Programa deordenamento florestal privilegiaeucaliptos na Peneda Geres
Floresta. Programade ordenamentoflorestal privilegiaeucaliptosna Peneda Geres
ICNF explica que sub-região do Parque Nacional da Peneda Geresnão compreende apenas o parque, mas sim o que sobra dos concelhos.João Branco, presidente da Quercus, considera que privilegiar eucaliptosna Peneda Geres é privilegiar a produção de celulose.
CARLOS DIOGO SANTOScarlos. [email protected]
A revisão dos Programas Regio-nais de Ordenamento Flores-tal (PROF) deste ano classifi-cam o eucalipto como umaespécie privilegiada no Geres,em detrimento de outras quesão nativas. A redação do docu-
mento é clara: "Artigo 36. 5 -
Sub-região homogénea Par-que Nacional da Peneda-Gerês
[...] Nesta sub-região devemser privilegiadas as seguintesespécies florestais: a) Espéciea privilegiar (Grupo I): [...] v)Eucalipto (Eucalyptus globu-lus)". No grupo 11, não tão prio-ritário, surgem outras que são
nativas.
Ao i, João Branco, presiden-te da Quercus, explica que os
PROF "da maneira como foramfeitos têm alguns problemas":"Deviam ter privilegiado maisas espécies autóctones, corti-
ça, a resina e o turismo e a caçaem vez da produção de celu-lose. De um modo geral, a visãodos PROF é produtivista, podiater privilegiado outras funçõesda floresta". João Branco adian-ta ainda que a "questão do
sequestro do carbono nemsequer está contemplada nes-tes instrumentos".
"O Parque Nacional da Pene-da Geres é o único parquenacional e deve privilegiar-sea vegetação natural e nativa,nunca eucaliptais, que são exó-
ticos australianos, inibidoresde biodiversidade", conclui.
ICNF DE QUE PARQUE ESTÁ A SAL-
VO O Instituto da Conservaçãoda Natureza e das Florestas(ICNF) assegura, porém, que emcausa não está o parque natu-ral em si, mas os concelhos onde
este está inserido e que dão pelonome de sub-região homogéneaParque Natural da Peneda-Gerês,adiantando que nem o RegimeJurídico aplicável às Ações de
Arborização e Rearborização(RJAAR) de 2017, nem o planode ordenamento do parque per-mite a plantação de Eucaliptosnaquela área protegida.
"As áreas para ocupação com
povoamentos de eucalipto estão
João Branco,presidente
da Quercus afirmaque PROF têm
diversos problemas
João Brancolembra ainda que
deve privilegiar-sea vegetação natural
do parque
enquadradas no Regime Jurí-dico aplicável às Ações de Arbo-
rização e Rearborização (RJAAR)-Decreto-Lei n. s 96/2013, de 19de julho, na sua redação arual.Por via das alterações introdu-zidas ao RJAAR em 2017, nãoserá possível arborizar com
eucalipto em locais do SistemaNacional de Áreas Classificadas
(SNAC), o que inclui o ParqueNacional da Peneda do Geres",explica fonte oficial do ICNF.
A mesma fonte reforça que"esta Sub-Região Homogénea(SRH), apesar da sua designa-ção, abrange territórios nos
municípios de Arcos de Valde-
vez, Melgaço, Ponte da Barcae Terras de Bouro que estãofora do Parque Natural da Pene-
Presidente das Quercusdiz que os ProgramasRegionais de OrdenamentoFlorestal têm uma visão"produtivlsta"DRUAMSTTME
da Geres e está integrada noPROF de Entre Douro e Minho".
O que não explica é então arelevância de privilegiar o
eucalipto na sub-região, umavez que o que sobra, além do
parque natural, não tem assim
expressão.Estes programas regionais de
ordenamento têm em contadiversos aspetos, incluindo eco-
nómicos e risco de incêndios."O eucalipto ocupa uma áreaequivalente a 14%, e as outrasresinosas 2%. As espécies a pri-vilegiar nos grupos I e 11, emcada SRH, resultam da aplica-ção da metodologia para a mode-
lação da aptidão das espécies,metodologia que está descritano documento estratégico do
PROF. O PROF assenta numalógica de avaliação do potencialde desenvolvimento florestal(em sentido lato, considerandoos aspetos sociais, ambientaise económicos), em cenários de
alterações climáticas, e consi-dera os principais vetores,nomeadamente agravamentodos riscos de incêndios e de pra-gas e doenças para elencar as
espécies a privilegiar em cada
SRH", argumenta o instituto.
QUEM FEZ OS PROF? O ICNF lem-
bra que para a elaboração des-
tes instrumentos e política seto-
rial foram lançados concursos
públicos, tendo a adjudicaçãosido feita em 2016 - anterior,por isso, ao RJAAR de 2017.
Programasde Ordenamento
Florestaltêm vigência
de 20 anos
Elaboração doPROF foi anterior
ao Regime Jurídicode Arborização
e Rearborização
"Os PROF foram elaborados
pelos seguintes consórcios, queintegram sempre instituições de
Ensino Superior, assegurandodessa forma a componente cien-tífica que deve estar associada a
este tipo de instrumentos: IPICONSULTING NETWORK (coma Universidade de Évora): PROFLisboa e Vale do Tejo e PROF
Alentejo; ERENA-WAYMOTION-DOISECO (com o Instituto Supe-rior de Agronomia): PROF Algar-ve, PROF Centro Litoral e PROFCentro Interior; FLORADATA-Biodiversidade, Ambiente e Recur-
sos Naturais, Lda (com a Univer-sidade de Trás-os-Montes e Alto
Douro): PROF Entre Douro e
Minho e PROF Trás-os-Montes",adianta a mesma fonte.
Estes programas, que têm umavigência de 20 anos, podem ain-da assim ser alvo de alterações:"Os diplomas que os aprovamprevêem já a possibilidade de alte-
rações, quer por proposta do ICNF,tendo era consideração os resul-tados dos relatórios quinquenaisde execução, quer sempre queocorra qualquer facto relevante
que as justifique".Sem dizer se pondera ou não
propor alguma alteração, o ICNFconcluiu, frisando que o euca-
lipto ocupa apenas "1,07 % datotalidade da área da SRH", e
que, "por via da aplicação donovo RJAAR, não será possívelarborizar com eucalipto emlocais do Sistema Nacional deÁreas Classificadas".