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CRISTIANE CUNHA SODERINI FERRACCIU
PREVALÊNCIA DE SOBREPESO E OBESIDADE EM
ADULTOS MAIORES DE DEZOITO ANOS NO ESTADO
DE PERNAMBUCO – 1997
Recife
2005
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CRISTIANE CUNHA SODERINI FERRACCIU
Prevalência de sobrepeso e obesidade em adultos maiores de
dezoito anos no Estado de Pernambuco – 1997
Dissertação apresentada ao colegiado
do Programa de Pós-Graduação em Nutrição do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, para obtenção do grau de Mestre em Nutrição com área de concentração em Saúde Pública.
Orientador: Prof. Dr. Pedro Israel Cabral de Lira
Recife
2005
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Ferracciu, Cristiane Cunha Soderini
Prevalência de sobrepeso e obesidade em adultos maiores de dezoito anos no Estado de Pernambuco – 1997 / Cristiane Cunha Soderini Ferracciu. – Recife : O Autor, 2005.
xiv, 60 flhas : il., tab., gráf.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCS. Nutrição, 2005.
Inclui bibliografia e anexos.
1. Nutrição – Saúde pública. 2. Sobrepeso e obesidade – Estado nutricional – Adultos. 3. Excesso de peso – Fatores demográficos e sócio-econômicos. 4. Análise bioquímica – Níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos. I. Título.
612.39 CDU (2.ed.) UFPE 612.3 CDD (22.ed.) BC2005-410
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Eu sei que se aqui cheguei
Se conquistei o que eu queria
Cheguei por que teimei
Porque apostei na travessia...
Não fui perfeita
Errei, mas procurei fazer direito
Acabei de alma pura.
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A meus pais Luiz de França (em memória) e Rosa Cunha
por todo o amor, exemplo de vida, incentivo
e cuidado, durante toda a minha vida.
Tudo começou em vocês...
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7
A Deus, presença constante em minha vida, que permitiu que tudo
acontecesse.
A Fabiano, amor incondicional, sempre incentivando e apoiando o
meu enriquecimento profissional e cada vitória conquistada, com muito
carinho e compreensão.
Ao meu orientador Professor Pedro Israel, uma pessoa maravilhosa.
Agradeço a confiança em mim depositada, a ajuda na conquista de um
sonho, seu apoio constante e disponibilidade entre tantos afazeres
científicos. Um grande incentivador que me acolheu. Muito Obrigada!
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8
Ao meu irmão Nelson, apesar da distância, tenho certeza da sua
confiança e admiração em mim depositada.
À minha sobrinha Laura, um presente de Deus na minha vida.
À Profa. Sylvia Romani pelas sábias intervenções e contribuições
em meu trabalho e pela disponibilidade para comigo.
Aos Professores da Pós-Graduação em Nutrição, que me fizeram
transpor outros horizontes, fazendo-me ultrapassar as fronteiras da
Fonoaudiologia.
Às colegas de turma do Mestrado, pela convivência e incentivo,
sobretudo as amigas fonoaudiólogas Daniele de Andrade Cunha e Simone
Albuquerque, companheiras nos momentos difíceis e alegres deste
trabalho.
À secretária da Pós-Graduação Neci, pelo carinho e presteza aos
alunos da Pós- Graduação em Nutrição.
Às funcionárias do Laboratório de Nutrição em Saúde Pública, Ana
Cristina e Rosa, por tudo.
Aos Professores do Curso de Fonoaudiologia da UNCISAL, a
minha gratidão pelos momentos em que assumiram minhas atividades, em
9
9
especial à Coordenação do Curso de Fonoaudiologia que permitiu minha
ausência para elaboração deste trabalho.
Às amigas fonoaudiólogas da UNCISAL, pela presença constante
nos momentos difíceis de angústia e desânimo. Agradeço o carinho, o
incentivo e os conselhos. Vocês foram essenciais neste processo!
A todos que contribuíram e possibilitaram direta ou indiretamente à
realização deste trabalho.
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10
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS X
LISTA DE TABELAS XI
LISTA DE GRÁFICOS XII
RESUMO XIII
ABSTRACT XIV
1-INTRODUÇÃO 1
1.1- Caracterização do problema 2
1.2- Indicadores antropométricos 4
1.3- Marco histórico 5
1.4- Prevalência e distribuição temporal e espacial do sobrepeso e
da obesidade 7
1.4.1- Nos países em desenvolvimento 7
1.4.2- Nos países desenvolvidos 13
2- JUSTIFICATIVA 16
3- OBJETIVOS 18
3.1- Geral 19
3.2- Específicos 19
4- MÉTODOS 20
4.1- Local do estudo 21
4.2- Desenho do estudo 21
4.3- População e amostra 22
4.4- Coleta de dados 22
11
11
4.4.1- Dados antropométricos 23
4.4.2- Avaliação do estado nutricional 24
4.4.3- Análises bioquímicas 24
4.5- Variáveis do estudo 25
4.6- Processamento e análise de dados 27
4.7- Considerações éticas 27
5- RESULTADOS 28
5.1- Características gerais da população por local de residência,
sexo e idade 29
5.2- Estado nutricional e fatores sócio-econômicos e demográficos 30
5.3- Estado nutricional e níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos 33
6- DISCUSSÃO 36
6.1- Características gerais da população estudada 37
6.2- Avaliação do estado nutricional 38
6.3- Níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos e estado nutricional 43
7- CONCLUSÕES 49
8- CONSIDERAÇÕES GERAIS E RECOMENDAÇÕES 51
9- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 54
10- ANEXOS
O presente trabalho segue as normas propostas
pelo Colegiado da Pós-Graduação em Nutrição.
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12
AOA American Obesity Association
DCV Doenças cardiovasculares
DCNT Doenças crônicas não-transmissíveis
ENDEF Estudo Nacional de Despesa Familiar
EPI INFO Programa de Epidemiologia para microcomputadores
HAS Hipertensão Arterial Sistêmica
HDL Hight Density Lipoprotein
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IMC Índice de Massa Corporal
IR Interior Rural
IU Interior Urbano
LDL Low Density Lipoprotein
NCEP National Cholesterol Education Program
NIDDM Diabete Mellito Não Insulino Dependente
OMS Organização Mundial da Saúde
PNSN Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição
POF Pesquisa de Orçamentos Familiares
PPV Pesquisa de Padrões de Vida
RMR Região Metropolitana do Recife
SUS Sistema Único de Saúde
WHO World Health Organization
X
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13
1. Distribuição dos adultos maiores de 18 anos, segundo o local
de residência. Pernambuco, 1997. 29
2. Distribuição dos adultos maiores de 18 anos, por faixa etária e
sexo. Pernambuco, 1997. 30
3. Estado nutricional dos adultos maiores de 18 anos segundo o
sexo e a faixa etária. Pernambuco, 1997. 32
4. Estado nutricional dos adultos maiores de 18 anos, segundo o
grau de alfabetização, nível de escolaridade (anos) e condição
de trabalho. Pernambuco, 1997. 33
5. Níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos, com relação ao
estado nutricional, em adultos de 30 a 69 anos. Pernambuco,
1997. 34
6. Níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos, com relação ao
estado nutricional, segundo o sexo, em adultos de 30 a 69 anos.
Pernambuco, 1997. 35
XI
14
14
1 - Estado nutricional dos adultos maiores de 18 anos, segundo o
local de residência. Pernambuco, 1997. 31
2 - Níveis de glicose, com relação ao estado nutricional (IMC) em
adultos de 30 a 69 anos. Pernambuco, 1997. ANEXO
3 - Níveis de colesterol, com relação ao estado nutricional (IMC)
em adultos de 30 a 69 anos. Pernambuco, 1997. ANEXO
4 - Níveis de triglicerídeos, com relação ao estado nutricional
(IMC) em adultos de 30 a 69 anos. Pernambuco, 1997. ANEXO
XII
15
15
As doenças crônicas não transmissíveis são, atualmente, as responsáveis pela maior parcela de óbitos e de custos elevados com assistência hospitalar, no Brasil. São doenças de etiologia multifatorial das quais compartilham vários fatores de risco modificáveis, como o tabagismo, a inatividade física, a alimentação inadequada, a obesidade e a dislipidemia. O presente estudo objetivou estudar a prevalência do sobrepeso e obesidade e dos níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos em maiores de dezoito anos, no Estado de Pernambuco. Para este fim, utilizou uma sub-amostra de 2.786 adultos do banco de dados da II Pesquisa Estadual de Saúde e Nutrição, 1997. O desenho do estudo foi do tipo transversal e a coleta de dados foi realizada através de questionário, medidas antropométricas (peso e altura) e exames bioquímicos. O estado nutricional foi avaliado pelo IMC (kg/m²). Para as dosagens de glicose foi utilizado o Glucometer 4 e as dosagens de colesterol e triglicerídeos foram analisadas pelos métodos de Huang modificado e Soloni modificado, respectivamente. Na análise estatística dos resultados utilizaram-se os testes do Qui-quadrado de Pearson e o Kruskal-Wallis H sendo considerado um nível crítico de 95% de confiança (p<0,05), para ambos. Os resultados mostraram uma prevalência de 39,6% de excesso de peso para o Estado como um todo, dos quais 28% corresponderam ao sobrepeso (IMC ≥ 25- 29,9) e 11,6% a obesidade (IMC ≥ 30). O excesso de peso foi mais freqüente nos adultos de 50 a 69 anos e no sexo feminino com associação estatisticamente significante (p<0,001). Entre as variáveis sócio-econômicas e demográficas, o excesso de peso mostrou associação significativa com o local de residência e a condição de trabalho sendo mais freqüente entre os adultos que residem em áreas urbanas e os que trabalham com estabilidade. Os níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos nos adultos apresentaram-se elevados (4,4%, 26,7% e 11,6%, respectivamente), com associação estatisticamente significante em relação ao sobrepeso e à obesidade. Os resultados confirmam a elevada prevalência do sobrepeso e obesidade na população adulta e destaca a importância do fortalecimento e da aplicação de medidas globais de promoção e prevenção da saúde e nutrição, principalmente na população de risco.
XIII
16
16
The chronic diseases not transmitted are, nowadays, responsible for most of death and the highest cost with hospital assistence. In Brazil they are diseases of multifactorial ethiology which share several modified risk such as tabacco, physical inactivity, obesity and dislipdemy. The present study aimed at studying the overweight and obesity prevalence and glucose, cholesterol and triglycerides levels in people over eighteen years old and its association with glucose levels, cholesterol and triglycerides in the state of Pernambuco. For this, it was used a sub-sample of 2.786 adults from the II State Health and Nutrition Survey – 1997. The study design was the transversal type and the data collect was through questionnaires, anthropometric measure (weight and height) and biochemical exams. The nutritional situation was evaluated through the BMI (kg/m²). For the glucose dosage was used the Glucometer 4 and the cholesterol dosage and triglycerides were analysed through the Huang method modified and Soloni modified, respectively. In the statistical analysis of the results were used the Pearson Qui-quadrado and Kruskal-Wallis H being considered a critical level of 95% trust (p<0,05). The results showed a prevalence of 39,6% of weight excess for the whole state, being 28,5% corresponding to the overweight (BMI≥25- 29,9) and 11,6% the obesity (BMI≥30). The weight excess was more frequent in adults from 50 to 69 years old and female with significant statistically association. In the socio-economical and demographic variables, the overweight showed a significant relation to the area where the people lived in urban areas and had a fixed job. The glucose, cholesterol and triglycerides levels in adults were increased (4,4%, 26,7% e 11,6%, respectively), with significant statistically association in relation to the overweight and obesity. The results confirm the highest prevalence of overweight and obesity amongst adults and highlight the importance of the strengthen and use of global applications to promote and present health, mainly risky population.
XIV
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1
2
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1.1- Caracterização do Problema
Entre todas as alterações do nosso corpo, provavelmente, a obesidade é a mais
complexa e de difícil entendimento, tanto no meio científico como entre os leigos. O
excesso de peso, real ou falso, ilusório ou catastrófico, é uma doença ou um modo de
vida? É um aspecto do nosso metabolismo ou apenas a falta de controle sobre a gula? É
um mal da atualidade ou não se constitui preocupação sobre os seus efeitos deletérios?
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) a obesidade é uma doença que se
caracteriza pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, em extensão tal que acarreta
prejuízos à saúde do indivíduo. Os prejuízos advindos da obesidade são muitos e
variados, incluindo desde dificuldades respiratórias, problemas dermatológicos e
distúrbio do aparelho locomotor até o favorecimento de enfermidades potencialmente
letais como dislipidemias, doenças cardiovasculares, diabetes não-insulino dependente e
certos tipos de câncer (WHO, 1998).
Segundo FISBERG (2004) a obesidade pode ser considerada como um acúmulo
de tecido gorduroso, regionalizado ou em todo o corpo, causado por doenças genéticas
ou endócrino-metabólicas ou por alterações nutricionais. Por certo, é uma doença
geneticamente determinada, de herança múltipla e de conseqüências variáveis,
modificadas pelo meio ambiente. Para o autor, a obesidade é a doença de maior
morbidade no paciente adulto, e está relacionada à pobreza, raça e condições genéticas e
ambientais.
FISBERG (2004) e MONDINI & MONTEIRO (1998) relatam que o obeso é um
problema dos países ricos, com dietas inadequadas e, também, dos países pobres. Este
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3
evento pode ser explicado pela mudança dos hábitos de vida, como o aumento do
sedentarismo e a adoção de hábitos de vida não saudáveis, como alimentação
inadequada e incorporação de hábitos procedentes da sociedade americana levando
assim, a um aumento descontrolado da obesidade. Enquanto a moda atual gera a postura
de “ser saudável”, milhares de pessoas sofrem com um peso radicalmente excessivo, nas
ruas dos bairros mais elegantes de Miami e nas favelas da região periférica de São
Paulo.
No Brasil, dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF 2002/2003
(IBGE, 2004) mostram que aproximadamente 40% da população brasileira apresentam
excesso de peso.
AGUIRRE (2000) relata que os hábitos alimentares, como fatores determinantes,
dependem mais da influência econômica do que da educação nutricional. Com base em
seus dados, observou que os produtos ao alcance da população de baixa renda, são na
maioria, industrializados, de produção massiva e baratos. Destacou ainda, que nas áreas
metropolitanas, os preços de frutas e verduras, carnes magras e produtos lácteos são
mais elevados, restando aos indivíduos de baixa renda “selecionar” alimentos ricos em
carboidratos, gorduras e açúcares, pois ainda que lhes impeçam um estado nutricional
adequado, satisfazem o apetite e se integram bem à seu padrão de consumo.
DIETZ (1993) relata que a obesidade resulta do desequilíbrio entre a atividade
física e o consumo de alimentos densamente calóricos e FONSECA, SICHIERI &
VEIGA (1998) citam como fatores determinantes da obesidade a influência familiar e o
sedentarismo.
Para POPKIN & DOAK (1998) e FISBERG (2004) a obesidade é uma doença
complexa, de etiologia multifatorial e de conseqüências metabólicas heterogêneas.
Ocorre quando há um desequilíbrio crônico entre a energia ingerida e a consumida.
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4
Pode-se dizer que há uma associação de fatores genéticos e ambientais, sendo difícil
determinar a potencialidade de cada um. Há todo um sistema de vida inadequado que
provavelmente favorece este tipo de acontecimento: sedentarismo, hábitos familiares
inadequados, alimentação insatisfatória, excesso de carboidratos na dieta, velocidade da
refeição, lanches altamente calóricos e consumo de doces e guloseimas. Os autores
relatam ainda, que as mudanças nas estruturas sociais, tais como mulheres trabalhando
fora, o uso de alimentos pré-preparados e a globalização dos supermercados, têm
contribuído, também, para o aparecimento da obesidade.
FISBERG (2004) revela que os estudos têm, repetidamente, mostrado uma
correlação negativa entre o alto nível sócio-econômico e a obesidade nos países
desenvolvidos. Já nos países em desenvolvimento, verificou-se uma relação positiva
entre obesidade e alto nível sócio-econômico. O mesmo autor refere que quanto ao nível
educacional, este parece estar inversamente associado com o peso corporal nos países
industrializados. Nos países em desenvolvimento pouco se conhece sobre a relação
entre nível educacional e obesidade, sabe-se apenas que os adultos residentes nas áreas
urbanas têm um nível educacional melhor que os da área rural e que apresentam um
maior índice de massa corpórea.
1.2- Indicadores Antropométricos
Atualmente, o indicador mais utilizado para identificar pessoas obesas é o índice
de massa corporal (IMC), calculado pela fórmula peso (em kg) dividido pelo quadrado
da altura (em metros). Este índice tem seu uso praticamente consensual na avaliação
nutricional de adultos.
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5
A OMS indica a antropometria como método mais útil para identificar pessoas
obesas pois é mais barato, não-invasivo, universalmente aplicável e com boa aceitação
pela população (WHO, 1995).
Segundo a OMS são classificados como obesos os adultos que possuem o IMC
igual ou acima de 30,0kg/m² e com sobrepeso, adultos com IMC entre 25,0 e
29,9Kg/m². As mulheres gestantes são excluídas desta análise (WHO, 1998).
O fato de que valores elevados de IMC, em tese, não fazem distinção entre
acúmulo de tecido adiposo (obesidade) e aumento de massa magra, o emprego desse
índice no diagnóstico da obesidade adulta deve ser interpretado com mais cuidado.
Ainda assim, recomenda-se o seu uso diante das dificuldades operacionais relacionadas
ao emprego de medidas diretas da composição corporal, como a medida de
bioimpedância ou a medida de dobras cutâneas (WHO, 1995).
1.3- Marco Histórico
A obesidade, tradicionalmente uma doença que nos anos de 1960 era associada
às classes sociais e econômicas mais abastadas, tem avançado de modo significativo nas
classes menos favorecidas. O que ocasiona este fenômeno chamado de transição
nutricional?
O conceito de transição nutricional diz respeito a mudanças seculares em
padrões nutricionais que resultam de modificações na estrutura da dieta e que se
correlacionam com mudanças econômicas, sociais, demográficas e relacionadas à saúde.
Aspectos singulares da transição nutricional ocorrida neste século são encontrados em
cada país e região do mundo, embora elementos comuns convirjam para uma dieta rica
em gorduras (particularmente as de origem animal), açúcares e alimentos refinados e
reduzidos em carboidratos complexos e fibras – freqüentemente denominada “dieta
6
6
ocidental”. Alterações concomitantes na composição corporal, em particular o aumento
da obesidade, estão associadas com o predomínio desta dieta e com o declínio
progressivo da atividade física dos indivíduos (POPKIN et al.,1993).
As relações entre as mudanças demográficas, sócio-econômicas e
epidemiológicas que levam à transição nutricional são complexas. Essas mudanças, são
acompanhadas de um estilo de vida sedentário, que parecem ocorrer primeiro em áreas
urbanas, estendendo-se aos segmentos de renda mais elevada das áreas rurais,
coexistindo freqüentemente com estratos da população submetidos a déficits energéticos
(POPKIN, 1994).
Na América Latina observa-se uma rápida transição demográfica e
epidemiológica. Na maioria dos países economicamente mais favorecidos da América
Central e da América do Sul verifica-se a mudança para um padrão de
morbimortalidade em que predominam as doenças cardiovasculares (DCV), o câncer e
outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).
Segundo ESCODA (2002) a transição nutricional brasileira em curso reside na
mudança de padrão do estado nutricional. Até a década de 70, o quadro nutricional
esteve fortemente marcado por surtos epidêmicos de fome, geográfica e socialmente
localizados no semi-árido, na zona da mata nordestina e na região amazônica, com
elevados índices de prevalência da desnutrição energético-protéica, além das carências
nutricionais específicas como anemia, bócio e hipovitaminose A. As regiões Sul,
Sudeste e Centro-Oeste foram consideradas áreas de subnutrição e com carências
nutricionais. A autora ainda relata que nos anos 80, a situação nutricional era de
carência total de nutrientes e de fome generalizada. Com a inversão do perfil
populacional rural, observou-se a elevada incidência destas carências nas classes sociais
da periferia dos centros urbanos. Nos anos 90, a situação nutricional teve uma queda na
7
7
prevalência das formas graves de desnutrição e do bócio endêmico, a manutenção das
carências citadas somando-se a obesidade alimentar, o diabetes e as dislipidemias.
1.4- Prevalência e Distribuição Temporal e Espacial do Sobrepeso e da Obesidade
1.4.1- Nos países em desenvolvimento
As transformações sociais, econômicas e demográficas ocorridas nas últimas
décadas, coincidiram com modificações do perfil epidemiológico nutricional e da
atividade física das populações. Na América Latina e Caribe, o aumento da expectativa
de vida, a redução das taxas de mortalidade em diferentes grupos etários, a rápida
urbanização e o crescente processo de industrialização são características dessa
transição (PENA & BACALLAO, 2000).
ALBALA & VÍÓ (2000) relatam que o Chile passou por um processo
progressivo de urbanização, a partir da década de 30, chegando a ter uma população
urbana de 83,5% em 1994. Ao mesmo tempo foi reduzida a taxa de analfabetismo e o
país experimentou um grande crescimento econômico. Em 1987, BERRÍOS et al (1990)
realizaram uma pesquisa sobre os fatores de risco das enfermidades crônicas em uma
amostra representativa da região metropolitana de Santiago, cidade onde vive mais de
45% da população. Os resultados indicaram que 6% dos homens e 14% das mulheres
eram obesos. A obesidade foi mais freqüente nos grupos etários maiores e nas mulheres.
Em 1996 uma nova pesquisa foi realizada, com adultos chilenos da cidade de
Valparaíso constatando-se um aumento na prevalência da obesidade de 15,7% para os
homens e 23% para as mulheres, com valores mais altos em grupos etários, também,
maiores e estratos sócio-econômicos mais baixos. Estes resultados podem ser
explicados pela mudança nos padrões alimentares da população e pelo sedentarismo. A
alimentação é baseada em produtos industrializados e com alto teor calórico de gorduras
8
8
e açúcares. Outros fatores a serem considerados estão relacionados às propagandas
publicitárias da televisão, com o intuito de estimular o consumo de alimentos
industrializados e, também, a instalação de restaurantes fast-foods influenciando os
hábitos alimentares da população urbana.
Segundo PORRATA, RODRÍGUEZ-OJEA & JIMÉNEZ (2000), a transição
epidemiológica em Cuba teve início no final da década de 50 com a redução da
mortalidade por doenças infecciosas, nos grupos mais jovens e o aumento das doenças
cardiovasculares e dos tumores malignos nos adultos. As mudanças sociais e a aplicação
de uma política de saúde, a partir de 1959, provocaram uma melhora progressiva da
situação da saúde e tiveram um efeito importante no processo de transição
epidemiológica. No princípio da década de 60 se estabeleceu um sistema de distribuição
racionada dos alimentos disponíveis, visando permitir o acesso igualitário da população,
com preços regulados e subsidiados pelo Estado. Desde 1984 existe o médico da família
que cobre, atualmente, 94% da população. Em 1990, 75,7% da população residiam na
zona urbana e a taxa de analfabetismo, em 1995, da população de 10 a 49 anos era de
1,9%. Todos os habitantes do país têm a mesma oportunidade à assistência médica
completa e gratuita.
Estudo realizado, na década de 80, com a população adulta cubana, de ambos os
sexos, revelou que o intervalo de freqüência da obesidade foi de 15% a 31%
(PORRATA et al., 1995). Em outro estudo, a freqüência observada foi de 8% a 39%
nos homens e de 20% a 47% nas mulheres (PORRATA et al., 2000).
Segundo o mesmo autor, a partir de 1990, as novas modalidades de
comercialização dos alimentos não subsidiados pelo Estado limitaram o acesso da
população de baixa renda. Com isso, nos últimos anos, a alimentação tem sido
9
9
insuficiente, desequilibrada, de baixa densidade energética e pouco variada. A esta nova
situação pode-se acrescentar o aumento da atividade física que pela ausência ou redução
de transportes coletivos urbanos, a população passou a caminhar e a usar bicicleta para
seus afazeres cotidianos. Este fato pode ser constatado numa pesquisa realizada em
adultos, de ambos os sexos, residentes na cidade de Havana, nos anos de 1982 e 1994.
Em 1982, o sobrepeso dos adultos masculinos e femininos era de 35,9% e 31,8%,
respectivamente, reduzindo-se, em 1994, para 17,8% e 19,1%, respectivamente. Com
relação a obesidade, em 1982, era de 7,1% entre os homens e de 13,6% entre as
mulheres, havendo um declínio considerável em 1994, para 2,7% e 6,2%,
respectivamente.
Segundo OMRAN (1971) apud PORRATA et al 2000, dentre os países da
América Latina e Caribe, Cuba foi o de transição epidemiológica mais avançada, desde
a década de 70, apresentando resultados similares a países desenvolvidos, embora com
maior atraso econômico.
No Brasil, a revisão dos processos ocorridos na situação nutricional e a alteração
do padrão epidemiológico que conferem as características de transição, foram realizadas
a partir dos dados e análises dos estudos de abrangência nacional e regional de maior
significância: Estudo Nacional de Despesa Familiar – ENDEF, 1974/75 (IBGE, 1975);
Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição – PNSN, 1989 (INAN, 1990) e Pesquisa de
Padrões de Vida – PPV, 1997 (IBGE, 1998).
Tendo como base as pesquisas citadas, BATISTA FILHO & RISSIN (2003) e
MONTEIRO & CONDE (1999) relatam que a projeção dos resultados desses estudos
efetuados nas três décadas é indicativa de um comportamento claramente epidêmico do
aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade na população brasileira. Referem que
10
10
num estudo comparativo entre o Nordeste e o Sudeste do Brasil, que pode ser assumido
como modelo referencial do que ocorreu nos dois grandes espaços geoeconômicos, que
ocupam pólos opostos – inferior e superior, respectivamente – a distribuição regional
dos indicadores econômicos (valor dos salários, renda per capita) e indicadores sociais
(mortalidade infantil, escolaridade da população), assinalam claramente, para uma
prevalência crescente da obesidade nas duas regiões, em homens e mulheres, em todas
as faixas etárias.
Entre 1975 e 1989, nas duas regiões, houve um aumento acentuado da
prevalência de adultos obesos, com cerca de 70% de mulheres e 90% de homens.
Entre 1989 e 1997, os padrões regionais da evolução da obesidade mostraram-se
distintos. Na população adulta masculina, o risco da obesidade continuou aumentando
nas duas regiões mas o aumento é relativamente maior na região Nordeste (95%) do que
na região Sudeste (38%). Na população adulta feminina, a obesidade se manteve em
torno de 60% na região Nordeste e declina de forma ligeira na região Sudeste (12%),
determinando-se em 1997, que o risco da obesidade feminina seja praticamente o
mesmo nas duas regiões (12,3% e 12,4%, respectivamente).
A prevalência do sobrepeso (IMC entre 25,0 e 29,9kg/m²) e obesidade entre as
mulheres adultas, considerando-se as duas condições agregadas, evoluíram de 22,2%
(1974/1975) para 39,1% (1989) e 47,0% (1997).
É evidente que as diferenciações geográficas expressam, basicamente,
diferenciações sociais na distribuição da obesidade. Em princípio, existia maior
prevalência de sobrepeso/obesidade nas regiões mais ricas, sendo esta condição o fator
discriminante dos cenários epidemiológicos entre o Nordeste e o Sudeste do Brasil.
Atualmente se desenha uma outra tendência: o aumento da ocorrência de obesidade nos
estratos de renda mais baixos (1°, 2° e 3° quartís), no período de 1989/1997, enquanto o
11
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comportamento ascendente do problema começa a se interromper entre as mulheres
adultas de renda mais elevada.
MONTEIRO & CONDE (1999) examinaram as prevalências ajustadas por idade
em estratos sociais específicos (quartís de renda familiar per capita) das regiões
Nordeste e Sudeste dos inquéritos de 1975 e 1989. Observaram que a tendência e
evolução da obesidade entre os dois estudos não se mostraram muito influenciadas pela
posição dos indivíduos na escala sócio-econômica, ou seja, ocorreu aumento
generalizado da obesidade, sem uma relação direta com o nível da renda familiar, em
ambos os sexos e nas duas regiões. Situação semelhante foi constatada entre os
inquéritos de 1989 e 1997 apenas para a população masculina.
A influência da renda familiar sobre o comportamento da obesidade feminina em
1989 denota padrões distintos nas regiões Nordeste e Sudeste, observando-se que na
primeira, as mulheres mais pobres são as que apresentam aumento da obesidade. Esse
padrão socialmente diferenciado, da evolução regional da obesidade fez com que, em
1997, o risco da obesidade feminina na região Nordeste apenas se mantenha inferior ao
da região Sudeste, no estrato das mulheres mais pobres. Chama particular atenção a
evolução da obesidade nos estratos que correspondem aos 25% das mulheres mais ricas
de cada região: enquanto no Nordeste passou de 9,9% para 14,6%, no Sudeste ocorreu
uma redução de 13, 2% para 8,2%. Uma observação mais minuciosa do período 1989-
1997, permite evidenciar quatro situações que configuram momentos distintos da
evolução do risco da obesidade feminina no país: riscos baixos que ascendem
modestamente (mulheres mais pobres do Nordeste), riscos intermediários que
apresentam ascensão entre moderada e intensa (estratos intermediários e de alta renda
no Nordeste e estrato de menor renda no Sudeste), riscos altos que diminuem ligeira ou
12
12
moderadamente (estratos de renda intermediária no Sudeste) e riscos altos que
diminuem intensamente (estrato de alta renda no Sudeste).
A POF 2002/2003 (IBGE, 2004) apresenta dados relativos a prevalência de
sobrepeso e obesidade em adultos com 20 anos de idade ou mais, cujos resultados
permitem concluir que:
- a prevalência de sobrepeso e obesidade na população adulta brasileira, neste
período, revela que este problema afeta, largamente, todas as regiões do país, no meio
urbano e rural e todas as classes de rendimentos. Na população masculina foram
encontradas prevalências entre 20% e 30% nas áreas rurais das regiões Norte e
Nordeste, prevalências entre 30% e 40% nas áreas urbanas das regiões Norte e Nordeste
e prevalências entre 40% e 50% nas áreas urbanas das regiões Sul, Sudeste e Centro-
Oeste e na área rural da região Sul. Na população feminina foram encontradas
prevalências entre 30% a 40% nas regiões Norte e Nordeste em geral e entre as
mulheres residentes nas áreas urbanas da região Centro-Oeste e prevalências entre 40%
e 50% nas mulheres das Regiões Sul e Sudeste e das áreas rurais do Centro-Oeste.
- características negativas dos padrões de consumo alimentar, evidenciadas em
todo país e em todas as classes de rendimento tais como: persistência de um teor
excessivo de açúcar na dieta, aumento do aporte de gorduras em geral e de gorduras
saturadas e consumo insuficiente de frutas e hortaliças, justificam as modificações do
perfil epidemiológico das populações estudadas.
- alimentos tradicionais na dieta do brasileiro, como o arroz e o feijão, perderam
importância no período de 2002-2003, enquanto o consumo de produtos
industrializados, como o biscoito e o refrigerante, aumentaram em 400%.
13
13
MONTEIRO et al (2003) observaram a tendência secular da obesidade no
conjunto da população adulta brasileira residente nas regiões Nordeste e Sudeste, em
função do nível de escolaridade daquela população.
A tendência secular da obesidade na população masculina segundo o nível de
escolaridade evidencia aumentos contínuos na prevalência da enfermidade em todos os
níveis, tanto no período de 1975 a 1989 quanto no de 1989 a 1997. Entre as mulheres,
no período de 1975 a 1989 a obesidade aumentou em todos os níveis de escolaridade.
No período de 1989 a 1997, a obesidade tende a aumentar entre aquelas com nenhuma
escolaridade (11,7% para 14,7%) e com 1 a 4 anos (13,7% para 16,2%), porém se
estabiliza, ou mesmo declina, nos demais níveis. No estrato de máxima escolaridade, ou
seja, das mulheres que freqüentaram uma ou mais séries do curso superior, registrou-se
um declínio de cerca de 25% na prevalência da obesidade (de 8% em 1989 para 6,1%
em 1997).
MARTINS et al (1999) observaram a prevalência de IMC > 25,0 kg/m², em
grupamentos sociais da área metropolitana de São Paulo, em ambos os sexos e
verificaram que os trabalhadores autônomos do sexo masculino apresentaram maiores
índices de obesidade (43%) em relação às mulheres autônomas (12%). A maior
prevalência se deu entre aquelas que trabalhavam com e sem estabilidade (54,7% e
45,6%, respectivamente).
1.4.2- Nos países desenvolvidos
Dados da American Obesity Association (AOA, 2005) revelam que nos EUA,
aproximadamente 127 milhões de adultos estão com sobrepeso e 60 milhões são
obesos, ou seja, 64,5% e 30,5% dos adultos americanos, com 20 anos de idade ou
mais, apresentam sobrepeso e obesidade, respectivamente.
14
14
HEDLEY et al (2004) avaliando a prevalência de sobrepeso e obesidade em
adultos americanos, nos períodos de 1999-2000 e 2001-2002 não observaram
mudanças significativas, ou seja, 64,5% e 65,7% de sobrepeso e 30,5% e 30,6% de
obesidade, respectivamente, resultados estes compatíveis com os encontrados pela
AOA (2005).
Na Europa, especificamente em Portugal, SANTOS & BARROS (2003),
realizaram um estudo com adultos na faixa etária de 18 a 90 anos, residentes na
cidade de Porto para avaliar a prevalência de sobrepeso e obesidade. Dentre os
resultados, eles observaram que 21,3%, dos adultos portugueses, apresentavam
obesidade e 41,8% sobrepeso. Este sobrepeso se apresentava maior no sexo
masculino do que no sexo feminino (49,9% e 36,5%, respectivamente), enquanto a
obesidade foi mais freqüente no sexo feminino em relação ao masculino (26,1%
contra 13,9%). Com relação à idade, o sobrepeso aumentou, consideravelmente
entre as mulheres, à medida que a idade avançava. Já a obesidade aumentou na faixa
etária dos 18 aos 49 anos e se estabilizou a partir dos 50 anos. No sexo masculino
houve um aumento nas prevalências de sobrepeso e obesidade com a idade e uma
redução das mesmas na faixa etária acima de 70 anos. Quanto ao nível de
escolaridade, as mulheres com 5 a 11 anos de escolaridade, apresentaram uma
prevalência de obesidade em torno de 19%, com uma redução significativa entre
aquelas com escolaridade acima de 12 anos (8,3%). Os homens de 5 a 11 anos e
mais de 12 anos de estudo apresentaram valores da obesidade semelhantes (10,8% e
10,3%, respectivamente) e o sobrepeso, apesar da maior freqüência, teve um leve
declínio em seus valores (50,4% e 45%, respectivamente).
GUTIÉRREZ-FISAC et al (2003) em estudo realizado com a população
espanhola, nos anos de 1987 a 1997 obteve dados semelhantes aos de SANTOS &
15
15
BARROS (2003). Entre as mulheres, houve um aumento da prevalência da
obesidade à medida que a idade aumentava (0,7% entre as de 20 a 24 anos e 25,4%
entre as com mais de 65 anos) e uma queda abrupta com o aumento dos anos de
escolaridade (20,2% entre as analfabetas para 2,6% entre aquelas com 12 anos de
estudo). Entre os homens com 65 anos de idade ou mais, a prevalência foi inferior à
das mulheres (11,5%) enquanto segundo a escolaridade (12 anos de estudo) o
percentual foi cerca de quatro vezes superior ao das mulheres (10,1%).
16
16
17
17
De acordo com as duas pesquisas realizadas no Brasil com amostras
representativas, ENDEF – 1974/75 (IBGE, 1975) e PNSN – 1989 (INAN, 1990) o
sobrepeso aumentou 58% entre os homens e 42% entre as mulheres, e a obesidade,
100% no sexo masculino e 70% no sexo feminino, no intervalo de tempo entre os dois
levantamentos.
As explicações dadas pelos estudiosos para o crescimento acelerado da
obesidade, apontam o sedentarismo, a mudança na alimentação denominada de
“transição alimentar” caracterizada pelo aumento de consumo de gorduras, açúcares e
cereais refinados e pela redução no consumo de carboidratos complexos e fontes de
fibras e a modernização das sociedades com a mecanização e automoção, como fatores
que contribuíram para que o sobrepeso e obesidade fossem considerados “doença da
civilização” ou “síndrome do novo mundo”, levando a uma “transição nutricional”.
Por estar a obesidade aumentando no país, tornando-se um dos problemas de
Saúde Pública mais relevantes, e sendo esta condição um fator de risco para outras
patologias como doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, hipertensão arterial e
algumas formas de câncer, decidiu-se realizar o presente estudo para determinar sua
prevalência em indivíduos maiores de dezoito anos do Estado de Pernambuco e sua
relação com fatores sócio-econômicos e demográficos.
18
18
19
19
3.1- Geral
Determinar a prevalência do sobrepeso e obesidade e dos níveis de glicose,
colesterol e triglicerídeos em adultos maiores de dezoito anos do estado de Pernambuco.
3.2- Específicos
• Caracterizar a população do estudo em relação às variáveis demográficas (local
de residência, sexo e idade).
• Relacionar o estado nutricional (IMC) com as variáveis demográficas e sócio-
econômicas.
• Determinar os níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos da população por
faixa etária e sexo e sua associação com o estado nutricional (IMC).
20
20
21
21
4.1- Local do estudo
Os dados aqui analisados fazem parte da “II Pesquisa Estadual de Saúde e
Nutrição: saúde, nutrição, alimentação e condições sócio-econômicas no Estado de
Pernambuco – II PENS/97” (INAN, 1998), desenvolvida pelo Departamento de
Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco, Instituto Materno Infantil de
Pernambuco e Secretaria Estadual de Saúde – PE, e financiada pelo Ex-Instituto
Nacional de Alimentação e Nutrição/ Ministério da Saúde.
A referida pesquisa teve como objetivo estudar o perfil da saúde, nutrição e
condições sócio-econômicas da população materno-infantil do Estado de Pernambuco,
utilizando uma amostra representativa para a Região Metropolitana, Áreas Urbana e
Rural do interior do Estado.
4.2- Desenho do estudo
Estudo descritivo do tipo transversal ou seccional, de base domiciliar, no qual
causa e efeito são observados num mesmo momento histórico. É um estudo de
prevalência que possibilita a obtenção de informações instantâneas da situação, não
podendo estabelecer relações causais nem testar hipóteses, restrigindo-se à relações de
associação (ROUQUAYROL, 1994).
As vantagens deste tipo de estudo são o baixo custo, a facilidade de
planejamento e execução e a simplicidade analítica.
Os dados resultantes são importantes para o planejamento de ações de saúde,
pois apontam para possíveis fatores de risco de doenças ou possíveis falhas que possam
22
22
estar ocorrendo nos programas de atenção à saúde em funcionamento, permitindo
direcionar os recursos de forma efetiva.
4.3- População e amostra
A amostra, para avaliação antropométrica e bioquímica, foi formada por 2.786
adultos maiores de dezoito anos, residentes nos domicílios com crianças menores de
cinco anos e que fizeram parte da II PESN, 1997 (INAN, 1998).
Os municípios selecionados e que constituíram a amostra da II PESN (INAN,
1998) foram: Recife, Cabo, Jaboatão, Olinda e Paulista da Região Metropolitana do
Recife e Belém de São Francisco, Bodocó, Caruaru, Camocim de São Félix, Goiana,
Itaíba, Itaquitinga, Orobó, Palmares, Panela, Ribeirão, São Bento do Una e Triunfo do
Interior – Urbano e Rural (Anexo1).
Para a estimativa da amostra foi adotada uma prevalência de obesidade de 12%
para as mulheres e de 7% para os homens, estimando-se um erro de 1,5% e 1,7%,
respectivamente, para um nível de confiança de 95%, totalizando, aproximadamente,
1.800 mulheres e 865 homens. Para o cálculo foi utilizado o programa STATCALC do
software EPI-INFO 6.04.
4.4- Coleta de dados
Previamente à coleta de dados foi realizada visita aos locais, quando eram
contactadas pela coordenação, as Secretarias de Saúde dos municípios sorteados, com a
finalidade de dar conhecimento do projeto e da data provável da visita do coordenador
de área e entregar material de divulgação do trabalho junto à população.
Logo após, procedia-se a visita domiciliar do coordenador de área aos
municípios, conforme um roteiro de viagem preestabelecido, antecedendo a equipe de
23
23
campo. Naquela ocasião, era preenchida a planilha do conglomerado (unidade
domiciliar) com o nome do chefe da família, endereço, nome e idade da(s) criança(s)
menor(es) de cinco anos.
A seguir, a equipe de campo percorria os setores, identificando os domicílios
assinalados em que residiam crianças menores de cinco anos. Após o esclarecimento à
família sobre a pesquisa e a sua concordância, era aplicado o questionário composto de
nove formulários.
O trabalho de campo contou com 12 profissionais da área da saúde como
entrevistadores e uma equipe de auxiliares de enfermagem e técnicos de laboratório para
coleta de sangue e análise bioquímica, devidamente treinados. Foi utilizado um
conjunto de formulários especialmente elaborados para cada área de interesse da II
PESN/97 (INAN, 1998), e destes, selecionaram-se aqueles que continham as variáveis
de interesse para este estudo: local de residência (Anexo 1), sexo, idade, alfabetização,
escolaridade, condição de trabalho, medidas antropométricas (Anexo 2), níveis de
glicose, colesterol e triglicerídeos (Anexo 3). A coleta de dados foi realizada entre os
meses de fevereiro a maio de 1997.
4.4.1- Dados antropométricos
A avaliação antropométrica foi realizada por ocasião da entrevista e as medidas
foram feitas em duas tomadas, para evitar erros de medição.
O peso foi medido em balanças digitais eletrônicas marca Filizola, modelo
Personal Line E-150, com capacidade para 150 Kg e precisão de até 100 g, seguindo
técnicas padronizadas de pesagem.
A altura foi tomada com fita métrica de 200 cm, marca Stanley, milimetrada,
com precisão de 1 mm, obedecendo também as técnicas padronizadas, onde a fita era
24
24
fixada à parede e os indivíduos colocados na posição ereta, descalços, com membros
superiores pendentes ao longo do corpo, os calcanhares, o dorso e a cabeça tocando a
parede.
4.4.2- Avaliação do estado nutricional
Para a avaliação do estado nutricional foi utilizado o Índice de Massa Corporal
(IMC), determinado pela relação peso em kg/altura em m². Foram utilizados os limites
de corte propostos pela OMS (WHO, 1995) e recomendados em seu último relatório
sobre obesidade, 1998 (WHO, 1998).
Segundo essa proposta os indivíduos foram classificados:
o IMC < 18,5 = baixo peso
o IMC 18,5 – 24,9 = peso normal
o IMC 25,0 – 29,9 = sobrepeso
o IMC ≥30,0 = obesidade
4.4.3- Análises bioquímicas
As amostras de sangue para dosagens bioquímicas foram coletadas segundo os
seguintes critérios:
• A glicemia de jejum foi medida em sangue de polpa digital utilizando
o equipamento Glucometer 4, de leitura imediata, considerando
normais, em adultos, os valores de glicemia de jejum entre 80 e 120
mg/dL (DIAS, 1994; HALPERN, 2000).
• Para a dosagem de triglicerídeos e colesterol, foram coletadas
amostras de sangue venoso e analisadas por métodos enzimáticos de
Soloni modificado, para triglicerídeos e Huang modificado, para o
25
25
colesterol, com valores de referência para o colesterol de <200 mg/dL
e para triglicerídeos de <200 mg/dL, segundo recomendações do
Programa Nacional de Educação sobre colesterol dos Estados Unidos
da América (NCEP – National Cholesterol Education Program) de
1988, atualizado em junho de 1993 (NOVAZZI & MARTINEZ,
1994) e confirmado no II Consenso Brasileiro de Dislipidemias de
1996 (MORIGUCHI & BODANESE, 1997).
4.5- Variáveis do estudo
Variável Dependente
• Estado nutricional - avaliado pelo IMC e categorizado em:
o adequado (< 25,0)
o sobrepeso (25,0 - 25,9)
o obesidade (≥ 30,0)
Variáveis Independentes
• Local de residência - foram considerados os três estratos definidos
na II PESN/97.
o Região Metropolitana do Recife (RMR)
o Interior Urbano (IU)
o Interior Rural (IR)
• Sexo – categorizado em:
o masculino
o feminino
26
26
• Idade – a população estudada foi dividida em sete faixas etárias:
o - 18 a 24 anos
o - 25 a 29 anos
o - 30 a 39 anos
o - 40 a 49 anos
o - 50 a 59 anos
o - 60 a 69 anos
o - ≥ 70 anos
• Alfabetização – a população foi analisada segundo dois critérios:
o alfabetizada
o analfabeta
• Escolaridade – expressa em anos de estudo – classificação
estabelecida em função da série e do grau mais elevado concluído
com aprovação pelo indivíduo que estava freqüentando ou que
freqüentou escola. A amostra foi dividida em cinco grupos:
o nunca freqüentou escola
o 1 a 4 anos de escolaridade (1º grau menor)
o 5 a 8 anos de escolaridade (1º grau maior)
o 9 a 11 anos de escolaridade (2º grau)
o > 12 anos de escolaridade (3º grau)
• Condição de trabalho
o não trabalha
o trabalho com estabilidade
o trabalho sem estabilidade
o autônomo
o desempregado
27
27
• Níveis de glicose (glicemia de jejum), colesterol e triglicerídeos
com os seguintes valores normais de referência:
o glicose (glicemia de jejum) – 80 a 120 mg/dL
o colesterol - ≤ 200 mg/dL
o triglicerídeos - ≤ 200 mg/dL
4.6- Processamento e Análise dos Dados
Os dados da pesquisa foram digitados em dupla entrada com a finalidade de
validação. Para o processamento dos dados e análise estatística foi utilizado o
“software” EPI-INFO, versão 6.04, para microcomputador. A apresentação dos dados
foi feita em tabelas e gráficos.
Na análise estatística foram utilizadas, principalmente, a determinação das
freqüências e as medidas de tendência central (média e desvio-padrão, mediana e
intervalo interquartilar – 25%-75%).
A seguir, procurou-se determinar através do Qui-quadrado de Pearson (χ²), quais
as variáveis independentes que estavam associadas estatisticamente à variável
dependente e para o teste da mediana foi utilizado o teste não paramétrico Kruskal-
Wallis H adotando-se para associações estatisticamente significante, valor de p < 0,05.
4.7- Considerações Éticas
A II PESN/97 atendeu às normas regulamentadoras de pesquisas evolvendo
seres humanos – resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e aprovada pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco.
28
28
29
29
5.1-Características gerais da população estudada por local de residência, sexo e
idade
Foram estudados 2.786 adultos maiores de 18 anos, em todo o Estado de
Pernambuco, distribuídos na Região Metropolitana do Recife (RMR), Interior Urbano
(IU) e Interior Rural (IR). A maior concentração dos adultos ocorreu nas áreas urbanas
(RMR e IU), perfazendo um total de 72,4% da amostra (Tabela 1).
Tabela 1- Distribuição dos adultos maiores de 18 anos, segundo o local de residência.
Pernambuco, 1997
Local de Residência n % Região Metropolitana Recife
Interior Urbano
Interior Rural
Total
1018
998
770
2786
36,6
35,8
27,6
100,0
A amostra foi constituída de 31,8% de homens e 68,2% de mulheres, divididos
em sete faixas etárias, conforme a literatura consultada e que mais se adequaram aos
propósitos da presente pesquisa. Verificou-se que mais de dois terços da população
estudada se encontravam na faixa etária de 18 a 39 anos (75,9%), enquanto apenas
12,3% tinham mais de 50 anos.
Quando se relaciona a faixa etária com a variável sexo, observa-se que as
maiores concentrações estão no sexo feminino, nas duas primeiras faixas etárias (18-24
e 25-29 anos) invertendo-se este quadro a partir dos 30 anos de idade, quando são
observadas maiores freqüências no sexo masculino (Tabela 2).
30
30
Tabela 2- Distribuição dos adultos maiores dos 18 anos, por faixa etária e sexo.
Pernambuco, 1997
Sexo Masc. Fem.
Total
Faixa Etária (anos)
n % n % n % 18 – 24
25 – 29
30 – 39
40 – 49
50 – 59
60 – 69
≥ 70
Total
208
135
288
118
64
46
26
885
23,5
15,3
32,6
13,3
7,2
5,2
2,9
31,8
575
404
503
211
106
66
36
1901
30,2
21,3
26,4
11,1
5,6
3,5
1,9
68,2
783
539
791
329
170
112
62
2786
28,1
19,3
28,5
11,8
6,1
4,0
2,2
100,0
5.2-Estado nutricional e fatores sócio-econômicos e demográficos
Para avaliação do estado nutricional foi calculado o Índice de Massa Corporal
(IMC). Para análise de associação do estado nutricional com alguns fatores sócio-
econômicos e demográficos, o estado nutricional foi dividido em três categorias:
adequado (IMC< 25,0), sobrepeso (IMC 25,0 - 29,9) e obesidade (IMC ≥30,0).
O estado nutricional analisado por local de residência consta no gráfico 1, onde
os percentuais de sobrepeso e obesidade atingem 39,6 % para o Estado como um todo
(28% e 11,6%, respectivamente). O maior índice de sobrepeso e obesidade ocorre no IU
(30,8% e 13,8%, respectivamente) seguido da RMR (26,9% e 11,8%, respectivamente)
e o IR com os menores índices de sobrepeso e obesidade (25,8% e 8,3%,
respectivamente). A aplicação do teste do Qui-quadrado revelou diferença
estatisticamente significante entre as três áreas (p< 0,001).
31
31
61,355,4
65,860,4
11,8 13,88,3
28,025,826,9 30,8
11,6
0
20
40
60
80
RMR IU IR TOTAL
Gráfico 1- Estado nutricional dos adultos maiores de 18 anos, segundo o local
de residência. Pernambuco, 1997
Com relação ao sexo (Tabela 3) o índice de sobrepeso não apresenta grandes
alterações, mas com relação à obesidade o percentual de mulheres é praticamente o
dobro dos homens (13,7% e 6,9%, respectivamente). O teste do Qui-quadrado revelou
associação estatisticamente significante entre as variáveis (p < 0,001).
A prevalência de sobrepeso segundo a idade (Tabela 3) apresenta
comportamento semelhante a partir dos 30 anos atingindo, aproximadamente um terço
da população, enquanto nas faixas etárias inferiores (18 a 24 e 25 a 29 anos) cerca de
um quinto da população (19,0% e 23,0%, respectivamente) é afetada pelo sobrepeso.
A prevalência da obesidade (Tabela 3) apresentou aumento progressivo em todas
as faixas etárias (de 6,0 a 24,1%) com exceção daquela acima dos 70 anos quando se
observou uma redução (14,5%), talvez decorrente do tamanho da amostra. A partir dos
25 anos a prevalência superou os 10% da população estudada. O teste do Qui-quadrado
também revelou associação estatisticamente significante entre as variáveis estudadas
(p< 0,001).
32
32
Tabela 3- Estado nutricional dos adultos maiores de 18 anos segundo o sexo e a faixa
etária. Pernambuco, 1997
Variáveis Estado Nutricional (IMC)
Adequado Sobrepeso Obesidade n=1684 % n=780 % n=322 %
Análise Estatística
Sexo
Masc.
Fem.
Faixa Etária
(anos)*
18 – 24
25 – 29
30 – 39
40 – 49
50 – 59
60 - 69
≥ 70
582
1102
587
354
441
155
70
44
33
65,8
58,0
75,0
65,7
55,8
47,1
41,2
39,3
53,2
242
538
149
124
268
115
63
41
20
27,3
28,3
19,0
23,0
33,9
35,0
37,1
36,6
32,3
61
261
47
61
82
59
37
27
09
6,9
13,7
6,0
11,3
10,4
17,9
21,8
24,1
14,5
χ²=30,69
p<0,001
χ²=177,23
p<0,001
* Qui-quadrado de tendência linear χ²= 134,25 p <0,001
Os fatores sócio-econômicos selecionados foram: grau de alfabetização, nível de
escolaridade (anos freqüentados) e condição de trabalho (Tabela 4).
O sobrepeso foi muito mais freqüente do que a obesidade nas duas categorias de
alfabetização e nos cinco níveis de escolaridade, embora não se tenham observado
diferenças estatisticamente significantes entre as variáveis estado nutricional, grau de
alfabetização e nível de escolaridade (p= 0,24 e p= 0,52, respectivamente). No que se
refere à condição de trabalho, aqueles que não exerciam nenhuma atividade fora de
casa, os estudantes, autônomos e os que trabalhavam com estabilidade apresentaram
maiores prevalências de sobrepeso e obesidade em relação aos trabalhadores sem
estabilidade e desempregados, observando-se também, uma associação estatisticamente
significante (p< 0,001), entre condição de trabalho e estado nutricional.
33
33
Tabela 4- Estado nutricional dos adultos maiores de 18 anos, segundo o grau de
alfabetização, nível de escolaridade (anos) e condição de trabalho. Pernambuco, 1997
Estado Nutricional (IMC) Variáveis Adequado
n=1684 % Sobrepeso
n=780 % Obesidade
n=322 %
Análise Estatístca
Grau de alfabetização
Alfabetizada
Analfabeta
Nível de escolaridade
(anos)*
NFE
1 - 4
5 – 8
9 – 11
> 12
Condição de trabalho
Não trab.
Trab. c/ estab.
Trab. s/ estab.
Autônomo
Desempregado
1207
477
337
539
424
263
101
676
292
283
292
141
59,5
63,0
62,5
57,8
62,1
62,6
58,0
60,2
51,2
71,3
59,5
68,8
582
198
144
282
176
114
53
303
201
84
142
50
28,7
26,2
26,7
30,3
25,8
27,1
30,5
27,0
35,3
21,2
28,9
24,4
240
82
58
111
83
43
20
144
77
30
57
14
11,8
10,8
10,8
11,9
12,2
10,2
11,5
12,8
13,5
7,6
11,6
6,8
χ²=2,87
p= 0,24
χ²=7,17
p= 0,52
χ²=49,97
p< 0,001
* Sem informação: anos de escolaridade – 38 casos
5.3 -Estado Nutricional e níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos
A tabela 5 e os gráficos 2, 3 e 4 (Anexo) apresentam o estado nutricional,
segundo o IMC, com relação aos níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos.
A prevalência de sobrepeso foi discretamente maior em relação à obesidade
(7,3% e 5,8%, respectivamente) nos adultos com hiperglicemia. Relação inversa foi
observada nas dosagens de colesterol e triglicerídeos onde a obesidade teve maior
prevalência que o sobrepeso com valores de 32,7% contra 30,6% e 20,4% contra 17%,
34
34
respectivamente. A associação entre estado nutricional e os níveis de glicose, colesterol
e triglicerídeos foi estatisticamente significante para os testes estatísticos utilizados.
Quanto ao sexo, a hiperglicemia nos adultos masculinos não foi considerada
no teste estatístico devido ao tamanho reduzido da amostra. No entanto foi significante
quando avaliado como variável contínua (p=0,008). O colesterol e o triglicerídeo se
mostraram mais acentuados no sobrepeso, embora apenas o triglicerídeo tenha se
associado significantemente com o estado nutricional (p<0,001). O mesmo ocorreu
entre as mulheres, com significância estatística entre estado nutricional e triglicerídeo
(p<0,001), porém com maior prevalência da obesidade entre aquelas com níveis mais
elevados de colesterol e triglicerídeo (Tabela 6).
Tabela 5- Níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos, com relação ao estado
nutricional, em adultos de 30 a 69 anos. Pernambuco, 1997
Total Estado Nutricional (IMC)
Variáveis n
% Adequado n %
Sobrepeso n %
Obesidade n %
Análise Estatística
Glicemia < 120 ≥ 120 Total
Mediana* (25-75)
Colesterol
< 200 ≥ 200 Total
Mediana* (25-75)
Triglicerídeos
< 200 ≥ 200 Total
Mediana* (25-75)
608 28
636
466 170 636
563 74
637
95,6 4,4
100,0 87
(79-95)
73,3 26,7
100,0 183
(163-206)
88,4 11,6
100,0 117
(91-156)
308 06
314
246 70
316
300 16
316
98,1 1,9
49,4 85
(77-93)
77,8 22,2 49,7 181
(160-200)
94,9 5,1
49,6 109
(85-137)
202 16
218
54 68
222
185 38
223
92,7 7,3
34,3 88
(80-95)
69,4 30,6 34,9 184
(168-209)
83,0 17,0 35,0 127
(103-174)
98 06
104
66 32 98
78 20 98
94,2 5,8
16,4 91
(81-100)
67,3 32,7 15,4 188
(163-212)
79,6 20,4 15,4 140
(110-188)
p<0,01
p<0,001
p<0,05
p=0,008
p<0,001
p<0,001
* Kruskal-Wallis H para valores de p
35
35
Tabela 6- Níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos, com relação ao estado
nutricional, segundo o sexo, em adultos de 30 a 69 anos. Pernambuco, 1997
Masculino IMC Variáveis
Adequado n %
Sobrepeso n %
Obesidade n %
Análise Estatística
Glicemia* < 120 ≥ 120 Total
Mediana (25-75)*
Colesterol
< 200 ≥ 200 Total
Mediana (25-75)*
Triglicerídeos
< 200 ≥ 200 Total
Mediana (25-75)*
120
0 120
94 25
119
109 11
120
100,0
0,0 57,4 85
(78-95)
79,0 21,0 58,0 180
(161-200)
90,8 9,2
58,3 112
(90-147)
67 05 72
46 26 72
46 26 72
93,1 6,9
34,4 89
(82-98)
63,9 36,1 35,1 188
(168-212)
63,9 36,1 35,0 159
(113-245)
16 01 17
09 05 14
10 04 14
94,1 5,9 8,1 94
(90-105)
64,3 35,7 6,8 191
(163-206)
71,4 28,6 6,8 157
(131-257)
p= 0,008
p=0,06
p=0,07
p<0,001
p <0,001 Feminino
IMC Variáveis
Adequado n %
Sobrepeso n %
Obesidade n %
Análise Estatística
Glicemia < 120 ≥ 120 Total
Mediana (25-75)*
Colesterol
< 200 ≥ 200 Total
Mediana (25-75)*
Triglicerídeos
< 200 ≥ 200 Total
Mediana (25-75)*
188 06
194
152 45
197
191 05
196
96,9 3,1
45,4 85
(77-92)
77,2 22,8 45,7 181
(158-200)
97,4 2,6
45,5 107
(85-132)
135 11
146
108 42
150
139 12
151
92,5 7,5
34,2 87
(79-94)
72,0 28,0 34,8 183
(169-206)
92,1 7,9
35,0 115
(96-153)
82 05 87
57 27 84
68 16 84
94,3 5,7
20,4 84
(81-98)
67,9 32,1 19,5 187
(162-212)
1,0 19,0 19,5 135
(109-181)
p=0,17
p= 0,01
p=0,23
p=0,09
p<0,001
p <0,001 * Devido ao pequeno tamanho amostral (glicemia ≥ 120 mg/dL) não foi possível calcular o qui-quadrado * Kruskal-Wallis H para valores de p
36
36
37
37
6.1-Características gerais da população estudada
A população estudada, composta de 2.786 adultos maiores de dezoito anos,
esteve mais concentrada nas áreas urbanas, correspondendo a 72,4% do total da
amostra, seguindo portanto, a tendência mundial de urbanização das sociedades.
A Europa e América do Norte deixaram de ser as únicas áreas de maior
concentração urbana do planeta. Após a II Guerra Mundial, o processo de urbanização,
de migração das populações das áreas rurais para as urbanas, decorrentes do processo de
industrialização, vem também ocorrendo nos países menos desenvolvidos. O último
censo demográfico brasileiro realizado em 2000 (IBGE, 2000), registrou um percentual
de 81% de pessoas vivendo em áreas urbanas, quase 10% a mais do percentual
encontrado neste estudo. O quadro atual difere totalmente do que existia em 1950
quando 66% da população era fundamentalmente rural (PATARRA, 1995).
Com referência a idade dos adultos estudados, verificou-se que três quartos da
população (75,9%) tinham menos de 40 anos, e 12,3% encontram-se na faixa etária
acima de 50 anos. Este dado é importante, constituindo-se um reflexo do aumento da
expectativa de vida ao nascer que vem ocorrendo nas últimas décadas.
Em função da baixa fecundidade e reduzida mortalidade infantil, a vida média
elevou-se, resultando, atualmente, numa expectativa de sobrevivência de 67 anos
(IBGE, 2000). A pirâmide populacional, antes formada, em sua maior composição, por
crianças, adolescentes e jovens, hoje já apresenta um perfil aproximado do padrão
vigente nos países desenvolvidos, com uma participação crescente de pessoas com mais
de cinqüenta anos nos patamares medianos e superiores da sua estrutura (BATISTA
FILHO & RISSIN, 2003).
38
38
A expectativa de vida da mulher particularmente é maior que a dos homens
(KALACHE et al., 1987; VERAS et al., 1987). Isto acontece, principalmente, nos
países desenvolvidos e em menor escala nos países em desenvolvimento. Esta diferença
entre os sexos se torna ainda maior com o avanço da idade.
O percentual de adultos acima de 60 anos encontrados no presente estudo foi de
6,2%. Comparando com os dados do IBGE (2000), o Brasil apresenta 8,5% da
população maior de 60 anos. Dessas informações, pode-se deduzir que o contingente de
idosos vem aumentando nos últimos anos, acompanhando uma tendência mundial,
confirmada por SHAAN et al (2004) que encontrou 19,5% das mulheres gaúchas com
mais de 60 anos. Na América Latina, entre 1980 e o ano 2000, a estimativa era de que a
população acima de 60 anos deveria aumentar 236%, ou seja, bem mais do que o
percentual de aumento da população como um todo (KALACHE et al., 1987).
6.2-Avaliação do estado nutricional
A obesidade é um dos mais importantes fatores de risco associados à várias
doenças crônicas como a hipertensão arterial sistêmica (HAS), o diabete mellito não
insulino dependente (NIDDM), as doenças do coração e algumas formas de câncer. A
obesidade é, atualmente, considerada pela OMS como uma “epidemia global”,
atingindo tanto países desenvolvidos, quanto os em desenvolvimento (GIGANTE et al.,
1997; WHO, 1998; FISBERG, 2004).
No presente estudo, o sobrepeso e a obesidade foram maiores no IU (30,8% e
13,8%), seguido da RMR (26,9% e 11,8%) e do IR (25,8% e 8,3%) respectivamente,
diferenças estas estatisticamente significante (p < 0,001).
39
39
A obesidade é maior nas áreas urbanas que nas rurais, e é interessante verificar
que o maior percentual de sobrepeso e obesidade ocorreu no IU. Essa evidente
associação entre sobrepeso e obesidade e local de residência é preocupante, devido ao
aumento da população urbana como visto anteriormente, principalmente nos países em
desenvolvimento como é o caso do Brasil. Já no Canadá, REEDER et al (1997)
encontraram um quadro oposto onde a população urbana foi a que apresentou menor
índice de obesidade (25%) contra os 35% registrados na zona rural.
No presente estudo a prevalência de sobrepeso e obesidade foi de 28% e 11,6%,
respectivamente, sendo 27,3% e 6,9% para o sexo masculino e 28,3% e 13,7% para o
feminino. A prevalência de obesidade no sexo feminino duplicou em relação ao
masculino. MONDINI & MONTEIRO (1998), analisando dados da PNSN-1989
(INAN, 1990), encontraram um percentual de 15% de adultos obesos sendo 9,5% de
homens e 20% de mulheres. Segundo a POF 2002/03 (IBGE, 2004) os percentuais mais
recentes de sobrepeso e obesidade encontrados, no Estado de Pernambuco, foi da ordem
de 37,9% e 10,2% no sexo masculino, respectivamente e 44,2% e 12,3% no sexo
feminino, respectivamente o que constata uma situação semelhante para os dois sexos.
Os dados comprovam a mudança do perfil nutricional da população e sugere que a
transição da condição de desnutrição para obesidade está cada vez mais acentuada.
Estudos mundiais também detectam essa mudança. Nos EUA, a obesidade é um
problema que afeta principalmente os pobres e as minorias, além das mulheres
(MAILLARD et al., 1999; HEDLEY et al., 2004). Dados recentes da AOA (2005)
confirmam esta tendência americana, onde cerca de 38% das mulheres estudadas
apresentavam IMC ≥ 30, enquanto que entre os homens esses índices eram de 33%.
40
40
Em outros países, o crescimento da obesidade também é preocupante. Em 2003,
uma pesquisa realizada entre portugueses, residentes na cidade de Porto, de 18 a 90 anos
apresentou 21,3% da população com IMC ≥ 30 (SANTOS & BARROS, 2003). Na
Espanha, a prevalência de obesidade aumentou em 5% entre 1987 e 1997, tanto para
homens quanto para mulheres (GUTIERREZ-FISAC et al., 2003).
No Rio Grande do Sul, em um estudo realizado por GIGANTE et al (1997) na
zona urbana do município de Pelotas, foi encontrado um percentual de 21% para a
obesidade e 40% para o sobrepeso, sendo a obesidade significativamente mais elevada
nas mulheres do que nos homens (25% e 15%, respectivamente). MONTEIRO et al
(1995), estudando a transição nutricional no Brasil nas últimas décadas, observou que o
número de obesos quase dobrou (5,7% para 9,6%). Nesse período, as mulheres obesas
corresponderam a um percentual de 8,2% na pesquisa realizada em 1974-75 e de 13,3%
em 1989, o que demonstra o crescimento da obesidade neste segmento da população.
Este fato também é confirmado em um estudo realizado por ABRANTES et al (2003)
em crianças, adolescentes, adultos e idosos das regiões Nordeste e Sudeste onde os
autores observaram 28,3% de sobrepeso e 9,7% de obesidade entre os adultos, sendo a
obesidade maior no sexo feminino do que no masculino (12,7% e 6,7%,
respectivamente).
As razões para o aumento da obesidade são várias e entre elas ressaltam o
aumento do consumo de açúcar, das gorduras em geral e saturadas e o consumo
insuficiente de frutas e hortaliças, comprovado pelos dados de disponibilidade
domiciliar de alimentos da POF 2002/03 (IBGE, 2004). Quando se observa a tendência
da evolução dos padrões de consumo alimentar nas últimas três décadas, tanto nas
regiões mais desenvolvidas do país (Sul e Sudeste) quanto nas economicamente menos
41
41
desenvolvidas (Norte e Nordeste), ressalta a persistência de um teor excessivo de açúcar
na dieta e aumento no consumo de gorduras em geral, não evidenciando qualquer
tendência de superação dos níveis insuficientes de consumo de frutas e hortaliças. Um
outro fator é a diminuição da atividade física (MONDINI & MONTEIRO, 1998;
MONTEIRO et al., 1995 ; WHO, 1998).
No presente estudo a prevalência de obesidade manteve-se praticamente estável
dos 25 a 39 anos, com aumento progressivo na faixa etária dos 40 a 69 anos. Na
população acima de 70 anos ocorreu uma redução da obesidade. O sobrepeso aumenta
progressivamente até os 70 anos, quando começa a declinar. SCHIERI et al (1994)
também encontrou maior prevalência de obesidade entre 45 e 64 anos e ANSELMO et
al (1992) demonstrou que o aumento de peso acompanha o aumento da idade nas
mulheres. Achados semelhantes foram observados na PPV-1997 (IBGE, 1998) com o
aumento da prevalência do sobrepeso, para ambos os sexos, com o avançar da idade
havendo também um declínio a partir dos 70 anos e o aumento da obesidade em
mulheres. (GIGANTE et al., 1997; MARTINS et al., 1999; ABRANTES et al., 2003;
MARINHO et al., 2003). A diminuição da prevalência do sobrepeso e da obesidade
entre os idosos também foi descrita por outros autores (COITINHO et al., 1991; WHO,
1995). Na Arábia Saudita, a maior prevalência de obesidade (33,7%) foi descrita na
quinta década de vida e a menor entre 18 e 29 anos de idade (10,6%) (AL-
SHAMMARI et al., 2001).
Quando analisado o estado nutricional pela variável escolaridade considerando
as categorias: “alfabetizado e analfabeto” observou-se que não houve diferença
estatisticamente significante, o que leva a sugerir o seu baixo poder discriminatório.
42
42
O sobrepeso e a obesidade segundo o nível de escolaridade da população
estudada evidencia valores semelhantes de prevalência em todos os estratos não
havendo diferença estatisticamente significante. Isto significa que a obesidade atinge
todos igualmente.
MONTEIRO et al (2003) observaram, através da PPV-1997 (IBGE, 1998), que a
obesidade tende a aumentar entre mulheres com baixa escolaridade (nenhuma e 1 a 4
anos de estudo), porém se estabiliza ou mesmo declina, nos demais estratos. Por outro
lado, um outro estudo realizado na área metropolitana de São Paulo, descreve que a
prevalência do sobrepeso e da obesidade são maiores no terceiro estrato da população,
formada por adultos com 9 a 11 anos de escolaridade (MARTINS et al., 1999).
TAVARES & ANJOS (1999) encontraram um aumento da prevalência de
sobrepeso até a faixa de 9 a 11 anos de escolaridade, entre os idosos com idade acima de
60 anos. Em Portugal a maior prevalência de obesidade foi descrita entre as mulheres
com menos de 4 anos de escolaridade havendo um declínio de cerca de 25% no estrato
de máxima escolaridade (SANTOS & BARROS, 2003). A relação entre obesidade e
níveis de instrução também foi encontrada em outros estudos onde foi observado que
adultos com baixa escolaridade estão mais sujeitos à obesidade, o que de certa forma
está indiretamente relacionado com a renda, onde os mais pobres são os que têm menos
acesso à educação (MAC DONALD et al., 1997; GUTIERREZ-FISAC et al., 2003 ;
AOA, 2005).
A condição de trabalho mostrou que os que não trabalham (estudantes e donas
de casa), os que trabalham com estabilidade e os autônomos apresentaram as maiores
prevalências de sobrepeso e obesidade. Já os que trabalham sem estabilidade e os
desempregados apresentaram comportamentos semelhantes, com as menores
43
43
prevalências, observando-se uma diferença estatisticamente significante (p<0,001).
Diante deste fato pode-se concluir que estas duas categorias são, provavelmente, as mais
pobres. Estes resultados se assemelham ao estudo realizado por MARTINS et al (1999).
O estilo de vida da população urbana está relacionado com uma série de fatores
que afetam a dieta, a atividade física e por conseguinte a composição corporal.
A Estratégia Global – EG (OMS, 2004) relata que o aumento da atividade física
por si só é insuficiente para perda ou manutenção do peso das pessoas obesas. Quando
associada à dieta, já foi demonstrado que a atividade física e o exercício contribuem
para a perda de peso mais rápida, sem redução concomitante de massa magra e com
menor índice de recidiva do aumento de peso.
6.3-Níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos e estado nutricional
Com relação aos níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos, foi detectada a
presença de hiperglicemia (≥120 mg/dL) em apenas 4,4% dos adultos, divergindo do
estudo realizado por SHAAN et al (2004) com a população urbana adulta do Rio
Grande do Sul, com 12,4% de prevalência de diabéticos com glicemia de jejum
(≥120mg/dL). O baixo percentual encontrado, no presente estudo, provavelmente, se
explica pelo critério adotado na seleção da amostra, ou seja, domicílios com crianças
menores de cinco anos.
A prevalência de hiperglicemia foi mais freqüente entre os indivíduos com
sobrepeso e obesidade apesar do pequeno número amostral.
SHAAN et al (2004) e GIGANTE et al (1997) observaram uma associação
estatisticamente significante, em indivíduos com níveis alterados de glicemia de jejum e
com diabetes, com o aumento da idade e do IMC. É provável que esses aumentos na
44
44
prevalência de diabetes decorram do já estabelecido aumento na prevalência de
obesidade no Brasil, encontrado nos três estudos transversais entre 1975 e 1997
(MONTEIRO et al., 2000). O elevado número de obesos na população atualmente
estudada em ambos os sexos reforça esta hipótese. Além disso, foram observados maior
IMC e maior número de obesos dentre os indivíduos com algum grau de anormalidade
da homeostase glicêmica (diabetes ou glicemia de jejum alterada). GIGANTE et al
(1997) relataram que pacientes diabéticos apresentaram um risco de 2,6 vezes maior de
serem obesos do que aqueles que não referiram esta patologia.
BLUMENKRANTZ (1997) afirmou que para o aumento de 10% no peso
corporal, há aumento de 2mg/dL na glicemia de jejum, há aumento na incidência de
doenças coronarianas em aproximadamente 20%, além da elevação no colesterol
plasmático em torno de 12mg/dL. Isto está relacionado com a dislipidemia na
obesidade, representada pela elevação do colesterol total, do colesterol LDL e dos
triglicerídeos circulantes e diminuição na lipoproteína de alta densidade – colesterol
HDL .Em outras regiões do Brasil, em sub-população específica, o aumento da
incidência de diabetes foi paralelo ao aumento da obesidade, de forma que diferenças
regionais de fatores envolvidos na determinação da diabetes, além da obesidade,
estariam atuando (GIMENO et al., 2002).
FRANCISCHI et al (2000) observaram que no desenvolvimento de diabetes, o
tecido adiposo atua aumentando a demanda por insulina e, em pacientes obesos, criando
resistência a esta, o que ocasiona aumento na glicemia e conseqüente hiperinsulinemia.
Americanos estudados por um período de dez anos apresentaram associação
entre o aumento do IMC e o aumento do NIDDM (FORD et al., 1997). BENDER et al
(1998) encontrou uma associação entre a obesidade, o diabetes e a hipertensão, porém
não encontrou associação significante com o colesterol.
45
45
Essa associação é preocupante em virtude da tendência crescente de mortalidade
proporcional por diabetes verificada em diversos estudos onde o diabetes aparece
relacionado com a causa básica de morte (LESSA et al., 1995 ; FORD et al.,1997).
O grande problema do diabetes é o número de hospitalizações decorrentes de
complicações crônicas ou agudas e que onera os serviços de saúde já que o custo do
leito-dia do diabético é mais dispendioso que os de outras doenças como as
cardiovasculares e o câncer.
O diabetes tipo II não insulino dependente, representa 95% da população
diabética, sendo que a maior parte tem mais de 40 anos e é obesa. Mais uma vez temos a
associação obesidade vs diabetes vs idade. E a hiperinsulinemia por sua vez leva ao
aumento dos níveis plasmáticos de colesterol (HALPERN et al., 2000). O aumento dos
níveis de triglicerídeos está também associado a fatores como obesidade e diabetes
mellitus mal controlada (BURCH & WARNER, 1988).
A associação entre obesidade, diabetes e dislipidemias também é constatada por
RABKIN et al (1997) que alerta para o fato de que, quanto mais jovem a pessoa tiver
sobrepeso, maior é a probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares. Em São
Paulo, 1990, a prevalência de obesidade ocorria em 38% dos indivíduos, as
dislipidemias em 26% e o diabetes em 5% (CERVATO et al., 1997). Comparando com
os dados do presente estudo, vemos uma situação atual que se assemelha com a de São
Paulo (26,7% para o colesterol e 4,4% para a hiperglicemia).
A obesidade é forte precursor de mortalidade por diabetes e doenças
cardiovasculares, e pessoas com mais de 25% de sobrepeso têm cinco vezes mais risco
de mortalidade por diabetes que indivíduos magros (SALOMON & MASON, 1997).
MARTINS et al (1996) definiu como o “quarteto da morte”: a obesidade, a hipertensão,
a intolerância à glicose e a hipertrigliceridemia.
46
46
Taxas de colesterol elevadas foram encontradas em 26,7% dos adultos. A
prevalência de hipercolesterolemia foi de aproximadamente um terço na população de
sobrepeso e obesidade e de 22,2% na população de indivíduos com IMC adequado.
Com relação ao sexo não foi encontrada diferença estatisticamente significante quanto a
hiperglicemia e hipercolesterolemia, provavelmente, devido ao tamanho amostral.
Estima-se que 51,8% da população americana apresentam colesterol total
limítrofe (entre 200 e 239 mg/dL) e 20% colesterol acima de 240 mg/dL. No Brasil,
DUNCAN et al (1988) estudando a população de Porto Alegre, em 1988, encontraram
taxas de 191 a 250 mg/dL de colesterol total em 44% da população. NICOLAU et al
(1992) realizaram um estudo com adultos residentes na cidade de São José do Rio Preto
e demonstraram que 22% dos pacientes apresentaram colesterol entre 201 e 239 mg/dL
e 16% acima de 240 mg/dL.
O sobrepeso e a obesidade apareceram positivamente relacionados com os níveis
de triglicerídeos (p<0,001) onde a prevalência de adultos que apresentaram
hipertrigliceridemia foi de 11,6%. Observou-se também uma associação
estatisticamente significante da hipertrigliceridemia com relação ao sexo.
SANTOS & BARROS (2003) encontraram uma maior prevalência de mulheres
obesas (27,1%) com hipertrigliceridemia em relação aos homens obesos (23,4%) com
diferença estatisticamente significante. Dados estes que diferem dos encontrados nesta
pesquisa, onde houve uma maior prevalência de hipertrigliceridemia em homens obesos
(28,6%) em relação às mulheres obesas (19%). Ficou evidente que a
hipertrigliceridemia se apresenta com valores bem maiores nos homens como um todo.
Estudo sobre os fatores de risco cardiovasculares realizados por VON HAFE et
al (1998) em população portuguesa encontraram 8% de indivíduos diabéticos não
47
47
insulino dependente (NIDDM), 67% de hipercolesterolemia e 13,9% de hipertrigli-
ceridemia.
BARRETO et al (2001) relataram que no Brasil as DCNT foram responsáveis
pela maior parcela de óbitos e despesas com assistência hospitalar no Sistema Único de
Saúde (SUS), totalizando cerca de 69% dos gastos com atenção à saúde em 2002. Desde
a década de 60, as DCV lideram as causas de óbito no país e atualmente, elas se
constituem a causa básica de morte de cerca de dois terços do total de óbitos com causas
conhecidas.
CHANG & CHAIT (1999) afirmaram que estudos epidemiológicos têm
mostrado serem as DCV, uma causa relativamente rara de morte, quando da ausência
dos fatores de risco já referenciados.
STAMLER et al (1999) mostraram que aproximadamente 75% dos casos novos
das DCV ocorridos nos países desenvolvidos nas décadas de 70 e 80, poderiam ser
explicados por dieta e atividade física inadequadas, expressos por níveis lipídicos
desfavoráveis, obesidade e aumento da pressão arterial, associados ao hábito de fumar.
Diversos outros estudos mostram esta correlação e conseqüentemente sua associação
com as doenças cardiovasculares (DUNCAN et al., 1993 ; MARTINS et al., 1993 ;
CABRAL, 1994 ; CARVALHO, 1994 ; MORAES & SOUZA, 1996 ; GIGANTE et al.,
1997 ; REEDER & SENTHILDEVAN, 1997).
Os fatores de risco das DCNT, ao longo de trinta anos (1964 a 1995) foi o tema
de estudo de LESSA et al (1995) que encontrou a obesidade entre os fatores de risco
predominantes, junto com a hipercolesterolemia, o sedentarismo e o diabetes.
O presente estudo confirma a associação entre sobrepeso, obesidade,
hiperglicemia, hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia.
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Finalizando a OMS, em 2004, reconhecendo a importância de uma estratégia
mundial sobre alimentação saudável, atividade física e saúde ser um marco na
prevenção e controle integrados das doenças crônicas não transmissíveis, elaborou um
documento cuja meta geral é promover e proteger a saúde orientando a criação de um
segmento favorável para a adoção de medidas sustentáveis em nível individual,
comunitário, nacional e mundial, que, em conjunto, dão lugar a redução da morbidade e
da mortalidade associadas a uma alimentação pouco saudável e a falta de atividade
física. Essas medidas contribuem para atingir os objetivos de desenvolvimento do
milênio das Nações Unidas visando beneficiar a saúde pública no mundo.
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50
A partir dos resultados encontrados, conclui-se que:
• A prevalência do excesso de peso no grupo de adultos estudados foi de 39,6%
segundo o Índice de Massa Corporal (IMC), dos quais 28% corresponderam ao
sobrepeso e 11,6% a obesidade.
• Dos três estratos estudados, o Interior Urbano foi o que apresentou maior
freqüência de sobrepeso e obesidade, seguido da RMR.
• O sobrepeso e a obesidade são mais freqüentes entre as mulheres e nos adultos
de 50 a 69 anos com uma associação estatisticamente significante. (p<0,001)
• O sobrepeso tende a aumentar com o avanço da idade e a obesidade apresentou
aumento progressivo dos 40 aos 70 anos.
• Dentre as variáveis demográficas e sócio-econômicas estudadas as que
mostraram associação significativa com o sobrepeso e a obesidade foram o local
de residência e a condição de trabalho. O sobrepeso e a obesidade são mais
freqüentes entre os adultos que trabalham com estabilidade e os residentes do
interior urbano e região metropolitana.
• A glicose, o colesterol e o triglicerídeos elevados apresentaram valores da ordem
de 4,4%, 26,7% e 11,6%, respectivamente.
• A associação do sobrepeso e obesidade com os índices elevados de glicose,
colesterol e triglicerídeos foi estatisticamente significante.
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A importância da redução da obesidade para a saúde pública e os investimentos
econômicos em alimentação e na qualidade de vida de pessoas obesas são
indispensáveis para que iniciativas nacionais, estaduais e municipais dirigidas a esta
enfermidade, multipliquem-se e consolidem-se de modo que venham a se transformar,
em políticas públicas articuladas, consistentes e permanentes de controle à obesidade.
A prevenção e o controle da obesidade não é responsabilidade apenas do
indivíduo, de sua família e dos profissionais de saúde e sim de todos os segmentos da
sociedade.
É relevante que a agenda da Saúde Pública do país incorpore a prevenção e o
controle das doenças crônico-degenerativas, reservando lugar de destaque à ações de
educação em alimentação e nutrição que alcancem de modo eficaz todos os estratos
econômicos da população.
Há que valorizar, portanto, a monitorização contínua do estado nutricional da
população, em todas as idades. Esta vigilância nutricional permitirá oferecer subsídios
para a tomada de decisões nas políticas públicas, assim como avaliar a efetividade das
ações empreendidas, visando a melhoria no estado de saúde e nutrição da população
brasileira.
Em virtude de sua elevada e crescente magnitude, se faz imprescindível uma
ampla revisão das prioridades e das estratégias de intervenção da Saúde Pública, no
campo da nutrição bem como novas pesquisas para que se possa aprofundar cada vez
mais os conhecimentos a respeito das causas, conseqüências, formas de prevenção e
tratamento da obesidade.
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53
A Estratégia Global da OMS (2004) recomenda “que os indivíduos adotem
níveis adequados de atividade física durante toda a vida”. Diferentes tipos e quantidades
de atividade física são necessários para se obter diferentes resultados na saúde: a prática
regular de 30 minutos de atividade física de moderada intensidade, podem ser
necessários para o controle do peso, visando reduzir o risco de doenças cardiovasculares
e diabetes, câncer de cólon e de mama.
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II PESQUISA ESTADUAL DE SAÚDE E NUTRIÇÃO – 1997 INAN / IMIP / DEPT° NUTRIÇÃO – UFPE / SES – PE
ANEXO 1:FORMULÁRIO I .- IDENTIFICAÇÃO
Nº DO QUESTIONÁRIO ………………………………………………………………………
MUNICÍPIO .................................................................................................................................
SETOR ..........................................................................................................................................
SITUAÇÃO (1. Urbanos 2. Rural) ...............................................................................................
ENDEREÇO ...................................................................................................................................
ENDEREÇO.............................................................................................................................................................................................................
(Ponto de referência)
TELEFONE...........................................................................................................................
NOME DO ENTREVISTADOR...............................................................................................................................................................................
DATA DA ENTREVISTA _______/_______/_________
ENTREVISTADOR...............................................................................................
SUPERVISOR DE CAMPO...................................................................................
TOTAL DE FOLHAS..............................................................................................
34
34
II PESQUISA ESTADUAL DE SAÚDE E NUTRIÇÃO – 1997 INAN/ IMIP/ DEPT° DE NUTRIÇÃO – UFPE/ SES – PE
ANEXO 2: FORMULÁRIO 2 – REGISTRO DE PESSOAS
Data do Nasc. Idade Pessoas de 6 aos Ou mais
Nº do Questionário
Sabe ler /
escrever
Última série
Concluída
Renda Mensal
Nº de
ordem na
Famí-lia
Nome Condi- cão na Família
Sexo M
( ) F
( )
Dia Mês Ano
Anos Meses
1. Sim 2. Só Lê 3. Não 4. IGN
Série
Grau
Condição no
Traba lho
Trab Outro
Peso 1
kg
Alt1 cm
Peso 2
kg
Alt 2
cm
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Códigos Condição na família Condição no trabalho
1. Chefe 6. Agregado 2. Conjuge 7. Pensionista 3. Filho 8. Empregado doméstico 4. Filho adotivo 5. Outro parente_______________________
0. Não trabalha 5. Biscateiro 1.Empregado com carteira 6. Autônomo 2. Funcionário público 7. Aposentado/pensionista 3.Empregado sem carteira Filho 8. Criança/Estudante 4. Desempregado
35
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II PESQUISA ESTADUAL DE SAÚDE E NUTRIÇÃO – 1997 INAN/ IMIP/DEPT° DE NUTRIÇÃO – UFPE/ SES – PE
ANEXO 3: FORMULÁRIO 9 – REGISTRO CLÍNICO LABORATORIAL
DATA: ____/____/_____ MUNICÍPIO: _____________________ SETOR:________________
ENTREVISTADOR:_____________________________________________ QUESTIONÁRIO: _________________
ENDEREÇO DE DOMICÍLIO: ______________________________________________________________________________ CRIANÇA < 5 ANOS
COLETOU SANGUE HEMOGLOBINA
Nº DE ORDEM NA FAMÍLIA
NOME COMPLETO
SIM NÃO
RETINOL SÉRICO
MULHERES 10 – 49 ANOS COLETOU SANGUE?
PRESSÃO ARTERIAL
(mmHg)
Hemoglobina
COLESTEROL Nº DE ORDEM NA
FAMÍLIA
NOME COMPLETO SIM NÃO Máx Min g%
GLICEMIA
mg%
TESTE LUÉTICO
TOT HDL LDL
TRIGLICE RÍDEOS
HOMENS DE 30 – 69 ANOS E MULHERES DE 50 A 69 ANOS COLETOU SANGUE?
PRESSÃO ARTERIAL
(mmHg)
Hemoglobina
COLESTEROL Nº DE ORDEM NA
FAMÍLIA
NOME COMPLETO SIM NÃO Máx Min g%
GLICEMIA
mg%
TESTE LUÉTICO
TOT HDL LDL
TRIGLICE RÍDEOS
33
33
1,9 7,3 5,8
94,292,798,1
0
20
40
60
80
100
Adequado Sobrepeso Obesidade
< 120 mg/dL≥ 120 mg/dL
Gráfico 2- Níveis de glicose, com relação ao estado nutricional (IMC) em adultos de 30
a 69 anos. Pernambuco, 1997
77,869,4 67,3
22,230,6 32,7
0
20
40
60
80
100
Adequado Sobrepeso Obesidade
< 200 mg/dL≥ 200 mg/dL
Gráfico 3- Níveis de colesterol, com relação ao estado nutricional (IMC) em adultos de
30 a 69 anos. Pernambuco, 1997
94,983 79,6
5,117 20,4
0
20
40
60
80
100
Adequado Sobrepeso Obesidade
< 200 mg/dL≥ 200 mg/dL
Gráfico 4- Níveis de triglicerídeos, com relação ao estado nutricional (IMC) em
adultos de 30 a 69 anos. Pernambuco, 1997
%
%