OS DESAFIOS DA PESQUISA NA FORMAÇÃO DOS ESTUDANTES DO
CURSO DE PEDAGOGIA OFERECIDO PELA PLATAFORMA FREIRE, NO
MUNICÍPIO DE BOM JESUS DA LAPA – BA
Isaura Francisco de Oliveira UNEB- Professora Especialista do Campus XVII.
e-mail: [email protected]
Josias Benevides da Silva UNEB - Professor Mestre assistente do Campus XVII,
Dedicação exclusiva pesquisador e escritor:
e-mail: [email protected]
RESUMO
Este artigo, originário da experiência dos autores como professores de Estágio
Curricular Supervisionado, no curso de licenciatura em Pedagogia oferecido pela
Universidade do Estado da Bahia, Campus XVII, Bom Jesus da Lapa/Plataforma Freire,
BA, apresenta o resultado da investigação que buscou analisar como os estudantes do
curso de Pedagogia compreendem a relação entre estágio e pesquisa, além de
compreender de que maneira articulam os elementos da pesquisa na elaboração e
execução dos projetos de estágio. A metodologia segue os pressupostos da abordagem
qualitativa, do tipo pesquisa-ação, usando como instrumentos para coleta de dados:
observação, entrevistas, questionários, os projetos, relatórios, artigos sobre as
experiências de estágio e grupo focal. Os resultados da pesquisa apontam dificuldades
nas percepções dos estudantes diante da relação estágio e pesquisa. Essa dificuldade
torna-se evidente na articulação dos elementos da pesquisa na elaboração e execução
dos projetos de estágio.
Palavras-chave: Estágio Supervisionado. Pesquisa. Formação docente.
PRIMEIRAS PALAVRAS
Os estágios supervisionados possuem relevância nos currículos dos cursos de
licenciatura no Brasil, uma vez que constituem oportunidade de vivências específicas
nas quais teoria e prática se encontram para afirmação da práxis educativa, sendo a
pesquisa elemento inerente a essa prática. Essas experiências devem transcender a mera
obrigação curricular, assumindo uma função protagonista em meio à formação inicial,
principalmente quando o acadêmico já atua na profissão. Neste processo, a formação
docente acontece no âmbito da escola e suas relações estão imbricadas no processo de
formar e formar-se a partir do exercício da práxis e da análise crítica e reflexiva do
cotidiano escolar, exercício que só se torna possível por meio da pesquisa.
Tendo como mote a pesquisa, o estágio curricular supervisionado objetiva
possibilitar ao professor-aluno do curso de pedagogia a reflexão crítica sobre a prática
no espaço de atuação. Com essa perspectiva, o estágio supervisionado oferecido pelo
curso de pedagogia da Plataforma Freire (1) tem como princípio articulador a pesquisa e
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seus elementos de modo que este se configura como espaço e tempo para as
aprendizagens, reflexão e construção da identidade docente.
CAMINHOS METODOLÓGICOS
O presente estudo pautou-se na abordagem qualitativa da pesquisa considerando,
dentre outras especialidades deste tipo de enfoque, a analogia da prática docente em
diálogo com as experiências de estágio realizadas pelas estudantes ao longo de nossa
trajetória profissional, a partir da pesquisa-ação que se entende como pesquisa social,
envolvendo pesquisadores e sujeitos da pesquisa de forma cooperativa. (THIOLLENT,
1985).
No caso deste trabalho, as acadêmicas do curso de pedagogia da Plataforma
Freire, foram os principais sujeitos da pesquisa. Como instrumentos de coleta de dados,
usamos a observação direta nas instituições de ensino fundamental – anos iniciais, nos
momentos de acompanhamento às estagiárias. Também analisamos os projetos,
relatórios e artigos relacionados aos estágios. E utilizamos o grupo focal para
intensificar o acesso às informações acerca do objeto em estudo. Estes elementos
forneceram subsídios valiosos para o desenvolvimento deste trabalho.
A análise dos dados serviu para evidenciar o problema de forma mais
consistente, além de permitir um diálogo constante com o referencial teórico, o que
proporcionou novas reflexões sobre o estágio, a pesquisa e a formação docente.
CONCEITOS, CARACTERIZAÇÃO E DELIMITAÇÕES A RESPEITO
DO ESTÁGIO EDAPESQUISA
Entende-se por Estágio Supervisionado campo do conhecimento
imprescindível à docência e construção da identidade profissional por meio das praticas
educativas vivenciadas nas escolas básicas. O mesmo precisa ter como finalidade
aproximar o máximo possível o aluno da realidade, no caso em estudo a docência no
contexto da sala de aula. “Nesse sentido, o estágio curricular é atividade teórica de
conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade, esta sim, objeto da
práxis”. (PIMENTA, 2008, p. 45).
Práxis é um vocábulo de origem marxista, que enuncia a intrínseca relação entre
teoria e prática, na qual uma não é mais importante que a outra. Neste sentido a analogia
teoria e prática no processo educacional são de extrema importância, pois consideramos
que é no contexto da sala de aula, da escola e do sistema de ensino que a práxis se
realiza.
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Enquanto pesquisa,
é o procedimento racional e sistemático que tem por objetivo proporcionar
respostas aos problemas que são propostos quando não se dispõe de
informação suficiente para responder aos problemas, ou então quando a
informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa
ser adequadamente relacionada ao problema (GIL, 2002, p. 17).
Conforme Demo (2003, p. 2), “educar pela pesquisa tem como condição
primeira que o profissional da educação seja pesquisador,ou seja, maneje a pesquisa
como princípio científico e educativo e atenha como atitude cotidiana”
O estágio na perspectiva de ação-reflexão-ação tem sido defendido nos estudos
desenvolvidos por Schön (1992), Alarcão (1996), Nóvoa (1992), Freitas (1994), Lima
(2002), Pimenta (2004), Tardif (2005), entre outros estudiosos que configuram o
arcabouço teórico analisado pelas alunas durante a vivência de estágio.
No curso em questão, os conhecimentos teóricos, que fundamentam a ação
pedagógica, são desenvolvidos em articulação com a prática e considerados como
instrumento de seleção e análise contextual do fazer docente. Esta opção metodológica
permite ao professor-aluno, futuro pedagogo, oportunidades de observar e analisar a
própria prática, atribuindo outros significados ao fazer pedagógico, por meio da
pesquisa.
O estágio curricular nos cursos de licenciatura deve se configurar como
momento de construção da identidade docente, pois: “o estágio como campo [...]
possibilita que sejam trabalhados aspectos indispensáveis à construção da identidade,
dos saberes e das posturas específicas ao exercício profissional docente”. (PIMENTA;
LIMA, 2008, p. 61)
Posto dessa forma compreende-se que o estágio constitui o espaço onde é
edificada a identidade profissional do educador. No curso de licenciatura em Pedagogia,
a prática docente e a reflexão sobre ela desenvolvida pelo professor-aluno constituem-se
como a Prática Pedagógica, e conta com o acompanhamento do professor - pesquisador-
formador em toda a extensão do Curso, em síntese, o estágio constitui o momento
propício para mobilização e reflexão dos saberes que serão apropriados para construção
da identidade docente ancorada no juízo da docência de melhor qualidade.
RESULTADO DA PESQUISA
Ao ter como finalidade investigar a percepção dos estudantes de Pedagogia da
Plataforma Freire, do Campus XVII da UNEB sobre a relação entre estágio e pesquisa,
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bem como analisar em que medida se faz presente os elementos da pesquisa na
elaboração, execução e análise das experiências de estágio, este artigo evidencia a
necessidade de se articular o estágio curricular à pesquisa no campo educacional.
Durante os meses da pesquisa realizamos a observação direta nas instituições de
ensino fundamental – anos iniciais, nos momentos de acompanhamento às estagiárias.
Essas observações nos permitiram compreender que as acadêmicas tinham clareza do
conceito e pesquisa, mas não conseguiam fazer a relação entre a teoria e a prática. Essa
dificuldade tornou-se evidente na elaboração dos projetos de estágio.
Também analisamos os projetos, relatórios e artigos relacionados aos estágios.
Os projetos apresentavam incoerência entre pesquisa e intervenção. As acadêmicas não
tinham clareza sobre o tipo de projeto elaborado. De acordo com a proposta de estágio,
antes da elaboração dos projetos é preciso ir ao campo realizar uma pesquisa
exploratória. A partir dos dados coletados pelas acadêmicas realiza-se o projeto de
intervenção. Esse fato fez com que, na construção do projeto, as alunas relatassem o
fenômeno observado como se o estágio já tivesse acontecido e não ainda por acontecer.
As experiências relatadas pelas estagiárias em relação ao exercício do estágio
sinalizam fatos que evidenciam as dificuldades de atuação profissional dos professores
nas instituições pesquisadas, além de provocar discussão a respeito da organização
curricular do estagio no curso de pedagogia.
Pensando o estágio e a pesquisa dentro das possibilidades evidenciadas pelos
sujeitos pesquisados, inseridos na escola e na vida social, percebe-se que apenas a
transmissão de conteúdos científicos não mais dá conta dos anseios e motivações
necessários à pesquisa. Formar o professor pesquisador demanda tempo, de fato, mas
com certeza é tarefa da universidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mobilização de saberes nas práticas de estágio, enquanto estratégia para
formação docente apresenta-se como realidade múltipla, complexa e profundamente
desafiadora, que exige a busca da produção de uma identidade aportada a um modelo
desejado de professor: crítico-reflexivo, com capacidade de autogestão da prática
educativa, comprometido com a assunção da identidade cultural dos sujeitos.
A prática pedagógica do professor constitui eixo fundante do processo de ensino-
aprendizagem do educando. Para que a aprendizagem do professor-aluno seja
significativa e duradoura, o processo de ensino deve sempre partir da realidade dos
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sujeitos envolvidos no ato de ensinar e aprender, tendo como referência os seus
conhecimentos, suas experiências de vida, seus valores e suas expectativas, visando
uma articulação com a concepção de educação desejada.
A construção da identidade docente é tecida ao longo do exercício da profissão;
entretanto, é no período da formação acadêmica, sobretudo na atividade do estágio
curricular, que o educador ordena os pressupostos e as diretrizes fundamentais e
decisivas para a construção de sua identidade profissional. Neste sentido, a pesquisa
evidenciou que os sujeitos compreendem a importância da pesquisa e pontuam que
apenas o contexto da sala de aula é insuficiente para formar o professor pesquisador. É
preciso uma melhor organização da universidade e dos cursos de licenciaturas para dar
subsidio a pesquisa. Sugere-se assim que a coordenação de estagio provoque debates, na
universidade, sobre a importância da pesquisa na formação de professores. Esse desafio
torna-se maior quando todos os alunos já são professores atuantes e precisam
problematizar a prática e transformá-la em mote de pesquisa.
Por fim, a experiência evidenciou o quanto o estágio curricular supervisionado
contribui para a ressignificação de saberes necessários à qualificação da prática
pedagógica, especificamente dos acadêmicos que já atuam como professores da
educação básica.
Notas
(1) O curso de Pedagogia oferecido pela do Programa de Formação Inicial de Professores da Educação Básica – PLATAFORMA FREIRE é modular com encontros mensais, presenciais, e concede ao concluinte a certificação de Licenciatura Plena. O mesmo é oferecido aos docentes em atuação em sala de aula.
REFERÊNCIAS
ALARCÃO, Isabel (org.). Formação reflexiva de professores. Estratégias de
supervisão. Porto Portugal: Porto Editora LDA, 1996.
DEMO, P. Educar pela pesquisa. 6. ed. Campinas: Autores Associados,2003.
FREITAS, H. C. L. de. O trabalho como princípio articulador na prática de ensino
e nos estágios. Campinas, papiros, 1996.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. São Paulo:Atlas,
2002.
NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: NÓVOA, A. (org.). Os
professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992, p. 15-33.
PIMENTA, S. G; LIMA, M. S. L. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2008.
SCHÖN, D. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, A.
(Coord.). Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1995. p. 77-92.
TARDIFF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.
THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: Cortez, 1985.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
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