ISSN 2177-8892 2074
PRIMEIRO GRUPO ESCOLAR DO MUNICÍPIO DE GADO BRAVO/PB:
DESBRAVANDO A SUA HISTÓRIA
Ana Maria Henrique de Souza (UFCG)
Niédja Maria Ferreira de Lima (UFCG)
1 Introdução
Estudos historiográficos da educação brasileira que tratam da origem,
organização e expansão dos primeiros grupos escolares no país, revelam que esse novo
modelo de organização de ensino primário surgiu, primeiramente, no estado de São
Paulo, no ano de 1894. Foi introduzido pelos republicanos e decorreu da organização do
sistema público de ensino, sendo adotado aos poucos por outros estados brasileiros. Na
Paraíba, o primeiro grupo escolar foi inaugurado no ano de 1916, marcando um lento
processo de substituição das cadeiras isoladas pelos grupos escolares (PINHEIRO,
2002). A intenção deste estudo foi o de propiciar conhecimentos acerca da conjuntura
histórica, política e educacional que culminaram no processo de criação deste modelo
escolar, nos contextos brasileiro e paraibano, no componente curricular Fundamentos
Históricos da Educação II, do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), ofertada aos alunos do período
2013.2. Para isso, tomamos como base autores que tratam da história da educação
brasileira e paraibana, mais especificamente, os que abordam a temática das primeiras
instituições escolares da Paraíba (ARANHA, 2006; SAVIANI, 2011; PINHEIRO, 2002;
PINHEIRO E CURY, 2012; MELO, 1996; SILVA, 2009;VEIGA, 2007; RODRIGUES,
2012).
Assim, pretendemos neste texto relatar a experiência vivenciada na referida
disciplina que abordou, dentre os conteúdos, a história da educação brasileira e
paraibana com os objetivos de discutir a construção histórica do trabalho docente na
escola pública paraibana e implementar um processo de articulação entre ensino e
pesquisa. Nossas pretensões aqui são as de buscar os vestígios da primeira instituição de
ISSN 2177-8892 2075
ensino primário, o Grupo Escolar Municipal São José de Gado Bravo/PB, município
onde nascemos e moramos.
2 Origem dos grupos escolares na Paraíba: apontamentos teóricos
O novo modelo de organização escolar na Paraíba, data do ano de 1916, quando
foi inaugurado o primeiro grupo escolar marcando, assim, o princípio de um lento
processo de substituição da era das cadeiras isoladas para era dos grupos escolares
(PINHEIRO, 2002). Conforme o autor, esse novo modelo de instituição escolar surgiu
no estado de São Paulo em 1894 e passou a ser adotado como modelo para outras
unidades da Federação. No entanto,
o processo de implantação e expansão desse novo tipo de instituição
escolar ocorreu de forma desigual e atendeu as necessidades sociais e
culturais condicionadas a particularidades políticas e econômicas e no
nível de organização escolar existente ema cada estado[...] (
PINHEIRO, 2002,p.125).
Ainda conforme o autor, no estado da Parahyba do Norte, no transcorrer de
1916 a 1929, foram criados 14 grupos escolares, cinco localizados na capital João
Pessoa e os demais nas maiores cidades do interior, quais sejam: Umbuzeiro, Itabaiana,
Guarabira, Campina Grande, Ingá, Princesa Isabel, Areia e Sousa. Com efeito, a
implantação desses grupos escolares seguiu ritmos e especificidades próprias das
municipalidades e situou-se entre o fim do Império e a primeira metade da República,
inaugurando o novo modelo de ensino primário no Brasil. O projeto político e
educacional republicano difundido nas ideias de Benjamin Constant, Manoel Bomfim e
Rui Barbosa, refere-se ao ideário de uma educação que tinha o propósito de ser
disseminada a todo povo brasileiro como forma de assegurar uma transformação que,
grosso modo, na visão desses e outros pensadores da época, propiciaria o progresso.
Portanto, a ideia era civilizar, moralizar, educar e regenerar a sociedade para assim
formar uma nação adiantada. Nesse contexto, a ideia de construção e transformação da
nação brasileira como projeto eminentemente educacional, se consubstancia no objetivo
de difundir o ensino a toda população.
ISSN 2177-8892 2076
[...] Por todas as regiões do país verificam-se semelhanças nas
representações e nas práticas discursivas em torno da importância
política e social da instrução pública vinculada às expectativas de
desenvolvimento econômico, de progresso, de modernização e de
manutenção do regime republicano [...]. (SOUZA; FARIA FILHO,
2006, p.29)
Convém registrarmos ainda as características físicas dos grupos escolares, pois
os projetos arquitetônicos da época acompanharam o processo de modernização da
sociedade brasileira nas décadas de 1920 a 1930, particularmente, aqueles construídos
nos bairro de elite ou nos grandes centros das cidades. Assim, como esclarecem
Pinheiro (2002) e Veiga (2007), de uma maneira geral, os grupos escolares
apresentavam como características físicas: prédios escolares, projetados com base na
racionalização do espaço interno, com várias salas de aula, sala de direção, sala de
professores, secretaria, laboratórios didáticos, museu, biblioteca, áreas de recreação,
refeitório e/ou cantina, quadra para jogos, etc.
Foi nesse contexto, que os primeiros grupos escolares paraibanos foram alocados
em suntuosas edificações. Pinheiro (2002) cita o caso específico do Grupo Escolar Dr.
Thomaz Mindello, criado em 1916 e localizado no centro da capital João Pessoa, e do
Grupo Escolar Solon de Lucena, fundado no ano de 1924, situado na principal Avenida
de Campina Grande. O referido autor ainda esclarece que os grupos escolares não
apenas atenderam às exigências estéticas da elite, mas também se prestaram a
modernizar e embelezar a capital paraibana.
Compartilhando desse posicionamento, Veiga (2007, p.247) ressalta que:
À medida que se disseminaram, os grupos escolares marcaram de
forma significativa a paisagem urbana, especialmente nos grandes
centros, que devido ao estilo arquitetônico neoclássico e à importância
dos prédios, quer pela presença dos estudantes nos desfiles e
festividades cívicas. Essa visibilidade não implicou, porém, a
democratização efetiva do acesso à escola. Amplos setores da
população brasileira continuavam excluídos do processo educacional.
Outro aspecto a ser considerado na passagem do modelo de organização escolar
das cadeiras isoladas para o dos grupos escolares é o contexto político e econômico em
que foram construídos: o das oligarquias cafeeiras, dos produtores de leite -“política
café-com-leite”- aliados aos produtores de açúcar nordestinos, cujo clientelismo se
ISSN 2177-8892 2077
manifestava em todos os níveis da administração pública. Estas forças conservadores,
segundo Pinheiro (2002), passaram a utilizar nomes das lideranças (dos coronéis) para
denominar esse novo tipo de instituição escolar –os grupos escolares. Com efeito, as
escolas públicas serviram para marcar o poder das oligarquias, cujos nomes seriam
sempre lembrados, portanto, passaram a ser utilizadas como veículo de propaganda
política.
Esse perfil oligárquico da sociedade paraibana repercutiu na elaboração dos
dispositivos legais que definiram, conforme Rodrigues (2012), tanto as modalidades e
procedimentos de contratação de professores quanto os requisitos necessários, de cunho
moralizante, a serem preenchidos pelos aspirantes ao cargo de professor primário, na
Paraíba oitocentista. Esta autora também constatou em seus estudos que
as prescrições legais findam por se constituírem como exemplos de
peças de retórica, uma vez que, ao longo do período estudado,
persistem formas clientelistas, patrimonialistas, de tutela e favor, na
escolha de pessoas para o cargo de professores primários, em
consonância com o perfil da sociedade paraibana da época, sujeita ao
“mandonismo dos coronéis” (RODRIGUES, 2012,p.33).
3 Grupo Escolar São José: apontamentos históricos
Antes de apresentarmos os primeiros apontamentos sobre a primeira instituição
escolar de Gado Bravo/PB, cabe conhecermos um pouco de sua história: é um pequeno
município do cariri paraibano, que conta com 8.236 habitantes1, a grande maioria
residente na zona rural, e tem como principal atividade econômica a agricultura e a
pecuária como fonte de subsistência. Teve seu povoamento iniciado no fim do século
XIX e início do século XX, com migrações de origem endógena e exógena,
principalmente do estado de Pernambuco, não se sabe por que, talvez pela proximidade
da fronteira interestadual. Já foi distrito de Umbuzeiro e de Aroeiras, e se emancipou em
29 de abril de 1994. A principal festa gado-bravense é a homenagem ao santo padroeiro
1 IBGE, 2010. Disponível em http://cidades.ibge.gov.br/
ISSN 2177-8892 2078
da cidade "São José”, que recebe turistas da região. No âmbito cultural, a vaquejada,
realizada no Parque Sem Boi, é um evento muito importante para a cidade. Ainda tem
uma banda marcial cujo nome é “Banda Marcial 29 de abril de 1994”, e que no mês de
setembro viaja por várias cidades circunvizinhas para puxar os desfiles cívicos. No
âmbito educacional, apesar de o município contar com escolas de Ensino Fundamental e
Ensino Médio, uma Escola Específica Bilíngue para Surdos, e com programas
educacionais do MEC, ainda tem um percentual relevante de analfabetos.
Para desenvolvermos o estudo, recorremos às fontes documentais e colhemos
depoimentos de profissionais que trabalharam na instituição. Nessa etapa, nos
deparamos com a carência de material documental oficial (Decreto de criação) dos anos
iniciais dessas escolas, mas tivemos acesso à fotografias que retratavam momentos
importantes do grupo escolar.
Gado Bravo ainda era distrito de Aroeiras quando foi construído o Grupo
Escolar Municipal São José. Não encontramos registros documentais oficias da data de
criação deste grupo escolar, mas segundo relato da antiga diretora, Dona Maria Eliete
Oliveira Barbosa, sua fundação data de aproximadamente do ano de 1972. Ainda
segundo a diretora, a instituição recebeu esse nome em homenagem ao Santo Padroeiro
do local São José. Em relação à arquitetura do prédio verificamos que, apesar de
encontrar-se instalado no mesmo endereço, na Rua José Mariano Barbosa no centro da
cidade, houve mudanças na construção original, pois de um estilo arquitetônico simples
com número inferior de salas de aula- duas-; teve sua estrutura ampliada para atender às
novas demandas educacionais da população gado-bravense. Portanto, o prédio original
(Foto 1) era composto apenas por duas salas de aulas e um banheiro. Nos primeiros
anos de funcionamento não havia cantina nem secretaria. O corpo docente e
administrativo, contava com oito professores, uma secretaria, um vigia, duas
merendeiras e uma diretora. A direção do grupo escolar, durante os anos de 1979 a
1990, coube a professora Maria Eliete Oliveira Barbosa. Portanto, foram 11 anos à
frente da gestão escolar.
Conforme podemos observar na foto 1, a estrutura arquitetônica do grupo escolar
era muito simples, um padrão inferior de construção desprovido de outros ambientes
didático-pedagógicos, não correspondendo ao padrão de arquitetura pedagógica
ISSN 2177-8892 2079
projetado para grupos escolares de outras médias e pequenas cidades do interior
paraibano (João Pessoa, Campina Grande, Umbuzeiro, Areia, Bananeiras, Pombal,
Guarabira, entre outras), adotadas desde os anos de 1930, quando o modelo de
organização escolar caracterizado pelos grupos escolares passou a predominar na
Paraíba. Inferimos que o fato de o Grupo Escolar São José ter sido planejado para
atender a um número pequeno de alunos da classe popular gado-bravense contribuiu
para que não houvesse um investimento maior no projeto arquitetônico, pois Gado
bravo ainda era distrito de Aroeiras.
Como vimos nos apontamentos teóricos, particularmente, nos estudos realizados
por Pinheiro (2002), o caráter permanente de expansão dos grupos escolares no “estado
da Parahyba do Norte”, no período que se estendeu de 1916 a 1929, os primeiros grupos
escolares foram alocados em suntuosas edificações, adaptadas ou construídas em bairros
de elite ou nos centros da cidade, á exemplo do Grupo Escolar Dr. Thomaz Mindello,
criado em 1916 e localizado no centro da capital João Pessoa, e do Grupo Escolar Solon
de Lucena, fundado no ano de 1924, situado na principal avenida de Campina Grande,
que assegurou a implantação desse modelo de escola primária no interior do estado.
No ano de 1988, o grupo escolar mudou o nome para Escola Municipal de
Ensino Fundamental Pe. Godofredo Joosten em homenagem ao Padre holandês que por
muitos anos permaneceu na cidade e fundou a Igreja local. Sua estrutura física atual é
composta por vinte e nove ambientes, sendo dezenove salas de aula e dez de apoio:
biblioteca, sala de vídeo, sala de informática além, de sala de professores, secretaria,
coordenação de área, coordenação da equipe técnica, sala de arquivo, cozinha e
almoxarifado. Possui ainda, uma quadra poliesportiva, dois pátios um coberto e outro ao
ar livre (Foto 2).
ISSN 2177-8892 2080
Nas informações contidas nos documentos oficias, bem como nos depoimentos
do corpo técnico-pedagógico, foi possível identificar alguns aspectos relativos à
organização de ensino no Grupo Escolar São José e a atuação e formação das
professoras e da diretora. O primeiro aspecto, diz respeito às turmas que eram ofertadas:
uma turma de preliminar; a que antecedia a alfabetização A, B e C; uma turma de 1ª, 2ª,
3ª e 4ª séries, e quatro professoras atuando em cada turno. Quanto ao número se alunos
matriculados nos primeiros anos de funcionamento do grupo escolar, pudemos ver nos
registros de matrícula que perfazia uma média de 30 alunos por turma, do sexo feminino
e masculino. Dona Elite, revelou que, no ano em que ela foi designada para administrar
o grupo escolar, as dificultadas eram imensas, desde a vinda de alunos que tinham que
se descolavam de várias formas dos sítios para virem estudar no então distrito de Gado
Bravo; até a falta de espaços para secretaria e cozinha onde as merendeiras deveriam
cuidar da merenda dos alunos. Por isso, as merendeiras da época Dona Ana Andrade e
Dona Josefa Boaventura, faziam a comida em suas respectivas casas e levavam a panela
na cabeça para a escola. Também o grupo escolar não dispunha de recursos materiais
para as professores trabalharem com os alunos, tendo muitas vezes que se deslocarem à
Aroeiras, sede do município, para pegá-los. Em relação aos materiais em que eram
feitas as matrículas dos alunos, Dona Eliete nos mostrou folhas de cadernos avulsas
com a lista de matriculados, pois, naquela época, não tinha ficha de matrícula oficial
disponível no distrito. Vejamos o depoimento da diretora:
Foto 1- Grupo Escolar Municipal São José,
prédio original.
Fonte: Profa Maria Eliete Oliveira Barbosa
Foto 2: Escola Municipal de Ensino
Fundamental Pe. Godofredo Joosten após a
reforma e ampliação nos anos 1990.
Fonte: Profa Maria Eliete Oliveira Barbosa
ISSN 2177-8892 2081
Quando eu cheguei a esse grupo escolar, funcionava as séries
preliminar, alfabetização, turmas A, B e C; 1ª, 2ª, 3ª e 4ª series, com
quatro professoras em cada turno. Depois de um ano, foi que eu
reorganizei por turno, aí passou a funcionar umas séries na parte da
manha e outras na parte da tarde, só não me lembro exatamente quais
ficaram de manhã e quais ficaram a tarde. Como eu havia solicitado a
secretaria de educação a construção de mais uma sala de aula e uma
cantina e meu pedido foi atendido aí sim as coisas na escola ficaram
melhor, porque como eu não tinha espaço para a secretaria eu coloquei
uma cortina em uma sala de aula para dividir e fiz a minha secretaria.
(Profa Maria Eliete Oliveira Barbosa)
Como se pode observar, o funcionamento do Grupo Escolar São José foi
marcado por muitas dificuldades, dando a impressão de um abandono por parte dos
poderes púbicos que administravam aquele distrito. Tal fato pode estar relacionado ás
condições locais já que se tratava de uma comunidade localizada no meio rural,
economicamente pobre, subordinada ao poder municipal. Assim, embora a proposta de
criação de uma instituição escolar visasse atender às demandas da população
gadobravense e manter as crianças no campo, não provinha a instituição das reais
condições pedagógicas e matérias que pudessem favorecer o efetivo funcionamento do
Grupo Escolar Municipal São José.
Quanto ao aspecto da formação dos profissionais que trabalharam no grupo
escolar, obtivemos informações de Dona Eliete sobre sua formação. Ela nos disse que
quando assumiu a direção do grupo havia concluído apenas a 4ª serie do ensino básico e
só depois que já estava na direção foi que cursou o Logos I e II, conforme mostra seu
depoimento:
No tempo em que fui designada a ser diretora do São José pelo
Prefeito Gilberto Bezerra tinha apenas a 4ª serie e já era professora no
sitio onde morava, [...] não imaginava que fosse tão complicado e
trabalhoso, porque além de ser a diretora do São José, o único grupo
do município, era ainda a coordenadora de todas as escolas da região.
Essas escolas funcionavam em casas normais, e tinha que todo mês
fazer planejamento com essas professoras; fazia reuniões com
professores, pais e responsáveis. Posso dizer que aceitar a direção foi
aceitar mais trabalho e continuar ganhando o mesmo. (Profa. Maria
Eliete Oliveira Barbosa)
ISSN 2177-8892 2082
Como podemos constatar a nomeação da referida professora para responder pela
direção do grupo escolar não se deu por concurso público, nem tampouco a exigência de
formação específica para atuar no magistério. Além disso, o próprio governo pagava
mal aos professores e não oferecia condições adequadas para o funcionamento do grupo
escolar. Esses elementos dão indícios de que nesta região “prevalecia a tradição
pragmática de acolher professores sem formação a partir do pressuposto de qeu não
havia necessidade de nenhum método pedagógico específico” (ARANHA, 2006, p.227).
A discussão em torno da formação de professores para o magistério foi questão
central no Brasil republicano (1889). Segundo Aranha (2006), com a descentralização
do ensino fundamental, a criação das escolas normais dependia da iniciativa pioneira de
alguns estados, como o de São Paulo e também do Rio de Janeiro, que serviram de
modelo para a instalação dos cursos nos demais estados brasileiros. Na Paraíba, Araújo
(2010) afirma que a criação da Escola Normal
[foi atravessada] pelo ideário da modernidade, do fortalecimento do
clientelismo e do sistema oligárquico, por disputas políticas diversas,
dificuldades econômicas e reclamações sobre as condições precárias
da instrução pública e sobre o despreparo dos professores primários na
realidade educacional paraibana (ARAÚJO, 2010, p. 151).
Nesse contexto, merece destaque ainda o espaço privilegiado ocupado pelas
comemorações cívicas no período de gestão do grupo escolar de Dona Eliete (1979 a
1990).
Na semana do dia da Independência era trabalhado com as crianças o
sentido de se comemorar a Independência do país, na qual os alunos
faziam o hasteamento da bandeira e fazia o desfile cívico, uma vez
que estavam vivendo o período da Ditadura Militar, e a escola era a
grande responsável na perpetuação da ordem no país.
(Profa Maria Eliete Oliveira Barbosa)
Visualizamos no depoimento acima aspectos de um processo de elaboração do
imaginário da república no chão da escola primária. O fato de a escola deter, naquela
época, a credibilidade social, escolarizou práticas como, por exemplo, as festas cívicas
Essas festas escolares permitiam a interação não apenas dos alunos, mas de toda a
comunidade a partir e de dentro da escola como centro formativo à vida pública
ISSN 2177-8892 2083
(FARIA FILHO, 2005, apud CIAMPI & GODOY, 2014). Nos anos de 1964 a 1985, os
brasileiros viveram os “anos de chumbo”, que foram danosos à cultura, à educação, e a
economia-política do país. Portanto, a intenção explícita da ditadura militar, segundo
Aranha (2006, p.314) era “educar politicamente a juventude revelou-se no decreto de lei
baixado pela Junta Militar em 1969, que tornou obrigatório o ensino de Educação Moral
e Cívica”. Essa concepção é reforçada em outro depoimento em que a Profa Eliete
relata os preparativos para o dia do evento.
Eu fazia convites para os pais, para as autoridades da região, para o
prefeito, convidando para o estiramento da bandeira, e depois para os
Desfiles Cívicos. Os alunos cantavam o Hino Nacional com a mão no
peito, enquanto os soldados hasteavam a bandeira. Eu formava uma
fila com os alunos de um lado, pais de outro lado, professores também
em posição para poder cantar e os soldados estiarem a bandeira. Só
descansava quando eles dissessem que podia. Assim, realizávamos
esse momento cívico todos os anos, ás 8:00 horas da manhã, e depois
do hasteamento eu sendo a diretora do grupo escolar, discursava a
respeito da importância da Independência para o nosso país.
(Profa Maria Eliete Oliveira Barbosa)
As fotografias que seguem são reveladoras da finalidade educativa das festas e
comemorações cívicas para a vida da sociedade gadobravense.
Foto 3: A diretora Profa Eliete e os
alunos do Grupo Escolar São José no
desfile cívico de 7 de Setembro de 1990.
Foto 4: Alunos do grupo escolar
participando de outros desfile cívico
de 07 de Setembro de 1990.
Fonte: Arquivo da Profa Eliete
ISSN 2177-8892 2084
4 Considerações finais
Mediante os estudos realizados na disciplina de Fundamentos Históricos da
Educação II, consideramos que a proposta de desbravarmos e conhecermos a trajetória
histórica das primeiras escolas implantadas na Paraíba e, particularmente, no município
onde moramos (Gado Bravo) nos possibilitou revelar traços singulares da história do
Grupo Escolar São José de Gado Bravo/PB. Reconhecemos os grandes desafios
enfrentados pela gestão para manter a instituição funcionando, e o grupo escolar como
espaço formativo à vida dos estudantes desta comunidade escolar e, por consequência,
de assimilação de princípios voltados ao espírito cívico e morais. Enfim, nos permitiu
ainda uma imersão em nossas raízes educacionais, pois compartilhamos do
entendimento de Aranha (2006, p.19) de que é no “passado que se fundam as raízes do
presente”.
5 Referências
ARANHA, Maria Lúcia Arruda. História da educação e da pedagogia. São Paulo:
Moderna, 2006.
ARAÚJO, Rosy Mary de Souza. Escola Normal na Parahyba do Norte: movimento e
constituição da formação de professores no século XIX. Tese. Programa Pós-Graduação
em Educação, UFPB, João Pessoa, 2010. 320 f. Digitada.
PINHEIRO, Antonio Carlos Pereira. Da era das cadeiras isoladas à era dos grupos
escolares na Paraíba. Campinas-SP: Universidade São Francisco, 2002. (Coleção
educação contemporânea).
PINHEIRO, Antônio Carlos Ferreira; CURY, Cláudia Engler (orgs.). Histórias da
educação da Paraíba: rememorar e comemorar. João Pessoa: Editora
Universitária/UFPB, 2012.
RODRIGUES, Melânia Mendonça. Traços da profissionalização docente na província
da Parahyba do Norte (1830-1886). In: PINHEIRO, Antônio Carlos Ferreira; CURY,
Cláudia Engler (orgs.). Histórias da educação da Paraíba: rememorar e comemorar.
João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2012.
SAVIANI, Dermeval et. al. O legado educacional do século XX no Brasil. Campinas,
SP: Autores Associados, 2004.
ISSN 2177-8892 2085
SILVA, Vivia de Melo. Grupo escolar Sólon de Lucena: um novo modelo de
escolarização primária para a cidade de Campina Grande- Pb(1924-1937). – João
Pessoa, 2009. Disponível: http://www.ce.ufpb.br/ppge/Dissertações.
SOUZA, Rosa Fátima de. FARIA FILHO, Luciano Mendes de. A contribuição dos
estudos sobre grupos escolares para a renovação da História do Ensino Primário no
Brasil. In: VIDAL, Diana Gonçalves (org.). Grupos escolares: cultura escolar primária
e escolarização da infância no Brasil (1893-1971). Campinas, SP: Mercado de letras,
2006, p.21-56.
VEIGA, Cynthia Greive. História da Educação. São Paulo: Ática, 2007.
Site consultado
http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe7/pdf/historiadasinstituicoesepraticaseducativas/
emnomedaordem-asescolasmunicipaisdeprimeirograu.pdf. Data de acesso: 14 de
setembro de 2014.