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DA NO-EFETIVIDADE DO PRINCPIOCONSTITUCIONAL DA MORALIDADE NA
ADMINISTRAO PBLICA
SUMRIO: 1. Normas jurdicas, sociais e morais - distino. 2. Natureza dasnormas jurdico-constitucionais. 3. Eficcia jurdica das normasconstitucionais. 4 Efetividade das normas constitucionais. 5. Princpio damoralidade na Constituio: norma jurdica de eficcia plena, que
juridicizou a moralidade na administrao pblica. 6. No-efetividade doprincpio da moralidade na administrao pblica. 7. Corrupo eimoralidade: como combat-la, dando efetividade ao princpio damoralidade.
1. Normas jurdicas, sociais e morais - distino.
A norma jurdica se diferencia das normas moral e social, sendo que a doutrina,
comumente, se utiliza de trs critrios para diferenci-las: o contedo, o criador da norma e
o seu destinatrio (QUEIROZ, 1988:13/15).
Na norma jurdica o contedo a conduta intersubjetiva, o criador o poder
legislativo, que a institui de forma concentrada (de forma simplificada consideramos olegislativo como criador da norma jurdica e desprezamos a participao dos outros poderes
na elaborao das leis), e o destinatrio toda a coletividade.
Na norma social o contedo e o destinatrio se igualam ao da norma jurdica
(no convvio social, as pessoas tambm elaboram normas destinadas a toda a coletividade,
cujo contedo a regulao da conduta entre as pessoas), mas o criador diferente, posto que
a norma social instituda de forma difusa, por todos os membros da coletividade.
Quanto norma moral, se diferencia da jurdica e da social tanto no contedo
(regular a conduta interna, ao invs da externa ou intersubjetiva) quanto no criador e no
destinatrio. o prprio indivduo que a cria e a si prprio impe, enquanto nas normas
jurdica e social o criador um terceiro (o legislativo ou todos os membros da coletividade) e
os destinatrios so, na grande maioria, terceiros.
Num Estado Democrtico de Direito, como o Brasil, as normas jurdicas e
sociais devem regular tambm as condutas daqueles que as elaboram. Se em determinada
coletividade uma norma social pode ser destinada somente aos outros, a exemplo do que
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acontece na novela A Revoluo dos bichos, de George Orwel - em que os porcos, aps
tomarem o poder dos humanos, passam a elaborar leis destinadas a todos os bichos com
exceo dos prprios porcos -, nas democracias modernas a norma jurdica se destina a todos,que so iguais perante a lei.
Destacamos que nem a norma moral nem a social possui a coercibilidade (no
sentido de o que coercvel, o que pode ser reprimido, mas no necessariamente o ), que
exercida de forma organizada pelo Estado. Como observa Miguel Reale, a coao no existe
no mundo moral, que requer sempre a adeso espontnea do sujeito e no possibilita a
execuo forada (REALE, 1990:685). A norma social, por sua vez, se descumprida pode
ensejar apenas uma outra coercitividade (coao efetiva, em concreto), quase sempre
desorganizada, que nem est a cargo do Estado nem institucionalizada.
Como na prtica o Direito nem sempre se utiliza da coero, no a efetiva
necessariamente, seja porque a norma jurdica cumprida espontaneamente, seja porque
quando do seu descumprimento o Estado-juiz no atua (por falta de ao dos titulares do
direito, por impossibilidade ftica etc.), o Direito, embora sempre coercvel, no
necessariamente coercitivo. De igual modo, a norma jurdica.
2. Natureza das normas jurdico-constitucionais.
Toda e qualquer norma jurdica possui coercibilidade. Mesmo aquelas normas
dirigidas aos legisladores e aparentemente sem sano especfica, tambm possuem
coercibilidade. Afinal, se determinada norma constitucional desobedecida pelo legislador, a
norma por ele produzida inconstitucional e deve ser expurgada do sistema jurdico, o que
pode ser considerada sano. Basta no limitarmos a idia de sano a castigo, pena imposta a
uma pessoa.
Apesar da coercibilidade inerente a norma jurdica, comum ouvir-se,
notadamente dos economistas, que a Constituio de 1988 est repleta de boas intenes,
algumas delas impossveis de serem implementadas ou cumpridas. Aludem eles a
determinadas normas de estrutura, presentes no s na nossa Constituio mas em muitas
outras, que so dirigidas aos legisladores e no possuem uma sano especfica. A
Constituio italiana, por exemplo, estabelece no seu art. 1 queLItalia una Repubblicademocratica, fondata sul lavoro.
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Normas dessa espcie, ditas de estrutura ou de competncia, so dirigidas
quase sempre ao legislador e regulam o modo como devem ser produzidas as normas de
comportamento. Dito de outra forma: as normas de estrutura regulam o modo de produo deoutras normas (BOBBIO, 1997:45). Diferem das normas de comportamento no que estas
estabelecem sano mais especfica e so dirigidas diretamente conduta humana, regulando-
a numa das trs modalidades denticas (obrigatria, proibida ou permitida).
Exemplo de norma de estrutura por alguns considerada incua a do art. 3,
inciso IV da Constituio, segundo a qual um dos objetivos da Repblica Federativa do Brasil
erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais. Se
analisada superficialmente, essa norma parece desprovida de valor jurdico, havendo autores,
estrangeiros e nacionais, que lhe negam o carter de imperatividade prprio do direito
(BARROSO, 1996:77). Azzariti, segundo Jos Afonso da Silva, afirmou que normas desse
tipo ditas diretivas, em oposio s normas preceptivas, ou diretriase mandatrias, na
nomenclatura empregada pela doutrina norte-americana (SILVA, 1999: 79) se limitam a
indicar uma direo e, no sendo verdadeiramente normas jurdicas, poderiam ser
desobedecidas pelo legislador, sem violar a constituio. (AZZARITI, 1951:98, apud
SILVA, 1999:48).
A classificao das normas constitucionais em diretivas e preceptivas, bem
como a tese de que somente estas seriam cogentes, mas as primeiras no, est hoje superada.
A idia de que numa constituio podem estar contidas normas no jurdicas e que poderiam
ser desprezadas pelo legislador no se coaduna com a grande maioria das constituies
contemporneas, que, a exemplo da do Brasil, rgida. Somente pode ser acatada tal idia se
mantida a concepo sociolgica de Ferdinand Lassale, para quem a constituio de uma pas
, em essncia, a soma dos fatores reais do poder que regem nesse pais, sendo esta aconstituio real e efetiva, no passando a constituio escrita de uma folha de papel
(SILVA, 1990:38).
A concepo de Lassale contribui sobremaneira para a no realizao da
segurana jurdica, pois deixa em aberto a questo de no se saber quando a constituio no
papel coincide com a efetiva. Jos Afonso da Silva indaga: a quem cabe aferir tal
coincidncia ao legislativo, ao executivo ou ao judicirio? (SILVA, 1990:94).
Rejeitamos a idia de que na Constituio existam normas sem sano. O que
se tem so normas constitucionais no-eficazes (eficcia social ou efetividade, conforme
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veremos adiante), em que a sano no aplicada. A no aplicao, todavia, no se
confunde com a simples inexistncia. A sano muitas vezes no aplicada porque,
diferentemente do direito penal ou civil, por exemplo, em que as sanes so as penas ou aexecuo civil, no direito constitucional a sano tambm poltica (impeachment, perda dos
direitos polticos, etc.) ou ento a decretao de nulidade da norma emanada do legislativo, no
caso de incompatibilidade com a norma de estrutura constitucional. No mbito do direito
tributrio h inmeros exemplos de decretaes de inconstitucionalidade de leis, no que se
constituem em sano efetivamente aplicada.
Alm de sancionadoras, todas as normas assentes na constituio tm natureza
de normas jurdicas e so cogentes, cabendo atentar para a lio de Ruy Barbosa, no sentido
de que no h, numa Constituio, clusula a que se deva atribuir meramente o valor moral
de conselhos, avisos ou lies. Todas tm fora imperativa de regras, ditadas pela soberania
nacional ou popular aos seus rgos. (SILVA, 1999:75).
3. Eficcia jurdica das normas constitucionais.
A norma jurdica, obtida a partir da interpretao dos textos do direito positivo(enunciados prescritivos) e destes diferenciados porque a significao desses textos
(CARVALHO, 1993:7), pode ser analisada a partir de vrios planos, seqenciados. O plano
da existncia - a norma existe aps a publicao, antecedida do processo legislativo e da
sano do Executivo; o da validade a norma vlida se o processo legislativo transcorreu
dentro da legalidade e foi editada por rgo competente, nos limites de sua competncia
(contedo material) e com obedincia aos requisitos materiais e formais pr-estabelecidos no
ordenamento jurdico; o da vigncia norma vigente aquela que est apta a produzir efeitos,pode incidir sobre os fatos, juridicizando-os; e finalmente, o da eficcia, que a incidncia
da norma e no se confunde com a vigncia porque esta indica a possibilidade de incidir,
enquanto aquelaj realidade, incidncia concreta.
At o plano da vigncia, tem-se a norma incidvelsobre o fato, este ainda no
juridicizado; aps a eficcia tem-se a norma jincidente sobre o fato, agorajjuridicizado
(fato jurdico). A incidncia concreta, que est ligada aplicabilidade da norma
independentemente decomo os efeitos jurdicos se do se de forma efetiva ou no - aquitratada como eficcia jurdica. A questo de se saber como se processaram os efeitos
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jurdicos se de forma mais efetiva, com maior realizao do Direito, mais desempenho
concreto de sua funo social, ou no (BARROSO, 1996:83) -, diz respeito eficciasocial
ou efetividade, tratada no tpico seguinte.
Eficcia jurdica toda norma constitucional tem, posto que cada uma sempre
executvel por si mesma at onde possa, at onde seja possvel sua execuo (SILVA,
1999:76), cabendo apenas indagar quais os limites dessa execuo.
Inicialmente a doutrina norte-americana classificou as normas constitucionais,
quanto eficcia jurdica, em self-executing (auto-executveis, auto-aplicveis ou bastantes
em si) e not self-executing(no auto-executveis, no auto-aplicveis ou no-bastantes em si).
As primeiras com eficcia jurdica plena e aplicao imediata porque regulando diretamente
as matrias, e as segundas com eficcia jurdica limitada porque dependentes de outras
normas infraconstitucionais, pelo que de aplicao mediata.
Jos Afonso da Silva, considerando que no h norma constitucional alguma
destituda de eficcia (SILVA, 1999:81), julga insuficiente a diviso bipartite acima e prope
a sua diviso tricotmica.
Esta identifica, ao lado das normas de eficcia plena, aptas a produzirem todosos seus efeitos por si ss, j que o constituinte editou desde logo uma normatividade
completa, mais dois grupos, aqui empregando-se a nomenclatura proposta por Maria Helena
Diniz (DINIZ, 1998:113): o das normas constitucionais de eficcia restringvel, que podem
ter a eficcia jurdica contida (e no necessariamente a tem, como d a entender o termo
contida, empregado por Jos Afonso), a depender da legislao infraconstitucional
superveniente ou ainda de determinadas circunstncias postas na prpria norma (estado de
stio, por exemplo); e o grupo das normas constitucionais de eficcia jurdicacomplementvel ou dependente de complementao, cuja eficcia jurdica a menor de
todas, dado que o legislador constituinte estabeleceu uma normatizao cuja eficcia plena
depende da legislao infraconstitucional.
Maria Helena Diniz emprega uma imagem que permite visualizar com clareza
a diferena entre as normas de eficcia plena, restringvel e complementvel (DINIZ,
1998:113). a de dois crculos para cada um dos trs grupos de normas, sendo o primeiro
crculo correspondente ao instante da entrada em vigor da Constituio, e o segundocorrespondente a um tempo posterior, aps editadas as leis que restringem a eficcia jurdica
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das normas do tipo restringvel ou completam a do tipo complementvel. Para o grupo das
normas de eficcia plena o tamanho do crculo permanece o mesmo, a eficcia no se altera;
para as normas de eficcia restringvel, o crculo decresce e aps editadas as novas leis torna-se menor, isto , a eficcia jurdica diminuiu; finalmente, no caso das normas de eficcia
complementvel, d-se o contrrio: o crculo crescente e, aps as novas leis que
complementam a norma constitucional, torna-se maior, representando a eficcia jurdica que
aumentou.
Ressaltamos que mesmo as normas de eficcia jurdica complementvel
possuem uma eficcia mnima a partir da vigncia. Neste grupo esto inseridas as chamadas
normas constitucionais programticas, vinculadas disciplina das relaes econmico-
sociais, a exemplo dos art. 170, caput, e do art. 193 da Constituio, que mencionam ajustia
social como fim a ser alcanado. Tais normas, na verdade, tm importncia, pois procuram
dizerpara onde e como se vai, buscando atribuirfins ao Estado (SILVA, 1999:141). Assim,
se a Constituio brasileira prescreve para a ordem econmica a justia social, e esta no pode
se realizar com a concentrao de renda existente no Brasil, a nossa tributao no pode ser
neutra, como advogam os arautos do neoliberalismo. Em obedincia ao ditame constitucional,
o legislador deve (ou deveria, porque no o faz) complementar as normas constitucionaismencionadas acima com leis que permitissem obter, via tributao, uma melhor distribuio
de renda.
4. Efetividade das normas constitucionais.
Na lio de Miguel Reale, sob a perspectiva da teoria tridimensional do
Direito, a norma uma integrao de fatos segundo valores (REALE, 1993:510), ou seja, anorma valoriza fatos sociais. No se pode esquecer desta lio, sob pena de transformar-se o
Direito numa dogmtica estril e intil. Por outro lado, o Direito existe para realizar-se
(BARROSO, 1996:85). Mas realizar-se como? Efetivando os valores contidos nas normas,
a resposta.
Para a efetivao dos valores, carece que a norma tenha eficcia social,
expresso sinnima de efetividade. Enquanto eficciajurdica diz respeito aplicabilidade
da norma, eficciasocialrequer aplicabilidade com os resultados nela prescritos.
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Quando determinada conduta prescrita numa norma (por exemplo: recolher
aos cofres pblicos o imposto sobre a renda retido dos empregados) sempre observada,
todos se conduzem conforme a prescrio, tal norma efetiva. Neste caso, a norma est sendoaplicada sem a necessidade de emprego da sano prevista para a conduta oposta (no
exemplo, o no recolhimento do valor retido). Do mesmo modo, se, quando algum adota a
conduta oposta (no-recolhimento do valor retido), h a aplicao da sano (cobrana de
multa, que depois da cobrana judicial efetivamente paga), a norma mais uma vez est tendo
efetividade. De outro modo, se o contribuinte retm o valor e no paga, a multa aplicada
mas a cobrana judicial no logra xito (por morosidade do Fisco, por exemplo) e o valor no
recolhido, tem-se a aplicao da norma e eficcia jurdica (a norma incidiu), mas noeficciasocial (a norma no produziu os resultados esperados).
Kelsen, quando trata da diferena entre vigncia (para ele igual a validade) e
eficcia, se refere a uma norma que nunca e em parte alguma aplicada e respeitada, isto ,
uma norma como costuma dizer-se (que) no eficaz em uma certa medida... (KELSEN,
1987:11). Tal norma no tem efetividade, o que Kelsen chama simplesmente de eficciae
conceitua como o fato real de ela ser efetivamente aplicada e observada, da circunstncia de
uma conduta humana conforme norma se verificar na ordem dos fatos. (KELSEN,1987:11).
De modo similar, Luz Roberto Barroso afirma que a efetividade representa a
materializao, no mundo dos fatos, dos preceitos legais e simboliza e aproximao, to
ntima quanto possvel, entre o dever-ser normativo e o serda realidade social.
5. Princpio da moralidade na Constituio: norma jurdica de eficcia plena, quejuridicizou a moralidade na administrao pblica.
O princpio da moralidade na administrao pblica est prescrito no art. 37 da
Constituio Federal, cuja dico a seguinte (redao dada pela Emenda Constitucional n
19/1998, que acrescentou o princpio da eficincia): A administrao pblica direta e indireta
de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios
obedecer aos princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia.
Com o artigo acima, a moralidade na administrao pblica foi juridicizada, o
que era simples norma moral passou a ser norma jurdica. Integrando o direito positivo em sua
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lei maior, a moralidade deve ser necessariamente obedecida por todos da administrao
pblica, no cabendo mais invocar-se a diferena entre moral e direito.
Moral o que tico, razovel, justo; legal, o que est na lei, positivado, consta
da legislao. Tal diferenciao no serve mais de pretexto para no se atuar com tica na
administrao pblica brasileira. Se h desrespeito moralidade no mbito da administrao
pblica, tem-se a no-efetividade do princpio constitucional, e no a ausncia de eficcia
jurdica. Esta, como visto no item 3, inerente a qualquer norma jurdico-constitucional,
enquanto a efetividade depende dos resultados concretos, a partir da aplicao (ou no) da
norma jurdica.
O princpio no constava das Constituies anteriores. Na de 1967, o que se
tinha era apenas a possibilidade de lei complementar estabelecer os casos de inelegibilidade,
considerada a vida pregressa do candidato e a moralidade para o exerccio do mandato (art.
151, IV, com a redao da Emenda Constituio n 8, de 1977). Antes da Constituio de
1967, a moralidade foi mencionada no texto constitucional outorgado pelo Presidente da
Repblica Getlio Vargas em 1937, noutras circunstncias totalmente distintas da atual. Na
Carta de 1937, estava dito que a lei pode prescrever medidas para impedir as manifestaes
contrrias moralidade pblica e aos bons costumes, assim como as especialmente destinadas
proteo da infncia e da juventude. Como se v, nada tinha a ver com a imposio da
moralidade na administrao pblica.
Muito diferente acontece na Constituio de 1988, que alm do art. 37, acima
transcrito, ainda prev no seu art. 5, inciso LXXIII, que qualquer cidado parte legtima
para propor ao popular que vise a anular ato lesivo ao patrimnio pblico ou de entidade de
que o Estado participe, moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimnio
histrico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada m-f, isento de custas judiciais e do
nus da sucumbncia.
Empregando a classificao exposta no tpico 3, retro, o princpio da
moralidade inserido no art. 37 da Constituio de 1988 se classifica como norma jurdica de
eficcia plena. No necessita, pois, de outra norma infraconstitucional. Cabe administrao
pblica obedec-lo, em todos nveis da Federao (Unio, Estados, Distrito Federal e
Municpios) e em todos os rgos pblicos, incluindo os da administrao indireta
(autarquias, fundaes mantidas ou institudas pelo poder pblico, empresas pblicas e
sociedades de economia mista).
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6. No-efetividade do princpio da moralidade na administrao pblica.
Embora certo que a administrao pblica brasileira deve obedincia
moralidade, em face do mandamento constitucional, tambm verdade que no dia-a-dia h
imenso desrespeito pelo princpio.
Atitudes comuns na administrao pblica, como o emprego de parentes
(nepotismo), o jeitinho ou o favorecimento de amigos (mediante informaes ou
atendimentos privilegiados, por exemplo), implicam no desrespeito moralidade e nosmostram que o princpio no aplicado, ainda, com a efetividade necessria.
No meio poltico, inclusive, grassam as manobras visando driblar a moralidade.
Como exemplo maior, que em vez de dar mais efetividade ao princpio constitucional fez foi
mitig-lo, citamos a Lei Complementar n 64/1990, editada em razo do art. 14, 9 da
Constituio, que informa o seguinte (negrito acrescentado):
9 Lei complementar estabelecer outros casos de inelegibilidade e os
prazos de sua cessao, a fim de proteger a probidade administrativa, a
moralidade para exerccio de mandato considerada vida pregressa do
candidato, e a normalidade e legitimidade das eleies contra a influncia do
poder econmico ou o abuso do exerccio de funo, cargo ou emprego na
administrao direta ou indireta. (Redao dada pela Emenda Constitucional
de Reviso n 4, de 1994)
Pois bem: a Lei Complementar n 64/1990 s impede a candidatura daqueles
que tm condenao criminal, cvel ou no mbito da Justia Eleitoral transitada em julgado.
Com a exigncia de que o processo tenha findo, admite a candidatura de inmeras pessoas
que respondem a inmeros processos. Cabe indagar, ento: ser que ao menos alguns desses
candidatos atendem moralidade? Cremos que no! Para ns a anlise devia ser feita caso a
caso, como tentou o Tribunal Superior Eleitoral do Rio de Janeiro, sendo que ao se constatar
muitos processos ou a condenao em tribunais superiores devia haver o impedimento
candidatura. Como isso, no se pretende transformar rus em condenados, mas sim zelar pela
moralidade, cujo desrespeito nem sempre advm da prtica de crimes. Para se atuar no campo
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/ECR/ecr4.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/ECR/ecr4.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/ECR/ecr4.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/ECR/ecr4.htm#art1 -
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da imoralidade, basta que haja, por exemplo, desonestidade ou defesa de interesses
privados, em detrimento do interesse comum.
7. Corrupo ou imoralidade: como combat-la, dando efetividade ao princpio damoralidade.
Demonstrado que o princpio constitucional da moralidade norma de jurdica
eficcia plena, cuja efetividade, todavia, est aqum do desejvel, se faz necessrio olhar a
prtica da administrao pblica brasileira e propor algumas medidas que, sendoimplementadas, com certeza contribuiro reduziro a corrupo ou imoralidade.
Corrupo o comportamento que se desvia dos deveres de uma funo
pblica, devido a interesses privados (pessoais, familiares, de grupo social). sempre imoral
e, muitas vezes, ilegal. Da se confundir com imoralidade. Para combat-la, ao menos as
seguintes medidas so necessrias:
- publicidade (inclusive prestao de contas via internet);
- vigilncia da sociedade e denncias, quando necessrias;
- atuao independente do ministrio pblico;
- atuao do Judicirio com mais ateno moralidade, sem se restringie
estrita legalidade;
- julgamentos menos demorados;
- avaliao peridica e objetiva de todos os servios e servidores pblicos;
- proibio, aos servidores pblicos, de atuao ora no exerccio do cargo ou
funo pblica, ora no setor privado, quando licenciados (so os chamados anfbios);
- servidores concursados e estveis, valorizados em funo de mrito
(meritocracia) e no apenas do tempo de servio, como si acontecer;
- reduo dos comissionados;
- auditorias internas e externas;
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- elaborao e divulgao de cdigos de tica nos rgos pblicos e
implantao das comisses de tica;
- divulgao da lista suja dos candidatos a cargos eletivos;
- vedao ao nepotismo, a comear pela fiel obedincia Smula Vinculante
do Supremo Tribunal Federal;
- mais discusses, debates e divulgao em torno do princpio constitucional da
moralidade, como fez o PROJETO LEGAL.
BIBLIOGRAFIA
BARROSO, Lus Roberto. O direito constitucional e a efetividade de suas normas. Limites epossibilidades da Constituio Brasileira. Rio de Janeiro, Renovar, 1996.
BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurdico, trad. Maria Celeste Cordeito Leite dosSantos. Braslia, Editora Universidade de Braslia, 1997.
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QUEIROZ, Luis Cesar Souza de. Sujeio passiva tributria. Rio de Janeiro: Forense, 1998
REALE, Miguel.Filosofia do Direito. So Paulo, Saraiva, 1993.
SILVA, Jos Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais. So Paulo, MalheirosEditores, 1999.
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