PROBLEMAS AMBIENTAIS RELEVANTES: QUAL A SITUAÇÃO DO PLANETA NESSE COMEÇO DE MILÊNIO?
(Francisco Antonio Romanelli)
Nós iniciamos o terceiro milênio enfrentando um vasto número de problemas
ambientais, que ameaçam não só o equilíbrio ecológico do planeta, como a vida
de sua biodiversidade, inclusive a vida humana. Isso nos impõe uma reflexão mais
cuidadosa sobre algumas questões existenciais de crucial importância:
- Qual a situação atual do meio ambiente planetário?
- O planeta tem condições de superar e sobreviver a esses problemas?
- Qual será a qualidade de vida que o futuro reserva aos habitantes do
planeta?
Para que se possa refletir sobre tais indagações é importante fazer uma
avaliação sintética dos principais problemas ambientais que ameaçam a vida
nesse começo de milênio. Impõe-se a preocupação imediata, pela relevância e
urgência de seu enfoque, uma vez que representam perigo iminente ao planeta, a
despeito da existência de inúmeros outros, com os seguintes fatores de risco à
vida:
- Falta de água;
- Desmatamento;
- Aquecimento global;
- Buraco na camada de ozônio;
- Chuva ácida;
- Excesso de resíduos;
- Perda da biodiversidade;
- Poluição em geral;
- Queimadas;
- Superpopulação.
Inicia-se a avaliação pelos problemas relacionados à carência ou má qualidade
da água. Ninguém desconhece a gravidade de tal situação hoje em dia. A princípio
observamos que, apesar de a Terra ser um planeta coberto por mais de dois
terços de água, quase toda ela é composta por água salgada, de difícil utilização.
Sobram apenas 2,5% (dois e meio por cento) de toda a água do planeta sob a
forma de água doce, mas considerando-se que a maior parte dessa água se
encontra sob a forma de gelo nos pólos, outra grande parte em reservatórios
subterrâneos inacessíveis, apenas 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento),
menos de um por cento, de toda a água pode ser disponibilizada ao uso humano,
seja para sua alimentação, para asseio e higiene, para lazer, para a produção
rural e para o sustento de rebanhos. E desse volume, 0,70% (setenta centésimos
por cento) também se encontram em reservatórios subterrâneos, restando, como
águas de superfície, apenas 0,05% (cinco centésimos por cento), a vigésima parte
de um por cento de toda a água do planeta.
Segundo relatórios da ONU, datados de 2000,
No ritmo atual de poluição e explosão demográfica, as perspectivas são sombrias. Em 25 anos um terço da humanidade estará morrendo por sede ou contaminação de água. As primeiras vítimas serão moradores de metrópoles e regiões desérticas.
Naturalmente, como vinte e cinco anos representam menos que uma geração,
essa perspectiva é aterradora. Em média, por cada três pessoas, uma morrerá por
problemas de falta de água, em razão de sua contaminação ou pela má qualidade
hídrica.
A água não só nutre toda forma de vida que se conhece no planeta, como é
essencial a todos os processos de existência do homem. Privado de água o ser
humano, em poucos dias, perece de sede, inanição e desidratação, ou de outras
doenças relacionadas à sua carência.
O homem necessita de água:
- como alimento;
- na ingestão direta de líquidos;
- nas atividades agrícolas;
- na elaboração de alimentos;
- em necessidades domésticas;
- e nos processos industriais.
O corpo humano é composto de cerca de 70% (setenta por cento) de água e
para manter-se funcionando normal e sadiamente necessita que sejam ingeridos,
por dia, de dois a três litros de água limpa, saudável e potável, mesmo porque, em
período idêntico, pode chegar a perder mais de quatro litros de água, pela
transpiração, pela urina, pela respiração e pelas fezes.
Uma das grandes preocupações, em todo o mundo, é o desperdício de água.
No Brasil, por exemplo, enquanto a média ideal de gasto de água por dia por
pessoa é de quarenta litros, a média de utilização ultrapassa aos duzentos litros.
Além do mais, estima-se que 70% (setenta por cento) de toda a água tratada no
país são desperdiçados em vazamentos. Não bastasse isso, o consumo sobe em
média 5% (cinco por cento) ao ano – tendendo a aumentar proporcionalmente ao
aumento da população, o que equivale ao volume de água de um lago da Usina
de Itaipu a cada quatro anos. Em alguns outros países, como nos Estados Unidos,
o volume do gasto individual é ainda maior, chegando à marca recorde de mil e
duzentos litros em média de consumo por habitante/dia em Los Angeles.
O Brasil possui o maior volume de água doce disponível dentre os demais
países do planeta, com cerca de 13% (treze por cento) do volume total. Apesar
disso, a quase totalidade dessa água se encontra na Região Norte, existindo
áreas carentes como o nordeste. Há alguns anos atrás, o brasileiro conviveu com
o risco de “apagões” e com racionamento de luz. Em futuro bastante próximo,
provavelmente se sujeitará a racionamento não só de luz, como da própria água.
Os problemas da carência de água, em nível global, ocorrem, principalmente,
em razão de distribuição irregular dos reservatórios, de contaminação, da
poluição, do desperdício e da maior demanda ocasionada pelo crescimento
demográfico e pela ampliação dos rebanhos.
Mais de um bilhão da população mundial, ou seja, mais de um sexto dessa
população, não tem acesso à água potável ou tratada, enquanto mais de vinte e
cinco mil pessoas morrem por dia por carência de água.
No Brasil, mais da metade dos municípios não possuem água tratada e a água
existente é permanentemente contaminada por sujeiras e detritos que a tornam
imprestável e até estéril. A poluição dos mananciais, aqui, se dá, principalmente,
na região sul, por pesticidas, agrotóxicos e outros produtos químicos; na região
sudeste, além dessas causas, as maiores fontes de poluição são dos esgotos
industriais e residenciais; no centro, grande problema é causado por metais
tóxicos, como o mercúrio usado nos garimpos.
A distribuição irregular de reservatórios e a falta de saneamento básico fazem
com que a água chegue a ter um custo bastante elevado em certas regiões do
país.
Em nível mundial, a questão se agrava, sendo que hoje uma em cada três
pessoas padece de escassez, de doenças ou perecem pela falta ou má qualidade
da água e essa proporção em cerca de vinte e cinco anos se inverterá, sendo que
em cada três, duas pessoas estarão sofrendo desses males pela mesma causa,
falta ou má qualidade da água, segundo dados da Organização das Nações
Unidas. Provavelmente, a necessidade de água será, nos próximos anos, a maior
causa de guerras e litígios internacionais. Hoje em dia já existem mais de setenta
conflitos declarados por causa de água.
No ritmo atual em poucos anos, mais da metade da população mundial não
disporá de água doce potável adequada ao consumo humano.
O problema ambiental seguinte de nossa lista, a ser apontado como alarmante,
é o desmatamento. Provavelmente, a maior riqueza de cobertura vegetal do
mundo se encontra em nosso País, o que impõe que tomemos medidas
preservacionistas imediatas e eficazes, sob pena de amargarmos déficits
perigosos de áreas de vegetação, como ocorre com as Filipinas, e outros países
do mundo, despidos de quase toda sua cobertura vegetal original.
A maior floresta tropical do mundo, a Amazônica já sofreu, desde 1500, em
território brasileiro, onde se encontra mais de sua metade, um desmatamento
equivalente a 15% (quinze por cento) da área brasileira original. Pior situação se
encontra a Mata Atlântica que hoje possui apenas 7,5% (sete e meio por cento) da
área existente na época do descobrimento. Os cerrados brasileiros, responsáveis
pela maior variedade de vida no país, se resumem, hoje, a apenas 20% (vinte por
cento), tendo, no mesmo período, sofrido uma devastação de 80% (oitenta por
cento) de sua área.
A Amazônia brasileira é de tal proporção que nela cabe meio continente
europeu, mas, nos últimos trinta anos, já foi devastada em cerca de seiscentos mil
quilômetros quadrados, área maior que a do território da França. Enquanto isso,
por outro lado, a despeito da luta de ambientalistas e órgãos governamentais
envolvidos, foram criados apenas cento e vinte e quatro parques na Amazônia
brasileira, com áreas de preservação de cerca de minguados sessenta e quatro
mil quilômetros quadrados.
Estudos recentes levados a efeito pelo Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia e pelo Smithsonian Institution prevêem em uma visão mais otimista uma
degradação, de pelo menos 28% (vinte e oito por cento), ou, em uma mais
pessimista, de até 42% (quarenta e dois por cento) da Amazônia original nos
próximos vinte anos. Hoje, o desmatamento da Amazônia brasileira – responsável
por 20% (vinte por cento) de toda a biodiversidade mundial – chega a dezoito mil
quilômetros quadrados por ano, o equivalente a um milhão e oitocentos mil
Maracanãs, ou quase cinqüenta quilômetros por dia, equivalentes a quase cinco
mil Maracanãs, ou mais de dois quilômetros quadrados por hora – o tamanho de
uma cidade de porte médio.
Assim como a própria água, e porque há uma interdependência inseparável
entre elas, a cobertura vegetal é indispensável à vida do planeta e à vida humana,
sendo absolutamente necessária, entre outras coisas:
-como ambiente aos ecossistemas;
-para liberar oxigênio, necessário à respiração da maioria dos seres vivos;
-para absorver dióxido de carbono;
-para sombrear e refrescar;
-para reter água na terra e umidade no ar;
-para produzir frutos, alimentos e abrigo;
-e para proteger o solo da desertificação.
As principais causas da destruição da cobertura vegetal no planeta são as
queimadas, a extração comercial desordenada e a ocupação humana, com suas
peculiares derrubadas de árvores e limpezas de terrenos para construir, utilizar
madeiras em suas habitações e lenha como combustível residencial e industrial, e
ampliar áreas pastoris e agrícolas.
A ocupação humana ocorre, em sua maioria, nas beiras de estradas, chegando
a atingir até cem quilômetros de suas margens. Além disso, o consumo de
madeira cresceu em mais de 60% (sessenta por cento) em apenas quarenta anos,
principalmente como lenha nas regiões mais pobres. Com o aumento da pobreza,
aumenta o desmatamento para a utilização de madeira.
Outro problema preocupante é o aquecimento global. Aumentos periódicos de
temperatura são comuns (em períodos de cerca de cento e vinte mil anos), mas o
aquecimento hoje é causado em grande parte pelo modo de vida e ocupação
ambiental do ser humano e vai afetar sua existência, de maneira drástica, em
curto prazo.
O “efeito estufa” é causado principalmente pelo acúmulo de gás carbônico na
biosfera, o que impede a fuga de parte do calor para o espaço. É imprescindível à
vida no planeta por manter um aquecimento equilibrado. Sem os gases “efeito
estufa” a temperatura média seria em torno de -18º C (dezoito graus Celsius
negativos), com dias absurdamente quentes, pela incidência direta do sol, e noites
extremamente geladas, pela falta de retenção do calor solar. A intervenção
humana nos processos naturais está acelerando esse aquecimento. Desde 1860,
época em que se iniciaram medições a respeito, pouco depois do início da era
industrial, até o ano de 2000, a temperatura média do globo subiu cerca de um
grau.
A concentração desses gases está crescendo de forma e velocidade
preocupantes em função da intervenção humana nos processos naturais,
principalmente por causa de:
-queima de combustíveis fósseis, na sua maioria petróleo, em carros e
indústrias;
-incêndios e queimadas;
-aumento das plantações de arroz e da criação de gado, atividades que
depositam metano, óxido nitroso e outros gases na atmosfera.
A emissão de gases dessa natureza deve dobrar neste século XXI, chegando a
aumentar a temperatura em até 6.º C (seis graus Celsius), elevando os níveis dos
oceanos em proporções gigantescas e causando uma série enorme de
catástrofes e prejuízos naturais. Dentre tais prejuízos estarão a morte dos recifes
de corais, responsáveis por abrigar e alimentar a maior parte da vida marinha
animal, o alagamento de áreas urbanizadas, o aumento no número de furacões,
tempestades e outras catástrofes, a morte prematura de seres da biodiversidade
mundial pelo excesso de calor ou por afogamento, o aumento das doenças e
maiores dificuldades em trata-las, o desmatamento causado pela inundação de
áreas verdes, e pela migração de seres humanos e animais para áreas mais
elevadas e secas. Como um perverso ciclo vicioso, o aquecimento agravará e será
agravado pelas queimadas, pela desertificação, pelo desmatamento, pela
diminuição de áreas verdes, com a conseqüente ocupação desordenada,
provocando em retorno o aumento da miséria, da fome, e uma inevitável
aceleração nos processos de degradação...
É triste e doloroso saber que o ser humano é o principal gerador desses
perniciosos acontecimentos e a maior influência em seu descontrole
. Pior: age em amparado em valores artificiais, como poderes político, social e
econômico, dinheiro e progresso, aos quais atribui cega e desmesurada
importância... Apenas por interesses econômicos os países ricos do mundo não
chegam a uma conclusão quanto à contenção da emissão de gases prejudiciais
ao efeito estufa. O exemplo mais marcante vem dos Estados Unidos, país que,
enquanto é responsável pela emissão de 25% (vinte e cinco por cento) dos gases
depositados na atmosfera concorre com apenas 4% (quatro por cento) da
população mundial. Mesmo assim, seus dirigentes se negam a assinar acordos
para redução das emissões de gases efeito estufa, inclusive do Protocolo de
Kioto, que prevê prazos para a redução dessas emissões.
A seguir, vêm os problemas relativos ao desgaste na camada de ozônio que
protege a atmosfera terrestre e os fenômenos das chamadas chuvas ácidas. A
camada de ozônio, na estratosfera, retém parte dos raios ultravioletas vindos do
sol. Os buracos são assim chamados em razão da existência de áreas onde a
camada de ozônio é mais rarefeita. Em 1987 foram captadas, por satélites,
enormes áreas sobre os pólos onde a camada de ozônio estaria excessivamente
rarefeita. Estudos realizados em anos seguintes, principalmente em 1991,
descobriram aumentos consideráveis nesses “buracos”, com carência de ozônio
sobre a Antártida, em área maior que a do continente europeu. Foi também
detectada uma elevação substancial na concentração de gases cloro-
fluorcarbonados, de larga utilização humana.
Os prejuízos causados pelo excesso de raios ultravioletas nos sistemas vivos
do planeta são imensuráveis e desconhecidos. No ser humano, atribuem-se-lhes
doenças como câncer e envelhecimento precoce da pele, manchas solares,
queimaduras e prejuízos ao sistema imunológico. São temidas, ainda, doenças
desconhecidas provocadas por alterações genéticas e pela infiltração de um
volume excessivo de raios ultravioletas em níveis mais profundos da pele.
Nos ecossistemas marinhos, há prejuízos aos fitoplânctos, algas unicelulares
responsáveis não só pela cadeia alimentar dos oceanos, como por grande
emissão de oxigênio. Em todo o mundo vegetal, a incidência excessiva de raios
ultravioletas prejudica a fotossíntese e provoca mutações genéticas, alterando
estruturas de DNA.
Chuvas ácidas são provocadas por gases provenientes de combustíveis
fósseis que se convertem, através de reações químicas na atmosfera, em ácidos
nítrico e sulfúrico, aumentando a acidez de cursos de água e das fontes, inclusive
dos lençóis freáticos. Esses ácidos, depostos pela chuva ou neve, causam
desequilíbrio ao meio ambiente e provocam morte de peixes, da cobertura vegetal,
tornam a água imprópria ao consumo, acidificam terras prejudicando o plantio, a
germinação e até a evolução de muitas culturas agrícolas. Em um mundo onde a
fome aumenta a cada dia, constituem outro fator de redução das reservas
alimentícias.
O problema ambiental, dentre aqueles mais graves, que talvez mais se
evidencie, é o problema do lixo. Cada brasileiro produz, em média, quatrocentos e
quarenta mil quilos de lixo por ano, sendo que o Brasil é responsável pela
produção de oitenta e oito milhões de toneladas por ano, ou duzentos e quarenta
mil toneladas por dia. Habitualmente, na grande maioria, o lixo recolhido pelos
serviços públicos de limpeza, vai para os chamados lixões e para os aterros
sanitários. Muitos detritos, por outro lado, acabam sendo jogados a esmo, pela
própria população, diretamente no ambiente. Os materiais que compõem o lixo
envenenam e poluem terra, água e ar. Vários, mesmo aterrados, chegam a
demorar anos, ou até séculos para se decompor...
Em São Paulo, a cidade mais rica do país, existe uma produção diária de mais
de treze mil e oitocentas toneladas de lixo por dia, das quais apenas 1% (um por
cento) é reciclado; cerca de 92% (noventa e dois por cento) vão para grandes
aterros sanitários e 7% (sete por cento) para incineradores e usinas de
compostagem. Isso, segundo dados da própria Limpurb. O lixo aterrado é uma
bomba de efeito retardado que, em médio prazo, transformar-se-á em sério
problema de degradação ambiental. O lixo incinerado, ao contrário, é bomba de
efeito imediato, já que os incineradores depositam diretamente na atmosfera
vários poluentes e materiais de alta toxidade.
Estima-se que 25% (vinte por cento) da população brasileira depositem o lixo
diretamente no ambiente, em terrenos baldios, encostas, cursos de água, estradas
de áreas rurais, ruas, etc. Esse lixo, muitas vezes carregado pelas águas de
chuvas torrenciais, acaba poluindo e degradando os cursos de água, entupindo
esgotos e canalizações e, com isso, provocando enchentes, assoreamento, desvio
de cursos, erosão, e muitos outros inumeráveis prejuízos. Mesmo o lixo recolhido,
a maioria é depositada a céu aberto, nos chamados lixões, sujeitando-se a
queimadas, a ser carregado pelas chuvas, a se espalhar nos ventos, distribuindo
não só um fétido mal cheiro na atmosfera, como gases venenosos e fumaça,
muitas vezes de alto poder de toxidade, com um evidente e incalculável prejuízo
ambiental.
O lixo industrial, habitualmente composto de resíduos extremamente tóxicos,
principalmente quando queimados é também causa de grandes problemas
ecológicos e é extremamente prejudicial à saúde humana.
Em médio prazo grande risco vem do chamado lixo atômico. O lixo atômico é
composto principalmente de plutônio, que leva cerca de meio milhão de anos para
perder seu potencial agressivo. A produção anual de plutônio é de cerca de
duzentos a duzentos e cinqüenta quilos, sendo que bastariam quinhentos gramas
para causar câncer de pulmão em todos os habitantes do planeta. Hoje, os países
mais ricos, que são os maiores produtores de energia atômica e seus resíduos,
procuram fazer convênios com os países pobres, sujeitando-os a receber lixo
atômico ou perigoso. Por causa de riscos dessa natureza, muitos países já
possuem leis proibindo o recebimento de lixo perigoso.
Na seqüência dos grandes e catastróficos riscos ambientais em análise, está a
perda da biodiversidade, ou seja, a perda dos elementos vivos que o planeta
Terra, durante quatro bilhões de ano, cultivou e evoluiu. A biodiversidade estimada
no planeta é de cinco a cinqüenta milhões de espécies.
Dessas, apenas cerca de um milhão e quatrocentos mil foram identificadas e
catalogadas. Ou seja, há a possibilidade de que existam entre três milhões e
seiscentas mil a quarenta e oito milhões e seiscentas mil espécies desconhecidas.
Das espécies conhecidas,
-800 mil são de insetos;
-250 mil de vegetais;
- 40 mil de vertebrados;
-e as restantes são de invertebrados, algas, fungos e microorganismos.
No Brasil, grande paraíso da biodiversidade mundial, encontram-se dez a 20%
(vinte por cento) de todas as espécies existentes no planeta. No entanto, esse
imenso tesouro de vida, essa imensa riqueza de material genético e orgânico,
essa fonte abundante de elementos medicamentosos e alimentícios, está sendo
destruída em larga escala, dentre alguns outros fatores, principalmente por
queimadas, desmatamentos, extração mineral e comércio ilegal de espécies.
A velocidade da destruição é tamanha que entre 1500 e 1850 estima-se que
uma espécie foi eliminada em cada dez anos;
entre 1850 e 1950, esse número saltou para uma espécie por ano.
Em 1990 estima-se que foram eliminadas dez espécies por dia;
em 2000, uma espécie por hora ou vinte e quatro por dia. Quantas espécies
são eliminadas hoje? Quantas
desaparecerão nos próximos anos? Uma por segundo, talvez.
A gravidade da situação é tamanha que, de 1975 a 2000, ou seja, em apenas
vinte e cinco anos, foram extintas 20% (vinte por cento) das espécies vivas do
planeta.
De 1950 a 2000, em cinqüenta anos, foi eliminado 1/5 (um quinto) das florestas
tropicais. Hoje,
mais de 14% (quatorze por cento) das espécies vegetais estão em extinção.
2/3 (dois terços)
das nove mil e seiscentas espécies de aves, 11% (onze por cento) das quatro
mil e quatrocentas espécies de mamíferos encontram-se em perigo iminente de
desaparecimento; 1/3 (
um terço) de todas as espécies de peixes estão sob ameaça e 11% (onze por
cento) correm risco de extinção.
Outro fantasma que paira sobre o planeta, ameaçando-o, é a poluição em suas
múltiplas facetas: poluição atmosférica, das águas, sonora, visual.
Quanto à poluição atmosférica, desde o início da revolução industrial – por
volta de meados do século dezoito – duzentos e setenta e um bilhões de
toneladas de carbono foram depositadas na atmosfera. No curto período dos
últimos cinqüenta anos, apenas os Estados Unidos lançaram cento e oitenta e seis
bilhões de toneladas.
Todo esse excessivo volume de carbono lançado na atmosfera tem causado
sérios problemas, como o acréscimo excessivo dos gases “efeito estufa”, a
deposição de resíduos tóxicos nas bacias hidrográficas e o venenoso e altamente
tóxico “smog” - uma massa de ar estagnado composto por uma mistura de
diversos gases, vapores de ar e fumaça. Hoje em dia são corriqueiros os casos de
internações hospitalares e até mesmo de óbitos de crianças, de animais
domésticos, de pessoas idosas ou com doenças cardiorrespiratórias, intoxicados
pelo ar poluído.
Nos grandes centros urbanos 80% (oitenta por cento) da poluição atmosférica
vêm dos escapamentos de veículos com motores de combustão, sendo que os
outros 20% (vinte por cento) se originam de fábricas, de incineradores de lixo, de
incêndios, etc. A queima de combustível fóssil é, portanto, o maior poluidor da
atmosfera dos centros urbanos. Essa aterradora realidade permanece oculta, de
forma premeditada, por interesses econômicos escorados na riqueza
movimentada pelo comércio do petróleo.
A poluição das águas é causada principalmente por lixo urbano e industrial,
esgotos urbanos e industriais, deposição de detritos e diversas formas de sujeiras,
mercúrio dos garimpos, resíduos de baterias e pilhas e agrotóxicos, pesticidas e
outros produtos químicos aplicados desordenadamente em lavouras, na pecuária
e no combate a pragas e parasitas.
Grande fator de poluição das águas marinhas e dos litorais, desequilibrando a
vida que ali existe e a dos demais seres que dela se servem como alimento, são
os vazamentos de petróleo, de plataformas de extração, de canalizações ou de
navios transportadores.
A seu turno, a poluição sonora, com níveis de pressão acima daqueles
indicados para o nosso organismo, comum em quase todos os cantos das cidades
de grande e médio portes, provoca estresse, distúrbios físicos, mentais,
psicológicos, insônia, deficiência auditiva, altera a pressão arterial, causa
problemas digestivos, provoca má irrigação sangüínea da pele e até impotência e
frigidez sexual
.
A poluição do solo vem principalmente da deposição de lixos e resíduos e da
excessiva e má utilização de agrotóxicos e algumas formas de adubo. Afeta ao
mesmo tempo a água, o solo e a atmosfera.
A poluição visual prejudica a qualidade de vida das pessoas, ofende sua
integridade psíquica, causando nervosismo, cansaço e mal estar e confunde
alguns animais, prejudicando profundamente seus hábitos, interferindo em seus
processos de acasalamento, de procriação e de sobrevivência.
As queimadas são outra fonte de degradação ambiental preocupante. As
queimadas, principalmente as rurais, mas também as urbanas, são responsáveis
em grande parte pela perda da biodiversidade, destruindo animais, seus habitats e
grande variedade de plantas. Grandes riquezas naturais são permanentemente
perdidas no meio das cinzas das queimadas. A prática de limpar campos e áreas
urbanas com fogo provoca prejuízos incalculáveis e devastações irrecuperáveis.
As queimadas causam uma vasta gama de prejuízos ambientais e à saúde do
ser humano. Nesse último aspecto, em razão dos gases depositados no ar e
aspirados, causam doenças respiratórias, asfixias, doenças alérgicas, irritação e
outras doenças oculares, doenças de pele, doenças cardiovasculares e uma
enormidade de outros incômodos, como mal estar, enjôos, falta de ar, inquietação,
irritabilidade, dores de cabeça, fadiga visual, etc.
As queimadas provocam o ressecamento da atmosfera, seja pela deposição
direta de gases, seja pelo calor produzido. Dificultam as chuvas; aumentam a
poluição do ar, do solo e das águas; acrescem à atmosfera quantidades
impróprias de gases efeito estufa, colaborando no excessivo aquecimento global.
Deixam na atmosfera resíduos tóxicos provenientes da queima de lixo, de
materiais químicos e industriais, tais como borrachas, tintas, plásticos e materiais
de construção. Aceleram ou iniciam um processo de desertificação, provocando
desmatamentos e deixando áreas enfraquecidas e propícias a erosões. E, além de
tudo isso, depois de algum tempo esterilizam o solo, tornando-o impróprio ao
cultivo.
O ponto de partida desses grandes problemas ambientais é o aumento
irregular e desmedido da população humana no planeta. Atualmente, mais de seis
bilhões de habitantes ocupam o planeta. Em 2010, segundo dados do IPV - Índice
Planeta Vivo - do Fundo Mundial da Natureza, o planeta será ocupado por mais de
sete bilhões de habitantes, em 2021, por mais de oito bilhões.
Nos últimos vinte e cinco anos do século XX, a população cresceu em dois
bilhões de pessoas; no mesmo período, a cobertura florestal planetária diminuiu
10% (dez por cento); as cem principais espécies que vivem em água doce
reduziram-se em 45% (quarenta e cinco por cento); desapareceram 50%
(cinqüenta por cento) de todos os mangues e várzeas e houve uma queda de 30%
(trinta por cento) nos ecossistemas, em uma proporção de 1,5% (um e meio por
cento) ao ano.
Como é fácil de verificar, o aumento da população é causa de desmatamento
para ocupação da área, para utilização de madeira nas construções e como
combustível doméstico. Provoca uma maior produção de lixo, o que causa e a
consequente maior deposição de lixo e resíduos no solo, nos rios e oceanos,
eliminando formas de vida. É necessário o aumento das atividades produtivas
agrícolas, pecuárias e industriais, para satisfazer o acréscimo populacional. Em
um círculo vicioso, há o aumento da emissão de gás carbônico, de incêndios e
queimadas, uma maior demanda por habitação e alimentos.
O aumento populacional é mais acelerado nos países e nas regiões mais
pobres. Enquanto países desenvolvidos, ou pessoas de médio poder aquisitivo,
preocupam-se com o controle e a redução da natalidade, nas faixas de maior
pobreza, inclusive pela falta de orientação e educação sexual, há um crescimento
desordenado. Por essa razão
, os países mais pobres responderão por 90% (noventa por cento) do
crescimento populacional nos próximos anos.
Segundo o relatório “State of the World”, do Worldwatch Institute, “dentro de no
máximo uma geração países como Mauritânia, Etiópia e Haiti estarão
praticamente sem vegetação por causa da busca de lenha para cozinhar”.
Nos últimos quarenta anos, pelo acréscimo da demanda por alimentos, a
pesca oceânica saltou de dezoito milhões de toneladas anuais para noventa e
cinco milhões. As espécies mais importantes em todas as regiões do globo estão
praticamente esgotadas e sem possibilidades de se recuperar, já que a pesca não
só persiste, como tem aumentado, paralelamente ao aumento da população.
Estima-se o nascimento de noventa milhões de novos habitantes por ano, o
que vai exigir pelo menos vinte e seis milhões de toneladas de alimentos a mais
em cada ano, volume que cresce proporcionalmente ao crescimento demográfico.
E todo esse alimento tem que ser extraído de um único lugar: nosso planeta. Um
planeta devastado, enfraquecido, esgotado, e que aparentemente não tem uma
única chance, sequer, de usufruir um descanso, um pausa, para que possa se
recuperar e, como vem fazendo há quatro bilhões de anos, persistir na sagrada
missão de manter a vida e permitir que ela evolua.
Confrontada com esse quadro perturbador de degradação, que ameaça a
existência de todos os seres do planeta e da qual é a principal causadora, a
humanidade se atrasa em refletir e buscar uma solução adequada e eficaz.
Uma observação mais cuidadosa faz com que se tornem óbvias aos olhos do
observador as seguintes conclusões:
1. Se persistir o modelo de civilização hoje adotado, baseado na
submissão, no exercício de poder pela força, no extrativismo ilimitado, no
imperialismo e na falta de harmonia e comunhão entre os seres humanos que
dominam o planeta, a humanidade está velozmente caminhando em direção a
iminentes catástrofes ambientais que poderão comprometer toda a forma de vida
que o habita.
2. Há uma urgente necessidade de mudança de paradigmas. O ser
humano precisa se deslocar do foco da individualização cega para o da
humanização; precisa saber e sentir que é apenas uma parte de um todo maior e
infinito e que tudo o que lhe diz respeito afeta o todo e a todos os demais, assim
como é afetado por qualquer alteração do todo.
3. O futuro do planeta depende de como cada um dos seus habitantes
passe a se relacionar e a interagir com o todo. Cada um tem que se conscientizar
da existência dos problemas ambientais e perceber que é um dos responsáveis
pelo estado geral do meio ambiente; reconhecer que é causa de sua degradação,
mas que também o pode ser de sua recuperação.
4. Cada um tem que adotar seriamente posição definida e eficaz no
sentido de direcionar suas ações para uma melhora do mundo como um todo. Há
de se acatar como lema a filosofia do grande pacifista Gandhi de que “Nós
precisamos ser a mudança que queremos ver no mundo” e se libertar
urgentemente do paradigma atual, que hoje, mais que nunca, pode ser identificado
pela desolação íntima e pessoal muito bem retratada pela frase “Erguemos muros
que nos dão a garantia que morreremos cheios de uma vida tão vazia” (trecho de
letra de música da banda Engenheiros do Hawaii).
5. Cabe, portanto, a cada um de nós, como parte integrante e
indivisível do todo, consciente da participação efetiva nos processos de
coexistência com os demais seres e elementos do planeta e de ocupação e
utilização ambiental, responder se a Terra tem futuro, e qual a qualidade do futuro
que terá.
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