, rizoma, multitemporalidade, redes de transformação, ideografia dinâmica, entre
outras (PARENTE, 2013).
Ainda nessa fase são revisados os conceitos relacionados à conversação em rede e as
formas de relacionamento que se estabelecem nos espaços das redes sociais na internet. As
variáveis que tradicionalmente definem a ideia de capital social – confiança, reciprocidade,
proximidade – ganham contornos diferenciados dentro dos espaços digitais, que serve de base
para interpretar os diversos comportamentos dos jovens, revelados tanto nas fontes
secundárias quanto na pesquisa de campo. Daí que são buscadas informações que expliquem:
a predileção dos jovens pelos produtos seriados de TV agora distribuídos em plataformas
streaming; a lógica da cultura da participação tendo os produtos culturais do entretenimento
como direcionadores; os motivadores que levam os jovens à ação nas redes sociotécnicas
organizadas em torno dos assuntos de entretenimento.
Aborda-se também a questão da junção homem-máquina, tendo à frente a figura
ficcional do ciborgue. Busca-se entender a condição humana a partir das teorias que explicam
as visões presentes e futuras sobre o enredamento complexo de homens, máquinas e
ambientes. Essa discussão estrutura uma experiência no campo qualitativo em que os jovens
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imaginam o futuro das TIC a partir dos conceitos de internet das coisas, próteses de
comunicação, as ideias dicotômicas de liberdade–vigilância e como a inteligência se define
dentro dessa dinâmica em que a conexão ganha valor.
Schmidt e Vandewater (2008, p.64) discutem, a partir de resultados empíricos de
variadas pesquisas, as competências cognitivas que jovens usuários de meios de comunicação
eletrônicos costumam apresentar. Os resultados apontam que competências ligadas a
execução de tarefas, sistemas de linguagens, símbolos, visão, habilidades espaciais,
capacidade de resolução de problemas, atenção e hipertextualidade apresentam ganhos com
os recursos dos meios de comunicação. E que o formato audiovisual de conteúdos, quando
considerado relevante pelos jovens, é memorizado em níveis superiores àqueles repassados
em outras plataformas.
A capacidade de atenção engajada aumenta com o hábito de consumo das plataformas
eletrônicas, o videogame inclusive, ao contrário da impressão no senso comum de que solapa
o foco e a atenção. Propõe-se que quanto mais compreensível for um conteúdo, maior será
seu índice de retenção na memória, incluindo os conteúdos ficcionais (Idem, p.71-72).
Segundo as pesquisadoras, as técnicas de edição do audiovisual, consagradas por
décadas de exposição, também influenciam no engajamento de atenção, com recursos já
incorporados nas narrativas midiáticas, tais como o corte de imagens, mudanças repentinas de
enquadramento de câmera, movimentos e efeitos sonoros, o que remete ao conceito de media
literacy, proposto por Thomas Bauer (apud MARTINO, 2014, p. 230). Nesse sentido, a
presença de aparatos de comunicação em quase todos os ambientes cotidianos produz
sentido, a ponto de ser impossível separar linguagens, significados e dispositivos ao se
elaborar qualquer análise sobre eles.
Em especial no caso de videogames, destaca-se neste inventário a capacidade que seus
usuários desenvolvem de concentração, motivação em alcançar objetivos, propensão para
vencer desafios intelectuais e lúdicos, tudo isso em um estado positivo de ‘fluxo’ (flow nos
termos das pesquisadoras), “que se caracteriza pelo estado no qual uma pessoa se perde numa
atividade profundamente prazerosa” (SCHMIDT; VANDEWATER, 2008, p.73).
Também se verifica na lógica dos hipertextos ganhos cognitivos relevantes devido ao
consumo interessado do usuário quando ele próprio torna-se capaz de hierarquizar o conteúdo
preferido à medida que pula de um documento a outro no seu trajeto de navegação.
Características como liberdade de tempo para consumo no ritmo do usuário, arquitetura
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aberta e ilimitada de informação disponível, possibilidade de escolha, condições de participar
ativamente na própria construção do conteúdo, são alguns dos atributos que aumentam a
sensação de controle do consumidor de hipertextos, que por sua vez aprende paulatinamente
a refinar suas pesquisas e desenvolve uma complexa capacidade de garimpar dados usando
visão e leitura (Idem, p.74).
Essas características vão aparecer claramente nos três resultados de pesquisa
aplicados – CGI; Rede Brasil Conectado; rodada qualitativa – revelando um jovem
consumidor de conteúdo digital que valoriza a liberdade de escolha de seus conteúdos, a
ponto de refutar qualquer forma de programação que o tente condicionar a datas e horários
específicos.
Ao mobilizar extensa referência bibliográfica, Brasel (2011) propõe o conceito de
tunnel vision5 para explicar que um novo padrão de visão com os artefatos de mídia se
estabelece na atualidade, em ambientes cuja interatividade, telepresença e consumo por busca
e pesquisa se confirmam como hábitos crescentes. O tipo de visão aqui proposto difere
daquele exigido para consumir meios tradicionais, que ainda permitia algum tipo de flutuação
do olhar. As plataformas interativas demandam que o usuário alterne sua presença em
distintos ambientes de mídia estando previamente orientado sobre o que buscar, daí a ideia de
‘túnel’, constatando-se que esse foco altera a capacidade de percepção do ambiente.
Nos moldes anteriores de mídia, a atenção poderia se desviar e retornar ao centro da
mensagem proposta, com perda irrelevante de sentido. Característica que ainda se reconhece
para alguns dos jovens que adiante serão apresentados nos grupos focais, que manifestam
apreciar o modelo anterior. No modelo presente, essa distração pode provocar a perda de
alguma informação importante, como por exemplo no caso de um videogame. Mesmo o
repertório de atenção periférica diminui a capacidade de retenção, uma vez que a entrada nos
ambientes interativos já vem motivada por um interesse prévio.
Para abordar o tema do engajamento exigido do indivíduo para lidar com os objetos
da cibercultura, mobiliza-se uma vez mais o conceito de ‘competências’ elaborado por
Perrenaud (1999). De acordo com o autor, supera-se a fase anterior de desenvolvimento das
capacidades de retenção do cérebro, a cognição depende do engajamento do aprendiz. Trata-
se do elemento fundamental na construção de competências, que se descola da concepção de
5 Optamos por manter o conceito em seu rótulo original, tunnel vision, uma vez que a tradução literal parece
pouco adequada para explicitá-lo.
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que aprender seria memorizar abstratamente, passando a articular saberes prévios,
habilidades e atitudes. Regis et al (2012) explicam que a experiência de engajamento da
ambiência TIC propicia a ativação de sentidos físicos, tais como a visão, a audição e o tato,
além das capacidades da mente abstrata. Mas também ativa a habilidade de participação
social, a descoberta de novas linguagens e suportes materiais para a consecução de tarefas
interativas que ativam toda uma rede sociotécnica. É nesse processo que a atenção se
transforma, pois emergem novas práticas em um modelo cognitivo que contempla humanos e
não-humanos num ambiente digital, conectado, distribuído. Essa ordem das coisas apresenta
valores que desafiam a defesa da prática dedutivo-racional na produção do conhecimento que
vigorou nos períodos anteriores.
Os dados empíricos evidenciam que a passagem de uma audiência que ‘apenas
prefere assistir’ para outra ‘atuante a partir do conteúdo midiático’ ainda se encontra em
estágio bastante inicial. O sentimento de que há potencial ampliação na base de produtores de
conteúdo é sentido como um valor entre os jovens da pesquisa qualitativa que, ao analisar o
que é inteligência hoje, percebe positivamente a ampliação do acesso à informação graças às
bases digitais.
Admite-se atualmente que a interação com os objetos técnicos, plataformas e suportes
permite o aprendizado humano baseado em uma ‘ambiência cognitiva’ (HUTCHINS, 1995).
Tal interação recoloca a comunicação como espaço privilegiado. Para Sodré e Paiva (2010), a
comunicação participa do contexto na criação de códigos comuns, compartilhados cultural e
coletivamente, assim como na dimensão subjetiva de interpretação de tais códigos, operação
realizada por cada indivíduo cuja formação de visões e valores oscila de maneira dinâmica
entre as esferas privada e pública do cotidiano.
O componente de incerteza na conformação das redes de relacionamento é a chave
para que muitos pesquisadores, entre eles Lévy (2013), Santaella (2013), Primo (2013) e
Castells (2015), vejam o contexto atual como promissor na criação de uma esfera pública
conversacional na qual os indivíduos dentro dos seus grupos sociais podem agir formando
novas mentalidades sobre assuntos cívicos, aí contemplado o entretenimento. Jenkins et al.
empregam o termo ‘datasfera’ ou ‘midiaespaço’, baseados nos estudos de Douglas Rushkoff
(1994, p.4 apud JENKINS et al, 2014, p.43), que a define como “um novo território para
interação humana, expansão econômica e, especialmente, maquinações sociais e políticas”.
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Propõe-se a partir desses autores que o ato de passar adiante os conteúdos, portanto, deve ser
encarado como uma prática social que qualifica a esfera pública.
Isso porque os conteúdos prontos para serem compartilhados cumprem um papel de
qualificadores desse fluxo informativo transformado. O ato de encaminhar um conteúdo para
um grupo de amigos, por exemplo, denota uma série de cálculos de posicionamento do
remetente que desvelam uma lógica cuidadosa na escolha daquilo que se compartilha.
Considerando os aspectos cognitivos envolvidos não somente com os conteúdos
midiáticos, mas também do contexto, das instituições e dos objetos técnicos, interessa
entender como os produtos midiáticos conformam um repertório cognitivo, com os
respectivos conhecimentos e habilidades verificados. Nesse processo, parece que algumas das
variáveis, como a percepção, a atenção e o foco também passam por adaptações e mudanças.
Dentro dessa perspectiva de cognição, os conteúdos de entretenimento ganham
proeminência. No caso do público jovem entrevistado, o produto cultural seriado é apontado
como o preferido. O suporte para consumi-lo é o streaming digital, que pode ser acessado no
notebook, no desktop ou no celular. Enquanto assiste ao seriado, boa parte dos jovens troca
mensagens com suas redes de contato em mensageiros instantâneos ou redes sociais,
repercutindo os conteúdos do que estão assistindo.
2.3 Juventude Conectada
O apanhado teórico que explica a situação do jovem brasileiro apresenta a inserção
desse segmento no quadro social a partir de perspectivas diversas. Caracteriza-se o segmento
jovem a partir da pluralização do termo “juventudes”; a percepção da idade pelo recorte
biológico; a condição jovem para além dos recortes etários; a formação da mentalidade dos
jovens entre meados do século XX e os tempos atuais; as divisões de classe que conformam
segmentos de jovens com ‘moratória social’ e jovens com necessidade de ingressarem
precocemente no mundo do trabalho; as questões de identidade; o desejo de conquistar
liberdade e experimentar o mundo; a entrada da tecnologia como uma variável importante a
caracterizar os hábitos culturais dos segmentos jovens contemporâneos.
Para estudar a temática da juventude e suas relações com a tecnologia, chega-se ao
recorte jovem a partir de autores como Feixa (1999); Abramo (1997, 2003); Reguillo (2003);
Freitas (2010); Toaldo e Jacks (2013); Pappámikail (2012); Ferreira (2014); Ortiz (2012),
dentre outros.
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Ainda na fase de fundamentação são trazidas duas fontes secundárias relevantes para
a triangulação metódica que o trabalho propôs-se realizar: o relatório TIC Domicílios 2016:
Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos Domicílios
Brasileiros, organizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil; e a pesquisa Jovens e
Consumo Midiático em Tempos de Convergência, realizada pela Rede Brasil Conectado.
Os resultados da pesquisa TIC Domicílios 2016, organizada pelo CGI, traz um retrato
demográfico dos mais completos sobre as adoções de TIC no contexto brasileiro. Interessante
nessa fonte é a segmentação do estrato de usuários com idade entre 16 e 24 anos, o que
oferece uma base comparativa valiosa nas análises da pesquisa qualitativa sobre o perfil
demográfico do jovem internauta brasileiro. Uma bateria do roteiro de entrevista focal
aplicada no campo assume a lista de práticas pesquisada pelo CGI, nela baseando-se para
entender as percepções subjetivas que estão relacionadas com ações como: “comunicar-se”;
“buscar informação”; “usar multimídia” “usar para educação e trabalho”; “download, criação
e compartilhamento de conteúdo”.
São apresentados também os dados quantitativos da pesquisa Jovens e Consumo
Midiático em Tempos de Convergência, realizada pela Rede Brasil Conectado, sob
coordenação central da pesquisadora doutora Nilda Jacks, da UFRGS, à frente de uma rede
nacional de pesquisadores de mais de 40 universidades públicas e privadas em 26 estados e
no Distrito Federal, grupo do qual um dos autores do artigo fez parte como coordenador da
equipe do estado do Rio de Janeiro desde 2013. Tomou-se os resultados da terceira fase dessa
pesquisa, quando ocorreu a aplicação de formulário online, pontuando-se de maneira
comparativa os índices dos jovens do estado do Rio de Janeiro ante as médias nacionais. A
amostra de 9.072 questionários válidos traz um retrato das práticas convergentes de mídia dos
jovens de 18 a 24 anos em todo o Brasil relativas a: formas de acesso à internet; práticas para
circulação de conteúdos; hábitos de uso de redes sociais na internet; posse e emprego de
dispositivos tradicionais e digitais com seus respectivos usos; e, ao fim, dados de perfil. Parte
do roteiro de entrevista dos grupos focais baseia-se nos levantamentos teóricos e
instrumentos de campo dessa pesquisa.
De ambos os retratos nacionais, depreende-se um jovem usuário dos aparatos e
ambientes TIC que acompanha as curvas de adoção da população brasileira em níveis
superiores, em boa parte dos casos, incluindo-se os hábitos adquiridos de consumo
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convergente de dois ou mais meios de comunicação ao mesmo tempo, normalmente pelos
direcionadores do relacionamento social conectado, do entretenimento e do lazer.
Nota-se que todas as práticas propostas pelo formulário do CGI são adotadas em
níveis elevados pelos jovens e, em muitos casos, todos os outros estratos etários. Tanto a
pesquisa da Rede Brasil Conectado quanto a pesquisa qualitativa ratificam essa alta adesão
aos usos dos smartphones. Confrontados com os resultados de 2014, por exemplo, momento
que a pesquisa adotou o relatório para fundamentar o roteiro de entrevista, os indicadores de
adoção do celular já eram altos. Em 2016, de alto a baixo nos indicadores demográficos
segmentados, a lógica de uso dos smartphones como plataforma midiática se ampliou.
Como os dados comprovam, do ponto de vista da formação do hábito, divertir-se,
informar-se, encontrar pessoas via redes TIC, entre outras práticas são comportamentos que
estão incorporados pelo segmento jovem.
3. Métodos de pesquisa aplicados
O trabalho de campo consistiu na aplicação de oito grupos focais, somando mais de
20 horas de conversas, ao reunir 59 jovens universitários da Comunicação, residentes na
região metropolitana do estado do Rio de Janeiro, majoritariamente entre 18 e 24 anos,
estudantes de uma instituição pública e outra instituição privada na cidade do Rio de Janeiro.
O trabalho tem por objetivo revelar os hábitos multiplataforma dos jovens
universitários da Comunicação, buscando entender, nas visões do próprio jovem, quais são as
competências cognitivas oriundas de suas práticas nas plataformas digitais.
Na fase metódica, ao adotar o método qualitativo e a escolha pela técnica do grupo
focal, as oito sessões cumprem as etapas recomendadas para o devido processo de pesquisa,
tais como: a definição do perfil desejado dos participantes; a estruturação do roteiro de
entrevista; o pré-teste do instrumento de campo (roteiro de entrevista); a organização
administrativa dos grupos focais; os desafios com o recrutamento dos entrevistados dentro do
perfil traçado; a efetiva aplicação das sessões de grupos focais em ambientes preparados para
tal finalidade; a produção do relatório de pesquisa.
O roteiro semi-estruturado de entrevistas, composto de seis blocos, é orientado a:
permitir a apresentação dos participantes e suas visões sobre o que é ser jovem atualmente até
desembocar na relação com as tecnologias; conhecer as práticas com os aparatos tradicionais
de comunicação (TV, TV a cabo, Rádio, Jornal, Revista, Livro, Gibis, entre outros); mapear a
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presença dos aparatos TIC (acesso e posse de aparelhos) entrelaçados com as práticas
remanescentes do contexto anterior; identificar os usos atualmente feitos por esses jovens
mobilizando as TIC, em especial smartphones; relatar possíveis habilidades transformadas
pelo emprego das tecnologias, reconhecidas e assumidas pelos próprios jovens; compreender
o sentimento desses jovens em relação aos ambientes totalmente conectados à internet por
meio de aparatos e do próprio corpo humano.
4. Jovem confortável com os ambientes TIC, mas avesso ao corpo conectado
Propõe-se que os jovens estão com o corpo no digital, mas a alma ainda presa ao
mindset anterior, pois sentem-se culpados pela adesão desmedida aos hábitos conectados. Daí
defini-los como “quase digitais”. Enxergam-se como “digitais” em suas práticas ao terem
migrado de vez para o contexto comunicativo das plataformas digitais. As evidências
mostram, contudo, que se estabelece um comportamento híbrido de consumo que reúne
conteúdos tradicionais e digitais. O processo de migração para o digital parece irreversível,
embora ainda se verifique apreço aos produtos culturais da televisão, destaque para os
seriados, agora consumidos em plataformas streaming, com experiências narrativas mais
complexas, interativas e extensões de tramas.
O entrecruzamento dos dados apurados pelas pesquisas quantitativas – CGI (2017) e
Rede Brasil Conectado (2015) – com os achados dos grupos focais, revela um quadro
transformado de práticas tendo por base os meios de comunicação em multiplataformas, seja
para marcar presença, para entreter, para trabalhar ou para lidar com situações pontuais. Um
código de convívio vai paulatinamente se desenvolvendo entre o que é aceitável ou não nos
comportamentos dentro desses espaços de permanente presença.
Stoltz (2005) apresenta o conceito de estruturas operacionais para explicar o processo
de desenvolvimento do conhecimento, teoria oriunda de Piaget. As práticas que são
desenvolvidas por esses jovens envolvendo ambientes técnicos, pessoas e aparatos
conectados ajudam a produzir novas subjetividades. Delineiam-se nesses processos os
fatores apontados por Piaget (apud STOLTZ, 2005, p.151) como ‘maturação’, ‘experiência’,
‘transmissão e interação social’, ‘processo de equilibração’, todos encontrados na construção
do conhecimento no processo de mediação que foi descrito.
É possível identificar a proeminência que o smartphone vai ter nos usos do jovem,
quais são as plataformas digitais onde o público normalmente tem se relacionado com seus
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diferentes grupos, as formas criativas de uso dos aparatos conectados à internet, a maneira
como o consumo noticioso se estabelece a partir desses ambientes em que os jovens dizem
que preferem estar.
A pesquisa de campo revela que o repertório de atenção básico do usuário de
plataformas digitais se altera. O campo da pesquisa confirma um jovem atento aos valores
cognitivos da cultura conectada às plataformas digitais. Esse jovem compreende que a lógica
digital, em tese, facilita os relacionamentos a partir da aproximação e da co-presença, acelera
o tempo e diminui as distâncias, oferece um universo de fontes para o conhecimento que
transforma a formação subjetiva, repertório esse que pode ser acessado em qualquer ponto da
rede, por meio de quase qualquer aparato, cabendo até mesmo na palma da mão.
Por outro lado, essas vantagens são relativizadas por sentimentos que revelam um
condicionamento à lógica moderno-iluminista anterior, que é crítica aos hibridismos corpo-
técnica; sujeito-objeto. Revelam-se angústias ligadas: à complexidade que os
relacionamentos adquirem com os códigos de conduta que estão sendo criados nos espaços
digitais, muitas vezes tendo o conflito como carro-chefe e o afastamento como resultado; ao
cansaço mental do jovem, cuja atenção está sendo mais exigida, isso pelo viés do prazer e da
recompensa psicológica; ao excesso de tempo que dedica à internet, sempre imaginando que
poderia empregá-lo de forma mais proveitosa; ao sentimento de que sua relação com os
aparatos e ambientes técnicos o torna mais prisioneiro das tecnologias e das redes do que um
agente que pode transformá-las a partir da sua livre e criativa atuação; ao uso acomodado que
as pessoas tendem a fazer da internet, calcada em um automatismo que desencoraja o espírito
crítico e investigador do usuário. Resultado no mínimo curioso, pelo viés crítico e ainda
ligado a uma lógica anterior que separa homem e técnica. Os jovens se sentem como os
pioneiros ao chegar na vida digital, mas fazem isso com um sentimento de culpa. Revela-se
um jovem que compõe um segmento especial de consumidor de mídia, apresentado ainda na
infância à lógica digital, com seus aparatos e ambientes conectados, mas que ainda lança
questões desconfiadas para o contexto atual de crescente digitalização. Daí o “quase digital”:
ainda se posiciona calcada nos valores antigos da concepção cognitiva.
Em síntese, os principais achados das práticas jovens revelam que: as visões de
juventude compartilhadas pelos participantes desembocam sem sobressaltos na ideia de que o
jovem é afeito à tecnologia; as mídias digitais são usadas com ênfase, mas carregando
conteúdos baseados nas fórmulas de sucesso dos meios tradicionais; a televisão é a principal
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agenciadora dos hábitos de consumo de mídia digital, via seriados em streaming; o rádio de
transmissão aberta foi abandonado, mas o hábito da música se mantém; impressos de jornais
e revistas são desprezados, mas as notícias em meio digital ainda guardam importância; o
livro impresso é consumido com afeto enquanto o texto digital na forma de livro (livro,
apostilas e outros formatos) serve para a leitura de ordem prática (textos acadêmicos, tutoriais
etc.).
Dentro dos resultados dos grupos focais são analisadas as circunstâncias que motivam
a migração para o digital. Direcionadores como mobilidade e conveniência são revelados
pelo jovem, ganhando valor a possibilidade de consumo em qualquer plataforma, no
momento preferido e dedicando o tempo que julgar necessário ao conteúdo. Confirma-se o
consumo sob demanda coroado pela lógica dos bancos de dados em lugar dos modelos de
transmissão. A existência de infraestrutura de banda larga, configurada por redes de acesso
sem fio (wi-fi), torna-se um serviço tão essencial quanto luz e água para o jovem, cuja
interrupção por período prolongado produz desconforto.
O apanhado qualitativo da pesquisa, entrecruzado com os resultados da pesquisa
Jovem e consumo midiático em tempos de convergência, traça um cenário que indica que é
nesta geração de jovens que se dá a passagem entre o consumo tradicional e a forma de
recepção digital, que vai moldando competências diferenciadas para que esses indivíduos
possam usufruir plenamente essas tecnologias. É o que se discute, por exemplo, em Stoltz
(2005), Regis et al. (2012), Ferreira (2014), quando se aborda as habilidades de busca,
armazenamento, consumo, interação, criação e distribuição dos conteúdos midiáticos.
Em Kastrup (2004, 2009), delineia-se uma perspectiva de que há a demanda por
novos repertórios de atenção que também se transformam nessa dinâmica. Isso se dá num
ambiente permeado pela tecnologia, com a consequente disposição humana em interagir com
ela (e interagir com outros humanos a partir dela). A cognição inventiva advém, portanto, da
capacidade de criar novos contextos e distintas soluções partindo desses ambientes que
exigem múltiplas atenções e condicionamentos (mentais e corpóreos) em níveis distintos dos
anteriores, cujos resultados dificilmente serão definidos com antecedência, podendo ser
melhor entendidos a posteriori com os métodos cartográficos.
O que passa com os meios tradicionais é bastante sintomático desse momento híbrido
vivido com as competências que se desenvolvem com as TIC. Enquanto as plataformas vão
sofrendo rápidas migrações de consumo para o digital, talvez com exceção do livro que toca
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o coração, é possível observar que os conteúdos produzidos e que recebem atenção ainda
estão fortemente calcados na lógica dos meios tradicionais, tanto o conteúdo audiovisual
quanto o impresso. Tanto faz se no entretenimento ou no interesse pelos assuntos cívicos. Os
preceitos das redes sociotécnicas se revelam aqui, tais como a acumulação, a justaposição, a
coexistência de múltiplas espacialidades, a aceleração e a autoafecção (PARENTE, 2013).
Prova disso é que em nenhum dos grupos a conversa se direcionou para diferentes
conteúdos em novas plataformas, mas em geral as conversas giravam em torno de produtos
midiáticos tradicionais, já consagrados, que migravam para os meios digitais, plataformas
essas que dão a sensação de controle da programação nas mãos dos usuários. Mas, a despeito
dos ajustes que são tecnicamente feitos, os repertórios tradicionais vão sendo ajustados ao
digital, aparentemente com grande sucesso.
O smartphone é eleito o aparato principal, com a mobilidade sendo o direcionador
mais forte desse apreço. Revela-se um conjunto de práticas com o uso dos aparatos digitais,
smartphone à frente, mas não o único, também se refletindo sobre notebooks e computadores
de mesa. Identificam-se os principais sites de redes sociais usados pelos jovens, com seus
diferentes empregos e estratégias de posicionamento, assim como as avaliações de apreço e
rejeição. Reflete-se sobre as práticas cognitivas que são desenvolvidas com os usos de
mensageiros instantâneos e sites de redes sociais, cujas conversações produzem sentidos
distintos mediante a negociação de contextos de comunicação e normas de comportamento
que se estruturam de grupo a grupo, de plataforma em plataforma. O smartphone se
transforma no instrumento que auxilia o jovem a resolver demandas variadas ao longo do dia,
cujas práticas inventivas são destacadas, a principal delas, soluções criativas de
posicionamento e comunicação. No consumo de informações noticiosas, em que o abandono
ao impresso se confirma em índices elevados, a notícia online ganha relevância, com
confiança nos algoritmos das plataformas digitais.
Do ponto de vista das competências cognitivas, constata-se um jovem mais atento e
menos focado. Como tem o repertório de atenção central recondicionado pelos estímulos
digitais, esse usuário mostra-se altamente propenso a atender nas vezes em que é demandado
pelos aparatos, via sons, imagens ou tremidos. Porém, uma vez que mergulha nas telas, uma
atenção distribuída pode levá-lo a consumos erráticos de várias plataformas digitais de uma
só vez. O sentimento expresso é de que aumenta a distração, inclusive a que se dedica aos
ambientes físicos. Admitem isso em tom de lamento, registre-se.
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Visões do presente e do futuro na pesquisa focal mostram que os jovens estão
confortáveis com a conexão dos aparatos aos ambientes, naquilo que propõe a internet das
coisas. Mas mostram-se resistentes à ideia de ter próteses de comunicação enxertadas aos
corpos, a despeito da relação estreita que já mantêm com os seus smartphones, perspectiva
que admitem rever caso seja usado para melhorar as condições de vida e saúde; ou se toda a
sociedade também já estiver conectada, aceitando essa condição para nela se integrar.
Enxergam os aparatos e ambientes conectados pelo viés da vigilância e do controle, embora
percebam que essa dinâmica se estrutura pelo prazer e pelo entretenimento. A inteligência,
assim, vai ser percebida de acordo com um viés crítico, com a metáfora mais recorrente da
ficção científica distópica do seriado Black Mirror, que propõe a condição humana limitada
pelas tecnologias.
Vale lembrar que a ideia de inteligência se alimenta na atualidade dos valores da
conexão de seres humanos em uma escala sem precedentes, agenciados por infraestrutura,
máquinas e plataformas descentralizadas – cujos códigos de programação costumam ser
abertos e compartilhados em rede – com uma potencial capacidade de coordenação em ampla
escala transformada, que inclusive extrapola a ideia de Estado-nação. Nesse sentido, a
esperança é que essa potencialidade seja usada para fins nobres ao projeto de civilização.
Outras perspectivas atuais de inteligência vão propor que ela está ligada às
competências de operação e criação, de posse dos recursos disponíveis dentro dos ambientes
conectados. Trata-se do condicionamento do sujeito para operar essa tecnologia. Assim como
também há uma vertente ligada às operações de inteligência nas trocas que se estabelecem
entre os ambientes maquínicos, fazendo emergir na troca entre as próprias máquinas e redes
padrões de inteligência que mesmo para a imaginação humana pode ser difícil especular.
Essa é uma discussão central no trabalho, a questão da inteligência. Tome-se, por
exemplo, a questão que está em jogo com a capacidade de memorização, que o campo revela
que os jovens terceirizam cada vez mais os dados utilitários a suportes tecnológicos como
discos rígidos ou espaços de armazenamento na nuvem de informação. O que está disponível,
no limite, torna desnecessária a tarefa de memorização que anteriormente se exigia na
formação intelectual do indivíduo. Se algo está lá, supostamente ao alcance da mão, a
qualquer tempo e hora, por que investir energia decorando?
Obviamente, há uma série de operações lógicas incontornáveis para o indivíduo que
correm o risco de caírem na complacência fiada na disponibilidade de próteses de memória.
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O que ocorreria, nesta hipótese, caso essas próteses por alguma razão ficassem indisponíveis
e o humano incapaz de pensar a lógica que embala tal tecnologia? E como ficam as operações
inventivas em um contexto no qual a imaginação se rende somente ao que está disponível em
um banco de dados qualquer? Neste debate, entram em jogo conceitos que lidam com a
expansão do conhecimento, os meios de comunicação e os estudos sobre os agrupamentos
jovens nos seus mais distintos hábitos e comportamentos. Nesse ponto, buscou-se entender
qual era a perspectiva do jovem usuário das TIC quanto à presença dos objetos conectados
formando os ambientes de convívio. O que a eles parece adequado e exequível.
Condição que não se confirma quando a proposta é ter as tecnologias conectadas
implantadas no corpo. Perspectiva estranha, contudo, se nas etapas anteriores os jovens
afirmam que evitam passar o dia inteiro afastados de algum aparelho que dê acesso à internet,
principalmente o smartphone; que aceitam a pressão de amigos e familiares quando eles por
alguma razão estão incomunicáveis; que se sentem cada vez menos propensos a passar horas,
dias ou semanas distantes da internet. Ainda que estranha a possibilidade de ter uma prótese
implantada, a relação com os aparatos já é de tal monta, cuja ausência é sentida de forma
angustiada. Os cuidados com a saúde e a melhoria das condições de vida são possibilidades
que podem fazer essa perspectiva se alterar. Para demonstrar a distopia dessa possibilidade de
implantar o aparelho, os entrevistados evocavam a analogia com o seriado britânico de ficção
científica chamado Black Mirror.
Em grandes linhas, essas tecnologias de conexão digital são sentidas como aparatos
de vigilância e controle de forma mais ampla do que suas possibilidades de intervenção
criativa. Esse controle, contudo, se dá pela via do entretenimento, do consumo e da
comodidade, tornando tudo muito conveniente para o indivíduo, mas pouco reflexivo e
transformador. Passa ao largo da visão desses jovens as perspectivas de uma dimensão
potencialmente transformadora das práticas midiáticas coordenadas, mesmo que de pequenas
proporções.
Enfim, as visões sobre uma sociedade mais inteligente com o uso das tecnologias
conectadas à internet ainda estão longe de ser um consenso. No lugar disso, há uma
dificuldade em caracterizar inteligência na época atual, havendo a convicção, contudo, de que
variáveis como disponibilidade de conteúdos, ampliação do acesso, diminuição do tempo de
busca e produção, entre outras variáveis são valores que o contexto atual representa e isso
está colocado a favor das sociedades no presente.
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5. Considerações finais
A temática está na ordem do dia: hábitos multiplataforma de uso das TIC compõem
processos cognitivos diferenciados. Usuários desenvolvem competências na associação com
as tecnologias, a partir de regras de interação inovadoras. Variáveis humanas e técnicas
incidem, sem hierarquias prévias. Identificam-se os atributos com os quais os jovens
negociam quando passam a interagir por meio de tais próteses de comunicação. Tais escolhas
afetam a subjetividade dos jovens usuários.
Os valores de uma cultura conectada estão incorporados em alto grau nesses jovens
que vivem a remediação entre as duas lógicas – tradicional e digital. Essa passagem produz
um novo tipo de cognição que mobiliza humanos, aparatos técnicos e ambientes tecnológicos
em conexão.
Essa cognição remete aos repertórios de atenção, percepção e memória produzindo
novas plasticidades, tanto no nível consciente (autobiográfico) quanto no nível não-
consciente (automatizado). Emerge daí um usuário jovem das tecnologias que se sente
racionalmente distraído, mas altamente atento aos pedidos de atenção dos equipamentos de
acesso à internet, especialmente o smartphone, o que a altera no seu nível central (básico), a
ponto de produzir angústia na impossibilidade de atender às notificações.
A cognição inventiva, portanto, reside na capacidade de mobilizar na prática os
recursos disponíveis nos ambientes repletos de pessoas e objetos técnicos de maneira criativa.
A digitalização tem sido um facilitador dessa competência, quando dota de informações e
capacidade de processamento conteúdos produzidos nesta época e em outras.
Quanto à maneira como esses jovens universitários enxergam esse ambiente cognitivo
transformado, as visões ainda estão calcadas nos quadros racionais da modernidade. Grata
surpresa se apresenta aos autores quando Lemos (2018), partindo de outra abordagem
metódica, também verifica essa possibilidade em suas reflexões sobre o seriado Black
Mirror, tantas vezes recordado pelos jovens entrevistados para encerrar ideia apocalíptica
sobre a sociedade conectada. O seriado, ele mesmo, faz perguntas modernas para um
contexto que já se encontra aparentemente para além daquela perspectiva filosófica.
Certamente, reflexões futuras dos autores do artigo terão condições de cotejar e assimilar o
trabalho do referido pesquisador com mais profundidade.
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