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Plantas Medicinais
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Mara Zlia de Almeida
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Plantas MedicinaisMara Zlia de Almeida
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Reitor
Dora Leal Rosa
Vice Reitor
Luiz Rogrio Bastos Leal
EDITORA DA UFBA
Diretora
Flvia M. Garcia Rosa
CONSELHO EDITORIAL
Titulares
ngelo Szaniecki Perret SerpaCaiuby Alves da CostaCharbel Nio El-HaniDante Eustachio Lucchesi RamacciottiJos Texeira Cavalcante FilhoAlberto Brum Novaes
Suplentes
Evelina de Carvalho de S Hoisel
Cleise Furtado MendesMaria Vidal de Negreiros Camargo
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Plantas MedicinaisMara Zlia de Almeida
3 Edio
EDUFBASalvador-BA
2011
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Copyright 2000 by Mara Zlia de Almeida
2003 - 2 ed.
2011 - 3 ed.Direitos para esta edio cedidos Edufba.
Feito o depsito legal.
Projeto grfico- Amanda Santana da Silva
Capa- Matheus Menezes
Reviso tcnica- Jos Fernando Oliveira Costa
Reviso Bibliogrfica- Raoni Avan de Almeida Barbosa e Tarso Fontes
Normalizao- Humberto Fonseca de Freitas
Reviso- Susane Barros
Sistema de Bibliotecas - UFBA
Almeida, Mara Zlia de. Plantas medicinais / Mara Zlia de Almeida. - 3. ed. - Salvador : EDUFBA, 2011. 221 p.
ISBN 978-85-232-07865-7
1. Plantas medicinais. 2. Plantas medicinais - Aspectos religiosos. 3. Ervas - Usoteraputico. 4. Botnica - Classificao. I. Ttulo.
CDD - 615.532
Editora filiada :
EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
Rua Baro de Geremoabo s/n Campus de Ondina
CEP: 40170-290 Salvador-BA
Tel/fax: (71)3263-6164www.edufba.ufba.br
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s minhas bisavs Anita, Cena e Amlia, s avs Rosa e Zlia, minha
adorada me Cida; todas portadoras de herana cultural etnomdica e
ancestral, mulheres mestias, grandes curandeiras urbanas, matriarcas que
me ensinaram a importncia da mulher na arte de curar os males do corpo e
da alma. Ao meu filho Raoni, que conviveu durante toda a sua infncia com
livros e papis, aprendendo a ser tolerante com uma me sempre ocupada.
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Agradecimentos
Devo comear agradecendo a meus deuses, a todos aqueles que
povoaram minha vida, que contriburam para o crescimento do meu co-
nhecimento cientfico, para a minha felicidade pessoal, para os momen-
tos difceis de reflexo e decises. Uma histria de vida, muito trabalho,
inmeras dificuldades e indescritveis prazeres.
Retomo minha histria recente e devo agradecer minha in-
substituvel mestra, Dr. Maria Auxiliadora Coelho Kaplan, que muito
mais que orientadora foi amiga, me, parceira, sem deixar vacilar a batu-
ta de mestre, transmitindo conhecimentos de forma maestral acompa-
nhando minha trajetria cientfica at hoje (2011).
Ao amigo-irmo-filho Paulo Leda, pelas boas sugestes, parce-ria, vivncia e atualizao constante nesse universo dinmico das plan-
tas medicinais.
As amigas Suzana e Gilda Leito, pela amizade. Em especial a
Gilda pelos convites de orientaes na UFRJ.
Ao amigo Joo Carlos Silva do Jardim Botnico do Rio de Janeiro
pelas boas horas de harmonia e alegria.
amiga Yara Britto do Jardim Botnico do Rio de Janeiro pelo
incentivo concluso dessa terceira edio e muitos outros incentivos.
professora Nina Cludia pela boa parceria.
Aos amigos Ademariza Fontes, Natrcio Pinto e Ben Barboza,
que me colocaram na boca o sabor de morar na Bahia.
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comadre-irm farmacutica Celeste Oliveira, por ser amiga de
todas as horas.
Famlia Diamantino, que me acolheu nos momentos de dificul-dade e compartilhou os prazerosos.
Ao professor Eudes Velozo, companheiro de algumas conquis-
tas cientficas. Parceiro do Farmcia da Terra e de muitas outras lutas
ideolgicas.
Aos amigos, colegas, alunos e bolsistas do programa Farmcia
da Terra/UFBA.
diretora da Faculdade de Farmcia/UFBA, Prof. Mara Spnola.
Ao Prof. Ajax Atta e ao Prof. Marcelo Castilho pela oportunidade
de ao no Mestrado em Farmcia da UFBA.
curadora do Herbrio A. L. C./UFBA, Prof Lenise Guedes.
Ao Prof. Dr. Jos Fernando Costa pela amizade e sugestes para
a terceira edio.
amiga, farmacutica e companheira de trabalho, Mayara
Queiroz pela competncia e perseverana. Aos farmacuticos e parcei-
ros Antdio Reis Filho e Ingrid Guttierrez.
Jussara Cony pelo belo prefcio dessa terceira edio.
Aos queridos bolsistas do Farmcia da Terra, Andr, Flora e
Halide, sempre atentos s nossas necessidades cotidianas.
Ao meu pai (in memorian) por ter me ensinado a ser uma mulher
forte e ao meu companheiro Franklin.
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Ao amigo e orientando farmacutico Daniel Cardoso, pelo com-
panheirismo e atualizao do texto de Colnia,Alpinia zerumbet, vegetal
objeto de seu mestrado.
Ao farmacutico Marcos Vincius Sales Teixeira que cedeu infor-
maes tcnicas sobre o ch Verde, tema de sua monografia de fim de
curso.
Ao acadmico de farmcia, e sobrinho, Tarso Fontes, pela reviso
bibliogrfica.
Ao acadmico de farmcia Raoni Avan, pela reviso bibliogrfi-
ca e apoio em inmeras outras questes emergenciais que surgiram ao
trmino dessa edio.
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Sumrio
Prefcio 13
Apresentao 27
Plantas Medicinais:
abordagem histrico contempornea 33
A cura do corpo e da alma 67
Almanaque 145
ndice das espcies vegetais citadas na obra 209
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Prefcio
O segredo no correr atrs das borboletas. cuidar do jardim para que elas venham at voc.
Mrio Quintana
Quando Mara Zlia me solicitou que fosse autora desse Prefcio,me presenteou com a honra e o desafio. E, mais, abriu as asas para que
pudessem voar em reflexes, no tempo e no espao, sobre o significado
da resistncia dominao e de seus atores, individuais e coletivos, da
relao dialtica entre os conhecimentos, da cincia e tecnologia como
fatores de libertao dos povos, do direito escolha no processo de in-
verso de uma perversa lgica: a de privilegiar a doena que patrocina
lucros a poucos em detrimento da sade que patrocina qualidade de
vida a todos.
Mara Zlia, profissional, cidad, militante, mulher do seu tempo
histrico e que carrega em si saberes e fazeres ancestrais, vem contribuir,
com sua dedicao, com uma obra de valor inestimvel para com nossa
biodiversidade, patrimnio desse Brasil que toma o rumo do desenvol-
vimento econmico, ambientalmente sustentvel, numa perspectiva de
uma nova era para a humanidade.
Assim, sua participao, na atualidade, na resistncia milenar
que nos permite a viso de que haver futuro, forjada na simbiose de so-
nhos e realizaes, antigos como a humanidade, que resgatam valores,
saberes, vivncias e vem sendo construdos em etapas que, ao longo do
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processo histrico, permeiam as relaes polticas, econmicas, sociais,
culturais, ambientais e espirituais dos povos, nos induz a uma sntese
que se inicia pelo que Mara Zlia e tantos de ns, homens e mulheres
desse tempo, alm de sedimentarmos convices, vamos elaborando
propostas, aes, polticas, prticas cotidianas, escrevendo, publicando,
participando, unificando propsitos... enfim, fazendo histria... porque,
os que se movem, constroem a histria...
E segue pela primeira convico de que preciso reverter a l-
gica, baseada na dependncia, onde o medicamento surge como ins-
trumento de dominao tcnica, econmica e cultural. E que, para isso,
um dos caminhos a seguir o de transformarmos em deciso poltica de
governo o que a sociedade constri, almeja e necessita.
O que foi concretizado, na atual etapa do Projeto Nacional de
Desenvolvimento atravs da elaborao da Poltica Nacional de Plantas
Medicinais e Fitoterpicos que, em resumo, efetua a aliana entre a nossabiodiversidade e a formao de pessoas para o desenvolvimento de tec-
nologias que viabilizem uma importante opo teraputica , ampliando
o acesso aos medicamentos, com humanizao, qualidade, segurana
e eficcia. Num processo que abrange desde a cadeia produtiva at a
implementao da Fitoterapia no SUS.
E partimos de convices outras que, com aes concretas deprofissionais como a que chamamos Professora Mara Zlia, pois mestra
pelo saber, fazer e compromissos com transformaes, temos adquiri-
do em nossa prtica cotidiana de que nossas Universidades dispem
de recursos estruturais e humanos para realizar estudos e pesquisas, a
partir do potencial das regies, na perspectiva de se constiturem em
celeiros dessa cultura. E de que o valor econmico de nossas plantas
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de extrema magnitude e a nossa autonomia para gerir nossos recur-
sos naturais somente ser respeitada quando tomarmos a deciso de
valorizar e integrar nossos conhecimentos tradicional e acadmico e
de implementar Redes de Cooperao Tcnica e Cientfica, formando
e capacitando para o desenvolvimento e produo de Tecnologias de
Inovao, agregando valor ao saber dos povos.
Essas convices, que tiveram sua elaborao a partir de reflexes
com amplos setores da sociedade, onde se destaca essa capacidade bra-
sileira de resistir dominao e aos entraves libertao, me permite, ao
elaborar esse Prefcio, afirmar que Mara Zlia, sempre presente com seu
conhecimento, adquirido em andares universitrios em simbiose com
andares na vida, nos processos dessa construo coletiva, parte inte-
grante, com sua obra, na elaborao e ao para que a Poltica Nacional
de Plantas Medicinais e Fitoterpicos, sob a Coordenao do Ministrio
da Sade, inserida na Poltica de Assistncia Farmacutica, como parte
integrante do SUS, tenha sedimentao em princpios como:
- a contribuio para o nosso desenvolvimento sustentvel e a
soberania do Brasil;
- a construo efetiva do Sistema nico de Sade e de suas po-
lticas setoriais;
- o uso e preservao de nossos recursos naturais e a manuten-o do patrimnio gentico nacional;
- a relao dialtica entre os saberes tradicional e acadmico, co-
locando por terra o falso antagonismo que serve dominao;
- a garantia de trabalho e gerao de renda.
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Hoje 26 de dezembro de 2010. Um dia aps o Natal e s vspe-
ras de um Novo Ano que chega na perspectiva concreta de promissores
avanos para o Brasil, que nos instigam e desafiam, na complexidade do
mundo em que vivemos.
Mara Zlia, com essa obra fruto de momentos de dedicao, de
estudo, de algumas incertezas e de construdas convices, de relaes
amorosas e respeitosas com nossa biodiversidade e nossa diversidade
tnica e cultural maiores e mais belas riquezas de nosso pas, o novo!!!
O sempre novo que surge da resistncia, da perseverana e doamor. E est, graas ao que nos abenoa, protege e impulsiona, alicera-
da na Bioqumica da Esperana, que nos faz pacientes e firmes para que
nossas plantas medicinais continuem sendo sementes na efetivao de
um caminho que garanta a vitria da civilizao aquela civilizao que
estar calcada na vitria da Vida.
Enfim, uma cuidadora de jardins... para que as borboletas noscheguem em eternas e sempre bem-vindas metamorfoses.
Jussara Cony*
* Farmacutica, Especialista em Tecnologia de Medicamentos e em Tecnologia
de Alimentos. Mestre em Cincias Farmacuticas, com formao na Faculdade de Far-
mcia da UFRGS. Funcionria da mesma Universidade, nas Faculdades de Medicina ede Farmcia. Vereadora em Porto Alegre (1983 a 1988, Deputada Estadual por quatro
mandatos no RS (1991 a 2006), tendo desempenhado o cargo de Vice-Presidente da
Comisso de Sade e Meio Ambiente e de Coordenadora do Frum pela Vida - Projeto
Plantas Vivas (1998 a 2006). Diretora-Superintendente do Grupo Hospitalar Conceio
do MS, no RS (2007 a 2010), participando, como tal, da Comisso Executiva do MS/SC-
TIE - Programa Nacional para a Implantao da Poltica Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterpicos. A partir de 01/01/2011 ocupar o cargo de Secretria de Meio Ambiente
do Estado do Rio Grande do Sul, no governo eleito, liderado por Tarso Genro.
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Prefcio
( 2 edio)
A preocupao de Mara Zlia quanto educao em/sobre plan-
tas medicinais h muito excede as limitadas paredes da academia. So
filhos desta benfazeja preocupao seus muitos cursos de extenso, sua
atuao junto a comunidades diversas e a transformao de parte desua Tese de Doutorado neste livro.
Qualquer estudo srio sobre plantas medicinais tem que ser in-
terdisciplinar, j que o assunto multifacetado, abrange vrias cincias
(ocidentais ou no) e envolve questes ticas, sociais e econmicas. Na
primeira parte deste livro, admirvel a organizao da abordagem his-
trico-contempornea que trata todos os aspectos principais. A cura
do corpo e da alma um raro e salutar exemplo de trnsito/dilogo en-
tre concepes mdicas baseadas em tramas culturais diferentes, belo
exemplo de Etnofarmacologia. So preciosos os glossrios, as dicas e to-
dos os detalhes que dizem no apenas do saber abrangente da autora,
como do aspecto Nan de sua personalidade. Finalmente o almana-
que, ah! o almanaque. Que bom reviver esses tempos e de maneira toqualificada.
Como se no bastassem a beleza da ilustrao, a leitura do livro
agradvel e acessvel, sem ser superficial. Seu verdadeiro valor educativo
est calcado na qualidade da informao apresentada e na capacidade
de induzir o leitor a procurar mais informao, mais saber, melhor fazer.
Esta , em realidade, a essncia do fazer pesquisa. Da o valor cientfico
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do livro (o que cientfico o que permite ser testado) e sua utilidade
em reinos diversos.
Quando tive a sorte de estar no lugar certo na hora certa e, porisso, ganhar o ltimo exemplar do ento disputado Plantas Medicinais,
cuja primeira edio foi lanado por ocasio do XVI Simpsio de Plantas
Medicinais do Brasil, Mara Zlia foi logo me avisando o livro era, de fato,
uma livra. A dedicatria a bisavs, avs e me, a beleza do livro, os cui-
dados com detalhes e o carter generoso (como o so as mes, como
Mara Zlia) deste livro, talvez justifiquem a em princpio inusitada
questo do gnero da obra. Como o livro induz o pensar, questionar e
pesquisar, trata-se da obra fadada a gerar filhos uma livra prenhe! E
pensando nelas e nisso tudo, que este texto tem que acabar com Od Ia!
Prof. Dr. Elaine Elisabetsky
UFRGS/Sociedade Internacional de Etnofarmacologia
Setembro 2001
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Notas da autora
para a 3 edio
Em agosto de 2000, quando estvamos nas revises finais da pri-
meira edio desse livro, ainda tnhamos novas informaes, bibliogra-
fias para serem acrescentadas e dvidas de como as pessoas receberiam
a miscelnia que elaboramos com informaes tcnicas, dicas, receitas eo resgate de tradies ritualsticas.
A reao das pessoas, tanto do mundo acadmico como interes-
sados em geral pelo tema, foi extremamente gratificante. O livro logo
ganhou o apelido de livra. A primeira edio esgotou-se em pouco tem-
po, a segunda tambm. Fomos contemplados no edital FAPESB/2010
para apoio a publicaes e comeamos a reviso e atualizao para que
nossa livra produzisse mais rebentos.
Nesses 10 anos inmeras foram as novidades. Costumamos dizer
entre o grupo que: no Farmcia da Terra as coisas acontecem em casca-
ta. Muitos dos meus meninos se foram, colaram grau e esto cursando
ps-graduao, so professores universitrios, todos bem classificados
em concursos pblicos para a carreira docente, outros de imediato esta-
vam empregados (na Bahia e em outros estados do pas). E chegaram os
novos filhos, acadmicos de graduao e de ps- graduao, bolsistas e
voluntrios.
As instituies parceiras tambm se renovaram. Projetos no
Litoral Norte da Bahia com o Instituto de Hospitalidade, o Instituto
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Souza Cruz e SEBRAE, num trabalho belssimo junto ao Programa de
Desenvolvimento Sustentvel da Costa dos Coqueiros. Nesse e em
outros projetos Conhecemos pessoas mpares, que guardam suas tra-
dies e as repassam com toda a dignidade. Demonstram a alegria de
viver a partir dos recursos que a natureza pode oferecer, tais como mat-
ria prima para o artesanato, o alimento, cosmticos e remdios caseiros
com plantas medicinais.
Estamos aprendendo, em cada localidade que desenvolvemos
nossos projetos, a saborear as delcias de um saboroso feijo temperado
com quii e orelha de maroto, de peixe com coentro de rigor, galinha
de quintal com corante de urucum e alfavaquinha de galinha. Sucos de
biri-biri, siriguela, mangaba,doces de caju, groselha e jaca. Chs de ca-
pim santo, de caapeba ou alum para auxiliar a digesto. Para cicatrizar
nossos ferimentos, banhar com ch morno de Nego N ou com folhas
de Tapa Buraco. Aprendemos a tomar um banho de Agarradinho para
atrair paixes ou ainda a usar folhas de Magnopirol ou de Samba emP para curar nossas dores no corpo aps um dia de longas caminhadas!
Entre 2005 e 2010 fomos contemplados fomos contemplados
com a participao no Instituto do Milnio do Semi-rido-IMSEAR e na
rede Nordestina de Biotecnologia-RENORBIO, em ambas coordenamos
o sub- projeto de Etnobiologia com as atenes voltadas para o semi-
-rido brasileiro, para as espcies das famlias botnicas abundantes
nesse bioma, com foco no potencial de bioatividade dessas plantas. O
projeto RENORBIO originou um livro editado pela EDUFBA em 2010, de-
nominado Plantas Medicinais no Semirido: Conhecimentos Populares
e Acadmicos.
Participamos de outros projetos na Chapada Diamantina, em
reas quilombolas, com recursos da Secretaria de Polticas de Promoo
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da Igualdade Racial-SEPPIR. No recncavo baiano, em So Francisco do
Conde estamos em atividade no projeto para melhoria de Sade da
Populao Negra com recursos do municpio e Fundao de Pesquisa
do Estado da Bahia-FAPESB. Com fomento do Fundo Nacional de Sade-
FNS e Secretaria da Gesto Participativa do Ministrio da sade, inicia-
mos uma proposta de cultivo de plantas medicinais, aromticas e ritu-
alsticas em terreiro de origem Banto, no Manso Dandalungua, na rea
metropolitana de Salvador. Realizamos algumas consultorias, a mais re-
cente no baixo sul da Bahia, em 4 municpios situados em reas de rema-
nescentes de Mata Atlntica. Esse projeto foi financiado pelo Ministriode Agricultura Pecuria e Abastecimento (MAPA) sob a coordenao da
Casa Jovem/Fundao Odebrecht.
Esses foram trabalhos longos, sempre em parceria com o Herbrio
Alexandre Leal Costa do Instituto de Biologia da UFBA-ALC/UFBA. aes
esto nos proporcionando a oportunidade de termos um banco de da-
dos com uma diretriz em etnopesquisa. O grande encantamento dessesprojetos est na oportunidade de trabalhar em equipe multidisciplinar,
com uma seqncia (abordagem etnodirigida, coleta, identificao, pro-
duo de extratos com o perfil fitoqumico e ensaios biolgicos). Tudo
que sempre foi sonhado para um trabalho srio, voltado para a busca
racional de fitofrmacos.
A partir de 2006 novos marcos regulatrios brasileiros apoiam
e fomentam o uso seguro e racional de plantas medicinais e fitoterpi-
cos: a Poltica Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterpicos (PNPMF),
Decreto n. 5.813, 22/06/06, o Programa Nacional de Plantas Medicinais
e Fitoterpicos, portaria interministerial n. 2.960 de 9/12/08 e a Poltica
Nacional de Prticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS,
Decreto n. 971, de 03/05/06. A fim de adequar os marcos legais para
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a implantao da fitoterapia no SUS, em 2008 a ANVISA coloca em vi-
gor a Instruo NormativaIN/05, com uma lista de 36 plantas para fins
medicinais. Em 2010 temos a publicao pela ANVISA das RDC n10 de
10/03/2010, sobre a venda de drogas vegetais rasuradas, sobre os regis-
tros de fitoterpicos, a RDC n.14 de 05/04/2010. Ainda em 2010, foram
publicadas a 5 Edio da Farmacopia Brasileira e a Consulta Pblica
do Formulrio Teraputico Fitoterpico Nacional. A Diretoria de assis-
tncia Farmacutica do MS publicou a RENISUS/2009 - Relao Nacional
de Plantas de Interesse ao SUS, com 71 espcies vegetais que devem ter
seus estudos priorizados para garantir a eficcia e segurana no uso dasmesmas. Em 20 de abril de 2010 foi instituda a Farmcia Viva no mbito
do Sistema nico de Sade atravs da Portaria 886. As Farmcias Vivas,
no contexto da Poltica Nacional de Assistncia Farmacutica, dever
realizar todas as etapas, desde o cultivo, a coleta, o processamento e o
armazenamento de plantas medicinais e fitoterpicos.
Diante de tantas inovaes e avanos para o fortalecimento daFitoterapia, aqui na Bahia o Farmcia da Terra e o FITOBAHIA, ncleo da
Secretaria Estadual de Sade da Bahia/SESAB, se fez presente com des-
taque nacional, participando de vrios grupos de trabalho e elaborao
de projetos, o ltimo deles referente a capacitao dos servidores do
SUS na Ateno Bsica para a implantao dos Servios de Fitoterapia
nas Unidades de Sade da Famlia, projeto em parceria com o Ncleo deEnsino a Distncia-NEAD da Escola de Enfermagem UFBA, com o apoio
da DASF/MS e Fiocruz.
O Programa de Ps Graduao em Farmcia da Faculdade de
Farmcia da UFBA, tem nos proporcionado a oportunidade de orientar
pesquisas com plantas medicinais com potencial teraputico, formando
uma boa equipe e gerando produtos para a ponta, o servio.
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As nossas aes sempre envolvem muitos estudantes de gradu-
ao e relao com as disciplinas de Fitoterapia e a Atividade Curricular
em Comunidade (ACC), denominada Busca Racional de Frmacos de
Origem Vegetal, com o apoio da Pr-Reitoria de Extenso que atravs
dessa iniciativa facilitou aos professores e alunos voltados para o social,
a possibilidade de exercer seu compromisso de cidadania.
Assim para atualizarmos os contedos dessa terceira edio con-
tamos com os alunos de graduao e ps, os parceiros internos e externos,
de muita vivencia em campo. Foi difcil controlar essa grande bola de neve
que o amplo universo dos conhecimentos sobre plantas medicinais, ain-
da temos muito para repartir e divulgar mas por enquanto ficamos com
essa terceira edio revisada e ampliada dentro de limites possveis.
Agradecemos a Fundao de Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB)
e a Editora da Universidade Federal da Bahia (EDUFBA), pela oportunidade.
Fica cristalino que o tema plantas medicinais complexo, riqussi-mo, polmico e contempla inmeras vertentes, temas intrincados que se
permeiam e mudam o perfil em velocidade assustadora. Cada um deles po-
deria ser objeto de um livro distinto, sempre como centro Plantas para Fins
Medicinais. Nesse momento estamos lanando todas essas novas informa-
es como atualizao para a terceira edio desse livro, mas fica o enorme
desafio de continuar estudando e socializando o conhecimento. Sempre !
Prof. Dr. Mara Zlia de Almeida
Salvador, 23.07.0220:30hLua Cheia
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Prefcio
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Grande tem sido o interesse despertado pelo estudo dos produ-
tos naturais, em particular das plantas medicinais, neste final de sculo.
Muitas so as publicaes abordando diferentes aspectos sobre o uso
das plantas medicinais. Algumas enfocam, basicamente, o uso popular,resgatando o conhecimento prprio das prticas tradicionais da medi-
cina natural. Outras, abordam o conhecimento cientfico justificando a
eficcia do uso das plantas na presena de substncias ativas, que, por
vezes, no explicariam totalmente o seu emprego.
A presente publicao guarda importncia fundamental ao
tentar reunir os diversos aspectos que envolvem o conhecimento dasplantas como fonte de cura. A autora, utilizando uma linguagem bas-
tante acessvel, tanto para leigos como para estudantes e profissionais
da rea, passeia com maestria abordando e relacionando as diferentes
faces no estudo das plantas medicinais utilizadas no Brasil, em particular
na Bahia.
Ao abordar assunto de tamanho interesse popular e cientfico,
a autora procura, com sucesso, enfocar o carter religioso e supersticio-
so, fortemente presente na populao brasileira, decorrente da herana
africana e indgena, percebida com maior intensidade na Regio Sul e
Sudeste, sem prejuzo das informaes de cunho cientfico coligadas
por reviso na literatura.
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Desnecessrio afirmar a riqueza da presente obra. A forma ino-
vadora encontrada pela autora para conciliar o popular e o cientfico,
tornando a leitura agradvel e interessante, a destaca em relao a ou-
tras obras similares.
O livro aborda de forma clara, dentre outros aspectos referentes
importncia da etnofarmacologia, etnomedicina e inova, sobremanei-
ra, em relao a publicaes do gnero quando insere o captulo intitu-
lado ALMANAQUE, no qual relata aspectos prticos/populares no uso
das plantas medicinais.
Prof. Juceni Pereira DavidDoutora em Qumica de Produtos Naturais.
Prof. Edna Maura Prata de ArajoMestre em Qumica e Farmacologia de Produtos Naturais.
Prof. Lidrcia Cavalcanti R. C. SilvaDoutora em Quimca de Produtos Naturais.
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Apresentao
A motivao para escrever esse livro surgiu em 1990, a partir
do compromisso social e tico de publicar de maneira ampla, de for-
ma que ultrapassasse os muros da universidade, os resultados obti-
dos em vrios trabalhos de campo. Inicialmente, com acadmicos do
Curso de Farmcia da UFBA, em atividades didticas da disciplina de
Farmacognosia II e III e, posteriormente, com os resultados obtidos
em muitos projetos de pesquisa e extenso no Programa de Extenso
Permanente Farmcia da Terra. Essa publicao foi implementada tam-
bm com o banco de dados e pesquisas resultantes da elaborao da
tese de Doutorado da autora, bem como das orientaes de disserta-
es de mestrado desenvolvidas pela mesma.
A proposta de realizar uma documentao literria para o co-
nhecimento das plantas como fonte de cura, sob a tica da religiosidade
afro-baiana, objetivou colaborar com a preservao e multiplicao das
informaes obtidas em trabalhos comunitrios, com o devido respeito
s tradies dessa herana cultural africana na medicina do Brasil. A vi-
so do homem, como ser integral, respeitado em seu momento de fra-
gilidade, quando algum mal de origem psquica ou somtica lhe aflige,destaca-se como a principal tica para o entendimento desse trabalho.
A autora sentiu-se muito vontade ao caminhar entre mundos
to distanciados pela sociedade: as prticas mdicas acadmicas, a vi-
so convencional da cura e a vertente tradicional ritualstica. Vive nesses
dois mundos, a realidade do Aye(terra) e do Orm (mundo dos orixs)
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como Professora Universitria e descendente de Yalorixs. Foi criada
dentro de uma comunidade-terreiro. Dessa forma, aprendeu a decodi-
ficar os segredos das folhas e a compreender a importncia dos princ-
pios bioativos de origem vegetal. Esses universos to ambguos foramunidos numa mesma esfera a fim de demonstrar a lgica popular sem
perder a seriedade cientfica.
As indicaes teraputicas tradicionais (prticas no-alopticas)
indicam plantas para fins medicinais que extrapolam em muito a tera-
putica convencional (alopatia), assumindo, em determinados momen-
tos, um carter mstico, embasado em crenas culturais inerentes ao
grupo tnico. Assim, na maior parte das doenas, o processo de cura
no regido apenas pelo princpio farmacolgico do recurso natural uti-
lizado, mas tambm por crenas prprias dessa cultura, que resistem h
geraes, garantindo a sade dos seus descendentes.
Conforme citaes em literatura especializada, ainda difcil es-
timar com preciso a grandeza da biodiversidade brasileira. Entretanto,
afirma-se que o Brasil possui a maior diversidade gentica vegetal do
planeta. Apesar do potencial para a busca de novos fitofrmacos ser
inegvel, estima-se que menos de 10% da flora nacional foi estudada
com fins fitoqumicos e farmacolgicos, visando a avaliao das proprie-
dades teraputicas. Encontram-se registradas no Ministrio da Sade,
para comercializao com propsitos medicinais, cerca de 600 drogasvegetais de um total de aproximadamente 1.000 espcies que possuem
a validao de suas atividades biolgicas e de seus princpios bioativos
avaliados cientificamente.
Inmeras plantas indicadas para fins medicinais possuem farta bi-
bliografia sobre seus princpios bioativos e so os testes farmacolgicos
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clnicos e pr-clnicos dos mesmos que validam sua eficcia e segurana.
A anlise epistemolgica realizada a partir do banco de dados, oriun-
do de vrios trabalhos de campo, permitiu traar um perfil botnico e
epidemiolgico de doenas, atravs das plantas mais indicadas parafins medicinais no pas. Estas esto includas em famlias botnicas, das
quais as mais indicadas so: Asteraceae, Lamiaceae e Leguminoseae.
Percebe-se a predominncia de espcies com hbito herbceo e arbus-
tivo. As classes de metablitos especiais presentes em maior frequncia
so: alcalides, terpenides, flavonides, taninos e cumarinas.
Uma outra viso importante que deve ser abordada resulta da
experincia prpria em etnofarmacologia. Trata-se da necessidade pre-
mente de uma ao conjunta e urgente no campo da assistncia far-
macutica. Nota-se, nas observaes participantes e nos resultados
de entrevistas, um sem nmero de aes populares em sade que
necessitam de otimizao urgente, outras que, em eminncia de per-
da, precisam ser resgatadas dentro de seu contexto etnobotnico eetnofarmacolgico.
Orientados pela certeza da possibilidade de unio entre a ver-
tente popular/emprica e os conhecimentos acadmicos/cientficos, e
de que vivel a otimizao de prticas populares em sade, acredita-se
que esses escritos apontem para o fortalecimento do elo entre o saber
popular e o cientfico, numa coexistncia simbitica, tendo como obje-tivo a melhoria da qualidade de vida como instrumento de cidadania.
Optou-se por estruturar a presente obra em trs mdulos: o pri-
meiro, que situa o uso de plantas medicinais na histria da humanidade;
o segundo, denominado a Cura do Corpo e da Alma, no qual foram ela-
boradas 16 monografias considerando o aspecto popular-religioso de
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um grupo social e suas crenas, abordando aspectos tcnico-cientficos;
e um terceiro, o Almanaque, assim intitulado devido variedade de in-
formaes nele reunidas, a maioria delas oriundas de dvidas e consul-
tas anotadas em cursos de extenso, aulas e consultorias.
Para a elaborao desta publicao, contou-se com parcerias ins-
titucionais e pessoais, como o Herbrio Alexandre Leal Costa, do Instituto
de Biologia da UFBA, sua atual curadora, Prof. Lenise S. Guedes e da an-
terior, Prof. Letcia Scardino. De professoras da matria Farmacognosia,
como a Prof. Edna Prata, que iniciou com a autora, o Levantamento da
Flora Medicinal Comercializada na Cidade de Salvador. Essa pesquisa deu
origem primeira ordenao de dados, reproduzida como brochura,
em 1990, com o apoio financeiro do Conselho Regional de Farmcia/
BA. Esses dados foram o embrio desse livro; a Prof. Helna Clia R.
Passinho, que iniciou os cursos comunitrios do Farmcia da Terra, em
1996, num projeto em parceria com o Servio Social do Mosteiro de So
Bento resultando hoje, no Programa de Extenso Permanente Farmciada Terra; a Prof. Juceni David, do Laboratrio de Pesquisa de Produtos
Naturais, parceira em projetos voltados para o estudo Fitoqumico de
Plantas Medicinais. As Profas. Lidrcia C. R. C. Silva e Maria de Lourdes S.
e Silva, da disciplina Farmacotcnica, parceiras em cursos de extenso
e nos projetos de Produo de Fitoterpicos e Fitocosmticos. O Prof.
Humberto Ribeiro Moraes, vice-coordenador do Programa e idealiza-dor junto com a autora, da implantao da disciplina Fitofrmacos e
Fitoterpicos, ministrada pelos mesmos, no curso de Farmcia da UFBA.
Contou-se tambm com a colaborao constante da Pr-Reitoria
de Extenso/UFBA, atravs do seu Pr-Reitor, Prof. Dr. Paulo Lima, que
apoiou os trabalhos comunitrios atravs do Programa UFBA em Campo.
Em alguns projetos, obteve-se a parceria da EBDA em assessorias
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agronmica e botnica. Mantm-se a constante colaborao cientfica,
no referente a drogas vegetais, com a Prof. Eliane Carvalho e o Prof. Dr.
Leandro Machado Rocha da Universidade Federal Fluminense, com o far-
macutico Leonardo Lucchetti da FIOCRUZ/INCQS, com o Prof. Dr. JosMaria Barbosa e Prof. Dr. Marcelo Sobral, do Laboratrio de Tecnologia
Farmacutica da Universidade Federal da Paraba, parceiros em projeto
PRONEX. A Prof. Dr. Maria Auxiliadora Kaplan, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro/NPPN, consultora e orientadora da tese de doutorado
da autora. O apoio financeiro para a pesquisa e elaborao da primei-
ra edio dessa obra deve-se ao CADCT/SEPLANTEC, que acreditandona importncia de documentar as questes de sade e etnias, verten-
tes que traam um representativo perfil do povo baiano, viabilizou o
projeto.
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Plantas Medicinaisabordagem
histrico-contempornea
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A origem do conhecimento do homem sobre as virtudes das
plantas confunde-se com sua prpria histria. Certamente surgiu, me-
dida que tentava suprir suas necessidades bsicas, atravs das casuali-
dades, tentativas e observaes, conjunto de fatores que constituem oempirismo. O homem primitivo dependia fundamentalmente da natu-
reza para a sua sobrevivncia e utilizou-se principalmente das plantas
medicinais para curar-se. No decorrer de sua evoluo surgiram novas
terapias. Entretanto, at 1828, quando Friedrich Wohler sintetizou a ureia
a partir de uma substncia inorgnica, o cianato de amnio, o homem
no conhecia como origem de matria orgnica qualquer fonte que nofosse vegetal, animal ou mineral. Isso significa que praticamente com
exceo do sculo XX, toda a histria da cura encontra-se intimamente
ligada s plantas medicinais e aos recursos minerais. Acredita-se que o
registro mais antigo de todos o Pen Tsao, de 2800 a.C., escrito pelo her-
borista chins Shen Numg, que descreve o uso de centenas de plantas
medicinais na cura de vrias molstias.A eficcia das drogas de origem vegetal fato desde as mais
remotas civilizaes, na chamada Matriz Geogrfica da civilizao oci-
dental: o quadrante noroeste que envolvia Europa (Mar Mediterrneo),
frica Setentrional (Vale do Rio Nilo), sia Ocidental (Mesopotmia) e as
regies entre os rios Tigre e Eufrates.
Os egpcios, sob a proteo de Imhotep, o Deus da cura, e asapincia de seus inmeros sacerdotes, muitos com funes mdicas
definidas, tornaram-se famosos pelos seus conhecimentos com os in-
censos, as resinas, as gomas e mucilagens que faziam parte da arte da
mumificao.
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O egiptlogo alemo Yorg Ebers, no final do sculo XIX, ocasio-
nalmente teve acesso a um longo papiro datado de aproximadamen-
te 1500 a.C., que aps traduo passou para a histria como Papiro de
Ebers, um dos mais importantes documentos da cultura mdica. O Papiroinicia com a audaciosa frase Aqui comea o livro da produo dos rem-
dios para todas as partes do corpo humano ...
Dessa forma o mundo tomou cincia de uma Farmacopeia egp-
cia contendo a descrio de espcies vegetais como a Mirra, de uso
adstringente e anti-inflamatrio, o ltex do Olbano, para inflamaes
bucais, Sndalo como antidiarrico. A papoula, fonte do pio, morfina,codena e papaverina era conhecida como sedativo, antiespasmdico,
chamado de remdio para acabar com a choradeira.
Muitas drogas usadas no Egito vinham de outras regies.
Naquela poca, o comrcio de drogas vegetais era intenso e as cidades
do Reino de Sab , no extremo sudoeste do deserto arbico, ganharam
fama pelos seus jardins paradisacos onde cresciam ervas milagrosas. Os
sabeus, at 1000 a.C., promoviam caravanas frequentes ao Egito para
comercializar incensos, mirra, outros gneros da famlia burseraceae e
outras espcies asiticas atravs do porto de Gherr, hoje Golfo Prsico.
Dessa forma, novas drogas como cinamomo, pimenta da Malsia, gen-
gibre, rom, clamo aromtico e os alos da ilha de Socotra (Ilha do
Oceano ndico localizada ao sul da Arbia, atualmente protetorado daRepblica do Imen) chegaram ao Egito e ao Mediterrneo. Outras plan-
tas vieram da ilha grega de Creta para o Egito. Os cretenses dominaram
o mar e o comrcio no Mediterrneo at 2000 a.C., entre as espcies cita-
das acima esto o aafro, a slvia e o arbusto de Chipre, de cujas cascas
e folhas se faziam a Henna, que tingia as unhas e os cabelos das egp-
cias. Paralelamente, a exemplo do que ocorreu no Egito, os sumrios,
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prximo ao terceiro milnio a.C., detinham conhecimentos que foram
repassados para a humanidade atravs de escrita cuneiforme, em placas
de argila. Dessas placas, vrias receitas foram traduzidas como o uso da
beladona, fonte de atropina; do cnhamo da ndia chamado Quinabu,a Cannabis sativa L.indicada para dores em geral, bronquite e insnia. Em
uma dessas placas h a descrio da coleta do GIL, que significa prazer.
uma referncia coleta e uso ritual da papoula, Papaver somniferum L.
O herbrio assrio tambm dispunha de muitos frmacos tais como mei-
mendro, mandrgora, junco e tomilho. A ndia, provavelmente, comer-
cializava drogas vegetais desde 2500 a.C., seu maior legado est citadona tradio dos sbios Vidia, no imprio do Vale do rio Indo, a Noroeste
da ndia, onde hoje o Paquisto.
Os primeiros tratados mdicos de grande importncia so de
aproximadamente 500 a.C., o Taxaraca-Samhita e Susruta-Samhita,
provveis precursores do sistema UNANI de medicina rabe. Estes sis-
temas teraputicos so certamente a origem inspiradora da medicinahipocrtica grega, conhecida como a me da medicina ocidental.
Os antigos mdicos hindus, conheciam uma droga poderosa de-
vido forma semilunar de seus frutos, usados contra cefaleia e angstia.
Eram chamados de remdio para homens tristes. Essa droga posterior-
mente conquistou o mercado farmacutico mundial nos meados do s-
culo XX como hipotensora e calmante, a Rauwolfia serpentina L., fontede reserpina.
Durante as chamadas civilizaes clssicas, as drogas vegetais
comeam a ser registradas de forma sistemtica. Na Grcia, Pedacius
Dioscrides escreveu a obra que foi posteriormente traduzida para o
Latim por humanistas do sculo XV, chamada De Matria Mdicaque por
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mais de 1500 anos, durante o perodo greco-romano e na Idade Mdia,
foi considerada a bblia de mdicos e farmacuticos. Dioscrides des-
creveu a origem, caractersticas e usos em teraputica de mais de 500
drogas vegetais, aproximadamente 100 drogas de origem animal e ou-tras tantas de origem mineral. Acredita-se que a matria-mdica, trans-
formada em disciplina didtica, deu origem moderna Farmacognosia.
Aps a queda do Imprio Romano, a Europa atravessou um longo pero-
do de obscurantismo cientfico entre os sculos V e XV, a chamada Idade
Mdia. De forma paralela, nesse perodo, o mundo rabe emergiu com
grande atividade cientfica sendo acrescido de alguns conhecimentosde origem indiana. Dessa forma, surge a Medicina rabe, destacando-se
o mdico Avicena e as suas famosas flores como teraputica para os ma-
les cardacos. Atravs da pennsula Ibrica, os conhecimentos rabes
ganharam toda a Europa. Muitas drogas, novas para a poca, foram in-
troduzidas na teraputica europeia: canela, limo, noz-moscada, sene,
tamarindo e cnfora so algumas das mais importantes.
As descobertas geogrficas, ao final do sculo XV, com a aber-
tura das rotas martimas para as ndias e para a Amrica trouxeram o
conhecimento de outros vegetais como o coco, o ch preto e o caf,
iniciando uma nova era para o estudo de fitofrmacos.
A noo bsica do entendimento de substncias responsveis
pela atividade farmacolgica e a resposta teraputica como potencialcaracterstico de uma certa espcie vegetal, creditada a Paracelso. Este
fsico suo, no incio do sculo XVI, comeou a praticar a extrao de
substncias a partir de drogas at ento consideradas como indispen-
sveis, as quais denominou de Quinta Essentia. A Quinta Essncia pro-
vavelmente a primeira noo de princpio bioativo.
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Entretanto, somente ao final do sculo XVIII tornou-se vivel
uma proposta cientfica slida para o uso de fitofrmacos, a partir do
isolamento e estudo de metablitos especiais. As primeiras substncias
qumicas foram isoladas de extratos vegetais quando os cidos orgni-cos: oxlico, mlico e tartrico foram separados e identificados. A partir
da, no incio do sculo XIX, vrias foram as substncias bioativas isola-
das: narcotina e morfina do pio; estricnina de Strychnus nux-vomica;
quinina de Cinchona; cafena de Coffea. Os primeiros heterosdeos, sa-
licina e digitalina, ainda so desse sculo. Data tambm do incio do s-
culo XIX, um novo aspecto do estudo de plantas medicinais, atravs dodesenvolvimento da fisiologia e da farmacologia experimental.
Em 1809, foram descritos os primeiros trabalhos sobre os efeitos
txicos de Strychnus em animais de laboratrio. Entretanto, atribudo
a Claude Bernard o mrito de estudar atravs de ensaios de laborat-
rio com animais, a atividade de plantas indicadas empiricamente para
fins medicinais e usadas na medicina popular, definindo sua forma deao sistmica. Nessas anlises experimentais, comearam-se a tes-
tar substncias bioativas, isoladas de extratos vegetais, iniciando uma
nova viso de aplicao teraputica. Sendo assim, pode-se sugerir que
etnomedicina, farmacologia e qumica de produtos naturais caminham
juntas desde o incio do sculo XIX, tendo atravs do desenvolvimento
cientfico, sofrido diferenciaes e especializao a partir de uma cincianica, a matria mdica. Dessa forma, adquiriu caractersticas prprias.
Hoje, na virada do sculo XX, os pesquisadores de reas afins procuram
valorizar as aes multidisciplinares e multiprofissionais como priorida-
de para o estudo cientfico na busca racional de princpios bioativos.
Muitas drogas vieram da antigidade e atravs dos sculos so-
breviveram aos diferentes hbitos culturais. Na Grcia, em 800 a.C.,
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o poeta Homero, na Odisseia, narra que Helena servia a Telmaco
quando esse se sentia triste pela lembrana de Ulisses... uma poo de
esquecimento retirada da seiva da dormideira. Em vrias pinturas, da-
tadas da Idade Mdia, existem referncias Mandrgora, planta mgicausada como anestsico em cirurgias apesar de sua conhecida toxidez.
Sua raiz antropomorfa e bifurcada, lembrando duas pernas, atravs da
Teoria das Assinaturas, contribuiu muito para a fama de planta msti-
ca e afrodisaca. Na comdia satrica Mandrgola, em 1515, Maquiavel
ridicularizou a hipocrisia do clero, a corrupo na Itlia renascentis-
ta. No centro da trama est a Mandrgora, erva mgica fecundante.Sheakspeare, citou a mandrgora nas falas dos personagens Julieta e
Clepatra. Muitas so as lendas com essa planta, sempre presente nas
frmulas dos filtros de amor, nos unguentos das bruxas, nos rituais que
proporcionariam prazer, fertilidade e felicidade eterna.
Preciosos conhecimentos perderam-se no decorrer da
histria das civilizaes, extintas por fenmenos naturais, migraese, principalmente, pela ocorrncia das invases gregas, romanas,
muulmanas e pelas colonizaes europeias, que impuseram seus
costumes, alterando realidades socioculturais e econmicas. No Brasil,
o conhecimento dos ndios, dos africanos e de seus descendentes est
desaparecendo em decorrncia da imposio de hbitos culturais
importados de outros pases, havendo um risco iminente de se perderessa importante memria cultural.
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O uso de plantas medicinaisno Brasil e suas origens
A pesquisa etnofarmacolgica, vertente relativamente nova do
estudo de plantas medicinais, vem sendo reconhecida como um dos
melhores caminhos para a descoberta de novas drogas, orientando os
estudos de laboratrio no direcionamento de uma determinada aoteraputica, reduzindo significativamente os investimentos em tempo
e dinheiro.
O vocbulo etnofarmacologia, como um termo cientfico, surgiu
em 1967, em um Simpsio Internacional em So Francisco nos Estados
Unidos. Neste, foram abordados os aspectos histrico, cultural, antropo-
lgico, botnico, qumico e farmacolgico de drogas psicoativas. A deno-minao ganhou definitivamente status de cincia a partir do surgimento
doJournal of Ethnopharmacologyem 1979. Em 1981, Bruhn e Holmstedt
descreveram a etnofarmacologia como O conhecimento multidiscipli-
nar de agentes biologicamente ativos, tradicionalmente estudados ou
observados pelo homem. Desenvolvendo esse conceito sob a tica de
seu significado cultural, independente do pensamento cartesiano a res-peito da ao de drogas, o levantamento de dados etnofarmacolgicos
prope que a atitude do pesquisador seja ampla e receptiva, sem ideias
preconcebidas sobre sade e doena e que a atitude em relao aos
agentes farmacologicamente ativos ocorra numa perspectiva cultural
e histrica. Sendo assim, os objetos de estudo da etnofarmacologia,
so as informaes coletadas dentro de uma determinada populao
lt l t d fi id ( t i ) E l l d i i
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culturalmente definida (grupo tnico). Em geral, alm dos minerais e
produtos de origem animal, os remdios de origem vegetal produzi-
dos pelo homem, no so mais consideradas plantas medicinais in na-
turae sim uma certa espcie vegetal manipulada e ingerida de maneiraespecfica para uma determinada finalidade teraputica. A partir dessa
concepo, as informaes etnofarmacolgicas so usadas como ponto
de partida para o delineamento experimental, que objetiva o estudo da
espcie como um frmaco em potencial, ou seja, qual ao farmacol-
gica tem o maior potencial de revelar dados que validem a indicao
popular.Sendo assim, de acordo com a RDC n. 14, publicada em 05 de
abril de 2010, da Agencia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA),
planta medicinal: espcie vegetal, cultivada ou no, utilizada com
propsitos teraputicos. Derivado vegetal: produto da extrao de
planta medicinal in naturaou da droga vegetal podendo ocorrer na for-
ma de extrato, tintura, alcoolatura, leo fixo e voltil, cera, exsudato eoutros derivados. Matria-prima vegetal: compreende a planta medi-
cinal, a droga vegetal ou o derivado vegetal. So considerados medica-
mentos fitoterpicos os obtidos com emprego exclusivo de matrias-
-primas ativas vegetais, cuja eficcia e segurana so validadas por meio
de levantamentos etnofarmacolgicos, de utilizao, documentaes
tecnocientficas ou evidncias clnicas. De acordo com as definiesfarmacotcnicas, considera-se medicamento, todo produto farmacu-
tico empregado para modificar ou explorar sistemas fisiolgicos ou
estados patolgicos, em benefcio da pessoa a quem se administra,
com finalidade profiltica, curativa, paliativa ou de diagnstico (OMS),
como, por exemplo, o uso de um analgsico com o propsito de aliviar
uma dor. Denomina-se remdio todos os meios fsicos, qumicos ou
psicolgicos atravs dos quais se procura o restabelecimento da sade
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psicolgicos atravs dos quais se procura o restabelecimento da sade .
Exemplificando: o uso de arruda nas rezas e o banho de sal grosso, am-
bos contra mau-olhado.
Reafirma-se a importncia do entendimento dos conceitos de
sade, doena e remdio da populao abordada, pois tais conceitos
so variveis em cada cultura e, portanto, necessrio levar em conside-
rao o contexto no qual uma determinada planta considerada como
medicamento. Para uma doena culturalmente definida, o remdio in-
dicado poder ser eficaz apenas naquele momento cultural, ritualstico.
Porm, pouco provvel que tenha um princpio bioativo que possaser utilizado com aplicabilidade universal. Somente atravs da descodi-
ficao por correlao entre os conceitos de nosso sistema biomdico
convencional e os conceitos da medicina tradicional, torna-se possvel
propor hipteses de trabalho experimental viveis a fim de otimizar a
eficincia dos estudos que objetivem o desenvolvimento de novas dro-
gas ou preparaes teraputicas teis.As pesquisas etnofarmacolgica e etnobotnica no Brasil so
assuntos controvertidos, considerados por alguns um grande desafio. A to
cobiada flora brasileira e sua famosa biodiversidade, constituda de um infi-
nito nmero de espcies vegetais, vem sendo progressivamente destru-
da, perdendo-se tambm as informaes sobre plantas medicinais tro-
picais, conhecimentos etnomdicos to ricos e distintos e seus diversosmatizes, sendo eles de origem africana, indgena e europeia.
No Brasil, so consideradas cinco regies em abundncia de es-
pcies medicinais: Floresta Amaznica, Mata Atlntica, Pantanal Mato-
grossense, Cerrado e Caatinga. Algumas dessas regies possuem plan-
tas medicinais indicadas popularmente, das quais ainda no foram reali-
zados estudo qumico, farmacolgico ou toxicolgico.
A herana africana
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A herana africana
Os levantamentos etnomdicos realizados, demonstram a forteinfluncia da herana cultural africana na medicina popular do Brasil,
principalmente no norte, nordeste e sudeste do pas. A manuteno da
herana africana em vrios mbitos socioculturais brasileiros , antes de
tudo, uma forma de resistncia de uma camada mestia da populao.
Com a vinda dos africanos para o Brasil, aps trs sculos de
trfico escravo, muitas foram as espcies vegetais trazidas, substitudaspor outras de morfologia externa semelhante, enquanto algumas foram
levadas daqui para o continente africano. No processo histrico brasilei-
ro, os negros realizaram um duplo trabalho; transplantaram um sistema
de classificao botnica da frica e introjetaram as plantas nativas do
Brasil na sua cultura, atravs de seu efeito mdico simblico. Sendo as-
sim, ao incorporarem-se ao novo habitat e s novas condies sociais,algumas plantas indispensveis aos rituais de sade foram substitudas
Entre as plantas trazidas para o Brasil e que aqui mantm seus
nomes em Yorub citam-se: ob (Cola acuminataSchott e Endl.), da fa-
mlia Sterculiaceae; orob (Garcinia colaHeckel), famlia Guttiferae; fava
de Aridam (Tetrapleura tetrapteraPaub), famlia Leguminosae; e akk
(Newbouldia leavisSeem), famlia Bignoniaceae.
Aps a abolio, o chamado refluxo migratrio de africanos e
seus descendentes levou para a frica: milho, guin, pinho branco, ba-
tata doce, fumo e algumas espcies de Annona (pinha, fruta de conde,
graviola). Espcies africanas como a mamona, dend, quiabo, inhames,
tamarineiro e jaqueira, bem adaptadas, tornaram-se espontneas.
Em 1942 na primeira edio de Brancos e Pretos na Bahia Pierson
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Em 1942, na primeira edio de Brancos e Pretos na Bahia, Pierson
j registrava a perda do mundo mental africano pelos seus descenden-
tes e a crescente assimilao dos padres culturais europeus. Este regis-
tro foi facilmente justificado pela escolarizao e outros meios de difu-so de cultura europia dominante, afastando-se das crenas e prticas
de seus antepassados. Entretanto, se os africanos e seus descendentes
mestios se europeizaram atravs dos sculos, no Brasil, houve um re-
verso onde o forte amarelo do dend tingiu as louas portuguesas de
Macau servidas nos sobrados dos senhores. O ritmo que se ouvia nos
sales foi assenzalando-se e recebendo novos compassos. Essa acul-turao (bilateral) pode ser tambm observada na medicina tradicio-
nal brasileira, principalmente na Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais e
Maranho.
Na regio metropolitana do Rio de Janeiro e de Salvador, obser-
vou-se um intenso consumo de espcies vegetais atravs dos terreiros
de religio afro-brasileira. Nestes, os Babalorixs e Yalorixs (sacerdotes),portadores de conhecimento etnomdico respeitvel, prescrevem o uso
das folhas, razes, sementes e cascas para fins medicinais, banhos, ebs e
outros propsitos ritualsticos. Essas plantas so geralmente obtidas nas
barracas de mercados populares e de vendedores ambulantes denomi-
nados erveiros de rua.
Pode-se dizer, portanto, que o uso popular de plantas medici-nais nessas condies, constitui um complexo sistema de sade no
oficial em que participam erveiros, centros religiosos e comunidade.
Durante muitos anos, esse sistema paralelo de teraputica foi duramen-
te criticado pela sociedade e at mesmo alvo de perseguio policial.
Pode-se ilustrar o fato com antigos recortes de jornais como a manche-
te do Dirio de Notcias de Salvador de 09 de maio de 1905: Rapariga
de famlia enlouquece com a beberagem de Jurema no Candombl.
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de famlia enlouquece com a beberagem de Jurema no Candombl .
Informaes obtidas no recncavo baiano afirmam que o guin (Petiveria
alliaceae, L.) da famlia Phytolacacceae, tinha como sinonmia popular o
nome Amansa-senhor. Este nome, deve-se ao fato de ser preparada porescravos domsticos sob a forma de ch e misturada s refeies dos
senhores e feitores, causando sonolncia e, portanto, tornando-os mais
brandos na convivncia diria. Estudos farmacolgicos pr-clnicos mais
recentes, confirmam a ao da Petiveria alliaceaeL. sobre o sistema ner-
voso central.
Atualmente, alguns pesquisadores agrupam as manifestaesde cura originadas nas crenas e costumes de origem africana como
Teraputica Yorub. So considerados Yorub aqueles cuja origem
est localizada no sudoeste da Nigria. No Brasil, so conhecidos como
Nag. Na verdade, quanto origem, no h uma distino clara no re-
ferente teraputica. O principal referencial a filosofia do tratamento,
sempre diretamente relacionada com as tradies ritualsticas.As crenas Yorub esto associadas com as prticas de cura na-
tural. As questes fisiolgicas raramente esto dissociadas da cura es-
piritual e da concepo de vida e de morte. As plantas esto sempre
presentes atravs do uso das folhas, razes, frutos e das rvores de vrias
representaes simblicas, bem como outros elementos naturais, inse-
tos, cinzas, ossos, ovos e muitos outros objetos utilizados para a cura epreveno de doenas. Uma pessoa doente ao beber um ch de uma
determinada folha, deve sorver acreditando no somente nas proprie-
dades medicinais qumicas e/ou farmacolgicas da planta, mas tambm
no seu poder mgico ou espiritual. O pensamento Yorub traz a crena
no ancestral e em outros espritos e deuses diretamente envolvidos no
processo de cura.
De acordo com a mitologia Yorub, plantas e outros elementos
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teraputicos e alimentcios so riquezas que os deuses proporcionam
ao homem. As solues para os problemas em geral e os diagnsticos
das doenas, so indicados principalmente pelos orculos, como porexemplo, o jogo de If ou de bzios. Acredita-se que consultando os
jogos divinatrios obtm-se os conselhos do grande mestre Orunmila.
A misso de Orunmila na terra usando de sua mais alta autorida-
de e sapincia, revelar conhecimentos e conceder alguns pequenos
poderes aos homens. A medicina vegetal vista como um dom divino.
Quem segue e conhece os seus ensinamentos poder curar com plan-tas e palavras rituais os homens e mulheres doentes que chegarem ao
seu caminho.
De acordo com a lenda, Ossanyin e Orunmila eram filhos dos
mesmos pais. Entretanto, uma guerra os separou e foram criados sem
se conhecerem. Muitos anos depois, Ossanyin foi enviado para abrir as
matas e arar a terra para o homem aprender a cultivar. Ele no pde re-cusar essa misso porque nesse tempo era o nico homem que poderia
ter a capacidade de identificar a existncia e a importncia das plantas
medicinais e outras ervas encantadas indicadas por Orunmila. Sendo
assim, enquanto Ossanyin se especializou em plantas, Orunmila, atra-
vs do jogo de If, indicava os diagnsticos e a origem dos sintomas.
Orunmila e Ossanyin, segundo as tradies, foram os primeiros a conhe-cerem e curarem as pessoas com plantas medicinais nas terras Yorub.
Acredita-se que seus seguidores divulgaram as maravilhas das ervas e
dos tratamentos medicinais tradicionais pelo mundo afora, de gerao
em gerao.
Pode-se definir a medicina de origem Yorub como uma sntese
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de todos os conhecimentos, explicveis ou no, luz da medicina oci-
dental hipocrtica (convencional), usados em diagnstico, preveno e
eliminao de distrbios fsicos, mentais ou sociais repassados s gera-es verbalmente ou de qualquer outra forma.
Atravs dessa definio terica, pode-se avaliar porque os defu-
madores, as Limpezas, Ebs de Sade e Sacudimentos, os banhos de
ervas, de Ab, de mar e de cachoeira, as preces, os cnticos e danas
so consideradas, em conjunto, aes teraputicas. Essas, so considera-
das no mesmo nvel de importncia dos medicamentos de origem vege-tal de ao sistmica pelo doente afligido por males fsicos mentais ou
espirituais. Todas essas aes so consideradas remdios objetivando
a cura.
Alguns estudiosos do assunto sugerem um sistema classificat-
rio de sintomas e doenas baseado em relaes simblicas entre o cor-
po, os Orixs, seus arqutipos e suas histrias (Itans).
Orixs, Sade e Doena
Os diagnsticos na maioria das vezes, como citados anterior-
mente, resultam da consulta aos orculos (jogos divinatrios) que de-
terminam os sintomas, identificam os males e orientam os procedimen-
tos de cura. Podem-se observar duas grandes categorias de doenas: os
distrbios que se apresentam sob forma de desordem fsica, que podem
ocorrer ou no no iniciado e que so relacionados com a atuao das
divindades principais do indivduo. A segunda categoria compreende
as doenas endmicas em geral como varola, gripe, resultante da ao
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genrica do orix Obalua e Omol, considerados como os senhores da
vida e da morte, sincretizados por So Lzaro e So Roque, chamados
mdicos dos pobres. Alguns observadores ressaltam que, em se tra-tando de iniciados, a sintomatologia pode exprimir a marca ou sinal de
sua divindade principal ou de um Orix que faa parte de seu carrego
de santo. Sendo assim, as doenas de pele (varola, catapora, rubola,
sarampo e outras como coqueluche, caxumba e tuberculose) so de
responsabilidade de Obalua e Omol. O vitiligo, porm, atribudo a
Oxumar, assim como a erisipela a Nan, o que pode talvez ser explica-do pelos laos de parentesco mtico entre essas trs divindades (Nan,
a me de Obalua e Oxumar). As doenas venreas femininas, a fal-
ta ou excesso de regras menstruais, abortos, infertilidade e os demais
distrbios includos na categoria de doenas de senhoras ou doenas
da barriga, constituem apelos ou marcas de Iemanj e Oxum, ligadas
ao elemento gua, feminilidade e maternidade. Observa-se que em
quase todas as oferendas para Oxum colocam-se ovos, smbolos da fer-
tilidade. A esse Orix, cabe tambm o restabelecimento das doenas
de crianas.
A impotncia e a fertilidade masculinas aparecem ligadas a
Xang e a Exu, divindades viris do elemento fogo, sendo geralmente
indicadas garrafadas cujos componentes em geral so plantas com ca-
ractersticas afrodisacas e estimulantes.
Os distrbios respiratrios e os problemas de viso so atribu-
dos s divindades femininas Ians e Oxum. Sugere-se que tal relao
tenha origem no fato de Oxum ser considerada a padroeira da adivi-
nhao, dos jogos de bzios, sendo seus iniciados vistos como os me-
lhores adivinhos ou olhadores). J Ians, ligada ao elemento ar, por ser
a dona dos ventos, do movimento, da fora controle dos elementos,
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imprime sua marca em seus filhos transgressores, sobretudo atravs de
afeces do sistema respiratrio tais como asma, falta de ar, enfisemas
e outros males.Os distrbios emocionais, as doenas da cabea e manifesta-
es de loucura, aparecem associados especialmente a Oxssi (elemen-
to terra), considerado o dono de todas as cabeas nos Candombls
Ketu, podendo tambm ser atribudos a Ossanyim, o dono das folhas
e mais raramente a Ians, a quem tambm associada a ninfomania.
Os males do fgado e vescula, as lceras estomacais e as enxa-
quecas so vistos tambm como sinais de Oxssi, algumas vezes perce-
bidas como marcas de seu filho Loguned. A magreza constitui uma
das caractersticas arquetpicas desses Orixs, sendo o emagrecimento
a eles atribudos. J a obesidade apresenta-se relacionada tanto s iabs
Iemanj e Oxum, como ao orix masculino Xang, todos associados em
suas respectivas histrias, ao acmulo de riqueza material e gulodice.Os ferimentos e danos produzidos por instrumentos cortantes ou desas-
tres automobilsticos so associados a Ogum (elemento terra), patrono
do ferro e do progresso tecnolgico. As queimaduras, no entanto, so de
responsabilidade de Xang e Exu, divindades do elemento fogo.
As doenas do sistema circulatrio e cardiovasculares esto rela-
cionadas aos Orixs primordiais da criao: Oxal, Nan e Iemanj. A es-ses deuses esto ainda associadas as inchaes, reumatismos e artroses.
Os distrbios e dores renais, assim como o reumatismo, so vistos como
males de velhos, sendo atribudos a Oxal e Nan, percebendo-se a
uma relao com a senilidade desses Orixs.
Doenas recentemente reconhecidas so tambm classificadas,
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a AIDS por exemplo considerada um flagelo caracterstico do Orix
Ossanyim, provavelmente devido relao desse Deus com a cura de
enfermidades graves, mesmo as mais mrbidas.Para complementar o entendimento dos procedimentos da cha-
mada Teraputica Yorub preciso entender sem ideia preconcebida os
conceitos de doena, sade e remdio; a importncia dos arqutipos re-
lacionados aos deuses do panteo africano para o sistema classificatrio
de sintomas e doenas; as prticas de sade (remdios, rituais de limpe-
za e purificao) e seus respectivos simbolismos. importante afirmarque o paciente, nessas aes de sade, visto como indivduo, agente
de sua prpria cura, com identidade prpria, figura mpar de uma hist-
ria de vida emocional, social e ancestral.
Deve-se considerar que os servios institucionais de sade, em
geral, para uma faixa ampla da populao urbana, o ltimo elo de uma
cadeia em busca do restabelecimento da sade. As prticas teraputicasde origem afro-brasileira so opes amplamente utilizadas e divulga-
das por veculos de comunicao de massa como programas de rdio,
revistas populares, panfletos distribudos em vias pblicas e outros. Na
verdade, uma questo de sade individual e coletiva para a qual deve-
se estar atento.
A herana indgena
Embora nos ltimos anos tenham sido realizadas inmeras
pesquisas com plantas teis, biologicamente ativas, desde 1979, os
pesquisadores Gottlieb e Mors alertam para a crescente necessidade
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de agir com presteza pois os avanos da sociedade moderna e o con-
sequente desflorestamento, destruram o habitat de muitas espcies
vegetais. A primeira descrio metdica das plantas utilizadas com finsmedicinais pela populao indgena no Brasil atribuda a William Pies,
mdico da expedio dirigida por Maurcio de Nassau ao nordeste do
Brasil durante a ocupao holandesa (1630-1654). Na poca, foram des-
critas a ipecacuanha, o jaborandi e o tabaco. Alguns anos mais tarde,
a misso cientfica trazida ao Brasil pela princesa Leopoldina seria de
grande importncia cientfica para o pas. Durante essa misso, o bo-
tnico Karl Friedrich Phillip Von Martius, documentou em detalhes a
flora brasileira. Em 1847, a convite de Von Martius, chegou ao Brasil o
farmacutico Theodor Peckholt, que acredita-se ter analisado mais de
6000 plantas, tendo publicado os resultados do seu trabalho em mais
de 150 artigos cientficos. Atribui-se a Peckholt o primeiro isolamento e
descrio de uma substncia qumica bioativa, a agoniadina, extrada
das cascas de agoniada.
Uma outra importante aquisio para a teraputica, obtida a
partir das pesquisas etnofarmacolgicas com grupos indgenas, foram
os curares. Os curares so os famosos venenos para flechas, usadas pelos
ndios da Amrica do Sul. Apesar de serem incuos por via oral, uma
s gota injetada na corrente sangunea paralisa a vtima sem mat-la.
Os curares naturais podem ser divididos em duas classes: os curares de
tubo, conservados em canos de bambu e os curares de cabaa, guar-
dados em cabaas ou vasilhames de barro. So encontrados em dife-
rentes zonas geogrficas, com origem botnica, composio qumica e
empregos diferentes. Os curares e seus derivados naturais e sintticos
ainda hoje so usados como anestsicos locais ou relaxantes musculares
pr-anestsicos. Durante muitos anos a ateno dos pesquisadores em
f l i l d A i b d d
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etnofarmacologia esteve voltada para a Amaznia, em busca de produ-
tos psicoativos de origem vegetal. Nessa busca, tornaram-se conhecidas
vrias drogas utilizadas pelos indgenas, principalmente nos momentosritualsticos. Entre as mais estudadas por grupos de psicofarmacologia
experimental no Brasil, esto: Maquira scherophyllaC. C. Berg. (famlia
Moraceae) conhecida como rap dos ndios. Da famlia Myristicaceae,
vrias espcies de Virola, algumas utilizadas na preparao de um po-
tente rap alucingeno que utilizado em cerimnia anual pelos n-
dios Waika na regio do rio Totob, em Roraima. Justicia pectoralisJacq
(Acanthaceae), mais um dos constituintes desse rap, conhecida no
Nordeste do Brasil como chamb, encontra-se em vrias receitas de xa-
ropes com atividade broncodilatadora. Uma poo indgena conheci-
da como Yopo, de uso distribudo por vrias tribos da Amrica do Sul
e entre essas os nativos da Amaznia brasileira, preparada a partir da
Piptadenia peregrina L., da famlia Leguminosae, cuja qumica estudada
acusa a presena de bufotenina e outras triptaminas de reconhecida
atividade psicoativa. Alm dessas, vale citar a Banisteriopsis caapi Spr.,
famlia Malpighiaceae e Psychotria viridisR. et P., da famlia Rubiaceae,
ambas utilizadas na beberagem do Santo Daime, de reconhecida ao
narctica. Os constituintes principais dessa preparao so os alcalides
b-carbolnicos, harmina, harmalina e tetraidrohaluruina e outros princ-
pios txicos bem conhecidos, como a triptamina.
Recentemente, os costumes de algumas tribos indgenas como
Pataxs, Kaiaps, Tiriyos e Tenharins, foram estudados por pesquisa-
dores em etnofarmacologia. Os resultados revelam ampla experincia
em plantas medicinais. O contato com o homem branco resultou num
processo de aculturao crescente das tribos indgenas. Apesar da
implantao de postos mdicos instalados nestas reservas, instituindo
a medicina convencional ainda possvel resgatar em algumas tribos
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a medicina convencional, ainda possvel resgatar, em algumas tribos,
uma ampla experincia com plantas medicinais. Entre essas, esto pre-
sentes na teraputica nacional a Caapeba (Piper umbellatum), o Abajer(Chrisobalanus sp.), o Urucum (Bixa orellana), o Guaran (Paulinia cupa-
na.), de uso internacional como complemento alimentar, energtico; a
Copaba (Copaifera officinalis) e a Andiroba (Carapa guyanensis), dessas
duas ltimas, so extrados leos de reconhecida atividade nas afeces
de pele. Alm dessas, destaca-se a Marapuama (Acanthis virilis), que ad-
quiriu interesse internacional pela propagada atividade afrodisaca.
Outras heranas culturais
Outras heranas culturais em medicina popular, tais como, as de
origem oriental e europeia, so mais acentuadas, no Sul e Sudeste doBrasil, fato explicvel pela forte presena de imigrantes dessas origens
em tais regies. Algumas plantas europeias adaptaram-se e difundi-
ram-se na medicina e culinria regionais. Por exemplo, a erva-cidreira
(Melissa officinallis), a erva-doce (Foeniculum vulgare), o manjerico
(Ocimum sp.), o alecrim (Rosmarinus officinalis), o anis-verde (Pimpinella
anisum) e o louro (Laurus nobilis). Vale lembrar que no Nordeste do
Brasil, denomina-se erva-cidreira algumas espcies de Lippia sp. Famlia
Verbenaceae. O mesmo tem ocorrido com espcies de origem asitica
como o gengibre (Zingiber officinallis), a raiz forte (Wassabia japonica), a
canela (Cinnamomum zeylanicum) e o popular cravinho da ndia (Eugenia
caryophyllata). Uma outra vertente de introduo de drogas vegetais
nos hbitos teraputicos brasileiros foi aquela oriunda de pesquisa e
experincias bem sucedidas em outros pases. Essas, com plantas de
fitoqumica estudada e efeitos farmacolgicos reconhecidos Com o
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fitoqumica estudada e efeitos farmacolgicos reconhecidos. Com o
crescimento da credibilidade da fitoterapia e do mercado farmacuti-
co neste setor, no final dos anos 1990, foi popularizado o uso de esp-cies como o Ginco (Ginkgo biloba), o Hiprico (Hypericum perforatum), a
Equincea (Echinacea purpurea) e a Kava-Kava (Piper methysticum).
A importncia daquimiossistemtica
Embora a triagem etnomdica seja considerada de grande im-
portncia para a descodificao cientfica, ou seja, possa orientar sele-
tivamente os testes farmacolgicos pr-clnicos e a busca racional de
princpios ativos, Gottlieb (1982), um dos pioneiros nas proposies de
teorias quimiossistemticas, props que a evoluo micromolecular, a
sistemtica e a ecologia, fossem os caminhos racionais, com base cien-
tfica para a descoberta de novas substncias naturais teis. Suas afirma-
tivas esto baseadas nas seguintes razes:
Na Amrica do Sul, a possibilidade de se obterem novas informa-
es nas populaes indgenas sobre plantas teis para fins me-
dicinais muito remota e a aculturao de povos primitivos tem
sido muito rpida. Apesar de todos os conhecimentos adquiridos
com fascinantes aspectos histricos, as populaes indgenas for-
neceram muito pouco, numa pequena proporo em relao ao
grande nmero de espcies teis. O nmero de plantas contendo
substncias com potencial atividade biolgica, teraputica e pro-
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priedades farmacolgicas no estudadas enorme.
Fica clara a necessidade urgente de novas possibilidades pararespaldar a pesquisa de princpios biologicamente ativos na base do
conhecimento quimiossistemtico. Faz-se necessrio esclarecer as rela-
es entre cincia e empirismo, conhecer as fronteiras entre os conhe-
cimentos acadmico e o popular etnomdico. Com esse propsito,
de fundamental importncia a anlise das pesquisas de plantas medi-
cinais nos seus diversos aspectos: qumico, farmacolgico, botnico esocioantropolgico.
As diretrizes da OMS e
normatizaes para uso eestudo no Brasil
A orientao da Organizao Mundial de Sade (OMS) fazer a
conexo entre a medicina tradicional emprica e a medicina cientfica.
Assegurar que os medicamentos base de plantas no sejam refutados
por puro preconceito mas tambm que no sejam aceitos como verda-
de absoluta e sem questionamentos. Recomenda-se uma atitude racio-
nal crtica. A tendncia nas ltimas dcadas adotar o estudo cientfico
das plantas j conhecidas pelas sociedades primitivas. Dessa forma, o
estudo acadmico da chamada medicina popular vem desmistificando
a questo do uso de plantas medicinais, retomando o inventrio de re-
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a questo do uso de plantas medicinais, retomando o inventrio de re
cursos teraputicos naturais entre os quais as plantas curativas ocupam
lugar de destaque. A teraputica moderna emprega grande nmero desubstncias que embora sejam obtidas na sua maioria por intermdio
de sntese, muitas foram originalmente isoladas de espcies vegetais.
O estudo cientfico de plantas medicinais constitui um dos pro-
gramas prioritrios da OMS, desde seu programa Sade para Todos no
Ano 2000. Segundo estimativa da OMS, 80% da populao mundial usa
principalmente plantas medicinais tradicionais (populares) para suprirsuas necessidades de assistncia mdica primria (OMS, 1978). Nos
pases desenvolvidos, as drogas de origem vegetal tambm desem-
penham importante papel. Nos Estados Unidos, por exemplo, 25 % de
todas as receitas mdicas prescritas entre 1959 e 1980 continham extra-
tos vegetais ou princpios ativos obtidos de plantas superiores (Diviso
Angiospermae).O Brasil possui competncia em todas as reas da cincia rela-
cionadas com o estudo de plantas medicinais. As bases legais para a re-
gulamentao da fitoterapia tm sido objeto de diversas resolues e
portarias.
A Resoluo n. 30.43, de 1987, da World Health Assembly (WHA)
recomenda, com insistncia aos pases em desenvolvimento, a usa-rem os seus sistemas tradicionais de medicina. J a Resolu n. 3133,
de 1978, da instituio acima referida, faz um apelo para a aborda-
gem ampla do tema plantas medicinais. No Brasil, a Portaria n. 212, de
1989, do Ministrio da Sade, no item 2.4.2 define o estudo das plantas
como uma prioridade da investigao em sade. A Resoluo CIPLAN
n. 08/88, normatiza a implantao da Fitoterapia nos servios de Sade
nas Unidades Federais bem como a disciplina Fitoterapia nos currculos
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de cursos da rea de sade.
A Portaria n. 212, de 2 de setembro de 1991, j referida, definecomo reas prioritrias em plantas medicinais:
a) Estudos de identificao, avaliao e controle de preparaes
fitoterpicas oficiais e de uso popular generalizado.
b) Estudos botnicos, farmacotcnicos e qumicos de prepara-
o fitoterpica, com vistas a definies de mtodos de preparo, dosea-
mento de princpios ativos e controle da qualidade.
c) Desenvolvimento de ensaios farmacotcnicos para avaliao
das propriedades teraputicas das preparaes farmacuticas de uso
popular obtidas de plantas medicinais.
d) Esquadrinhamento farmacolgico e fitoqumico de espcies
selecionadas da flora brasileira e outros produtos.
O projeto CEME, surgido em 1982, propunha-se a estudar farma-
cologicamente as plantas indicadas para fins medicinais no Brasil. Foi
iniciado com 21 espcies, que foram selecionadas a partir das indicaes
populares, da ampla distribuio geogrfica e da importncia social de
ao teraputica indicada. A divulgao dos resultados obtidos desses
estudos foi precria, embora os comits tivessem recomendado a de-voluo dos conhecimentos populao. Havia, na poca, a proposta
de incluso das espcies medicinais estudadas na Relao Nacional de
Medicamentos Essenciais (RENAME), o que no ocorreu.
O pas demorou a adotar poltica para os medicamentos fitote-
rpicos e plantas in natura, bem como uma legislao especfica para o
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comrcio e registro de drogas vegetais e fitoterpicos.
Nos ltimos anos vrios marcos regulatrios tm apoiado efomentado o uso seguro e racional de plantas medicinais e fitoterpi-
cos: a Poltica Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterpicos (PNPMF),
o Decreto n. 5.813, de 22 de junho de 2006, o Programa Nacional de
Plantas Medicinais e Fitoterpicos, a Portaria Interministerial n. 2.960,
de 09 de dezembro de 2008, a Poltica Nacional de Prticas Integrativas
e Complementares (PNPIC) no SUS, e o Decreto n. 971, de 03 de maiode 2006. Em 2008 a ANVISA publicou a Resoluo que aborda orien-
taes para o registro simplicado de Drogas Vegetais, a Instruo
Normativa IN-05, com 36 plantas consideradas teraputicas para
uso humano. Ainda em 2008 tivemos a publicao da RDC para Boas
Prticas de Manipulao, que em seu anexo VI, tem as Boas Prticas para
Manipulao de Fitoterpicos. Em 2010 a ANVISA, lanou as Resolues
RDC 10 de 10 de maro de 2010 sobre as drogas vegetais , com alegao
de uso e restries e a RDC 14 de 05 abril de 2010 com as normas para
registro de fitoterpicos. A quinta edio da Farmacopeia Brasileira, foi
publicada no Dirio Oficial da Unio em 24 de novembro de 2010 com o
Controle de Qualidade para 54 drogas vegetais. Outro grande avano foi
a elaborao do Formulrio Teraputico Nacional Fitoterpico colocado
para consulta pblica pela CP 73, em julho de 2010, com as formulaes
padronizadas. O Ministrio da Sade publicou a Relao Nacional de
Plantas de Interesse ao SUS (RENISUS), em 2009, com 71 espcies vege-
tais que apresentam estudos na literatura especializada. Foram oficiali-
zadas tambm as Farmcias Vivas, pelo Decreto n. 5.813 de 22 de junho
de 2010, com normas para o cultivo e as oficinas farmacuticas. Muitos
desses marcos legais contemplam diretrizes que destacam a importn-
cia da valorizao do conhecimento tradicional e o respeito s prticas
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culturais de cura e manuteno da sade.
No estado da Bahia, como parte da Poltica de Medicamentos,estamos iniciando a implantao da Fitoterapia no SUS pelo FITOBAHIA
da Secretaria Estadual de Sade com consultoria do Farmcia da Terra
UFBA.
Apesar de todas essas normatizaes, a realidade atual catica,
pode-se encontrar com facilidade em farmcias, supermercados, lojas
de produtos naturais, barracas de mercados populares, erveiros de ruae outros locais inusitados, todos os tipos de tens vegetais sem qualquer
padronizao legal ou cientfica. O mercado de produtos naturais est
em franca expanso no Brasil e no exterior. As farmcias e lojinhas que
vendem produtos naturais, exibem propagandas caras e bem elabora-
das de panaceias milagrosas, que no atendem s especificaes legais.
As Resolues RDC 14 de 05/04/2010 e RDC, 10 de 10/03/2010,
ANVISA, embora venham preencher uma lacuna nos critrios cientficos
de controle de qualidade, eficcia e toxidez das drogas vegetais, trazem
no seu bojo a grande dificuldade de serem executados em tempo vi-
vel todos os procedimentos tcnicos exigidos. Durante muitos anos,
vrias pesquisas foram realizadas nas reas de qumica, farmacologia,
botnica e toxicologia de plantas usadas para fins medicinais no Brasil.Entretanto, essas informaes encontram-se dispersas em peridicos,
revistas cientficas e anais de simpsios.
Alguns autores tm abordado a questo das plantas medicinais
sob os aspectos poltico, filosfico e metodolgico. Acredita-se que
a pesquisa em plantas medicinais tem recebido cada vez ais suporte
financeiro dos governos, de acordo com as diretrizes da OMS. Uma das
principais razes, certamente, o fato das pesquisas at ento finan-
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ciadas, apresentaram poucos resultados prticos, isto , no chegaram
a novas drogas, no foram desenvolvidos novos medicamentos. Umanova droga vegetal at transformar-se em medicamento demora de 5 a
10 anos e custa muitos milhes de dlares.
Seguindo as diretrizes da OMS para a metodologia do estudo
de plantas medicinais, os pontos essenciais so: pureza e identificao
botnica da espcie vegetal; provas de sua eficcia e segurana; identi-
ficao de seus princpios ativos, anlise e padronizao das partes daplanta considerando os fatores contaminantes que devem ser evitados
durante o perodo de estabilizao, secagem e armazenamento.
A RDC n.14/2010 da ANVISA, segue orientaes tcnico-cient-
ficas para garantir a eficcia e a reprodutibilidade da atividade de um
fitoterpico. Esta, objetiva estabelecer a padronizao de estudos sob os
aspectos antropolgico, botnico, qumico e farmacolgico pr-clnicoe clnico.
A pesquisa etnofarmacolgica, reconhecida como um dos cami-
nhos para a descoberta de novas drogas, precisa ser considerada nos
seus diversos aspectos, como citado anteriormente. necessrio levar
em considerao as caractersticas inerentes aos grupos tnicos pesqui-
sados, bem como seus conceitos de doenas e remdios, alm da ob-servao de formas farmacuticas indicadas, principalmente as mistu-
ras em preparaes como xaropes, garrafadas e chs. Dependendo dos
interesses dos pesquisadores, os testes de laboratrio so direcionados
para a pesquisa de substncias isoladas e purificadas; para a avaliao
farmacolgica dos extratos e suas fraes; para testes pr-clnicos e
clnicos nas preparaes galnicas manipuladas a partir de tinturas e
para os testes farmacolgicos com os chamados remdios de folha, os
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chs e outros remdios caseiros de amplo uso popular.
Para a pesquisa de princpios bioativos foram usados durantemuitas dcadas a escolha das plantas medicinais ao acaso como tam-
bm atravs de mtodos de laboratrio seguindo abordagem fito-
qumica e fitoqumica tradicional, ambos proporcionando resultados
demorados. Algumas tentativas foram complementadas com ensaios
farmacolgicos.
Uma outra opo para critrio de escolha das espcies o m-todo quimiossistemtico, em que as espcies vegetais so selecionadas
de acordo com as categorias qumicas das substncias no taxon. Dessa
forma, utilizando alguns princpios de evoluo micromolecular, torna-
-se possvel propr os perfis qumicos das famlias botnicas, propor-
cionando ao pesquisador uma seleo racional na busca de princpios
bioativos. Sendo assim, acredita-se que a unio da etnofarmacologia eda quimiotaxonomia deva ser considerada como uma nova viso para a
busca racional de novos frmacos. Uma cincia em complementao
outra, como prticas propeduticas levaro num futuro prximo agi-
lizao do processo de conhecimento e uso teraputico-cientfico de
drogas de origem vegetal.
Referncias
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