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PRÉ-PROJETO DE PARCELAMENTO DO PROJETO DE ASSENTAMENTO SANTA HELENA CARINHANHA/BAHIA. Nielson Pereira da S. Bonfim 1 Maria da Conceição B. de Araújo Nogueira 2 Alexandre Eduardo de S. Dormundo 3 Claudineia de Souza Santana 4 RESUMO O pré-parcelamento é uma atividade para discussão da organização espacial de um Projeto de Assentamento. Os resultados irão embasar o INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e seus propostos na divisão dos lotes individuais, áreas de uso comum e o atendimento da legislação ambiental Área de Reserva Legal e Área de Preservação Permanente e uso racional dos recursos naturais. A participação dos assentados em todos os momentos da atividade podem ser classificadas como ferramenta importante para discussões que visam o interesse coletivo. Palavras-chaves: Parcelamento; Reforma Agrária; Assentamentos. ABSTRACT The pre-installment is an activity for discussion of the spatial organization of a Settlement Project. Results will base the INCRA - National Institute of Colonization and Agrarian Reform in the division of individual lots, common areas and environmental compliance - Area Legal Reserve and Permanent Preservation Area and rational use of natural resources. The participation of the settlers throughout the moments of activity can be classified as an important tool for discussions which aim the collective interest. Keywords: installment, agrarian reform, settlement. 1 Engenheiro Agrônomo, FUNDESF Fundação Juazeirense para o Desenvolvimento Científico, Tecnológico, Ecônômico, Sociocultural e Ambiental. E-mail: [email protected] 2 Bióloga, FUNDESF Fundação Juazeirense para o Desenvolvimento Científico, Tecnológico, Econômico, Sociocultural e Ambiental. E-mail: [email protected] 3 Biólogo, EBDA Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S/A. E-mail: [email protected] 4 Pedagoga, EBDA Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S/A. E-mail: [email protected]

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Page 1: PRÉ-PROJETO DE PARCELAMENTO DO PROJETO …. INTRODUÇÃO O pré-parcelamento consiste em uma ferramenta para discussão da organização espacial de um PA – Projeto de Assentamento,

PRÉ-PROJETO DE PARCELAMENTO DO PROJETO DE ASSENTAMENTO

SANTA HELENA – CARINHANHA/BAHIA.

Nielson Pereira da S. Bonfim1

Maria da Conceição B. de Araújo Nogueira2

Alexandre Eduardo de S. Dormundo3

Claudineia de Souza Santana4

RESUMO

O pré-parcelamento é uma atividade para discussão da organização espacial de um

Projeto de Assentamento. Os resultados irão embasar o INCRA – Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária e seus propostos na divisão dos lotes individuais, áreas

de uso comum e o atendimento da legislação ambiental – Área de Reserva Legal e Área

de Preservação Permanente e uso racional dos recursos naturais. A participação dos

assentados em todos os momentos da atividade podem ser classificadas como

ferramenta importante para discussões que visam o interesse coletivo.

Palavras-chaves: Parcelamento; Reforma Agrária; Assentamentos.

ABSTRACT

The pre-installment is an activity for discussion of the spatial organization of a

Settlement Project. Results will base the INCRA - National Institute of Colonization

and Agrarian Reform in the division of individual lots, common areas and

environmental compliance - Area Legal Reserve and Permanent Preservation Area and

rational use of natural resources. The participation of the settlers throughout the

moments of activity can be classified as an important tool for discussions which aim the

collective interest.

Keywords: installment, agrarian reform, settlement.

1 Engenheiro Agrônomo, FUNDESF – Fundação Juazeirense para o Desenvolvimento Científico, Tecnológico,

Ecônômico, Sociocultural e Ambiental. E-mail: [email protected] 2 Bióloga, FUNDESF – Fundação Juazeirense para o Desenvolvimento Científico, Tecnológico, Econômico,

Sociocultural e Ambiental. E-mail: [email protected] 3 Biólogo, EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S/A. E-mail: [email protected] 4 Pedagoga, EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S/A. E-mail: [email protected]

Page 2: PRÉ-PROJETO DE PARCELAMENTO DO PROJETO …. INTRODUÇÃO O pré-parcelamento consiste em uma ferramenta para discussão da organização espacial de um PA – Projeto de Assentamento,

1. INTRODUÇÃO

O pré-parcelamento consiste em uma ferramenta para discussão da organização espacial

de um PA – Projeto de Assentamento, pois promove aos assentados apropriação da área

do PA e dos elementos que o compõem. Os resultados do pré-parcelamento (mapa de

uso proposto e relatório de situação) irão embasar o INCRA – Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária e seus propostos na divisão dos lotes individuais, das

áreas de uso comum (áreas coletivas) e ainda no que tange o atendimento da legislação

ambiental, auxiliando o licenciamento ambiental, localização adequada da ARL – Área

de Reserva Legal e identificação das APP – Área de Preservação Permanente, além do

uso racional dos recursos naturais.

Como utiliza-se metodologias participativas, os assentados estão envolvidos

integralmente no processo, o que além de promover empoderamento aos assentados nas

decisões da divisão espacial do PA e de sua área de vida, proporciona também

fortalecimento desses como comunidade e ainda com a equipe técnica de ATES5

que os

assistem.

2. ÁREA DE TRABALHO

O Projeto de Assentamento Santa Helena está localizado no município de Carinhanha –

Bahia, com proximidade aos municípios de Serra do Ramalho, Bom Jesus da Lapa

(ambos no estado da Bahia) e Montalvânia (Minas Gerais). O projeto visa beneficiar um

total de 70 (setenta) famílias, que já residem na comunidade.

A área do assentamento fica em uma região onde o clima sofre influência da massa

Equatorial Continental no sentido leste para oeste, variando de 700 mm (Calha do Rio

São Francisco) a 1.600 mm na fronteira ocidental. Possui uma distribuição desigual

durante o ano, pois seu período de chuva concentra-se em 03 meses, sendo os meses de

novembro a janeiro o período considerado como chuvoso, com precipitação média de

813 mm, com variação máxima de 2.150 mm e mínima de 250 mm. Os meses de Junho

a Agosto são secos, podendo o índice chegar à zero (mm).

A vegetação caracteriza-se como Floresta Estacional Decidual, onde na visita de campo

foram levantadas as espécies vegetais mais relevantes, com o auxílio dos assentados.

Existem 03 áreas de matas existentes, sendo 02 áreas ao norte do assentamento e 01 área

ao sul do assentamento. Esta última encontra-se em estágio de recuperação após corte

5 ATES – Assessoria Técnica, Social e Ambiental.

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raso e queimada realizada pelo antigo dono da propriedade, bem como de grande

pressão antrópica por limitar com fazendas e outros assentamentos existentes.

O solo predominante é o latossolo Vermelho Amarelo Álico, classificado como bom

para produção. O relevo em sua maioria é plano, apesar de que o assentamento assim

como o município de Carinhanha encontrar-se numa depressão do rio São Francisco em

sua margem esquerda.

Quanto à hidrografia, o assentamento é cortado por dois rios intermitentes (rio Pituba e

rio Seco). O assentamento ainda possui várias lagoas e poços artesianos que foram

construídos pelo antigo dono, mas que necessitam de tubulação para seu funcionamento.

3. OBJETIVO

Executar o Pré-Parcelamento do PA Santa Helena – Carinhanha/Bahia, com a

elaboração de um mapa de uso proposto, focando os aspectos sociais, produtivos e

ambientais já existentes e projetados a fim de nortear o INCRA e seus prepostos na

divisão e organização espacial do mesmo – parcelamento de lotes, averbação de reserva

legal (ARL) e licenciamento ambiental.

4. EQUIPE COLABORADORA DOS TRABALHOS

A referida atividade contou com apoio de profissionais das mais diversas formações na

área de Ciências Biológicas, Ciências Agrárias e Ciências Sociais, contando com apoio

da EBDA6, FUNDESF

7 e INCRA

8 para sua realização.

5. APRESENTAÇÃO DAS FERRAMENTAS DO MAPA DO PA SANTA

HELENA

Nesta atividade, foi detectado no mapa através dos programas “Google Earth” e “Global

Mapper” a existência de mata, caracterizada como Floresta Estacional Decidual9 ao

norte e ao sul da área do assentamento; existência de um projeto de horticultura

integrada, conhecida como PAIS10

com cultivos de hortaliças; poços artesianos; áreas

utilizadas para plantio em torno de 60 hectares próximo à agrovila; áreas com vegetação

6 Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A 7 Fundação Juazeirense para o Desenvolvimento Científico, Tecnológico, Econômico, Sócio-cultural e Ambiental 8 Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. 9 Consulte-se Lorenzi (2002). 10 Produção Agroecológica, Integrada e Sustentável. Sistema de hortas circulares, que visam beneficiar agricultores

familiares na produção de alimentos por produção agroecológica.

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caracterizada como capoeira rala e alta; área coletiva, utilizada próximo a antiga sede da

propriedade e de áreas impróprias para a agricultura.

Tabela 1. Objeto e finalidade das imagens captadas.

OBJETO

FINALIDADE

Utilização do programa Google Terra programa

(GIS)

Visualização de elementos sobrepostos como a

planta do PA sobre a cobertura vegetal, uso do

solo e APP(áreas de preservação permanente

Análise da cobertura vegetal através da

plotagem do perímetro do PA no “Google

Earth”

Identificar mancha de vegetação nas futuras áreas

de Reserva Legal; conformidade com a topografia

levantada nas área de APP

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Utilização do QGIS – Quantum GIS Montar mapas de cobertura vegetal, utilizando a

base do IBGE como cartas norteadoras assim

como tipo de solo e bacia hidrográfica da região

em que está inserido o PA.

Discussão com o grupo da melhor estratégia

para se avaliar o campo estando no escritório

Ganhar tempo na ida ao campo com objetivos

traçados para avaliar os elementos pertinentes no

presente estudo, no caso, o ambiental e em

especial a Reserva Legal e as áreas de APPs;

Considerações

Avaliar comparativamente o levantamento

topográfico, os pontos plotados pela topografia e

a composição vegetal;

Identificar as demandas ambientais do PA

ajustando as conformidades ambientais de

acordo com as normas ambientais;

6. ATIVIDADES DE CAMPO

Os profissionais participantes e assentados do referido assentamento dividiram-se em

quatro grupos com áreas temáticas. As divisões ficaram: Grupo 01 com profissionais

ligados a área de Ciências Agrárias; Grupo 02 e Grupo 03 com profissionais ligados à

área ambiental e Grupo 04 com profissionais da área social. A atividade serviu para

confirmar as informações constantes no mapa e realização do levantamento das

habitações existentes e famílias residentes.

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6.1. GRUPO 01 – GRUPO DE PRODUÇÃO

Em campo os profissionais visitaram as áreas que poderiam ser localizadas os lotes

produtivos individuais e a área coletiva, bem como área detectada como área inapta para

agricultura. Os assentados conhecedores da área também participaram, dando preciosas

informações de vivência da área.

A área observada para lotes individuais fica na porção central do assentamento Santa

Helena, fazendo divisa com a agrovila na parte norte e com a mata caracterizada na

porção sul do assentamento. Nesta área foi detectada a presença de 01 Sistema PAIS, 01

curral com animais pertencentes aos assentados, 01 poço artesiano que oferece água

para os animais (bovinos e equinos) e irriga o sistema PAIS e as hortaliças.

Para esta fração inicial da área, que contempla a agrovila do assentamento Santa Helena

até o poço artesiano, a vegetação caracteriza-se por uma capoeira baixa, cuja área já está

sendo trabalhada para cultivo pelos assentados, com modelo individual separado por

piquetes. O poço localiza-se próximo a uma cerca existente, que praticamente divide a

área visitada. Ainda localizou-se na visita uma estrada vicinal (Leste do assentamento),

cercas, vegetação caracterizada como capoeira em fase avançada de regeneração

(capoeira alta) e uma aguada, que fica ás margens da estrada.

Figura 01 – A (esquerda) – Rebanho bovino dos assentados em área coletiva;

Figura 01 – B (direita) – sistema PAIS instalado em área coletiva do assentamento.

Acima da agrovila, identificaram-se as seguintes instalações e realidades: antiga sede da

propriedade, área de APP para os riachos existentes, poço artesiano (não utilizado) e

estrada que dá acesso a área norte do assentamento. Sobre a área identificada como

“área inaproveitável para agricultura”, caracterizou-se um solo argiloso e compacto,

sem a presença de uma vegetação caracterizada. Segundo informações dos assentados

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que nos acompanharam na visita, a área está em constante alagamento no período das

águas (novembro a março), o que impossibilita qualquer uso para lotes (individual ou

coletivo).

Na visita, concluímos que a primeira área visitada, na porção central do assentamento,

pode ser utilizada para a demarcação de lotes individuais, que possam contemplar boa

parte das famílias. Na área acima da agrovila, que seria a segunda área visitada próxima

da antiga sede, pode-se completar o número de lotes individuais necessários às famílias,

bem como estabelecer uma área coletiva de bem comum dos assentados. Deve-se

caracterizar a área inaproveitável para a agricultura como área de APP – Área de

Preservação Permanente ou incorporá-la a proposta da ARL, localizada na área norte do

assentamento.

Figura 01 – A (esquerda) – antiga sede da fazenda; Figura 02 – B (direita) –

área de alagadiço, inapropriada para a agricultura.

6.2. GRUPO 02 – GRUPO AMBIENTAL

6.2.1. FAUNA E FLORA

O estudo ambiental em campo serviu para avaliar as espécies vegetais encontradas,

definição do estágio de regeneração e tipo de vegetação existente, assim como a fauna,

localização de cultivos e infraestrutura em áreas de APP (se houver), recursos hídricos,

relevo, áreas degradadas, práticas degradantes, técnicas de manejo sustentáveis,

córregos temporários e áreas de alagadiço que não estejam no mapa. Todas as

observações pertinentes e observadas servirão de base para dar início ao processo de

licenciamento ambiental, atentando para o enquadramento do tipo de licença, levando

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em consideração o tamanho da área do PA Santa Helena e o número de famílias

contempladas, segundo as normas do IMA11

.

Segundo o IBGE12

, a vegetação local é caracterizada como Floresta Estacional Decidual

e com fauna representativa. Apesar de a área encontrar-se bastante antropizada, foi

identificado dois fragmentos preservados deste tipo de vegetação13

. Com o intuito de

avaliar a situação atual da vegetação do assentamento, utilizou-se a base topográfica do

INCRA sobre o mapa de vegetação (base digital) fornecida pelo IBGE.

A cobertura vegetal foi altamente modificada pela ação do homem. Percorrendo um dos

fragmentos foi possível constatar a retirada de espécies arbóreas e recentes pontos de

incêndio no entorno do assentamento.

Figura 03 – A (esquerda) - Base topográfica do INCRA do assentamento Santa

Helena sobre shape de vegetação do IBGE; Figura 03 – B (direita) assentamento Santa

Helena - Base topográfica INCRA no “Google Earth”.

Para levantamento da fauna da região do empreendimento foi realizada entrevista com

os moradores, pesquisa bibliográfica, além de observações de campo.

11 Instituto Meio Ambiente do estado da Bahia. Este órgão foi extinto, dando lugar ao INEMA – Instituto do Meio

Ambiente e Recursos Hídricos do estado da Bahia. 12 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 13 Ver figura 03

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Tabela 2. Principais espécies vegetais encontradas na área de influência

direta do empreendimento.

Nome comum Espécie Família

Pau Pombo Tapirira guianensis Anacardiaceae

Quina Aspidosperma discolor Apocinaceae

Candeia Gochnatia sp. Asteraceae

Bucha de veado Zeyheria tuberculosa Bignoniaceae

Macambira Bromelia lacinlosa Bromeliaceae

Gravatá Hohenbergia catingae Bromeliaceae

Mandacaru Cereus jamaracu Cactaceae

Pau-de-rato (catingueira) Caesalpinia microphylla Caesalpinaceae

Catinga-de-porco (catingueira) Caesalpinia pyramidalis Caesalpinaceae

Icó Capparis yco Capparidaceae

Cansanção Cnidoscolus urens Euphorbiaceae

Velame Croton sp. Euphorbiaceae

Pinhão Euphorbia comosa Euphorbiaceae

Feijão-bravo Canavalia brasiliensis Fabaceae

Mulungú Erythrina velutina Fabaceae

Pitumuju Platymiscium zehntneri Fabaceae

Muricí Byrsonima gardnerana Malpighiaceae

Murici 2 Byrsonima sp. Malpighiaceae

Malva-branca Pavonia cancellata Malvaceae

Malvarisco Sida cordifolia Malvaceae

Melastomataceae 1 Leandra sp. Melastomataceae

Canela de velho Miconia sp. Melastomataceae

Ingá Inga sp. Mimosaceae

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Ingá de folha miúda Inga sp. Mimosaceae

Calumbí Mimosa malacocentra Mimosaceae

Jurema-preta Mimosa tenuiflora Mimosaceae

Barbatimão Stryphnodendron polyphyllum Mimosaceae

Juazeiro Zizyphus joazeiro Rhamnaceae

Camboatá Cupania vernalis Sapindaceae

Lobeira Solanum lycocarpum Solanaceae

Durante a visita foi considerado também a caracterização dos principais grupos

faunísticos, listando as espécies raras, endêmicas e/ou em vias de extinção, existentes na

área de influência do empreendimento, identificando as principais interferências do

projeto sobre a fauna local.

De acordo com entrevistas com moradores, detecção “in loco”14

levantou-se as

principais espécies que ocorrem na região.

Nas tabelas15

a seguir estão identificadas as principais espécies que podem ocorrer na

área de influência direta e indireta do assentamento Santa Helena.

Tabela 3. Principais espécies de répteis nativos encontradas na área de

influência do empreendimento16

.

Nome comum Nome científico Família Registro

Cobra-de-duas – cabeças Amphisbaena Alba Amphisbaenidae Entrevista

Jararaca Leptodeira annulata Colubridae Entrevista

Cobra-verde Leptophis ahaethula Colubridae Entrevista

Coral falsa Oxyrhopus trigeminus Colubridae Entrevista

Boiúna Pseudoboa nigra Colubridae Entrevista

Caninana Spilotes pullatus Colubridae Entrevista

14 Leia-se nas tabelas apresentadas “Avistamento”, termo comumente usado nas Ciências Biológicas. 15 Ver tabelas 03 a 06. 16 Algumas espécies citadas estão na nova lista das espécies ameaçadas de extinção publicada pelo IBAMA

(http://www.mma.gov.br/port/sbf/fauna/ordem2.html em 15/01/2005).

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Boipeba Waglerophis merremii Colubridae Entrevista

Coral verdadeira Micrurus corallinus Elapidae Entrevista

Calango Tropidurus hispidus Tropiduridae Avistamento

Tabela 4. Principais espécies de aves nativas encontradas na área de

influência do empreendimento.

Nome comum Nome científico Família Registro

Anum-branco Guira guira Cuculidae Avistamento

Anum-preto Crotophaga ani Cuculidae Avistamento

Beija-flor-tesoura Eupetomena macroura Trochilidae Entrevista

Bem-te-vi Pitangus sulphuratus Tyrannidae Avistamento

Caboclinho Sporophila bouvreuil Emberizidae Avistamento

Canário-da-terra Sicalis flaveola Emberizidae Avistamento

Carcará Polyborus plancus Falconidae Avistamento

Cardeal Paroaria dominicana Fringilidae Entrevista

Codorna Nothura boraquira Tinamidae Avistamento

Coleira Sporophila nigricollis Emberizidae Avistamento

Coruja-buraqueira Speotyto cunicularia Strigidae Avistamento

Coruja-de-orelha Rhinoptynx clamator Strigidae Entrevista

Garça-pequena Egretta thula Ardeidae Avistamento

Gavião-caçador Buteo albonotatus Accipitridae Entrevista

Gavião-peneira Elanus leucurus Accipitridae Entrevista

Gavião-ripinha Harpagus bidentaus Accipitridae Entrevista

Juriti Leptotila rufaxilla Columbidae Avistamento

Papa-capim Sporophila albogularis Emberizidae Avistamento

Pássaro-preto Gnorimopsar chopi Emberizidae Avistamento

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Perdiz Rhynchotus rufescens Tinamidae Entrevista

Periquito-de-cabeça-

vermelha Aratinga solstitialis Psittacidae Avistamento

Rasga-mortalha Tyto Alba Tytonidae Entrevista

Rolinha-caldo-de-feijão Columbina talpacoti Columbidae Avistamento

Sabiá-coca Turdus rufiventris Turdinae Avistamento

Sanhaço Thraupis sayaca Emberizidae Entrevista

Urubu-caçador Cathartes aurea Cathartidae Avistamento

Urubu-comum Coragyps atratus Cathartidae Avistamento

Tabela 5. Principais espécies de mamíferos nativos encontradas na área de

influência do empreendimento.

Nome comum Nome científico Família Registro

Calunga Mus musculus Cricetidae Entrevista

Mico Callithrix penicillata Callithrichidae Avistamento

Morcego-de-fruta Artibeus fimbriatus Phyllostomidae Entrevista

Morcego-vampiro Desmodus rotundus Phyllostomidae Entrevista

Preá Cavia aperea Cavidae Avistamento

Raposa Dusicyon thous Canidae Entrevista

Rato-selvagem Oryzomys sp. Cricetidae Bibliografia

Mão pelada Procyon cancrivorus Procyonidae Pegada

Sussuarana Puma concolor Felidae Pegada

Saruê Didelphis marsupialia Didelphidae Avistamento

Tatú-galinha Dasypus novemcintus Dasypodidae Entrevista

Tatú-rabo-mole Cabassous unicinctus Dasypodidae Entrevista

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Tabela 6. Principais espécies de anfíbios encontradas na área de influência

do empreendimento17

.

Nome comum Nome científico Família Registro

Sapo-cururu Bufo schineideri Bufonidae Entrevista

Caçote Leptodactylus sp. Leptodactylidae Entrevista

Rã Pleuroderma diplolistris Leptodactylidae Bibliografia

Perereca Hyla branneri Hylidae Bibliografia

Raspa-cuia Scinax fuscovarius Hylidae Entrevista

Perereca-verde Phyllomedusa

hypocondrialis Hylidae

Bibliografia

Figura 04 – Levantamento de fauna com avistagem direta e restos mortais

Observando-se as tabelas, nota-se que os grupos faunísticos do local estão bem

representados, em parte devido à proximidade com áreas poucos antropizadas, que

ainda persistem e apresentam remanescentes de mata nativa.

17 Segundo o IBAMA não existem ocorrência de anfíbios ameaçados na Bahia.

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6.2.2. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE – APP EXISTENTES NA ÁREA

DE INFLUÊNCIA DIRETA DO EMPREENDIMENTO.

As áreas de Preservação Permanente – APP, existente na área de influência direta do

empreendimento estão destacadas na figura abaixo e correspondem a dois trechos do

Riacho do Ramalho, efluente da bacia do Médio São Francisco, tendo seu regime

intermitente segundo base IBGE. O Google Earth mostrou-se eficiente no mapeamento

das áreas de APP do assentamento Santa Helena. O sincronismo do perímetro do

assentamento com a fotografia por satélite do Google Earth tornou-se uma ferramenta

chave para averiguação em campo de determinados pontos disforma com a topografia.

De modo geral, é uma ferramenta SIG18

de grande eficiência na visualização da

vegetação, uso da terra, APP e ARL do empreendimento.

Figura 05 – Representação da área de APP, utilizando ferramenta do “Global

Mapper” para visualizar a largura da área de proteção permanente no Riacho do

Ramalho. Foto à esquerda em desconformidade com a topografia do INCRA em um dos

trechos analisado, no caso o inferior da figura.

6.3. GRUPO 03 – GRUPO AMBIENTAL (RESERVA LEGAL)

Na região norte do Projeto de Assentamento Santa Helena, visitaram-se as duas áreas

propostas pelo INCRA para serem localizadas as ARL’s (ARL I e ARL II). Na

oportunidade foram observados cerrados arbóreos em estágio avançado de regeneração

(mata secundária) e elementos da Caatinga. Espécies importantes da flora foram

18 Sistema de Informação Geográfica, também conhecido por GIS (Geographic Information System)

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levantadas com a ajuda dos assentados e observações “In loco”: aroeira, ipê amarelo,

umburana de cheiro, barriguda e outras espécies já listadas na tabela da flora local.

Através de relato dos assentados, avistagem direta e identificação de pegadas junto a

aguadas19

, foram realizados o breve levantamento da fauna local, sendo evidenciado

espécies como a suçuarana (Puma concolor), gato mourisco (Puma yagouarondi), veado

catingueiro (Mazama gouazoubira), jacaré tinga (Caiman crocodylus), tatu peba

(Euphractus sexcintus), tatu galinha (Dasypus novemcintus), mão pelada ou meia-noite

(Procyon cancrivorus), teiú (Tupinambis merianae), jararaca (Bothrops sp.), cascavel

(Crotalus durissus), siriema (Cariama cristata), além de vários passeriforme e

psitacídeos.

O registro que mais chamou atenção foi o do gato do mato, atualmente categorizado

como vulnerável pela Red List da IUCN20

.

Figura 06 – A (esquerda) – Lagoa existente em área do assentamento; Figura

06 – B (direita) – pegada de animal existente em ARL do assentamento, porção norte.

Visitamos as lagoas identificadas no mapa de uso e ficamos cientes, através dos

assentados, que elas foram ampliadas com máquinas pelo antigo dono da fazenda, e que

no período das chuvas elas inundam e praticamente se conectam. Apenas uma lagoa não

foi visitada devido a não conseguirmos passagem através da vegetação.

Consensualmente por parte dos técnicos, definiu-se que estas lagoas são as mais

importantes do assentamento, tanto para a vida silvestre quanto para a manutenção das

águas. Ao visitar a Lagoa do Serrote e mais duas que não foram nominadas, mesmo no

período seco, ainda encontramos uma pequena lâmina d’água e na Lagoa do Serrote

19 Consultar figura 05 20 International Union for Conservation of Nature and Natural Resources

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encontramos um maior número e variações de pegadas de animais, e ainda uma família

de jacarés.

Ainda nessa área norte do PA, observamos uma faixa de área improdutiva onde o solo

apresenta-se muito argiloso e compacto e ainda possui “sumidouros” provenientes do

solo ceder na área de um rio subterrâneo que não possui mais vegetação para segurar a

terra. Propomos a incorporação dessa área na Reserva Legal do PA, o que foi aceito

pelos assentados em assembleia no terceiro dia de discussão.

6.4. GRUPO 04 – GRUPO SOCIAL

As profissionais da área social tiveram a oportunidade de discutir com as famílias sobre

a forma de organização social do assentamento, suas necessidades e observação “In

loco” de situação de um assentado residente e que não possui convívio social, morando

em área constituída de mata com sua família.

Para as necessidades relatadas pelos assentados, pontua-se a dificuldade do acesso das

crianças à escola, tendo em vista que a comunidade não dispõe de uma unidade escolar.

Outro ponto abordado foi a dificuldade das mulheres irem para a área coletiva ajudar os

maridos no trabalho rural, pois em muitas vezes não há pessoas responsáveis e de

confiança para ficar com as crianças menores, pois não há creche na região.

Outros pontos abordados: ausência de uma igreja para orações e manifestações

religiosas, cemitério dentro do assentamento e uma quadra poliesportiva para

entretenimento de jovens e adultos.

Finalizando a observação social, visitou-se o assentado que não mora na agrovila

constituída, atualmente residindo ao sul do assentamento. Este mora em situação

bastante precária, em uma habitação de pau-a-pique forrada com lona, telhado em

péssimo estado de conservação, sem saneamento básico e com dificuldades de acesso. A

casa mede cerca de 15 m2, residindo 08 (oito) pessoas, somado ele, a mulher e 06 (seis)

filhos, com idade variando dos cinco aos treze anos de idade.

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Figura 07 – Habitação existente em Área de mata do assentamento.

7. CONSIDERAÇÕES

A participação dos assentados residentes no Projeto de Assentamento Santa Helena,

desde o início das discussões com acordos de convivência, ampliação dos mapas e

visitas a campo, podem ser classificadas como ferramenta importante para discussões

que visam o interesse coletivo. A inserção da área social, ambiental e produtiva teve

como norteadores a discussão para uma melhor distribuição espacial das famílias no

assentamento, de forma que todas as deliberações tomadas fossem tecnicamente viável,

socialmente justa e com desenvolvimento sustentável.

A utilização dos mapas e as visitas no campo serviram para confirmar informações

pertinentes, como o predomínio de Floresta Estacional Decidual, localizado no lado

norte no mapa do assentamento. Como este assentamento ainda não predispõe de

licenciamento ambiental, o mapeamento de novos pontos ficou para momento posterior,

onde novos pontos pudessem ser destacados no novo mapa.

Outro ponto a ser observado após visita ao assentamento esteve relacionado a ocupação

inapropriada de parte de um lote, de uma área que poderia servir como ARL, por um

senhor que não possui convívio social não muito cordial com os demais assentados.

Como este não se encontrava em sua residência, esta discussão ficou também para

momento posterior, tendo em vista que o depoimento deste assentado será de grande

valia.

Destaca-se a presença de muitos animais selvagens que compõem a fauna da região e a

organização social do assentamento, com a articulação conjunta para posterior vinda de

benfeitorias coletivas, como creche, escola, igreja, quadra poliesportiva e cemitério.

Page 18: PRÉ-PROJETO DE PARCELAMENTO DO PROJETO …. INTRODUÇÃO O pré-parcelamento consiste em uma ferramenta para discussão da organização espacial de um PA – Projeto de Assentamento,

REFERÊNCIAS

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