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QUARTA-FEIRA, 27 DE FEVEREIRO DE 2013

Na Nova Tamoios, paisagem da serra vai ficar escondida Traçado da duplicação da estrada prevê túneis quilométricos; técnicos rejeitam ideia de criar belvederes para apreciar a vista

REGINALDO PUPO , ESPECIAL PARA O ESTADO , CARAGUATATUBA - O Estado de S.Paulo

Quem costuma viajar pela Rodovia dos Tamoios (SP-99), principal acesso entre o Vale do Paraíba e o litoral norte paulista, e está acostumado com as belas paisagens dos últimos resquícios da Mata Atlântica, terá de se acostumar com túneis quilométricos e cores frias.

Pessoas que utilizam o mirante localizado no sentido Caraguatatuba para fotografar de um ângulo diferente a orla e o mar, por exemplo, terão de esperar chegar ao litoral para registrar as belas paisagens. É o que prevê o projeto executivo da duplicação do trecho de serra da rodovia, com previsão de conclusão em 2017.

O trecho de planalto, que já está com 25% do cronograma em andamento, deverá ser totalmente duplicado em dezembro. O Estudo e o Relatório de Impacto Ambiental (Eia/Rima) da última etapa de duplicação da Nova Tamoios foi apresentado há uma semana pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), em Caraguatatuba, como parte do processo de licenciamento ambiental das obras.

Moradores sugeriram a criação de belvederes para minimizar o impacto cinzento do complexo, mas provocaram reação contrária do corpo técnico durante a audiência. De acordo com Carlos Satoro, engenheiro executivo da Dersa, estatal responsável pela duplicação da Tamoios ao lado do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), o trecho de serra terá uma pista reversível de 21,52 quilômetros com três faixas de rolamento de 3,50 metros cada. Cinco túneis serão construídos e totalizarão 12,6 km do total de 17,7 km previstos. Um deles terá 3.665 metros e será o maior do Brasil, segundo a Dersa, superando o existente na Rodovia dos Imigrantes, que tem 3.150 metros.

Quatro desses túneis serão acompanhados por túneis auxiliares, que servirão como rota de fuga para casos de acidentes. Nove viadutos e duas pontes também vão compor o sistema. A nova pista será utilizada para subida, enquanto o traçado atual será usado para descida.

O custo total do empreendimento está avaliado em R$ 2,13 bilhões. Segundo a Dersa, as obras de duplicação do trecho de planalto e os contornos de Caraguatatuba e São Sebastião serão bancados com recursos do Estado e não terão pedágio.

Impactos. Segundo Ana Maria Iversson, da JGP Consultoria, que elaborou o Eia/Rima, foram estudadas sete alternativas antes de se chegar ao traçado previsto. "É o projeto menos impactante." Segundo ela, cada frente de obras causará impacto a cerca de 100

metros em seu entorno. O pequeno impacto desse projeto foi consenso até mesmo entre ambientalistas, que em 1989, foram radicalmente contra a Rodovia do Sol, projeto do governo do Estado de criar uma nova rodovia de acesso ao litoral norte, que acabou sendo totalmente engavetado.

"As obras não afetarão o Parque Estadual da Serra do Mar", destaca Ana Maria. Segundo a consultora, a cada hectare desmatado, 4 serão reflorestados. Ainda de acordo com ela, os caminhões que serão utilizados durante as obras representarão 6% do tráfego da rodovia em dias de semana. "Após a conclusão das obras, a própria fluidez do tráfego resultará em menor impacto sonoro e aumentará a qualidade do ar, pois o fluxo não ficará parado como ocorre atualmente nos fins de semana."

Leão Serva: Cidade Limpa: de fios, minhocões e Maluf

DE SÃO PAULO É incrível como a carnavalização faz pobres se vestirem de reis, ricos se andrajarem, homens livres se fantasiarem de presidiários e Paulo Maluf ressurgir na cena pública, no único país do mundo onde pode aparecer sem ser preso pela Interpol, para argumentar contra os fatos. Em artigo na Folha ("Vamos salvar o elevado"), o ex-prefeito defendeu o Minhocão, paradigma de suas obras faraônicas, assim como a avenida Roberto Marinho, esta que alimentou saldos bancários no exterior, agora prestes a serem repatriados por decisão da Justiça (estrangeira). Não é o trânsito, estúpido! A verdade histórica comprova que, com Maluf, fazer a obra era o meio, enquanto as contas no exterior eram o fim. O Minhocão (anos 70) já congestionava dois anos após a inauguração; a Nova Faria Lima (anos 90), menos de dois meses depois. A Roberto Marinho idem. Se era para resolver o trânsito dos carros particulares, as obras de Maluf fracassaram. Se era para movimentar contas em Jersey, pelo menos uma delas foi bem-sucedida. O Minhocão recebeu o nome oficial de elevado Costa e Silva, dado para bajular um ditador militar. O povo logo constatou a futilidade da obra, ressaltando que a via ligava a praça Roosevelt, no centro, ao escritório da Eucatex, da família Maluf, na avenida Francisco Matarazzo. O monstrengo viário que o ex-prefeito defendeu na Folha, na véspera do Carnaval, foi a maior tragédia urbanística da cidade em muitas décadas. A começar pelo nome oficial, passando pela poluição (visual, auditiva e do ar), tudo enfiado pela goela dos moradores de uma área que era uma perfeita miniatura da pluralidade e da democracia social paulistana. Só uma ditadura podia impor um prefeito biônico a uma capital brava como São Paulo. Só um prefeito biônico poderia submeter dezenas de milhares de cidadãos a tanto barulho e a tanta poluição, gerados por uma via monstruosa a poucos metros de suas janelas. Embora a indignação popular tenha sido imediata, só em 1975, no início da "abertura lenta, segura e gradual", a TV Globo pôde veicular a novela "O Grito", de Jorge Andrade. Todo o país viu, então, as agruras dos moradores de um prédio submetido à construção do malfadado Minhocão à sua frente. Quando o prefeito Kassab criou o projeto Cidade Limpa, em 2006, dizia que a obra só estaria completa quando fossem enterrados os fios elétricos que poluem nosso visual. Depois, lançou um projeto, em tramitação no Legislativo, para criar uma avenida paralela ao Minhocão, sobre os trilhos da antiga Fepasa, que faça uma ligação mais longa e larga entre as zonas leste e oeste, permitindo a derrubada da herança malufiana. Assim o combate à poluição visual estaria completo. Deve ser porque não pode por os óculos fora do Brasil, para não ser preso, que Maluf ficou tão desatualizado. Ele diz que "há elevados em todas as grandes cidades do mundo e ninguém pensa em derrubá-los". Em verdade, estão caindo. Neste mesmo 2013, milhares de paulistanos podem visitar o Highline, de Nova York, via elevada transformada em jardim; ou conhecer o "Big Dig" de Boston, onde o minhocão foi "enterrado"; ou irão a Seul, que eliminou de uma só vez duas obras ao estilo malufista: derrubou um minhocão e descanalizou um rio urbano ao lado. Lendo a história recente da cidade e do noticiário político-policial, vê-se que São Paulo só será realmente uma cidade limpa quando se livrar dos fios e do Minhocão, mas também --por que não dizer?-- de Paulo Maluf.

LEÃO SERVA, 53, ex-secretário de Redação da Folha, é coautor de "Como Viver em SP Sem Carro" (Neotropica) e autor da exposição "Malditos Fios"

Arco Tietê sairá de seleção de ideias O projeto de reurbanização de uma área de 60 milhões de metros quadrados ao longo das margens do Rio Tietê, parte do chamado Arco do Futuro, deve ser montado pela Prefeitura juntando ideias apresentadas ao longo dos próximos dois meses por arquitetos, empresas de planejamento urbano e empreiteiras.

Por meio de obras viárias e de drenagem, da criação de corredores de ônibus e construção de até 30 mil unidades de habitação populares, o projeto vai tentar equilibrar as ofertas de trabalho e moradia na região, equivalente a 37 parques do Ibirapuera. Isso poderia contribuir para diminuir os deslocamentos na cidade.

O modelo foi apresentado ontem, na primeira reunião pública sobre o projeto. Interessados em participar do Arco Tietê têm até 7 de março para se inscrever na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano - o prazo ainda pode ser alterado. A partir dessa data, as empresas terão 60 dias para apresentar ideias e conceitos gerais.

Técnicos da secretaria vão selecionar as melhores propostas e reuni-las em uma audiência pública na primeira semana de junho. A partir daí, as empresas terão seis meses para detalhar as ideias selecionadas. O tema voltará a ser debatido com a sociedade em setembro e dezembro.

No fim do ano, a Prefeitura poderá lançar licitações separadas para algumas das obras planejadas, uma parceria público-privada ou utilizar a concessão urbanística - o Ministério Público questiona a validade do instrumento em duas ações.

Os escritórios de arquitetura serão pagos proporcionalmente ao aproveitamento das ideias, o que já rendeu críticas de urbanistas ao fim do encontro de ontem. "A Prefeitura reduz o leque de participação nas propostas às empresas que têm capacidade financeira de executar um projeto por meses e correr o risco de não receber nada no fim do processo", disse o arquiteto Lourenço Gimenes.

O secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco, afirmou que o processo segue o que está previsto em lei. O chamamento público para o Arco Tietê foi feito depois que Odebrecht e OAS sugeriram um estudo semelhante à Prefeitura no ano passado.


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