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perspectivas atuais da
fonoaudiologia na escola
Claudia Regina M osca Giroto
(organizadora)
plexus
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Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro)
Perspectivas atuais da Fonoaudiologia na escola /
organizadora Claudia Regina Mosca Giroto
So Paulo : Plexus Editora, 1999.
Vrios colaboradores.
ISBN 85-85689-46-3
1. Fonoaudiologia I. Giroto, Claudia Regina Mosca.
99-3833 CDD 616.855NLM 475
ndices para catlogo sistemtico :
1. Fonoaudiologia : Medicina 616.855
1999 Claudia Regina Mosca Giroto
Todos os direitos reservados
Proibida a reproduo no todo ou em partes,
por qualquer meio, sem autorizaodo s Editores.
Capa: Helena Machado
Reviso: Joo Guimares
Editorao Eletrnica: Plexus Editora
Impresso capa: Palas Athena
Impresso e acabamento: Scortecci Digital
Plexus Editora Ltda.
Av. Manoel dos Reis Araujo, 115404664-000 So PauloSP
Tel.: (11) 524-5301
E-mail: [email protected]
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COLABORADORES
CARMEN SILVIA CRETELLA MICHELETTIFonoaudiloga Clnica (Graduada pela PUC-SP, com Especializao em
Psicopedagogia)
CLAUDIA REGINA MOSCA GIROTOFonoaudiloga (Graduada em Fonoaudiologia pela UNESP Marlia/SP; Mestre em Educao pela UNESP Marlia/ SP; Docente do Curso deFonoaudiologia da UNIMAR Marlia/ SP)
GISELE APARECIDA HORDANE MARTINSFonoaudiloga Clnica (Graduada pela UNESP Marlia/ SP; Mestre emEducao pela UNESP Marlia/ SP)
JAIME LUIZ ZORZIFonoaudilogo (Mestre em Distrbios da Comunicao pela PUC SP;Doutor em Educao pela UNICAMP; Professor do Curso deFonoaudiologia da PUC SP; Professor do CEFAC Curso de Especia-lizao em Fonoaudiologia Clnica)
LSLIE PICCOLOTTO FERREIRAProfessora Titular da Faculdade de Fonoaudiologia e do Programa deEstudos Ps-Graduados em Fonoaudiologia da PUC-SP
LUCIANA TAVARES SEBASTIOFonoaudiloga Docente do Curso de Fonoaudiologia da UNESP Marlia/
SP (com Especializao em Patologias da Comunicao pela USC Bauru/SP; Especializao em Educao em Sade Pblica pelo CEDAS/ FaculdadesIntegradas So Camilo/ SP; Mestre e Doutoranda em Educao pelaUNESP Marlia/ SP)
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MARIA TERESA PEREIRA CAVALHEIROFonoaudiloga (Graduada pela Escola Paulista de Medicina/ UNIFESP/ SP;Mestre em Psicologia Escolar pela PUC Campinas/ SP; Docente do Cursode Fonoaudiologia da PUC Campinas/ SP rea de FonoaudiologiaPreventiva; Fonoaudiloga do Departamento de Educao da Prefeiturade Mogi Mirim)
THAS HELENA FIGUEIREDO PELLICCIOTTIFonoaudiloga Clnica (Graduada pela PUC-SP; com Especializao emLinguagem; Especializao em Psicopedagogia)
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SUMRIO
Prefcio ....................................................................................................................7
Apresentao ..........................................................................................................9
Captulo 1 .............................................................................................................11Reflexes sobre a relao entre a Fonoaudiologia e a EducaoMaria Teresa Pereira Cavalheiro
Captulo 2 .............................................................................................................24O professor na atuao fonoaudiolgica em escola:
participante ou mero espectador?Claudia Regina Mosca Giroto
Captulo 3 .............................................................................................................42Possibilidades de trabalho no mbito escolar-
educacional e nas alteraes da escrita
Jaime Luiz Zorzi
Captulo 4 .............................................................................................................56A importncia da interao entre o fonoaudilogo
e a escola no atendimento clnicoThas Helena F. Pellicciotti e Carmen Silvia C. Micheletti
Captulo 5 .............................................................................................................72
A voz do professor: propostas de aes coletivas depromoo de sade vocalLslie Piccolotto Ferreira
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Captulo 6 .............................................................................................................89Escolas de educao infantil: uma proposta de atuao
educativa com professores, com enfoque na audioLuciana Tavares Sebastio
Captulo 7 ...........................................................................................................110Refletindo sobre a atuao do fonoaudilogo junto
Educao EspecialGisele Aparecida Hordane Martins
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PREFCIO
O projeto de organizao deste livro surgiu por ocasio da
realizao de minha dissertao de mestrado, quando procureianalisar o que o professor espera da atuao fonoaudiolgicaem escolas.
Os resultados de meu estudo causaram-me certa surpresae levaram-me ao questionamento sobre as necessidades epossibilidades atuais da atuao fonoaudiolgica em escolas.Pude observar que esse questionamento tambm compar-
tilhado por colegas de profisso no s preocupados com anormatizao dessa atuao, mas tambm, com novasperspectivas para se garantir a efetividade da participaodo fonoaudilogo na escola.
Somamos, ento, nossas experincias, dvidas, perspectivas,na tentativa de contribuirmos com o processo de aprendizagemdo fonoaudilogo que atua em escola e com a formao de sua
identidade profissional.Aos colegas colaboradores o meu agradecimento, no spor acreditarem nesse projeto, mas pela humildade emcompartilharem o seu saber e o seu fazer.
Um agradecimento especial ao Josimar, por encorajar-mesempre, ao Prof. Dr. Sadao Omote por suas valiosas sugestese a todos que me ofereceram apoio e incentivo.
Claudia Regina M osca Giroto
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APRESENTAO
Quando recebi o convite da Cludia Regina Mosca Girotopara fazer a apresentao de seu livro, confesso que fiqueimuito contente...
Primeiro, por perceber que minha participao em suabanca de mestrado tinha, de certa forma, gerado frutos... Afinal,durante algumas horas pudemos, ns os professores presentes
na referida banca, falar um pouco da insero daFonoaudiologia na escola e de quanto os resultados desua dissertao se assemelhavam a relatos descritos nocomeo da dcada... isso tudo contribuiu para a organizaodesta obra...
Segundo, porque esta seria uma oportunidade de poder,ao ler os captulos contidos neste livro, escritos por pessoas
que esto com as mos na massa nessa rea, conheceroutras opinies a respeito.Ao final da leitura constatamos os limites evolutivos da
relao Fonoaudiologia & Escola... Nas entrelinhas os autores,cada um a seu modo, mostravam que estamos ainda nocomeo da estrada.... Embora a Fonoaudiologia tenha tidoa Educao como matriz de sua constituio, enquanto
profisso, h um distanciamento ainda muito grande entreas duas reas... diramos que me e filha parecem estarainda se conhecendo...
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Tradicionalmente sempre foi a escola a responsvel pelomaior nmero de encaminhamentos para o fonoaudilogo,mas a escassez de trabalhos abordando essa relao, quer noque diz respeito ao contexto clnico-teraputico, ao preventivoou de assessoria, notria...
Pessimismo de lado, o importante acreditar que asreflexes e os relatos de experincia aqui tratados possam
contribuir para que os profissionais da Fonoaudiologia ouda Educao superem as incertezas e desconfianas desteconturbado final de sculo...
Esta trajetria de rastrear este complexo relacionamento,feito de influncias recprocas, aumenta a responsabilidadedestes profissionais em no s entender, rever ou recolocarvelhas questes sobre o tema mas tambm o de desvendar
novos paradigmas ao final de suas pesquisas.Colocada essa questo, o leitor encontrar nesta obra nomodelos que se contrapem um ao outro, mas sim umaconvivncia que se respeita nas diferenas de seus autores.Cada um, a seu modo, com e atravs de sua prtica, procurafertilizar novos debates e novos interlocutores, capazes deinstigarem a discusso cada vez mais difcil desse enorme e
impondervel futuro da relao da escola e da prticafonoaudiolgica no prximo milnio.
L slie Piccolotto Ferreira
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CAPTULO 1
REFLEXES SOBRE A RELAO ENTRE A
FONOAUDIOLOGIA E A EDUCAO
M aria T eresa Pereira Cavalheiro
Refletir sobre a relao entre Fonoaudiologia e Educaopressupe buscar as origens desta relao que se confunde
com a prpria histria da fonoaudiologia. H indcios deatividades equivalentes s do fonoaudilogo no final dosculo passado, no Rio de Janeiro, voltadas para a educaode surdos.
Neste sculo de prticas fonoaudiolgicas ocorrerammomentos de maior aproximao entre a Fonoaudiologia ea Educao e outros, de maior distanciamento, principalmente
na poca da institucionalizao dos primeiros cursos, quepriorizavam a formao clnica. Em sntese, a Fonoaudiologianasce com a (na?) Educao, se distancia desta nos anos60 e volta a se aproximar na poca da regulamentao daprofisso do fonoaudilogo, quando ocorre maior desen-volvimento na rea. importante lembrar que no artigo 4,a lei n 6965/ 81 prev a atuao do fonoaudilogo junto ao
sistema educacional. A dcada de 90 caracteriza-se, finalmente,pela expanso das aes neste contexto, pela preocupaocom a formao profissional nesta rea e pela reflexo a
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respeito do perfil profissional e sobre o papel a ser exercidona relao entre o fonoaudilogo e a educao.
Apesar de todos esses anos, a literatura sobre estes encontrose desencontros surge no final dos anos 80 e, efetivamente,na dcada de 90, abordando esta relao sob diferentesngulos, contribuindo para a reflexo e construo de conhe-cimentos na rea. Os trabalhos de Guedes, Figueiredo Neto,Ferreira, Bueno, Freire, Berberian, Bittar, Cavalheiro, Rocha e
Macedo, Zorzi, entre outros, permitem trilhar um caminhoem direo compreenso de diferentes aspectos tais como:(1) a perspectiva histrica deste encontro entre aFonoaudiologia e a Educao; (2) a formao profissionalnesta rea; (3) a descrio de diferentes experincias vividasno contexto educacional; (4) a insero do profissional nosistema educacional; (5) a reflexo crtica sobre as diferentes
possibilidades de trabalho neste campo de atuao profissional.Embora visveis os avanos da Fonoaudiologia na rea
educacional, nestes ltimos dez anos, no se pode deixar dediscutir os problemas que se tem enfrentado. Neste sentido,as consideraes de Novaes, sobre as dificuldades da atuaoprofissional do psiclogo escolar podem ser adaptadas parao que se tem vivenciado na Fonoaudiologia. Segundo a
autora, as dificuldades podem ser divididas em quatro cate-gorias, que embora independentes, esto intrinsicamente rela-cionadas: (1) individuais; (2) profissionais; (3) institucionaise (4) sociais.
Na primeira categoria seriam englobadas as caractersticase atitudes individuais do profissional tais como: dificuldadesde comunicao, falta de motivao, postura onipotente,
dificuldades em lidar com situaes de frustrao profissional.A estas poder-se-ia acrescentar falta de envolvimento ecompromisso com o trabalho, desinteresse, insegurana.
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evidente que reconhecer estas limitaes e procurar super-las fundamental para qualquer atividade profissional.
Dentre as dificuldades profissionais, incluem-se formaoprofissional insuficiente, conhecimento limitado do campode trabalho e do espao profissional, baixo salrio, desvalo-rizao profissional, relao indiferenciada entre o trabalhoclnico e o na escola.
Os problemas institucionais evidenciam-se na resistncia
aceitao do profissional, na superposio de papis, nafalta de liberdade de ao dentro da escola.
Na categoria social, encontram-se as dificuldades dosprprios grupos sociais, problemas econmicos, pobreza ecarncias da clientela e do sistema de ensino.
Na Fonoaudiologia, a questo da formao profissionale as expectativas equivocadas dos profissionais da educao
tm sido apontadas como grande obstculo ao desenvolvi-mento de aes mais coerentes com a realidade do sistemaeducacional.
Na minha dissertao de mestrado pesquisei a formaodo fonoaudilogo, analisando o currculo de 18 cursos deFonoaudiologia no Brasil. Os dados referentes gradecurricular evidenciaram que aproximadamente 10% das
disciplinas bsicas se relacionavam rea educacional.. im-portante ressaltar que, nesta poca, os cursos defonoaudiologia ainda eram estruturados segundo o Curr-culo Mnimo definido em 1983, que privilegiava a formaodo fonoaudilogo, voltada para a tcnica. Neste mesmoestudo, nota-se o incio de um movimento em direo aoutros campos de atuao, a partir da diversificao na oferta
de estgios, mostrando que a clnica da faculdade deixou deser o espao exclusivo em que se desenvolve o treinamentoprofissional. Os dados apontaram que no sistema educacional
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os estgios eram desenvolvidos tanto na educao infantil(creches, EMEIs) como no ensino fundamental.
As novas Diretrizes Curriculares para os cursos deFonoaudiologia considerando, inclusive, as transformaespolticas, econmicas e socioculturais por que passa a socie-dade brasileira, propem que na formao do fonoaudilogosejam oferecidos conhecimentos em mltiplas reas e experi-ncias em grau suficiente para o exerccio pleno da profisso.
Poder-se-ia afirmar, ento, que a existncia destes docu-mentos e movimentos em relao formao profissionaltem garantido a capacitao para a atuao adequada na reaeducacional? A resposta a esta questo no to simples. Orelato de Rocha e Macedo oferece uma contribuio sobreo assunto, uma vez que as autoras apresentam uma reflexosobre a prtica de estgio que vivenciaram. Para elas, inici-
almente, o trabalho valorizava a figura do aluno, a quem seatribua uma doena, antes desconhecida, que aparecia. Em busca demudanas, se propuseram a mudar o foco do trabalho e, emvez do aluno, esse seria dirigido ao professor, proporcio-nando um objetivo novo na formao acadmica do aluno.
fundamental que em todas as instituies comprometidascom a formao do fonoaudilogo sejam enfatizadas as
discusses sobre o papel e perfil do fonoaudilogo para atuarno mbito da educao. Com esta nova gerao defonoaudilogos, espera-se que a realidade atual seja signifi-cativamente alterada. urgncia e relevncia deste tema se
justificam medida em que podem evitar que prticas equi-vocadas continuem a se desenvolver, prejudicando estarelao do fonoaudilogo com a educao.
Para Collares e Moyss: Todos os mdicos, psiclogos e fonoaudilogosentrevistados dizem que os problemas de sade constituem um entrave para a
aprendiz agem, consistindo em uma das principais causas do fracasso escolar... Os
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profissionais da sade tm uma formao profissional acrtica, a-histrica, basea-
da fundamentalmente em literatura americana biologiz ante(p. 144). Comessa concepo, desconsidera-se a estrutura poltica do pas,a estrutura poltica e pedaggica da instituio escola, apon-tando o fracasso escolar como decorrente de problemas dacriana. Segundo as autoras, a Medicina, a Psicologia e afonoaudiologia vendem um milagre impossvel, porque oproblema da no-aprendizagem determinado por questes
inerentes instituio escolar, pedaggicas e no mdicas.Embora no se possa generalizar a atuao do
fonoaudilogo no sistema educacional, cabe aqui considerarque muitas destas crticas correspondem realidade. As aesdesenvolvidas poderiam ser categorizadas em dois grandesgrupos, com todas as suas variaes: (1) os que estoembasados, ainda, numa viso eminentemente clnica da
Fonoaudiologia e (2) os que buscam delinear uma trajetriaque promova a sade fonoaudiolgica em parceria com osprofissionais da educao.
No primeiro grupo encontramos os profissionais quedenominam de preventiva a atuao nas unidades escolares,que privilegiam a triagem. A presena deste profissional noespao educativo se justifica pela discusso de alunos com
dificuldades fonoaudiolgicas ou para observao e ava-liao de alunos-problema. Esta ao promoveria sadefonoaudiolgica? Ou reforaria a crtica de que ofonoaudilogo estaria buscando doentes? Em que medidaesta prtica poderia contribuir para a construo de umsistema educacional mais justo e democrtico?
Se na dcada de 30 os vcios da lngua foram perseguidos
pelo fonoaudilogo, em nome da identidade nacional, nose estaria, novamente, na dcada de 90, contribuindo para adiscriminao social, pela lngua?
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Essa forma de atuao tem permitido que as expectativasdos profissionais da educao em relao aos profissionaisda sade continuem inalteradas. Ainda segundo Collares eMoyss os educadores vm delegando seu prprio espao a profissionais dasade... Qualquer um competente para solucionar o problema, menos o professor, na
verdade o nico profissional com condies reais de transformar sua prpria
prtica pedaggica, em busca do sucesso escolar(p. 155).Evidentemente, na segunda categoria de aes, encontram-se
alternativas que procuram garantir ao educador o controledo espao e do processo educativo. Nesta perspectiva, ofonoaudilogo se apresenta como um parceiro que, segundoRocha e Macedo, pode compartilhar as diferentes prticasque levem a um melhor desenvolvimento de linguagem econsequentemente, um melhor desempenho escolar. O alunoantes tido como doente pode ser compreendido e descoberto .
Tanto mais efetivas sero as aes quanto mais conseguirmosretomar a prpria rotina e atividade da escola. Sem querertransformar radicalmente o que j existe ou construir tudode novo, podemos contribuir para o re-olhar as mesma situaes,os mesmos brinquedos, as mesmas atividades. Re-significaro contexto e as relaes em que a linguagem se manifesta ese constitui, parece ser meta de maior valor para se almejar.
Alm da ao com os docentes, o fonoaudilogo devevalorizar a participao dos pais em seu trabalho. Atendendo-osindividualmente ou, preferencialmente em grupos, os encontrosdevem enfatizar o papel que estes desempenham em todoprocesso de desenvolvimento de seus filhos.
Um outro ngulo da relao do profissional com a educaosuscita a seguinte questo: qual o espao concreto que tem
sido ocupado pelo fonoaudilogo, na organizao do sistemaeducacional?
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Em pesquisa realizada por Freire, Ferreira e Coimbra,constatou-se que o fonoaudilogo atuava basicamente emconsultrio particular, como clnico generalista. J nessa po-ca, evidenciaram que quem mais encaminhava pacientes paraa clnica fonoaudiolgica era a escola.
E por que a escola encaminhava (e continua encaminhando)?Para Bueno, a preocupao de professores e especialistas
em educao com a linguagem e seus distrbios, pode ser
considerada um avano. No entanto, esta autora chama aateno para o fato de se deslocar as justificativas para ofracasso escolar, dos aspectos cognitivos e psicomotores,para aspectos lingisticos.
Realizando mais duas etapas da pesquisa sobre o perfildo fonoaudilogo, Freire e Ferreira afirmam que a aberturade concursos pblicos para fonoaudilogos na rea da sade incrementou e ex pan-
diu a atuao do fonoaudilogo, alterando, com certeza, o seu perfil inicial(p.47). Os resultados desta pesquisa apontaram que 67,2% tra-balhavam em consultrio particular; 14,7% em instituiesde sade pblica-municipais e estaduais; 6,8% em institui-es para deficientes; 2,5% nas clnicas-escola; 2,3% nas es-colas e cursos de Fonoaudiologia e 2,,2% nas empresas quecomercializavam aparelhos auditivos. Verifica-se nesse mo-
mento, de forma bastante incipiente, a participao dofonoaudilogo no sistema educacional, demonstrando queos espaos que se abrem no sistema pblico, so mais evi-dentes na rea da sade.
Ainda nesta pesquisa, as autoras referem que algunsfonoaudilogos criticam o sistema se sade e sua demandasem refletirem se eles prprios poderiam ser responsveis
por tal situao, medida que no privilegiam aes volta-das promoo da sade.
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A falta de anlise da origem dos problemas da popula-o, afirma Freire, poder levar o fonoaudilogo a assumiruma postura ingnua, como um professor particular, respon-svel por uma demanda que vem, principalmente do sistemade educao. Como soluo, a autora prope o atendimen-to ao professor, que favorea a reflexo sobre as questesque ocorrem no contexto educacional, resultando num pro-cesso de transformao da escola.
Tomando como referncia as consideraes de Freire eoutras j apontadas, observa-se que, neste momento, muitasdas aes do fonoaudilogo na sua relao com a educao,ainda esto fortemente marcadas pelo modelo clnico, quetem sido bastante questionado.
Um estudo mais recente sobre o perfil do fonoaudilogono Estado de So Paulo (CRF 2 Regio) demonstra que a
maior parte dos fonoaudilogos, 54,61%, ainda tem atuadoem consultrios e clnicas particulares, embora outros seto-res comecem a se consolidar como alternativas de trabalho.Entre estes setores, se destacam as Unidades Bsicas de Sa-de (UBSs) e Ambulatrios de Especialidades, representan-do 12,48% das atividades principais do fonoaudilogo. Den-tre as outras alternativas, 6,29% dos profissionais atuam nas
Instituies de Atendimento ao Deficiente, 4,39% em Esco-las para Deficientes, 2,77% em Escola Regular, 4,34% emHospitais e 3,255 na Docncia Universitria. Agrupandoestes setores em grandes categorias Sade, Educao, As-sistncia ao deficiente e Outros nota-se que a categoriaSade constitui o principal nicho de atuao com 77,65%do total. A Ateno ao deficiente, incluindo as instituies e
a escola para deficientes, concentra 10,68% dos profissio-nais e a Educao, 6,92% do trabalho principal dofonoaudilogo no estado de So Paulo.
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Os dados demonstram que, efetivamente, o fonoaudilogono tem ocupado um lugar significativo no sistema educaci-onal. Muitos dos trabalhos relatados na literatura se referema experincias acadmicas, ligadas aos cursos deFonoaudiologia, desenvolvidas em situaes de estgio. Es-tas experincias buscam atender s novas exigncias de for-mao profissional, definidas nas diretrizes curriculares paraos cursos de graduao. Por outro lado, no mercado profis-
sional, verifica-se que os servios oferecidos pelofonoaudilogo se dirigem, basicamente, educao infantil,ao ensino fundamental e educao especial. So raras asiniciativas desenvolvidas em outros nveis de ensino, queconsiderem a importncia da insero junto aos cursos deformao de professores (Magistrio) e s possibilidades deparceria em diferentes cursos de nvel superior como jorna-
lismo, publicidade e propaganda, turismo, direito, radialismoe televiso, relaes pblicas, entre outros.
Apesar de ainda incipiente a vinculao do fonoaudilogojunto ao sistema escolar, a interpretao das novas diretri-zes que norteiam as polticas pblicas de educao tem agra-vado ainda mais esta situao. A nova Lei de Diretrizes eBases da Educao (LDB), Lei n 9.394, define, no Art. 71,
que:N o constituiro despesas de manuteno e desenvolvimento do ensino aque-las realizadas com: I...IV programas suplementares de alimentao, assistn-
cia mdico-odontolgica, farmacutica e psicolgica, e outras formas de assistncia
social. O fonoaudilogo, enquanto profissional da sade, nemchega a ser citado. A sua ausncia nos quadros da educa-o justifica esta omisso, embora se perceba, pela generali-zao, que este tambm no estar includo nas despesas fi-
nanciadas com as verbas para a educao.Efetivamente, observam-se mudanas nas secretarias ou
departamentos de educao. Em muitas delas, os
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fonoaudilogos, psiclogos e outros profissionais da sadetm sido transferidos para os quadros das secretarias e de-partamentos da sade. Em alguns municpios, as discussesacontecem no sentido de definir qual o local mais apropria-do para a insero destes profissionais e que papel pode-riam desenvolver nos diferentes contextos. Portanto, estemomento configura-se como mais um desafio para ofonoaudilogo, nas busca do aperfeioamento de sua rela-
o com a educao.Historicamente, o sistema de ensino privado caracte-
rizou-se como um espao que previa, eventualmente, otrabalho do fonoaudilogo. Atualmente, em funo dacrise econmica que afeta toda a sociedade brasileira, es-tas instituies tm promovido cortes em seus quadrosprofissionais, sendo que o fonoaudilogo tem sido um
dos primeiros a ser eliminado.Com base nesse cenrio levantam-se outras questes: que
sada haveria para o fonoaudilogo, descartado do siste-ma pblico e privado de educao? Novamente as respostasno so to simples. Em algumas situaes, verifica-se que ofonoaudilogo no tem investido no sentido de deixar claroos objetivos de seu trabalho junto educao ou tem se aco-
modado a atender as expectativas equivocadas dos pro-fissionais da educao.
Se a contratao do fonoaudilogo pelo sistema edu-cacional se torna mais difcil neste momento, que soluespoderiam ser propostas para que se mantenha a relao en-tre a Fonoaudiologia e a Educao?
Segundo Befi, em sua insero na sade pblica, o
fonoaudilogo tem buscado organizar propostas de aes aserem executadas junto a diferentes programas das unidadesbsicas de sade, incluindo a prestao de servios junto a
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creches e escolas de sua rea de abrangncia. No mesmo sen-tido, Sucupira se refere UBS como instncia centralizadorae coordenadora de aes coletivas realizadas nas creches,escolas, e outros espaos sociais, denominadas de atividadesextramuros. Com estas aes, seria possvel conhecer a rea-lidade das instituies e a natureza dos ditos distrbios,que so encaminhados s UBSs. A possibilidade de partici-pao de diferentes categorias profissionais, constituindo
equipes interdisciplinares, exige planejamento e organizaode aes articuladas entre a UBS e a escola.
Vislumbra-se, nessas propostas, uma possibilidade decontinuar construindo e aperfeioando a relao entre aFonoaudiologia e a Educao, independente da forma comque o fonoaudilogo se vincule, administrativamente, tantono sistema de educao como no sistema de sade.
Continuar refletindo sobre a atuao efetiva dofonoaudilogo nestes ltimos 20 anos, no contexto edu-cacional, parece ser um caminho para a superao de umaprtica que tem privilegiado a doena e o sujeito patolgico.Reconstruir e consolidar a relao com a educao, conside-rando todas as dificuldades aqui apontadas, depende do co-nhecimento das polticas pblicas de educao e todas as
suas mazelas, alm de uma postura que respeite as caracte-rsticas do sistema educacional.
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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BITTAR, M. L. A construo da relao fonoaudilogo-creche. In: BEFI, D.(Org.) Fonoaudiologia na ateno primria sade. So Paulo: Lovise, 1997.
BRASIL. L ei n 6965 Regulamentao da profisso do fonoaudilogo. 9 dedezembro de 1981.
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BUENO, J. G. S. Escola, Linguagem e Distrbios da Linguagem. Rev. Dist. DaCom., col. 4(2): 169-183, So Paulo, 1991.
CAVALHEIRO, M. T. P Formao do fonoaudilogo no Brasil: estrutura curricular eenfoque preventivo. Dissertao de mestrado. PUC-Campinas. Campinas-SP, 1996.
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preenso de seu trabalho, por parte dos profissionais integran-tes da equipe escolar (principalmente o professor), para quetodos possam atuar de modo integrado e cooperativo em prolda promoo da sade e da aprendizagem dos escolares.
Assim, discutir o papel do professor na atuaofonoaudiolgica em escolas parece-me relevante e oportu-no. Se o fonoaudilogo vem buscando, com o passar dosanos, melhorar sua atuao no sentido de resgatar o papel
social da Fonoaudiologia voltado, prioritariamente, pro-moo da sade na escola, o professor e a escola, como umtodo, tambm precisam incorporar a preocupao com ques-tes que envolvam a sade.
O PAPELATRIBUDOAOPROFESSORNASPROPOSTASDEATUAOFONOAUDIOLGICAEMESCOLAS
Inmeras propostas destacaram a participao do professorna deteco dos distrbios da comunicao (Pacheco eCaraa, Collao, Bittar, Lagrotta, Cordeiro e Cavalheiro,Guedes).
Conforme os estudos de Figueiredo Neto e Berberian, o
professor foi um agente importante para a concretizao dasprticas fonoaudiolgicas, desde as primeiras dcadas destesculo. Nesse perodo, os distrbios da comunicao, deno-minados desvios da lngua padro, (caracterizados por varia-es dialetais e estrangeirismos), assumiram um carter pa-tolgico por serem considerados desvios da lngua padrovigente no pas e, em conseqncia desse fato, a escola tor-
nou-se o local ideal no s para a deteco, mas tambmpara a correo desses desvios. Muitos professores, nessapoca, se descaracterizaram enquanto educadores e assumi-
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ram o papel de reabilitadores, atendendo aos programas decorreo dos distrbios da comunicao apresentados pelapopulao escolar.
A transformao do professor em especialista na detecoe correo dos distrbios da comunicao foi determinadapela preocupao com o diagnstico das alteraes da lin-guagem e pela incorporao de tcnicas reabilitadoras s ati-vidades desenvolvidas por ele, na escola. Isto evidencia o
quanto o professor, aliado aos profissionais da rea mdicae da Psicologia, esteve envolvido no processo de criao eimplementao de princpios e tcnicas reabilitadoras ain-da que determinadas, na poca, por um contexto scio-his-trico especfico que, ainda hoje, norteiam muitas ativida-des fonoaudiolgicas.
As propostas de atuao fonoaudiolgica em escolas que
destacaram a participao do professor na deteco dos dis-trbios da comunicao fundamentaram-se, provavelmente,na premissa de que ele era o indivduo que, de fato, estava maisprximo dos escolares e, portanto, ningum melhor do que ele subentendendo que conhecia os escolares com os quais tra-balhava para verificar quais apresentavam problemas.
O papel atribudo ao professor: o de agente detector de
problemas, contribuiu para reforar a patologizao dosdistrbios da comunicao e a ao curativa na escola, vistoque tais propostas, apesar de demonstrarem claro interessepelo aspecto preventivo, enfatizaram a preocupao em tra-tar os distrbios apresentados pelos escolares por meio deprogramas de estimulao. Programas estes, resultantes doprprio contexto no qual foram desenvolvidos, atrelados s
prticas da Medicina e marcados pela transferncia da abor-dagem clnica para a escola, at praticamente o final da d-cada de 70. Muito provavelmente, esse fato ocorreu em fun-
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o das condies com as quais o fonoaudilogo se depa-rou, nesse perodo, para efetivar a implantao de sua atua-o em escolas.
No entanto, mesmo as propostas desenvolvidas aps adcada de 70, mais preocupadas em garantir a participaodo fonoaudilogo na equipe escolar e oferecer informaessobre o seu trabalho (incluindo, entre outros aspectos, odesenvolvimento normal da comunicao), continuaram
a enfatizar o papel do professor enquanto agente detectorde problemas.
A deteco abordada sob o ponto de vista do enfoquecurativo contribuiu para a medicalizao do fracasso es-colar, entendida aqui como a atribuio de causas mdi-cas e orgnicas, comportamentais e individuais, inerentess crianas com dificuldade no desempenho escolar.
Ao papel desempenhado pelo professor somou-se umaprtica adotada por ele, que ainda hoje muito comum: atri-buir rtulos s crianas com dificuldades escolares, basean-do-se em suas prprias expectativas que, freqentemente,responsabiliza a criana pelo fracasso escolar. Em muitas si-tuaes, o professor, desavisado ou despreparado, formu-lou seu diagnstico, posteriormente, muitas vezes, confir-
mado pelo fonoaudilogo.Sendo assim, medida que o professor se deparou com o
fonoaudilogo que oficializou suas expectativas e rtu-los, tornou-se fcil, para ele, legitimar esse tipo de atuao edesempenhar apenas o papel de agente detector.
Diante disso, podemos tambm pensar na contribuioque a atuao fonoaudiolgica teve e, em alguns casos, in-
felizmente ainda continua a ter para reforar a idia de quea responsabilidade pelo fracasso escolar do aluno, ao isen-tar o professor, a instituio, ou ainda, o sistema educacio-
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nal. Alm da contribuio para a medicalizao de aspectosinerentes ao prprio desenvolvimento da criana, muitasvezes, determinados pelo contexto sociocultural no qual elaest inserida.
No pretendo, porm, responsabilizar o fonoaudilogopor uma situao que entendo ser conseqncia de um con-texto scio-histrico que vivenciamos, no decorrer dessesanos e de tentativas de aprendizado e realizao de modifi-
caes, para garantir a aplicabilidade da atuaofonoaudiolgica na escola. H que se considerar que ofonoaudilogo ainda vivencia esse processo de aprendiza-gem. Se, em algumas propostas, a sua atuao serviu parareforar o conceito de patologizao, determinado por umperodo em que a profisso se iniciava no Brasil, baseada,principalmente, no modelo mdico e passava por um pro-
cesso natural de adaptaes, transformaes e luta dos pro-fissionais pioneiros pela conquista de campos de atuao;tantas outras mostraram e mostram claramente sua preocu-pao em esclarecer tal conceito. fato que as propostasque vm obtendo sucesso so justamente aquelas desenvol-vidas por fonoaudilogos que se conscientizaram de que seustrabalhos devem incluir o professor, em discusses que vo
alm de ensin-lo a detectar problemas.Essas propostas, mais recentes, objetivam a integrao do
fonoaudilogo com os profissionais da escola, no estopreocupadas, apenas, em enfatizar os distrbios da comuni-cao apresentados pelos escolares, mas buscam, por meiode uma reflexo conjunta, a compreenso da natureza des-ses distrbios. Tais propostas apresentam a preocupao em
adaptar seus programas a contextos escolares especficos eno tentam o contrrio, ou seja, fazer o professor e a escolase adaptarem ao programa desenvolvido pelo fonoaudi-
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logo que, em muitas situaes, denomina de preveno o queainda continua sendo interveno.
Fica claro que no momento atual busca-se odesvencilhamento da prtica clnica, a promoo daintegrao com os profissionais da escola e a necessidade deevitar a imposio de rtulos e suas possveis conseqnciasaos escolares.
REPENSANDOOPAPELDOPROFESSOR ...
Inegavelmente, a deteco de problemas tem sido vista comouma ao necessria, porm, no mais como principal prio-ridade da atuao fonoaudiolgica na escola e, conseqen-temente, a participao do professor em tal atuao tem
sido discutida.No entanto, apesar da crescente evoluo de perspecti-
vas positivas de continuidade do processo de aprendizagemdos fonoaudilogos que atuam em escola, nem mesmo aspropostas mais recentes tm se mostrado eficazes no senti-do de se realizar um trabalho sistemtico na equipe escolar.
Isso pode estar ocorrendo, muito provavelmente, devido
ao foco da atuao fonoaudiolgica na escola ainda estar,predominantemente, direcionado adoo de medidas in-dividuais dirigidas s crianas.
fato que, apesar das propostas mais recentes iniciarema discusso sobre a possibilidade de seu foco de atuao naescola voltar-se participao na equipe escolar e valori-zao do professor nessa atuao, as referncias compulsadas
na literatura, limitam-se, ainda, a esclarecer o papel do pro-fessor enquanto agente detector de problemas e o contedodas orientaes oferecidas a ele.
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Nas propostas de atuao fonoaudiolgica em escolas noh referncias sobre as expectativas de professores que par-ticiparam ou participam de tais propostas. Poderia ser esseum meio de controle de eficcia dessa atuao?
Ao estudar as expectativas de professores de 1 a 4 sriesda rede pblica em relao atuao do fonoaudilogo naescola, observei que os professores participantes do estudoapresentaram dificuldade para conceituar Fonoaudiologia.
As definies utilizadas por eles apoiaram-se numa viso frag-mentada e baseada na patologizao da comunicao, ao fa-zerem referncias s alteraes (em particular s de fala) eao tratamento. Apresentaram uma viso duplamentereducionista ao se referirem s alteraes de fala (uma vezque a fala no a nica rea de estudo da Fonoaudiologia) eao se referirem forma de atuao, visto que a reabilitao
se configura como uma ao entre tantas outras adotadaspor essa cincia e, ainda, demonstraram no ter conhecimentoda ao fonoaudiolgica preventiva enquanto fonte de pro-moo e proteo da sade.
Nesse mesmo estudo, os professores mencionaram espe-rar que o fonoaudilogo adotasse, na escola, as condutas derealizao de diagnstico (mencionada pelos professores que
haviam tido contato com fonoaudilogos que atuam em es-cola) e de realizao de tratamento dos distrbios da comu-nicao apresentados pelos escolares (apontada pelos pro-fessores que negaram tal contato); demonstrando, com isso,que privilegiam o enfoque teraputico e a ao individual.Atriburam a si mesmos as condutas de realizao dedeteco e a realizao de encaminhamentos dos escolares
portadores desses distrbios. A conduta referente a mantercontato com o fonoaudilogo para acompanhar a evoluodos escolares por eles encaminhados, proposta nesta pes-
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quisa por mim, no foi mencionada por eles. Os mesmosconsideraram importante receber, em sua formao, infor-maes sobre o trabalho fonoaudiolgico na escola, porm,no foram capazes de apontar de que forma tais informa-es os beneficiariam.
Esse estudo foi posteriormente replicado (repetido) comprofessores de escolas de educao infantil (EMEIs), sendoque a maioria desses professores disse conhecer o trabalho
do fonoaudilogo na escola, porm, assim como os profes-sores de 1 a 4 sries, apresentaram dificuldade para carac-terizar a atuao do fonoaudilogo em escolas. Eles tam-bm preocuparam-se mais com a deteco de problemas,aspecto que apareceu tanto na expectativa quanto atuaodireta do fonoaudilogo, quanto na expectativa do forne-cimento de informaes que lhes possibilitassem realizar
essa deteco.H que se ressaltar, porm, que os professores de EMEIs,
quando comparados aos de 1 a 4 sries, reconheceram aexistncia da atuao fonoaudiolgica nas escolas onde leci-onavam, principalmente no que diz respeito ao fato de te-rem apontado a contribuio dessa atuao no s para ga-rantir a sade do escolar, mas tambm do educador, pois
referiram-se ao desenvolvimento de aes envolvendo a sa-de vocal do professor. Esses dados comprovam que, apesardos professores das EMEIs tambm apresentarem dificul-dades para caracterizar a atuao fonoaudiolgica na esco-la, eles possuem um conhecimento muito mais abrangenteacerca de tal atuao do que os professores de 1 a 4 sries.
Tais dados evidenciam, no que diz respeito aos professo-
res participantes desses estudos, que a Fonoaudiologia con-tinua assumindo um carter predominantemente reabilitador,no lhe sendo conferida a responsabilidade pela promoo
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da sade na escola, ao contrrio, lhe atribuda a responsa-bilidade pela ao curativa da doena.
Isso me leva a questionar se as propostas de atuaofonoaudiolgica em escolas, ao apresentarem programas deorientaes ao professor, realmente atingem o objetivo defaz-lo entender a natureza dos problemas apresentados pe-los escolares. O professor, envolvido com tal atuao, com-preende, de fato, por que tais problemas ocorrem e o quan-
to podem estar envolvidos com a dinmica escolar, no sen-tido de como ocorre o processo de alfabetizao; como es-to atrelados prpria dinmica familiar vivenciada pelosescolares, incluindo aqui os aspectos culturais esocioeconmicos? E ainda, quanto tais propostas esto ade-quadas aos diferentes contextos educacionais em que foramou so aplicadas?
A ausncia de referncias sobre a questo da inter-relaoentre o fonoaudilogo e o professor parece demonstrar queeste ltimo desconhece esta possibilidade, prevalecendo aidia da transferncia da abordagem clnica para a escola,centrada no diagnstico e tratamento, ou seja, prevalecendoa expectativa, por parte do professor, de realizao de umtrabalho curativo na escola. Isso refora a idia do
fonoaudilogo deter a responsabilidade pelo controle dosproblemas tidos como distrbios da comunicao.
Scavazza chama a ateno para o perigo de ofonoaudilogo assumir a responsabilidade por tal controle.Para essa autora, ao tomar para si esse papel, ele legitimauma poltica adotada pela escola de restringir a doena aoindivduo (escolar), confirmando e legitimando-a, ao invs
de colaborar para a compreenso dos distrbios da comu-nicao dentro do contexto social e, principalmente, do con-texto educacional, nos quais os escolares esto inseridos.
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Os profissionais da educao, entre eles o professor, aoconsiderarem o cuidado com a sade escolar como funoapenas do profissional da sade, tm dificuldade para esta-belecer e analisar os determinantes polticos e pedaggicosdo mau rendimento escolar e das evases, no apresentamcondies para vislumbrar as possibilidades de mudana,tornando-se mais fcil para eles se apoiarem em soluesoferecidas por outras reas de conhecimento.
Associada a esse fato est a questo da atuao preventi-va na escola ainda ser baseada num modelo clnico que con-sidera as diferenas individuais e as tentativas de encontraros distrbios, modelo que apresenta o indivduo como focodos problemas e livra o sistema educacional e os professo-res de qualquer responsabilidade.
Estas consideraes nos levam a repensar o papel do pro-
fessor nas propostas de atuao fonoaudiolgica em esco-las. H que se repensar, tambm, as abordagens que perpe-tuam o modelo de atuao vigente no incio do sculo e logoaps a oficializao da Fonoaudiologia no Brasil. Tais abor-dagens, como j enfatizei, tiveram sua importncia no con-texto socioeducacional da poca e representaram os primei-ros passos para um avano, porm, no representam, atual-
mente, as necessidades e possibilidades de tal atuao.Faz-se necessrio, ento, estabelecer um paralelo entre o
que o fonoaudilogo oferece e o que a escola, representadapelo professor, espera dele.
Esse questionamento no dever ocorrer com facilidade,visto que determinar a discusso de questes sobre aformao dos professores e do fonoaudilogo, o que
implicar na avaliao de prticas h muito tempo defendi-das e utilizadas.
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Quando me refiro formao desses profissionais, en-tendo que o fonoaudilogo, enquanto profissional da sadeatuando em escola, necessita conhecer melhor a criana emidade pr-escolar e escolar, alm do contextosocioeconmico e cultural no qual ela est inserida. Ne-cessita ter domnio terico sobre os mtodos e recursosmateriais para a alfabetizao, sobre o papel social daescola, sobre os diferentes fatores relativos produo
do fracasso escolar, sobre a atuao primria em sade, en-tre outros aspectos.
Quanto ao professor, no basta que ele receba, apenas,informaes sobre o desenvolvimento da fala, da audio,da linguagem, entre outros, mas necessrio que ofonoaudilogo lhe oferea condies para que conhea me-lhor os objetivos da preveno fonoaudiolgica na escola, a
ponto de lev-lo a indagar-se a respeito de sua prpria for-mao profissional (questionvel em relao s polticas depreveno em sade), que lhe permita conscientizar-se quea preveno em sade no mbito da escola algo comque precisa se preocupar, at para que a escola como umtodo tambm incorpore essa preocupao, como mencio-nei anteriormente.
A partir da compreenso de seu papel quanto promo-o da sade na escola e quanto natureza dos problemasapresentados pelos escolares, o professor ter condies dequestionar a poltica educacional vigente e poder contri-buir para que ocorram mudanas significativas, como porexemplo, deixar de vislumbrar a preveno fonoaudiolgicaapenas como um programa cujo objetivo o de diminuir a
ocorrncia dos distrbios da comunicao nos escolares.Isto se tornar possvel com o redirecionamento do foco
do trabalho do fonoaudilogo na escola para a atuao na
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equipe escolar e com a recuperao do papel original doprofessor, voltado para a anlise e resoluo dos proble-mas educacionais.
Dessa forma, medida que o professor deixar de se vere de ser visto como agente detector de problemas e medida que o fonoaudilogo priorize o trabalho em par-ceria, podero ser desenvolvidas no s medidas indivi-duais, mas principalmente, coletivas, o que poder resul-
tar em ganhos positivos para ambas as partes.Assim, ao se estabelecer uma ao coordenada entre am-
bos, na qual se privilegie as aes que evitem a instalaodos distrbios da comunicao, em detrimento daquelasvoltadas para a atuao apenas curativa, poder se concreti-zar a mudana do papel atribudo ao professor.
Esta mudana possibilitar ao fonoaudilogo a retoma-
da de sua ao preventiva e habilitadora, no apenasreabilitadora, a fim de que se torne um profissional apto aintegrar a equipe escolar e desempenhar, tambm, um papelsocial mais efetivo.
O TRABALHOEMPARCERIAPOSSVEL? COMO?
O trabalho em parceria se tornar uma realidade medidaque o fonoaudilogo retome a discusso de alguns aspectosdeterminantes para se garantir a efetividade de sua atuaona equipe escolar. A garantia de sua participao nessa equi-pe resultar, portanto, na integrao com os demais profis-sionais na escola, porm, enquanto sua atuao enfatizar
medidas individuais, ser difcil para o fonoaudilogoconscientizar esses profissionais sobre a necessidade deseu trabalho.
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A legitimao da atuao do fonoaudilogo na equipeescolar poder acontecer medida que ele conhea profun-damente o contexto educacional com o qual trabalhar. Paraisso ele necessitar vivenciar esse contexto, o que no acon-tece em nossa realidade, uma vez que o trabalho desenvolvi-do na escola, ainda , predominantemente, voltado iden-tificao de problemas e transformao de tais proble-mas no objeto de estudo da Fonoaudiologia na escola,
quando, na verdade, seu objetivo maior deveria estardirecionado compreenso dos aspectos fonoaudiolgicosque, de alguma forma, contribuem para dificultar a apren-dizagem escolar.
Essa legitimao se confirmar com o desenvolvimentode medidas coletivas de preveno, que englobem no s osescolares, como mencionei, mas a escola como um todo, at
para que a escola, compreendendo a necessidade e impor-tncia da atuao fonoaudiolgica, respalde a luta deste pro-fissional pela garantia de sua participao na equipe escolar.
A integrao entre o fonoaudilogo e a escola poderresultar na cobrana de aes governamentais tanto emmbito estadual quanto municipal que contribuam parasistematizar a atuao fonoaudiolgica na escola.
H que se cobrar uma legislao que garanta a presenado fonoaudilogo na escola, no no sentido de que este con-tribua para a produo do fracasso escolar, mas para quecrie condies para uma atuao eficiente na equipe escolar,pois entendo que ele deve desempenhar um papel no ape-nas direcionado s questes de promoo da sade na esco-la, mas tambm promoo da educao escolar e resolu-
o dos problemas da comunicao e de suas implicaespara a escolarizao.
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A cobrana por uma legislao que crie condies fa-vorveis para uma atuao eficiente do fonoaudilogo naequipe escolar poder resultar, ainda, numa atuao mais sis-tematizada, abrangendo o maior nmero possvel de es-colas, uma vez que, em geral, tal atuao se baseia emaes isoladas, mesmo nos locais onde funcionam cursosde Fonoaudiologia.
Muitos aspectos contribuem para essa situao, como o
tempo de permanncia dos estagirios de Fonoaudiologianas instituies educacionais, o reduzido nmero de esta-girios, o que no garante a presena deles em todas essasinstituies, nos locais onde esses cursos funcionam, as-sim como a reduzida carga horria das disciplinas preventi-vas na maior parte dos cursos, disciplinas que ainda preci-sam dar conta da atuao em Unidades Bsicas de Sade
(UBSs) e outras instituies.Outro aspecto importante, com a criao de uma legisla-
o direcionada atuao do fonoaudilogo na escola, dizrespeito necessidade de integrao entre os cursos deFonoaudiologia e as secretarias de educao para a execu-o de projetos de extenso e de educao continuada,direcionados s redes pblica e municipal, o que tornaria a
atuao fonoaudiolgica mais conhecida entre os professo-res. Essa integrao poderia ser incentivada, ainda, nos cur-sos de graduao de Pedagogia e de Fonoaudiologia.
Aes conjuntas entre os fonoaudilogos e suas entida-des representativas tambm precisam ser incentivadas cadavez mais, para uma discusso sobre a normatizao da atua-o fonoaudiolgica na escola. Entretanto, essas aes con-
juntas precisam envolver o maior nmero possvel de pro-fissionais, pois tal discusso implica na construo da iden-tidade profissional do fonoaudilogo que atua em escola.
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Enfatizo, mais uma vez, que essa atuao deve priorizar otrabalho na equipe escolar e o desenvolvimento de progra-mas de educao continuada direcionados, de fato, integrao dos profissionais que atuam na escola e partici-pao de todos no planejamento das atividades desenvolvi-das com os escolares.
Quando me refiro participao do fonoaudilogo noplanejamento de atividades escolares, entendo que ele pode
e deve contribuir para o planejamento pedaggico, no nosentido de tomar para si a responsabilidade do professor,mas no sentido de otimizar o processo de aprendizagem ealfabetizao. Sua formao lhe garante condies para odesenvolvimento de medidas direcionadas aprendizagemescolar, rea com a qual o fonoaudilogo que atua em esco-las, de modo geral, pouco trabalha.
O fonoaudilogo que atua em escola parece ter poucafamiliaridade com tal questo, pois so poucos os relatosencontrados na literatura sobre as possibilidades de atuaodesse profissional no que diz respeito ao desenvolvimentode medidas preventivas que priorizem o processo de apren-dizagem da leitura e da escrita dos escolares, por meio deaes coletivas centradas nesse processo, no direcionadas
somente s aes individuais.Seria, ento, um trabalho preventivo mais direcionado s
questes da aprendizagem, envolvendo medidas coletivas,um caminho para a garantia da presena do fonoaudilogona equipe escolar?
Ele pode desenvolver um trabalho preventivo na escolaque enfatize esses aspectos, tanto em relao normalidade
quanto s dificuldades que os escolares podem apresentarno desenvolvimento da leitura e da escrita (dificuldades quefreqentemente so encaradas pelo professor (muitas vezes,
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tambm pelo fonoaudilogo (como erros e transforma-das em distrbios, quando na verdade, representam etapasde um processo natural de aprendizagem)? O quanto ofonoaudilogo que atua em escolas tem se voltado para essaquesto? Esse um trabalho que pode ser desenvolvido porele na equipe escolar com a colaborao do professor? Serisso o que a escola espera dele?
Todas essas questes e as mudanas propostas impli-
cam, inevitavelmente, na necessidade urgente de se reveros currculos dos cursos de Fonoaudiologia e a impor-tncia atribuda s disciplinas preventivas nesses currculos.Se entendermos a preveno como uma ao profissionalnecessria, temos que trat-la com a importncia que ela re-quer e lhe conferir um papel de maior destaque.
Para isso, tanto o profissional quanto o estudante de
Fonoaudiologia precisam engajar-se em discusses sobre anecessidade de mudanas que possibilitem uma aofonoaudiolgica mais eficiente e que garanta suaaplicabilidade na escola.
Alguns cursos de Fonoaudiologia tm demonstrado essapreocupao e retomado a discusso sobre polticas de Edu-cao em Sade por meio da implantao de disciplinas so-
bre Sade Pblica, no entanto, sabemos que esse fato no seestende a todos os cursos, muitos, inclusive, ainda tm sidocriados sob uma perspectiva predominantemente clnica,com maior nfase na reabilitao.
No pretendo apresentar aqui uma frmula para a aodo fonoaudilogo na escola, mas acredito que repensar opapel atribudo ao professor e a forma como ele o desem-
penha mais um caminho. Representa uma possibilidadede legitimao da importncia da Fonoaudiologia na es-cola e uma necessidade de modificar a percepo do pro-
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fessor de que o fonoaudilogo realiza, prioritariamente,aes curativas.
Da modificao dessa percepo do professor decorre anecessidade de torn-lo participante da ao fonoaudiolgicana escola, tirando-o da condio de mero espectador.
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CAPTULO 3
POSSIBILIDADES DE TRABALHO
NO MBITO ESCOLAR-EDUCACIONAL
E NAS ALTERAES DA ESCRITA
Jaime L uiz Z orzi
A LEI 6965 EAATUAODOFONOAUDILOGO
O fonoaudilogo, diz a lei 6965, de 09 de dezembro de 1981, o profissional com graduao plena em Fonoaudiologia,que atua em pesquisa, preveno, avaliao e terapiafonoaudiolgicas na rea da comunicao oral e escrita, voze audio, bem como em aperfeioamento dos padres defala e da voz. Como podemos observar, tal perfil profis-
sional configura, com clareza, atividades e reas de atuaoque definem o campo do fazer fonoaudiolgico.
No que diz respeito atuao do fonoaudilogo, quandoacompanhamos sua histria, vemos que, inicialmente, asmaiores tendncias foram no sentido da avaliao e da tera-pia fonoaudiolgicas. Tal fato compreensvel porque nos-sa profisso surgiu em resposta a uma necessidade de aten-
dimento a pessoas apresentando uma srie de problemas li-gados comunicao humana, aos quais os profissionais deoutras reas no conseguiam dar as respostas necessrias.
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Para tanto, cursos de Fonoaudiologia comearam a surgirna dcada de 60 com o propsito de formar pessoas habili-tadas para atender a tal demanda. Como poderia at mesmoser previsto, ganha corpo, desta forma, a denominadaFonoaudiologia Clnica, com o atendimento a portadoresde distrbios da comunicao em ambulatrios ou outrosservios e, principalmente, em consultrios particulares.Temos, desse modo, esboada a forte influncia clnica em
nosso perfil de atuao definindo os papis complementa-res de terapeuta e paciente.
A AMPLIAODOCAMPO DEATUAO
A atuao em pesquisa e preveno, embora estas duas ativi-
dades encabecem a definio do papel profissional dofonoaudilogo, mostram-se como realidades que s maisrecentemente tm conseguido um certo crescimento e afir-mao enquanto possibilidades de trabalho. Obviamente, noestamos nos referindo a pessoas ou grupos que, de modomais isolado, tm desenvolvido, h mais tempo, trabalhosnesse sentido. Estamos falando de posturas ou tendncias
gerais, que do o colorido principal de uma profisso.As pesquisas nas reas de atuao fonoaudiolgica tm,
atualmente, apresentado um crescimento significativo, o qualest dando condies para o surgimento e a consolidaoda Fonoaudiologia como uma nova cincia. E o que maisimportante, a prtica clnica comea a se interligar com apesquisa, o que a tem tornado, de fato, um fazer de car-
ter cientfico.A preveno, por sua vez, tambm comea a conquistar
novos espaos, embora face sua importncia, parea ainda
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ter uma atuao limitada. Como o prprio termo sugere,prevenir significa criar condies para que se evite o apare-cimento de um problema. medida em que causas sejamconhecidas e possam ser controladas, determinadas patolo-gias podem diminuir em termos de incidncia ou mesmoserem eliminadas.
TENDNCIASMAISCOMUNSELIMITATIVASDEATUAODOFONOAUDILOGO EMTERMOSEDUCACIONAIS
Entretanto, essa no parece ser a noo que est por trs decertas intervenes consideradas de carter preventivo, comoacontece freqentemente, em aes ligadas ao trabalhofonoaudiolgico junto a escolas. Mais especificamente,estamos falando da chamada triagem fonoaudiolgica, cujafuno, em geral, mais do que prevenir problemas, detec-tar possveis alteraes auditivas, de fala, linguagem ou demotricidade oral, j existentes em pr-escolares, principal-mente naqueles que esto prximos da poca de serem alfa-betizados. Embora a argumentao seja no sentido de sele-cionar para prevenir problemas, essa ao est, na realidade,
mais voltada para a deteco e encaminhamento clnico deproblemas j existentes. Podemos perguntar: o que est sen-do prevenido? Isso no corresponde a uma real prevenomas sim a uma interveno que visa detectar e eliminar umproblema j estabelecido. No mximo, estaremos amenizan-do seus possveis desdobramentos. Temos, dessa forma, umdesvio causado muito mais por uma viso clnica patolgica
da Fonoaudiologia do que uma postura propriamente pre-ventiva. Talvez essa possa ser uma das razes pelas quais a
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preveno no tem encontrado um terreno mais frtil parapoder se desenvolver.
Outra tendncia da atividade do fonoaudilogo no con-texto escolar tem sido a de, trabalhando em instituies deensino, avaliar crianas com queixa de algum distrbio e pro-por atendimento dentro da prpria escola. Devemos fazeruma distino entre escolas especiais que se caracterizamcomo instituies voltadas para a educao e atendimento
clnico de pessoas com deficincias e escolas comuns, comobjetivos unicamente pedaggicos. No primeiro caso, o aten-dimento fonoaudiolgico faz parte da proposta escolar, as-sim como outros tipos de atendimento, uma vez que sua cli-entela est caracterizada como um clientela com necessida-des especiais. Quanto s escolas comuns, cujo objetivo edu-car, vemos uma distoro de seus objetivos pedaggicos
quando a mesma se prope a uma atividade clnica. As esco-las comuns tm como propsito educar e ensinar e no tra-tar. Convm ao profissional fonoaudilogo, trabalhando emescolas, quando diagnostica problemas, ter a postura de en-caminhar o aluno para o atendimento fora do mbito esco-lar. A opo pode ser a indicao de clnicas ou centros deatendimento que, embora possam vir a realizar um trabalho
integrado com a escola, do ponto de vista das necessidadesdo paciente, no mantenha vnculos ou interesses comerciaiscom a mesma.
UMAPROPOSTADETRABALHOMAISRICAEDIVERSIFICADAEMTERMOSDEATUAOEDUCACIONAL
Gostaria, por outro lado, alm de apontar distores queocorrem em termos do que se considera preveno, de estar
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propondo uma ao fonoaudiolgica que ultrapasse a no-o de evitar problemas. Creio que podemos falar de umaviso desenvolvimentista, independentemente de estarmospensando em patologias, quer no sentido de detect-las etrat-las, quer no sentido de evit-las. Desenvolver, neste caso,significa criar condies favorveis e eficazes para que ascapacidades de cada um possam ser exploradas ao mximo,no no sentido de eliminar problemas, mas sim baseado na
crena de que determinadas situaes e experincias podemfacilitar e incrementar o desenvolvimento e a aprendizagem.
Tal noo, a pretexto do tema deste artigo, encontra comopalco favorvel, principalmente a situao escolar. Alm dedetectar, tratar e prevenir problemas, podemos tambmpensar a atuao do fonoaudilogo em termos de desenvol-ver potencialidades, mesmo no caso de pessoas que no se-
jam consideradas patolgicas ou em situao de risco. Issosignifica que, mesmo aquelas crianas que j sejam hbeis emtermos comunicativos, podem se beneficiar de programasque tenham por finalidade otimizar o desenvolvimento, par-tindo do princpio de que tais capacidades podem ser sem-pre melhoradas em funo das condies criadas para seuuso. Dessa forma, a ao fonoaudiolgica no mbito edu-
cacional deixaria de centrar-se somente em aspectos pa-tolgicos, beneficiando queles que, em oposio ao pa-tolgico, consideramos como normais. Em outras pala-vras, podemos pensar como os conhecimentos que ofonoaudilogo tem a respeito de alguma de suas reas deatuao comunicao oral e escrita, voz, fala, audio poderiam fazer parte de programas educacionais com o ob-
jetivo de promover desenvolvimento otimizado, indo almde sua atuao mais tradicional no sentido de diagnosticar,tratar e prevenir problemas.
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Na realidade, sabemos que os problemas escolares noesto limitados quelas pessoas que chegam at ofonoaudilogo como portadoras de algum distrbio. Temosvisto que, infelizmente, tm se manifestado como uma situa-o geral, que inclui at mesmo os que apresentam boas con-dies de aprendizagem, uma dificuldade sensvel no senti-do de dominarem a leitura e de se tornarem capazes de umaexpresso, de modo claro e coeso, via escrita. Ou seja, a edu-
cao no tem dado conta de preparar de forma adequadamuitos daqueles alunos que tm condies favorveis paraaprender. Podemos nos perguntar por que tantas crianasafirmam no gostar de ler e de escrever, por que odeiamo portugus e tudo o que se refere linguagem? Comotais situaes tm sido apresentadas para elas de modo acausar tal efeito? Que funes tem tido a linguagem, alm
daquela acadmica?Alm do mais, as condies de trabalho de um professor,
aliadas ao esforo vocal que comumente observado emseu dia-a-dia, criam um desgaste fsico e psicolgico que,certamente, compromete a qualidade de sua atuao. Acres-cente-se a essas situaes desfavorveis o fato de que, rara-mente, o professor est preparado para realizar aulas ou
apresentaes aplicando recursos eficientes de comunicao.Aqui est mais uma rea totalmente aberta para a atuao dofonoaudilogo no sentido de otimizar tambm as condiesde trabalho do prprio professor.
Creio que a Fonoaudiologia, aplicando seus conhecimen-tos sobre aquisio e desenvolvimento de linguagem, voz,fala, audio, tcnicas de apresentao e controle ambiental
de rudos poderia, em muito, contribuir para a modificaode tal quadro.
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Podemos esboar um conjunto de aes que esto nombito de atuao do fonoaudilogo que teriam comoobjetivo promover a otimizao do desenvolvimento eda aprendizagem:
COMUNICAO ORAL? Instruir os professores no sentido do que a linguagem
oral e seu desenvolvimento e os objetivos de sua otimizaonuma situao escolar;
? Criao e planejamento de situaes de uso da comunica-
o que sejam estimuladoras para o desenvolvimento dalinguagem oral e de seus padres de pronncia;
? Criao de situaes que possam levar a criana a pensar
sobre a linguagem que ela usa, desenvolvendo habilidadesmetalingsticas;
?Desenvolver habilidades narrativas, como contar e recontar
fatos e histrias.
COMUNICAO ESCRITA? Instruir os professores no sentido do que a linguagem
escrita e o seu desenvolvimento e os objetivos de suaotimizao numa situao escolar;
? Criao e planejamento de situaes de uso da leitura e da
escrita de modo a evidenciar todas as suas funes sociais;
? Criao e planejamento de situaes que possam evidenciar
o que a ortografia, quais suas relaes com a fala e o por-que dos erros que ocorrem no aprendizado;
? Planejar situaes que sirvam de padro ou modelo paraque a criana tenha parmetros de como pessoas madurasem termos de ler e escrever desempenham tais atividades;
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Selecionar a literatura que ser oferecida s crianas, levandoem considerao aspectos pragmticos, gramaticais e semn-ticos do texto;
? Planejar e desenvolver situaes que levem a uma real busca
de compreenso de textos e a uma postura reflexiva;
? Planejar e desenvolver situaes que levem ao desenvolvi-
mento de habilidades narrativas.
AUDIO ECONTROLEAMBIENTALDERUDOS? Criar programa de controle sistemtico da sade auditiva
dos alunos;
? Orientar sobre as condies favorveis que um ambiente
deve ter para que processos de ateno, de audio e demanuteno de interesse possam ser otimizados;
? Orientar sobre quais so as posturas comunicativas que
podem facilitar o processo de audio;
? Orientar sobre estratgias de apresentao-oratria e de re-
cursos que podem ser usados para garantir uma situao derecepo auditiva favorvel;
? Criar condies gerais para garantir um maior controle de
rudos em geral.
VOZ? Orientar sobre o uso adequado da voz e criar situaes que
evitem o abuso vocal quer por parte dos alunos, quer porparte dos professores;
? Desenvolver programa de treinamento vocal para profes-
sores, assim como tcnicas de apresentao.
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A COMPETNCIADOFONOAUDILOGO PARATRABALHARCOMPROBLEMASDAESCRITA
Em termos da aprendizagem da leitura e da escrita, tem sidopossvel observar que, por parte das escolas, uma das prin-cipais razes para encaminhamento de crianas tem sido as
dificuldades ortogrficas, genericamente chamadas de tro-cas de letras. Tomando este fato como ilustrativo da dis-cusso que se seguir, verifica-se que, via de regra, tais enca-minhamentos so realizados a partir de critrios da prpriaescola que pode optar por um profissional da fonoaudiologia,psicopedagogia e assim por diante. Em geral, parece quepredominam os encaminhamentos para psicopedagogos e
at mesmo, professores particulares, como se eles estives-sem mais afeitos a tal tipo de atendimento. Tal procedimen-to reflete uma viso de que, em geral, problemas relativos aprendizagem da leitura e da escrita encaixam-se melhor noperfil de outros profissionais, que no os fonoaudilogos,embora estes sejam os especialistas em distrbios da comu-nicao, oral e escrita.
Por sua vez existe, por parte dos fonoaudilogos, umaqueixa no sentido de que, com muita freqncia, outros pro-fissionais (incluindo os orientadores educacionais) no co-nhecem bem o perfil de atuao do fonoaudilogo e suaspossibilidades de trabalho frente aos problemas da lingua-gem escrita, o que acaba por limitar os encaminhamentos.Em razo destes fatos, rgos representativos da
Fonoaudiologia tm sido cobrados no sentido de que deve-riam fazer esclarecimentos, como se esta fosse a nica formade resolver tal tipo de problema. Entretanto, acima de tudo,
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devemos pensar no papel que cada fonoaudilogo desem-penha na formao de seu perfil profissional. Em outraspalavras, a atuao de cada um de ns, dentro dosparmetros legalmente definidos de nossa profisso, que irgerar uma imagem pblica, isto , que criar, para os outros,a impresso daquilo que somos e daquilo que podemos ouno fazer. Nossa ao define nossa competncia.
Dentro do contexto da atuao fonoaudiolgica frente s
dificuldades de aprendizado da lngua escrita, temos obser-vado, ao longo do tempo que, o prprio fonoaudilogo,muitas vezes, no tem claro, para si mesmo, suas reais possi-bilidades de trabalho. Surgem dvidas no sentido de que taisproblemas dizem respeito ao campo de atuao de carterpedaggico ou psicopedaggico, que ao trabalhar com pro-blemas de escrita o fonoaudilogo estaria confundindo seu
fazer com a atividade tipicamente de professor. Ora, se nsmesmos temos dvidas a respeito de nosso perfil, de nossaspossibilidades de ao, como podemos criticar as imagensdistorcidas que outros possam vir a ter da Fonoaudiologia?
Os argumentos que aqui sero expostos para discutiresta temtica caminharo em duas direes distintas e, aomesmo tempo, complementares: por um lado, a questo
da competncia legal e, por outro, a questo da compe-tncia tcnico-cientfica.
A COMPETNCIADOPONTODEVISTALEGAL
Vale a pena retomar os parmetros legais que definem nossa
profisso: O fonoaudilogo, de acordo com a lei 6965, de09 de dezembro de 1981, o profissional com graduaoplena em Fonoaudiologia, que atua empesquisa, preveno, avalia-
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o e terapia fonoaudiolgicas na rea da comunicao oral e escrita, voz e audi-
o, bem como em aperfeioamento dos padres de fala e da voz. Como podeser visto, tal perfil profissional configura, claramente, as ati-vidades e reas de atuao que definem o campo do fazerfonoaudiolgico.
As alteraes da linguagem escrita esto no campo dacomunicao escrita, sendo essa uma das reas, por exceln-cia, de atuao do fonoaudilogo no sentido da pesquisa,
preveno, avaliao e terapia. O fonoaudilogo o nicoprofissional reconhecido e legalmente habilitado para tra-balhar com distrbios da linguagem.
A COMPETNCIADOPONTODEVISTATCNICO-CIENTFICO
Aprender a ler e escrever no se restringe a uma tcnica deensino mas sim aquisio de uma nova modalidade de lin-guagem. Esto em jogo habilidades e conhecimentoslingsticos que vo desde o domnio da linguagem oral atas novas aprendizagens tpicas da lngua escrita. Isto querdizer que o desenvolvimento da leitura e da escrita vai mui-to alm de habilidades perceptivas, como a percepo visual
e auditiva, implicando conceitos de natureza metalingstica,ou seja, conhecimentos a respeito da prpria lngua. Numaviso atual, a leitura e a escrita so concebidas como proces-sos eminentemente lingsticos, assim como uma srie dedistrbios que possam dificultar tal desenvolvimento, como o caso da dislexia.
Voltando questo das chamadas trocas de letras (ou
de modo mais apropriado, alteraes ortogrficas), tem sidocomum observar uma forma generalizada de classific-lasem duas categorias amplas: trocas de origem auditiva e tro-
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cas de origem visual ou pedaggicas. Tal forma de dividir asalteraes ortogrficas comumente encontrada, inclusiveentre os fonoaudilogos. Desta viso deriva um conceitode que as trocas de origem auditiva devem ser tratadas apartir de uma estimulao da percepo auditiva enquan-to que as trocas visuais ou pedaggicas deveriam sercorrigidas a partir de estimulao da percepo visual edo ensino de regras pedaggicas.
Desta diviso entre auditivo e visual/ pedaggico tambmse desdobra a idia curiosa de quem deve tratar o que: se oproblema de natureza auditiva, o fonoaudilogo o pro-fissional indicado enquanto que, se o problema de nature-za visual/ pedaggica, outros profissionais parecem ser maisadequados. Entretanto, tal noo bastante comum, at mes-mo entre fonoaudilogos, necessita ser melhor explicitada e
se adequar aos conhecimentos que se tem, na atualidade, acer-ca do processo de aprendizado da escrita.
Vale a pena esclarecer que as escritas de natureza alfabti-ca, como o caso da escrita da lngua portuguesa, caracteri-zam-se por uma srie de relaes entre os sons da fala e asletras empregadas para represent-los. Em razo de tal na-tureza que envolve, ao mesmo tempo, ligaes entre fonemas
e letras, fica muito difcil falar em processos visuais por umlado e auditivos, por outro. A escrita implica, ao mesmo tem-po, relaes auditivas e visuais que no se restringem a habi-lidades perceptivas como memria e discriminao. Paraaprender a ler e a escrever, as crianas necessitam chegar noo de fonema, o que implica uma capacidade para anali-sar os sons da fala em suas unidades constituintes (conscin-
cia fonolgica); implica chegar noo de letra enquantosmbolo grfico que representa os sons; requer o estabeleci-mento de correspondncias entre letras e sons, que podem
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ser estveis quando um som representado por uma nicaletra ou por meio de representaes mltiplas, nos casos emque um mesmo som pode ser escrito por vrias letras ou,inversamente, uma mesma letra pode representar vrios sons.Aprender a escrita tambm implica em identificar, na fala, aseqncia dos fonemas e a posio de cada um, as quais irodeterminar a posio das letras dentro das palavras escritas.Aprender a escrever tambm significa compreender como
as slabas se compem, que caractersticas entonacionais elasapresentam. Implica tambm entender as variaes funda-mentais que existem entre os modos de falar (a pronnciadas palavras) e os modos de escrever, o que corresponde influncia da oralidade sobre os padres de escrita. Estasso capacidades de carter lingstico que esto na base doaprendizado da escrita e que, se no se desenvolverem, esta-
ro causando uma srie de alteraes de ordem ortogrfica,que vo muito alm de questes de ordem percetiva visualou auditiva.
Em sntese, mesmo limitando a discusso da escrita aoaspecto ortogrfico, vemos que tal rea (que causa muitasdvidas no fonoaudilogo em termos de sua possibilidadede atuao) de natureza fundamentalmente lingstica, im-
plicando processos de aprendizado de uma nova lngua, comrelaes estreitas com a oralidade e com conhecimentos deordem metalingstica. Reforando, estas so reas, por ex-celncia, de atuao do fonoaudilogo. Para finalizar, es-tenderia esta afirmao para as situaes nas quais estamospensando em estimular o desenvolvimento das crianasde uma forma geral, assim como, e especialmente, para as
situaes em que processos patolgicos possam estar afe-tando tal desenvolvimento.
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Como foi anteriormente enfatizado, nossa competncia definida pela nossa ao. Nesse sentido, o objetivo destecaptulo foi o de analisar questes relativas atuao doprofissional fonoaudilogo, tendo em vista valorizar talatuao e ampliar, ou mesmo consolidar, com seguranae dentro de prerrogativas legais, nosso campo de traba-lho. Certamente, novas questes sero levantadas e espe-ramos poder criar um espao para que elas apaream e
possam ser discutidas.
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CAPTULO 4
A IMPORTNCIA DA INTERAO ENTRE O
FONOAUDILOGO E A ESCOLA NO
ATENDIMENTO CLNICO
T has H elena Figueiredo Pellicciotti
Carmen S ilvia Cretella M icheletti
Uma das reas em que o fonoaudilogo pode encontraramplo campo para desenvolver seu trabalho a que envolvequestes relativas aprendizagem. Isto porque sua forma-o requer conhecimentos no s do desenvolvimento in-fantil em suas diversas reas (linguagem, emocional,cognitivo, psicomotor, motricidade oral) como tambm dasinabilidades, dificuldades e patologias que interferem sobre-
tudo na Comunicao. Sabemos da importncia da Comuni-cao na vida de qualquer pessoa, entendendo-se aqui o do-mnio da linguagem em todas as suas esferas e o quanto qual-quer alterao interfere na sociabilidade, no emocional esobretudo na aprendizagem.
Neste captulo procuramos focar a relao dofonoaudilogo com as escolas e suas implicaes, assim es-
taremos direcionando o olhar sobre crianas e jovens queapresentem algum grau de comprometimento na comunica-o oral e/ ou escrita e que estejam inseridos em um contex-
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to escolar. Consideramos aqui, indivduos numa ampla faixaetria, desde crianas bem pequenas (de 2 ou 3 anos de ida-de) at jovens adultos (19 a 23 anos aproximadamente), eque freqentem desde a pr-escola at a universidade ou cur-so profissionalizante. Para facilitarmos a exposio, no en-tanto, usaremos o termo criana genericamente, quando nosreferirmos a estes indivduos.
Nossa viso sobre o desenvolvimento da criana consi-
dera o indivduo por inteiro em sua constituio, com asso-ciao indissolvel das reas orgnica, emocional, cognitiva,linguagem, familiar e social, as quais interagemininterruptamente. Assim, a criana vista sempre como umser global e ativo, inserido em diferentes contextos (famlia,escola, sociedade) onde estabelece uma dialtica relacional eque reflete todas as suas aes.
Com este enfoque, no basta a abrangente formaodo fonoaudilogo, como torna-se obrigatria no s acompetncia profissional no atendimento, como tambm essencial a interao com a famlia, a escola e outrosprofissionais envolvidos.
Procuramos ser o mais genricas possvel, pensando emdiferentes contextos escolares e realidades sociais, porm
seremos parciais em algumas colocaes, j que nossa reali-dade e experincia em clnica fonoaudiolgica corresponde da capital de So Paulo. possvel que profissionais pro-fessores, fonoaudilogos, pedagogos, psiclogos, enfim, to-dos que trabalham em contexto educacional, em diferentesregies do Brasil, no tenham os mesmos recursos e esco-lhas e lidem com realidades diferentes, porm podero se
beneficiar de uma viso global como a que pretendemosapresentar, que os leve a uma reflexo e talvez a um novo
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posicionamento em suas prticas quando tratarem de suasrelaes com as escolas.
As questes das dificuldades na aprendizagem da Comu-nicao Oral e Escrita, em geral, embasam-se em estratgiasincompetentes da criana, e/ ou de sua famlia, e/ ou da es-cola, para suprir suas reas de fragilidade que todos nstemos acabando por eclodir sobre a criana, em funo desuas eventuais inabilidades, dificuldades e patologias, tem-
porrias ou no, em aspectos que so fundamentais para odesenvolvimento, tais como: linguagem, cognio, percep-o, aspectos psicomotores e da motricidade oral e aspec-tos psicolgicos, familiares e sociais.
Evidentemente, dentro destas consideraes, temos quelevar em conta as diferenas individuais, sejam elas referen-tes ao maior ou menor grau de comprometimento com
predominncia de reas organicamente afetadas ou seria-mente comprometidas, como por exemplo alguns casosde deficincia auditiva, mental, paralisias cerebral, viso sub-normal, afasias, psicoses etc. ou comprometimentos predo-minantes em reas da linguagem, cognitiva, afetiva-emocio-nal, pedaggica e social. De qualquer forma, nosso objeti-vo possibilitar ao indivduo o mximo de experincias
significativas que o levem a criar um conhecimento sobreseus prprios recursos, generalizando-os, de modo a tor-nar-se mais competente.
So vrios os caminhos possveis para uma criana esua famlia chegarem ao fonoaudilogo. As idades podemser as mais variadas e as famlias ou a prpria criana apre-sentarem expectativas diversas no momento de procurar
o profissional.As crianas pequenas normalmente so encaminhadas por
outros profissionais e em alguns casos tambm pelas esco-
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las. No entanto, as crianas mais velhas e os adolescentesmuito freqentemente so encaminhados pelas escolas.
As escolas representam um local privilegiado de precoceobservao e identificao de crianas que mostram algumcomprometimento em sua aprendizagem ou sociabilidade.Geralmente na escola que as dificuldades se evidenciam eos problemas eclodem. Por isso mesmo, algumas escolaspossuem e outras deveriam se preocupar em ter, um sistema
eficiente de identificao destas crianas e jovens, paraencaminh-las o mais precocemente possvel, prevenindo ouamenizando um quadro que se esboa, favorecendo assimuma interveno antes que se instale a idia, na criana e emseu contexto, de ser um fracassado escolar e se configureuma situao mais difcil de reverter.
Ao recebermos a criana e sua famlia, vamos buscar den-
tro de um processo diagnstico a histria de aprendizagemdeste indivduo sob diferentes pontos de vista: famlia, es-cola, outros profission