PRÉ-PROJETO DE PARCELAMENTO DO PROJETO DE ASSENTAMENTO
SANTA HELENA – CARINHANHA/BAHIA.
Nielson Pereira da S. Bonfim1
Maria da Conceição B. de Araújo Nogueira2
Alexandre Eduardo de S. Dormundo3
Claudineia de Souza Santana4
RESUMO
O pré-parcelamento é uma atividade para discussão da organização espacial de um
Projeto de Assentamento. Os resultados irão embasar o INCRA – Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária e seus propostos na divisão dos lotes individuais, áreas
de uso comum e o atendimento da legislação ambiental – Área de Reserva Legal e Área
de Preservação Permanente e uso racional dos recursos naturais. A participação dos
assentados em todos os momentos da atividade podem ser classificadas como
ferramenta importante para discussões que visam o interesse coletivo.
Palavras-chaves: Parcelamento; Reforma Agrária; Assentamentos.
ABSTRACT
The pre-installment is an activity for discussion of the spatial organization of a
Settlement Project. Results will base the INCRA - National Institute of Colonization
and Agrarian Reform in the division of individual lots, common areas and
environmental compliance - Area Legal Reserve and Permanent Preservation Area and
rational use of natural resources. The participation of the settlers throughout the
moments of activity can be classified as an important tool for discussions which aim the
collective interest.
Keywords: installment, agrarian reform, settlement.
1 Engenheiro Agrônomo, FUNDESF – Fundação Juazeirense para o Desenvolvimento Científico, Tecnológico,
Ecônômico, Sociocultural e Ambiental. E-mail: [email protected] 2 Bióloga, FUNDESF – Fundação Juazeirense para o Desenvolvimento Científico, Tecnológico, Econômico,
Sociocultural e Ambiental. E-mail: [email protected] 3 Biólogo, EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S/A. E-mail: [email protected] 4 Pedagoga, EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S/A. E-mail: [email protected]
1. INTRODUÇÃO
O pré-parcelamento consiste em uma ferramenta para discussão da organização espacial
de um PA – Projeto de Assentamento, pois promove aos assentados apropriação da área
do PA e dos elementos que o compõem. Os resultados do pré-parcelamento (mapa de
uso proposto e relatório de situação) irão embasar o INCRA – Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária e seus propostos na divisão dos lotes individuais, das
áreas de uso comum (áreas coletivas) e ainda no que tange o atendimento da legislação
ambiental, auxiliando o licenciamento ambiental, localização adequada da ARL – Área
de Reserva Legal e identificação das APP – Área de Preservação Permanente, além do
uso racional dos recursos naturais.
Como utiliza-se metodologias participativas, os assentados estão envolvidos
integralmente no processo, o que além de promover empoderamento aos assentados nas
decisões da divisão espacial do PA e de sua área de vida, proporciona também
fortalecimento desses como comunidade e ainda com a equipe técnica de ATES5
que os
assistem.
2. ÁREA DE TRABALHO
O Projeto de Assentamento Santa Helena está localizado no município de Carinhanha –
Bahia, com proximidade aos municípios de Serra do Ramalho, Bom Jesus da Lapa
(ambos no estado da Bahia) e Montalvânia (Minas Gerais). O projeto visa beneficiar um
total de 70 (setenta) famílias, que já residem na comunidade.
A área do assentamento fica em uma região onde o clima sofre influência da massa
Equatorial Continental no sentido leste para oeste, variando de 700 mm (Calha do Rio
São Francisco) a 1.600 mm na fronteira ocidental. Possui uma distribuição desigual
durante o ano, pois seu período de chuva concentra-se em 03 meses, sendo os meses de
novembro a janeiro o período considerado como chuvoso, com precipitação média de
813 mm, com variação máxima de 2.150 mm e mínima de 250 mm. Os meses de Junho
a Agosto são secos, podendo o índice chegar à zero (mm).
A vegetação caracteriza-se como Floresta Estacional Decidual, onde na visita de campo
foram levantadas as espécies vegetais mais relevantes, com o auxílio dos assentados.
Existem 03 áreas de matas existentes, sendo 02 áreas ao norte do assentamento e 01 área
ao sul do assentamento. Esta última encontra-se em estágio de recuperação após corte
5 ATES – Assessoria Técnica, Social e Ambiental.
raso e queimada realizada pelo antigo dono da propriedade, bem como de grande
pressão antrópica por limitar com fazendas e outros assentamentos existentes.
O solo predominante é o latossolo Vermelho Amarelo Álico, classificado como bom
para produção. O relevo em sua maioria é plano, apesar de que o assentamento assim
como o município de Carinhanha encontrar-se numa depressão do rio São Francisco em
sua margem esquerda.
Quanto à hidrografia, o assentamento é cortado por dois rios intermitentes (rio Pituba e
rio Seco). O assentamento ainda possui várias lagoas e poços artesianos que foram
construídos pelo antigo dono, mas que necessitam de tubulação para seu funcionamento.
3. OBJETIVO
Executar o Pré-Parcelamento do PA Santa Helena – Carinhanha/Bahia, com a
elaboração de um mapa de uso proposto, focando os aspectos sociais, produtivos e
ambientais já existentes e projetados a fim de nortear o INCRA e seus prepostos na
divisão e organização espacial do mesmo – parcelamento de lotes, averbação de reserva
legal (ARL) e licenciamento ambiental.
4. EQUIPE COLABORADORA DOS TRABALHOS
A referida atividade contou com apoio de profissionais das mais diversas formações na
área de Ciências Biológicas, Ciências Agrárias e Ciências Sociais, contando com apoio
da EBDA6, FUNDESF
7 e INCRA
8 para sua realização.
5. APRESENTAÇÃO DAS FERRAMENTAS DO MAPA DO PA SANTA
HELENA
Nesta atividade, foi detectado no mapa através dos programas “Google Earth” e “Global
Mapper” a existência de mata, caracterizada como Floresta Estacional Decidual9 ao
norte e ao sul da área do assentamento; existência de um projeto de horticultura
integrada, conhecida como PAIS10
com cultivos de hortaliças; poços artesianos; áreas
utilizadas para plantio em torno de 60 hectares próximo à agrovila; áreas com vegetação
6 Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A 7 Fundação Juazeirense para o Desenvolvimento Científico, Tecnológico, Econômico, Sócio-cultural e Ambiental 8 Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. 9 Consulte-se Lorenzi (2002). 10 Produção Agroecológica, Integrada e Sustentável. Sistema de hortas circulares, que visam beneficiar agricultores
familiares na produção de alimentos por produção agroecológica.
caracterizada como capoeira rala e alta; área coletiva, utilizada próximo a antiga sede da
propriedade e de áreas impróprias para a agricultura.
Tabela 1. Objeto e finalidade das imagens captadas.
OBJETO
FINALIDADE
Utilização do programa Google Terra programa
(GIS)
Visualização de elementos sobrepostos como a
planta do PA sobre a cobertura vegetal, uso do
solo e APP(áreas de preservação permanente
Análise da cobertura vegetal através da
plotagem do perímetro do PA no “Google
Earth”
Identificar mancha de vegetação nas futuras áreas
de Reserva Legal; conformidade com a topografia
levantada nas área de APP
Utilização do QGIS – Quantum GIS Montar mapas de cobertura vegetal, utilizando a
base do IBGE como cartas norteadoras assim
como tipo de solo e bacia hidrográfica da região
em que está inserido o PA.
Discussão com o grupo da melhor estratégia
para se avaliar o campo estando no escritório
Ganhar tempo na ida ao campo com objetivos
traçados para avaliar os elementos pertinentes no
presente estudo, no caso, o ambiental e em
especial a Reserva Legal e as áreas de APPs;
Considerações
Avaliar comparativamente o levantamento
topográfico, os pontos plotados pela topografia e
a composição vegetal;
Identificar as demandas ambientais do PA
ajustando as conformidades ambientais de
acordo com as normas ambientais;
6. ATIVIDADES DE CAMPO
Os profissionais participantes e assentados do referido assentamento dividiram-se em
quatro grupos com áreas temáticas. As divisões ficaram: Grupo 01 com profissionais
ligados a área de Ciências Agrárias; Grupo 02 e Grupo 03 com profissionais ligados à
área ambiental e Grupo 04 com profissionais da área social. A atividade serviu para
confirmar as informações constantes no mapa e realização do levantamento das
habitações existentes e famílias residentes.
6.1. GRUPO 01 – GRUPO DE PRODUÇÃO
Em campo os profissionais visitaram as áreas que poderiam ser localizadas os lotes
produtivos individuais e a área coletiva, bem como área detectada como área inapta para
agricultura. Os assentados conhecedores da área também participaram, dando preciosas
informações de vivência da área.
A área observada para lotes individuais fica na porção central do assentamento Santa
Helena, fazendo divisa com a agrovila na parte norte e com a mata caracterizada na
porção sul do assentamento. Nesta área foi detectada a presença de 01 Sistema PAIS, 01
curral com animais pertencentes aos assentados, 01 poço artesiano que oferece água
para os animais (bovinos e equinos) e irriga o sistema PAIS e as hortaliças.
Para esta fração inicial da área, que contempla a agrovila do assentamento Santa Helena
até o poço artesiano, a vegetação caracteriza-se por uma capoeira baixa, cuja área já está
sendo trabalhada para cultivo pelos assentados, com modelo individual separado por
piquetes. O poço localiza-se próximo a uma cerca existente, que praticamente divide a
área visitada. Ainda localizou-se na visita uma estrada vicinal (Leste do assentamento),
cercas, vegetação caracterizada como capoeira em fase avançada de regeneração
(capoeira alta) e uma aguada, que fica ás margens da estrada.
Figura 01 – A (esquerda) – Rebanho bovino dos assentados em área coletiva;
Figura 01 – B (direita) – sistema PAIS instalado em área coletiva do assentamento.
Acima da agrovila, identificaram-se as seguintes instalações e realidades: antiga sede da
propriedade, área de APP para os riachos existentes, poço artesiano (não utilizado) e
estrada que dá acesso a área norte do assentamento. Sobre a área identificada como
“área inaproveitável para agricultura”, caracterizou-se um solo argiloso e compacto,
sem a presença de uma vegetação caracterizada. Segundo informações dos assentados
que nos acompanharam na visita, a área está em constante alagamento no período das
águas (novembro a março), o que impossibilita qualquer uso para lotes (individual ou
coletivo).
Na visita, concluímos que a primeira área visitada, na porção central do assentamento,
pode ser utilizada para a demarcação de lotes individuais, que possam contemplar boa
parte das famílias. Na área acima da agrovila, que seria a segunda área visitada próxima
da antiga sede, pode-se completar o número de lotes individuais necessários às famílias,
bem como estabelecer uma área coletiva de bem comum dos assentados. Deve-se
caracterizar a área inaproveitável para a agricultura como área de APP – Área de
Preservação Permanente ou incorporá-la a proposta da ARL, localizada na área norte do
assentamento.
Figura 01 – A (esquerda) – antiga sede da fazenda; Figura 02 – B (direita) –
área de alagadiço, inapropriada para a agricultura.
6.2. GRUPO 02 – GRUPO AMBIENTAL
6.2.1. FAUNA E FLORA
O estudo ambiental em campo serviu para avaliar as espécies vegetais encontradas,
definição do estágio de regeneração e tipo de vegetação existente, assim como a fauna,
localização de cultivos e infraestrutura em áreas de APP (se houver), recursos hídricos,
relevo, áreas degradadas, práticas degradantes, técnicas de manejo sustentáveis,
córregos temporários e áreas de alagadiço que não estejam no mapa. Todas as
observações pertinentes e observadas servirão de base para dar início ao processo de
licenciamento ambiental, atentando para o enquadramento do tipo de licença, levando
em consideração o tamanho da área do PA Santa Helena e o número de famílias
contempladas, segundo as normas do IMA11
.
Segundo o IBGE12
, a vegetação local é caracterizada como Floresta Estacional Decidual
e com fauna representativa. Apesar de a área encontrar-se bastante antropizada, foi
identificado dois fragmentos preservados deste tipo de vegetação13
. Com o intuito de
avaliar a situação atual da vegetação do assentamento, utilizou-se a base topográfica do
INCRA sobre o mapa de vegetação (base digital) fornecida pelo IBGE.
A cobertura vegetal foi altamente modificada pela ação do homem. Percorrendo um dos
fragmentos foi possível constatar a retirada de espécies arbóreas e recentes pontos de
incêndio no entorno do assentamento.
Figura 03 – A (esquerda) - Base topográfica do INCRA do assentamento Santa
Helena sobre shape de vegetação do IBGE; Figura 03 – B (direita) assentamento Santa
Helena - Base topográfica INCRA no “Google Earth”.
Para levantamento da fauna da região do empreendimento foi realizada entrevista com
os moradores, pesquisa bibliográfica, além de observações de campo.
11 Instituto Meio Ambiente do estado da Bahia. Este órgão foi extinto, dando lugar ao INEMA – Instituto do Meio
Ambiente e Recursos Hídricos do estado da Bahia. 12 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 13 Ver figura 03
Tabela 2. Principais espécies vegetais encontradas na área de influência
direta do empreendimento.
Nome comum Espécie Família
Pau Pombo Tapirira guianensis Anacardiaceae
Quina Aspidosperma discolor Apocinaceae
Candeia Gochnatia sp. Asteraceae
Bucha de veado Zeyheria tuberculosa Bignoniaceae
Macambira Bromelia lacinlosa Bromeliaceae
Gravatá Hohenbergia catingae Bromeliaceae
Mandacaru Cereus jamaracu Cactaceae
Pau-de-rato (catingueira) Caesalpinia microphylla Caesalpinaceae
Catinga-de-porco (catingueira) Caesalpinia pyramidalis Caesalpinaceae
Icó Capparis yco Capparidaceae
Cansanção Cnidoscolus urens Euphorbiaceae
Velame Croton sp. Euphorbiaceae
Pinhão Euphorbia comosa Euphorbiaceae
Feijão-bravo Canavalia brasiliensis Fabaceae
Mulungú Erythrina velutina Fabaceae
Pitumuju Platymiscium zehntneri Fabaceae
Muricí Byrsonima gardnerana Malpighiaceae
Murici 2 Byrsonima sp. Malpighiaceae
Malva-branca Pavonia cancellata Malvaceae
Malvarisco Sida cordifolia Malvaceae
Melastomataceae 1 Leandra sp. Melastomataceae
Canela de velho Miconia sp. Melastomataceae
Ingá Inga sp. Mimosaceae
Ingá de folha miúda Inga sp. Mimosaceae
Calumbí Mimosa malacocentra Mimosaceae
Jurema-preta Mimosa tenuiflora Mimosaceae
Barbatimão Stryphnodendron polyphyllum Mimosaceae
Juazeiro Zizyphus joazeiro Rhamnaceae
Camboatá Cupania vernalis Sapindaceae
Lobeira Solanum lycocarpum Solanaceae
Durante a visita foi considerado também a caracterização dos principais grupos
faunísticos, listando as espécies raras, endêmicas e/ou em vias de extinção, existentes na
área de influência do empreendimento, identificando as principais interferências do
projeto sobre a fauna local.
De acordo com entrevistas com moradores, detecção “in loco”14
levantou-se as
principais espécies que ocorrem na região.
Nas tabelas15
a seguir estão identificadas as principais espécies que podem ocorrer na
área de influência direta e indireta do assentamento Santa Helena.
Tabela 3. Principais espécies de répteis nativos encontradas na área de
influência do empreendimento16
.
Nome comum Nome científico Família Registro
Cobra-de-duas – cabeças Amphisbaena Alba Amphisbaenidae Entrevista
Jararaca Leptodeira annulata Colubridae Entrevista
Cobra-verde Leptophis ahaethula Colubridae Entrevista
Coral falsa Oxyrhopus trigeminus Colubridae Entrevista
Boiúna Pseudoboa nigra Colubridae Entrevista
Caninana Spilotes pullatus Colubridae Entrevista
14 Leia-se nas tabelas apresentadas “Avistamento”, termo comumente usado nas Ciências Biológicas. 15 Ver tabelas 03 a 06. 16 Algumas espécies citadas estão na nova lista das espécies ameaçadas de extinção publicada pelo IBAMA
(http://www.mma.gov.br/port/sbf/fauna/ordem2.html em 15/01/2005).
Boipeba Waglerophis merremii Colubridae Entrevista
Coral verdadeira Micrurus corallinus Elapidae Entrevista
Calango Tropidurus hispidus Tropiduridae Avistamento
Tabela 4. Principais espécies de aves nativas encontradas na área de
influência do empreendimento.
Nome comum Nome científico Família Registro
Anum-branco Guira guira Cuculidae Avistamento
Anum-preto Crotophaga ani Cuculidae Avistamento
Beija-flor-tesoura Eupetomena macroura Trochilidae Entrevista
Bem-te-vi Pitangus sulphuratus Tyrannidae Avistamento
Caboclinho Sporophila bouvreuil Emberizidae Avistamento
Canário-da-terra Sicalis flaveola Emberizidae Avistamento
Carcará Polyborus plancus Falconidae Avistamento
Cardeal Paroaria dominicana Fringilidae Entrevista
Codorna Nothura boraquira Tinamidae Avistamento
Coleira Sporophila nigricollis Emberizidae Avistamento
Coruja-buraqueira Speotyto cunicularia Strigidae Avistamento
Coruja-de-orelha Rhinoptynx clamator Strigidae Entrevista
Garça-pequena Egretta thula Ardeidae Avistamento
Gavião-caçador Buteo albonotatus Accipitridae Entrevista
Gavião-peneira Elanus leucurus Accipitridae Entrevista
Gavião-ripinha Harpagus bidentaus Accipitridae Entrevista
Juriti Leptotila rufaxilla Columbidae Avistamento
Papa-capim Sporophila albogularis Emberizidae Avistamento
Pássaro-preto Gnorimopsar chopi Emberizidae Avistamento
Perdiz Rhynchotus rufescens Tinamidae Entrevista
Periquito-de-cabeça-
vermelha Aratinga solstitialis Psittacidae Avistamento
Rasga-mortalha Tyto Alba Tytonidae Entrevista
Rolinha-caldo-de-feijão Columbina talpacoti Columbidae Avistamento
Sabiá-coca Turdus rufiventris Turdinae Avistamento
Sanhaço Thraupis sayaca Emberizidae Entrevista
Urubu-caçador Cathartes aurea Cathartidae Avistamento
Urubu-comum Coragyps atratus Cathartidae Avistamento
Tabela 5. Principais espécies de mamíferos nativos encontradas na área de
influência do empreendimento.
Nome comum Nome científico Família Registro
Calunga Mus musculus Cricetidae Entrevista
Mico Callithrix penicillata Callithrichidae Avistamento
Morcego-de-fruta Artibeus fimbriatus Phyllostomidae Entrevista
Morcego-vampiro Desmodus rotundus Phyllostomidae Entrevista
Preá Cavia aperea Cavidae Avistamento
Raposa Dusicyon thous Canidae Entrevista
Rato-selvagem Oryzomys sp. Cricetidae Bibliografia
Mão pelada Procyon cancrivorus Procyonidae Pegada
Sussuarana Puma concolor Felidae Pegada
Saruê Didelphis marsupialia Didelphidae Avistamento
Tatú-galinha Dasypus novemcintus Dasypodidae Entrevista
Tatú-rabo-mole Cabassous unicinctus Dasypodidae Entrevista
Tabela 6. Principais espécies de anfíbios encontradas na área de influência
do empreendimento17
.
Nome comum Nome científico Família Registro
Sapo-cururu Bufo schineideri Bufonidae Entrevista
Caçote Leptodactylus sp. Leptodactylidae Entrevista
Rã Pleuroderma diplolistris Leptodactylidae Bibliografia
Perereca Hyla branneri Hylidae Bibliografia
Raspa-cuia Scinax fuscovarius Hylidae Entrevista
Perereca-verde Phyllomedusa
hypocondrialis Hylidae
Bibliografia
Figura 04 – Levantamento de fauna com avistagem direta e restos mortais
Observando-se as tabelas, nota-se que os grupos faunísticos do local estão bem
representados, em parte devido à proximidade com áreas poucos antropizadas, que
ainda persistem e apresentam remanescentes de mata nativa.
17 Segundo o IBAMA não existem ocorrência de anfíbios ameaçados na Bahia.
6.2.2. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – APP EXISTENTES NA ÁREA
DE INFLUÊNCIA DIRETA DO EMPREENDIMENTO.
As áreas de Preservação Permanente – APP, existente na área de influência direta do
empreendimento estão destacadas na figura abaixo e correspondem a dois trechos do
Riacho do Ramalho, efluente da bacia do Médio São Francisco, tendo seu regime
intermitente segundo base IBGE. O Google Earth mostrou-se eficiente no mapeamento
das áreas de APP do assentamento Santa Helena. O sincronismo do perímetro do
assentamento com a fotografia por satélite do Google Earth tornou-se uma ferramenta
chave para averiguação em campo de determinados pontos disforma com a topografia.
De modo geral, é uma ferramenta SIG18
de grande eficiência na visualização da
vegetação, uso da terra, APP e ARL do empreendimento.
Figura 05 – Representação da área de APP, utilizando ferramenta do “Global
Mapper” para visualizar a largura da área de proteção permanente no Riacho do
Ramalho. Foto à esquerda em desconformidade com a topografia do INCRA em um dos
trechos analisado, no caso o inferior da figura.
6.3. GRUPO 03 – GRUPO AMBIENTAL (RESERVA LEGAL)
Na região norte do Projeto de Assentamento Santa Helena, visitaram-se as duas áreas
propostas pelo INCRA para serem localizadas as ARL’s (ARL I e ARL II). Na
oportunidade foram observados cerrados arbóreos em estágio avançado de regeneração
(mata secundária) e elementos da Caatinga. Espécies importantes da flora foram
18 Sistema de Informação Geográfica, também conhecido por GIS (Geographic Information System)
levantadas com a ajuda dos assentados e observações “In loco”: aroeira, ipê amarelo,
umburana de cheiro, barriguda e outras espécies já listadas na tabela da flora local.
Através de relato dos assentados, avistagem direta e identificação de pegadas junto a
aguadas19
, foram realizados o breve levantamento da fauna local, sendo evidenciado
espécies como a suçuarana (Puma concolor), gato mourisco (Puma yagouarondi), veado
catingueiro (Mazama gouazoubira), jacaré tinga (Caiman crocodylus), tatu peba
(Euphractus sexcintus), tatu galinha (Dasypus novemcintus), mão pelada ou meia-noite
(Procyon cancrivorus), teiú (Tupinambis merianae), jararaca (Bothrops sp.), cascavel
(Crotalus durissus), siriema (Cariama cristata), além de vários passeriforme e
psitacídeos.
O registro que mais chamou atenção foi o do gato do mato, atualmente categorizado
como vulnerável pela Red List da IUCN20
.
Figura 06 – A (esquerda) – Lagoa existente em área do assentamento; Figura
06 – B (direita) – pegada de animal existente em ARL do assentamento, porção norte.
Visitamos as lagoas identificadas no mapa de uso e ficamos cientes, através dos
assentados, que elas foram ampliadas com máquinas pelo antigo dono da fazenda, e que
no período das chuvas elas inundam e praticamente se conectam. Apenas uma lagoa não
foi visitada devido a não conseguirmos passagem através da vegetação.
Consensualmente por parte dos técnicos, definiu-se que estas lagoas são as mais
importantes do assentamento, tanto para a vida silvestre quanto para a manutenção das
águas. Ao visitar a Lagoa do Serrote e mais duas que não foram nominadas, mesmo no
período seco, ainda encontramos uma pequena lâmina d’água e na Lagoa do Serrote
19 Consultar figura 05 20 International Union for Conservation of Nature and Natural Resources
encontramos um maior número e variações de pegadas de animais, e ainda uma família
de jacarés.
Ainda nessa área norte do PA, observamos uma faixa de área improdutiva onde o solo
apresenta-se muito argiloso e compacto e ainda possui “sumidouros” provenientes do
solo ceder na área de um rio subterrâneo que não possui mais vegetação para segurar a
terra. Propomos a incorporação dessa área na Reserva Legal do PA, o que foi aceito
pelos assentados em assembleia no terceiro dia de discussão.
6.4. GRUPO 04 – GRUPO SOCIAL
As profissionais da área social tiveram a oportunidade de discutir com as famílias sobre
a forma de organização social do assentamento, suas necessidades e observação “In
loco” de situação de um assentado residente e que não possui convívio social, morando
em área constituída de mata com sua família.
Para as necessidades relatadas pelos assentados, pontua-se a dificuldade do acesso das
crianças à escola, tendo em vista que a comunidade não dispõe de uma unidade escolar.
Outro ponto abordado foi a dificuldade das mulheres irem para a área coletiva ajudar os
maridos no trabalho rural, pois em muitas vezes não há pessoas responsáveis e de
confiança para ficar com as crianças menores, pois não há creche na região.
Outros pontos abordados: ausência de uma igreja para orações e manifestações
religiosas, cemitério dentro do assentamento e uma quadra poliesportiva para
entretenimento de jovens e adultos.
Finalizando a observação social, visitou-se o assentado que não mora na agrovila
constituída, atualmente residindo ao sul do assentamento. Este mora em situação
bastante precária, em uma habitação de pau-a-pique forrada com lona, telhado em
péssimo estado de conservação, sem saneamento básico e com dificuldades de acesso. A
casa mede cerca de 15 m2, residindo 08 (oito) pessoas, somado ele, a mulher e 06 (seis)
filhos, com idade variando dos cinco aos treze anos de idade.
Figura 07 – Habitação existente em Área de mata do assentamento.
7. CONSIDERAÇÕES
A participação dos assentados residentes no Projeto de Assentamento Santa Helena,
desde o início das discussões com acordos de convivência, ampliação dos mapas e
visitas a campo, podem ser classificadas como ferramenta importante para discussões
que visam o interesse coletivo. A inserção da área social, ambiental e produtiva teve
como norteadores a discussão para uma melhor distribuição espacial das famílias no
assentamento, de forma que todas as deliberações tomadas fossem tecnicamente viável,
socialmente justa e com desenvolvimento sustentável.
A utilização dos mapas e as visitas no campo serviram para confirmar informações
pertinentes, como o predomínio de Floresta Estacional Decidual, localizado no lado
norte no mapa do assentamento. Como este assentamento ainda não predispõe de
licenciamento ambiental, o mapeamento de novos pontos ficou para momento posterior,
onde novos pontos pudessem ser destacados no novo mapa.
Outro ponto a ser observado após visita ao assentamento esteve relacionado a ocupação
inapropriada de parte de um lote, de uma área que poderia servir como ARL, por um
senhor que não possui convívio social não muito cordial com os demais assentados.
Como este não se encontrava em sua residência, esta discussão ficou também para
momento posterior, tendo em vista que o depoimento deste assentado será de grande
valia.
Destaca-se a presença de muitos animais selvagens que compõem a fauna da região e a
organização social do assentamento, com a articulação conjunta para posterior vinda de
benfeitorias coletivas, como creche, escola, igreja, quadra poliesportiva e cemitério.
REFERÊNCIAS
FREITAS, M. & PAVIE, I. Guia de Répteis: Região Metropolitana de Salvador e
Litoral Norte da Bahia. Salvador: Malha-de-Sapo-Publicações, 2002.
IBAMA. Portaria Nº 1522: Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. 19 de dezembro de
1989.
IBAMA. Portaria Nº 37-N/1992: Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira
Ameaçada de Extinção, 1992.
FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS. 2010. Caatinga. Disponível em
<http://www.biodiversitas.org/caatinga>. Acesso em 15 de nov de 2010
LORENZI, H . Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas
arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Vol. 1. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002.
LORENZI, H . Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas
arbóreas nativas do Brasil. 2. ed. Vol. 2. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002.
SICK, H. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1997.
SOUZA, D . Aves do Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1987.