CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL
GERMANA SILVA DOS SANTOS VASCONCELOS
OS DESAFIOS NO FUNCIONAMENTO DOS
CONSELHOS TUTELARES DE FORTALEZA/CEARÁ-
SOB A ÓTICA DOS CONSELHEIROS TUTELARES
Fortaleza
2014
GERMANA SILVA DOS SANTOS VASCONCELOS
OS DESAFIOS NO FUNCIONAMENTO DOS
CONSELHOS TUTELARES DE FORTALEZA/ CEARÁ-
SOB A ÓTICA DOS CONSELHEIROS TUTELARES
Monografia apresentada ao curso de
graduação em Serviço Social da Faculdade
Cearense – FAC, como requisito para
obtenção do título de bacharelado.
Orientadora: Profª Ms. Valney Rocha Maciel
Fortaleza
2014
Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
.
V331d Vasconcelos, Germana Silva dos Santos
Os desafios no funcionamento dos Conselhos tutelares de
Fortaleza/Ceará – Sob a ótica dos conselheiros tutelares /
Germana Silva dos Santos Vasconcelos. Fortaleza – 2014.
93f. Orientador: Profª. Ms. Valney Rocha Maciel.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade
Cearense, Curso de Serviço Social, 2014.
1. Direitos da criança e do adolescente – Direito Social. 2.
Conselho Tutelar – Desafios. 3. Controle social – Participação
popular. I. Maciel, Valney Rocha. II. Título
CDU 364:37
GERMANA SILVA DOS SANTOS VASCONCELOS
OS DESAFIOS NO FUNCIONAMENTO DOS
CONSELHOS TUTELARES DE FORTALEZA/ CEARÁ-
SOB A ÓTICA DOS CONSELHEIROS TUTELARES
Monografia como pré-requisito para
obtenção do título de bacharelado em
Serviço Social, outorgado pela
Faculdade Cearense- FAC, tendo sido
aprovada pela banca examinadora
composta pelos professores.
Data de Aprovação: 17/07/2014
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________
Profª. Ms Valney Rocha Maciel (Orientadora)
______________________________________________________
Profª. Ms Rubia Cristina Martins Gonçalves
________________________________________________________
Profª. Ms Mariana de Albuquerque Dias Aderaldo
DEDICATÓRIA
DEDICO este trabalho aos meus pais, ao meu marido e ao meu filho.
Pai e Mãe, quero neste momento, agradecer-lhes primeiramente por terem me
dado a vida, pelo amor que sempre me dedicaram e por me proporcionarem a
riqueza do estudo. Obrigada pela confiança que sempre depositaram em mim.
Mãe, você colaborou em todos os momentos com palavras de incentivo, sempre
entusiasmada com a construção da minha vida profissional. Pai, o seu significado
neste trabalho é impossível descrever, pois a realização deste sonho, mais que
nunca, é uma vitória sua. Ao meu filho e ao meu marido, pessoas indispensáveis
nesta realização, pois me acompanharam dia a dia nessa caminhada, acreditando
na minha capacidade e me doando forças nos momentos de desânimo; grandes
amores da minha vida, dedico a vocês também esta vitória.
AGRADECIMENTOS
Neste momento de felicidades e realização pessoal e profissional, é quase
impossível agradecer a todos aqueles, que não foram poucos, que contribuíram
de alguma forma com minha conquista.
Portanto, em primeiro lugar agradeço a Deus, ser iluminado, que está presente
todos os dias de minha vida, dando-me força para a realização dos meus sonhos.
A minha mestra, Valney Rocha, professora orientadora, que me doou
ensinamentos e caminhou comigo passo a passo na realização deste trabalho,
sempre me incentivando, me escutando; mostrou-se um exemplo de pessoa e de
profissional que vou levar para minha vida. Muito obrigada por ter abraçado minha
causa.
Aos meus pais, Eudes Santos e Adriana Silva, que amo muito. Agradeço de
forma grandiosa por tudo, por serem pessoas iluminadas na minha vida, pois sem
eles nada aconteceria. São meus exemplos de vida, que me incentivaram a seguir
em frente e chegar a esta etapa de minha vida.
Ao meu marido, Emmanuel Vasconcelos, pessoa que está sempre ao meu lado,
compartilhando amor, tristezas e alegrias; agradeço por tudo, principalmente pela
compreensão aos momentos em que não pude estar com vocês e dar-lhes
atenção. Meu maior incentivador, que me cobrou quando necessário e que me
acolheu nos momentos em que achava que não iria conseguir. Muito obrigada
pelo apoio nos momentos decisivos neste trabalho.
Ao meu filho, Robert Silva, meu presente de Deus e amor da minha vida.
Agradeço, meu filho, por você ficar do meu lado e entender minha ausência em
alguns momentos, por entender as luzes acesas nas madrugadas em que fiquei
acordada fazendo este trabalho. Não me abandonou nunca. Obrigada, filho, você
soube da sua forma contribuir para que eu finalizasse esta etapa de minha vida.
Aos meus irmãos, Gerlane Silva e Jefferson Silva, e aos meus queridos
sobrinhos, Mayara Santos, Matheus Santos e Erik Santos; meus incentivadores
de alegrias. Pessoas essenciais nesta caminhada. Amo muito vocês.
Aos meus amigos Bruno Fernandes e Aline Souza, que muito torceram pelo meu
crescimento profissional, sempre me apoiando e incentivando. Meu carinho e meu
muito obrigada por tudo!
Aos meus colegas Conselheiros Tutelares que, de diferentes maneiras,
contribuíram para a realização deste trabalho, e especialmente os colegas e
amigos Marlene Bezerra e Marcos Paulo Cavalcante, que me acompanharam e
ajudaram ao longo desses quatro anos, na árdua tarefa que é ser Conselheira
Tutelar.
Aos funcionários e amigos do Conselho Tutelar, que não mediram esforços para
me ajudar na coleta de dados para pesquisa.
Aos meus colegas de sala, que sempre me ajudaram nos trabalhos de equipe.
Aos professores da banca, pelo acolhimento e disponibilidade sempre generosa.
De forma geral, aos amigos e colegas que me ajudaram a transformar um projeto
em realidade.
"Só sabe o valor do ECA
Quem vivia a perecer
À busca de um auxílio
Pra poder se defender
Sem ele o público em questão
Vivia sem solução
Sem saber o que fazer.”
(Trecho do ECA em cordel, de Manoel Messias Belizário Neto)
RESUMO
O presente trabalho versa sobre os direitos da criança e do adolescente,
tendo como foco a análise dos desafios no funcionamento dos Conselhos
Tutelares da cidade de Fortaleza, como órgão protetor e garantidor de direitos
desse segmento; essa análise será realizada sob a ótica dos Conselheiros
Tutelares. O estudo será desenvolvido a partir da análise da evolução histórica
das legislações que interpretava esse público como objetos de proteção até as
bases para atual legislação que os vê como sujeitos de direitos, assim analisando
o processo de construção dos direitos da criança e do adolescente através do
ECA. Prossegue com a análise destacando o surgimento e o papel do Conselho
Tutelar e a discussão das categorias, à luz de alguns autores que analisam esse
órgão como espaço de participação social, de controle Social e base de garantia
de direitos sociais, por meio da pesquisa empírica, serão examinados nos
expedientes dos Conselhos Tutelares suas dificuldades e desafios. Buscando a
partir do estudo, constar que as violações de direitos não decorrem somente de
um único plano, o da família, pois esta, muitas vezes, também é vítima do sistema
estatal. Percebemos de um modo geral que esses desafios podem ser pontuados
da seguinte forma: O número reduzido de conselheiros tutelares; Deficiência da
rede de proteção; Faltam políticas públicas para criança e adolescente;
Terceirização dos profissionais de apoio administrativo e técnico; Falta de
formação continuada para todos os profissionais; Infraestrutura dos conselhos
fragilizada. Com isso busca-se demonstrar o quanto são necessárias a
qualificação e estruturação de melhores condições de trabalho no Conselho
Tutelar.
Palavras-chave: Direitos da Criança e do Adolescente; Conselho Tutelar;
Desafios; Direitos Sociais; Controle Social; Participação popular.
ABSTRACT
The present work deals with the rights of children and adolescents,
focusing on the analysis of the challenges in the operation of the Guardianship
Councils of the city of Fortaleza, as protector and guarantor of national rights in
this segment, this analysis will be performed from the perspective of Directors
Guardianship . The study will be developed from the analysis of the historical
evolution of laws that interpreted this audience as objects of protection until the
foundation for current legislation which sees them as subjects of rights, thus
analyzing the process of building the rights of children and adolescents through
ECA. Proceeds with the analysis highlighting the emergence and role of the
Guardian Council and the discussion of the categories, the light of some authors
discusses this body as a space for social participation, social control and basis for
securing social rights, through empirical research will be examined in the
expedients of Guardianship Councils difficulties and challenges. Searching from
the study, noted that the violations of rights does not derive only from a single
plane, the family, as this often is also a victim of the state system. Generally
realized that these challenges can be scored as follows: The small number of
council members; Deficiency protection network; Lack public policies for children
and adolescents; Outsourcing of professional, administrative and technical
support; Lack of continuous training for all professionals; Fragile infrastructure of
advice. Thus we seek to demonstrate how the qualification is required and
structuring better working conditions in the Guardian Council.
Keywords: Rights of Children and Adolescents; Guardian Council; Challenges;
Social Rights; Social Control; Popular participation.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CAPS – Centro de Atenção Psicossocial
CEDCA- Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente
CEDECA- Centro de Defesa da Criança e do Adolescente
CF – Constituição Federal
COMDICA- Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente
CONANDA- Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
CRAS- Centro de Referência de Assistência Social
CREAS- Centro de Referência Especializado de Assistência Social
CT- Conselho Tutelar
DCA- Delegacia da Criança e do Adolescente
DCECA- Delegacia de Combate à Exploração sexual de Criança e Adolescente
DDH- Disque Direitos Humanos
DDM- Delegacia de Defesa da Mulher
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
FEBENS - Fundações Estaduais do Bem-estar do menor
FMCA- Fundo Municipal da Criança e do Adolescente
FUNCI- Fundação da Criança e da Família Cidadã
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
SCDH- Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos
SDH-PR- Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
SER - Secretaria Executiva Regional
SGD- Sistema de Garantia de Direitos
SIPIA- Sistema de Informação para a Infância e Adolescência
STDS - Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social
PPCAAM- Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de
Morte
UECE- Universidade Estadual do Ceará
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...............................................................................................................14
1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................18
1.1 Aproximação com o tema.........................................................................................18
1.2 Metodologia..............................................................................................................19
1.3 Campo da pesquisa - os Conselhos Tutelares de Fortaleza....................................22
1.4 Perfil dos sujeitos da pesquisa.................................................................................27
2. AS BASES DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E O
SURGIMENTO DO CONSELHO TUTELAR: DISCUTINDO ESSE ESPAÇO DE
PARTICIPAÇÃO POPULAR, CONTROLE SOCIAL E EFETIVAÇÃO DE DIREITOS
SOCIAIS ........................................................................................................................32
2.1 Os Paradigmas de Proteção que antecederam o atual cenário...............................32
2.2 Os Conselhos de Direitos. .......................................................................................39
2.3 O Conselho Tutelar. .................................................................................................45
2.3.1 Atribuições do Conselho Tutelar ...........................................................................46
2.3.2 As competências dos conselheiros ......................................................................49
2.3.3 Processo de escolha dos conselheiros Tutelares ................................................50
2.4 Conselho Tutelar como espaço de Participação popular, Controle Social e Garantia
de Direitos Sociais..........................................................................................................52
2.4.1 Participação popular .............................................................................................52
2.4.2 Controle Social .....................................................................................................55
2.4.3 Direitos Sociais......................................................................................................58
3. CONSELHO TUTELAR NA PRÁTICA, SOB A ÓTICA DOS CONSELHEIROS
TUTELARES: POSSIBILIDADES E LIMITES UM DESAFIO CONSTANTE NO
FUNCIONAMENTO DO ÓRGÃO ..................................................................................61
3.1 Definição de Conselho Tutelar e análise da atuação dos Conselheiros Tutelares,
segundo os entrevistados.....................................................................................................61
3.2 Avaliação dos principais protagonistas sobre o processo Municipal de escolha dos
conselheiros tutelares.....................................................................................................63
3.3 Quais as denúncias de violações de direitos mais recebidas e a percepção dos
conselheiros sobre o papel do Estado e da família na luta contra as violações de
direitos das crianças e adolescentes..............................................................................64
3.4 Mudanças nos conselhos tutelas de Fortaleza nesse último mandato ..................67
3.5 Desafios enfrentados pelos conselhos tutelares de Fortaleza para implementação
do ECA e exercício de sua função.................................................................................69
3.6 O que pensam os conselheiros sobre o plantão do Conselho
Tutelar ...........................................................................................................................73
3.7 Prioridades pontuadas pelos conselheiros, para um adequado funcionamento dos
Conselhos Tutelares de Fortaleza .................................................................................75
CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................79
REFERÊNCIAS .............................................................................................................86
APÊNDICES...................................................................................................................90
14
INTRODUÇÃO
As políticas públicas voltadas para a garantia dos direitos de crianças e
adolescentes no Brasil são recentes. Na trajetória histórica de defesa dos direitos
desse segmento, aparecem três paradigmas de proteção: assistência caritativa,
filantropia e proteção integral. Inicialmente a assistência caritativa, onde o Estado
não intervém, e os pais eram responsáveis pela proteção e punição dos filhos,
quando esses não queriam assumir suas responsabilidades, as instituições
acolhiam as crianças e adolescentes abandonados e estes formavam a roda dos
expostos.
No segundo modelo, a filantropia substitui a caridade, nessa época o
Estado passou a regular a vida das crianças e adolescentes, através de leis e
normas, instituindo a doutrina da situação irregular, com o código de menores,
que considerava esse segmento como objetos de proteção e controle.
Para adequar-se à Convenção Internacional dos Direitos da Criança, que
reconheceu as crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, foi instituído o
terceiro paradigma que vivemos hoje, foi introduzido inicialmente na Constituição
Federal de 1988, e regulamentado na lei 8.069 de 1990, o Estatuto da Criança e
do Adolescente-ECA.
O ECA representa uma política de proteção de atendimento integral aos
direitos da criança e do adolescente; essa política segue o princípio da
democracia participativa, definindo que as responsabilidades devem ser
compartilhadas.
Compartilhar responsabilidades significa organizar as atribuições
necessárias á realização de uma tarefa distribuindo-as de forma
diferente, mas com igual compromisso, aos diversos atores da vida
social. Assim, a família, a sociedade e o Estado têm responsabilidades
conjuntas [...] ainda que suas atribuições, nessa responsabilidades,
sejam diferentes. Ao compartilharem suas responsabilidades, cada um
dos atores precisa cumprir o que lhe é atribuído e também acompanhar
— articulando, controlando, avaliando e reivindicando- o exercício efetivo
das atribuições dos demais. (BRASIL, 2002, p. 61)
Para isso o ECA ordena a criação de mecanismos e espaços públicos que
garantem a intervenção e participação ativa e direta da sociedade, no controle
15
social das ações públicas e efetivação dos direitos sociais para esse segmento.
Surgem então os Conselhos de Direitos e Conselhos Tutelares
Os Conselhos de Direitos são espaços de discussão, de composição
paritária entre governo e sociedade civil para, de forma democrática, entre outras
competências, definir e deliberar políticas públicas para crianças e adolescentes.
O Conselho Tutelar, objeto de estudo desta investigação, é um órgão
colegiado formado por cinco conselheiros, escolhidos pela sociedade para zelar
pela efetivação dos direitos das crianças e adolescentes, atuando sempre que
esses direitos sejam ameaçados ou violados. Vale ressaltar que em alguns casos
são aplicados às medidas de proteção ou medidas pertinentes aos pais ou
responsáveis.
O Conselheiro Tutelar para desenvolver tais atribuições, necessita de uma
infraestrutura completa, como: espaço privativo e adequado para atendimento,
equipamentos, profissionais qualificados e uma rede de retaguarda para o
exercício e funcionamento adequado do órgão.
É possível acompanhar, frequentemente, as reivindicações dos
conselheiros tutelares por melhores condições de trabalho, nas redes de
comunicação social da cidade. De acordo com a lei 9.843 de 11 de novembro de
2011, que rege a organização e funcionamento dos Conselhos Tutelares.
Art. 2 § - o poder Executivo providenciará todas as condições
necessárias para o adequado funcionamento dos Conselhos Tutelares,
assegurando-lhes tanto local de trabalho privativo que possibilite o
atendimento seguro e sigiloso, bem como equipamentos, material e
pessoal necessários para o apoio administrativo de forma padronizada.
A presente pesquisa tem como objetivo geral investigar quais os
desafios no funcionamento dos conselhos tutelares de Fortaleza, sob a ótica dos
conselheiros tutelares. E os objetivos específicos da pesquisa foram: a) Traçar o
perfil dos sujeitos da pesquisa, conhecer os motivos que os levaram a serem
candidatos a membro do Conselho Tutelar e qual a experiência na defesa dos
direitos de crianças e adolescentes; b) Pesquisar a dinâmica de funcionamento do
Conselho Tutelar; c) Identificar quais e problemas que os conselheiros enfrentam
no seu dia a dia para o exercício adequado de sua função d) Mostrar as
contradições, diferentes visões, influenciadas pela política partidária, que rodeiam
a realidade vivenciada pelos Conselhos Tutelares de Fortaleza.
16
As motivações que impulsionaram a pesquisadora a investigar sobre os
desafios do Conselho Tutelar estão relacionadas à sua vivencia como conselheira
tutelar de Fortaleza há cinco anos, sua prática profissional do dia a dia, e
enfrentamento aos desafios para desenvolver suas atribuições conferidas no
ECA, ou seja, a efetivação e garantia dos diretos das crianças e adolescentes
desta capital; influenciaram também na escolha do objeto em estudo as reuniões
de colegiado do Conselho Tutelar, que mostravam superficialmente as
dificuldades enfrentadas pelos colegas, o que instigou a necessidade de observar
de perto cada equipamento.
Para a realização deste trabalho foi feita uma pesquisa bibliográfica, com o
objetivo de adquirir conhecimento do contexto histórico dos paradigmas de
proteção jurídico social que antecederam a atual legislação, para isso discutimos
com Freyre ( 2005), Basto (2006), Freitas (2011) e Simões (2011).
À luz de alguns autores, estudamos as categorias, consideradas aqui como
bases fundamentais do Conselho Tutelar. Para discutirmos a categoria
participação popular, lemos Nogueira (2004), Freire (2007), Campos e Maciel
(1997), Meirelles (2005). Na categoria controle social discutimos com Carvalho
(1995), Machado (2004), Rodrigues e Azzi (2007), Raichelles (1998). Por fim a
categoria; direitos sociais nos reportamos, a Bobbio (2004), Carvalho (2008),
Couto (2010) e Telles (1999).
Conjuntamente foi realizada a pesquisa documental, para conhecer e
apreciar a criação dos mecanismos da política de proteção integral, nos
deportamos à Constituição Federal (1988), ao documento da Convenção sobre os
direitos da criança (1989) e ao ECA (1990), bem como a leis e resoluções que
deram origem e regem a organização e funcionamento dos conselhos de direitos
e Conselhos Tutelares de Fortaleza.
Essas etapas da investigação tiveram inicio durante a disciplina de
fundamentos de Trabalho de Conclusão de Curso, no decorrer de um semestre,
de julho a dezembro de 2013.
A pesquisa de campo foi realizada no período de Abril e Maio de 2014,
17
através de visita aos seis Conselho Tutelares, com a devida permissão e
assinatura do termo de consentimento, foram aplicados questionários e
entrevistas semiestruturadas, com um conselheiro representando cada
equipamento.
Este trabalho foi dividido em três capítulos: primeiro capitulo, intitulado
"Procedimentos Metodológicos" propomos discorrer sobre as motivações e
envolvimento com o tema, a metodologia da pesquisa, apresentamos o campo da
pesquisa, que são os Conselhos Tutelares de Fortaleza e, em seguida, o perfil
dos sujeitos da pesquisa, bem como o que os levou a ser conselheiros e sua
trajetória de vida na defesa dos direitos de criança e adolescentes.
No segundo capitulo, "As bases do Estatuto da criança e do
adolescente e o surgimento do Conselho Tutelar: discutindo esse espaço de
participação popular, controle social e efetivação de direitos sociais" versa
sobre uma discussão teórica do contexto histórico dos paradigmas de proteção à
criança e ao adolescente, que antecederam o atual cenário. Apresentamos
também os Conselhos de Direitos em nível nacional, estadual e municipal e o
Conselho Tutelar, expondo as atribuições, as competências e o processo de
escolha dos conselheiros. Por fim são apresentadas algumas considerações
teóricas, sobre as categorias: participação popular, controle social e garantia de
direitos sociais.
O terceiro e ultimo capitulo, nomeado "Conselho Tutelar na pratica, sob
a ótica dos conselheiros tutelares: possibilidades e limites um desafio
constante" traz a analise dos significados do Conselho Tutelar, da atuação dos
conselheiros; uma avaliação do processo municipal de escolha; a percepção dos
conselheiros sobre o papel do Estado e da família na luta contra as violações de
direitos das crianças e adolescentes; quais as, ultimas mudanças nos conselhos
tutelas de Fortaleza; os desafios enfrentados pelos conselhos tutelares para o
exercício de sua função; O que pensam os conselheiros sobre o plantão do
Conselho Tutelar; e prioridades para os Conselhos Tutelares de Fortaleza na
percepção dos conselheiros. Concluindo, descrevemos as considerações finais
acerca da pesquisa, na percepção da pesquisadora.
18
1. Procedimentos Metodológicos
1.1 Aproximação com o tema
A pesquisadora é pedagoga, até 2007 trabalhava como professora de
educação infantil e participava de um projeto com crianças em uma associação de
moradores, a comunidade bastante carente sempre enfrentou dificuldades para
garantir os direitos das crianças e adolescentes, o desejo de fazer algo para
garantir os direitos desse segmento, foi fundamental para a pesquisadora ser
candidata à conselheira tutelar do Município de Fortaleza, em 2008, foi eleita pela
primeira vez.
Atualmente está exercendo seu segundo mandato, lotada na Secretaria
Executiva Regional- SER III; no dia a dia do conselho tutelar há muitas
dificuldades de atender de imediato as demandas, por diversos motivos, pois
diariamente chegam inúmeras denúncias de escolas, hospitais, Centro de
Referência de Assistência Social - CRAS, Centro de Referência Especializado de
Assistência Social - CREAS, Centro de Atenção Psicossocial - CAPS, Disque
Direitos Humanos - DDH, DISQUE 100, por telefone e demanda espontânea que
chegam a quinze por dia.
Um dos motivos está na resolução nº 75 de 22 de outubro de 2011, do
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA define
que o número necessário de Conselhos Tutelares de uma cidade depende de seu
número de habitantes, sendo um conselho para cada cem mil habitantes e isso
não é obedecido em Fortaleza, como a capital tem uma população de 2.551.806
habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística-IBGE,
chegando a uma margem de 408.698, população por conselho; o recomendado
era contar com no mínimo 25 Conselhos Tutelares.
Posso citar também, apesar de muitos avanços na defesa dos direitos da
criança e do adolescente nacionalmente, a falta de políticas públicas eficazes e a
falta de estrutura do órgão, pois quando recebemos um caso de emergência,
frequentemente nos faltam condições para realizar o atendimento,
encaminhamento e acompanhamento adequado, falta vaga em instituições de
19
acolhimento, faltam programas e projetos sociais.
Por ser um espaço público e de controle social, chegam ao Conselho
Tutelar demandas de responsabilidade de outros órgãos, ou seja, que não são de
competência do conselho, como casos: de habitação, de segurança, de saúde, de
educação, de transporte, violência contra idosos e deficientes, etc., que deveriam
ser analisados e encaminhados por profissionais especializados, que teriam a
sensibilidade de fazer a investigação e intervenção, orientar e defender os direitos
sociais da família por completo; percebe-se que muitas pessoas não têm seus
direitos garantidos por falta de informação e orientação.
Como diz Velho (1978) "o fato de dois indivíduos pertencerem a mesma
sociedade não significa que estejam mais próximos do que se fossem de
sociedades diferentes, porém aproximados por preferências, gostos" (VELHO,
1978, p.38) Por isso quero conhecer a realidade, dificuldades e as percepções
dos colegas conselheiros tutelares acerca dos desafios no funcionamento dos
conselhos tutelares do município de Fortaleza, tendo em vista, que nas reuniões
de colegiado percebo que cada conselheiro tem uma visão diferenciada acerca
das dificuldades, razões e meios de solucionar os problemas enfrentados, ou
seja, possibilidades de garantir um adequado funcionamento e consequentemente
a efetivação dos direitos das crianças e dos adolescentes do nosso município.
1.2 Metodologia
Por tratar-se de uma aproximação com a dinâmica de funcionamento dos
Conselhos Tutelares de Fortaleza, com foco nos desafios e sua realidade
estrutural, uma análise especificamente sob a ótica dos conselheiros tutelares,
será realizada uma pesquisa de natureza qualitativa, pois como diz Queiroz "as
técnicas qualitativas procuram captar a maneira de ser do objeto pesquisado, isto
é, tudo o que o diferencia dos demais" (QUEIROZ, 1999, p.17).
O método escolhido está relacionado ao objetivo a ser alcançado, ou seja,
a investigação dos desafios tentando compreender as dificuldades, os
significados, os motivos, sendo assim, por intermédio da pesquisa qualitativa foi
possível observar os significados dos relatos das entrevistas e analisar conforme
20
a realidade em que esses sujeitos estão inseridos, dados que não podem ser
quantificados, como diz Minayo,
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se
ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou
não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos
significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e
das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui
como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só
por agir, mas pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro
e a partir da realidade vivida e partilha com seus semelhantes. O
universo da produção humana que pode ser resumido no mundo das
relações, das representações e da intencionalidade e é objeto da
pesquisa qualitativa dificilmente pode ser traduzido em número e
indicadores quantitativos. (MINAYO, 2012, p.21)
Sobre a pesquisa qualitativa Queiroz (1999) afirma que,
A qualidade, composta pelos aspectos sensíveis de uma coisa ou de um
fenômeno naquilo que a percepção pode captar, constitui assim o que é
fundamental em qualquer estudo ou pesquisa, pois é o ponto de partida
para qualquer deles. (QUEIROZ, 1999, p.15)
Para a realização desta pesquisa foi feita uma pesquisa bibliográfica,
Conforme MINAYO:
O pesquisador que assumir tal objeto de pesquisa deve partir para uma
busca bibliográfica sobre cada uma das expressões citadas e trabalhá-la
historicamente, com as divergências e convergências teóricas, para só
depois colocar sua posição e suas hipóteses. (MINAYO, 2010, p.20)
A fim de compreender melhor a história das políticas públicas para
infância e juventude, e uma análise do Conselho Tutelar como espaço de
participação popular, espaço de controle social e espaço de base da garantia dos
diretos sociais. Como afirma Gondim (1999),
"Contudo, a preparação de um bom projeto de pesquisa requer um
volume razoável de leituras, capaz de subsidiar uma revisão de literatura
que dê conta dos principais autores que estudam o tema, tanto em
21
termos teóricos, como empíricos". (GONDIM, ano, p. 32)
Uma ampla pesquisa documental, com o objetivo de adquirir conhecimento
sobre as leis municipais que deram origem e regem o funcionamento dos
Conselhos Tutelares de Fortaleza e as resoluções do Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente ─ COMDICA, que regem e acompanha o
funcionamento desse órgão.
Por fim, a pesquisa de campo, pois segundo Velho (1999),
"A observação participante, a entrevista aberta, o contato direto, pessoal,
com o universo investigado constituem sua marca registrada. Insiste-se
na ideia de que para conhecer certas áreas ou dimensões de uma
sociedade é necessário um contato. Uma vivência durante um período
de um tempo razoavelmente longo, pois existem aspectos de uma
cultura de uma sociedade que não são explicitados, que não aparecem à
superfície e que exigem um esforço maior, mais detalhado e
aprofundado de observação e empatia. (VELHO, 1999, p. 123-124)
Cada Conselho Tutelar é composto por cinco conselheiros, totalizando trinta
conselheiros em Fortaleza dos quais a intenção era entrevistar seis, um de cada
equipamento, mas devido à agenda dos convidados do Conselho V, isso não foi
possível a tempo, por esse motivo entrevistei cinco conselheiros, que
representaram seus respectivos locais de trabalho, durante o mês de maio,
realizei visitas institucionais, de acordo com o tempo disponível de cada
conselheiro e dos equipamentos, pois três conselhos passam por reformas
estruturais.
O cenário da pesquisa foram os cinco Conselhos Tutelares, localizados nos
bairros: Otávio Bonfim, Mucuripe, João XXIII, Serrinha e Dias Macedo. Locais
onde realizei de forma organizada, o que Oliveira (2000) descreve como
faculdades do entendimento sociocultural: a percepção e o pensamento, pois para
Oliveira,
“o olhar e o ouvir constituem a nossa a percepção da realidade
focalizada na pesquisa empírica, o escrever passa a ser parte quase
indissociável do nosso pensamento, uma vez que o ato de escrever é
22
simultâneo ao ato de pensar." (OLIVEIRA, 2000, p.31-32)
Usamos como critério para atingir nossos objetivos a marcação das
entrevistas com 50% dos entrevistados que apoiam a atual gestão municipal, e
com 50% de conselheiros que criticam esse modelo de administração, nestas
oportunidades com a devida permissão de acordo com a assinatura dos termos
de consentimento livre e esclarecido, aplicamos questionários e entrevistas
semiestruturadas.
Foram abordadas questões que englobam a realidade dos sujeitos
entrevistados, com o objetivo de conhecer o perfil dos entrevistados, qual a sua
trajetória na defesa dos direitos das crianças e adolescentes, conhecer sobre a
dinâmica do seu dia a dia como conselheiro tutelar e suas percepções quanto aos
desafios postos na sua atuação diária na garantia de direitos de crianças e
adolescentes.
O registro de informações foi realizado através do uso de um gravador e
com anotações. Logo após, as entrevistas foram transcritas. E a partir destes
registros é que foi possível compreender as percepções de cada sujeito e fazer as
devidas análises finalizando com uma comparação entre a realidade
pesquisada e as informações do levantamento bibliográfico e documental.
1.3 Campo da pesquisa ─ os Conselhos Tutelares de Fortaleza
A Prefeitura Municipal de Fortaleza organiza sua administração de forma
descentralizada, possuindo sete Secretarias Executivas Regionais, onde nas seis
primeiras estão localizados os conselhos tutelares do município. A última,
nomeada como regional do centro da cidade, não tem a mesma função que as
demais.
Em Fortaleza a implantação do primeiro Conselho Tutelar aconteceu em 12
de maio de 1994, com lei 7.526, de acordo com os artigos 131 a 140, do ECA, o
município iniciou apenas com um equipamento, na área de abrangência da
Secretaria Executiva Regional I. Na publicação do município, sobre o resgate da
trajetória do COMDICA (2010) Isabel Lopes, gestora da FUNCI na época,
relembra que:
23
"Foi um marco importantíssimo perceber uma instância do COMDICA
dando suporte para a área da infância a um grupo de pessoas que foram
escolhidas, votadas, e que pudesse estar ouvindo e representando a
sociedade no momento dos conflitos, das proposições. Esse foi
realmente um marco, trabalhávamos até duas horas da manhã. As
eleições foram um processo de aprendizagem muito grande, porque era
a mesma estrutura de uma eleição acrescida da boa vontade das
pessoas de ter esse espaço. Foi um momento de muita doação e muito
marcante em Fortaleza. Para a montagem desse Conselho foi um
verdadeiro parto, conseguir suporte financeiro e técnico, uma construção
muito difícil. As pessoas não entendiam todo aquele novo movimento.
Foi um desafio, mas um desafio bom, onde podemos ver nascer cada
conselho. As primeiras eleições eram muito pela capacidade
técnica." (p.64)
Os primeiros conselheiros eleitos de Fortaleza foram: Luiz Narciso Coelho
de Oliveira, José das Graças Costa e Silva, Maria Jose Vieira Dantas, Cicero
Venâncio dos Santos e Tancredo Sá Bandeira, empossados em 30 de junho de
1995.
Passou-se quatro anos para a criação do segundo conselho tutelar, este foi
criado pelo Decreto Nº. 10.465, de 21 de janeiro de 1999, esse conselho ficou
localizado na SER V. No ano seguinte uma Resolução do COMDICA nº. 31, de
2000, conforme a Lei 10.886 de 16 de outubro de 2000 dispõe sobre a criação do
terceiro conselho tutelar, que passou a atuar na SER IV. Mais dois conselhos
foram criados pelo Decreto Nº 10.989, de 02 de julho de 2001, passando a atuar
nas SER III e VI. O sexto conselho foi criado em 2003 conforme a Lei 8.775 de 09
de outubro de 2003, para cobertura da SER II.
Atualmente contamos com seis Conselhos Tutelares no Município,
localizados nos bairros: Otavio Bomfim, Mucuripe, João XXII, Serrinha, Conjunto
Ceará e Dias Macedo, pertencentes a seis Secretarias Executivas Regionais.
No âmbito municipal, a lei de criação já foi reformulada por várias vezes, a
primeira foi em 09 de setembro de 2003, com lei n° 8.775, sofreu alterações nos
artigos 3º, 4º e 5º. Dispondo sobre a organização e funcionamento dos Conselhos
Tutelares.
24
A Lei Municipal Nº. 8775, de 2003, altera a lei anterior e estabelece que o
CT funcione em 02 (dois) turnos, em uma jornada de 08 (oito) horas diárias, e em
regime de plantão de 12 (doze) horas. O plantão do Conselho Tutelar funciona na
sede do Conselho Tutelar I, no período noturno de 19h às 07h da manhã, aos
sábados domingos e feriados de 07h às 19 horas, com uma equipe composta por
dois conselheiros, dois educadores e um motorista, somente no período tem um
vigilante para o equipamento.
Em 06 de dezembro de 2007, a lei nº 9.315 alterou a redação do § 4º do
artigo 10 da lei 8.775, dispondo da organização e funcionamento dos Conselhos
Tutelares. Em 11 de novembro de 2011, a lei nº 9.843 dispõe sobre a organização
e o funcionamento dos Conselhos Tutelares e o Regime Jurídico dos conselheiros
tutelares de Fortaleza. conforme a seguir:
Art. 12 O funcionamento e a organização interna do Conselho Tutelar,
respeitado o disposto nesta Lei e no Estatuto da Criança e do
Adolescente, serão disciplinados por meio de regimento interno.
Parágrafo Único - Ato do secretário de Direitos Humanos de Fortaleza, a
referendo do Conselho Tutelar, instituirá o regimento referido no caput
deste artigo.
Art. 13 - O Regimento Interno do Conselho Tutelar será único,
independentemente das unidades territoriais existentes, e observará o
conteúdo desta Lei, prevendo ainda:
I - regulamentação do regime de plantão, observado o disposto nesta
Lei;
II - a necessidade de as decisões emanadas por cada unidade do
conselho serem colegiadas, discutidas em reuniões, salvo casos de
atendimentos emergenciais, que devem ser ratificados a posteriori pelo
colegiado;
III - a instituição de uma Coordenação do Conselho Tutelar, formada
exclusivamente por conselheiros tutelares, a qual visará:
a) disciplinar a organização interna do Conselho Tutelar;
25
b) padronizar os instrumentais de atendimento;
IV - a forma de distribuição interna dos casos a serem avaliados, bem
como o modo de decisão coletiva dos casos que lhes foram submetidos;
V - uniformização da prestação do serviço;
VI - forma de representação externa em nome do Conselho Tutelar de
Fortaleza;
VII - procedimento para solução dos conflitos de atribuição entre os
conselheiros tutelares;
VIII - O envio semestral de dados acerca da situação da infância e
adolescência referentes aos atendimentos realizados pelo Conselho
Tutelar ao COMDICA para formulação de políticas públicas.
A resolução nº 92/2012 do COMDICA dispõe sobre o Regime Interno do
Conselho Tutelar de Fortaleza, estabelecendo em seus capítulos as regras para o
funcionamento do Conselho Tutelar de Fortaleza, as proibições, da organização,
da redistribuição e do procedimento Tutelar. Vale ressaltar que o regimento é
obrigatório, como consta no artigo 79 da lei 9.843, que diz, "A instituição do
Regime Interno do Conselho Tutelar de Fortaleza, na forma do parágrafo único do
artigo 12 desta lei, dar-se-á no prazo de 180 (cento e oitenta) dias da publicação
desta lei".
No prazo de seis meses as discussões aconteceram e foi publicado o atual
regimento, que depois de analisar é perceptível que não está consoante com a lei
que o rege, existe atualmente a necessidade de alterações para se adequar às
mudanças administrativas e das alterações do ECA.
As últimas alterações do ECA aconteceram no dia 25 de julho de 2012, foi
aprovada nacionalmente através da Lei nº 12.696 uma nova redação para os
artigos. 132, 134, 135 e 139, que amplia o mandato dos Conselheiros Tutelares
de três para quatro anos e unifica a eleição em todo país. Em Fortaleza o
mandato dos atuais conselheiros foi acrescido de 10 (dez) meses.
A lei 9.843, já mencionada acima, criou também a supervisão dos conselhos
26
tutelares, que é composta por um coordenador, assistente social e educadores
sociais, com a função de apoio administrativo aos conselhos.
Os conselheiros recebem um salário equivalente ao nível de DGS 5, que é
cerca de 3.500,00 (três mil e quinhentos reais) e têm assegurados na lei Federal
seus direitos: a cobertura previdenciária, gozo de férias anuais remuneradas,
acrescidas de 1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal, licença-
maternidade, licença-paternidade e gratificação natalina.
Os conselhos são vinculados administrativamente à Secretária de Cidadania
e Direitos Humanos — SCDH, com o apoio das Secretarias Executivas Regionais,
que de acordo com a Lei Orçamentária Municipal deve garantir os recursos
previstos para assegurar a manutenção, materiais e profissionais para um
adequado funcionamento dos Conselhos Tutelares.
Um marco histórico nos Conselhos Tutelares de Fortaleza acontece nessa
gestão (2013), pois foi implantada, em todos os conselhos a equipe técnica,
composta por um advogado, uma psicóloga e uma assistente social, que tem a
função de respaldar a atuação dos conselheiros no dia a dia.
Outro fator importante é que Conselhos III e VI estão passando por uma
grande reforma estrutural nos equipamentos (ver fotos anexo...), frutos de
reuniões com o atual prefeito, o Conselho II está mudando de endereço para
adequar-se às disposições estabelecidas na lei Municipal e no Regimento Interno.
Infelizmente ainda não foi tomada nenhuma medida quanto ao Conselho I, que
também acolhe o plantão do Conselho Tutelar. Na sede não tem acessibilidade
para cadeirantes, nem tampouco apresenta estrutura mínima para atendimento ao
público.
Porém a população Infante juvenil não deixa de ser atendida, o que pode
ser constatado nos livros de atendimentos de cada Conselho Tutelar, porém não
existem dados estatísticos, pois segundo o coordenador da supervisão dos
conselhos, Sr. Eudes Curió: não existe uma base de dados, pois não é produzido
pelos conselhos, e não é função da supervisão solicitar esses documentos dos
conselhos, esse é o papel do COMDICA.
27
1.4 Perfil dos sujeitos da pesquisa
Com o objetivo de conhecer o perfil dos entrevistados, seus dados
pessoais, qual a sua trajetória de vida na defesa dos direitos das crianças e
adolescentes, conhecer sobre a dinâmica do seu dia a dia como conselheiro
tutelar, aplicamos através de visitas institucionais pré-agendadas, realizadas no
mês de maio do corrente ano, nos seis conselhos tutelares de Fortaleza,
entrevistas semiestruturadas e questionário.
De acordo com os princípios éticos, buscarei fornecer as informações
preservando as identidades das pessoas envolvidas, utilizando para isso nomes
de escritores infantis para referenciar os entrevistados, a escolha de utilizar
nomes de escritores tem relação com a possibilidade desses profissionais terem a
oportunidade de escrever histórias diferentes na vida das crianças e
adolescentes, na medida que se efetiva um direito violado.
MONTEIRO LOBATO- Sexo masculino, tem 38 anos, solteiro, instrutor de
informática, natural de Fortaleza, sua escolaridade é superior incompleto em rede
de computadores, antes de ser conselheiro trabalhava ministrando curso de
informática para crianças e adolescentes, tem um filho.
Foi candidato e eleito por duas vezes, concluiu o primeiro mandato e está
há dois anos no segundo. Quando indagado do motivo que o levou a se
candidatar a conselheiro tutelar de Fortaleza, explica;
Sempre fui muito de ajudar as pessoas e de lutar pelos direitos das
pessoas, trabalho com crianças e adolescentes há mais de 20 anos, vi
que como conselheiro poderia ajudar mais a ele e suas famílias.
(Monteiro Lobato)
Sua experiência na defesa dos direitos de crianças e adolescentes é fruto de
trabalhos com projetos sociais na comunidade onde reside.
Trabalho social com as famílias coordenava um grupo junino com
crianças e adolescentes da minha comunidade e sempre enfrentamos
problemas para garantir os direitos deles. (Monteiro Lobato)
28
RUTH ROCHA- Sexo feminino, tem 38 anos, solteira, sua profissão é
contadora, é natural de Fortaleza, sua escolarização é superior completo em
ciências contábeis, antes de ser conselheira trabalhava em um escritório de
contabilidade. Não tem filhos.
Foi candidata e eleita por duas vezes consecutivas, relata que se
interessou pela candidatura de conselheira, depois de sofrer na pele as barreiras
que existem na defesa dos direitos de crianças e adolescentes.
Na época, foi uma menina que eu atendi, eu acabei levando ela pro
hospital e tratei ela lá na minha casa. Ela foi estuprada e teve uma
doença, ele teve um papiloma, eu passei um mês com ela na minha
casa, tratando dela. E aí todas as vezes que eu ia para o hospital com
ela, as portas sempre eram fechadas, eu sempre tinha que recorrer ao
Conselho Tutelar, então foi isso que me levou a querer ser conselheira.
(Ruth Rocha)
Sobre sua experiência na defesa dos direitos de crianças e adolescentes, a
entrevistada respondeu;
Atendimento nas comunidades, eu fazia muitos atendimentos, ia ver
como estava a situação, era essa a experiência. (Ruth Rocha)
EVA FURNARI- sexo feminino tem 57 anos, é casada, profissão:
Educadora social é natural de Fortaleza, sua escolarização: superior completo em
pedagogia, tem dois filhos, foi candidata por 04 vezes, por duas vezes ficou na
suplência, assumiu como suplente durante um ano e já está no segundo mandato
como titular.
Ela relembra que foi sua experiência profissional como educadora social,
que efetivamente a levou a querer ser conselheira tutelar de Fortaleza, no dia do
seu trabalho passava por diversas situações, e tinha um sonho de ter mais
condições de lutar pela efetivação dos direitos.
É, devido a minha experiência de muitos anos trabalhando com criança e
29
adolescentes, eu sempre tinha a vontade de ser conselheira tutelar
pensando eu que sendo conselheira, eu teria mais chances, condições
de atuar melhor em relação à defesa da criança e do adolescente, né.
Então por isso que eu me candidatei, inclusive tentei tantas vezes, fui
três vezes suplente e duas como titular e me sinto realizada, pois acho
um trabalho prazeroso. (Eva Furnari)
Retomando sobre sua experiência na defesa dos direitos de criança e
adolescentes, como educadora social, ressalta como era a instituição onde
exercia seu trabalho.
Minha experiência é de 23 anos no Lar Fabiano de Cristo, que uma
instituição, que pra mim é uma universidade na área de assistência
social, muito boa, aliás maravilhosa, tem um trabalho importante porque
trabalha com a prevenção e atuação com projetos em relação educativa
social, visando o crescimento da família, com visitas domiciliares,
palestras, acompanhamento familiar, com visitas domiciliares, reuniões,
oficinas, tem também capacitação, a questão da profissionalização. O
mais importante é que o Lar Fabiano de Cristo tem uma atuação com
toda as faixas etárias, crianças, pré-adolescentes, adolescentes, adultos
e idosos, então pra mim realmente é trabalho muito bonito, essa é minha
experiência. (SER III)
ANA MARIA MACHADO - sexo feminino, tem 54 anos, é divorciada, sua
profissão instrutora de trânsito, é natural de Fortaleza, concluiu o ensino médio,
tem 02 filhos, foi candidata por duas vezes e está assumindo seu primeiro
mandato há dois anos.
Declara que decidiu ser conselheira para;
Para contribuir com a proteção e defesa dos direitos das crianças e
adolescentes. (Ana Maria Machado)
Sobre sua trajetória de vida referente à escolha de ser candidata a
conselheira tutelar, ela explica que teve muito próximo do trabalho social com
famílias, mais especificamente na inserção dessas famílias em programas sociais,
que garantiam benefícios do governo federal, nesse contato decidiu abraçar a
causa.
30
Em primeiro lugar, trabalhei na SER I, no setor de serviço social e era
responsável pelo cadastro único, desde a implantação que englobou o
bolsa escola, auxilio gás, e outros benefícios que depois juntos tornaram-
se bolsa família, foi aí que tive um contato direto com famílias carentes,
crianças e adolescentes totalmente desamparados pelo poder público,
então isso me fortaleceu na vontade trabalhar e lutar pelos direitos e
defesa deles. (Ana Maria Machado)
MARIANA MASSARANI- sexo feminino, tem 45 anos, é casada, trabalhava
como instrutora educacional, é natural de Chorozinho, escolaridade: superior
incompleto em serviço social, está cursando atualmente no segundo semestre,
tem um filho, foi candidata por duas vezes, na primeira não chegou a assumir
nem ficou na suplência, na segunda tentativa foi eleita e está assumindo o
mandato há dois anos.
A entrevistada já trabalhava com a questão social referente à criança e ao
adolescente, explica o motivo que contribuiu a enfrentar a candidatura de
conselheira tutelar de Fortaleza:
O meu pensamento era de mudar a história da criança e do adolescente,
tentar mudar, até também porque eu trabalhei como instrutora
educacional, e eu tinha vontade de conhecer o trabalho do Conselho,
para tentar diante, estando à frente do trabalho do conselho tutelar,
mudar alguma coisa na situação da criança e do adolescente, ter
autonomia, a verdade é essa, ter autonomia para os encaminhamentos.
(Mariana Massarani)
Ao comentar sobre sua trajetória de vida anterior ao Conselho Tutelar na
defesa dos direitos infantojuvenis, a entrevistada acrescenta que o trabalho nas
ruas de Fortaleza lhe trouxe uma experiência e foi decisiva na empreitada do
processo municipal de escolha do conselho tutelar.
A minha experiência foi como instrutora educacional de rua, eu
trabalhava como amarelinho, um projeto que tinha da ação social na
época, a gente trabalhava com abordagem às crianças e aos
adolescentes em situação de moradia de rua, nas áreas de
vulnerabilidade social, principalmente ali na Praia de Iracema, durante os
trabalhos a gente observava as crianças se prostituindo, pedindo,
31
morando na rua, e a gente tentava fazer alguma coisa, às vezes levava
eles para um abrigo, para tomarem banho, fazer suas higienes pessoais,
se alimentar. Mas só isso não era suficiente, por isso quis muito ser
conselheira tutelar. E essa foi minha experiência anterior. (Mariana
Massarani)
Com relação à escala de atendimento, é comum em todos os conselhos, os
conselheiros têm dois dias de atendimento interno, um dia para visita domiciliar,
um dia para realizar audiências e um dia para ministrar palestras nos órgãos que
solicitam via ofício aos conselhos. A forma de atendimento às denúncias também
segue a mesma linha, o passo a passo é especificado no livro Orientações
técnicas sobre a atuação do Conselho Tutelar (2012).
Diante dos depoimentos sobre os motivos que os levaram a se candidatar
e ser membro do Conselho Tutelar percebemos, de um modo geral, que todos
têm uma ligação com atendimentos sociais e políticos, seja no meio profissional
ou na comunidade onde residem, os conselheiros têm uma forte ligação política
com a população, o que faz um número expressivo de pessoas participar do
processo de escolha dos conselheiros.
Podemos constatar nas falas de alguns, ao dizer: “... eu fazia muitos
atendimentos...", "... principalmente crianças e adolescentes de minha
comunidade."
Outra percepção é que a maioria dos entrevistados demonstrou certa
decepção ao não conseguirem realizar muitos dos seus sonhos que idealizavam
ao exercer a função de conselheiro, “... como conselheiro podia ajudar mais
eles...", "... o meu pensamento era de mudar a história...", “... tinha a vontade de
ser conselheira, pensando eu que sendo conselheira teria mais chance, mais
condições de atuar...”.
Vale ressaltar que além da nítida decepção de alguns, ainda existe o
desejo de mudar, de lutar e de ver a efetivação do ECA e do respeito ao Conselho
Tutelar, ou seja, a garantia dos direitos, "eu ainda acredito muito num Conselho
Tutelar diferente". (Mariana Massarani)
32
2. AS BASES DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E O
SURGIMENTO DO CONSELHO TUTELAR: DISCUTINDO ESSE ESPAÇO DE
PARTICIPAÇÃO POPULAR, CONTROLE SOCIAL E EFETIVAÇÃO DE
DIREITOS SOCIAIS
2.1 Os Paradigmas de Proteção que antecederam o atual cenário.
Na trajetória histórica da infância e adolescência no Brasil os Conselhos
Tutelares, ganham importância e significado diante das lutas em defesa dos
direitos de crianças e adolescentes, apesar de ser recente, pois nasceu depois da
aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, na década de 90.
Contudo, as ações de proteção a esse segmento começaram muito antes, através
de três paradigmas de proteção jurídico - social. Que serão discutidas a seguir :
O primeiro foi o modelo da Soberania paterna, onde os pais eram os
responsáveis pela proteção e punição, associada ao caritativismo religioso que
acolhia os infantes, entre os anos de 1500 e 1800, onde o Estado não via razão
para interferir na família. Falar desta época como diz Freyre era como um
“sistema econômico, social, político” (FREYRE, 2005, P. 36).
As crianças e adolescentes eram inteiramente governados pela família, que
determinava a profissão e o casamento para os filhos, como afirma Bastos “
existia uma unicidade [...] dada pela sociedade orquestrada pela família”
(BASTOS, 2006, p.105 ) e a eles cabia se submeter ou resistir fugindo dos
castigos e se tornando “infantes expostos”, pobres e abandonados que eram
acolhidos por instituições de caridade.
“...encontramos treze rodas de expostos no Brasil: três criadas no
século XVIII (Salvador, Rio de Janeiro, Recife),uma no início do Império
(São Paulo); todas as demais forma criadas no rastro da Lei dos
Municípios que isentava a Câmara da responsabilidade pelos expostos,
desde que na cidade houvesse uma Santa Casa de Misericórdia que se
incumbisse desses pequenos desamparados. Neste caso estiveram as
rodas de expostos das cidades de Porto Alegre, Rio Grande e Pelotas
(RS), de Cachoeira (BA), de Olinda (PE); de Campos (RJ), Vitoria (ES),
Desterro(SC) e Cuiabá (MT).” (P.66)
33
No caso dos bebês abandonados pelos pais, formavam a “roda dos
expostos” que tinha finalidade a conversão religiosa, o higienismo, o aprendizado
dos bons costumes. Assim afirma Freitas (2011),
“A roda de expostos, como assistência caritativa, era, pois, missionária.
A primeira preocupação do sistema para com a criança nela deixada era
de providenciar o batismo, salvando a alma da criança: a menos que
trouxesse consigo um escritinho – que fato muito corrente- que
informava à rodeira de que o bebê já estava batizado.” P.54
Ainda de acordo com Freitas (2011), esse sistema foi inventado na Europa
medieval, como um meio de garantir o anonimato do abandono, estimulando o
expositor a deixar o bebê que não desejava na roda, ao invés de abandoná-lo
pelos caminhos, bosques, lixo, portas de igreja ou de casa de família, evitando
que esse bebê fosse vítima da fome do frio ou de animais
“A roda de expostos foi uma das instituições brasileiras de mais longa
vida, sobrevivendo aos três grandes regimes de nossa história. Criada
na Colônia perpassou e multiplicou-se no período imperial, conseguiu
manter-se durante a República e só foi extinta definitivamente na recente
década de 1950! Sendo o Brasil o último país a abolir a chaga da
escravidão, foi ele igualmente o último a acabar com o triste sistema da
roda dos enjeitados.”(p.53)
No século XX, as rodas dos expostos foram desaparecendo, dando espaço
para o segundo paradigma o Estado de Bem-Estar Social a ação filantrópica, a
filantropia substituindo a caridade, esse modelo perdurou de 1850 até 1970,
momento em que o Estado tem a ideia de assegurar o bem- estar das crianças e
adolescentes, e passa a regular a vida social com a criação de normas e leis.
Em 1927, no Brasil foi instituído o Código de Menores, esse código
constituía uma postura de culpar a família pelo problema ou realidade situacional
do “menor”, e construía espaços de acolhimento institucional. Segundo a
professora Márcia Souza do Curso Escola de Conselhos – UECE, o Estado
diferenciava pobres “úteis” e “inúteis” especializando dois tipos de instituições:
uma para a criança, os filhos das famílias mais favorecidas da sociedade, de
situação regular e outra para o menor, que era a criança ou adolescente
34
socialmente abandonado.
Criando a doutrina da situação irregular, o judiciário operava com as varas
de família para crianças e com o juizado de menores para os abandonados com o
Código de Menores, onde eles eram objetos de medidas judiciais e a “proteção”
era realizada pela filantropia social.
De acordo com Freitas (2011), a Lei Federal 4.512 de dezembro de 1964,
cria a Fundação Nacional do Bem-estar do menor, com competência de formular
e implementar a política nacional de bem-estar do menor. Em 1967 foi instituído
em âmbito estadual as Fundações Estaduais do Bem-estar do Menor – FEBEMs,
que eram administradas pela secretária de justiça, com o objetivo de prevenir a
marginalização.
No ano de 1979, o código de menores foi reformulado, as mudanças não
alteraram a imagem das crianças e adolescentes pobres concebidas como
marginais, objetos de controle e repressão social. Um verdadeiro retrocesso para
o sistema.
O terceiro paradigma, que é o que vivemos atualmente, vê os direitos das
crianças e adolescentes, associado à ação emancipatória cidadã, com direitos
que merecem ser respeitados, a partir dos anos 1980, através dos movimentos
sociais no contexto de redemocratização do país, aconteceram muitas mudanças,
como o rompimento com as categorias menor carente e menor abandonado e a
constituição do conceito de crianças e adolescentes sujeitos de direitos. Como
confirma Simões (2011),
No final dos anos 1970, com o inicio do processo de abertura e de
democratização, iniciam-se movimentos de reforma institucional,
entrados na crítica ao conceito de menor, em prol da concepção integral
e universal da criança e do adolescente, como sujeito de direitos.
(SIMÕES, 2011, p.226)
Esse modelo foi desenvolvido inicialmente pelas alternativas comunitárias,
como uma resposta ao modo como a sociedade estava tratando de forma
perversa e ineficiente a reeducação desse público era desenvolvido programas de
35
proteção, educação de rua, trabalhando eles no contexto em que estavam
inseridos, rompendo com a política da institucionalização, mais perceberam que a
proteção não bastava ser alternativas e que o caminho para reformular as
políticas era a alteração das leis.
No Brasil esse paradigma se consolidou com a inclusão dos direitos das
crianças e adolescentes na Constituição Federal – CF de 1988, introduzindo um
novo ordenamento social e político ao definir como princípios fundamentais,
dentre outros, cidadania, dignidade da pessoa humana,.
Com destaque aconteceu a Convenção das Nações Unidas em 20 de
novembro de 1989, sobre os direitos da criança, entendendo como criança todos
os seres humanos menores de 18 anos e declara detalhadamente o papel dos
Estados para assegurar a proteção da criança.
Art.2 1 – Os Estados partes respeitarão os direitos enunciados na
presente Convenção e assegurarão sua aplicação a cada criança sujeita
à sua jurisdição, sem distinção alguma, independentemente de sexo,
idioma, crença, opinião política ou de outra natureza, origem nacional,
étnica ou social, posição econômica, deficiências físicas, nascimento ou
qualquer outra condição da criança, de seus pais ou de seus
representantes legais.
2 – Os Estados partes tomarão todas as medidas apropriadas para
assegurar a proteção da criança contra toda forma de discriminação ou
castigo por causa da condição, das atividades, das opiniões
manifestadas ou das crenças de seus pais, representantes legais ou
familiares.
Foi uma amplo processo de mobilização social para elaboração do ECA, no
cenário de redemocratização do país, reelaboração da Carta Magna, em meio aos
movimentos sociais, que tinham como bandeira a Criança e Constituinte e
Criança Prioridade Nacional, a segunda teve papel fundamental para inclusão da
prioridade absoluta na Constituição brasileira, a sociedade civil elaborou uma
emenda popular, que teve 250 mil assinaturas e foi apresentado no congresso em
1987.
36
Através dessa campanha veio a criação do Fórum Nacional Permanente de
Entidades não Governamentais de defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente ─ Fórum DCA, sendo um instrumento para participação da
sociedade civil no Congresso Nacional, a doutrina da proteção integral quase na
íntegra foi introduzida nos artigos 227 e 228, como prevê o art. 227, que se refere
aos deveres da sociedade em geral, que diz:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado, assegurar à
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
(BRASIL,1988, art. 227).
As relações entre sociedade e Estado foram redefinidas, no processo
de redemocratização, na elaboração das leis Estaduais e municipais, pós-
constituição federal, percebeu-se que em alguns não havia os direitos das
crianças e adolescentes assegurados, o Fórum DCA articulado com outras
organizações da sociedade civil criaram um projeto de lei que se chamou Normas
Gerais de Proteção à Infância e à Juventude, este projeto foi apresentado em
1989 na Câmara dos deputados, depois de muitas discussões, em face das
diversidades de compreensão dos direitos da criança, foi criado um grupo de
trabalho, este grupo ficou conhecido como grupo de redação do Estatuto, era
composto por lideranças dos movimentos sociais, promotores, advogados, juízes
e alguns especialistas em políticas sociais.
Dessa forma o projeto final foi apresentado na Câmara e Senado, foi
realizado um amplo debate nacional, muitas audiências públicas e culminou com
a aprovação pelo Senado em 25 de abril de 1990, na Câmara em 28 de junho,
homologado pelo Senado em 29 de junho e sancionado pelo Presidente da
República em 13 de julho de 1990, a Lei 8.069 o ECA, que estabelece uma
política de atendimento integral aos direitos das Crianças e Adolescentes, pois
são sujeitos de direitos a pessoa em condições peculiares de desenvolvimento.
O ECA está dividido em dois livros, sendo que o primeiro é a parte
37
geral, e segundo Edson Seda (2006) "detalha como o intérprete e o aplicador da
lei haverão de entender a natureza e o alcance dos direitos elencados na norma
constitucional", este livro divide-se em três títulos: das disposições preliminares;
dos direitos fundamentais e da prevenção.
O segundo livro é a parte especial, expõe as normas gerais da política de
atendimento aos direitos das crianças e adolescentes, dividindo-se em sete
títulos: da política de atendimento; das medidas de proteção; da prática de ato
infracional; das medidas pertinentes aos pais ou responsáveis; do Conselho
Tutelar; do acesso a justiça e dos crimes e das infrações administrativas.
Seguem-se aos dois livros as disposições finais e transitórias.
A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente se
constitui no artigo 86 do ECA;
Art. 86 A política de atendimento dos direitos da criança e do
adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações
governamentais e não governamentais, da união, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios” ( BRASIL, 1990, art.86).
A política se desdobra em quatro linhas de ação, conforme o artigo 87, e
prever o Sistema de Garantia de direitos - SGD, que se configura de acordo com
a publicação da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social - STDS (2012),
como um conjunto articulado de pessoas e instituições que atuam para garantir os
direitos de crianças e adolescentes, o sistema é composto pela família, sociedade
civil, Estado, Conselhos de Direitos, Conselho Tutelar e as instâncias do poder
público (Ministério Público, Juizado da Infância e da Juventude, Defensoria
Pública, Secretaria de Segurança Pública e demais secretarias do poder
executivo).
O SGD tem três eixos estruturais: a defesa, a promoção e o controle social.
Definidos pelo Guia de Atendimento de direitos de crianças adolescentes do
CEDECA/Ceará - Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente,
como:
Eixo de Promoção de direitos: se dá por meio do desenvolvimento da
política de atendimento dos direitos de crianças e adolescentes,
38
integrante da política de promoção dos direitos humanos. Essa política
deve se dar de modo transversal, articulando todas as políticas públicas.
Nele estão os serviços e programas de políticas públicas de atendimento
dos direitos humanos de crianças e adolescentes, de execução de
medidas de proteção de direitos e de execução de medidas
socioeducativas. Os principais atores responsáveis pela promoção
desses direitos são as instâncias governamentais e da sociedade civil
que se dedicam ao atendimento direto de direitos, prestando serviços
públicos e/ou de relevância pública, como ministérios do governo federal,
secretarias estaduais ou municipais, fundações, ONGs, etc. Exemplo:
Conselhos de Direitos, incluídos toda área da assistência social,
educação e saúde. Eixo de Defesa: tem a atribuição de fazer cessar as
violações de direitos e responsabilizar o autor da violência. Tem entre os
principais atores, os Conselhos Tutelares, Ministério Público Estadual e
Federal (centros de apoio operacionais, promotorias especializadas),
Judiciário (Juizado da Infância e Juventude, Varas criminais
especializadas, comissões judiciais de adoções), Defensoria Pública do
Estado e da União, e órgãos da Segurança Pública, como Polícia civil,
militar, federal e rodoviária, guarda municipal, ouvidorias, corregedorias e
Centros de defesa de direitos, etc. Eixo de Controle Social: é
responsável pelo acompanhamento, avaliação e monitoramento das
ações de promoção e defesa dos direitos humanos de crianças e
adolescentes, bem como, dos demais eixos do sistema de garantia dos
direitos. O controle se dá primordialmente pela sociedade civil
organizada e por meio de instâncias públicas colegiadas, a exemplo dos
conselhos. (Grifo original) (CALS, 2007, p.12-13)
No artigo 88, do ECA, são estabelecidas as diretrizes da política de
atendimento, no inciso II ordena a criação de conselhos municipais, estaduais e
nacional dos direitos da criança e do adolescente, e definindo-os como órgãos
deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurando a
participação popular paritária por meio de organizações representativas, de
acordo com as leis federal, estaduais e municipais;
Cabendo ao município criar uma política municipal, mediante lei, devendo
estabelecer diretrizes municipais de atendimento a crianças e adolescentes, a
criação dos Conselhos de Direitos e Conselhos Tutelares e o Fundo Municipal
dos direitos da criança e do adolescente. Apresentaremos a seguir
resumidamente as competências e atribuições dos conselhos de direitos nos
39
níveis Nacional, Estadual e Municipal e Conselho Tutelar.
2.2 Os Conselhos dos Direitos
Os Conselhos são espaços públicos, democráticos de discussão entre o
Estado e sociedade civil, tem composição plural e paritária, com poder
deliberativo e consultivo para definir, formular e controlar políticas públicas para a
população infantojuvenil, nesses espaços todos os cidadãos devem ser vistos
como iguais para participar e reivindicar pelos direitos, representando assim
canais de participação popular.
De acordo com o ECA, em seu artigo 89, "A função de membro do
conselho nacional e dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança
e do adolescente é considerada de interesse público relevante e não será
remunerada."
O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente -
CONANDA, é a instância máxima na esfera nacional, para formulação,
deliberação e controle das políticas públicas para crianças e adolescentes, foi
criado pela Lei Federal nº 8.242 de 12 de outubro de 1991, o CONANDA é
vinculado à Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República,
composto por 28 conselheiros, dos quais 14 representam o Governo Federal, e
foram indicados pelos ministros e 14 de entidades não governamentais, eleitos
para um mandato de dois anos.
Além de definir políticas públicas para crianças e adolescentes, o
CONANDA também fiscaliza ações de promoção dos direitos da infância e
adolescência nos níveis estadual, distrital e municipal, e gerencia o Fundo
Nacional da Criança e do Adolescente - FNCA. As assembleias do Conselho se
dividem em quatro temáticas: política pública, orçamento e finanças, formação e
mobilização e direitos humanos e assuntos parlamentares.
De acordo como Art. 2, da lei 8242.91, o CONANDA tem as seguintes
competências:
40
Art. 2º Compete ao Conanda:
I - elaborar as normas gerais da política nacional de atendimento dos
direitos da criança e do adolescente, fiscalizando as ações de execução,
observadas as linhas de ação e as diretrizes estabelecidas nos arts.
87 e 88 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e
do Adolescente);
II - zelar pela aplicação da política nacional de atendimento dos direitos
da criança e do adolescente;
III - dar apoio aos Conselhos Estaduais e Municipais dos Direitos da
Criança e do Adolescente, aos órgãos estaduais, municipais, e entidades
não-governamentais para tornar efetivos os princípios, as diretrizes e os
direitos estabelecidos na Lei nº 8.069, de 13 de junho de 1990;
IV - avaliar a política estadual e municipal e a atuação dos Conselhos
Estaduais e Municipais da Criança e do Adolescente;
V -(Vetado)
VI - (Vetado)
VII - acompanhar o reordenamento institucional propondo, sempre que
necessário, modificações nas estruturas públicas e privadas destinadas
ao atendimento da criança e do adolescente;
VIII - apoiar a promoção de campanhas educativas sobre os direitos da
criança e do adolescente, com a indicação das medidas a serem
adotadas nos casos de atentados ou violação dos mesmos;
IX - acompanhar a elaboração e a execução da proposta orçamentária
da União, indicando modificações necessárias à consecução da política
formulada para a promoção dos direitos da criança e do adolescente;
X - gerir o fundo de que trata o art. 6º da lei e fixar os critérios para sua
utilização, nos termos do art. 260 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de
1990;
XI - elaborar o seu regimento interno, aprovando-o pelo voto de, no
mínimo, dois terços de seus membros, nele definindo a forma de
indicação do seu Presidente.
Outra atribuição do CONANDA é definir as diretrizes para regulamentar a
criação dos conselhos de direitos e tutelares. A resolução nº 105 de 2005 do
CONANDA trata dos parâmetros para criação e funcionamento dos Conselhos
dos Direitos da Criança e do Adolescente, cumprindo o estabelecido no artigo 204
e 227 da CF, que diz,
Art. 2. Na União, nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios
41
haverá um único Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente,
composto paritariamente de representantes do governo e da sociedade
civil organizada, garantindo-se a participação popular no processo de
discussão, de liberação e controle da política de atendimento integral dos
direitos da criança e do adolescente, que compreende as políticas
sociais básicas e demais políticas necessárias à execução das medidas
protetivas e socioeducativas.
No âmbito estadual, temos o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e
do Adolescente - CEDCA. No Estado do Ceará o CEDCA foi criado pela Lei
Estadual n 11.889 em 20 de dezembro de 1991(alterada pela lei estadual nº
12.934, de 16 de julho de 1999), exerce suas funções em conformidade com as
diretrizes do ECA e da Constituição Federal, para atingir seus principais objetivos
que são :
1-Controle social das ações públicas governamentais e não
governamentais; 2- Normalização da Política de Atendimento dos
Direitos da Criança e do Adolescente (ramo autônomo da Política
Pública – art. 86, Estatuto cit.); 3- Articulação, mobilização e
advocacy, de relação a todo o Sistema de Garantia dos Direitos da
Criança e do Adolescente (conselho tutelar, conselhos dos direitos,
ministério público, justiça, defensoria pública, polícia, serviços de
proteção especial e socioeducativos, programas de saúde,
assistência social, educação, cultura etc.).
O CEDCA tem sua composição formada por 20 conselheiros, dos quais 10
representando órgãos governamentais indicados por seus titulares e 10 eleitos
em fórum de entidades não governamentais. Após a indicação e eleição os
nomes são encaminhados ao Governador do Estado que os nomeia através de
Ato, publicado no Diário Oficial do Estado, para um mandato de um ano, que pode
ser renovado por igual período.
A resolução nº 90/2006, define detalhadamente os objetivos, metas e
meios para a execução de ações de atendimento aos direitos das crianças e
adolescentes no Ceará. Os objetivos são:
I. Garantir os direitos de crianças e adolescente; II. Implementar o
sistema de garantia de direitos, que protejam e promovam por meio
42
das políticas públicas; III. Desenvolver a política de promoção dos
direitos da criança e do adolescente, visando uma política especial,
autônoma e intersetorial; IV. Reduzir os níveis de ameaça e violação
dos direitos de crianças e adolescentes; V. Reforçar as demais
políticas públicas, no esforço para melhorar a qualidade de vida de
todas as crianças e adolescentes e de suas famílias.
No município de Fortaleza o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
do Adolescente - COMDICA, foi criado através do artigo 267 da Lei Orgânica do
Município, “Fica criado o Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e
do Adolescente", e regulamentado no dia 07 de novembro de 1990, pela Lei n
6.729, o que não significou sua imediata instalação, sendo instalado no ano
seguinte em 13 de setembro de 1991. E a posse da primeira Comissão Executiva
aconteceu em 20.02.1992, para o biênio 1991 e 1992, composta apenas por 16
membros, em caráter provisório.
O COMDICA é um órgão paritário e deliberativo, composto por
representantes da sociedade civil e do poder público, que se destina, no
âmbito do município de Fortaleza, a formular políticas públicas e
controlar ações de interesse da infância e da adolescência, As
organizações da sociedade civil escolhem seus representes, através de
um fórum, para um mandato de dois anos ratificado pelo Chefe do Poder
Executivo. (FORTALEZA, 2010, p.30)
Os membros da primeira comissão executiva teve João Alves de Melo
como presidente, Vera Alves de Lima como vice-presidente, Jane Guedes Horta,
1ª secretaria, e Graça Gadelha 2ª secretaria. No livro resgate da trajetória do
COMDICA (2010), as atribuições que lhe são conferidas são:
Deliberar e controlar políticas públicas que assegurem a efetivação dos
direitos da criança e do adolescente, garantindo a participação popular;
Participar da elaboração do orçamento do município;
Estabelecer normas e diretrizes básicas para as politicas de
atendimento integral á criança e ao adolescente em Fortaleza;
Registrar entidades de atendimento à criança e ao adolescente e
43
inscrever seus programas;
Viabilizar e fortalecer as ações articuladas necessárias á garantia da
proteção integral das crianças e dos adolescentes;
Acompanhar e contribuir com os Conselhos Tutelares no sentido de
zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente;
Gerir o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente-
FMDCA. (FORTALEZA, 2010, p.31).
A lei municipal n 8.228 de 29 de dezembro de 1998, reestrutura o
COMDICA, e redefine sua composição passando desde então a serem formado
por 22 conselheiros, 11 da esfera não governamental e 11 representando a esfera
governamental do município de Fortaleza, dividido da seguinte forma: seis
pessoas representam as seis Secretárias Executivas Regionais, uma pessoa da
câmara municipal, uma da SCDH, uma da secretaria de saúde, e dois da
secretaria de educação, para um mandato de dois anos. De acordo com o Art. 2,
desta lei, as competências do COMDICA são:
I - promover, assegurar e defender os direitos da criança e do
adolescente, nos termos da Constituição Federal, da Constituição do
Estado do Ceará, das Leis Federais nº 8.069, de 13 de julho de 1990, e
nº 8.242, de 12 de outubro de 1991, da Leio Orgânica do Município de
Fortaleza e desta lei;
II – estabelecer diretrizes básicas e normas de proteção integral à
criança e ao adolescente, no âmbito do município de Fortaleza;
III – acompanhar e avaliar o empenho das atividades, programas e
projetos do Poder Público Municipal e das entidades civis conveniadas
que atuam junto à criança e ao adolescente, através de comissões
escolhidas pelo colegiado e para fins de otimização das ações;
IV – informar acerca da realidade existencial da criança e do adolescente
no município de Fortaleza, quando oficialmente solicitado;
V – sensibilizar os Poderes constituídos e a sociedade civil quanto à
problemática do menor e com a prévia deliberação do órgão;
44
VI – propor a adoção de políticas públicas municipais que visem, em
cumprimento ao art. 227 da Constituição Federal, ao apoio à criança e
ao adolescente, no concernente ao direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, tudo na
conformidade dos recursos humanos e financeiros de que o Município
possa dispor para tais fins;
VII – estimular a participação da comunidade nas ações e serviços de
sua área de competência, através do Fórum de Defesa da Criança e do
Adolescente, encaminhando possíveis denúncias aos órgãos
competentes;
VIII – elaborar, propor e aprovar prioridades para a programação e
execução orçamentária e financeira do Fundo Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente, de que trata a Lei nº 7.235, de 6 de novembro
de 1992, vinculado a SMDS;
IX – elaborar o Regimento Interno e suas normas de organização e
funcionamento, submetendo-o a aprovação, por decreto, do chefe do
Poder Executivo;
X – colaborar com a Fundação da Criança da Cidade (FUNCI), e demais
entidades, órgãos e instituições que tenham como objetivo institucional a
defesa e a proteção dos direitos da criança e do adolescente, desde que
cadastrados no COMDICA;
XI - gerir o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente,
observada a Lei federal nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do
Adolescente) e a Lei nº 7.235, de 6 de novembro de 1992 (BRASIL, Lei
Municipal nº 8.228, de 29 de dezembro de 1998).
Além de todas essas funções, o COMDICA em conformidade com o Art.
139, do ECA, é responsável pelo processo municipal de escolha dos conselheiros
tutelares.
45
2.3 O Conselho Tutelar
A estrutura legal do Conselho Tutelar é definido no ECA, de acordo com
o "Art. 131 – O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não
jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos
da criança e do adolescente." Ser permanente, de acordo com o dicionário (2001)
significa ser contínuo, duradouro, ininterrupto.
O Conselho Tutelar é permanente no sentido de que uma vez implantado,
não poderá ser extinto, ou seja, não depende da vontade do governante ou de
qualquer outra autoridade, o que muda são seus membros que são escolhidos
pela sociedade para um mandato de quatro anos. Assim é definido nas
orientações técnicas sobre a atuação do conselho tutelar, como um órgão público
municipal, que tem sua origem na lei municipal, integrando-se de forma definitiva
no conjunto das instituições municipais, estaduais e federal e subordinando-se
somente ao ordenamento jurídico brasileiro.
É um órgão autônomo, porque tem liberdade e independência na sua
atuação, ou seja, suas decisões não são submetidas a outros setores da
administração pública. Tem a missão de zelar pela efetivação dos direitos
violados e para isso aplica as medidas de proteção e as pertinentes aos pais,
quando achar necessário sem interferência alguma.
E ser um órgão não jurisdicional quer dizer que o conselho tutelar não
pertence ao poder judiciário para punir quem não cumprir suas determinações,
ou jugar os conflitos, sua função é aplicar as medidas de proteção, se essas
medidas não forem respeitadas o conselheiro pode representar no poder
judiciário.
Conselho Tutelar é um órgão colegiado encarregado de zelar pelo
cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. Zelar é fiscalizar, é estar
atento e sempre disposto a lutar pela sua efetivação. Isso não significa dizer que
o Conselho tem o papel de atender os direitos, e sim fiscalizar para que não
aconteça omissão ou violação dos pais ou responsáveis legais nem tampouco do
poder público. Para Roberta Santos, em sua Dissertação de Mestrado (2007) o
46
Conselho Tutelar se constitui como:
Com base na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da Criança e
do Adolescente, o Conselho Tutelar é um órgão representativo da
sociedade civil, responsável por garantir estratégias politicas e espaço
de participação, fiscalização e controle do Estado, para fazer cumprir os
direitos da criança e do adolescente. (p.01)
Konsen (2000) vai dizer que existem razões de resistência em estruturar e
regular o funcionamento dos Conselhos Tutelares nos municípios, essas razões
vão além de vontade política e a falta de informação sobre a função tão
importante que desenvolve este órgão. Diante das minhas leituras, na minha
futura investigação pretendo pesquisar: quais os desafios no funcionamento dos
Conselhos Tutelares de Fortaleza, sob a ótica dos conselheiros tutelares.
2.3.1 Atribuições do Conselho Tutelar
O Conselho tutelar atende escuta reclamações, reivindicações e
solicitações feitas por crianças, adolescentes, famílias, cidadãos e comunidades,
orientar, aconselhar, encaminhar e acompanhar os casos. Aplica as medidas
protetivas pertinentes a cada caso, medidas pontuadas no art. 101 do ECA. Para
se efetivar a garantia dos direitos o Conselho Tutelar faz requisições de serviços
necessários à efetivação do atendimento adequado de cada caso. Contribui para
o planejamento e a formulação de políticas e planos municipais de atendimento à
criança e ao adolescente. No art. 136 do ECA pode-se encontrar a definição das
atribuições do Conselho Tutelar:
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts.
98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII;
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas
previstas no art. 129, I a VII;
III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço
47
social, previdência, trabalho e segurança;
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de
descumprimento injustificado de suas deliberações.
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua
infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou
adolescente;
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre
as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato
infracional;
VII - expedir notificações;
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou
adolescente quando necessário;
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta
orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da
criança e do adolescente;
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos
direitos previstos no art. 220. 3º inciso da Constituição Federal;
XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou
suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de
manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural.
O Conselho Tutelar é um órgão de correção as violações de direitos e atua
para promover sua defesa, para isso pode requisitar serviços públicos essenciais
para o pleno desenvolvimento da criança e do adolescente. As medidas de
proteção às crianças e adolescentes são aplicadas sempre que esses diretos
sejam ameaçados e violados, tanto pela ação, omissão da sociedade do Estado
dos pais ou responsáveis ou pela sua própria conduta.
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a
48
autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes
medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de
responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de
ensino fundamental;
IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à
criança e ao adolescente;
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em
regime hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e
tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII - acolhimento institucional;
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;
IX - colocação em família substituta.
As medidas pertinentes aos pais ou responsáveis que é aplicada pelo
conselheiro tutelar em determinados, ou seja, quando é necessário, está de
acordo com o artigo 129 do ECA, a escolha dos incisos será de acordo com cada
caso.
Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à
família;
II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e
tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua
frequência e aproveitamento escolar;
VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento
especializado;
VII - advertência;
VIII - perda da guarda;
49
IX - destituição da tutela;
X - suspensão ou destituição do poder familiar.
2.3.2 As competências dos conselheiros
A lei estabelece que haverá em cada município, no mínimo, um Conselho
Tutelar. No caso de Fortaleza, atualmente contamos com apenas seis,
distribuídos nas SERs, sendo que a competência desses conselhos não
ultrapassa o território do município, ou região administrativa.
Para cada caso, entretanto, o que vai determinar a competência é o
domicílio dos pais ou responsáveis, ou, à falta destes, o lugar onde se encontre a
criança ou adolescente. Isso não impede que a execução das medidas de
proteção cabíveis seja aplicada e posteriormente o caso é encaminhado ao
Conselho competente.
De acordo com a resolução nº 92/2012 do COMDICA, que trata do
Regimento Interno do Conselho Tutelar de Fortaleza, as competências dos
conselheiros são:
Art. 29 Compete a cada Conselheiro Tutelar, em sua atuação
profissional, entre outras atividades:
I. Desempenhar as atividades de sua competência com vistas à solução
dos casos recebidos, observando o disposto nos arts. 95 e 136 da Lei
Federal nº 8.069/90.
II. Proceder imediatamente à verificação dos casos que lhe sejam
distribuídos, devendo, para tanto, realizar as providências de caráter
urgente e preparar relatório escrito em relação a cada caso para
apresentação à sessão colegiada.
III. Participar da escala de plantão e comparecer à sede do Conselho nos
horários previstos para sua escala de atendimento.
IV. Auxiliar o Coordenador e o Secretário Geral nas suas atribuições
específicas, especialmente na recepção de casos e no atendimento ao
público.
V. Discutir, sempre que possível, com outros Conselheiros as
providências urgentes que lhe cabem tomar em relação aos casos de
sua responsabilidade.
50
VI. Discutir cada caso de forma serena e respeitando as eventuais
opiniões divergentes de seus pares.
VII. Tratar com respeito e urbanidade os membros da comunidade,
principalmente as crianças e os adolescentes, reconhecendo-os como
sujeitos de direitos e a condição peculiar de pessoas em
desenvolvimento dos mesmos.
VIII. Realizar, sempre que necessário, visitas domiciliares ou
institucionais dos casos que estiver acompanhando, a fim de melhor
orientar suas decisões.
IX. Alimentar o Sistema de Informação para a Infância e Adolescência –
SIPIA, ou outro que o suceda, visando a organização e o
acompanhamento dos casos que chegam ao Conselho Tutelar.
X. Zelar os equipamentos e materiais do Conselho Tutelar, cuidando do
bom uso dos mesmos.
XI. Denunciar eventuais irregularidades praticadas por qualquer dos seus
pares, no exercício de suas atribuições ou por qualquer pessoa, no trato
dos equipamentos e materiais disponíveis ao Conselho Tutelar.
XII. Executar outras tarefas que lhe forem destinadas na distribuição
interna das atribuições do órgão.
2.3.3 Processo de escolha dos conselheiros Tutelares.
O processo de escolha é conduzido e organizado pelo COMDICA, é
homologado, obedecem às resoluções municipais específicas, e em conformidade
com o ECA. Vale ressaltar que todo o processo deve ser fiscalizado pelo MP.
A lei federal estabelece como condição mínima para um cidadão candidatar-se
a membro do Conselho Tutelar alguns requisitos, como reconhecida a idoneidade
moral, idade superior a 21 anos e residir no município, devendo também estar
definidos na Lei municipal:
Cabe ao município, e somente a ele, a prerrogativa de definir esse processo
de escolha, de acordo com a nova redação do ECA.
Art. 139. O processo para a escolha dos membros do Conselho
Tutelar será estabelecido em lei municipal e realizado sob a
responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente, e a fiscalização do Ministério Público.
51
§ 1o O processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar
ocorrerá em data unificada em todo o território nacional a cada 4 (quatro)
anos, no primeiro domingo do mês de outubro do ano subsequente ao da
eleição presidencial. § 2o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá
no dia 10 de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha. §
3o No processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar, é vedado
ao candidato doar, oferecer, prometer ou entregar ao eleitor bem ou
vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno
valor.
No município de Fortaleza o processo é regulamentado pela lei 9.843, que
estabelece os requisitos seguintes;
Art. 32 - São requisitos para candidatar-se a um mandato de membro do
Conselho Tutelar de Fortaleza;
I- reconhecida idoneidade moral;
II - idade igual ou superior a 21 (vinte e um) anos;
III - residir e ter domicílio eleitoral no município de Fortaleza há mais de 1
(um) ano;
IV - apresentar frequência e aproveitamento satisfatório em curso
preparatório de habilitação para candidatos à função de conselheiro
tutelar, a ser regulamentado por Resolução do COMDICA;
V - comprovar experiência profissional ou em regime de voluntariado de
no mínimo 2 (dois) anos em trabalho direto na área da criança, do
adolescente e família, nos últimos 5 (cinco) anos anteriores ao pleito,
mediante documento contendo as atribuições desenvolvidas;
VI - ser aprovado na prova de conhecimentos gerais e específicos sobre
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e da legislação pertinente
à área da criança e do adolescente e da família;
VII - não ter sido penalizado com a destituição da função de conselheiro
tutelar nos 5 (cinco) anos antecedentes à eleição;
VIII - apresentar, no momento da inscrição, certificado de conclusão de
52
curso equivalente ao ensino médio;
IX - apresentar declaração de 2 (duas) entidades governamentais ou não
governamentais que prestem serviço na área há mais de 2 (dois) anos e
sejam registradas no COMDICA ou conselho referente, comprovando
reconhecida experiência no trato das questões pertinentes à defesa e
atendimento à criança e ao adolescente;
X - não haver sido condenado em sentença penal transitada em julgado,
nem haver sido beneficiado com a transação penal de que trata a Lei nº
9099/95.
Dentre os requisitos, há alguns que são impedimentos, tais como: servir ao
mesmo Conselho, marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro ou
nora, irmãos, cunhados, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta enteado. O exercício
efetivo da função de conselheiro constitui serviço público relevante, estabelece
presunção de idoneidade moral.
2.4 O Conselho Tutelar como espaço de Participação popular, Controle Social e
Garantia de Direitos Sociais.
Diante do objeto de pesquisa que trata de um órgão representativo da
sociedade civil, optamos por analisar as categorias: Participação popular, Controle
Social, e Direitos Sociais, que serão relacionadas com as características básicas do
Conselho Tutelar e será discutida à luz de alguns autores que pesquisam os temas.
É dever do Conselho Tutelar como representante da sociedade civil,
garantir estratégias políticas e espaços de participação na formulação, fiscalização e
no controle das ações e decisões do Estado, para a efetivação dos direitos da
criança e do adolescente.
2.4.1 Participação popular
No contexto histórico brasileiro o uso do termo participação popular nos
espaços públicos é um fenômeno recente, de acordo com Nogueira (2004), a
participação mudou de significado com o passar dos anos, pois era vista como
problema para a formulação e implementação de políticas.
53
Processos participativos ou, mais genericamente, mecanismos de
consulta popular, negociação e formação ampliada de consensos,
agiriam "contra" o crescimento econômico, na medida em que
dificultariam a tomada rápida de decisões e, com isso, prolongariam
indevidamente o tempo de formulação e de implementação de políticas.
Pouco a pouco, a opinião prevalecente foi-se deslocando para o lado
oposto, com o correspondente reconhecimento de que a participação [...]
seria particularmente relevante no fornecimento de sustentabilidade às
políticas públicas e ao próprio desenvolvimento. Os processos
participativos converteram-se, assim, em recurso estratégico do
desenvolvimento sustentável e da formulação de políticas públicas.
(Nogueira, 2004, p. 117-118).
Conforme Nogueira (2004), o tema da participação tem forte conteúdo
ideológico e comporta diferentes conceitos e definições. Assim sendo, decidimos
concordar com a perspectiva freireana, por definir que a participação popular não
deve significar a omissão do Estado.
Os grupos populares certamente têm o direito de organizar-se [...]. Têm
o direito inclusive de exigir do Estado, através de convênios de natureza
nada paternalista, colaboração. Precisam, contudo, estar advertidos de
que sua tarefa não é substituir o Estado no seu dever de atender às
camadas populares. (Freire, 2007, p. 78)
Para Campos e Maciel (1997) a participação popular representa a
construção de uma nova cultura política no Brasil, que confere visibilidade aos
grupos sociais excluídos tradicionalmente do exercício decisório e de usufruir
satisfatoriamente dos bens produzidos por eles mesmos, ou seja, os
trabalhadores.
Essa conquista é fruto da CF de 1988, diz que todo poder emana do povo
que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, essa nova
concepção jurídica estabelece, combinando com o art. 204 “a descentralização
político-administrativa e a participação da população, por meio de organizações
representativas, na formulação das políticas” (BRASIL, 1988, art. 204).
Segundo Nogueira a partir dos anos 1990, no processo de
54
redemocratização dos pais, a participação popular aparece nos discursos de
novos autores sociais como “expressão de práticas sociais democráticas
interessadas em superar os gargalos da burocracia pública e em alcançar
soluções positivas para os diferentes problemas comunitários" (Nogueira, 2004, p.
121).
O Conselho Tutelar é um espaço de participação popular, por ser uma
conquista de sujeitos sociais para todos os outros sem distinção de classe, etnia,
religião e etc. De acordo com Meirelles,
"é na lógica da descentralização, ampliação dos espaços públicos de
decisão e fortalecimento da participação popular que emergem os
Conselhos Tutelares, como órgãos representativos da sociedade civil, no
âmbito municipal, eleitos por meio de sufrágio universal, dentro dos
limites determinados pelas leis eleitorais do país, de voto secreto e
facultativo" (Meirelles, 2005 p. 85)
A sociedade civil tem um papel fundamental para ações de defesa e
efetivação dos direitos infantojuvenis, pois através da participação popular a
sociedade elege seus representantes políticos, nesse cenário elege através do
voto facultativo os conselheiros tutelares, e por meio das formas de participação
registram suas denúncias, que relatam as violações de direitos de criança e
adolescentes, posteriormente cobram uma resposta dos órgãos competentes.
Assim podemos afirmar que a participação é uma conquista,
Um exemplo de participação popular é o número de registros realizados
pela população no Disque Direitos Humanos-Disque 100, que é um serviço de
atendimento telefônico gratuito, que funciona 24 horas por dia, mantido
pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República: a população
registra as violações de direitos, o Disque 100 recebe as denúncias, e encaminha
para a Ouvidoria da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República (SDH/PR), na qual analisa as mensagens e encaminha para os órgãos
responsáveis pela apuração e punição em casos de violências.
O quadro a seguir mostra o número de denúncias registradas pela
população brasileira anunciando violações de direitos de crianças e adolescentes
55
realizadas no corrente ano. (nomear a fonte do quadro)
É importante que a participação popular não seja manipulada, que a
população tenha consciência do poder que possui e use este poder para construir
uma sociedade mais justa e igualitária, cobrando do poder público o seu papel.
A participação popular e o controle social estão intimamente relacionados,
pois por meio da participação na gestão pública, a sociedade civil tem o direito de
intervir na tomada das decisões administrativas, fazendo com que os governantes
formulem medidas que atendam aos interesses da população em geral e, ao mesmo
tempo, possa exercer controle sobre essas medidas, exigindo que o Estado preste
contas de sua atuação.
2.4.2 Controle social
O Conselho Tutelar é um espaço de controle social, pois atende, orienta e
encaminha todas as pessoas em situação de vulnerabilidade social, conflitos e com
interesses opostos. De acordo com a publicação da Secretaria do Trabalho e
Desenvolvimento Social - STDS (2012).
“os conselhos são órgãos públicos de controle social, fundamentados no
princípio de democracia participativa. Existem para garantir a
participação da sociedade na formulação de políticas públicas e são
56
voltados para a defesa e promoção dos direitos das crianças e
adolescentes.
A expressão controle social recebeu significados variados ao longo da
história das sociedades, Carvalho (1995) faz um importante resgate, "na concepção
da sociologia clássica, o termo 'controle social' tem sido usado por vários autores
para designar os processos de influência da sociedade (ou do coletivo) sobre o
indivíduo" (Carvalho, 1995, p. 9).
Carvalho (1995), afirma que Durkheim concebe o controle social como uma
conquista através das obrigações ou pressões morais expostas pelo indivíduo para a
sociedade, na qual esta ameaçada pela irracionalidade humana, pode ser protegida
por essa estrutura normativa. Já no entendimento de Bobbio, o controle social é
concebido como uma limitação do agir individual na sociedade.
Essas concepções de controle social, vistas como controle do Estado sobre
a sociedade, atravessaram séculos, havendo uma mudança significativa com a
Constituição Federal de 1988, onde controle social representa um direito
conquistado e é entendido como um direito, permitindo não só a participação da
população na elaboração, mas, também, a fiscalização das políticas públicas e a
aplicação dos recursos públicos.
Conforme Machado (2004), o controle social, não se restringe somente ao
controle financeiro da administração pública, controle social é participar da
construção e acompanhar a implementação de um projeto, ação ou política pública.
O exercício do controle social ultrapassa a dimensão da questão
financeira. Além de fiscalizar, o controle social significar propor,
monitorar, acompanhar, participar conjuntamente dos critérios de
formulação das politicas públicas, as estratégias de viabilização dessas
politicas, enfim, ter acesso á construção desse processo. (Machado,
2004, p. 7)
Essa ideia é também defendida por Rodrigues e Azzi (2007), que
reconhece o controle social como um dos elementos do processo de publicização,
e o seu exercício define como uma ação reguladora para a garantia de direitos
57
sociais. (não há registro formal dessa palavra, mas como está em fonte deixei)
“Controle social” é uma categoria constitutiva dos processos
democráticos e tem sido reconhecido com um elemento integrante do
processo de publicização. O exercício do controle social pela sociedade
civil, no âmbito das politicas sociais, pode ser entendido como uma
forma de relação reguladora, que visa os interesses da sociedade civil na
garantia dos direitos sociais de cidadania. Por isso, o controle social não
pode ser confundido apenas com controle do financiamento ou do fundo
público. Ele é mais amplo, pois inclui o controle de diretrizes, da
administração da ação técnica e da destinação dos recursos.
Neste cenário é que se situa o Conselho Tutelar, como órgão colegiado,
representativo da sociedade, compostos por pessoas escolhidas pelas
comunidades, com a responsabilidade de fiscalizar e zelar pelo cumprimento dos
direitos da criança e do adolescente, se configurando como órgão público de
controle social.
A participação da sociedade civil na formulação e implementação de
políticas públicas se efetiva através do exercício do controle social, aqui
concebido pela ideia de Raicheles, como:
...o acesso aos processos que informam as decisões no âmbito da
sociedade política. Permite a participação da sociedade na formulação e
revisão das regras que conduzem a negociação e arbitragem sobre os
interesses em jogo, além do acompanhamento da implementação
daquelas decisões, segundo os critérios pactuados. (Raicheles, 1998, p.
42)
Campos e Maciel (1997) afirma que os conselhos são instâncias
privilegiadas para a participação efetiva do exercício do controle social,
assinalando o estabelecimento do Estado democrático de direito coerente com o
princípio da soberania popular.
Portanto, podemos concluir que o controle social é o controle das ações do
Estado, realizado pela sociedade civil, através da participação nos processos de
elaboração, implementação e fiscalização das políticas públicas, por meio dos
mecanismos de participação popular como, por exemplo, os conselhos de direitos
58
e Tutelares, que visam à garantia dos direitos sociais.
2.4.3 Direitos sociais
A luta pelos direitos sociais no Brasil é um processo histórico, conforme
Couto (2010), a construção dos direitos pode ser analisada a partir de uma
divisão no tempo da história da sociedade brasileira, como direitos de primeira,
segunda e terceira geração. Os direitos de primeira geração são os direitos civis e
políticos fundamentados na liberdade do homem, surgiram no século XVIII e se
consolidaram no século XIX. Os direitos de segunda geração, que conhecemos
como direitos sociais baseiam-se na ideia de igualdade, se consolidaram no
século XX. E os direitos de terceira geração são fundamentados na ideia de
solidariedade, estando ligados ao desenvolvimento, meio ambiente e a paz, ou
seja, comum a todos.
De acordo com Bobbio (2004) o que hoje é definido por direitos humanos,
não são produtos da natureza, e sim frutos da civilização humana. Por isso são
históricas, mutáveis e suscetíveis as demandas de cada sociedade.
No Brasil as primeiras lutas por direitos sociais aconteceram no período
colonial, quando a sociedade era regida pela escravidão e lutou pela abolição.
A herança colonial pesou mais na área dos direitos civis, o novo país
herdou a escravidão, que negava a condição humana do escravo,
herdou a grande propriedade rural, fechada à ação da lei, e herdou um
Estado comprometido com o poder privado. (CARVALHO, 2008, p.45)
Mesmo depois da abolição da escravatura, o Brasil permaneceu com
concepções que limitam a garantia de direitos, ao aderir o atual sistema
econômico capitalista, com isso o povo começa a se organizar nos movimentos
sociais, em busca da emancipação humana. Nesse contexto a organização da
classe trabalhadora teve um importante papel na luta pelos direitos sociais e
surgimento das políticas sociais.
Bobbio (2004) diz ainda que, a garantia dos direitos não depende só da
boa vontade dos governantes ou de critérios que demonstrem a concessão
59
absoluta desses direitos, essa garantia depende da transformação econômica de
um país, tornando possível a proteção aos homens.
De 1930 a 1964 no Brasil, o Estado reconhecia como cidadão com acesso
aos direitos sociais, ainda que limitados, somente os trabalhadores de possuíam
carteira assinada, que eram sindicalizados. Com o golpe militar que dominou de
1964 a 1969, houve uma intensa violação de direitos, os direitos políticos foram
reprimidos e os direitos sociais foram expropriados, nesse contexto de luta de
enfrentamento à ditadura, a luta pelos direitos ganhou força social e política,
incorporando pelos movimentos sociais um discurso democrático de cidadania
participativa.
Nos anos de 1970 a 1980 o regime militar se desgastou, e foi instalada a
Assembleia Nacional Constituinte, que mobilizou a população para assinar a
Constituição, que mudaria a história brasileira, para um Estado de democracia e
de direitos com o objetivo de promover a justiça social.
A Constituição de 1988 define no art. 1 os direitos individuais e coletivos,
entre os quais a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. No art. 6, expressa os direitos
sociais como: a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, garantindo a quem deles necessitar sem nenhuma forma de
discriminação.
Na análise de Telles (1999), que se referencia a partir do estudo da obra de
Arendt, a autora destaca duas ideias com relação aos direitos sociais: a primeira é
que os direitos sociais na modernidade são esforços de estabelecimento da
justiça social. A segunda ideia de Telles (1999) é que a destruição desses direitos
leva à emergência de contradições e conflitos sociais, onde o indicado é analisar
os direitos sociais, com a visão dos direitos como regras de sociabilidade, sem ver
as pessoas como vítimas, mas como portadoras de direitos, para participar, para
reivindicar, se distanciando do perfil de caridade.
Com relação à garantia dos direitos das crianças e adolescentes no Brasil,
60
estão relacionados historicamente com a conquista da Doutrina de Proteção
Integral pela Convenção sobre os direitos da criança, aprovada pela ONU em
1989, a citada Constituição Federal de 1988, e regulamentados no ECA em 1990.
Como já exploramos no início deste capitulo.
A Constituição Brasileira relaciona em seu artigo 227, aqueles direitos
destinados a conceder às crianças e adolescentes absoluta prioridade no
atendimento ao direito à vida, saúde, educação, convivência familiar e
comunitária, lazer, profissionalização, liberdade, integridade etc.
Em conformidade com a Constituição Federal, o ECA, no Art. 4° define a
responsabilização na efetivação dos direitos.
Art. 4 É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos
direitos referentes á vida, á saúde, á alimentação, a educação, ao
esporte, ao lazer, á Profissionalização, a cultura, a convivência familiar e
comunitária.
Dentre os órgãos competentes e responsáveis por zelar pela garantia de
todos os direitos das crianças e adolescentes, encontra-se o Conselho Tutelar;
como espaço público e de controle, tem essa dimensão de atuar na defesa dos
direitos, sempre que estes estiverem sendo ameaçados ou violados, levantando
lutas, pois representa um canal de politização dos cidadãos, sendo um espaço
privilegiado na gestão conjunta do governo e sociedade civil, atuando de forma
articulada com as políticas públicas na garantia dos direitos.
Conforme a publicação da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento
Social - STDS (2012) o conselho tutelar tem sua atuação direcionada para o
funcionamento do Sistema de Garantia de Direitos - SGD, que é um conjunto
articulado de pessoas e instituições que atuam para efetivar os direitos do
segmento infantojuvenil.
Entendemos que o Conselho Tutelar, como espaço público de participação,
"tem potencial político para se apropriar dos espaços de discussão e participação
política" (Meirelles, 2005, p. 95). Com essa função o Conselho Tutelar é capaz de
cobrar do Estado a efetivação dos direitos sociais garantidos em lei, realizando
sua verdadeira atribuição de fiscalização e controle social na busca da justiça
social.
61
3. CONSELHO TUTELAR NA PRÁTICA, SOB A ÓTICA DOS CONSELHEIROS
TUTELARES: POSSIBILIDADES E LIMITES UM DESAFIO CONSTANTE NO
FUNCIONAMENTO DO ÓRGÃO.
Durante a pesquisa de campo, tivemos a oportunidade de marcar as
entrevistas com 50% dos entrevistados que apoiam a atual gestão municipal, e
com 50% de conselheiros que criticam a administração, nosso objetivo é mostrar
as contradições, diferentes visões influenciadas pela política partidária, que
rodeiam a realidade vivenciada pelos conselhos Tutelares de Fortaleza.
3.1 Definição de Conselho Tutelar e análise da atuação dos Conselheiros
Tutelares, segundo os entrevistados.
Nos discursos dos conselheiros entrevistados, o Conselho Tutelar é
definido por diversos significados, inicialmente como órgão de suma importância
na defesa e garantia de direitos das crianças e adolescentes e ressaltada a
importância de um apoio mais eficaz pela prefeitura municipal de Fortaleza.
É um órgão pra mim superimportante pra sociedade. (Eva Furnari)
O Conselho Tutelar é um órgão autônomo e permanente, encarregado
pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do
adolescente e tem que ser amparado pela prefeitura desde a estrutura
até as condições adequadas de funcionamento e atendimento. (Ana
Maria Machado)
É visto também como porta de entrada, uma instituição de referência para
a sociedade. Porém são apresentadas as angústias para o atendimento das
denúncias.
Pra mim o Conselho Tutelar, ele deveria ser a porta de entrada mesmo,
em que as pessoas fossem buscar tentar solucionar os problemas, e sair
com uma solução plausível. Eu acho que hoje não é possível. (Ruth
Rocha)
O Conselho Tutelar na minha visão hoje é a porta de entrada das
denúncias, todos os tipos de denúncias o Conselho Tutelar é a porta de
entrada, agora mesmo a gente está com muita dificuldade, em atender
essas demandas, porque as dificuldades são grandes. Agora que a
gente tem muita boa vontade de atender a gente tem, eu ainda acredito
62
muito num Conselho Tutelar diferente. (Mariana Massarani)
Vivarta (2005) explica que o Conselho Tutelar funciona a partir de
denúncias de violações de direitos, não executando nenhum programa, que o
órgão surgiu com a ideia de retirar essas ações que antes era de
responsabilidade do judiciário.
Aparece como uma conquista da sociedade, o que nos faz relembrar o
contexto histórico de surgimento do atual paradigma de proteção integral e do
Conselho Tutelar, amplamente discutido no segundo capitulo deste trabalho.
O Conselho é uma conquista de uma luta social, que perpassou vários
anos e continua em construção, faz parte da história brasileira. Antes as
crianças e adolescentes eram vistas como objetos de proteção e tinham
seus direitos violados de forma natural. Depois da aprovação do ECA,
eles passaram a ser respeitados e sujeitos de direitos, a implantação do
Conselho Tutelar, vem para concretizar a garantia desses direitos e
consequentemente a luta contra as violações, abusos e omissão.
(Monteiro Lobato)
Com relação às análises feitas pelos interlocutores, quanto à atuação dos
conselheiros, percebemos que existe uma disputa de poder interna entre eles, e
que um dos motivos são suas escolhas partidárias.
Com respeito à atuação dos conselheiros, bom no Conselho Tutelar tem
muita gente que quer trabalhar, tem muita gente que quer fazer o
trabalho sério, mas de certa maneira ele é impedido por diversos fatores.
O principal é a política, que acaba atrapalhando o andamento do
Conselho Tutelar. (Ruth Rocha)
Outro fator que também é citado, que contribui para a não atuação
qualificada dos conselheiros, é a falta de formação continuada para o exercício da
função.
Sobre a atuação dos conselheiros, tinha condições de ser melhor, se
realmente nesse processo de escolha, tivesse realmente uma
capacitação com antecedência, para quando começassem a atuar nos
conselhos. (Eva Furnari)
Em um dos depoimentos fica claro que alguns conselheiros deixam a
63
desejar na efetivação de suas atribuições, oprimidos pela falta de estrutura e
apoio governamental e também pela falta de fiscalização dos órgãos
competentes.
A atuação dos conselheiros, às vezes a gente, é como se diz, impedido
de trabalhar por conta da falta de condições para o trabalho. Os
conselheiros às vezes por conta do não apoio das redes, deixa muito a
desejar ainda, a situação é muito precária, e o apoio das redes é
fundamental. (Mariana Massarani)
O conselheiro tutelar tem atribuição de atender, aconselhar, requisitar,
encaminhar e representar contra toda violação dos direitos da criança e
do adolescente, conforme o art. 136 do ECA, entretanto existe denúncias
de conselheiro que exerce outras atividades laborativas, não se dedicam
ao atendimento integral, que a função necessita. (Ana Maria Machado)
É válido ressaltar quer por tratar-se de um órgão público, já é de
conhecimento de todos os candidatos a conselheiro, a realidade de estrutura dos
equipamentos e as condições de trabalho no referido órgão, o que não justifica
que depois de assumir dada função o profissional deixe de exercer seu papel
justificando somente a falta de estrutura, pois seria um discurso generalizado de
todos os profissionais da rede pública.
Na visão de um entrevistado a atuação dos conselheiros é também
comprometida quando não se tem afinidade com o trabalho de atendimento
social.
O conselheiro tutelar, no cumprimento de suas atribuições legais,
trabalha diretamente com pessoas que, na maioria das vezes, vão ao
Conselho Tutelar ou recebem sua visita em situações de crises e
dificuldades — histórias de vida complexas, confusas, diversificadas.
Para isso o conselheiro tem que ter compromisso com a causa, perfil que
encontramos em alguns. (Monteiro Lobato)
3.2 Avaliação dos principais protagonistas sobre o processo Municipal de escolha
dos conselheiros tutelares.
O processo de escolha dos conselheiros tutelares é administrado pelo
64
COMDICA, através de resoluções que determinam os requisitos e datas das
etapas do processo, 90% dos entrevistados criticam o processo municipal de
escolha dos conselheiros, apresentando justificativas que mostram a deficiência
da organização no processo, bem como na apuração das irregularidades.
Muito falho, um processo que é manipulado por funcionários da
prefeitura aonde muitas vezes trabalham para políticos que tem seus
próprios candidatos, até mesmo as urnas são manipuladas por essas
pessoas, não tem divulgação, quase ninguém sabe das eleições, que
não votam nas escolas que sempre votam em outras eleições
legislativas. (Monteiro Lobato)
O processo de escolha é deficiente, assim o processo realmente toda
vida tem a resoluções, sai edital é homologado juntamente com o
colegiado do COMDICA, mas eu gostaria que fosse mais transparente
em termos do processo de escolha, por que tinha que ter uma
fiscalização maior, o edital tinha que ter: primeiro um tempo mais
ampliado para que fosse realmente comprovada a questão da
experiência profissional das pessoas, que se candidatam. Que por
muitas vezes a gente sabe que tem candidatos que não têm a mínima
habilidade com a causa e isso atrapalha depois no andamento quando
exerce a função de conselheiro tutelar. (Eva Furnari)
Péssimo, porque ele, no momento do processo, eles estão vendo todas
as, como eu posso dizer, todas as irregularidades, elas não são
apuradas. Eles deixam as pessoas que mesmo que fraudaram
assumirem, pra depois eles irem atrás de tomar uma punição e eu acho
que se está irregular desde o início, então tem que se indeferido desde o
início, porque a gente sabe que depois que toma posse torna-se muito
mais difícil. (Ruth Rocha)
Contrapondo-se a essas afirmações somente uma interlocutora, vê o
processo como positivo.
Eu acho que seja transparente, eu não tenho, não vejo nenhum motivo
que não mostre transparência não, eu acredito que seja positivo, legal
dentro da lei. (Mariana Massarani)
3.3 Quais as denúncias de violações de direitos mais recebidas e a percepções
dos conselheiros sobre o papel do Estado e da família na luta contra as violações
65
de direitos das crianças e adolescentes?
A violação de direito mais denunciada nos Conselhos Tutelares de
Fortaleza, segundo os entrevistados e de acordo com os dados estatísticos da
Secretaria de Direitos Humanos de Brasília, é a negligência.
A grande maioria é negligência dos pais. (Monteiro Lobato)
Negligência dos pais (pai ou mãe) sempre por causa das drogas (crack,
cocaína e maconha) (Ana Maria Machado)
Aqui mais é na parte da negligência, eu vejo porque é o que a gente
mais atende as denúncias aqui e os casos de mães que não cuidam dos
filhos que não leva para o médico, que não estudam e a parte da
negligencia que predomina. (Mariana Massarani)
Percebemos que a sociedade não conhece as atribuições do Conselho
Tutelar, que além de lutar pela efetivação de direitos, também tem a função de
cobrar e aplicar medidas aos pais ou responsáveis que se comportam de maneira
ameaçadora, omissa ou violenta nos cuidados ou falta deles com as crianças e
adolescentes.
A maior demanda que a gente (mais) recebe atualmente é negligência
dos pais, é um problema muito sério que hoje os pais estão transferindo
a responsabilidade, muitas vezes chegam ao Conselho Tutelar e querem
entregar os filhos... (Eva Furnari)
Na sequência das demandas mais atendidas, aparece como segundo lugar
a violência física, seguido do problema social que atualmente abala todas as
classes sociais, a drogadição.
É a segunda demanda é a violação física e depois a questão da
drogadição, a drogadição é um caso sério, apesar que atualmente tem
melhorado um pouco devido já os programas que estão existindo. (Eva
Furnari)
Negligência, violência física, eu acho que são os principais problemas
atendidos no Conselho Tutelar. (Ruth Rocha)
Uma demanda que também é apontada por um entrevistado, que foi
66
recentemente tipificada como crime, é a alienação parental. De acordo com a Lei
nº 12.318, de 26 de agosto de 2010, a alienação parental é:
Art. 2 Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação
psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um
dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente
sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou
que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos
com este.
Agora também que está crescendo muito é a questão da alienação
parental, que é crime e muito difícil de ser comprovada, acho que na
SER II, a alienação parental está entre os três primeiros lugares nos
atendimentos. (Ruth Rocha)
Com relação à visão dos entrevistados quanto ao papel do Estado e da
família na luta contra essas violações de direitos, entendemos que muitas das
violações são resultados da omissão do sistema estatal, que não garante
condições mínimas às famílias, não implementa políticas públicas capazes de
atender as demandas da população, e essas famílias vivem em situações
vulneráveis, nesse contexto acontecem as diversas violações. Portanto, a criança
e adolescente, na maioria das vezes, são vitimados nos dois planos.
O Estado precisa, necessita em caráter de urgência ampliação de
políticas públicas, porque o que nos mais precisamos é justamente
políticas públicas que sejam abrangentes em relação à família. Porque
se você trabalha com a família, logicamente essas violações vão
diminuir, porque as crianças e adolescentes eles são vítimas, ou seja,
muitos problemas são causados por violência doméstica, e também a
questão da escolaridade é um fato que também a gente tem observado,
que as escolas em tempo integral precisam se ampliar para as crianças,
que pra adolescente já tem algumas, e se ampliar, logicamente a
situação vai ser bem melhor em termos de violações. (Eva Furnari)
É citado também pelos entrevistados que o Estado deixa a desejar na
apuração dos casos e punição dos agressores; em alguns casos atendidos pelo
Conselho Tutelar, acontece descumprimento injustificado de deliberações, ou se
constitui em infração administrativa, esses são encaminhados à autoridade do
poder judiciário e Ministério Público.
67
A família, ela acha que se ela levar a criança para a escola ela já fez o
papel dela, ela não participa de nada, a escola se for botar a frequência,
e se deixar o bolsa família ser prejudicado, e que ela vai à escola, mais
se for fazer uma reunião, não aparece quase ninguém. O Estado por não
punir a mãe, negligencia a mãe violenta, muitas vezes a criança tem que
ser tirada, vai para acolhimento institucional, então eu acho que punição
para a família ainda está longe de ser concretizado. (Ruth Rocha)
Para um entrevistado falta entendimento por parte do Estado, da
importância que tem o Conselho Tutelar para a sociedade, e que pouco é
reconhecido pelo poder municipal.
O papel do Estado é muito crítico ainda, o Estado deixa muito a desejar,
tanto o Estado em si, quanto o município de Fortaleza, políticas públicas
não existem, porque eu acho que quando chega ao Conselho Tutelar é
porque faltou muita coisa da parte dos governantes. Então deixa muito a
desejar, tinha que ser feito algo urgente, infelizmente é um processo
muito demorado pra essas melhorias chegarem até a gente, é muito
difícil, eu acho que o Estado deveria ter um olhar melhor para o
Conselho Tutelar, para área da criança e do adolescente, políticas
públicas para melhores condições na área da educação, a questão do
trabalho social com as famílias, a falta acarreta situações que acabam
vindo para o Conselho Tutelar. (Mariana Massarani)
3.4 Mudanças nos conselhos tutelares de Fortaleza nesse último mandato.
Na concepção de alguns conselheiros as mudanças são significativas,
percebemos esse discurso nos conselheiros que acreditam na nova
administração.
Sim, teve, inclusive vai ser implantado o programa Cresça com o seu
filho, que esse programa vai abranger crianças de 0 a 03 anos, a
questão também das escolas, porque pela Lei de Diretrizes e Base da
Educação, a partir de três anos a criança pode estudar em horário
parcial, embora é claro, logicamente, o ideal é que fosses em horário
integral, mas tem facilitado para ter atendimento a demanda, que estava
sem nenhum tipo de assistência, a inserção dentro das escolas e creche,
isso tem melhorado. E mais um fator importante foram os editais que
saíram em relação à criação do Centro de Referência sobre drogas, que
agora nós temos comunidades terapêuticas que estão aceitando,
inclusive, criança e adolescente, porque a gente sabe que é uma
68
demanda bastante elevada e muita criança e adolescente já vivem
ameaçados de morte. Para isso tem facilitado nosso acompanhamento,
pois já foi implantado o PPCAAM, isso ai vem melhorando bastante.
Mais claro precisamos avançar mais ainda, tudo isso não é suficiente.
(Eva Furnari)
O Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte
– PPCAAM foi criado pelo decreto nº 6.231, de 11 de outubro de 2007, trabalha
com o público, vítima de ameaça de morte, onde a porta de entrada é o Conselho
Tutelar.
Outro avanço relatado é a reforma estrutural que está acontecendo em três
conselhos
Com a nova gestão da prefeitura estou sentindo que está havendo
avanços e melhoras na estrutura dos prédios. (Monteiro Lobato)
Contrapondo-se a esses depoimentos, alguns conselheiros criticam
declarando que a nova gestão é um retrocesso para a história do Conselho
Tutelar de Fortaleza.
Não vejo nenhum avanço, só retrocessos, porque o que a gente tinha
avançado no mandato anterior, esse foi um retrocesso geral, hoje a
gente não sabe a quem procura, a quem recorrer, a gente não sabe de
nada, é cada um fazendo seu trabalho paralelo, no final a gente não vê
um resultado positivo. A questão dos funcionários terceirizados é um
retrocesso, as transferências, porque a política ele acaba interferindo e
atrapalhando. Eles não dão formação nem para os conselheiros, nem
para os funcionários, eles têm que aprender na marra e quando eles
começam a aprender os encaminhamentos o fluxo, eles são demitidos.
O que acaba gerando um prejuízo enorme para o Conselho Tutelar.
(Ruth Rocha)
Na avaliação de uma entrevistada, existem mudanças negativas e
positivas. Vale ressaltar que ela entende os avanços como fruto da luta de todos
os conselheiros e profissionais, frisando a importância da participação nos
encontros.
Durante esse mandato, respondendo pelo nosso Conselho, eu acredito
69
que sim, assim, um pouco, ainda deixa a desejar pela falta de diálogo
com os representantes do governo, mas com a reforma do prédio é um
avanço. Porém está passando por muitas dificuldades, no prédio
improvisado, mas logo vamos receber o Conselho Tutelar modelo, para a
gente atender melhor. Eu acredito que lá esse Conselho que a gente vai
receber, vamos ter internet, vamos ter impressora, telefone que às vezes
a gente quer passar um fax e não tem, ou ligar para cidade e não pode.
Eu acredito que ao receber esse Conselho modelo, vai vir com todas as
condições para a gente trabalhar. Eu acredito que isso aí foi um avanço.
Por conta da luta de todos nós, porque participamos de reuniões aqui,
nos conselhos e no Ministério Público, e a gente vai criando, eu acho
que em cada situação, que a gente participa dali vai plantando uma
semente, que em algum momento, de tanto a gente questionar algum
benefício vem, essa foi uma conquista a reforma de três conselhos.
(Mariana Massarani)
No artigo 134, parágrafo único, do ECA, diz que deve constar na lei
orçamentária municipal e da do Distrito Federal previsão dos recursos
necessários ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e formação
continuada dos conselheiros tutelares.
O Fundo Municipal da Criança e do Adolescente de Fortaleza – FMCA, foi
instituído pela Lei Municipal nº 7.235 em 06 de novembro de 1992 e foi decretado
pelo nº 9098 de 28 de maio de 1993. É vinculado à Secretaria e Cidadania de
Direitos Humanos e administrado pelo COMDICA. A receita é proveniente do
imposto de renda, multas de violações de direitos da criança e do adolescente,
doações, campanhas de arrecadação, convênios e recursos da secretaria.
3.5 Desafios enfrentados pelos conselhos tutelares de Fortaleza para a
implementação do ECA e exercício de sua função.
É possível avaliar nos depoimentos, que na percepção dos conselheiros
são vários os desafios enfrentados para que o ECA seja respeitado e
implementado na realidade de Fortaleza, fica claro que todos são sabedores da
árdua função de conselheiro tutelar, mas percebemos ainda que existem alguns
aspectos que não dependem dos conselheiros para o desenvolvimento adequado
de suas atividades no dia a dia do órgão, os desafios mais citados foram com
70
relação ao número de conselheiros tutelares, à deficiência na rede de proteção,
formação continuada, terceirização dos profissionais de apoio administrativo e
técnico, falta de políticas públicas e infraestrutura adequada.
Com relação à deficiência na rede de proteção, foram apresentados por
40% dos entrevistados como o principal desafio do Conselho Tutelar. Vale
ressaltar que a deficiência apresentada é a falta de eficiência, interação e
exercício das atividades em rede, com encaminhamentos, retornos,
acompanhamento, estudo de caso, ou seja, a proteção integral, preconizada no
ECA.
A rede de proteção que não existe, hoje se fala em acolhimento
institucional, que claro seria o último encaminhamento, mas em
determinadas situações é a primeira medida que se tem que aplicar, e a
realidade é que não tem vagas nas instituições de Fortaleza, as crianças
que são abandonadas em hospitais são novamente negligenciadas pelo
Estado, pois têm que passar muitos dias no hospital, correndo risco de
pegar infecções e outras doenças, porque tem que se esperar uma vaga,
e pra recém-nascidos é a maior dificuldade, para realmente ser
protegida. Esse em minha opinião é o maior desafio, trabalhar sem o
apoio da rede de proteção.
É possível constatar que a falta da eficiência da rede proteção é
generalizado pelo número reduzido de equipamentos que integram a rede, na
qual sua estrutura é de responsabilidade do Estado.
O CAPS infantil, nunca terá condição de atender a demanda, pois é um
CAPS para três regionais. (Ruth Rocha)
Um problema enfrentado, também, é com as unidades de acolhimento,
que deixam a desejar, precisa ser ampliada, principalmente a questão de
faixa etária e de perfil, porque perfil de criança e adolescente
abandonado não tem abrigo especifico, só tem mais para exploração,
abuso sexual, muitas vezes esses adolescentes são colocados junto
com outras vítimas de outras violações e acabam adquirindo
conhecimento de outras realidades, que termina com um adolescente
sendo colocado no acolhimento desnecessariamente, não é o caso de
misturar, mas é que poderia ser um acompanhamento diferenciado, e
71
dentro dessas unidades de acolhimento era para ter cursos
profissionalizantes, atuação socioeducativas, sociofamiliar. Ser feito o
trabalho com a família para poder evitar, justamente problemas de
criança e adolescentes em situação de rua. (Eva Furnari)
Outro entrevistado cita também a falta de apoio da rede e a dificuldade no
retorno dos encaminhamentos. Nessa fala é possível observar ainda que nem
todos os profissionais reconhecem sua autonomia, e seu poder de representar
contra qualquer indivíduo ou instituição que impedir ou embaraçar ação do
conselheiro tutelar no exercício de sua função, previsto no artigo 236 do ECA,
como crime com detenção de seis meses a dois anos.
O maior desafio é a falta de apoio da rede de proteção, eu acredito que
sim, porque é o maior desafio que a gente tem, como por exemplo ao
encaminhar um pedido de vaga para um colégio, é uma dificuldade, a
gente encaminha uma vez, a gente encaminha duas e às vezes não é
atendido ou respondido. A gente quer engajar um jovem num projeto,
não existe nenhum disponível de prontidão. Se tiver um caso com
problemas de saúde, precisando de atendimento, a gente encaminha
para um posto de saúde, e este não é atendido. O maior desafio e esse,
devemos conquistar a interação de todos que trabalham com crianças e
adolescentes, todos deveriam falar a mesma língua. Hoje é como se a
gente tivesse trabalhando sozinho, muitas vezes a gente faz
encaminhamento e o colega vê com maus olhos, e até retorna com oficio
dizendo que não pode atender, temos que vencer essas dificuldades do
trabalho em rede. (Mariana Massarani)
Na concepção de outro entrevistado, um dos desafios é falta de
qualificação dos conselheiros, que não tem oportunidade de adquirir
conhecimento sobre a teoria, para referenciar suas ações no cotidiano do
Conselho Tutelar, ou seja, não usufrui da formação continuada garantida pelo
ECA no parágrafo único do artigo 134, que diz que a lei orçamentária municipal
deve conter recursos para a formação continuada dos conselheiros.
O primeiro e mais importante desafio que necessita enfrentado é a
capacitação contínua, os conselheiros necessitam realmente a cada dia
72
mais se qualificarem, para poder saber os tipos de violações, como
devem ser inseridos essas crianças e adolescentes nos programas. (Eva
Furnari)
A mesma entrevistada ressalta que outro problema, que atrapalha o
andamento adequado das atividades do órgão, é a terceirização, que além de ser,
como já sabemos, um meio de exploração dos direitos do trabalhador, para o
Conselho Tutelar representa retrocessos no acompanhamento dos casos, visto
que acontece uma quebra de vínculos com os usuários.
E também outro desafio que existe é o fato que os Conselhos Tutelares,
apesar de ter tido uma melhora, porque agora nós temos a equipe de
multiprofissionais, mas a questão é da rotatividade que tem esses
profissionais. Devido ser terceirizados. Eu acho que deveria ter
concursos públicos. Acho que facilitava mais essa questão do
acompanhamento dentro dos Conselhos Tutelares. (Eva Furnari)
A realidade estrutural dos Conselhos Tutelares é constantemente exposta
nos programas de TV e nas redes sociais, temos um número reduzido ao máximo
do que é indicado pelo CONANDA, que é um dos motivos justificáveis para o não
funcionamento do órgão, pois é humanamente impossível um profissional realizar
atividade suprindo ao mesmo tempo seis pessoas, é o que acontece em
Fortaleza.
O número de conselheiros, que é 30 para toda a Fortaleza e o
recomendado pelo CONANDA é 180. Se tivéssemos esse número de
conselheiros, aí daria para acompanharem mais de perto cada caso e
chegar mais rápido nas denúncias. Ainda falta estruturação adequada
aos prédios dos conselhos. Faltam Políticas públicas para crianças e
adolescente. Isso resolveria 80% dos problemas. (Monteiro Lobato)
Em uma entrevista ao jornal O Povo, em 21/04/2014, a Promotora de
Justiça da Infância e da Juventude, Dra. Antônia Lima, confirma que "Existe uma
fragilidade muito grande da rede de amparo. Os atuais conselhos com certeza
não estão dando conta de proteger nossas crianças". Com relação à criação de
mais conselhos, o MP já notificou a Prefeitura para a criação de mais 19
unidades, porém, segundo a promotora, a Prefeitura "só tem recursos para mais
73
quatro, ou seja, a gente vai continuar aquém".
Na mesma reportagem a assessora comunitária do CEDECA, a Sra. Talita
Maciel, ressalta que.
"Os canais de denúncia existem. Mas o sistema de garantia de direitos
tem uma estrutura bastante falha. Desde os Conselhos Tutelares até a
delegacia. Há denúncias flagrantes que não são apuradas no momento
do crime e acabam perdendo a efetividade."
3.6 O que pensam os conselheiros sobre o plantão do Conselho Tutelar.
Todos os entrevistados são unânimes em afirmar que o plantão do
Conselho Tutelar de Fortaleza iniciou e está funcionando de forma fragilizada, não
tem a participação de 100% dos conselheiros, alguns declaram que cumpri suas
obrigações, para não serem penalizados por omissão, mas na realidade não se
percebe resultado positivo do trabalho que é desenvolvido. Os conselheiros
justificam por uma diversidade de motivos, uma é falta de estrutura.
Inoperante, inexistente, a gente vai, a gente participa, né, da escala, pra
gente futuramente não ser punido, pela falta de trabalho, por omissão, se
acontecer uma situação e a gente tá em casa, não vai para o plantão, lá
na frente a gente pode ser penalizado por isso, eu acho que o plantão
deixa muito a desejar. Esse plantão ali deve ser melhorado, ou
extinguido, já que não acontece. (Mariana Massarani)
O plantão é o pior possível, não tem apoio nenhum, é um local impróprio
por diversas vezes falta telefone, o transporte muitas vezes não tem
combustível, os conselheiros que se habilitam a ir ao plantão ele vai
somente para cumprir a carga horária, mas não tem como atender a
demanda, não tem condições, o plantão não tem condições de funcionar
de jeito nenhum. (Ruth Rocha)
De acordo com a lei 9.843 de 11 de novembro de 2011, no artigo 18 ,
segundo parágrafo, diz que o plantão central dos conselhos tutelares será
realizado em local fixo, de fácil acesso para a população. O plantão do Conselho
Tutelar de Fortaleza hoje funciona na sede do Conselho Tutelar I, que é
localizado no primeiro andar de um prédio na Av. Bezerra de Menezes, não tem
74
acessibilidade para deficientes e a estrutura é antiga, não tem infraestrutura
própria, ou seja, o material de expediente, o transporte e os educadores são os
mesmos do dia a dia dos conselhos.
Outro fator justificável é o défice de conselheiros, dos trinta conselheiros,
oito são plantonistas no final de semana, na segunda e terça-feira da semana
seguinte só trabalham durante o dia vinte e dois conselheiros, desses, alguns
podem estar de visitas ou em atividades externas, portanto se o número de
conselheiros já não é suficiente, podemos avaliar que a situação se agrava
quando os conselheiros usufruem de suas folgas.
Muito falho, hoje Fortaleza não tem estrutura para ter plantão. Só temos
30 conselheiros em Fortaleza aonde teríamos que ter 130. Os
conselheiros que tiram o plantão têm direito a 2 folgas daí durante o dia
semanal desfalcam os conselhos. Durante o plantão não trabalhamos,
pois não temos retaguarda e depois de certo horário deixamos de ir para
as denúncias por falta de segurança. Daí nem trabalhamos a noite e nem
durante o dia nos conselhos. (Monteiro Lobato)
É interessante destacar que, nos discursos, as dificuldades enfrentadas no
plantão, vão além da falta de estrutura; na compreensão de uma conselheira
necessita de profissionais qualificados, segurança, e, o mais importante, a
retaguarda da rede de proteção. Diante do depoimento observamos que fica
impossível de se efetuar os encaminhamentos necessários de acordo com cada
caso, pois dos órgãos integrantes do sistema de garantia de direitos somente o
Conselho Tutelar trabalha em regime de plantão. Estamos no contexto da Copa
do Mundo 2014, por esse motivo foi criada uma agenda de convergência, que
articula um plantão integrado, para a Copa e os grandes eventos em Fortaleza,
hoje esse plantão funciona apenas nos dias dos jogos.
O plantão do Conselho Tutelar, eu acho que é de suma importância, se
realmente existisse, não resta dúvida de que tem uma grande valia para
a sociedade, mas atualmente, eu acho até que foi precipitado, desde o
início desse plantão, porque na realidade o plantão era pra ser um
plantão integrado, tinha que ter primeiro um ambiente adequado para o
funcionamento; segundo, os educadores sociais deveriam ser
qualificados para trabalhar com este segmento. A questão, também, da
75
segurança necessita principalmente nos plantões diurnos e finais de
semana e feriados. E outro agravante mais sério é a falta de retaguarda.
O DCECA não funciona 24 horas, a DDM não funciona todo dia, nem
tampouco o juizado, a defensoria, fica assim uma situação muito difícil,
muito delicado porque muitos casos precisam desse apoio. Então
precisa realmente ter uma avaliação com relação ao plantão para poder
dar continuidade e realmente ser efetivado, mas agora devido à Copa,
tem aí um plano de convergência, que foi assinado na semana passada,
no Paço Municipal, esperamos que depois da Copa, realmente der
continuidade para esse plantão integrado, realmente funcionar, vamos
ver. (Eva Furnari)
3.7 Prioridades pontuadas pelos conselheiros, para um adequado funcionamento
dos Conselhos Tutelares de Fortaleza.
Os conselheiros idealizam um Conselho Tutelar, que tenha capacidade de
atender as demandas de forma adequada. Neste momento da entrevista
podemos perceber que alguns chegam a se emocionar ao pontuar seus desejos
para o órgão, e que quase todos não dependem dos conselheiros, mas da
organização da gestão municipal.
Primeiro, implantação de políticas públicas para crianças e adolescentes.
Segundo, aumento de número de conselheiros para no mínimo 130,
seguindo a recomendação do CONANDA e, por último, estruturação dos
prédios dos conselhos e rede de proteção. (Monteiro Lobato)
Esses pontos são mencionados por outros conselheiros, o que mostra que
são realmente cruciais para o funcionamento adequado dos Conselhos Tutelares;
é que a realidade dos seis conselhos não é muitos diferentes, todos suplicam pela
ampliação de Conselhos.
E na realidade também é necessária a ampliação do número de
conselheiros. Isso daí é fundamental, porque o número da demanda, o
número de habitantes em Fortaleza é para no mínimo de 24 conselhos, e
só tem seis, isso realmente deixa ainda a desejar, nossa demanda é
grande, nós recebemos demanda de todos os órgãos públicos e
instituições não governamentais, e isto aí fica inviável a gente dar
assistência adequada como deveria dar. Mas acredito que no próximo
processo de escolha se amplie para mais quatro em cada processo.
76
Dessa forma, eu acredito que Fortaleza vai ser uma cidade padrão, vai
ter uma boa qualidade com relação às violações de direitos e nós vamos
assegurar que nossas crianças tenham momentos mais felizes, mais
dignos. Porque na realidade a gente não gostaria que aumentasse o
número de conselhos, não é para aumentar o número de denúncias e
violações, mas que os direitos dessas crianças sejam assegurados, sem
precisar de conselheiro tutelar. (Eva Furnari)
A estrutura dos prédios é pontuada como necessário, por todos os
conselheiros, atualmente está passando por reforma estrutural os Conselhos III e
VI, o Conselho II inaugura sua nova sede, na Rua da Paz, Mucuripe. Existe uma
promessa aos conselheiros que os Conselhos I e IV mudarão de endereço, pois
são prédios alugados pelo poder municipal.
Uma entrevistada faz uma crítica ao Ministério Público e ao COMDICA,
vale ressaltar que esses são os responsáveis pela fiscalização dos Conselhos e
têm o dever de lutar junto aos conselheiros pelo adequado funcionamento do
órgão, provocando e cobrando do poder municipal respostas às necessidades do
Conselho.
Primeiro eu acho que a questão estrutural, formalizar, padronizar os
Conselhos Tutelares com todos os equipamentos, com pessoal,
formação de pessoal, a rede funcionando, que seria o CAPS, CRAS,
CREAS, Conselho Tutelar, Ministério Público. O Ministério Público no
caso seria para nos fiscalizar, mas também para nos apoiar, hoje em dia
ele só quer nos punir. Se o conselheiro não tem formação para ser
conselheiro, como ele pode estar trabalhando, atuando, então só
aparece na hora de punir, o COMDICA totalmente omisso, não se
manifesta, agora de acordo com a nova lei, tem a comissão disciplinar,
que ninguém sabe o funcionamento, basta uma ligação, abre-se uma
denúncia, então eu acho que sem apoio e estrutura, está muito longe do
Conselho Tutelar ser o ideal para qualquer pessoa. (Ruth Rocha)
Vale ressaltar que nos depoimentos observamos a preocupação dos
conselheiros em não só estruturar os conselhos, mas a importância da
capacitação contínua de todos os profissionais que trabalham nos conselhos.
Em relação ao Conselho Tutelar da SER III, que é o que eu trabalho, nós
77
estamos tendo agora uma reforma no prédio, é que essa reforma a gente
está vendo que realmente as salas vão ficar adequadas, mais higiênicas,
mais conservadas, está também com o número de funcionários
adequados, isso é necessário para todos os conselhos, mas eu continuo
dizendo que a prioridade para garantir que o Conselho Tutelar funcione e
que tanto o conselheiro tutelar, como os funcionários, eles sejam
qualificados, e não é só uma formação, mas que ela seja contínua,
capacitação continua. (Eva Furnari)
Com relação à fragilidade da rede de proteção, que também é mencionada
pelos conselheiros no decorrer de toda a entrevista, é novamente pontuada,
agora, especificada em um dos problemas enfrentados pelos conselheiros, o
acolhimento institucional. No município de Fortaleza, tem um espaço temporário
de acolhimento, um abrigo feminino, casa das meninas, e um masculino, casa dos
meninos, ambos com poucas vagas que não suportam os encaminhamentos de
trinta conselheiros.
Eu acho que seria uma atuação maior por parte da prefeitura, garantindo
toda a estrutura, principalmente nessa parte do acolhimento institucional,
na parte da educação, eu acho que seria a ligação à rede, que a gente
tivesse o contato e retorno da rede, porque ninguém trabalha sozinho.
(Mariana Massarani)
Com relação à educação, foi uma mudança da nova gestão, hoje as
crianças a partir de quatro anos frequentam a rede municipal de ensino regular,
que antes eram beneficiados com os serviços de creche e os responsáveis
podiam trabalhar.
É citada, também, como prioridade a utilização do Sistema de Informação
para a Infância e Adolescência - SIPIA, que é um sistema de registro nacional de
todas as informações de atendimento e acompanhamento de crianças e
adolescentes do Brasil que tiveram seus direitos violados, foi criado pelo
Ministério da Justiça, através da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, com
o objetivo de subsidiar a ação dos conselhos de direitos e tutelares, do poder
público para formulação de políticas sociais. A base do sistema é o Conselho
Tutelar.
78
Outra prioridade seria a utilização do SIPIA, um sistema que iria nos
ajudar e muito no acompanhamento aos casos, pois às vezes uma única
família é acompanhada por vários conselheiros, depois que se percebe,
já perdeu um tempo que poderia ser usado no atendimento a outra
denúncia. (Eva Furnari)
O SIPIA é dividido em quatro módulos: I - Registro de ocorrências dos
conselhos tutelares para garantir a promoção e defesa dos direitos fundamentais,
II - Registro de medidas socioeducativas aplicadas aos adolescentes em conflito
com a lei II- PLUS - Registro dos estabelecimentos de medida socioeducativa III -
Registro das informações de crianças e adolescentes que são colocados em
famílias substitutas, adoção nacional e estrangeira. IV- Registro de endereços e
telefone dos conselhos de direitos Municipais e Estaduais e Conselhos Tutelares
do Brasil.
Em Fortaleza somente um conselheiro, que pertence ao Conselho IV,
acessa e alimenta os dados no SIPIA, pois segundo o coordenador da Supervisão
dos Conselhos Tutelares, os equipamentos não dispõem de instalação de internet
adequada para suportar o conteúdo do site, ao tentar o acesso, o SIPIA
permanece aberto por no máximo cinco minutos e trava, por esse motivo já
aconteceram inúmeras capacitações coletivas e individuais para os conselheiros,
mas não alimentam os dados no sistema. As estatísticas municipais são
produzidas mensalmente por alguns conselhos e entregues na supervisão dos
Conselhos Tutelares.
79
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A bandeira de defesa e efetivação dos direitos das crianças e adolescentes
brasileiros teve um percurso lento, iniciando historicamente com assistência de
caridade aos abandonados, depois passou pela filantropia do Estado, onde as
crianças e adolescentes, principalmente os pobres e abandonados, eram
marginalizados pela sociedade, visto como objetos de proteção e controle social,
ao invés de proteção eram punidos na forma da lei.
A Constituição Federal de 1988 foi o marco de rompimento com essa
realidade até então vivenciada, constitui-se como um novo patamar na história
brasileira, novo ordenamento social e político, prevalecendo a democracia e a
participação da sociedade civil nos processos decisórios da sociedade.
As relações entre sociedade e Estado foram redefinidas, para o segmento
criança e adolescente foi instituída a doutrina da proteção integral no seu artigo
227, garantindo todos os direitos e definindo o compartilhamento entre sociedade,
Estado e família dos deveres de garantir absoluta prioridade e proteção.
A política de proteção integral foi regulamentada em 1990, por meio do
ECA, que criou também os espaços de participação para sociedade civil com o
objetivo de fiscalizar o cumprimento dos direitos das crianças e adolescentes, os
Conselhos de direitos e Conselhos Tutelares.
O Conselho Tutelar, objeto de estudo desta investigação, é um órgão
colegiado, encarregado pela sociedade para zelar pelos direitos das crianças e
adolescentes, atuando sempre que esses direitos sejam ameaçados ou violados.
Objetivando conhecer os desafios no funcionamento deste órgão, nos
propusemos essa pesquisa, junto aos conselheiros tutelares que vivenciam e
enfrentam no cotidiano essas dificuldades.
Diante dos depoimentos fornecidos e analisados, observamos de um modo
geral que os motivos que levaram os entrevistados a serem conselheiros tutelares
e suas experiências na defesa dos direitos de crianças e adolescentes estão
relacionados à ligação desses profissionais com atividades de caráter social e
político, sejam no trabalho ou na comunidade onde residem.
80
Podemos constatar também que o Conselho Tutelar idealizado
inicialmente, pela maioria dos entrevistados, é diferente na prática, alguns
demonstraram certa decepção ao não conseguirem realizar o trabalho que
realmente desejavam.
Ao refletir sobre as atuações dos colegas conselheiros tutelares
percebemos uma relação com as respostas dadas quanto aos desafios no
funcionamento do Conselho Tutelar de Fortaleza; os interlocutores apresentaram
os desafios, como fatores que impedem o adequado desempenho do exercício da
função de conselheiro, primeiro a disputa de poder influenciada pela política
partidária, que envolve o dia a dia da instituição, uma vez que, com exceção dos
conselheiros, todos os outros profissionais que trabalham no órgão são de
indicação política, fácil detectar essa afirmação com o número de profissionais
demitidos com a recente mudança de gestão municipal.
Outro fator citado foi o número de conselheiros que não é possível de
atender a demanda, um único conselheiro desempenha a função de cinco; o
grande colegiado do Conselho Tutelar de Fortaleza é composto por 30
conselheiros, o recomendado pelo CONANDA é que pela quantidade de nossos
habitantes, deveriam atuar em Fortaleza no mínimo 125 conselheiros. É
extremamente preocupante saber que os cidadãos participam, registrando suas
denúncias, existem crianças e adolescentes vítimas e não tem conselheiros para
apurar de imediato e garantir as medidas de proteção, muitas vezes quando
conseguem atender, a situação já foi resolvida ou já se agravou para situações
irresolvíveis no próprio conselho.
Outro desafio é a falta de formação continuada, os conselheiros depois do
processo de escolha, passam por uma formação de uma semana, onde lhe são
apresentados a rede de proteção à criança e ao adolescente, exatamente como
esta no papel, ou como deveria ser, mas é possível perceber diante das
trajetórias de vida, que poucos conselheiros têm conhecimento da prática,
chegando a ficar perdidos diante da diversidade de casos que passam pelo
Conselho no dia a dia. O conselheiro tem que ter habilidades para redigir
relatórios, ofícios e principalmente identificar as violações e a quem encaminhar
naquele determinado momento, conhecimentos que, em uma semana é
81
impossível de se adquirir. Na realidade todos aprendem na prática, infelizmente
com os erros e acertos, mas alguns podem ter consequências graves para o
usuário.
A deficiência nas atuações e funcionamento, também, é justificada pela
falta de estrutura, não há uma padronização nos equipamentos, nem tampouco
nos encaminhamentos ou respostas às denúncias, que são encaminhadas da
forma que cada conselheiro acha certo. Uns equipamentos possuem mais e
outros menos profissionais em sua grade de apoio administrativo, assim também
é a mobília, equipamentos, transporte e material de expediente.
Existe na Comissão disciplinar dos Conselhos Tutelares, COMDICA e no
Ministério Público, denúncia de conselheiros tutelares que exercem outras
funções, o que mostra a falha dos órgãos competentes que deveriam realizar a
fiscalização. A lei municipal que rege o funcionamento dos conselhos tutelares
criou a supervisão dos conselhos tutelares, o que nos faz refletir que o termo
supervisão foi usado com o intuito de transferência das atribuições do COMDICA,
na realidade esta comissão funciona somente como apoio administrativo,
reposição de material, transporte e pessoal.
O processo de escolha dos conselheiros não tem muita credibilidade, uma
vez que a experiência exigida pelo edital não é fiscalizada e outras irregularidades
no momento do processo não são apuradas a tempo. Existem atualmente três
conselheiros que assumiram sob júdice, ou seja, processos judiciais em
andamento, decorrentes das falhas contidas na lei municipal, que se contradiz do
início ao fim.
Os conselheiros têm uma forte ligação política com a população, o que faz
um número expressivo de pessoas a participar do processo de escolha, já que da
parte do COMDICA, não há divulgação intensiva desse processo.
A negligência familiar ganha o ápice das demandas mais atendidas no
Conselho Tutelar de Fortaleza, os pais agridem, são omissos, e transferem suas
responsabilidades a terceiros ou abandonam os filhos, embora esses dados não
possam ser comprovados por meio de estatísticas, pois os conselheiros não têm
condições de alimentar o SIPIA, nem são cobrados pelo COMDICA para realizar
82
este documento. Vale ressaltar que a construção desses dados é importante para
subsidiar na elaboração de políticas públicas. Pois como intervir de forma
adequada, se não se tem o conhecimento da realidade social que enfrentam
nossas crianças e adolescentes?
As violações de direitos de crianças e adolescentes são diversas, de
acordo com os depoimentos, percebemos que não partem somente do âmbito
familiar, o Estado não garante as condições básicas para as famílias atenderem
suas necessidades, nem tampouco a estrutura necessária para os órgãos de
proteção, quando esses direitos já estão ameaçados e violados, resta ao
Conselho Tutelar mendigar atendimento aos encaminhamentos ou assiste ao fim
de uma história, podemos citar os casos de adolescentes vítimas de ameaças e
de drogadição, que além das vagas reduzidas, a garantia de atendimento passa
por um processo lento, que às vezes não chega a tempo.
A rede de proteção é falha e ironizada por alguns como “rede furada”, não
tem vagas nos projetos sociais que atendam o perfil dos usuários atendidos no
Conselho Tutelar, as instituições de acolhimento superlotadas, o espaço
temporário de acolhimento municipal, para onde são levados as crianças e
adolescentes que em suas histórias ainda restam possibilidades de reversão do
problema, conta com apenas dez vagas, obrigando o conselheiro no uso de suas
atribuições a encaminhar uma criança ou adolescente para um acolhimento,
podendo ser provisório passa por um processo similar a outros casos mais
complexos e deixa marcas no acolhido.
Vale ressaltar que para atender as demandas advindas da Copa do Mundo,
Fortaleza se organizou, de acordo com a sugestão do guia de referência da
agenda de convergência Proteja Brasil, ficaram disponíveis durante os dias de
jogos em Fortaleza, três escolas municipais para funcionar como espaços
temporários de convivência, que acolheram crianças e adolescentes em situação
de vulnerabilidades, ameaça ou violações de direitos, até que fossem tomadas as
providências cabíveis pela equipe de plantão integrado.
O plantão Integrado foi composto por equipes multiprofissionais de saúde,
assistência social, educação, psicólogos, Conselho Tutelar, defensores,
promotores e juízes da infância e juventude e educadores sociais. Esses
83
profissionais aderiram ao plantão nos dias de jogos aqui em Fortaleza. Mas, por
quê? O plantão integrado funciona somente nos dias de grandes eventos? Como
se no dia a dia, as crianças e adolescentes não merecessem essa proteção.
A realidade do plantão do Conselho Tutelar de Fortaleza é bem diferente
do que aconteceu na Copa do Mundo, funcionando atualmente sem estrutura
alguma, sem segurança, sem rede de retaguarda, pois do SGD, só o que trabalha
em regime de plantão é o Conselho Tutelar, os conselheiros demonstram
decepção por não perceberem resultados positivos do trabalho que é
desenvolvido, definindo o plantão como inoperante; alguns participam para
cumprir suas obrigações e não serem penalizados por omissão.
Ainda sobre a ineficiência da rede de proteção, a realidade apresentada é
que os outros órgãos, como: CAPS infantil, CRAS, CREAS, escolas não
apresentam devolutivas quanto aos casos encaminhados pelo Conselho, mostra
que em Fortaleza ainda não aprendemos a trabalhar em rede, que este trabalho
exige um compartilhamento e transparência nas ações.
Neste cenário, os entrevistados fazem críticas ao Ministério Público que é
ciente de todos os problemas enfrentados pelos Conselhos e conselheiros e deixa
a desejar na apuração dos casos e punição dos agressores.
Vale ressaltar que de acordo com as bandeiras partidárias que apoiam,
alguns conselheiros se posicionam com visões positivas e outros negativos, com
relação às mudanças nos Conselhos Tutelares de Fortaleza, devemos aqui
considerar diante dos depoimentos, como positivo as reformas estruturais dos
prédios e equipagem de alguns conselhos e a contratação de profissionais para a
equipe técnica, esses profissionais apoiam o trabalho dos conselheiros, mas
também participam da grade de terceirizados e indicados por políticos. Vale
reconhecer que a implantação da equipe técnica mostra uma visão importante e
diferenciada da nova gestão para com órgão Conselho Tutelar.
Já como negativos observamos a falta de diálogo dos conselheiros para
com a governança municipal, um retrocesso foi a demissão recente de 90% dos
funcionários, que já possuíam experiência e responsabilidades no atendimento
aos casos, hoje é possível observar que os novos contratados estão aprendendo
84
na prática, pois não têm formação tampouco experiência na área.
Diante dos depoimentos dos conselheiros entrevistados, identificamos uma
diversidade de desafios enfrentados no funcionamento do Conselho Tutelar de
Fortaleza; de um modo geral esses desafios podem ser pontuados da seguinte
forma: 1) O número reduzido de conselheiros tutelares; 2) Deficiência da rede de
proteção; 3) Faltam políticas públicas para criança e adolescente; 4)Terceirização
dos profissionais de apoio administrativo e técnico; 5) Falta de formação
continuada para todos os profissionais; 6) Infraestrutura dos conselhos fragilizada;
Contudo, não basta apenas existir Conselho Tutelar no município, se não
houver interesse dos governantes em garantir seu funcionamento. Logo, não
basta a infância e adolescência serem prioridades absolutas apenas nas leis e
não o serem de fato e realidade.
Para superar esses desafios, os entrevistados citaram algumas prioridades
que eles entendem serem necessárias a efetivação em Fortaleza para garantir um
adequado funcionamento dos Conselhos Tutelares: Implantação de políticas
públicas para criança e adolescentes; Ampliar o número de conselheiros tutelares;
Padronizar e estruturar os Conselhos Tutelares; Interação da rede de proteção,
com capacidade de atender as demandas; Capacitação contínua para
conselheiros e profissionais; Utilização do SIPIA.
Acreditamos que, além de todas as prioridades levantadas pelos
interlocutores, para reverter o problema enfrentado pelos Conselhos, apontamos
como fundamental a realização de concurso público para os profissionais, assim
seria moralizado e não quebraria os vínculos desses profissionais com os
usuários, o que dificulta o acompanhamento dos casos.
Sabemos que é impossível diante da lógica do processo de escolha, que é
eleição, deixar o Conselho Tutelar à margem da política, mas devemos seminar a
ideia de levantar uma única bandeira, da criança e do adolescente, não só os
conselheiros tutelares, mas todos os profissionais do SGD, sociedade e governo,
todos juntos para implementar efetivamente o ECA, e garantir que as crianças e
adolescentes tenham prioridade absoluta e a fiscalização adequada de uns para
os outros.
85
Também não podemos deixar de citar a importância deste trabalho para o
crescimento profissional e que certamente servirá de base aos colegas
assistentes sociais, que a partir de agora conheceram as dificuldades enfrentadas
pelos conselheiros tutelares. Assistentes sociais, profissionais que conhecem de
perto a luta pela garantia de direitos, e poderão se posicionar como apoio aos
movimentos de luta por melhores condições de trabalho neste órgão tão
importante para sociedade. .
Pretende-se encaminhar cópia do produto deste trabalho a todos que
participaram, colaboraram na sua construção, bem como aos órgãos que
integram o SGD, para que juntos possamos lutar para superar os problemas
detectados e exigir da Prefeitura Municipal de Fortaleza respostas às demandas
apresentadas, uma vez que este tem obrigação de garantir os recursos
necessários para o adequado funcionamento do órgão.
86
REFERÊNCIAS
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significado social da instituição, um estudo sobre os conselhos tutelares de
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90
APÊNDICES 01
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Título da pesquisa: Os Desafios no funcionamento dos Conselhos Tutelares de
Fortaleza -Ceará - Sob a ótica dos Conselheiros Tutelares.
Pesquisadora: Germana Silva dos Santos Vasconcelos
Orientadora: Prof.ª Ms. Valney Rocha Maciel
O Sr.(a) está sendo convidado(a) a participar desta pesquisa que é
requisito para a conclusão do curso de Bacharelado em Serviço Social pela
Faculdade Cearense. Tem como objetivo principal investigar os desafios no
funcionamento dos Conselhos Tutelares na efetivação dos direitos de crianças e
adolescentes no município de Fortaleza - CE, sob a ótica dos conselheiros
tutelares do referido o município.
Ao participar deste estudo, o a Sr.(a) permitirá que a pesquisadora utilize as
informações coletadas, que são de uso exclusivamente acadêmico, para a
realização desta pesquisa, que representa um estudo científico de grande
importância onde o pesquisador se compromete a divulgar os resultados obtidos.
Entretanto, os dados obtidos serão mantidos em sigilo, responsabilidade e
compromisso ético, não sendo expostos nomes nem referências que possam
identificar os interlocutores da pesquisa, garantindo assim o anonimato das
declarações coletadas.
Após estes esclarecimentos, solicito o seu consentimento de forma livre
para participar desta pesquisa. Ao mesmo tempo, nos colocamos à inteira
disposição dos entrevistados, para maiores esclarecimentos e detalhes sobre a
pesquisa em pauta.
Atenciosamente,
Fortaleza,_____ de Maio de 2014.
__________________________________________
Assinatura do entrevistado __________________________________________
Assinatura da pesquisadora: Germana Silva dos Santos Vasconcelos
91
APÊNDICES 02
QUESTIONÁRIO - DADOS DOS ENTREVISTADOS
Nome:_________________________________________________________
Idade: _____ anos. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
Estado Civil: __________________ Naturalidade: _______________________
Profissão:_______________________________________________________
Escolaridade:( ) Ensino Médio ( )Superior comp. ( ) Superior incompleto.
Sim, superior, qual Curso:__________________________________________
Qual a profissão que exercia antes de ser conselheiros?
Tem filhos? ( )Sim ( )Não
Por quantas vezes foi candidato (a) a conselheiro (a) tutelar? ______________
Foi eleito conselheiro (a) tutelar por quantas vezes? _____________________
Assumiu mandato(s)? ( )Sim ( )Não
Ficou alguma vez na suplência? ( )Não ( ) Sim. Se sim, Por quantas vezes?
_______________________________________________________________
Exerceu mandato(s) enquanto suplente? ( ) Sim ( ) Não. Se sim durante quanto
tempo?__________________________________________________
Concluiu o(s) mandato(s)? ( ) Sim ( ) Não
Há quanto tempo exerce seu atual mandato como conselheiro tutelar?_______
Como funciona sua escala de atendimento no Conselho Tutelar?
__________________________________________________________
92
APÊNDICES 03
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Nome do entrevistado:____________________________________________
Nome da entrevistadora:__________________________________________ Data: ______________ Conselho Tutelar: ______ Hora de Início:_____ Hora de término:________
01. O que levou você a se candidatar a conselheiro (a) tutelar de Fortaleza?
02. Qual a sua experiência anterior ao CT, na defesa dos direitos de crianças e
adolescentes?
03. Para você, o que é o Conselho Tutelar? E a atuação dos Conselheiros?
04. Faça uma avaliação do processo Municipal de escolha dos conselheiros
tutelares.
05. Qual a maior demanda de violação de direitos atendida no Conselho Tutelar
em que você está lotado?
06.Qual sua percepção, quanto ao papel do Estado e da família para evitar as
violações de direitos das crianças e adolescentes?
07. Durante esse mandato, houve algum avanço para os conselhos tutelares de
Fortaleza?
08. Quais os principais desafios enfrentados pelos Conselhos Tutelares de
Fortaleza para a implementação do ECA?
09. Como você analisa o plantão do Conselho Tutelar hoje?
10.O que você listaria, como prioridade, para ser implantado em Fortaleza para
garantir o funcionamento adequado dos Conselhos Tutelares?
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APÊNDICES 04
TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS
CEDENTE:______________________________________________________
Naturalidade:_______________________ Estado civil:___________________,
Portador (a) da cédula de identidade n° ____________________________
SSP/CE e CPF:_____________________ .
CESSIONÁRIO: Germana Silva dos Santos Vasconcelos, brasileira, natural de
Fortaleza, casada, portadora da cédula de identidade n 96 e CPF:
628.605.183.04.
DO OBJETO: Imagens para uso presente no TCC "Desafios no funcionamento
dos Conselhos Tutelares de Fortaleza - Ceará - Sob a ótica dos Conselheiros
Tutelares" , para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social - FAC.
Eu __________________________________________________,depois de
conhecer e entender os objetivos, procedimentos metodológicos, riscos e
benefícios da pesquisa, bem como de estar ciente da necessidade do uso de
minha imagem e ou depoimento, especificados no termo de consentimentos livre
e esclarecidos (TCLE), AUTORIZO, através do presente termo, a
pesquisadora Germana Silva dos Santos Vasconcelos do projeto da pesquisa
intitulado "Desafios no funcionamento dos Conselhos Tutelares de Fortaleza -
Ceará - Sob a ótica dos Conselheiros Tutelares" , a realizar as imagens que se
façam necessárias e ou a colher meu depoimento sem quaisquer ônus
financeiros a nenhuma das partes.
Ao mesmo tempo, libero a utilização destas fotos (seus respectivos
negativos) e ou depoimentos para fins científicos e de estudos (livros, artigos,
slides, e transparências), em favor da pesquisadora da pesquisa, acima
especificados
Fortaleza, _______ de Maio de 2014.
__________________________________________
Assinatura do entrevistado
__________________________________________
Assinatura da pesquisadora: Germana Silva dos Santos Vasconcelos