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O ESSENCIALISMOPOR: EDUARDO RÊGO

Se reparar, há uma similaridade quase umbilicalentre uma criança e a natureza. Da primeira, opoeta disse: "Grande é a poesia, a bondade e asdanças, mas o melhor do mundo são as crian-ças." Sobre a segunda, não tenho dificuldade emafirmar que, em toda a criação, não há refúgiomelhor e mais belo que a natureza. É um colopara os nossos devaneios e desvarios. É nela quemora o equilíbrio, é lá que brota a paz que pro-curamos. A nossa criança interior sente-se emcasa, quando mexe na terra, e, como por magia,volta a balbuciar anseios de felicidade, essa uto-pia doce que nos acompanha até à morte. Junhoé um mês bonito: tem sol a rodos; proliferam asaguarelas de campos em flor; há espelhos deágua a brilhar no solo. É nesta moldura que asferomonas dão largas à imaginação. Apetecesair de casa e namorar tudo o que desperta ossentidos. CRIANÇA E AMBIENTE – Duas rea-lidades que junho celebra e que apetece pôr namesma taça. Como toda a cria que se debate nocenário da sobrevivência, a criança é a preciosareedição da esperança humana num temponovo. E tudo acontece no palco da natureza. Atéà chegada do redondo 2020, os jornais e televi-sões falavam da poluição desenfreada que quaselevou o Planeta a um ponto de não-retorno. Aincerteza tomou conta do futuro: acentuou-se aextinção das espécies, o mar tornou-se a lixeirados nossos comportamentos; a produção absur-da de CO2 fez escurecer o planeta azul. E eissenão quando… Alguém suspeitava que, derepente e pela primeira vez na história, o SINAL- passaria a VALER +? MUITO MAIS? IRONI-CAMENTE, é isso que está a acontecer. O insi-dioso e maléfico “vírus-coroado” está a varrer aface da Terra. Não sabemos se mora num botãode elevador ou num corrimão de escada.Sabemos tão só que é da estirpe dos malfeitorese que mata pela calada. No meio do consumis-mo absurdo, fez-nos regressar a casa e virar paradentro. A geração cativa do prazer parou… epôs o foco no SER. E vejamos o quadro do con-finamento: a par do lixo ambiental, estamos adar-nos conta do gigantesco ATERRO EMO-CIONAL que leva mais de 80% das pessoas anão saber gerir o tédio, o medo, as contrarieda-des que foram sempre o sal da vida. Quem lhesdirá que o que dói pode ser a melhor cura paraos seus males? Faltam ecos desta pedagogia. Ohomem vai ter de adotar as normas do ESSEN-CIALISMO ou então não aprendeu a lição. Oúnico ser que pensa e que sabe pensar está numaencruzilhada que o obriga a decidir entre orebanho e a consciência.

Saint-Exupéry pôs, na boca doPrincipezinho, uma verdade eterna:

O ESSENCIAL É INVISÍVEL AOS OLHOS!

TERRA 2.0Covid-19 e a MobilidadeElétricaPOR: HENRIQUE SÁNCHEZ

A atual pandemia gerada pela doença covid-19provocada pelo corona vírus SarsCov2, veiocomo que mostrar um cartão amarelo a toda aHumanidade, sobre o caminho insustentável queestávamos a percorrer. É um sério aviso e todossabemos que continuando neste caminho deexploração de recursos finitos e não renováveis,de crescimento contínuo e acelerado, de consu-mismo excessivo de bens e equipamentos supér-fluos, o próximo será o cartão vermelho, pondoem sério risco o futuro de toda a Humanidade.Na sequência da paragem brutal que as ativida-des humanas estão a provocar na economia e,consequentemente, nas cidades, nos transportes(aéreo, marítimo e terrestre), assim como os seusefeitos na redução dos níveis de poluição atmos-férica e sonora das grandes áreas metropolitanastem-nos permitido constatar, em pouco mais de

dois meses:• A queda abrupta das vendas de automóveisligeiros (84.8%), sendo que os veículos elétricosresistiram à hecatombe, registando uma queda deapenas 35.4%; • A paragem quase total da aviação comercial.Cerca de 90% dos aviões estão em terra;• A paragem total dos navios de cruzeiro e a redu-ção dos navios de carga;• A redução em cerca de 80% de todos os trans-portes rodoviários;• A interrupção da atividade industrial em cercade 50%;• A queda brutal do consumo de bens não essen-ciais.Esta travagem brusca de toda a economia mun-dial, com mais de 1.000.000.000 (mil milhões) deseres humanos recolhidos nas suas casas, tam-bém permitiu, que a fauna e a flora avançassempara terrenos antes ocupados pelos humanos.

O retorno da NaturezaInicialmente, foi registado o regresso de patos,ovelhas, javalis e peixes. Recentemente, registou-se a presença urbana de ursos, cangurus, veados,coiotes e muitas outras espécies.Todos podemos confirmar como o ar está maislimpo. Quando não existem nuvens é notória avivacidade do azul do céu ou à noite a visibilida-de das estrelas. As cores, em geral, estão maisvivas. O silêncio das cidades só é quebrado peloconstante chilrear dos pássaros um pouco portodo o lado.Temos tido mais tempo para refletir sobre ocaminho que nos trouxe até aqui. Deparámo-noscom uma sociedade profundamente desigual,

injusta, com ênfase no fútil, no efémero, no des-cartável, na perda de valores e na ganância pelolucro fácil e rápido.Sendo esta uma situação insustentável, ela per-mite-nos pensar no futuro. Em que sociedadequeremos viver, e o que podemos fazer para par-ticipar nessa mudança?

A poluição atmosférica e a Covid-19Há vários estudos que têm sido divulgados, quernacional quer internacionalmente, que relacio-nam a maior incidência dos casos de covid-19com a poluição atmosférica.Face à comprovação inequívoca de que a redu-ção drástica do tráfego urbano rodoviário eaéreo (face à proximidade dos aeroportos àsgrandes urbes metropolitanas), a qualidade do armelhorou como nunca tínhamos constatado.Podemos antecipar o que serão as cidades exclu-sivamente com carros elétricos, motas elétricas,autocarros elétricos, enfim, com todos os meiosde transporte eletrificados, quer coletivos querindividuais, quer públicos quer particulares etambém com um significativo aumento na utili-zação dos meios de mobilidade suave comosejam as trotinetes e as bicicletas com ou semassistência elétrica. As cidades serão silenciosas e sem poluiçãoatmosférica, com muito menos tráfego, frutodas várias soluções de teletrabalho e de tele-ensino, que muitos de nós já estamos a viver,com a alternância dos horários de trabalho naindústria, no comércio, no ensino, nos serviçospúblicos e privados, mas também das inúmerasreuniões que podem ser efetuadas sem a nossapresença física.

PLANETA TERRA

NP 6 | PLANETA

O homem vai ter de adotar asnormas do ESSENCIALISMO ouentão não aprendeu a lição. Oúnico ser que pensa e que sabepensar está numa encruzilhadaque o obriga a decidir entre orebanho e a consciência.

Uma das consequências mais faladas da pandemia é a regeneração que o Planeta está a atravessar. Eduardo Rêgo responsável pela versão portuguesados programas VIDA SELVAGEM e O NOSSO MUNDO (de que é também locutor) e fundador do movimento LOVING THE PLANET e HenriqueSánchez, Presidente da UVE - Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos, ambos moradores do PN, falam sobre esta tão importante questão.

Henrique Sánchez e Eduardo Rêgo

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O que pouparíamos em viagens e em tempo des-perdiçado? E aqui falamos também de reuniõesinternacionais das empresas mas também dasinstituições. Quantas toneladas de CO2 serãoevitadas? Quanto tempo nos sobrará para maistrabalho, mas também para mais lazer e maisfamília?

Terra 2.0Urge a eletrificação de todos os meios de trans-porte rodoviário, dar primazia à rede ferroviáriaelétrica e de alta velocidade para viagens conti-nentais em detrimento das viagens aéreas alta-mente poluentes, que ficariam reservadas paraos percursos intercontinentais. As verbas desti-nadas às grandes obras aeroportuárias (amplia-ções dos aeroportos existentes e novos aeropor-tos) devem ser canalizadas, de imediato, para ainfraestrutura ferroviária de alta velocidade. Nãotenhamos ilusões que a atividade aérea não vol-tará a ser o que foi, até por motivos de saúdepública.Localmente, as autarquias devem avançar para aeletrificação das suas redes de transportes públi-cos, ou quando essas redes forem privadas avan-çarem com prazos para a sua efetivação pelasempresas concessionárias.O acesso aos centros das grandes cidades deveser restringido. Lisboa já aprovou restrições aosveículos com motores de combustão interna,quer sejam a gasóleo ou gasolina, para garantir aqualidade do ar aos seus habitantes, trabalhado-res e visitantes. É a ZER – Zona de EmissõesReduzidas, ABC - Avenida, Baixa, Chiado, quedeverá ser implementada até ao final do corren-te ano, tendo sofrido algum atraso fruto da para-gem devido ao estado de emergência que vigo-rou durante várias semanas.Devem ser fomentados todos os projetos e ini-ciativas para o fabrico de veículos elétricos emPortugal, bem como de fábricas de baterias, paraveículos elétricos.De registar que a Junta de Freguesia do Parquedas Nações foi das primeiras autarquias emPortugal a adquirir viaturas 100% elétricas, duasRenault Kangoo, já no ano de 2015. Toda a produção de eletricidade verde através depainéis fotovoltaicos, a criação de parques eóli-cos e geotérmicos deve ser incentivada e desbu-rocratizada, quer para particulares com autocon-sumo em casa e no veículo elétrico, quer a nívelempresarial.Há cerca de dois meses que produzimos ele-tricidade sem carvão em Portugal, estamudança significa menos um milhão de tone-ladas de CO2 emitidos para a atmosfera. Ascentrais termoelétricas de Sines e do Pegoestão paradas! A central de Sines parou a pro-dução desde o dia 26 de janeiro e a central doPego desde o dia 14 de março. Esta é a provadefinitiva de que Portugal pode passar para autilização de energias renováveis, sem com-prometer o abastecimento de eletricidade.Urge a antecipação do encerramento das centraistermoelétricas em Portugal. O plano doGoverno, relativamente à descarbonização pre-viu inicialmente o abandono do carvão até 2029,e embora este prazo tenha sido reduzido para2023, hoje temos a prova de que podemos, emsegurança, antecipar ainda mais esse prazo e

transitar para uma economia mais sustentável,mais rapidamente. Recordamos que a central acarvão do Pego (da Tejo Energia, empresa daTrustenergy e da Endesa) tem o encerramentoprevisto para 2021, e a central a carvão da EDPem Sines, tem o fecho apontado para 2023.Não queremos voltar à “normalidade” poisfoi essa mesma “normalidade” que nos trouxeaté aqui. Queremos e devemos reiniciar:TERRA 2.0!

Vamos acelerar o cumprimento dos objetivosdos acordos, dos programas e das diretivascom as quais o governo português se temcomprometido:• Acordo de Paris – COP21 (2015) • Roteiro para a Neutralidade Carbónica –RNC2050 (2017) • Pacto Ecológico Europeu – European GreenDeal (2019)

Este novo coronavírus, o SarsCov2, que provo-ca a doença pandémica covid-19, pode servir-nos como alerta e aviso para os perigos e amea-ças, que nos iriam atingir e pôr em causa o futu-ro das novas gerações, se persistíssemos nocaminho em que estávamos. Aproveitemos estaépoca de enorme privação como uma oportuni-dade para avançarmos para um reinício, emudarmos para comportamentos mais sustentá-veis. Está nas mãos de cada um de nós fazê-lo! Vamosreiniciar?

Por uma TERRA 2.0!Pela eletrificação de todos os meios de transpor-te!Por cidades mais amigas das pessoas e doambiente!Pela descarbonização da economia!Por uma economia mais sustentável!Pela nossa saúde!Por um futuro sustentável para os nossos filhos!Não existe um planeta B!

PLANETA | NP 7

Este novo coronavírus, oSarsCov2, que provoca a doençapandémica covid-19, pode servir-nos como alerta e avisopara os perigos e ameaças, quenos iriam atingir e pôr em causa ofuturo das novas gerações, sepersistíssemos no caminho emque estávamos. Aproveitemosesta época de enorme privaçãocomo uma oportunidade paraavançarmos para um reinício, emudarmos para comportamentosmais sustentáveis.

Coiote em SãoFrancisco


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