Produção de hidrolisados de proteína de pescado (HPP)
a partir de subprodutos da indústria do pescado de
Peniche – Aplicações
Maria de Fátima Gonçalves dos Santos
[2011]
2
Produção de hidrolisados de proteína de pescado (HPP)
a partir de subprodutos da indústria do pescado de
Peniche – Aplicações
Maria de Fátima Gonçalves dos Santos
Trabalho de projeto apresentado à Escola Superior de Turismo e Tecnologia do
Mar do Instituto Politécnico de Leiria para obtenção do grau de Mestre em
Biotecnologia dos Recursos Marinhos
Trabalho de projeto realizado sob a orientação da Doutora Susana Filipa Jesus Silva,
Professora Adjunta da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Instituto
Politécnico de Leiria
[2011]
ii
Título: Produção de hidrolisados de proteína de pescado (HPP) a partir de subprodutos
da indústria do pescado de Peniche – Aplicações
Copyright © Maria de Fátima Gonçalves dos Santos
Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar – Peniche Instituto Politécnico de Leiria 2011
A Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar e o Instituto Politécnico de
Leiria têm o direito, perpétuo e sem limites geográficos, de arquivar e publicar esta
dissertação/trabalho de projeto/relatório de estágio através de exemplares impressos
reproduzidos em papel ou de forma digital, ou por qualquer outro meio conhecido ou que
venha a ser inventado, e de a divulgar através de repositórios científicos e de admitir a
sua cópia e distribuição com objetivos educacionais ou de investigação, não comerciais,
desde que seja dado crédito ao autor e editor.
v
Agradecimentos
Agradeço especialmente à Doutora Susana Silva, por todo o apoio, ombro amigo
e ajuda neste meu caminho. Por tudo o que lhe devo de conhecimentos adquiridos;
Á Doutora Susana Mendes, pela ajuda incessante e disponibilidade, mesmo
quando precisava de tempo para o seu trabalho;
Reconheço toda a ajuda prestada pela Ana Augusto e Joana Manecas, sem elas
não era possível realizar tanto trabalho, pelas horas passadas e dedicadas a este projeto;
Ao Doutor Paulo Nunes pelo apoio;
Agradeço à minha colega Susete e à Márcia pela ajuda e recomendações, e
também pela força e disponibilidade incondicional;
Um agradecimento muito especial à Doutora Ana Danielle Nunes, que me fez
amar cada vez mais os animais, e por me apoiar mesmo quando estava com dias de
muita carga de trabalho, uma grande amiga para toda a vida – Obrigada!
Ao Rodolfo, pelo companheirismo e por nunca me deixar desistir, pelas horas e
horas passadas no laboratório e pela amizade incondicional;
E por último, mas as mais importantes de todas, agradeço à minha Mãe, Maninha
e meu Padrasto (verdadeiro pai), porque sem elas nada disto era possível, por nunca me
deixarem desistir, porque sempre foram, são e serão a razão do meu viver e da minha
luta de manter a palavra desistir longe do meu dicionário.
1
Resumo
O objetivo deste trabalho foi a produção de hidrolisados proteicos a partir de
subprodutos de sardinha (Sardina pilchardus) da indústria local e a avaliação do seu
potencial como aditivos alimentares. A enzima utilizada foi a Neutrase®, tendo sido
testados diferentes concentrações de enzima (0%, 0,5%, 1%, 1,5% e 3%) e tempos de
hidrólise (0, 20, 40 e 60 minutos) de modo a obter um varrimento das características
funcionais dos hidrolisados produzidos em diferentes condições. Os hidrolisados líquidos
foram sujeitos a secagem por spray drying para redução de volume e aumento da sua
estabilidade.
Foram obtidos rendimentos médios de recuperação proteica de 22% e 10% para
os hidrolisados líquidos e em pó, respetivamente. Os hidrolisados em pó apresentaram o
teor de humidade médio de 4,4% e tonalidade clara. Não foi observado um efeito
significativo da concentração de enzima nem do tempo de hidrólise no grau de hidrólise
dos hidrolisados obtidos, tendo sido obtido um grau de hidrólise médio de 22±6% %.
O potencial de utilização dos hidrolisados como aditivos alimentares foi avaliado
através dos seguintes parâmetros: capacidade antioxidante pela redução do DPPH,
capacidade de formação e estabilização de emulsões, capacidade de formação e
estabilização de espumas, efeito da adição de soluções de hidrolisados na textura, perda
de água e alteração de cor em salmão e pescada refrigerados e congelados.
Os hidrolisados líquidos obtidos apresentaram capacidades de redução do radical
DPPH entre 10 e 50%. Foi observada uma redução significativa da capacidade de
redução do radical DPPH nos hidrolisados sólidos, associada à temperatura selecionada
para a secagem: 135ºC.
A adição dos hidrolisados produzidos com 0.5 e 3% de enzima e 20 minutos de
hidrólise a cubos pescada fresca resultou numa redução da percentagem de perda de
água 3 semanas após congelação. A alteração global da cor de pescada congelada
durante 3 semanas e refrigerada durante 7 dias foi minimizada com a adição de
hidrolisados produzidos com 1% de Neutrase® (tempo de hidrólise de 20 minutos). Os
hidrolisados produzidos com 0.5% de Neutrase® (20 min de hidrólise) minimizaram a
alteração global da cor em cubos de salmão congelado.
Relativamente ao potencial da utilização dos hidrolisados como agentes
emulsificantes e estabilizantes, foi observada uma capacidade de emulsificação em
azeite e óleo comparável à do caseinato de sódio na maioria das amostras testadas. As
amostras produzidas na ausência de Neutrase®, aos tempos de 0 e 20 minutos formaram
2
emulsões estáveis com azeite e óleo (35% do volume inicial da emulsões permaneceu
após 24horas a 2200xg durante 3minutos à temperatura ambiente.
Os resultados obtidos sugerem o potencial da aplicação da hidrólise enzimática de
subprodutos de sardinha na produção de agentes crioprotectores em pescado congelado,
aditivos antioxidantes e agentes emulsificantes, tecnologia que poderá gerar produtos de
elevado valor acrescentado. Uma investigação sobre a utilização de diferentes enzimas,
recorrendo a vasos reacionais com agitação mecânica e uma otimização das condições
de secagem para rentabilizar o rendimento de recuperação proteica global do processo e
minimizar alterações funcionais no passo de secagem serão essenciais para uma
avaliação mais detalhada das funcionalidades destes hidrolisados e da relação entre
essas funcionalidades e as condições de produção.
Palavras-chave: Hidrolisados de proteína de pescado (HPP), Grau Hidrólise (GH),
Atividade antioxidante, Aplicação HPP em pescado; Propriedades emulsificantes;
Propriedades antimicrobianas
3
Abstract
The production of protein hydrolysates using by-produtcs of Sardina pilchardus, a
very important fish for local industries in Portugal, and the evaluation of potential food
additives from those hydrolysates, are the base of this study The enzyme Neutrase® was
applied at different concentrations (0%, 0,5%, 1%, 1,5% e 3%) and hydrolyse reaction
times (0, 20, 40 e 60 minutes) for established the functional characteristics of the
hydrolysates at different conditions. The spray drying technique was important for volume
reduction and the increase of the stability of hydrolysates.
The results suggested medium incomes of protein recovery of 22% for liquid
hydrolysates and 10% for those turn into powder. The enzyme concentration, or the
hydrolyse reaction time; with a medium degree of hydrolysis (22±6%) didn't presented a
significative effect. Powder hydrolysates, with light shade obtained an average moisture
content of 4,4%.
To ensure the full potential of hydrolysates, to be used as food additives, several
parameters were analyzed, like the antioxidant capacity, by the reduction of DPPH ,
resulting in 10 and 50% of reduction, a significant value in the dried hydrolysates,
associated to one Temperature studied (135ºC). Others like capacity and stabilization of
emulsions, stabilization of foams, effect of addition of solutions to the hydrolyzed in
texture, water loss and colour changes were analysed in salmon and chilled (fishes frozen
and hake).
The chilled fresh fish (in cubes) with the addition of 0,5% and 3% enzyme
produced (20 minutes of hydrolyse) presented a reduction for water loss (%) 3 weeks
after the hake. Also, the addiction of 1% the Neutrase® (hydrolyse time of 20 minutes)
minimized the colour (globally) after 3 weeks and when chilled for 7 days. For the salmon
cubes (hake) the same result was observed with 0.5% de Neutrase®, for the same period
of time.
Food additives were also tested to ensure that by-products could be applied as
emulsifier and stabilizer agents, using olive oil and oil to compare with sodium caseinate,
used as control. Hydrolysates at 20 minutes without Neutrase®, formed stable emulsions
with the 2 oils (35% of initial volume of emulsions were equal after 24hours, 2200xg, for 3
minutes, at room temperature).
At the end of the several studies was concluded that protein hydrolysates, and the
application of enzymatic hydrolyses have an elevated potential for crioprotection agents,
to be used in frozen fishes. For future studies the use of several enzymes, with reactor
4
vessels (mechanic agitation), and the optimization of dried techniques to ensure the
income of global protein recovery, and minimize functional modifications are necessary to
better understand the relationship between several production methods and their
respective functions.
Keywords: Fish protein hydrolysates (PPH), Degree of Hydrolysis (GH),
Antioxidant activity, Activity HPP in seafood; Emulsifying properties; Antimicrobial
properties.
5
Índice
Página
Resumo 1
Abstract 3
1. Introdução
1.1. Subprodutos da Indústria do pescado e sua valorização 11
1.2. Área de estudo 12
1.3. Interesse da utilização de Sardina pilchardus
1.3.1. Caracterização geral 13
1.3.2. Importância comercial 14
1.4. Hidrolisados de proteína de pescado – produção e caracterização 15
1.5. Spray Drying – Secagem do hidrolisado 20
1.6. Propriedades antimicrobianas 21
1.7. Capacidade emulsificante de hidrolisados 22
1.8. Capacidade de Formação de espuma 22
2. Objetivos 25
3. Material e Métodos
3.1. Período de amostragem 27
3.2. Preparação dos resíduos de S. pilchardus 27
3.3. Processo de hidrólise 27
3.4. Secagem dos hidrolisados por “Spray Dried” 28
3.5. Avaliação da quantidade de proteína bruta na amostra 29
3.6. Grau de Hidrólise 30
3.7. Capacidade Antioxidante 31
3.8. Aplicação do Hidrolisado em pescado: Salmão e Pescada
3.8.1. Percentagem de perda de água durante armazenamento 32
3.8.2. Avaliação da cor 32
3.8.3. Avaliação da textura 33
3.9. Avaliação da cor dos pós 33
3.10. Determinação do Teor de Humidade nos pós 34
3.11. Avaliação das propriedades de formação e estabilidade de espuma 34
3.12. Avaliação de propriedades emulsificantes e estabilizantes 35
3.13. Propriedades Antimicrobianos
3.13.1. Preparação dos meios de cultura 36
3.13.2. Avaliação da capacidade antimicrobiana 36
6
4. Resultados e Discussão
4.1. Rendimento do processo de hidrólise para líquidos e sólidos 38
4.2. Avaliação de características dos pós
4.2.1. Teor de Humidade dos pós 42
4.2.2. Avaliação da cor 43
4.3. Grau de Hidrólise 44
4.4. Avaliação da capacidade Antioxidante dos hidrolisados 47
4.5. Aplicação do hidrolisado em pescado: Salmão/Pescada
4.5.1. Percentagem de perda de água durante armazenamento 49
4.5.2. Avaliação da cor no pescado 51
4.5.3. Avaliação da textura no pescado 52
4.6. Avaliação das propriedades de formação e estabilidade de espuma 54
4.7. Avaliação das propriedades emulsificantes e estabilidade 55
4.8. Avaliação da capacidade antimicrobiana 59
5. Conclusão 61
6. Perspetivas Futuras 63
7. Bibliografia 65
8. Anexos 69
7
Lista de figuras
Páginas
Figura 1.1 - Localização espacial da Península de Peniche (A) e da Fábrica de pescado (B) (Google Earth Maps,2008) 12 Figura 1.2 - Distribuição geográfica de Sardina pilchardus (A) e visualização de um exemplar da espécie (B) (Froese, R. and D. Pauly , 2010). 14 Figura 1.3 – Reação OPA. OPA reage com o primeiro grupo de aminoácido e o grupo do composto SH (ditiotreitol, DTT) que absorve radiação a 340nm (Nielsen e colaboradores 2001). 18 Figura 4.1 - Esquema representativo da recuperação de proteína, desde os resíduos de sardinha até ao hidrolisado em pó, associados ao processo de hidrólise. (Utilizou-se como base uma massa inicial de proteína de 100g e os valores médios dos rendimentos dos ensaios realizados). 38 Figura 4.2 – Exemplo de biorreactor que poderia ter sido utilizado (Lian e colaboradores 2005). 40
Figura 4.3 – Gráfico representativo do rendimento do hidrolisado líquido obtido em relação à enzima em função do tempo. Para realizar este estudo quantificou-se a quantidade de proteína presente na amostra através do Método de Kjeldahl. Cada valor é expresso como a média ± erro padrão [Erro Padrão = Desvio padrão / RaizQ (número de réplicas)] (n=2). 41 Figura 4.4 - Gráfico representativo do rendimento do hidrolisado sólido obtido, após Spray Drying em relação à concentração de enzima em função do tempo. Para realizar este estudo quantificou-se a quantidade de proteína presente na amostra através do Método de Kjeldahl. Cada valor é expresso como a média ± erro padrão (n=2). 42 Figura 4.5 – Gráfico representativo do Grau de hidrólise, dos hidrolisados de subprodutos de sardinha, nos líquidos, com o Método do reagente OPA. Cada valor é expresso como a média ± erro padrão (n=4). 46 Figura 4.6 - Capacidade antioxidante através da redução do radical DPPH dos hidrolisados líquidos e respetivos hidrolisados sólidos. [300], [100], [30], [10], [3] e [1] representam as concentrações de BHT usadas como base de comparação. Cada valor é expresso como a média ± erro padrão (n=3). 48 Figura 3.7 – Percentagem de perda de água nas amostras verificado nas amostras de salmão sujeita a congelamento durante três períodos de tempo (uma, duas e três semanas). Cada valor é expresso como a média ± erro padrão (n=2) 49 Figura 4.8 - Percentagem de perda de água nas amostras verificado nas amostras de pescada sujeita a congelamento durante três períodos de tempo (uma, duas e três semanas). Cada valor é expresso como a média ± erro padrão (n=2). 50
8
Figura 4.9 - Capacidade da emulsão do azeite com solução de amostras, maltodextrina e respetivo controlo de caseinato (n=2 com erro padrão associado). 56 Figura 4.10 - Capacidade da emulsão do óleo com solução de amostras, maltodextrina e respetivo controlo (n=2 com erro padrão associado). 57 Figura 4.11 – Estabilidade de emulsão do azeite com solução de amostras, maltodextrina e respetivo controlo (n=2 com erro padrão associado). 57 Figura 4.12 – Estabilidade de emulsão do óleo com solução de amostras, maltodextrina e respetivo controlo (n=2 com erro padrão associado). 58
Figura 8.1.
Figura 8.2.
9
Lista de tabelas
Tabela I.I. – Valores constantes de α, β e htot para proteína de diferentes fontes. 19 Tabela IV.I - Teor de humidade nos pós dos hidrolisados (sólidos) de resíduos de sardinha e da maltodextrina adicionada aos hidrolisados líquidos (n=1). 43 Tabela IV.II - Dados obtidos dos hidrolisados em pó através do colorímetro com os respetivos valores de a* (redness), b* (yellownwss), L* (lightness), Hue angle e Chroma. Cada valor é expresso como a média de quatro leituras que o aparelho fornece automaticamente. 44 Tabela IV.III - Valores do vetor de deslocação da cor na aplicação dos hidrolisados no pescado estudado: Salmão e Pescada, nas condições de fresco e congelado. Cada amostra continha quatro réplicas com erro padrão associado. 52 Tabela IV.IV - Valores da textura na aplicação dos hidrolisados no pescado estudado: Salmão e Pescada, nas condições de fresco e congelado (n=4, média +/- erro padrão)54.
11
1. INTRODUÇÃO
1.1. Subprodutos da indústria do pescado e sua valorização
Os subprodutos da indústria do pescado correspondem a aproximadamente 75%
do total de pescado capturado, sendo que estes podem originar péptidos de elevado
interesse (Slizyté, R., 2009 e, Ravallec-Plé.,2001). Do total de captura mundial de
pescado, cerca de 72% são utilizados como pescado fresco, congelado, enlatado e
salgado, os 28% restantes seguem para o preparo de ração animal. A produção de
farinha e óleo de pescado têm sido uma alternativa para o aproveitamento dos
subprodutos de pescado que não são utilizados diretamente para o consumo humano
(Padilha e colaboradores, 2007).
A indústria do pescado de sardinha (Sardina pilchardus) representa mais de 10%
do total mundial de pescado capturado (Food and Agriculture Organization - FAO) e, por
isto, um recurso sustentável e de interesse à economia de suplementos alimentares e em
alimentos para animais. No caso da indústria da sardinha, cerca de 40%, dos
subprodutos são constituídos pela cabeça, vísceras, cauda e algum músculo. Tendo em
conta que até aproximadamente 2005, foram capturados e processados 50000t de
sardinha, a quantidade de subprodutos gerados é na ordem 20000t [Ravallec-Plé.,2001].
Segundo Batista, I. 2009, dados de FAO confirmam que nos últimos anos, o
crescimento de subprodutos de pescado tem sido de, aproximadamente 8%. O pescado
fresco é um dos produtos alimentares mais suscetíveis ao processo de deterioração
devido ao pH, à elevada atividade de água nos tecidos e ao teor de nutrientes que
facilmente são utilizados por microrganismos (podem encontrar-se em todas as
superfícies externas e nos intestinos dos peixes vivos, ou recém-capturados),
principalmente as proteínas, ao teor de lípidos insaturados, à rápida ação destrutiva de
enzimas naturalmente presentes nos tecidos e à alta atividade metabólica microbiana.
Após a morte, o sistema imunitário do pescado deixa de funcionar, pelo que as bactérias
podem proliferar na superfície do peixe, principalmente na base das escamas.
Com um aumento drástico da população mundial e uma captura de
peixes mundial atualmente à beira de ultrapassar o limite sustentável, estimado em 100
12
milhões de toneladas por ano, existe uma necessidade crescente de utilizar os recursos
marinhos de forma racional (Kristinsson & Rasco, 2000b).
A valorização dos subprodutos está dependente do desenvolvimento de
tecnologias economicamente viáveis que permitam a sua transformação em produtos
comercializáveis e de elevado valor acrescentado. O principal destino atual dos
subprodutos da indústria de transformação de pescado é a sua venda a baixo custo para
incorporação em rações animais. Estes subprodutos são ricos em compostos com
elevado potencial económico (óleos de peixe, proteínas, colagénio e enzimas), que
atualmente não são aproveitados pelo sector do pescado (Sliyztyje, R e Mozuraityte, R, et
al, 2009).
A aplicação de tecnologia enzimática para recuperar e modificar a proteína de
peixe pode produzir um amplo espectro de ingredientes ou produtos industriais
alimentares com uma vasta gama de aplicações, contribuindo para um melhor
aproveitamento de subprodutos de proteína (Kristinsson & Rasco, 2000a).
1.2 . Área de estudo
Portugal é um país que depende em grande parte do sector da pesca. As
comunidades pesqueiras de Portugal dividem-se em dois tipos: primeiro, os que
dependem de atividades relacionadas com a pesca em termos de emprego, estrutura e
desenvolvimento económico, e a segunda, os empregos na pesca (pescadores), embora
este seja de menor relevância. Sendo assim, as comunidades pesqueiras tendem a
encontrar-se em pequenas cidades costeiras como é o caso de Peniche, onde se insere
a pesca e agricultura (sector primário) (Moriz e colaboradores 2008).
Figura 3.1 - Localização espacial da Península de Peniche (A) e da Fábrica de pescado (B) (©Google Earth Maps,2008).
13
Peniche pertence ao distrito de Leiria e tem uma área total de aproximadamente
77,7Km2 e engloba o arquipélago das Berlengas, Reserva Natural, do qual faz parte a
Berlenga grande, Estelas e Farilhões (perfazem uma superfície de 104ha). O concelho de
Peniche é limitado a oeste pelo Oceano Atlântico, a norte e a leste pelo concelho de
Óbidos e a sul pelo concelho da Lourinhã (Moniz e colaboradores, 2008).
A figura 1.1 mostra a fábrica de processamento de pescado – Indústria de
Alimentação IDAL, SA – Conservas Peniche - situada na península de Peniche
(39º21’12,90’’N e 9º23’06,15’’W). Esta empresa produz enlatados, mas também saladas,
produtos estes que são exportados pela Europa, principalmente para França. Os
excedentes que sobram do processamento de pescado são tratados para produção de
farinha de peixe ou exportada para Espanha com o mesmo objetivo. Uma das fábricas
recetoras destes excedentes situa-se em Peniche, denominando-se como Fábrica de
Farinha de Peixe, ou Fábrica do Guano (http://www.google.com/earth/index.html e Moniz
e colaboradores, 2008).
1.3. Interesse da utilização de Sardina pilchardus
1.3.1. Caracterização geral
Sardina pilchardus Walbaum, 1792, de nome comum, sardinha é uma espécie
oceanódroma, presente em água doce, estuarina e marinha, sendo que é habitual ser
encontrada entre os 10 – 100m de profundidade. Esta espécie distribui-se ao longo do
nordeste do Atlântico: Islândia e Mar do Norte, Sul da Baia de Gorée no Senegal, Mar
Negro e Mar de Marmara e é comum no Mediterrâneo na parte oeste do Mar Adriático
(região Subtropical: 68ºN – 14ºN, 32ºW – 43ºE), como é possível visualizar na figura 1.2
(Fish base, 2010).
S. pilchardus pode atingir um comprimento máximo de 27,5 cm e apresentar uma
esperança média de vida máxima de 15 anos.
Como o período de manutenção da qualidade do peixe cru é curto, boa parte da
sardinha capturada é industrializada, sendo mais comum a produção de conservas. A
qualidade da conserva depende não só das condições de processo, mas também da
14
matéria-prima utilizada, no entanto, alguns parâmetros estipulados pela legislação sofrem
influência do processamento (Gomes, Carlos 2002).
Ao chegar à indústria, dependendo de sua capacidade instalada, o pescado pode
ser congelado e armazenado, ou ir diretamente para o processamento. A armazenagem
é realizada com temperatura inferior a –18°C. Para sardinhas o mais usual é a fabricação
de conservas ou enlatamento, onde o pescado é eviscerado, pré-cozido, enlatado e
esterilizado comercialmente (Gomes, Carlos 2002).
1.3.2. Importância comercial
No dia 15 de Janeiro de 2010, no Auditório da Escola Superior de Turismo e
Tecnologia do Mar, foi atribuída à sardinha portuguesa o certificado de qualidade MSC
(Marine Stewardship Council). Este certificado prova que a sardinha portuguesa é a única
da Península Ibérica e a 60ª a nível mundial a adquirir este estatuto, comprovando a
existência de práticas que tendem a minimizar o impacto ambiental e contribuir para a
sustentabilidade das pescas. Pretende-se que estas práticas sejam continuadas e
adaptadas pelos produtores e industriais, permitindo aumentar o valor da nossa sardinha
(Jornal de Peniche, acedido a 01 Fevereiro de 2011 e, Chagas e colaboradores 2010).
Figura 1.4 - Distribuição geográfica de Sardina pilchardus (A) e visualização de um exemplar da espécie (B) (Froese, R. and D. Pauly, 2010).
15
Esta prática é de elevada importância para a economia de Peniche, visto que
permite aumentar o número de ativos envolvidos direta e indiretamente às pescas, assim
como aumentar volume de pescado transacionado na lota da cidade, tornando-o um dos
portos mais importantes a nível nacional (Jornal de Peniche, acedido a 01 Fevereiro de
2011).
A ANPOCERCO (Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca
do Cerco) representa 95% das capturas de sardinha em Portugal, com níveis de captura
superiores a 50000 toneladas, que podem apresentar o eco rótulo azul do MSC,
reconhecido internacionalmente (Jornal de Peniche, acedido a 01 Fevereiro de 2011 e,
Chagas e colaboradores 2010).
1.4. Hidrolisados de proteína de pescado – produção e caraterização
A produção de hidrolisados através do tratamento enzimático apresenta perfis
peptídicos bem definidos que podem ser aplicados em rações humanas e de animais. No
entanto, o processo de hidrólise e as condições de reação diferem consoante a enzima e
o substrato usado, conferindo propriedades e compostos que podem apresentar
características e comportamentos completamente distintos. Os hidrolisados têm sido bem
estudados no que diz respeito à sua produção, bioquímica e funcionalidade. Este método
permite obter, de subprodutos alimentares, péptidos com capacidades bioativas e que
podem ser usados em aplicações farmacêuticas e alimentares (Chalamaiah e
colaboradores 2010).
A hidrólise enzimática resulta na liquefação do tecido do pescado e tem como
objetivo a recuperação de proteínas de espécies subutilizadas ou de resíduos de
processamento que seriam desperdiçados, através do emprego de enzimas proteolíticas
para solubilização da proteína do pescado. Daí resultam duas frações: fração insolúvel
pode ser aplicada em rações animais e a fração solúvel, que contém a proteína
hidrolisada, pode ser aplicada como ingrediente de alimentos elaborados e destinados ao
consumo humano. Este processamento é uma forma de evitar alguma poluição aquando
da eliminação dos subprodutos (Furlan e colaboradores 2002).
Segundo Batista e colaboradores 2009, a hidrólise enzimática é um método
alternativo eficaz para a recuperação dos lípidos e fosfolípidos de subprodutos da
16
indústria do pescado. Estes compostos ficam preferencialmente retidos na fração lipídica
insolúvel do hidrolisado. Segundo este autor, o rendimento da fração lipídica varia
consoante a enzima utilizada na hidrólise, sendo que, o óleo libertado dos subprodutos
forma uma emulsão. A formação desta emulsão sugere que os péptidos produzidos
apresentam regiões hidrofóbicas mais acessíveis para interagirem com os lípidos. A
distribuição de óleo e de emulsão não seguem o mesmo padrão, dependendo da enzima
utilizada, do tempo de exposição da mesma. Foram observadas percentagens mais
elevadas das frações de óleo nos hidrolisados a partir de sardinha cozinhada.
Os hidrolisados proteicos são soluções aquosas de polipéptidos de vários
tamanhos resultantes da clivagem química e enzimática das proteínas presentes no
pescado (Kristinsson e colaboradores 2000b e, Chalamaiah e colaboradores 2010). Os
hidrolisados de proteína de peixe (Fish Protein Hydrolysate – FPH) podem ser obtidos
basicamente por três métodos: hidrólise ácida, alcalina e enzimática. A hidrólise ácida
das proteínas é mais frequente do que a alcalina. A hidrólise ácida envolve uma reação
das proteínas de peixe com ácido clorídrico (HCl) ou, em alguns casos, ácido sulfúrico
(H2SO4). As proteínas são hidrolisadas em aminoácidos a altas temperaturas e
frequentemente a altas pressões. O uso de reagentes alcalinos, principalmente hidróxido
de sódio (NaOH), pode afetar negativamente o valor nutritivo do hidrolisado (Kristinsson e
Rasco, 2000b).
A hidrólise enzimática é um dos métodos que permite aproveitar os subprodutos
de origem animal, permitindo valorizar os mesmos. Os hidrolisados de proteína de peixe
(HPP) apresentam boa solubilidade mesmo que a solução apresente uma elevada carga
iónica ou variação de pH, e normalmente tolera elevadas temperaturas sem que os
hidrolisados precipitem. Estes hidrolisados possuem boas propriedades funcionais e
podem contribuir para a retenção de água em pescado congelado. Slizyté e
colaboradores 2009, e Cheung e colaboradores 2009 observaram que a adição de
hidrolisados proteicos a pescado aumentou a capacidade de retenção de retenção de
água após descongelamento do produto. Estes resultados sugerem o potencial de
aplicação dos hidrolisados de proteína de pescado (HPP) na extensão do tempo de
prateleira de pescado congelado.
A composição dos HPP reflete a matéria-prima que lhe deu origem.
Frequentemente, o HPP apresenta sabor amargo cuja intensidade depende do grau de
17
hidrólise e da especificidade da protease utilizada, ou seja, do tamanho dos péptidos
gerados e da intensidade da quebra das ligações. Também existem estudos recentes
recorrendo ao uso direto de células microbianas na hidrólise de proteínas. Este
procedimento confere características desejáveis ao produto, como uma incorporação
direta no produto em formulações alimentares (Furlan e Oetterer, 2002).
Hidrolisados de proteína de peixe obtidos de diferentes fontes, recorrendo a
diferentes enzimas têm demonstrado funcionalidades dependentes das condições de
hidrólise selecionadas e do tamanho e composição dos polipéptidos presentes. A
hidrólise enzimática possui as vantagens sobre hidrólise química:
A especificidade de ação da enzima que torna possível o controlo das
características do produto final;
A digestão sob condições moderadas, evitando pH e temperaturas extremas que
poderiam comprometer a qualidade nutritiva do hidrolisado;
A taxa de hidrólise controlada através da desativação da enzima por aquecimento;
propriedades funcionais atrativas, como a solubilidade e a dispersibilidade;
Recuperação do valor nutricional da proteína (Furlan e Oetterer, 2002).
A adição de enzimas para hidrolisar proteínas alimentares é um processo de
importância considerável que pode melhorar as propriedades físico-químicas, funcionais
e sensoriais das proteínas, sem prejudicar o seu valor nutritivo (Kristinsson e Rasco,
2000a). A utilização de enzimas de origem bacteriana em vez de enzimas comerciais ou
endógenas oferece muitas vantagens porque permite um bom controlo da hidrólise e,
assim, das propriedades dos produtos resultantes (Kristinsson e Rasco, 2000b).
A clivagem de proteínas tem como objetivo fragmentar a proteínas em pedaços
menores (péptidos). Os fatores determinantes das propriedades do produto da hidrólise
enzimática são o pH, a enzima selecionada, a razão enzima/substrato, a temperatura e o
tempo de reação (Fontes e colaboradores 2007).
Nos hidrolisados de proteína, o parâmetro que permite monitorizar a reação é
designada por grau de hidrólise. Vários métodos têm sido descritos para monitorizar o
grau de hidrólise, como por exemplo, pH stat, osmometry, nitrogénio dissolvido e o ácido
trinitro-benzene-sulfónico (TNBS). O método TNBS é baseado numa reação com o
18
primeiro grupo de aminoácidos com o grupo TNBS. No entanto, existem variados
inconvenientes com este método. Nielsen e colaboradores 2001, verificaram que era
moroso, visto que não se conseguem resultados de forma rápida o suficiente para poder
acompanhar o processo de hidrólise. Este reagente é instável, tóxico e tem que ser
manuseado com cuidado, podendo ser explosivo. Para fornecer o desenvolvimento
básico e um método sustentável, foi selecionada uma reação entre os grupos amino e o-
phthaldialdehyde (OPA) na presença de beta-mercaptoetanol que ao interagirem formam
um composto colorido a 340nm no espetrofotômetro. A reação é representada na figura
1.3.
Este método foi descrito por Church e colaboradores (1983), que sugeriu que para
seguir a proteólise das proteínas de leite na pesquisa em ciências lácteas. Neste método,
o composto ditiotreitol (DTT) foi usado em vez do β-mercaptoetanol. Outra alteração que
Nielsen e colaboradores (2001) fizeram ao método de Church foi a seleção do padrão de
serina, isto porque a reação apresentada pela serina é muito perto da resposta média de
um aminoácido. A tabela I.I representa os valores fixos que são necessários para
determinar o grau de hidrólise.
Figura 2.3 – Reação OPA. OPA reage com o primeiro grupo de aminoácido e o grupo do
composto SH (ditiotreitol, DTT) que absorve radiação a 340nm (Nielsen e colaboradores 2001).
Segundo Centenaro e colaboradores 2009, pode-se avaliar a relação entre o grau
de hidrólise e determinadas capacidades funcionais do hidrolisado, como a solubilidade,
capacidade de emulsão, capacidade retenção de água, antioxidantes, entre outros.
Quando efetuaram testes na solubilidade verificaram que maior grau de hidrólise
representava maior solubilidade e quanto menor for o GH, menor será a solubilidade. O
mesmo acontece com os outros testes que efetuaram. Estas capacidades também foram
observadas por Gbogouri e colaboradores 2004.
19
Tabela I.I. – Valores constantes de α, β e htot para proteína de diferentes fontes.
Proteína Α Β htot
Soja 0,970 0,342 7,800
Glúten* 1,000 0,400 8,300
Caseína 1,039 0,383 8,200
Soro de leite* 1,000 0,400 8,800
Gelatina 0,796 0,457 11,100
Carne* 1,000 0,400 7,600
Peixe* 1,000 0,400 8,600
Nota: * Quando o material ainda não tem valor estabelecido, então α e β são estimados de 1,00 e 0,4 respetivamente (Nielsen e colaboradores 2001).
A enzima selecionada neste estudo foi a Neutrase®, uma endoprotease
bacteriana, sendo que esta é aprovada para aplicações alimentares (food grade) que
pode ser usada na maior parte dos casos em que as proteínas tenham que ser
quebradas, quer moderadamente, quer mais extensivamente para péptidos. As condições
ótimas de funcionamento são a um pH entre 5.5 e 7.5 e a uma temperatura de 45 - 55ºC
(Slizyte, 2005a).
A principal aplicação dos HPP nos alimentos é na aromatização de sopas e
sucedâneos de marisco. Nas rações é empregado como substituto do leite de animais e
como elemento atrativo em rações para peixe e animais (Furlan e Oetterer, 2002). HPP
obtidos a partir de subprodutos de espécies comercialmente representativas tais como
bacalhau (Gadus morhua), cavala (Scomber austriasicus), arenque (Clupea harengus) e
sardinha (Sardina pilchardus) contêm polipéptidos funcionais com um largo espectro de
propriedades que os tornam potenciais ingredientes da indústria alimentar: emulsificantes
(Slizyte e colaboradores 2009b, e Kristisson e colaboradores 2000), estabilizadores de
espumas (Chalamaiah e colaboradores 2010), agentes hipotensores (Batista e
colaboradores 2009), crioprotectores (Slizyte e colaboradores 2005ª, e Jain e
colaboradores 2007), antimicrobianos (Miller e colaboradores 2003) e antioxidantes
(Slizyte e colaboradores 2009b). Alguns estudos mostraram que os HPP podem também
contribuir para aumentar a capacidade de retenção de água em formulações alimentares
(Ravallec-Plé e colaboradores 2001 e, Slizyté e colaboradores 2009).
Alguns estudos indicaram que os péptidos obtidos através de derivados de
proteína de peixe têm propriedades antioxidantes de diferentes sistemas oxidativos
20
(Slizyté e colaboradores 2009), assim como podem apresentar atividade antiproliferativa
em determinadas linhas celulares, como é retratado por Picot e colaboradores 2006, em
relação ao cancro da mama.
1.5. Spray Drying – Secagem do hidrolisado
A aplicação comercial dos HPP como aditivos e/ou ingredientes alimentares
exigirá que o produto final tenha uma elevada estabilidade. A hidrólise enzimática origina
soluções aquosas de polipéptidos, suscetíveis de degradação química e microbiológica.
A desidratação destes líquidos recorrendo à liofilização ou á secagem por atomização
(Azizah e colaboradores 2001, e BUCHI labortechnik AG, 1997-2002) permite, além de
uma redução do volume do produto, reduzir a atividade da água prolongando assim a sua
conservação. Azizah, Abul-Hamid 2002 utilizou a técnica de spray drying na preparação
de hidrolisados em pó de Black Tilapia verificando que a qualidade nutricional destes não
era afetada pela secagem.
Segundo Azizah, Abul-Hamid 2002, os hidrolisados de proteína de peixe são
manuseados, usualmente, de forma líquida. No entanto, existem métodos, como o Spray
Drying (secagem por atomização), que permitem converter os líquidos num produto
sólido, aumentando o tempo de prateleira, a durabilidade do mesmo e aumenta a
estabilidade das propriedades do produto, e permite reduzir, significativamente, o volume
dos hidrolisados. Esta técnica é utilizada na produção de leite em pó, detergentes,
corantes, entre outros. Tem como princípio a evaporação da humidade do alimento
atomizado, misturando o spray e o meio de secagem (este meio é tipicamente ar).
Quando o teor de humidade é alcançado, as partículas são pulverizadas e o produto é
então separado do ar. A mistura a ser pulverizada pode ser um solvente, emulsão,
suspensão ou dispersão (BUCHI labortechnik AG, 1997-2002).
O processo de spray drying pode dividir-se em quatro passos: a dispersão é
produzida através de um bico de pressão (por vácuo, disco rotativo ou bico ultrassónico);
tipos diferentes de energia podem ser usados para dispersar o corpo líquido em
partículas mais finas; a seleção do atomizador (condições do spray dryer: caudal,
temperatura de entrada e saída) depende da natureza e quantidade de alimento e as
características desejadas do produto seco, e por último, as características desejadas do
21
produto seco. Quanto maior a energia para a dispersão, menores são as gotas geradas
(BUCHI labortechnik AG, 1997-2002 e Food Processing Technology 2000)
Food Processing Technology 2000, indica alguns dos aspetos característicos
deste tipo de secagem/desidratação. É uma técnica de sucesso para alimentos fáceis de
secar (como por exemplo, vegetais e leguminosas), funcionam a pressão atmosférica, no
entanto, em alimentos sólidos pode causar danos a nível estrutural pela dissecação, o
odor fica intensificado, pode escurecer o produto desidratado, e normalmente não é o
apropriado para carnes.
1.6. Propriedades antimicrobianas
A procura incessante por novas fontes antimicrobianas tem sido um dos objetivos
da Humanidade para o tratamento de doenças. O uso de plantas medicinais tem
aumentado nos últimos anos, mesmo que esta prática, da Medicina Tradicional seja
milenar (remonta a 2000a.C). No entanto, a constante evolução dos microrganismos tem
sido uma barreira, devido à constante alteração e adaptação das vias metabólicas
destes. Sendo assim, pode-se afirmar que os medicamentos antimicrobianos contra
microrganismos patogénicos é um dos grandes feitos da Medicina Moderna (Gad, 2005 e
Scheper et al.,2005).
A capacidade de adaptação de um determinado microrganismo depende da sua
capacidade de, na presença de um fármaco, criar mutações no seu genoma. Estas
mutações, dadas as características particulares de divisão celular destes seres, podem
passar facilmente de geração para geração e originando novas populações microbianas
resistentes (Hall et al., 2001).
De acordo com Pellefrini e colaboradores 2004, existem péptidos antimicrobianos
distribuídos pela natureza, podendo estar presentes no homem, animais e plantas, e a
sua principal função é conferir alguma imunidade inata aos organismos. Existem péptidos
antimicrobianos que também podem ser gerados através da digestão proteolítica de
proteínas (hidrólise). Estudos recentes têm incidido sobre determinados peptídeos
antimicrobianos gerados a partir de proteínas de alimentos. Estas proteínas podem
fornecer uma larga fonte de péptidos antimicrobianos e ajudar a fortalecer o sistema
imunitário de organismos.
22
1.7. Capacidade emulsificante de hidrolisados
As propriedades emulsificantes e de formação de espuma são caraterísticas que
estão associadas a propriedades de superfície. Isto porque ambos estão relacionados.
Segundo Kristinsson (2000), as propriedades emulsificantes de HPP estão ligados às
suas propriedades de superfície, ou seja, o hidrolisado reduz a tensão interfacial entre os
componentes hidrofóbicos e hidrofílicos nos alimentos. Isto acontece, porque adsorvem a
superfície de óleo recém-formado durante a homogeneização fazendo com que a
membrana que se forma impeça que as gotas arrebentem. Este processo tem três
passos: capacidade de absorver rapidamente a interface, capacidade de reorientar a
interface (em caso de fase crítica de desfazer emulsão) e a capacidade de, uma vez na
interfase, interagir com moléculas vizinhas e formar uma coesão forte, um filme
viscoelástico que pode resistir a calor e/ou forças de movimentos.
A capacidade emulsificante e de estabilização da mesma, dois métodos
geralmente usados para medir a capacidade dos hidrolisados de apresentar estas
caraterísticas. Os hidrolisados produzem emulsões de baixa viscosidade, sendo que a
melhor forma de avaliar esta capacidade é por titulação do óleo, assim como o súbito
aumento da resistência quando o máximo da capacidade é atingido (Kristinsson e
colaboradores 2000).
Segundo Kristinsson e colaboradores 2000, existe uma relação entre as
propriedades emulsificantes de hidrolisados e o grau de hidrólise. Este aspeto foi
confirmado, apresentando uma influência negativa sobre a capacidade de formar e
estabilizar emulsões como o grau de hidrólise aumentou para os hidrolisados de sardinha
e salmão. Li-Chan e colaboradores 1984, também verificaram essa relação com
hidrolisados de carne, ou Slizyté e colaboradores 2009 que através de hidrolisados de
proteína de Gadus morhua estudou, entre outras funcionalidades, a capacidade de
emulsão dos HPP.
1.8. Capacidade de Formação de espuma
A química que se encontra associada às propriedades de formação de espuma
em hidrolisados de proteínas apresenta propriedades comuns com a capacidade
emulsificante. Segundo Kristinsson e colaboradores 2000, poucos estudos têm sido
23
realizados sobre este tema porque acarreta muitas limitações, tais como, pobre
reprodutibilidade em laboratórios e nem sempre se consegue que as condições de estudo
sejam mantidas, entre outras. Uma espuma consiste na dispersão de gotículas de ar
(alvéolos) numa fase contínua líquida contendo agentes surfatantes responsáveis pela
redução da tensão superficial na interface gás-líquido.
A capacidade de formação de espuma de um determinado composto pode ser
avaliada através do parâmetro overrun. Overrun é definido como a percentagem de
aumento de volume registado ao agitar uma determinada solução incorporando ar,
relativamente ao volume inicial. A estabilidade da espuma, outro parâmetro importante
em dispersões alimentares está relacionada com o valor do overrun ao longo do tempo
(Philips e colaboradores 1981).
Vários autores sugerem que existe uma relação entre a capacidade de formação
de espumas e o grau de hidrólise do hidrolisado estudado. Relativamente às proteínas do
soro de leite foi observado que um aumento do grau de hidrólise resultou numa maior
capacidade de formação de espuma e, numa redução da estabilidade da espuma. Este
comportamento foi relacionado com o facto de os polipéptidos de menores tamanhos
serem mais flexíveis para a agregação na interface gás-liquido, mas menos eficazes na
sua estabilização (Kristinsson e colaboradores 2000).
O pH do meio de dispersão afeta a estabilidade da espuma, sendo esta
maximizada a valores próximos do ponto isoelétrico das proteínas envolvidas. A
utilização de hidrolisados de proteína na formação de espumas relativamente à utilização
de proteínas, tem como vantagens a sua estabilidade e insensibilidade a mudanças de
pH (Kristinsson e colaboradores 2000).
Com este trabalho laboratorial pretende-se produzir hidrolisados de proteína de
pescado em pó, avaliar o grau de hidrólise e caracterizar algumas das suas propriedades
funcionais.
25
2. OBJETIVOS
Os subprodutos de pescado têm revelado propriedades de interesse relevantes
para a indústria do pescado e conserveira, como escoamento destes resíduos, e na
descoberta de novas fontes com propriedades de conservação de pescado, entre outros.
Sendo assim, os objetivos deste trabalho são a produção, caracterização e aplicação de
hidrolisados enzimáticos obtidos a partir de subprodutos da indústria local conserveira de
sardinha (Sardina pilchardus).
Neste trabalho pretende-se produzir hidrolisados funcionais de proteína de
pescado, utilizando a enzima Neutrase®. Os Hidrolisados de Proteína de Pescado (HPP)
foram produzidos com razões enzima/substrato e com diferentes tempos de hidrólise com
o objetivo de estabelecer quais as condições de produção adequadas a diferentes
propriedades funcionais do produto final.
Os diferentes HPP obtidos foram caraterizados da seguinte forma:
1. Rendimento de recuperação de proteína;
2. Grau de hidrólise;
3. Capacidade antioxidante dos hidrolisados em estado líquido e sólido;
4. Avaliação da capacidade antibacteriana através do método de difusão em disco
contra bactérias gram negativas;
5. Capacidade de emulsificação e estabilização de emulsões;
6. Capacidade de estabilização de espumas;
7. Avaliação do efeito da aplicação dos hidrolisados em salmão e pescada frescos
(salmão e pescada) na retenção de água, textura, cor e teor de humidade durante
o armazenamento refrigerado;
8. Avaliação do efeito crioprotetor dos hidrolisados em pescada e salmão
congelados.
27
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Período de amostragem
No dia 15 de Janeiro de 2011 foram recolhidos 41Kg de resíduos de S.pilchardus,
na fábrica Indústria de Alimentação IDAL, SA, em sacos de amostra pretos e levados de
automóvel até ao laboratório da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar
(ESTM). Esta quantidade de sardinha foi recolhida no tanque de recolha de excedentes,
resultante do processamento da sardinha no interior da fábrica. Procedeu-se à recolha de
toda a amostra para que o pescado fosse proveniente do mesmo lote, assim como,
minimizar a interrupção do trabalho fabril.
Os resíduos foram triturados (Picadora Pikatti 1705FL potência:700W), de forma a
reduzir o tamanho, aumentando a área de superfície da amostra e obter pedaços de
volume mais uniforme. Os subprodutos triturados foram divididos em sacos de 500g
devidamente identificados e armazenados a -20ºC numa câmara frigorífica doméstica
(BEKO No Frost & Electronic).
3.2. Preparação dos resíduos de S.pilchardus
As amostras foram descongeladas a 4ºC, durante a noite, num frigorífico
doméstico (Iberna classe A). Os sacos de amostras foram mantidos em gelo, antes do
processo, para evitar a ativação das enzimas endógenas, até imediatamente antes do
processo de hidrólise.
3.3. Processo de Hidrólise
O processo de hidrólise enzimática foi adaptado de Slizyte e colaboradores
(2009b) e, Kristinsson e Rasco (2000).
As amostras foram suspensas em água destilada na proporção de 1/3 (m/m). A
suspensão, assim obtida, foi homogeneizada com um polytron (Fisatom inopat modelo
712), a 300 rpm, ao mesmo tempo que aquecia até atingir os 70ºC (Velp scientifica,ARE
Heating Magnetic Stirrer), durante 5minutos, para a inativação das enzimas endógenas.
28
A suspensão foi colocada num erlenmayer, num banho de aquecimento agitado a
50ºC. Quando a temperatura atingiu 50ºC, a temperatura ótima de funcionamento da
enzima selecionada, foi adicionada a quantidade desejada de enzima Neutrase® 0,8L
(Novozymes, Bacterial Protease de National Centre of Biotechnology Education – NCBE)
quando a temperatura da solução estabilizou a 50ºC, sendo esta mantida durante 0, 20,
40 e 60 minutos de hidrólise (t0, t20, t40, t60), recorrendo-se ao banho-maria (Julabo
SW22) a uma velocidade constante de 90 rpm. As razões de enzima/substrato (m/m)
utilizado foram 0%, 0,5%, 1%, 1,5% e 3. O pH (Symphony SP 708 VWR™) foi medido
antes e depois da adição da enzima e de dez em dez minutos e devidamente registado.
Para a inativação da enzima adicionada, colocou-se a solução num outro banho-
maria (Pselecta, Precisterm) tendo-se efetuado o tratamento térmico a 75ºC durante 5
minutos. Após a inativação enzimática, procedeu-se à separação das partes sólidas
(espinhas, escamas, pele, músculos e olhos), pela passagem da solução por um crivo de
150 µm. Posteriormente, centrifugou-se (Eppendorf-Centrifuge 5804R) o líquido
resultante da crivagem durante 30 minutos, a 4ºC e a 2600g, seguido de armazenamento
a 4ºC. Após esta fase, foi recolhida e pesada a fase lipídica que se formou à superfície,
assim como do pellet. A fração solúvel obtida foi filtrada (Whatman® 4 Qualitative filter:
20 µm), pesada e congelada a -80ºC (Thermo, Electron corporation, Farma -86ºC ULT
Freezer), até posterior secagem-análise.
3.4. Secagem dos hidrolisados por “Spray Dried”
O procedimento seguido para desidratar as amostras no Spray Dryer foi adaptado
de Hamid e colaboradores (2002).
Para poder submeter as amostras de hidrolisado líquido ao Spray Dryer (SD-Basic
Lab Plant™), estas foram descongeladas à temperatura ambiente. Seguidamente, foi
adicionado 10% do volume (m/v) de amostra em g de maltodextrina (Maltodextrin white
pure) a cada uma. A mistura foi agitada continuamente para prevenir a sedimentação da
maltodextrina e ligeiramente aquecida para que a maltodextrina pudesse gelatinizar e
encapsular os compostos voláteis do hidrolisado. As condições de desidratação no Spray
Dryer foram as seguintes: de caudal de alimentação de hidrolisado de 5,14*10-2 ml.s-1,
temperatura de inlet de 135ºC e temperatura de outlet de 75ºC.
29
O produto resultante foi armazenado, em frascos fechados, num local fresco, seco
e protegido da luz, sendo registado o seu peso para cálculos de rendimento do processo
global de produção de hidrolisado.
3.5. Avaliação da quantidade de proteína bruta na amostra
A concentração de proteína do hidrolisado (líquido e sólido) foi determinada com
base no método de Kjeldahl, segundo a Norma Portuguesa 2030: Determinação do teor
de proteína bruta (1996).
Os principais processos deste método são a digestão ácida, destilação e titulação.
A digestão inicia-se na adição de Acido sulfúrico a 95-97% (H2SO4, Fluka) à
amostra, de seguida os tubos são colocados num digestor de Kjeldahl (Foss, Digestor
2006). Esta fase é constituída por dois passos: primeiro a 200ºC durante 30minutos,
seguida pelo aumento da temperatura para 400ºC durante 90minutos; e por último,
retoma-se à temperatura de 200ºC até retirada dos tubos do digestor. Após esta fase,
procede-se à destilação num destilador automático de Kjeldahl (Foss, Kjeltec™ 2100)
com Hidróxido de sódio a 40% (m/v) (NaOH, Merci, VWR) e por fim a titulação é realizada
manualmente, sendo o titulante Ácido clorídrico a 0,1N (HCl, Panreac, JMGS). Foram
realizados duplicados de cada amostra, para o hidrolisado líquido, hidrolisado sólido,
gordura, pellet e dos subprodutos da sardinha (amostra bruta, antes do tratamento).
A quantidade de proteína em cada amostra é determinada segundo a fórmula:
Em que, a percentagem de azoto (equivalente à percentagem de proteína) é
determinada segundo a fórmula:
30
Onde: Va= volume do titulante usado para a amostra (ml); Vb= volume do titulante
usado para o branco (ml); m= massa da amostra (g)
Rendimento=
3.6. Grau de Hidrólise
O grau de hidrólise foi determinado pelo método de OPA (o-phthaldialdehyde),
adaptado de Lian e colaboradores (2005).
Neste método, os principais passos a realizados foram: a preparação do reagente
de OPA, do padrão de Serina (β-Hydroxyalanine, Sigma, Sigma-Aldrich Química SA), das
amostras seguido e a leitura das mesmas a 340nm no espectrofotómetro (Helios αTM –
Thermo Electron corporation).
A preparação das amostras foi realizada diluindo 1mL de amostra num balão de
50mL.
Nas cuvetes para leitura em espectrofotómetro adicionaram-se 3mL de reagente
OPA e 400µL de amostra/branco ou padrão, agitando suavemente a cuvette. Após este
passo, aguardaram-se 2 minutos, antes da leitura, para que a reação ocorresse. Foram
efetuados duplicados de cada amostra.
O grau de hidrólise é determinado segundo a fórmula:
Em que:
Onde: serina-NH2= meqv serina NH2/ g de proteína; β= 0,40; α=1,00; X= g de
amostra; P= percentagem de proteína na amostra; V=volume de amostra num L
Quantidade de proteína do hidrolisado
Quantidade de proteína dos subprodutos
31
3.7. Capacidade Antioxidante
Este procedimento foi adaptado do autor Slizyte (2009b).
Preparou-se previamente uma solução de 2,2-diphenyl-1-picrylhydrazyl (DPPH,
Aldrich, Sigma-Aldrich Química SA) 0,4mM em etanol absoluto (CH3CH2OH, Panreac),
protegendo a solução da luz. De seguida, prepararam-se amostras de Butylated
dydroxytolueno (BHT, C18H24O, Sigma-Aldrich, Sigma-Aldrich Química SA) com as
concentrações de 1, 3, 10, 30, 100 e 300 mg/mL dissolvidas em Dimethyl sulfoxide
(DMSO Sigma-Aldrich, Sigma-Aldrich Química SA). O BHT serve de controlo positivo,
visto ser um antioxidante sintético.
Num frasco de 2mL juntaram-se 10µL de amostra e 990µL da solução de DPPH,
agitou-se e preservou-se a mistura no escuro durante 30 minutos à temperatura
ambiente. Procedeu-se então à leitura das mesmas a 517nm no espectrofotómetro
(Helios αTM – Thermo Electron corporation). Foram realizados triplicados de cada
amostra para o hidrolisado líquido e hidrolisado sólido.
Para ter uma base de comparação entre a capacidade antioxidante dos
hidrolisados líquidos e em pó, as amostras foram preparadas de forma a ter a mesma
concentração final de proteína (concentração de sólido = concentração de líquido).
Calculou-se a capacidade de redução do DPPH através da seguinte fórmula:
Em que: Abs DPPH – Absorvância da solução DPPH sem amostra; Abs amostra –
Absorvância da amostra em teste (sol. DPPH + amostra); Abs branco – Absorvância do
etanol absoluto.
3.8. Aplicação do Hidrolisado em pescado: Salmão e Pescada
Para a aplicação do hidrolisado em pó em Salmão e Pescada, adquirido na
PROFRESCO - Peniche, adaptou-se o método de Slizyte (2005a).
32
Do músculo do salmão/pescada, cortaram-se cubos (~1x1 cm) que foram
submersos em diferentes soluções de hidrolisado (1g de pó/ 10mL de água destilada) e
apenas embebidos em água destilada (controlo). Os hidrolisados selecionados para este
estudo foram as amostras que demonstraram ter uma maior capacidade antioxidante pelo
método descrito por Slizyte (2009b).
Realizaram-se ensaios positivos (salmão/pescada submerso em água destilada).
Antes de submeter o peixe ao hidrolisado, cada cubo foi pesado para posteriores cálculos
da Capacidade de Retenção de Água. Este procedimento foi realizado para ambos os
peixes, sendo uma parte submetida a congelação (-20ºC) durante 1, 2 e 3 semanas, e
outra a refrigeração (4ºC) com uma duração de 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 dias. Foram realizados
duplicados de cada concentração de hidrolisado.
Para a descongelação do pescado, o mesmo foi colocado sobre uma rede à
temperatura ambiente, durante duas horas.
Para o pescado congelado (em cada semana) e para o fresco (a cada dia), foram
realizados as seguintes análises:
3.8.1. Percentagem de perda de água durante armazenamento
Para a determinação da % de perdas de água, foi adaptado do método de Chien e
colaboradores (2007).
Cada cubo de peixe foi pesado após hidrolisado (Dhaus: Scout Pro) (minicial) e
após armazenamento a 4ºC (pescado fresco) e -20ºC (pescado congelado) (mfinal). A
percentagem de perdas de água foi determinada segundo a seguinte fórmula:
3.8.2. Avaliação da Cor
A determinação da cor foi adaptada de Nollet e Toldrá (2008).
33
O Colorímetro (Chroma meter CR-400) foi calibrado e efetuou-se a leitura à
superfície do cubo de pescado. Foram realizados duplicados de cada amostra.
O objetivo desta técnica é avaliar a cor dos produtos traduzindo essa coloração
em escala numérica. O resultado é expresso em CIELAB, ou seja, sistema mais usado
para avaliar a cor de um alimento, quer seja proveniente de amostras sólidas, pastosas,
pós ou líquidas. Para as nossas amostras o aparelho forneceu-nos medições de L*
(lightness), a* (redness), b* (yellowness), hue angle [tan-1 (b*/a*) e chroma [(a*2+b*2)1/2].
Os valores de L medem a claridade da amostra e varia entre 0 (preto total) e 100 (branco
total); 0º representa +a* com tendência para o vermelho; 270º representa –a* com
tendência para o verde; 90º representa +b* com tendência para o amarelo e 180º
representa –b* com tendência para o azul. Os valores de chroma é uma expressão da
saturação ou intensidade e clareza da cor. Na avaliação do efeito da aplicação dos
hidrolisados em pescado, o vetor de deslocação foi colocado, através da seguinte
equação:
Vetor de deslocação ΔE*ab= [(ΔL*) 2+ (Δa*) 2+ (Δb*) 2] 1/2
ΔL*=L*sample-L*standard (diferença da luminosidade)
Diferença (vermelho/verde) do padrão de Δa*=a*sample -a*standard
Diferença (amarela/azul) do padrão de Δb*=b*sample -b*standard
3.8.3. Avaliação da Textura
A determinação da textura em peixe foi adaptada de Jain (2007). O Texturómetro
(TA.XT.Plus) foi calibrado e efetuou-se o estudo da compressão/penetração aplicando a
sonda (P5/S: 5mm Sph. Stainless) do equipamento sobre o filete de peixe. A distância de
penetração utilizada para análise do salmão foi de 7 mm, por sua vez, para a pescada foi
de 4 mm. Os dados foram recolhidos pelo software Texture Exponente 32: Stable Micro
Systems. Foram realizados quadriplicados de cada amostra.
3.9. Avaliação da Cor dos pós
A determinação da cor foi adaptada de Nollet e Toldrá (2008). O Colorímetro
(Chroma meter CR-400) foi calibrado e efetuou-se a leitura à superfície do pó de cada
34
hidrolisado em pó. Foram realizados quadruplicados de cada amostra. O teste foi
realizado à maltodextrina, utilizada como agente secante na desidratação dos
hidrolisados por Spray Drying.
3.10. Determinação do Teor de Humidade nos pós
Para a determinação do teor de humidade nos pós, utilizou-se um analisador
automático (Mettler Toledo HB43 Halogen), onde se colocou, aproximadamente, 0,500g
de amostra.
3.11. Avaliação das propriedades de formação e estabilização de espuma
Para a elaboração desta atividade, adaptou-se o protocolo de Chalamaiah, 2010.
Preparou-se diferentes concentrações de hidrolisado: 0,3% e 3% em água
destilada e ajustou-se o pH a 6.5 (volume de 35mL). Homogeneizou-se a mistura durante
1 minuto no vórtex (Velp® Scientifica 2X3). De seguida, mediu-se o volume de espuma
formado no falcon de 50mL.
Colocou-se 1 esfera (uniformes de tamanho e massa – 0,074g) e registou-se o a
passagem (p) ou não passagem (n) da mesma pela espuma formada. Para avaliar a
estabilidade da espuma formada, mediu-se o volume de espuma formado ao tempo zero
(t0) e passado 5 minutos (t5).
Realizaram-se os passos anteriores com caseinato de sódio (Acros) (controlo
positivo), de forma a comparar resultados. Como controlo negativo, foi utilizado água
destilada e para verificar a capacidade da maltodextrina presente nos pós, efetuaram-se
as mesmas concentrações que para as amostras.
Para cada amostra e respetivos controlos efetuaram-se duas réplicas por
concentração de hidrolisado. A seguinte fórmula permite-nos avaliar a capacidade de
formação de espuma (FE):
% FE = Volume após agitação – Volume antes agitação
Volume antes agitação
X 100
35
Estabilidade da formação de espuma é medida por (EFE):
% EFE=
3.12. Avaliação de propriedades emulsificantes e estabilizantes
Adaptado de Slizyte (2009b) e Kristisson (2000).
Misturou-se 5mL de azeite virgem (Oliveira da Serra Clássico 0,7% acidez
máxima) /óleo (Vaqueiro) com 5mL de soluções de hidrolisado (previamente preparada
com água destilada a 16%) em falcons de 15mL. A mistura foi sujeita ao vórtex (Velp®
Scientifica 2X3) durante 60 segundos a 40Hertz.
O Caseinato de sódio a 1,6% foi o controlo positivo (emulsionante já utilizado na
indústria alimentar). Como controlo negativo, substituiu-se o hidrolisado por água
destilada. Para verificar a interferência da maltodextrina no processo, foram investigadas
segundo o mesmo protocolo das propriedades de uma solução de 10% maltodextrina.
Capacidade emulsão=
Determinou-se o volume de emulsão, registando-se os diferentes volumes
observados (t0). Após 30 minutos (t1) registou-se o valor. Após 90minutos (t2)
centrifugou-se (Eppendorf-Centrifuge 5804R) as réplicas a 2200xg durante 3minutos.
Após 24h (t3) repetiu-se a medição dos volumes. Calculou-se a diferença de tempos e
esta permite avaliar a estabilidade da emulsão (EE):
% EE =
Cada amostra e controlos foram realizados em duplicados.
Volume final de espuma (mL)
Volume inicial de espuma formada (mL)
Volume total – volume aquoso
Volume total de solução inicial
X 100 Volume emulsão
Volume total de solução inicial
X 100
36
3.13. Propriedades Antimicrobianas
3.13.1. Preparação dos meios de cultura
Utilizaram-se dois meios de cultura distintos: o meio LB líquido (Luria-Bertani
Broth) (Merck, Whitehouse Station, EUA) para o crescimento de Escherichia coli e de
Salmonella typhi e o meio Mueller Hinton (Merck, Whitehouse Station, EUA) para a
realização dos antibiogramas. Os meios LB e Mueller Hinton foram preparados conforme
as instruções fornecidas pelo fornecedor.
3.13.2. Avaliação da capacidade antibacteriana
De forma a avaliar a capacidade antibacteriana dos hidrolisados de proteína de
pescado líquidos (antes do Spray Dried), foram utilizadas duas bactérias modelo Gram-,
nomeadamente Salmonella typhi (ATCC 14028) e Escherichia coli (ATCC 10536 e CECT
434). As bactérias encontravam-se em stock a -80ºC (Thermo, Electron Corporation), a
partir do qual se retiraram 100μL, transferindo-os para 100mL de meio LB e posterior
incubação a 37ºC, 150 rpm (Heidolph Inkubator 1000). Ao fim de 24 horas retirou-se para
tubos de ensaio com meio salino 0,85% cloreto de sódio (NaCl), a quantidade de cultura
necessária para atingir 0,5 na escala de Mcfarland (equivalente a 5x105 unidades
formadoras de colónias (ufc)/mL) (Treyaprasert e colaboradores, 2007), sendo a
comparação feita com os padrões Mcfarland (Biomerieux, Marcy l'Etoile, France).
Para a avaliação da capacidade antibacteriana dos hidrolisados de proteína de
pescado líquido recorreu-se ao método da realização de antibiogramas descrito por
Vandepitte e colaboradores (2003). Para tal realizou-se um espalhamento com o auxílio
de uma zaragatoa estéril numa placa com meio Muller-Hinton. Foram então colocados
10μL de cada amostra de hidrolisado de proteína de pescado em discos estéreis de
6mm, (30-300μg/disco) e outros contendo 10μL de água Milli-Q (controlo negativo) sendo
posteriormente transferidos com o auxílio de uma pinça estéril para a placa previamente
semeada. Como controlo positivo utilizaram-se discos comerciais contendo antibiótico,
nomeadamente a ampicilina (10μg/disco) (Oxoid, Cambridge, Reino Unido). Por fim as
placas foram incubadas a 37ºC durante 24 horas, procedendo-se no dia seguinte à
medição dos halos de inibição correspondentes a cada disco. Todos os ensaios foram
realizados em triplicado.
37
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No processo de hidrólise enzimática, foram testadas as seguintes condições:
concentrações de enzima (0% (g/g), 0,5% (g/g), 1% (g/g), 1,5% (g/g), 3% (g/g)), cada
uma com tempos de hidrólise associados (0, 20, 40 e 60 minutos), tendo sido realizados
triplicados de cada condição testada.
A enzima usada, Neutrase®, catalisou a hidrólise das proteínas existentes na
amostra. A utilização de enzimas proteolíticas no pescado permite alterar as
propriedades físico-químicas, funcionais e sensoriais das proteínas presentes no
pescado, sem prejudicar o seu valor nutricional (Furlan e Oetterer, 2002).
Não existem dados que permitam determinar com clareza qual o tipo de pescado
que apresenta um processo de hidrólise ideal. A escolha da matéria-prima usada
depende da disponibilidade do fabricante, das especificações exigidas pelo cliente e,
fundamentalmente, da disponibilidade do recurso no meio ambiente. De acordo com
Furlan e Oetterer, 2002, a matéria-prima mais usada atualmente são as sobras do
processamento de pescado magro, pois permite evitar o desenvolvimento de aromas
intensos e desagradáveis existentes dos processados de pescado gordo. Este facto foi
sentido nos nossos hidrolisados líquidos, visto que a sardinha é um peixe gordo. Uma
proteólise prolongada pode resultar na formação de péptidos extremamente solúveis,
sem funcionalidades desejáveis e promover um gosto amargo no hidrolisado (Furlan e
Oetterer, 2002 e, Bhaskar e coladoradores 2008).
Para a realização do processo de hidrólise e obtenção dos hidrolisados de
proteína de resíduos de sardinha, o tempo de hidrólise não foi superior a 60minutos.
Segundo Furlan e Oetterer, 2002, hidrolisados de proteína produzidos a partir de peixes
gordos serão preferencialmente produzidos com uma digestão inferior a 90minutos à
temperatura de 55ºC, temperatura de atuação da enzima que usamos. Com este tipo de
pescado, o passo de centrifugação contínuo a frio origina três fases: óleo, sólidos
insolúveis e hidrolisado (parte líquida).
Um aumento no tempo de hidrólise ou na relação enzima/substrato resulta numa
diminuição do comprimento médio da cadeia peptídica na fração solúvel (proteína
hidrolisada) pela quebra das ligações peptídicas, afetando as propriedades físico-
38
químicas dos hidrolisados resultantes levando à diminuição do pH (Kristinsson e Rasco,
2000a).
4.1. Rendimento do processo de hidrólise para líquidos e sólidos
O esquema seguinte (figura 1) representa a distribuição da proteína presente na
matéria-prima inicial de resíduos de sardinha até à formação dos hidrolisados de proteína
de pescado em pós, permitindo armazenar o produto e manter as suas propriedades
organoléticas.
Como é possível observar na figura 4.1, grande parte da proteína permaneceu no
pellet formado no passo de centrifugação ou na crivagem do processo de hidrólise.
De acordo com A. Abdul-Hamid e colaboradores 2002, a quantidade de proteína
existente na amostra reduz, significativamente, com o aumento da temperatura de
Figura 4.1 - Esquema representativo da recuperação de proteína, desde os resíduos de sardinha até ao hidrolisado em pó, associados ao processo de hidrólise. (Utilizou-se como base uma massa inicial de proteína de 100g e os valores médios dos rendimentos dos ensaios realizados).
39
funcionamento do Spray Dryer, podendo atingir rendimentos que variam entre 23,9% e
59,8% para 150ºC e 180ºC, respetivamente. A temperatura de inlet selecionada para a
secagem dos hidrolisados no presente estudo foram os 135ºC, tendo por base a
minimização da adesão de produto às paredes do equipamento e a condensação da fase
gasosa na câmara de secagem. A utilização de temperaturas mais baixas, uma vez que a
humidade do ar de secagem não era possível de controlar e dadas as condições
atmosféricas a que foi realizada a secagem, conduzia à condensação do produto na
câmara de secagem. Abdul-Hamid e colaboradores 2002 declaram que não se
verificaram alterações significativas nas cinzas dos hidrolisados, no entanto, a quantidade
de hidratos de carbono aumentou, possivelmente, devido à maltodextrina. A adição de
maltodextrina tem como função uma melhoria do produto final e um aumento do
rendimento da secagem. A maltodextrina microencapsula o hidrolisado, ou seja, o
produto líquido é embebido numa matriz sólida, permitindo “aprisionar” os compostos
voláteis e não voláteis do hidrolisado líquido, fazendo com que as propriedades e
características existentes neste, sofram a menor alteração possível (Buchi Labortechnik
AG e, Abdul-Hamid e colaboradores 2002).
Uma possível solução, para ultrapassar as limitações verificadas no processo de
desidratação das amostras de hidrolisados de resíduos de sardinha, seria utilizar um
liofilizador. Quando se compara com a secagem tradicional efetuada pelo Spray dried, a
liofilização não conduz a alterações no produto. No entanto, o uso do liofilizador, para um
futuro scale up do processo, poderia ser economicamente inviável devido aos custos
energéticos aumentados, volumes tratados. Por sua vez, também existem vantagens
associadas ao uso do liofilizador, como por exemplo, a coloração do produto mantém-se,
assim como o odor e sabor mantêm-se inalterado (Food Processing Technology 2000).
Através análise das figuras 4.3 e 4.4 verifica-se que o rendimento, em relação à
proteína total, do hidrolisado líquido é superior ao do sólido. Esta diminuição ocorreu
porque houve adesão de matéria aos constituintes do aparelho, desde a câmara de
secagem até ao tubo de exaustão.
Como se pode observar na figura 4.3, foi obtida uma recuperação média de
proteína no hidrolisado líquido de 21,8%. Tendo em conta o objetivo da recuperação das
qualidades nutritivas e funcionais da proteína presente nos subprodutos seria desejável
aumentar este rendimento. A utilização de um biorreactor mecanicamente agitado teria
40
permitindo uma mistura mais eficaz, promovendo o contacto entre o substrato
(subprodutos de sardinha) e a enzima, o que poderia ter influenciado o rendimento do
processo. Para além de controlar melhor as condições de hidrólise, a utilização de um
biorreactor na escala de 4-5 litros teria também permitido a recolha contínua das
amostras com volume suficiente para submeter ao processo de secagem (de acordo com
Lian e colaboradores 2005).
Figura 4.2 – Exemplo de biorreactor que poderia ter sido utilizado (Lian e colaboradores
2005).
Segundo Batista e colaboradores 2009, a percentagem de nitrogénio dissolvido,
medido e determinado através do método de Kjeldahl, não é influenciada pela maioria
das enzimas quando o tempo de hidrólise não é superior a 1h, como é o caso do nosso
estudo, o que é relevante em relação aos custos energéticos nos princípios de produzir
um produto de valor acrescentado, sem acréscimo de custos.
Segundo o mesmo autor que utilizou, entre outras, enzima Neutrase® utilizada
neste estudo, um grau de hidrólise mais elevado foi observado na sardinha crua quando
comparada com a utilização de subprodutos cozinhados.
Na figura 4.3 estão representados os rendimentos para os hidrolisados líquidos e
é possível visualizar que não existem efeitos significativos do tempo de hidrólise. Isto
pode dever-se à não atuação da enzima na proteína presente na parte triturada dos
resíduos sólidos, mas sim, na proteína solubilizada no meio líquido.
41
Podemos verificar que Batista e colaboradores 2009, realizaram processos de
hidrólise a produtos de sardinha crua e cozinhada, sem efetuarem o passo de inativação
das endógenas antes de iniciar o processo de hidrólise. Os mesmos autores referem
ainda que, a pré-cozedura dos subprodutos pode levar à desnaturação das proteínas,
tornando o ataque enzimático mais difícil. Em relação ao nosso trabalho, os subprodutos
foram pré tratados a 70ºC durante 5minutos para inativação das endógenas. Este passo
pode ter induzido a uma prévia desnaturação das proteínas de pescado, mesmo que
tivesse sido de forma suave. Este fato pode justificar a adição da enzima Neutrase® ao
meio reacional não conduzir a um aumento significativo na recuperação de proteína.
Figura 4.3 – Gráfico representativo do rendimento do hidrolisado líquido obtido em relação à enzima em função do tempo. Para realizar este estudo quantificou-se a quantidade de proteína presente na amostra através do Método de Kjeldahl. Cada valor é expresso como a média ± erro padrão [Erro Padrão = Desvio padrão / RaizQ (número de réplicas)] (n=2).
Por último, é de salientar que de 100g de proteína de subprodutos de sardinha, e
através das condições de hidrólise experimentadas, conseguimos produzir cerca de 9g
de proteína no hidrolisado em pó, sugerindo um rendimento final de aproximadamente
10%.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0 20 40 60
Rendim
ento
(%
)
Tempo (minutos)
Enzima 0% (g/g) Enzima 0,5% (g/g) Enzima 1% (g/g) Enzima 1,5% (g/g) Enzima 3% (g/g)
42
Figura 4.4 - Gráfico representativo do rendimento do hidrolisado sólido obtido, após Spray Drying em relação à concentração de enzima em função do tempo. Para realizar este estudo quantificou-se a quantidade de proteína presente na amostra através do Método de Kjeldahl. Cada valor é expresso como a média ± erro padrão (n=2).
A figura 4.4 demostra o rendimento de recuperação proteína após Spray Drying,
onde é visível um decréscimo de aproximadamente 50% na generalidade das amostras.
Este fato deve-se à adesão de material às paredes do equipamento de secagem e
perdas no tubo de exaustão. Uma melhor otimização das condições de secagem seria
necessária para melhorar o rendimento global da produção de hidrolisados em pó.
Shahidi e colaboradores 1995, na hidrólise de subprodutos de Mallotus villosus
com a utilização da Alcalase® obtiveram a recuperações de proteína na ordem dos 60%
nos primeiros 60minutos. A extensão da reação aos 120min, resulta na recuperação de
70% (apenas mais 10% relativamente ao tempo 60minutos). Este fato indica que numa
determinada fase do processo de hidrólise é atingido um valor máximo de recuperação
de proteína, a partir do qual, e mesmo estendendo o tempo de reação, este não se altera
significativamente.
4.2. Avaliação de características dos pós
A avaliação das características físicas dos pós permite-nos verificar a coloração
dos pós, assim como a percentagem de humidade dos mesmos depois de serem sujeitos
à secagem pelo Spray Dryer. O teor de humidade será um parâmetro indicador da
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0 20 40 60
Rendim
ento
(%
)
Tempo (minutos)
Enzima 0% (g/g) Enzima 0,5% (g/g) Enzima 1% (g/g) Enzima 1,5% (g/g) Enzima 3% (g/g)
43
eficácia do processo de secagem na manutenção da qualidade do produto final. A
avaliação da cor permite avaliar de forma adequada a utilização dos hidrolisados sólidos
como aditivos alimentares, pretendendo-se uma aparência neutra que não interfira no
apelo visual dos produtos, aos quais este composto vai ser adicionado.
4.2.1. Teor de Humidade dos pós
Obtiveram-se hidrolisados sólidos com um teor de humidade baixo (valor médio
de 4,4%) o que permite o seu armazenamento e um maior tempo de prateleira do
produto. De acordo com Contreras e colaboradores 2011, uma percentagem de
humidade baixo confere ao produto um maior tempo de prateleira e diminui a
possibilidade de perdas e deterioração nutricional (Food Processing Technology 2000).
Estes autores também informam da intensificação do odor, sabor e coloração de produtos
alimentares sujeitos a spray drying.
Tabela IV.I - Teor de humidade nos pós dos hidrolisados (sólidos) de resíduos de sardinha e da
maltodextrina adicionada aos hidrolisados líquidos (n=1).
Amostras %Humidade Amostras %Humidade
0%, t0 5,17 1%, t40 4,55
0%, t20 4,37 1%, t60 3,35
0%, t40 4,17 1,5%, t0 4,18
0%, t60 3,56 1,5%, t20 6,24
0,5%, t0 4,57 1,5%, t40 4,11
0,5%, t20 4,13 1,5%, t60 4,58
0,5%, t40 3,98 3%, t0 4,32
0,5%, t60 3,58 3%, t20, 6,69
1%, t0 5,05 3%, t40 7,8
1%, t20 4,5 3%, t60 7,75
Maltodextrina 6,04
4.2.2. Avaliação da cor
Na avaliação dos dados fornecidos pelo colorímetro sobre os pós obtidos pelos
hidrolisados líquidos, podemos comprovar, através dos valores de L*, que as amostras
apresentam aproximação do branco total (100 corresponde ao branco total na claridade
da amostra). Os valores observados de a* e b*, representados na tabela II, mostram-nos
que os pós dos hidrolisados tendem, de cor, para o verde e amarelo, respetivamente. Os
valores de b* confirmam o que é visível a olho nu, quando reidratamos as amostras é
observada uma tonalidade ligeiramente amarela.
44
A coloração tem que ser o mais neutra possível, para que a aceitação por parte do
consumidor seja positiva. Nos pós obtidos, a coloração é pouco acentuada, podendo
mesmo ser confundida um bege, logo não seria impeditivo para a sua utilização na
indústria alimentar.
Tabela IV.III. - Dados obtidos dos hidrolisados em pó através do colorímetro com os respetivos valores de a* (redness), b* (yellownwss), L* (lightness), Hue angle e Chroma. Cada valor é expresso como a média de quatro leituras que o aparelho fornece automaticamente.
a* b* L* Hue angle chroma
0%, t0 -0,29 7,54 95,85 -1,53 58,51
0%, t20 -0,23 9,46 91,05 -1,55 91,24
0%, t40 -0,58 7,24 94,10 -1,49 54,40
0%, t60 -0,44 8,68 94,77 -1,52 77,14
0,5%, t0 -0,63 7,95 95,70 -1,49 65,28
0,5%, t40 -0,83 8,44 93,49 -1,47 73,48
0,5%, t60 -1,39 11,00 87,31 -1,44 124,62
1%, t0 -0,83 8,22 96,70 -1,47 69,86
1%, t20 -0,81 9,38 96,32 -1,48 90,20
1%, t40 -0,72 9,62 95,98 -1,49 94,61
1%, t60 -0,77 8,32 96,77 -1,47 71,51
1,5%, t0 -0,68 8,93 96,35 -1,49 81,85
1,5%, t20 -0,64 8,24 96,16 -1,49 69,96
1,5%, t40 -0,93 8,33 96,67 -1,45 71,82
1,5%, t60 -0,68 7,95 97,08 -1,48 65,32
3%, t0 -0,66 7,24 96,95 -1,47 54,54
3%, t20 -0,88 7,15 97,63 -1,44 53,54
3%, t40 -0,61 7,74 96,78 -1,49 61,96
3%, t60 -0,67 8,53 96,64 -1,49 74,86
Maltodextrina -0,58 1,41 99,40 -1,17 3,97
4.3. Grau de hidrólise
A determinação do Grau Hidrólise (GH) através do reagente OPA foi considerada
por Nielsen e colaboradores 2001, como o método menos moroso já que bastam
2minutos para se determinar o GH na produção de hidrolisados. Também é considerado
mais ecológico que métodos com o mesmo objetivo e o reagente é mais estável que o
reagente TNBS. Pode ser utilizado para determinação do GH em produtos alimentares e
de rações para animais.
45
Os valores do grau de hidrólise obtidos nas diferentes condições testadas estão
representados na figura 4.5. Como é possível visualizar na figura, as amostras com 0%
de enzima já apresenta um grau de hidrólise superior a 7,5% indicando que ocorreu
autólise no processamento e transporte de pescado. Isto acontece porque desde a
captura até ao congelamento dos subprodutos de sardinha houve um espaço temporal de
aproximadamente 24h. Neste espaço de tempo, as enzimas endógenas de
decomposição presentes no pescado (tanto pele como vísceras) começaram a atuar
sobre as proteínas do pescado. Shahidi e colaboradores, 1995,investigaram a hidrolise
de Mallotus villosus, comparando os processos de autólise, hidrólise com Neutrase® e
hidrolise com Alcalase®. Estes autores também observaram a autólise dos subprodutos
utilizados como matéria-prima para a hidrólise, tendo sido registado um aumento de 45%
no grau de hidrólise com a utilização de Neutrase® e de 70,6% com a adição de
Alcalase®. Na hidrólise dos subprodutos de sardinha, no presente estudo, a adição de
Neutrase®, independentemente da concentração resultou num aumento do grau de
hidrólise entre 10-20% relativamente aos ensaios sem adição de enzima.
Segundo Ravallec-Plé e colaboradores 2001, o fator mais importante na produção
de hidrolisados de proteína de pescado, para produzir polipeptídeos com as
características funcionais desejadas, não é uma extensão do tempo de hidrólise, mas sim
a utilização da enzima adequada. Uma razão ótima entre a [E]/[S] (E representa Enzima,
e S o Substrato) será o parâmetro decisivo para obtenção de produtos de elevado
interesse.
Quando observamos o grau de hidrólise da figura 4.5, verificamos que o este é
superior em todos os ensaios em que foi adicionada enzima, indicando-nos que existiu
atuação por parte da enzima e que houve quebra da proteína que se encontrava
solubilizada no meio. Por outro lado, a quantidade de proteína retirada do crivo e pellet
indica-nos que em grande parte da proteína inicial não ocorreu clivagem proteica com a
consequente liquefação dos subprodutos. Este baixo rendimento de recuperação proteica
poderá também estar relacionado com o grau de mistura do vaso reacional, com a escala
de tempos selecionados e, com o pré tratamento efetuado aos subprodutos que ao
induzir desnaturação poderá ter aumentado a energia de ativação necessária à ação da
Neutrase®.
46
A amostra produzida nas condições de 0% de Neutrase® adicionada e 60 minutos
de hidrólise apresenta um grau de hidrólise comparável às amostras produzidas na
presença de Neutrase®. Este resultado é contraditório com o passo de inativação das
enzimas endógenas efetuado previamente, podendo ser atribuído a uma inativação
incorreta das enzimas endógenas, fazendo com que estas clivassem ou hidrolisassem
mais proteínas. A utilização de uma temperatura de inativação superior à usada e durante
um período de tempo superior forneceria uma margem de segurança acrescida no passo
de inativação. No entanto, as condições de inativação selecionadas foram mais
agressivas que as reportadas por Shahidi e colaboradores 1995, visto que estes autores
não procederam à inativação das enzimas endógenas dos subprodutos e após o
processo de hidrólise com a Neutrase® inativaram a enzima baixando o pH (3,0) e
aquecendo a 70ºC durante 10minutos.
Figura 4.5 – Gráfico representativo do Grau de hidrólise, dos hidrolisados de subprodutos de sardinha, nos líquidos, com o Método do reagente OPA. Cada valor é expresso como a média ± erro padrão (n=4).
Kristinson e colaboradores 2000 recomendam o arrefecimento rápido após a
inativação da enzima através da introdução do hidrolisado num banho com gelo. Esta
etapa de arrefecimento permite um armazenamento mais rápido do hidrolisado,
minimizando risco de contaminação microbiológica e degradação química do produto,
0
5
10
15
20
25
30
35
0%
, t0
0%
, t2
0
0%
, t4
0
0%
, t6
0
0,5
%, t0
0,5
%, t2
0
0,5
%, t4
0
0,5
%, t6
0
1%
, t0
1%
, t2
0
1%
, t4
0
1%
, t6
0
1,5
%, t0
1,5
%, t2
0
1,5
%, t4
0
1,5
%, t6
0
3%
, t0
3%
, t2
0
3%
, t4
0
3%
, t6
0
Gra
u d
e H
idró
lise
Amostras
47
que poderão interferir na propriedades funcionais do produto e comprometer a segurança
da sua utilização como ingrediente/aditivo alimentar.
Relativamente às amostras produzidas com a adição de enzima Neutrase® para
as condições de hidrolise selecionadas, não foi verificado um efeito significativo do tempo
de hidrolise nem da concentração de enzima no grau de hidrólise (p>0,05), tendo sido
obtido um grau de hidrolise médio de 22+/-6%.
Ravallec-Plé e colaboradores 2001 verificaram que com 5% de Alcalase®, com
apenas 30minutos de atuação de enzima, o grau de hidrólise máximo foi atingido.
Segundo Batista e colaboradores 2009, verificaram que na hidrólise de subprodutos de
sardinha, com diferentes enzimas (Alcalase®, Neutrase® e Protomex®) foi obtido um
grau de hidrólise duas vezes superior com Alcalase® relativamente à utilização da
Neutrase®. Com este fato, e extrapolando para o nosso trabalho experimental, se se
utilizar este tipo de enzima (Alcalase®), pode ser que a hidrólise apresente valores de
clivagem de proteínas em maior quantidade. Pode ser uma possível solução para
aproveitar ao máximo os subprodutos de sardinha.
4.4 Avaliação da capacidade Antioxidante dos hidrolisados
Em termos alimentares, os antioxidantes são compostos que estão aptos para
retardar ou prevenir o processo de auto oxidação. Antioxidantes sintéticos, como o BHT
(Butylated hydroxutoluene) são usados na preservação dos alimentos para retardar a
oxidação lipídica, no entanto, já foi provado que a sua utilização na alimentação humana
está associada a diversas patologias relacionadas com alteração de lípidos e enzimas, ou
em casos mais graves, efeitos carcinogénicos (Rocha e colaboradores, 2007; Matsukawa
e colaboradores, 1997; Bernardini e colaboradores, 2011).
Esta experiência servirá como termo de comparação entre os valores das
amostras líquidas e sólidas dos hidrolisados de proteína de sardinha. Com esta
observação pode-se verificar se houve alguma influência do método de secagem.
A capacidade antioxidante foi determinada nos hidrolisados líquidos e sólidos
através da redução do radical DPPH. O DPPH é um radical livre relativamente estável,
podendo ser reduzido por moléculas antioxidantes. Este ensaio baseia-se na capacidade
48
de moléculas antioxidantes funcionarem como dadores de hidrogénios ou redutores de
radicais livres.
Podemos verificar nos hidrolisados líquidos maior capacidade redutora na maioria
das concentrações de enzima aos diferentes tempos de hidrólise comparando com os
hidrolisados sólidos na figura 3.6. Este facto pode ser justificado pela utilização do Spray
Drying, visto que a capacidade antioxidante é afetada pela temperatura, podendo
interferir com os aminoácidos ou péptidos que funcionam como doadores de eletrões e
podem reagir com radicais livres para formar produtos mais estáveis (Thiansilakul et al,
2006). Esta constatação foi a base para a análise da capacidade antioxidante dos
hidrolisados de proteína de sardinha, líquidos e sólidos.
Figura 4.6 - Capacidade antioxidante através da redução do radical DPPH dos hidrolisados líquidos e respetivos hidrolisados sólidos. [300], [100], [30], [10], [3] e [1] representam as concentrações de BHT usadas como base de comparação. Cada valor é expresso como a média ± erro padrão (n=3).
A oxidação lipídica é um fator importante ligado à deterioração de alimentos com
elevados níveis de gorduras insaturadas. O peixe, em particular, contém elevados níveis
de lípidos celulares insaturados que rapidamente se deterioram por peroxidação,
desenvolvendo sabores e odores desagradáveis (German e Kinsella, 1985).
No hidrolisado líquido, foram observadas condições experimentais que permitiram
obter hidrolisados com uma maior capacidade antioxidante, apresentando diferenças
significativas (p<0,05). A que apresentou maior valor foi a enzima a 1,5% e 3% ao tempo
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0%
t0
0%
t20
0%
t40
0%
t60
0,5
% t0
0,5
% t20
0,5
% 4
0
0,5
% t60
1%
t0
1%
t20
1%
t40
1%
t60
1,5
% t0
1,5
% t20
1,5
% t40
1,5
% t60
3%
t0
3%
t20
3%
t40
3%
t60
[300]
[100]
[30]
[10]
[3]
[1]
%R
edução r
adic
al D
PP
H
Amostras e [BHT]
Líquidos Sólidos
49
de hidrólise de 20 minutos. Pode-se apurar que neste tempo de hidrólise o hidrolisado
líquido apresenta maior capacidade antioxidante para todas as concentrações de enzima.
Tendo em conta que a maior parte dos valores da capacidade redutor do radical
DPPH ser no tempo 20minutos, foram estes os tempos selecionados, com as respetivas
percentagens de enzima, para os testes da aplicação dos hidrolisados no pescado. Esta
seleção não invalida o interesse da avaliação das restantes amostras, apenas teve como
objetivo a redução dos ensaios experimentais e pescado utilizado.
Segundo Food Processing Technology 2000 existe uma redução do valor
nutricional que pode dever-se às temperaturas elevadas de secagem ter reduzido a
capacidade antioxidante, assim como uma acentuação do odor e coloração.
Podemos verificar nos hidrolisados líquidos maior capacidade redutora na maioria
das concentrações de enzima aos diferentes tempos de hidrólise comparando com os
hidrolisados sólidos na figura 4.6. Este facto pode ser justificado pela utilização do Spray
Dryer visto que a capacidade antioxidante é afetada pela temperatura, podendo interferir
com os aminoácidos ou péptidos que funcionam como doadores de eletrões e podem
reagir com radicais livres para formar produtos mais estáveis (Thiansilakul et al, 2006).
Esta constatação foi a base para a análise da capacidade antioxidante dos hidrolisados
de proteína de sardinha, líquidos e sólidos.
4.5 Aplicação do Hidrolisado em pescado: Salmão/Pescada
O pescado selecionado para a aplicação do FPH foi o salmão e a pescada, uma
vez que se tratam de um peixe gordo (Salmão: 1,2g de gordura insaturada/100g) e de um
peixe magro (Pescada: 0,59g de gordura insaturada/100g), respetivamente (Bandarra et
al, 2004), de modo a estudar o efeito da adição dos hidrolisados na degradação dos dois
tipos de peixe.
4.5.1 Percentagem de perda de água durante armazenamento
As figuras 4.7 e 4.8 apresentam as percentagens de perda de água medida em
amostras de pescada e salmão congelados durante uma, duas e três semanas, em
amostras imersas em soluções de hidrolisados de sardinha e no controlo (imerso em
50
água). A perda de água é indicadora de alterações na microestrutura do pescado
relacionadas com mecanismos de degradação, sendo indesejável na manutenção da
qualidade de pescado congelado.
A adição de hidrolisados proteicos de pescado a pescado congelado conduziu
uma melhor capacidade de retenção de água apos descongelamento em peixe moído
(Slizyté e colaboradores 2005, Slizyté e colaboradores 2009b e, Cheung e colaboradores
2009). Relativamente à aplicação de HPP de sardinha não foram encontradas na
literatura dada sobre o efeito da sua aplicação na conservação do pescado.
Os hidrolisados são compostos por proteínas hidrolisadas, estando este efeito
protetor relacionado com a formação de um filme proteico à superfície do pescado que irá
limitar a transferência de humidade entre o pescado e o meio ambiente (Slizyté e
colaboradores 2009b).
Neste estudo verificou-se que a imersão do pescado em soluções de hidrolisados,
diminuiu a perda de água no caso da pescada. Ao final de três semanas de
armazenamento a -20ºC, o pescado imerso nos hidrolisados produzidos 0,5% e 3% de
Neutrase® apresenta perdas de água significativamente menores que o controlo (p<0,05)
(Figura 4.6). Estes resultados indicam o potencial da utilização dos hidrolisados de
sardinha como agentes crioprotectores neste tipo de produto alimentar.
Figura 3.7 – Percentagem de perda de água nas amostras verificado nas amostras de salmão sujeita a congelamento durante três períodos de tempo (uma, duas e três semanas). Cada valor é expresso como a média ± erro padrão (n=2)
3
51
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1 2 3
Perd
a
de á
gua (
%)
Tempo (semanas)
0% (g/g) 0,5% (g/g) 1% (g/g) 1,5% (g/g) 3% (g/g) Controlo
Relativamente ao salmão não houve um efeito significativo na retenção de água
observado com o tratamento com os hidrolisados testados. Podemos, no entanto,
verificar que na segunda e terceira semanas, a perda de água foi mais reduzida para a
concentração de 1,5%.
Figura 4.8 - Percentagem de perda de água nas amostras verificado nas amostras de pescada sujeita a congelamento durante três períodos de tempo (uma, duas e três semanas). Cada valor é expresso como a média ± erro padrão (n=2).
4.5.2 Avaliação da cor no pescado
O vetor de deslocação de cor de um alimento permite-nos avaliar a cor de um
dado alimento ao longo do tempo. Na tabela III podemos observar o comportamento
colorométrico da pescada e do salmão no final da experiência realizada. Quanto menor
for o resultado do vetor de deslocação da amostra, melhor é o resultado.
Sendo assim, podemos observar no caso do pescado congelado que no pescado
que foi sujeito a congelamento, a imersão em hidrolisados produzidos com as
concentrações de 1% e 1,5% de Neutrase para a pescada e salmão, respetivamente,
minimizaram significativamente a alteração global da cor no pescado (após 3 semanas de
congelamento). Relativamente ao o pescado armazenado no frigorífico durante 7 dias
(pescado fresco) foi a concentração de enzima de 1% no salmão e de 3% na pescada
que apresentou uma menor alteração de cor.
52
Tabela IV.III. - Valores do vetor de deslocação da cor na aplicação dos hidrolisados no pescado estudado: Salmão e Pescada, nas condições de fresco e congelado. Cada amostra continha quatro réplicas com erro padrão associado.
No entanto é de realçar que no teste do pescado fresco, a partir do terceiro (para
o salmão), quarto dia (para a pescada), verificou-se uma alteração do cheiro dos filetes
de pescado. Este fato pode dever-se a dois fatores fundamentais: o pescado escolhido
para este teste, já que o salmão é um peixe gordo muito suscetível a mecanismos de
oxidação lipídica, ou pelo fato dos hidrolisados aplicados nos filetes serem de sardinha,
um peixe gordo, que mesmo com os passos de centrifugação a frio no processo de
hidrólise, alguma da gordura existente estar presente no hidrolisado preparado, causando
o odor e aroma intenso que se sentia no teste (Furlan e Oetterer, 2002).
4.5.3 Avaliação da textura no pescado
A textura é uma das variáveis que mais preocupa os produtores de aquicultura,
assim como de fabricantes de processamento de pescado. Este parâmetro fornece-nos
dados em relação à qualidade do alimento, sempre que estamos a comparar o início com
o final do teste. Este aspeto deve-se à capacidade de perda de textura ou firmeza
aquando a deterioração de um dado alimento (Jain e colaboradores 2007).
No que diz respeito aos valores observados no pescado congelado, não existem
diferenças estatisticamente significativas entre as diferentes semanas (p<0,05).
No que diz respeito ao salmão que foi sujeito a congelamento durante três
semanas apresenta diferenças estatisticamente significativas na terceira semana para a
concentração de 1% enzima. Apresenta maior área de penetração neste espaço de
Vetor Deslocação
Congelado Fresco
Salmão Pescada Salmão Pescada
Controlo 31,60 ± 13,24 65,60 ± 5,17 62,14 ± 10,49 54,08 ± 50,83
0% 37,64 ± 10,96 39,41 ± 15,99 92,04 ± 19,62 76,76 ± 45,10
0,5% 111,36 ± 47,99 19,01 ± 8,85 27,42 ± 9,17 91,23 ± 35,82
1% 40,61 ± 12,09 16,62 ± 6,16 22,39 ±7,95 84,22 ± 35,77
1,5% 21,73 ± 8,32 13,71 ± 23,92 413,08 ± 227,13 37,98 ± 31,23
3% 50,76 ± 13,24 56,32 ± 5,17 43,04 ± 17,00 9,60 ± 4,42
53
tempo verificando-se que é superior ao controlo. Em relação à pescada congelada foi
possível notar diferenças em todas as semanas de estudo da Textura (p<0,05). Todas as
amostras imersas em hidrolisado apresentaram valores de firmeza inferiores ao controlo.
No pescado fresco, as concentrações de enzima que conferem maior firmeza são
a 1,5% e a 0,5% para o salmão e a pescada, respetivamente.
Quanto ao pescado congelado, o salmão apenas apresenta diferenças na semana
3, sendo a concentração de 1% de enzima a que apresenta maior valor de área de curva
de penetração. Relativamente à pescada, até à concentração de enzima de 3%, todos os
valores eram inferiores ao controlo, logo, não surtem qualquer efeito neste caso.
A utilização de pescado moído como descrito por (Slizyté e colaboradores 2005,
Slizyté e colaboradores 2009b e, Cheung e colaboradores 2009) teria conduzido a uma
maior homogeneidade das amostras analisadas. Neste estudo, no entanto pretendeu-se
analisar a qualidade de espécies comercialmente representativas em Portugal e no
formato no qual são usualmente vendidas e consumidas, pelo que se optou por amostras
de pescado cortado intacto em detrimento da homogeneidade.
54
Tabela IV.IV. - Valores da textura na aplicação dos hidrolisados no pescado estudado: Salmão e Pescada, nas condições de fresco e congelado (n=4, média +/- erro padrão).
4.6. Avaliação das propriedades de formação e estabilidade de espuma
Neste teste verificamos que apenas o controlo de caseinato formava espuma e
esta mantinha-se estável durante cerca de 30minutos. Em relação às amostras, de forma
geral, com exceção das de 0% de enzima apresentavam formação de espuma, no
entanto esta desaparecia poucos segundos depois de desligar o aparelho. Sendo assim,
não se verificava estabilidade e consistência na espuma formada.
Segundo Centenaro e colaboradores 2009, uma das propriedades funcionais dos
hidrolisados de pescado é a sua ação como emulsificantes e formadores de espuma,
mas são afetados pela solubilidade do hidrolisado. A hidrólise enzimática permite diminuir
o tamanho molecular de proteínas, aumentando a hidrofobicidade das mesmas, logo
aumenta a solubilidade. A capacidade de estabilização de espumas está relacionada com
o tamanho dos péptidos. Kinsella 1984 indica que as propriedades desejáveis para a
estabilização de uma espuma por proteínas são de peso molecular superior a 20kDa um
mínimo de carga líquida, presença de sítios de ligações hidrofóbicas e, uma conformação
flexível. Para o autor, não somente fatores relacionados com o grau de hidrólise podem
Congelado Fresco
Pescada Salmão Pescada Salmão
1ª semana
2ª semana
3ª semana
1ª semana
2ª semana
3ª semana
1 dia
4 dia
7 dia
1 dia
4 dia
7 dia
0% 0,16 ± 0,01
0,14 ± 0,02
0,12 ± 0,00
0,59 ± 0,02
0,45 ± 0,02
0,34 ± 0,02
0,19 ±
0,01
0,16 ±
0,01
0,14 ±
0,01
0,37 ±
0,06
0,65 ±
0,06
0,60 ±
0,03
0,5% 0,11 ± 0,03
0,13 ± 0,01
0,12 ± 0,01
0,54 ± 0,06
0,51 ± 0,02
0,39 ± 0,03
0,18 ±
0,01
0,15 ±
0,01
0,20 ±
0,00
0,58 ±
0,03
0,69 ±
0,09
0,54 ±
0,08
1% 0,15 ± 0,01
0,11 ± 0,00
0,11 ± 0,02
0,43 ± 0,02
0,43 ± 0,01
0,54 ± 0,06
0,17 ±
0,01
0,18 ±
0,01
0,18 ±
0,01
0,57 ±
0,04
0,56 ±
0,03
0,52 ±
0,03
1,5% 0,12 ± 0,02
0,13 ± 0,01
0,14 ± 0,01
0,35 ± 0,06
0,53 ± 0,01
0,36 ± 0,06
0,17 ±
0,00
0,15 ±
0,01
0,18 ±
0,02
0,79 ±
0,20
0,42 ±
0,02
0,55 ±
0,03
3% 0,13 ± 0,01
0,10 ± 0,01
0,14 ± 0,00
0,40 ± 0,06
0,48 ± 0,02
0,46 ± 0,05
0,15 ±
0,00
0,16 ±
0,01
0,16 ±
0,02
0,45 ±
0,07
0,55 ±
0,05
0,41 ±
0,07
Controlo 0,20 ± 0,01
0,15 ± 0,03
0,19 ± 0,01
0,43 ± 0,07
0,44 ± 0,02
0,39 ± 0,00
0,16 ±
0,00
0,17 ±
0,01
0,17 ±
0,01
0,65 ±
0,02
0,47 ±
0,04
0,38 ±
0,03
55
influir no desempenho das propriedades de formação de espuma dos hidrolisados, mas
também a composição dos hidrolisados.
Centenaro e colaboradores 2009 investigaram as propriedades de formação de
espuma e emulsificação de hidrolisados obtidos através da Alcalase 2,4L®. Foram
obtidas percentagens de emulsão na ordem dos 70%, assim como a estabilidade, após
60minutos, rondava os 50%. Os resultados destes autores demonstraram um
crescimento significativo na formação e estabilidade de espuma dos hidrolisados
formados pela Alcalase® comparativamente com a Papainase®. Afirmam que, para obter
uma boa formação e estabilidade de espuma, a proteína ou polipeptídeo deve ser capaz
de migrar rapidamente da interface ar-água. O aumento da concentração da proteína
provoca uma elevada taxa de difusão.
O controlo utilizado para a avaliação de propriedades emulsão e formação de
espuma com respetivos testes de estabilidade foi o caseinato de sódio, que de acordo
com bibliografias é um composto utilizado na Indústria Alimentar. Sendo considerado um
aditivo alimentar para utilizar em emulsões e formação de espuma (Geirsdottir e
colaboradores 2011, Gbogouri e colaboradores 2004, Kristinsson e colaboradores 2000).
4.7. Avaliação das propriedades emulsificantes e estabilidade
A capacidade de emulsificação é geralmente usada para medir a habilidade dos
hidrolisados de proteína produzirem emulsão com uma fase lipídica adicionada. Um
elevado grau de hidrólise, com a consequente diminuição do tamanho médio dos
polipéptidos, pode resultar num decréscimo das propriedades emulsificantes que podem
existir. As condições ideais para a emulsão e estabilização são péptidos de elevado
tamanho molecular e em concentrações elevadas no meio, respetivamente. (Chalamaiah
e colaboradores 2010).
Os valores representados nas figuras 4.9 e 4.10 indicam que os hidrolisados
formados no processo de hidrólise com Neutrase® apresentaram capacidade de emulsão
com percentagens razoáveis, na sua grande maioria superiores a 50% para as emulsões.
No entanto, os valores (de concentração de enzima e respetivos tempos) mais baixos da
capacidade de emulsão do azeite não se verificaram nas emulsões formadas pelo óleo.
Sendo assim, os resultados de melhor capacidade emulsificante será do óleo.
56
Como já foi discutido anteriormente noutros testes realizados, não era de esperar
que a capacidade se mantivesse constante entre as concentrações de enzima aplicadas
nos subprodutos e até mesmo entre os tempos existentes dentro de cada percentagem
de enzima. Como detalhou Chalamaiah e colaboradores 2010, seria de esperar que
existissem variações nas amostras que apresentassem elevada quantidade de péptidos
com peso molecular elevado contribuindo também para a estabilidade de emulsificação.
Por outro lado e dado o resultado que se obteve no grau de hidrólise, se realmente não
ocorreu hidrólise das proteínas das vísceras, mas sim das proteínas que se encontravam
no meio circundante, os resultados obtidos na emulsão são coerentes.
Segundo Chalamaiah e colaboradores 2010, nos ensaios efetuados com
Alcalase® e Papainase®, os hidrolisados formados por estas enzimas, verificaram que
com o elevado grau de hidrólise obtido com a Alcalase® originou capacidade de emulsão
mais baixa que com hidrolisados de Papainase®. É importante salientar que hidrólises
enzimáticas de proteína muito longas originam emulsões de baixa capacidade.
No que diz respeito à estabilidade das emulsões formadas, segundo os dados
obtidos através da ANOVA, não se verificaram diferenças estatisticamente significativas
entre as emulsões produzidas em azeite e óleo. Ou seja, independentemente da
utilização de azeite ou de óleo, a estabilidade de emulsão não se altera.
Figura 4.9 - Capacidade da emulsão do azeite com solução de amostras, maltodextrina e respetivo controlo de caseinato (n=2 com erro padrão associado).
c
c
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0%
,t0
0%
,t20
0%
,t240
0%
,t60
0,5
%,t0
0,5
%,t120
0,5
%,t40
0,5
%,t60
1%
,t0
1%
,t20
1%
,t40
1%
,t60
1,5
%,t0
1,5
%,t20
1,5
%,t40
1,5
%,t60
3%
,t0
3%
,t20
3%
,t40
3%
,t60
Maltodex…
Casein
ato
Capacid
ade E
muls
ão A
zeite
Amostras
57
Figura 4.10 - Capacidade da emulsão do óleo com solução de amostras, maltodextrina e respetivo
controlo (n=2 com erro padrão associado).
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0%
,t0
0%
,t20
0%
,t240
0%
,t60
0,5
%,t0
0,5
%,t120
0,5
%,t40
0,5
%,t60
1%
,t0
1%
,t20
1%
,t40
1%
,t60
1,5
%,t0
1,5
%,t20
1,5
%,t40
1,5
%,t60
3%
,t0
3%
,t20
3%
,t40
3%
,t60
Maltodext…
Casein
ato
Capacid
ade e
muls
ão Ó
leo
Amostras
0
10
20
30
40
50
60
0%
,t0
0%
,t20
0%
,t240
0%
,t60
0,5
%,t0
0,5
%,t120
0,5
%,t40
0,5
%,t60
1%
,t0
1%
,t20
1%
,t40
1%
,t60
1,5
%,t0
1,5
%,t20
1,5
%,t40
1,5
%,t60
3%
,t0
3%
,t20
3%
,t40
3%
,t60
Maltodextr
ina
Casein
ato
Esta
bili
dade e
muls
ão A
zeite
Amostras
Figura 4.11 – Estabilidade de emulsão do azeite com solução de amostras, maltodextrina e respetivo controlo (n=2 com erro padrão associado).
58
Na figura 4.11 e 4.12 está representada a estabilidade em relação ao azeite e
óleo. Como se pode verificar, da emulsão produzida com caseinato é superior a qualquer
uma das emulsões produzidas pelos hidrolisados. Em relação às amostras apenas a 0%
t0 e t20 apresentam uma capacidade de estabilidade do azeite foram superiores às
restantes. Este efeito estabilizante será, provavelmente, independente da presença de
maltodextrina uma vez que a emulsão produzida pela maltodextrina, ao final de 24h
estava completamente separada.
Ao comparar as figuras 4.11 e 4.12, verifica-se que o azeite é o que apresenta
mais percentagem de estabilidade, no entanto, através de estudos estatísticos não se
verificam diferenças estatisticamente significativas entre a estabilidade de emulsão do
azeite e do óleo.
No que diz respeito à estabilidade da emulsão, péptidos com maior peso
molecular contribui para uma maior estabilidade de emulsão. Os hidrolisados de proteína
são materiais de superfície ativa visto que promove a interação entre a água e o óleo
devido às alterações de hidrofilicidade e hidrofobicidade e das alterações das
características destes grupos (Chalamaiah e colaboradores 2010).
-5
5
15
25
35
45
55
65
0%
,t0
0%
,t20
0%
,t240
0%
,t60
0,5
%,t0
0,5
%,t120
0,5
%,t40
0,5
%,t60
1%
,t0
1%
,t20
1%
,t40
1%
,t60
1,5
%,t0
1,5
%,t20
1,5
%,t40
1,5
%,t60
3%
,t0
3%
,t20
3%
,t40
3%
,t60
Maltodextr
ina
Casein
ato
Esta
bili
dade e
muls
ão Ó
leo
Amostras
Figura 4.12 – Estabilidade de emulsão do óleo com solução de amostras, maltodextrina e respetivo controlo (n=2 com erro padrão associado).
59
4.8. Avaliação da capacidade antimicrobiana
Na avaliação da capacidade antimicrobiana, não se verificou atividade para as
estirpes estudadas, no entanto, não quer dizer que os hidrolisados de proteína de
sardinha produzidos não possuam essas propriedades. Apenas podemos afirmar que
Salmonella typhi (ATCC 14028) e Escherichia coli (ATCC 10536 e CECT 434) não
apresentam esta atividade. Como os controlos apresentaram os resultados esperados e
houve crescimento bacterial, pode-se validar este método.
Salampessy e colaboradores 2010, Rajanbabu e colaboradores 2011, comprovam
que existem peixes que secretam diferentes tipos de péptidos e polipéptidos envolvidos
no mecanismo de defesa. Riscos ambientais e do efeito de estufa conduzem à procura
de novas fontes de drogas, vacinas e consequentemente tratamentos para doenças
patológicas. Estes péptidos possuem aminoácidos que se encontram carregados
positivamente e vão ligar-se a substâncias e a moléculas que se encontram carregadas
negativamente nas membranas de organismos patogénicos. Relatam também inúmeros
relatórios que comprovam a existência desta atividade em bactérias gram-negativas
(Escherichia coli, Salmonella, entre outros) e gram-positivas (Staphylococcus aureus e
Lactococcus sp.). Para além de péptidos originados de hidrolisados de proteína de
pescado, também se pode obter através do leite, ovo, entre outros.
61
5. CONCLUSÃO
Este estudo confirmou o potencial da aplicação da hidrólise enzimática na
valorização dos excedentes das indústrias conserveiras. Foram produzidos hidrolisados
de proteína a partir de subprodutos de sardinha com propriedades que indicam o seu
potencial de aplicação na industria alimentar:
Os hidrolisados líquidos de subprodutos de sardinha produzidos neste
trabalho apresentaram capacidades de redução do radical DPPH entre 10
e 50%;
A aplicação dos hidrolisados em pescado resultou, para determinadas
condições de hidrólise) numa redução da percentagem de perda de água
após armazenamento refrigerado e congelado;
A aplicação dos hidrolisados em salmão congelado reduziu a alteração
global de cor após 3 semanas de congelamento;
Foi observada uma capacidade de emulsificação em azeite e óleo
comparável à do caseinato de sódio na maioria das amostras testadas;
As amostras produzidas na ausência de Neutrase®, aos tempos de 0 e 20
minutos formaram emulsões estáveis com azeite e óleo;
O rendimento global de recuperação de proteína no processo de hidrólise foi de
10%. Uma vez que a obtenção de produtos estáveis será um fator determinante na
aplicação dos hidrolisados como aditivos alimentares, foi incluído processo um passo de
secagem por spray drying que resultou em perdas de 50% de proteína. Uma otimização
das condições de secagem será essencial para um aumento do rendimento deste passo
e para a minimização das alterações induzidas pela temperatura nas propriedades do
hidrolisado em pó.
O rendimento de recuperação de proteína da hidrólise enzimática foi de 21.8%. O
rendimento de recuperação de proteína não foi sido significativamente alterado pela
adição de Neutrase®, no entanto o aumento do grau de hidrólise nas amostras
62
produzidas na presença de Neutrase® é indicador da ação proteolítica da enzima
adicionada. Estas observações indicam que a hidrolise ocorreu em proteína solubilizada
no meio e não na proteína presente nos materiais sólidos e sugerem que o aumento do
rendimento de recuperação de proteína da hidrolise enzimática passará pela promoção
de melhores.
63
6. PERSPETIVAS FUTURAS
Após este trabalho, e com as conclusões retiradas do mesmo, pode-se sugerir o
seguinte trabalho no futuro:
Poderá ser utilizado um biorreactor com agitação mecânica, de forma a garantir
um elevado grau de mistura entre a fase liquida e os subprodutos durante o
processo de hidrólise;
Pesquisar as características nutricionais, físico-químicas e biológicas do material
que ficou no crivo durante o processo de hidrólise;
Investigar o efeito de tempos de hidrólise mais prolongados: 120minutos, 160
minutos e 360 minutos (Batista e colaboradores 2009);
Investigar a utilização de outra enzima, como por exemplo, uma Alcalase®. Esta
enzima tem demonstrado uma melhor capacidade de solubilização de proteína
que a utilizada neste trabalho (Batista e colaboradores 2009, e Shahidi e
colaboradores 1995);
Determinação do tamanho molecular dos péptidos e polipéptidos existentes nos
hidrolisados através de SDS-PAGE (Lian e colaboradores 2005), de modo a
relacionar as propriedades analisados com o tamanho das frações presentes nos
hidrolisados
Avaliação do potencial dos hidrolisados de sardinha como agentes
antiproliferativos em linhas celulares de cancro de mama e do cólon (Picot e
colaboradores 2006, e Samaranayaka e colaboradores 2010);
Avaliação da bioatividade dos hidrolisados de sardinha no decréscimo dos índices
de colesterol e valores de HDL no fígado de ratos (Wergedahl e colaboradores
2004);
Investigação sobre o efeito hipotensor e imunoestimulante dos hidrolisados de
sardinha (Batista e colaboradores 2009, e Geirsdottir e colaboradores 2011).
65
7. BIBLIOGRAFIA
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69
8. ANEXOS
Figura 8.1. – Representação gráfica da percentagem de perda de água, no salmão fresco, durante 7 dias. (n=4, média +/- erro padrão).
Figura 8.2. – Representação gráfica da percentagem de perda de água, na pescada fresco, durante 7 dias. (n=4, média +/- erro padrão).
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5 Dia 6 Dia 7
Perd
a d
e Á
gua (
%)
0% (g/g) 0,5% (g/g) 1% (g/g) 1,5% (g/g) 3% (g/g) Controlo
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5 Dia 6 Dia 7
Perd
a d
e Á
gua (
%)
0% (g/g) 0,5% (g/g) 1% (g/g) 1,5% (g/g) 3% (g/g) Controlo positivo