A EDUCAÇÃO FÍSICA COM A UTILIZAÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS: UMA PRÁTICA POSSÍVEL NA EJA
Paula Luíza Schäfer Karpinski Professora PDE
Prof. Ms. Inácio Brandl Neto Orientador
RESUMO: A Educação para Jovens, Adultos e Idosos vem ocupando cada vez mais espaços significativos em nossa sociedade, assim como também a Educação Física vem se firmando enquanto prática, capaz de promover mudanças efetivas no comportamento de nossos alunos, promovendo assim a esperança da transformação social. Isto se nós educadores compreendermos que, somente através de mudanças de comportamentos é que poderemos avançar em nossas conquistas. Compreender a “filosofia da cooperação” me parece ser o caminho. O objetivo deste estudo foi analisar as contribuições que os Jogos Cooperativos podem promover na vida de nossos alunos, onde a diversidade humana é o diferencial dessa modalidade de ensino. Através deste artigo esperamos fornecer subsídios, aos professores, com a finalidade de ampliar sua visão quanto à utilização dos Jogos Cooperativos. A pesquisa foi realizada através de questionário, aplicado em duas etapas, uma no início e outra no encerramento da disciplina de Educação Física. Sendo que participaram desta pesquisa uma turma de APED (Ação Pedagógica Descentralizada da EJA), totalizando 15 alunos com idade entre 18 e 47 anos. As aulas foram realizadas em 16 encontros presenciais, durante 4 dias da semana, com duração de 4 h/a por noite. Concluindo a disciplina de Educação Física com 64 h/a, equivalente ao Ensino Médio da EJA. Os resultados encontrados acenam para a urgência na mudança de comportamentos adotados pela sociedade. As atividades e jogos cooperativos oportunizam os alunos vivenciar novas maneiras de jogar e de se ver no mundo. Esta mudança de atitudes e valores que os jogos proporcionam são o viés para a transformação social, pois a pedagogia proposta respeita o ser humano, e , é baseada em práticas pedagógicas participativas. Palavras-Chave: EJA, Ações Cooperativas, Aulas de Educação Física
ABSTRACT: Education for Youth, Adults and Elderly has been increasing its space in our society, as well as Physical Education has established itself as a practice that is able to promote effective change in the behavior of our students, thus promoting the hope of transformation social. This Will happen if educators like us understand that only through behavioral changes we can move forward in our achievements. To understand the "philosophy of cooperation" seems to be the path. The aim of this study was to analyze the contributions that Cooperative Games can promote in the lives of our students, where human diversity is the cornerstone of this type of education. Through this article we hope to provide subsidies for teachers, in order to broaden their view on the use of Cooperative Games. The research was conducted through a questionnaire, applied in two stages, one at the beginning and another at
the end of Physical Education discipline. The participants were a group of a APED (Decentralization of Educational Action Program), totaling 15 students aged between 18 and 47 years. Classes were held in 16 face meetings for 4 days a week, lasting 4 hours per night. Completing the Physical Education with 64 hour-classes, equivalent to high school of adult education. The results for the wave urgency in changing attitudes adopted by society. The activities and cooperative games nurture students experience new ways to play and to see the world. This change of attitudes and values that the games provide are the bias for social transformation, because the pedagogy proposed, respects the human being, and is based on participatory teaching practices. Keywords: EJA, Cooperatives Actions, Physical Education classes
INTRODUÇÃO A Educação para Jovens, Adultos e Idosos (EJA), vem ocupando espaços
cada vez mais significativos na sociedade. A Educação Física conquista seu lugar
na EJA a partir de 2001, e desde então, muito se experienciou na procura de uma
Educação Física que administre toda a diversidade encontrada nesta modalidade de
ensino.
Somo-me a este grupo que busca oferecer ao aluno práticas pedagógicas de
inclusão e valorização do Ser Humano, este que, por viver numa sociedade
capitalista, criado e educado para competir e vencer sempre, tem motivos de sobra
para almejar mudanças. Soler (2007) não concorda com a ideia de que nascemos
competitivos. Para ele isto é um mito, um paradigma a ser quebrado, pois o que se
sabe hoje, é que a competição assim como a cooperação é ensinada e aprendida
por meio de diversas formas de interação humana. O ser humano não é competitivo,
está competitivo. Dependerá então de nossas intenções como seres humanos criar
um novo modelo, agora cooperativo, ou reforçar o modelo atual (competitivo).
A Educação Física na EJA, significa muito mais do que simplesmente
oferecer práticas corporais. Ela representa a possibilidade para os alunos do contato
da cultura corporal de movimento. O acesso a esse universo de informações,
vivências e valores é compreendido aqui como um direito do cidadão, uma
perspectiva de construção e usufruto de instrumentos para promover a saúde,
utilizar criativamente o tempo de lazer e expressar afetos e sentimentos em diversos
contextos de sobrevivência. Ou seja, oportunizar a apropriação desta cultura pode e
deve se constituir num instrumento de inserção social, de exercício da cidadania e
de melhoria da qualidade de vida.
Mas, como fazê-lo para que os alunos, participem de tais situações? As
práticas corporais atuais não estão logrando êxito. É preciso mudar. Mudar o que
está posto, é modificar a forma de se ministrar os conteúdos, e não dar ênfase à
competição, achando que só ela é que pode trazer participação nas aulas. Ao
ouvirmos os alunos, percebemos que estão cansados de tanta competição: é
competição em casa, no trabalho, na escola, mas quando vamos ter momentos de
descontração e felicidade? desabafou certo aluno. Esta é a questão: mudar é
preciso, e Brotto (2001) afirma que é necessário VenSer ....juntos!
Incomodado com o excesso de incentivo à competição, com o crescimento da
violência, com a tecnologia da guerra, com a quantidade de atos desumanos em
diversos setores da nossa sociedade, e principalmente, com o reflexo desse
contexto na educação, Orlick (1989) encontra nos jogos cooperativos uma base e
um caminho para começar mudanças em prol de uma ética cooperativa. Com isso,
entende-se que o jogo é um excelente meio de desenvolver a criança, o jovem e o
adulto. De acordo com Brotto (2001), jogar é uma oportunidade criativa para
encontrar conosco, com os outros e com todos, e a partir daí, o jogo passa a ser
uma consequência das visões, ações e relações. Sendo assim, pode-se afirmar que
os Jogos Cooperativos proporcionam uma nova forma de jogar e por consequência
de viver, cujos objetivos visam aproximar as diferenças antes, reforçando a auto
estima de quem se sente diferente. Com eles valores positivos são despertados, e,
quando tais valores forem colocados em prática, seja na escola, na família, no seu
trabalho ou no tempo livre, a sociedade se tornará mais justa e humana, para que
TODOS vivam em comum-unidade (BROTTO, 2001).
Especialmente os alunos da EJA possuem uma história de vida,
extremamente ligada às experiências vividas, coladas em si, apontam o desejo de
vivenciar o oposto. Preferem as atividades de cunho cooperativo, pois afirmam que
assim não estão expostos, suas dificuldades não representam o ponto principal na
aula, mas sim o que podem melhorar, de como podem auxiliar seu grupo a atingir os
objetivos, evidenciando o desejo de mudança. Nós profissionais da educação temos
o dever de oportunizar aos alunos estas novas práticas pedagógicas.
Levando em conta o perfil dos alunos da EJA, bem como a diversidade
encontrada na mesma, a pedagogia da cooperação, pode ser o caminho para
administrar toda esta diversidade, em especial, os jogos cooperativos que têm como
princípio fundamental a inclusão e a cooperação. Também contribui para o resgate
dos valores humanos de respeito, amizade, amor, solidariedade, união e
responsabilidade individual e coletiva, tornando-se um estilo de vida, opondo-se a
ideia de que a competição é a única forma de sobrevivência. Assim sendo, os Jogos
Cooperativos tornaram-se objeto de estudo, onde buscou-se alicerces consistentes
para uma prática que eleve a qualidade de vida e à construção de um mundo
melhor.
Considerando estas situações elencadas anteriormente, decidiu-se ministrar
atividades e jogos cooperativos para todos os alunos da EJA, e como amostra foi
utilizada uma turma de Ação Pedagógica Descentralizada (APED) (turmas
distribuídas em localidades, distritos e municípios onde não há a oferta de EJA),
procurando observar se as práticas pedagógicas cooperativas poderiam contribuir
na formação e na ressignificação da cultura corporal de movimento desses alunos.
ORIENTAÇÕES LITERÁRIAS
Conhecendo a EJA A Educação para Jovens, Adultos e Idosos vem ocupando espaços cada vez
mais significativos na sociedade. Chama-nos atenção que é somente durante o
último século, que a democratização do acesso à escola assumiu um caráter mais
progressivo. No entanto, comparando-se esse processo com a exigência dos direitos
fundamentais e com as conquistas dos outros países, a distância entre a educação
escolar e democracia ainda é muito grande.
De acordo com a Constituição Federal de 1988, a educação é um direito de
todos e dever do Estado e da família, promovida e incentivada com a colaboração
da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Ainda segundo a
Constituição, o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: igualdade
de condições para o acesso e permanência na escola; liberdade de aprender,
ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber.
Com a Constituição de 1988, surgiu a necessidade de outra Lei de Diretrizes
e Bases Nacionais (LDBEN) para atender as necessidades existentes na educação.
Então surge a Lei 9394/96, onde pode-se observar mudanças significativas, como a
efetivação da Educação para Jovens e Adultos (EJA) enquanto “Modalidade de
Ensino”, usufruindo de uma especificidade própria. Essas mudanças são norteadas,
sobretudo pelos valores apresentados na Conferência Internacional de Hamburgo e
no Parecer nº 011/2000, do Conselho Nacional de Educação, que estabelece as
Diretrizes Curriculares Nacionais para EJA.
A Resolução do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação
Básica (CNE/CEB), nº 01/2000, define que a EJA considerará situações como: os
perfis dos estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos princípios de equidade,
diferença e proporcionalidade na apropriação e contextualização das diretrizes
curriculares nacionais e na proposição de um modelo pedagógico próprio,
direcionado a educação para Jovens e Adultos. O objetivo dessa legislação é criar
situações de ensino e aprendizagem adequadas às necessidades educacionais de
jovens e adultos, realizando suas funções: reparadora, equalizadora e permanente,
conforme determinado no Parecer 11/00 – CEB/CNE.
Contudo, este caráter lógico não significa uma igualdade direta quando
pensada à luz da dinâmica sócio-cultural das faces da vida. É neste momento que a
faixa etária, respondendo a uma alteridade específica, se torna uma mediação
significativa para a ressignificação das diretrizes curriculares.
Segundo Soares (2002, p. 131), a superação da discriminação de idade diante dos itinerários escolares é uma possibilidade para que a EJA mostre plenamente seu potencial de educação permanente relativa ao desenvolvimento da pessoa humana face à ética, à estética, à constituição de identidade de si e do outro e ao direito ao saber. Quando o Brasil oferecer a esta população reais condições de inclusão na escolaridade e na cidadania, os ‘dois brasis’, ao invés de mostrarem apenas a face perversa e dualista de um passado ainda em curso, poderão efetivar o princípio de igualdade de oportunidades de modo a revelar méritos pessoais e riquezas insuspeitadas de um povo e de um Brasil uno em sua multiplicidade, moderno e democrático.
A EJA, agora como modalidade de ensino, atende jovens, adultos e idosos,
educandos provindos de várias localidades, de culturas e situações socialmente
diferenciadas, que como citado anteriormente, em algum momento afastaram-se da
escola, devido a fatores sociais, econômicos e culturais. Hoje retornam a
escolaridade formal, com olhar diferenciado sobre as coisas da existência. Muitos
destes alunos são trabalhadores maduros, com larga experiência profissional ou
com expectativa de (re)inserção no mercado de trabalho, outros são funcionários de
empresas, indústrias, agricultura, assim como também donas de casa e alunos
provindos do ensino regular, onde não obtiveram êxito, por razões diversas.
Para Soares (2002, p. 78), é na EJA, que estes alunos encontram motivação para (re)construir estas expectativas de vida ativa e de (re)significar conhecimentos de etapas anteriores da escolarização, articulando com saberes escolares. A validação do que se aprendeu ‘fora’ dos bancos escolares é uma das características da flexibilidade responsável que pode aproveitar estes ‘saberes’ nascidos destes ‘fazeres’.
A EJA e a Educação Física Atuando nesta realidade diferenciada do Ensino Regular, podemos dizer que
tanto a LDB como a Constituição Federal, estão certas em afirmar que esta
Modalidade de ensino carece de normativas próprias. Concordo com Soares quando
afirma que ... “respeitar e incentivar a construção de novos saberes é função da
EJA”. Mais do que isso, os alunos da EJA já possuem uma representação da
escola, da atividade física e da Educação Física escolar, formada a partir de
vivências que compõem a história pessoal de cada um; por isso, é importante incluir
na perspectiva do ensino, como um dos eixos das ações educativas para jovens
adultos e idosos, a possibilidade de resgatar as memórias construídas a partir das
diferentes práticas, valorizando e respeitando a história pessoal de cada aluno, e
sobre ela, reconstruir e continuar construindo seus significados sobre a cultura
corporal de movimento. Mas como, de que forma fazê-lo para atender a tantas
especificidades que envolvem os alunos da EJA? É preciso lembrar que os alunos
possuem, opinião formada sobre a Educação Física, baseadas nas suas
experiências pessoais anteriores. Se estas foram marcadas por sucesso e prazer, o
aluno terá, provavelmente, uma visão favorável quanto a frequentar as aulas. Ao
contrário, quando o aluno registrou várias situações de insucesso e de alguma forma
se excluiu ou foi excluído, sua opção será de dispensa das aulas ou a passividade
perante as atividades. Transformar essas opiniões se constitui num enorme desafio
para os professores. Buscar novas práticas pedagógicas que favoreçam a
reinserção dos alunos nas práticas da cultura do movimento, parece ser o único
caminho a ser percorrido!
As aulas na EJA são recreativas, mas é preciso de algo a mais que motive e
melhore a qualidade de vida dos alunos, que são cidadãos com direitos e deveres
previstos na Constituição Federal. Para eles, muito mais deveres do que direitos.
Como proceder nas aulas para que possam realmente fazer parte do “Brasil uno” a
que se refere Soares?
O aluno jovem ou adulto traz preocupações pessoais com o próprio corpo e
sua saúde que em boa medida são definidas pelo meio sociocultural em que vive –
bombardeado pela indústria de massa da cultura e do lazer com falsas
necessidades de consumo e com mitos de saúde, desempenho e beleza,
assimilando informações pseudocientíficas e imprecisas. Assim carrega suas visões,
fantasias e decisões, atitudes e formas de comportamento em relação a aparência,
sexualidade e reprodução, consumo de drogas, hábitos de alimentação, limite e
capacidade física, papel do esporte, repouso, atividade de lazer, padrões de beleza
etc. (DCE-EJA-MEC, 2008). Cabe a nós educadores, rever cientificamente a
importância dessas questões, para tratá-las pedagogicamente, mas sem nunca
deixar de lado a proposta maior que está no princípio da inclusão, da diversidade, e,
porque não, da transdisciplinaridade onde os aspectos Ser-Conhecer-Aprender-
Fazer-Viver Junto, agirão como na construção de pontes que encurtem as
distâncias, diminuam as fronteiras e aproximem as pessoas umas das outras
(BROTTO, 2001, p.4).
Como citado anteriormente, os conteúdos almejados pelos alunos são muitos
e também vão de encontro às Diretrizes Curriculares para EJA. Aqui se faz
necessário analisar que tipo de jogos e atividades necessita-se utilizar, levando-se
em conta que as formas convencionais não estão logrando êxito. Mas antes de
qualquer coisa, é preciso refletir que educação e sociedade pretende-se formar, pois
a que está posta tem dado provas que a exclusão e a discriminação são fatos
marcantes.
A EJA, a Educação Física e os Jogos Cooperativos O conteúdo “Jogos” pode contribuir para diminuir estas barreiras e estreitar as
distâncias que separam as pessoas, grupos e sociedade. Mas como jogar?
Brown (apud SOLER, 2006, p.43) já demonstrava sua inquietação na seguinte
frase: “[...] está bem, vamos brincar! Mas quais jogos? Aqueles que conhecemos
têm a ver com os valores que queremos transmitir?” Devemos estar preocupados
com quais serão as atitudes, normas e valores que ficam depois do jogo, ou seja, o
que queremos quando apresentamos determinado jogo aos alunos. E algumas
perguntas se tornam pertinentes: O jogo educa? Para quê? Quais alternativas têm
oferecido? Há algum tempo vem se pesquisando outras formas de intervenção
pedagógica na escola. Uma destas formas de intervenção são os Jogos
Cooperativos.
Os jogos cooperativos não são uma manifestação cultural recente, tão pouco
uma invenção moderna. Para Orlick (1989) “a essência destes jogos começou há
milhares de anos, quando membros das comunidades tribais se uniam para celebrar
a vida”. O mesmo autor entende que eles representam o início de jogos com mais
oportunidades, sem violações físicas ou psicológicas.
Segundo Brotto (2001), os jogos cooperativos nasceram a partir da
preocupação com o exagerado valor conferido ao individualismo e à competição na
cultura ocidental. O autor comenta que, desde a metade do século XX, pesquisas e
publicações em diferentes países propõem o desenvolvimento de jogos com
enfoque na cooperação.
No Brasil, a trajetória dos jogos cooperativos começa por volta de 1980, ano
em que é fundada a Escola das Nações em Brasília, cuja proposta pedagógica de
educar para a paz incluía os jogos cooperativos. Esta escola recebe estudantes de
diferentes países, filhos dos funcionários das embaixadas estrangeiras, e apresenta
uma filosofia de respeito e solidariedade entre os povos, promovendo uma ampla e
significativa difusão dessa proposta em nosso país, influenciando reflexões e
transformações em diferentes segmentos da sociedade.
Será que os Jogos Cooperativos aplicados na EJA, poderão ser capaz de
administrar as diferenças distintas e opostas que se encontram arraigadas não só na
Escola como também na sociedade?
Soler (2006) acredita que as aulas de Educação Física são espaços
privilegiados para se desenvolver relações que despertem a solidariedade, a
liberdade responsável e a cooperação. Nesse sentido, os jogos cooperativos podem
ser um aliado fundamental, pois a cooperação pode ser aprendida assim como a
competição o foi. Sendo assim, o compromisso dos educadores é o de despertar o
senso crítico para as questões sociais.
A Educação para Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino com modelo
pedagógico próprio o qual difere do ensino regular pelas suas especificidades, como
faixa etária, perfil, situação sócio-econômica, dentre outras. O processo de
ensino/aprendizagem deve acontecer valorizando a cultura em que estes alunos
estão inseridos, levando em consideração sua visão de mundo que é a base aonde
à construção do conhecimento se dará. O principal objetivo é criar situações de
ensino e aprendizagem adequadas às necessidades educacionais de jovens,
adultos e idosos, realizando sua função reparadora, equalizadora e permanente,
conforme determina o Parecer 11/00 – CEB/CNE.
Os alunos que frequentam a EJA, segundo a legislação vigente, na sua
grande maioria são frutos desta sociedade excludente e classista que aí está. Ele
busca na educação, motivação para melhorar sua condição humana, seja ela de
ordem pessoal, social ou econômica.
Longe de ser uma política reparadora, mas com a pretensão de provocar no
educando, uma grande reflexão à cerca da manutenção e reprodução dos princípios
e valores ditatoriais, excludentes e individualistas, presentes em nossa sociedade e
que são aprendidos de forma automática quando da incorporação de determinados
padrões sociais, os Jogos Cooperativos têm como objetivo despertar nos educandos
uma forma diferenciada de ver os colegas, e assim procurar viver Com e não Contra
o outro.
Os Jogos Cooperativos representam muito mais do que a simples
modificação e alteração dos jogos, bem como a mera intenção de proporcionar
momentos de alegria e descontração. Bertrant (apud CORREIA, 2006, p.55) alerta
para isso: “Não se deve fazer a cooperação somente pelo prazer da cooperação”.
“A cooperação vai muito além dos jogos cooperativos” (BROWN 1995, p.20).
É preciso fazer o aluno perceber nas estruturas cooperativas, encontradas e vividas
nos jogos, uma relação contextualizada com seu trabalho, a sua atuação e a sua
vida, numa sociedade marcada pela competitividade do capitalismo. É preciso
entender os jogos cooperativos como um exercício de oposição à competição, à
dominação, às injustiças e às desigualdades nas relações sociais a que as pessoas
estão submetidas na sociedade dita civilizada.
Segundo Santos (apud CORREIA, 2006, p.56), a relação ganhador-perdedor não existe apenas no jogo. Também existe entre patrão-empregado, rico-pobre, países desenvolvidos-países subdesenvolvidos. O patrão domina o empregado; o rico, o pobre. Nessa sociedade se reforça a relação de dominação, violência, destruição dos fracos pelos fortes. Poucos são os ‘ganhadores’ e muitos, os ‘perdedores’. Do mesmo modo que se aceita normalmente que uma equipe ganhe de outra, também se aceita a dominação da sociedade. Acredita-se que aquele que ganha
merece triunfo, porque é mais forte. Igualmente aceita que o dono da fábrica está onde está porque soube esforçar-se e trabalhar.
O compromisso de nós educadores é o de buscar desenvolvimento e
transmissão de valores que estimulem a solidariedade, o respeito mútuo, a
compaixão e muitos outros, mas sem, com isso, incentivar os alunos à resignação, à
conformação e à subserviência. Ao contrário, o papel do educador, trabalhando com
jogos cooperativos, é o de despertar o senso crítico para as questões sociais
(BROWN, 1995). Nesse sentido Kunz (2000) reconhece no jogo um importante e
adequado momento para a discussão e o esclarecimento dessas questões.
Partindo do conceito de que toda a mudança deva ocorrer, primeiramente em
si mesmo para depois transformar o coletivo, é que Soler (2006) acredita ser
possível, através dos jogos cooperativos mudar comportamentos... Tais jogos
nasceram da necessidade que temos em viver juntos. Quando se joga cooperativamente, cada pessoa é responsável por contribuir com o resultado bem-sucedido do jogo e assim cada um se sente co-responsável e co-participante. O medo da rejeição é eliminado e aumenta o desejo de se envolver, de fazer parte do grupo (SOLER, 2006, p.15).
Nessa perspectiva de encontrar um caminho para conciliar as diferenças e
estimular a participação nas aulas de Educação Física, ciente de que é um momento
para estranhamento e, por conseguinte de transformação, é que se vê nos jogos
cooperativos um possível caminho para estabelecer o exercício da convivência, com
real objetivo de promover a melhoria na qualidade de vida atual e fundamentalmente
das futuras gerações.
Além de potencializar a criatividade e a espontaneidade, os jogos
cooperativos auxiliam na criação de uma consciência humanitária, que ao valorizar a
participação e o esforço do outro, constitui-se de um trabalho de crescimento mútuo,
contribuindo através dos valores positivos com a sociedade para uma melhor
qualidade de vida e a construção de um mundo melhor.
Acreditamos estar no caminho certo, buscando através dos jogos
cooperativos uma proposta pedagógica que atenda aos anseios e expectativas dos
alunos. E assim, possibilitar que a Educação Física se torne uma prática educativa e
significativa nas suas vidas.
Para Brotto (2003, p.68),
participando destes jogos tocamos uns nos outros pelo coração. Desfazemos a ilusão de sermos separados e isolados. E percebemos o quanto é bom e importante ser a gente mesmo e respeitar a singularidade do outro. Daí re-aprendemos a principal lição – AMAR.
Amaral (2007) deixa claro que por estas razões, reafirma-se a importância e a
influência dos Jogos Cooperativos no desenvolvimento das pessoas na medida em
que se motivam os participantes, fazendo com que os mesmos se deem conta da
importância que temos uns para os outros, e como, juntos, podemos contribuir para
um mundo melhor.
Os autores deixam claro que, a proposta de mudança se faz necessária à
medida que sentimos nos nossos alunos a perspectiva, a ansiedade pelo novo, pelo
que poderá ser capaz de proporcionar mudanças e melhorias na qualidade de vida,
nos relacionamentos.
Concordamos com Soler (2007) quando afirma não ter nenhuma garantia de
que mudando o jogo mudará a forma de como as pessoas vivem, mas os indicativos
de mudanças são muitos, pois somos influenciados por uma cultura perversa, no
entanto, podemos influenciá-la com amor, bondade, cooperação, respeito... Os jogos
que jogamos se tornam nossos jogos de vida.
ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS Tipo de pesquisa: Trata-se de uma pesquisa descritiva, com o objetivo de
coletar informações junto aos alunos do Colégio Estadual Paulo Freire, relativas às
aulas de Educação Física.
Thomas e Nelson (2002, p.280) descrevem que o valor da pesquisa descritiva
está baseado na premissa que os problemas podem ser resolvidos e as práticas
melhoradas por meio de observação, análise e descrição objetivas e completas.
Segundo Gil (1999, p.42), “o objetivo fundamental da pesquisa é descobrir
respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”.
Para Ruiz (2002, p.51), tão importante quanto a pesquisa é estabelecer as técnicas de registro para sua posterior análise que deverão ser claras para que o informante possa responder com precisão, sem ambiguidade. As questões devem ser bem articuladas. É importante que haja explicações iniciais sobre a pesquisa... Após a coleta de dados, resta
o trabalho de tabulação e elaboração de gráficos, para as análises, interpretações e conclusões.
Com base nos autores citados, a referida pesquisa visa coletar informações
no colégio, mais especificamente junto aos alunos da EJA, sobre as aulas
ministradas a eles.
A análise feita foi através dos questionários e também das anotações durante
o período de aulas. Portanto, esta análise é de forma qualitativa, pautando-se nos
autores abordados na revisão de literatura.
As questões elaboradas para o questionário, aparecerão no próximo tópico,
antes da apresentação de cada resultado e discussão do mesmo.
Os participantes do estudo foram 15 discentes com idades entre 18 e 47
anos, estudantes da Ação Pedagógica Descentralizada da EJA – Educação para
Jovens, Adultos e Idosos (APED) do Colégio Estadual Paulo Freire - Ensino
Fundamental e Médio de Marechal Cândido Rondon – PR. O Colégio possui cerca
de 1.300 alunos matriculados, sendo que, destes, 900 alunos frequentam aulas na
sede e 400 alunos nas APEDs.
Lembro que a todos os alunos, devidamente inscritos na modalidade de EJA,
está sendo oportunizada esta nova Proposta Pedagógica, mas, como amostra foram
utilizados 15 alunos devidamente matriculados na APED Antônio Rockenbach –
Ensino Médio, período noturno, que por sua vez, pertence ao Colégio Estadual
Paulo Freire.
Os Instrumentos utilizados para a pesquisa foram dois questionários,
contendo questões abertas e fechadas, elaborados pela autora com o auxilio do
orientador, tendo em vista os objetivos da pesquisa e o público alvo envolvido. Os
mesmos foram validados por três professores da UNIOESTE, testados por duas
professoras do Colégio Paulo Freire e posteriormente aplicados aos sujeitos do
estudo da APED Antônio Rockenbach – Ensino Médio. Um dos questionários era
composto de 16 questões, sendo 14 fechadas e duas abertas, que foi aplicado antes
de iniciar as aulas de Educação Física, portanto antes das atividades cooperativas.
O outro, com 11 questões, sendo 04 abertas e 07 fechadas, foi respondido no último
encontro com os alunos, quando do encerramento da disciplina de Educação Física.
As questões são basicamente as mesmas, havendo apenas algumas adaptações
para o segundo questionário. Cada questão será discutida no tópico da
apresentação e discussão dos resultados, sendo que um comparativo será traçado
entre os dois questionários na análise geral dos resultados.
O questionário foi utilizado como instrumento de pesquisa, pois possibilita a
obtenção de dados a partir do ponto de vista dos pesquisados. Gil (1996) aponta
que esta técnica mostra-se bastante útil para a obtenção de informações acerca do
que a pessoa sabe, crê ou espera, sente ou deseja, pretende fazer, faz ou fez, bem
como a respeito de suas explicações ou razões para quaisquer das coisas
precedentes. Thomas e Nelson (2002) acreditam, com o uso do questionário, ser
possível através das respostas dos sujeitos fornecer as suas percepções,
interpretações e consciências da situação total na interação entre os atores e o
cenário. Assim sendo, este instrumento foi o escolhido para a referida pesquisa, pois
vem de encontro aos objetivos desta pesquisadora.
Procedimentos para Implementação: Considero importante salientar que, na
Modalidade da EJA estão contempladas as disciplinas de núcleo comum, assim
como também, a Educação Física. Cada disciplina é composta por uma carga
horária específica, e ofertada aos alunos em forma de blocos. A Educação Física
consiste num bloco de 64 horas/aula, divididas em dias da semana. Neste caso, a
disciplina da Educação Física foi desenvolvida em 4 dias da semana e 4 h/a por dia,
perfazendo 16 h/a por semana. Concluindo a disciplina com 64 h/a, em
aproximadamente 4 semanas.
Vale ressaltar algumas dificuldades já esperadas, como por exemplo, o
espaço físico limitado. A Escola, na qual a APED está instituída, não possui quadra
iluminada, portanto, as aulas eram desenvolvidas, na sua maioria em sala de aula,
algumas no pátio da escola (com pedra brita e pouca iluminação) e, somente quatro
encontros no ginásio de esportes do bairro, o qual suspendeu um dia por semana os
treinamentos para que pudéssemos ocupar este espaço.
O material utilizado foi diversificado: bolas, arcos, cordas, balões, vendas p/
olhos, textos da Unidade Didática (elaborados na segunda etapa do PDE), textos
diversos, filmes: Coach Carter: Treino para a Vida e História Sem Fim I; músicas de
ritmos variados, colchonetes, dentre outros... Sendo que, para os jogos
cooperativos, o material pode ser improvisado ou adaptado.
Estratégias para as aulas: as aulas aconteceram no período noturno, 4 h/a
diárias. Como o período é extenso e a turma composta por homens e mulheres entre
18 e 47 anos, foi necessário utilizar uma boa estratégia para que todos
participassem. Considerar o fator faixa etária, possíveis problemas de saúde,
interesses diversos, duração da aula, a jornada de trabalho a que o aluno já realizou
ou fará após a aula, entre outros, foram fatores relevantes para que a aula tivesse
sucesso. Sendo assim, normalmente iniciava-se com dinâmicas de grupo, como: a)
os jogos cooperativos de apresentação - permitem um primeiro contato entre o
grupo, utilizados para aprender nomes e algumas características dos participantes:
teia; quem é você; bola quente..., b) Jogos cooperativos de aproximação -
destinados a permitir uma aproximação do grupo, oportunizam um conhecimento
mais profundo dos participantes: salve-se com um abraço; paredão cooperativo.... c)
Jogos cooperativos para afirmação - têm um papel muito importante na afirmação do
grupo, ou seja, servem para demonstrar que se trata de uma equipe. Neles
conseguimos enxergar nossas limitações: anjo da guarda; splash; levante-se... Além
de descontrair, tais jogos exercem papel fundamental para a ‘entrada’ da aula! Em
seguida, passava-se à leitura e discussão de textos do livro didático público, da
unidade didática – elaborada pela autora, especialmente para a EJA, além de textos
extraídos de revistas, jornais e internet, como: relações entre atividade física e
saúde; lazer; importância da atividade física como prevenção e manutenção da
qualidade de vida; caminhada e suas orientações; eu me reconheço enquanto corpo;
jogar e vencer ou jogar e se divertir; cooperação...
Segundo as Diretrizes Curriculares para Educação Física do MEC (2008),
para que o aluno tenha autonomia em relação à cultura corporal de movimento a
longo prazo, as aulas de Educação Física, nesse nível de ensino, não poderão abrir
mão da dimensão conceitual e dos conhecimentos subjacentes às práticas, embora
a ação pedagógica proposta pela Educação Física esteja sempre impregnada da
corporeidade do sentir e do relacionar-se. Essa dimensão cognitiva (crítica) da
compreensão far-se-á, sempre, sobre esse substrato corporal, mas só é possível
com o recurso da palavra, instrumento importante (embora não único) para o
profissional da Educação Física. A linguagem verbal deve auxiliar o aluno a
compreender o seu sentir corporal, seu relacionamento com os outros e com as
instituições sociais de práticas corporais (BRASIL, 2008, p.220).
Nos terceiro e quarto horários, normalmente realizava-se atividades de cunho
prático como: d) jogos cooperativos para ligação - buscam sempre estimular a
comunicação entre o grupo que joga. Estimula a expressão gestual: DNA; adoletá...
e) Jogos plenamente cooperativos- nos quais se necessita a colaboração de todos
onde joga-se pelo prazer de continuar jogando: passando pelo túnel; passeio do
bambolê; manter o sonho no ar; pega corrente... f) Jogos cooperativos para
descontrair- servem para liberar energia e têm como ponto alto a diversão do grupo:
dança da bexiga; grupos de 4,6,7; sigam aquela pessoa... g) Jogos cooperativos de
confiança- estimulam a confiança em si mesmo e no grupo e potencializam a
cooperação e a criatividade: futebol cego; colunas no escuro; João confiança (Maria
mole)... h) Jogos cooperativos para resolução de conflitos- aprender a enfrentar os
conflitos de uma forma criativa e cooperativa, percebendo que juntos, os conflitos
são mais facilmente resolvidos: volençol; o nó; formar grupos; basquetebalde;
futebol dos amarrados...
Esta classificação dos jogos em categorias, divididas por Soler (2006), são
plenamente aplicáveis nas aulas, pois os jogos, por si só, são carregados de
significados e, além do aspecto lúdico, podem-se adicionar conteúdos, conceitos e
questões de atitudes como a cooperação, sendo possível obter melhor sucesso no
processo de construção de ensino aprendizagem. Basicamente foram
implementadas atividades e jogos cooperativos, por algumas vezes contrapondo
situações de competição e cooperação, como por exemplo: 01-dança das cadeiras:
(Competitiva – cada vez que uma cadeira era retirada um aluno também ficava de
fora da atividade, até restar um ‘vencedor’. Cooperativa- cada vez que uma cadeira
era retirada, o aluno deveria sentar, mesmo que fosse no colo de algum colega até
restarem apenas duas cadeiras e sem excluir ninguém). 02 - futebol simples:
(Competitiva – duas equipes se confrontando. Cooperativa – futebol dos amarrados:
jogando em duplas favorecendo a participação de todos os alunos). 03- voleibol:
(Competitivo – jogo 6x6, regras normais. Cooperativo – aqui são várias as situações
que podem ser citadas: todos jogam e sempre ao passar a bola há rodízio onde
quem estiver na posição 9 muda de equipe; com bola presa; só a posição 6
arremessa para o outro lado; com inversão de placar).
A análise foi realizada através dos questionários e também das anotações
durante o período de aulas, de forma qualitativa, pautando-se nos autores
abordados na revisão de literatura, sendo que as questões elaboradas aparecerão
no próximo tópico antes da apresentação de cada resultado e discussão do mesmo.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A seguir serão apresentados e discutidos os resultados dos dois questionários
realizados junto aos alunos da APED Antônio Rockenbach, apresentando a questão,
depois os resultados numéricos e logo após, a discussão das informações
encontradas.
Questionário 01 A questão um aborda a idade dos alunos: dos quinze alunos matriculados, 08
tem entre 18 e 27 anos, 04 alunos entre 28 e 37 anos e 03 alunos entre 38 e 47
anos.
A questão dois é sobre o gênero: 09 são do sexo feminino e 06 do sexo
masculino.
Questão três aborda o tempo fora da Escola: seis alunos estão de 01 a 03
anos fora da escola, dois alunos entre 04 e 07 anos, três alunos entre 08 a 11 anos
e quatro alunos estão mais de 16 anos afastados dos bancos escolares.
NA questão quatro é perguntado se eles têm feito atividade física
periodicamente: 01 aluno respondeu que sempre realiza atividades, 07 alunos
responderam quase sempre, 06 alunos às vezes e apenas 01 aluno respondeu que
nunca realiza atividades físicas. Considero importante salientar, que após a
aplicação do questionário os alunos afirmaram que, para eles, realizar atividade
física é ir de bicicleta para o trabalho, lavar roupa, jogar um futebolzinho no final de
semana ‘mas toda a semana’.
Já a questão cinco questiona se julgam importante participar de atividades
físicas. Todos responderam que SIM.
Para a questão seis, havia a intenção de investigar, quais atividades eram
realizadas nas aulas de Educação Física, enquanto alunos do Ensino Regular: 10
citaram o Handebol, 13 o Voleibol, 09 alunos o Basquetebol, tênis de mesa e os
jogos como caçador, pique-bandeirinha. 08 alunos citaram o Futsal, 07 o xadrez, 06
as aulas de ginástica, 04 as aulas de dança e 03 as aulas de expressão corporal
como o teatro e a mímica, apenas 01 aluno citou a caminhada, corrida e o
alongamento como atividades desenvolvidas. Esta questão aponta que os alunos, se
não realizaram tais atividades pelo menos as conheciam. Segundo as Diretrizes
Curriculares da Educação Básica (2008) todas estas atividades devem ser
desenvolvidas durante as aulas, e se não as oportunizarmos aos alunos estaremos
negando o seu crescimento enquanto cidadão, de ser crítico, transformador de uma
sociedade que aí está posta. Para Betti (1991, p. 85), não há mal algum em privilegiar os esportes nas aulas, desde que possa haver oportunidades para conhecimento de outras práticas, e o indivíduo tenha condições de optar. [...] há necessidade de mudança tanto na ação prática quanto da reflexão teórica. A transformação didática visa, que a totalidade dos alunos possa participar, em igualdade de condições, com prazer e com sucesso, das atividades propostas.
Na questão sete a pergunta foi: “e sobre as atitudes, comportamentos e fatos
que ocorriam nas suas aulas de Educação Física?” Nesta questão mais de um item
pode ser anotado. Aqui se percebeu que as mais variadas situações ocorriam desde
os comportamentos desejáveis, como também os que consideramos a perversão de
uma sociedade. São eles: a agressividade, brigas, exclusão e humilhação foram
citadas por 05 alunos; trapaças por 07 alunos; o individualismo e eliminação por 09
alunos; o confronto e a insegurança por 07 alunos e 03 alunos citam a exclusão.
Valores positivos também foram citados: 13 alunos citaram a participação e o
divertimento; respeito e descontração são lembrados por 09 alunos; inclusão,
colaboração, integração e cooperação por 09 alunos; união por 11 alunos e
solidariedade foi lembrada por 06 alunos. Esta questão reafirma que os modelos
atuais estão em desacordo com as necessidades e valores que esperamos cultivar
nos seres humanos. Brown (apud SOLER, 2006, p.43) já demonstrava sua
inquietação sobre as formas de intervenção que estavam sendo aplicadas nas
escolas “[...] quais jogos vamos brincar? Aqueles que conhecemos têm a ver com os
valores que queremos transmitir?” Devemos estar preocupados com quais serão as
atitudes, normas e valores que ficam depois do jogo. Se tais fatos ocorriam nas
aulas de Educação Física, fica evidente que algo estava errado. Soler (2006) aponta
para a decadência da humanidade fazendo um comparativo da sociedade com o
câncer. Por tanto, esta sociedade nos moldes atuais carece imediatamente de
mudança de atitude, pois senão teme-se por não se visualizar futuro algum para
nossos filhos e netos.
Já a questão oito praticamente repete a pergunta anterior, apenas mudando o
tempo do verbo. Quais atitudes e comportamentos as aulas ‘devem’ desenvolver?
Apenas um aluno citou comportamentos negativos como insegurança e confronto.
Os demais responderam que as aulas devem ter: inclusão 08 alunos; 14 alunos
responderam participação, respeito e solidariedade; 13 alunos optaram pela
integração e a união entre todos; 11 alunos pela descontração e 15 alunos
responderam que as aulas devem desenvolver a colaboração, divertimento e a
cooperação entre todos. Esta questão aponta para a mudança, pois se os alunos
estão acenando para tal, cabe a nós profissionais da educação, oportunizarmos
jogos com o foco voltado para a formação de valores que respeitam o ser humano.
Sobre a questão nove, que versava sobre a participação nas aulas de
Educação Física no ensino regular, 10 alunos responderam que sempre
participavam; 02 quase sempre e 03 às vezes participavam.
Investigados sobre a diversidade encontrada na EJA, a questão dez visa
saber o que os alunos pensam sobre a participação de TODOS nas aulas: 12 alunos
pensam que sim e 03 alunos acreditam não ser possível todos participarem
igualmente das atividades. Esta questão aponta para o preconceito que existe com
relação aos menos favorecidos, provavelmente estes alunos sofreram tal
discriminação na escola e porque não dizer na vida.
A questão onze questiona se em todos os jogos, deva existir ganhador e
perdedor: 13 alunos afirmam que sim e 02 disseram que não. Como dar outra
resposta se não foram oportunizados a outras formas de intervenção a não ser a da
competição? Onde o objetivo principal é o de vencer nem que seja a qualquer custo!
Questão doze. O que Você entende por Cooperação? 09 alunos afirmaram
ser auxiliar, colaborar, ajudar o próximo; 03 acreditam que cooperar é entender a
dificuldade do próximo; 07 alunos escreveram que é a participação de todos; 04
citaram não excluir; 02 responderam jogar em grupos diferentes; 01 aluno acredita
que é onde todos se divertem e 01 afirma que é falar e agir para o bem de todos.
Aqui pode-se investigar de onde eles conheciam a cooperação e muitos relataram
que conheciam a palavra cooperação a partir da vivência em clubes cooperativos
(clube de mães, bolãozinho, jovens cooperativistas, associação de moradores).
A questão treze questiona o seguinte: Você acredita que nas aulas de
Educação Física da EJA, deva existir ou ter atividades com a ideia da cooperação?
Todos responderam que sim.
Para a questão quatorze a pergunta foi: Você teve vários tipos de jogos nas
aulas de Educação Física e dos jogos cooperativos já ouviu falar? 11 alunos
responderam que sim e 04 alunos que não.
Questão quinze: Está disposto a aprender uma nova forma de prática coletiva,
onde todos possam participar e se divertir muito? Todos responderam que sim.
Portanto demonstram estarem abertos a novas formas de intervenção pedagógica.
Quebrar aqui o paradigma de que a Educação Física só acontece mediante a
competição, parece ser nossa missão.
E para finalizar o 1º questionário, a questão dezesseis indagava o que era
mais importante para o aluno, jogar e vencer ou jogar e se divertir? Todos optaram
pela segunda alternativa, deixando esta pesquisadora animada para por em prática
a proposta dos jogos cooperativos. Para Soler (2006, p. 22 e 23) já [...] é hora de despertarmos as consciências, modificar a atual estrutura competitiva, e um grande elemento para isso é o jogo cooperativo. Acredito que utilizando o jogo cooperativo, diminuiremos os problemas. E com total harmonia, realizaremos o objetivo deste trabalho, que é utilizar os jogos cooperativos como um exercício de convivência.
Questionário 02 Conforme questionário já mencionado, quanto a questão um: Você tem feito
atividade física periodicamente? 03 alunos responderam que sempre as realizam, 07
quase sempre, 04 às vezes e 01 nunca as realiza. Esta aluna que nunca as realiza
tem problemas respiratórios severos e não está liberada pelo médico para praticar
atividades físicas.
Questão dois: Considera importante participar de atividades físicas? Todos
alunos responderam que sim.
Na questão três a pergunta é sobre quais atitudes e comportamentos as aulas
desenvolveram? As respostas foram: 06 assinalaram a inclusão; 09 a descontração;
13 alunos marcaram o divertimento, a integração e a solidariedade; já o respeito e a
cooperação foi assinalado por 14 alunos; 15 marcaram a participação, e a
colaboração; apenas 02 alunos assinalaram a eliminação e o confronto e 01 aluno
assinalou as brigas, comportamento este que não esperava que fosse citado pelos
alunos. Itens que não foram assinalados: a agressividade, trapaças, individualismo,
discriminação, exclusão, violência e a humilhação. Neste ponto foi muito importante
saber que estes comportamentos já foram eliminados das aulas. Espera-se que
somente os valores que respeitem os seres humanos (cooperativos e integrativos)
tenham ficado incorporados em cada um deles. Para Capra (apud CORREIA, 2006,
p.20 e 22), torna-se fundamental uma nova forma de pensar e perceber o mundo. Para ele, os darwinistas do século XIX viam somente a competição na natureza [...] mas agora estamos começando a reconhecer a cooperação contínua e a dependência mútua entre todas as formas de vida como aspectos centrais da evolução [...] a vida não se apossa do globo pelo combate, mas sim pela formação de redes.
A questão quatro foi a seguinte: agora, após as aulas de Educação Física,
você percebeu que mais colegas participaram das aulas? Todos responderam
afirmativamente e colocaram algumas justificativas que foram superadas no decorrer
das aulas, como: 03 alunos responderam que no início alguns não participavam das
aulas com atividades de toque (guiar cego, dança da cadeira cooperativa...); 01
respondeu que os meninos tinham vergonha de participar das atividades em sala,
pois se diferenciavam dos esportes a que estavam acostumados; 01 aluna
respondeu que não participava por falta de condicionamento físico (é bem provável
que seja a aluna com problemas de saúde); 01 respondeu que era por falta de
vestimenta adequada (provavelmente por ter vindo em alguma aula prática de salto
alto); outros opinaram que todos podiam participar e 03 responderam que a
integração total depende de todos.
Um aluno ainda justificou: “foram aulas bem produtivas e dinâmicas, eu gostei
muito e acho que todas as aulas de Educação Física deveriam ser assim”.
No entendimento de Brotto (2001), a cooperação é uma aprendizagem, um
processo permanente de revisão de valores e transformação de atitudes pessoais e
grupais. Portanto, nós profissionais da educação precisamos ser persistentes e
acreditar que mudar é possível.
Na questão cinco, os alunos são indagados se acreditam ser possível, apesar
da diversidade encontrada na EJA, que todos participem igualmente das aulas de
Educação Física. Unânime a afirmação sim.
Um aluno ainda justificou: “a EJA propicia que todas as pessoas sejam
tratadas de igual para igual sem discriminar idades ou aparência ou até mesmo
porte físico”.
Segundo Soares (2002, p.131),
A superação da discriminação de idade diante dos itinerários escolares é uma possibilidade para que a EJA mostre plenamente seu potencial de educação permanente relativa ao desenvolvimento da pessoa humana face à ética, à estética, à constituição de identidade de si e do outro e ao direito ao saber. Quando o Brasil oferecer a esta população reais condições de inclusão na escolaridade e na cidadania, os ‘dois brasis’, ao invés de mostrarem apenas a face perversa e dualista de um passado ainda em curso, poderão efetivar o princípio de igualdade de oportunidades de modo a revelar méritos pessoais e riquezas insuspeitadas de um povo e de um Brasil uno em sua multiplicidade, moderno e democrático.
O autor reafirma a real função da EJA, o que fica evidenciado com a
justificativa dada pelo aluno, que estamos cumprindo com o papel de oportunizar a
todos, independente das restrições conferidas no passado.
A questão seis visa saber se o aluno internalizou o que é a cooperação. As
respostas foram as seguintes: 05 alunos responderam que é quando todos se
ajudam mutuamente: um por todos e todos por um!; 02 alunos acreditam que seja
incluir as pessoas com dificuldades; 02 acham que é ajudar sempre, tanto num jogo
como noutra atividade; 01 citou que são atividades entre grupos de diferentes
lugares; 01 respondeu que seria a divisão de tarefas; 08 alunos disseram que é a
união entre os jogadores e a colaboração, respeito e o companheirismo; 02
afirmaram que é onde todos participam.
Questão sete: Você pensa que nas aulas de Educação Física da EJA, deva
existir ou ter atividades com a ideia da cooperação? Todos concordam e fizeram
alguns comentários: 05 alunos responderam que sim, sempre; 01 aluno citou que só
a cooperação pode nos livrar da ignorância; 01 é de opinião que sem cooperação
não há progresso; 01 falou que é mais alegre; 03 que a cooperação deve existir
sempre para que todos aproveitem bem a aula; 01 aluno sugeriu que tivessem mais
atividades coletivas e mais horas aula, para poder praticar mais atividades; 02
alunos fizeram os seguintes comentários:
“Sim, para que todos possam participar, ajudar-se, para conseguirmos nossos
resultados não importando a vitória, mas sim a brincadeira e a diversão”.
“Eu acho que continuar assim, como as aulas que tivemos durante essa
matéria, estará muito bom. Todo o tipo de atividade dinâmica vale para unir as
pessoas e proporcionar a elas o prazer em fazer aula”.
As afirmações dos alunos nas questões seis e sete, vêm de encontro à
finalidade dos jogos cooperativos. Segundo Soler (2006, p.22) nos jogos
cooperativos: - a gente joga com e não contra os outros; joga para superar desafios
ou obstáculos e não para vencer os outros; busca a participação de todos; dá
importância a metas coletivas e não a metas individuais; busca a criação e a
contribuição de todos; busca eliminar a agressão física contra os outros; desenvolve
atitudes de empatia, cooperação, estima e comunicação.
A questão oito questiona se o mais importante para eles é: jogar e vencer ou
jogar e se divertir? Todos são unânimes em afirmar que o mais importante é jogar e
divertir-se. Complementando, Soler (2007) reafirma que o objetivo maior é fazer com
que as pessoas joguem e percebam como são muito mais felizes quando jogam
juntas e não umas contra as outras e também, como perdemos tempo enxergando o
outro como temível adversário e inimigo.
A questão nove versava sobre o que a vivência das aulas de Educação Física
teria contribuído ou mudado, na visão deles: 04 alunos assinalaram que estas
práticas modificaram seu pensamento com relação aos jogos; 11 que as aulas de
Educação Física são para TODOS e 06 alunos assinalaram que a diversidade
encontrada na EJA está presente também no dia a dia. Nesta questão alguns alunos
assinalaram mais de uma opção.
A questão dez apresentou uma tabela onde deveriam analisar e assinalar
somente as questões que tivessem existido durante as aulas de Educação Física.
Podendo mais de um item ser assinalado: 12 alunos assinalaram o quadro referente
à Construção de uma realidade social positiva – que afirma que os Jogos
Cooperativos mudam as atitudes das pessoas para o jogo e para elas mesmas,
favorecendo um ambiente de apreço; 11 alunos assinalaram a Empatia –
capacidade para situar-se na posição do outro e compreender seu ponto de vista;
11 marcaram a Comunicação - desenvolvimento da capacidade para expressar,
deliberada e autenticamente, nosso estado de ânimo, nossas percepções, nossos
conhecimentos, nossas emoções e nossas perspectivas; 10 marcaram o Apreço e o
Auto-conceito positivo – que significa desenvolver uma opinião positiva de si mesmo,
reconhecer e apreciar a importância do outro. A Auto estima, Confiança e
Segurança em si mesmo são elementos importantes na determinação de nossa
conduta comunicativa. O jogo cooperativo oferece ao jogador a ocasião de apreciar-
se, de valorizar-se, sentir-se respeitado em sua totalidade; 13 alunos marcaram a
Alegria - Uma das metas do ensino-aprendizagem deve ser a formação de pessoas
felizes e o desaparecimento do medo do fracasso e do rechaço; 13 alunos
assinalaram a Participação – gera um clima de confiança e de implicação comum; e
14 alunos assinalaram a Cooperação - Valor e destreza necessários para resolver
tarefas e problemas juntos, através de relações baseadas na reciprocidade e não no
poder e controle. As experiências cooperativas são a melhor maneira de aprender a
compartilhar, a socializar-se e a preocupar-se com os demais.
Para finalizar, a questão onze solicita que os alunos descrevam no que a
Educação Física pode contribuir na sua vida pessoal: 12 alunos responderam que
melhorar a saúde e o desempenho físico; 08 alunos que contribuiu para meu modo
de viver: perseverança, superação, força de vontade, alegria, amizade, auto-estima;
02 disseram aprender a conviver e partilhar com pessoas de mais ou menos
dificuldade; 01 aluno afirmou: Podemos melhorar nosso comportamento. Eu por
exemplo, pude melhorar até mesmo como pessoa e amigo, já que num simples jogo
de futsal só dez jogadores participam, e nas outras atividades, todos pudemos
participar igualmente. Muito bom!
ANÁLISE COMPARATIVA DAS INFORMAÇÕES ENCONTRADAS NOS DOIS QUESTIONÁRIOS
Aqui será realizada uma comparação entre as informações encontradas em
ambos os questionários. Vale ressaltar que tal parâmetro será traçado somente nas
questões que forem idênticas nos dois questionários. Para Gil (1999), são os
procedimentos científicos que nos fornecem elementos para novas descobertas.
Assim, além de dialogar com diversos autores, esta pesquisadora pretende reforçar,
através desta análise, que a prática pedagógica dos Jogos Cooperativos é um dos
caminhos a se seguir. Soler (2007) também tem esta opinião. Ele cita o seguinte: não tenho nenhuma garantia de que mudando o jogo mudarei a forma de como as pessoas vivem, mas tenho muitos indicativos de mudanças, pois somos influenciados por uma cultura perversa, mas também podemos influenciá-la com amor, bondade, cooperação, respeito, etc. Os jogos que as crianças jogam se tornam seus jogos de vida (SOLER, 2007).
Analisando as questões:
Você tem feito atividade física periodicamente? Nesta questão a mudança
ocorreu com dois alunos que praticavam a atividade física, às vezes, e agora
confirmam que praticam sempre.
Considera importante participar de atividade física? Aqui não houve alteração,
pois tanto no primeiro como no segundo questionário todos assinalaram que sim.
Quais as atitudes e comportamentos que as aulas devem/desenvolveram?
Esta questão se refere ao que os alunos esperavam e o que aconteceu durante as
aulas. Os itens elencados praticamente foram os mesmos citados pela maioria:
participação, respeito, colaboração, integração, solidariedade, cooperação, união,
divertimento, descontração e inclusão. O item “confronto” se repete e no segundo
questionário “brigas” são citadas com 01 voto e a “eliminação” aparece com 02
votos, para surpresa da pesquisadora. Assim pudemos observar que, basicamente
os comportamentos e atitudes que eram esperados pelos alunos, foram se
efetivando no decorrer das aulas. Vale novamente ressaltar que, os itens cujos
valores são negativos e discriminatórios como: humilhação, violência, individualismo,
agressividade, trapaças e a exclusão, não foram citados. Soler (2007) afirma que as
atividades desenvolvidas por meio dos jogos cooperativos, diminuem as
manifestações de agressividade, promovendo boas atitudes.... facilitando o encontro
com os outros que jogam, predominando sempre os objetivos coletivos sobre os
objetivos individuais. Este mesmo autor em sua apostila didática (2007) cita fatores
relevantes nos jogos cooperativos: enxergar o outro como um amigo em potencial,
alegria, criatividade, solidariedade, confiança entre os participantes, ser motivante,
possível para todos, ninguém é excluído, e há simplicidade na execução dos
mesmos. Amaral (2006, p.23) salienta que os Jogos Cooperativos são um forte instrumento para promover a integração, socialização e manifestação de valores e emoções que levam à realização e ao bem estar de todos. [...] os jogos auxiliam na criação de uma consciência humanitária, que ao valorizar a participação e o esforço do outro, constitui-se em um trabalho de crescimento mútuo, contribuindo através de valores positivos com a sociedade para uma melhor qualidade de vida e a construção de um mundo melhor.
Esta questão compara a participação dos alunos nas aulas de Educação
Física quando estavam no Ensino Regular com agora na EJA: enquanto que antes,
60% dos alunos participavam assiduamente das aulas de Educação Física no
passado, agora, 100% dos alunos responderam que participam das aulas de
Educação Física. Considero que essa mudança significativa se dá devido a
oportunidade de terem vivenciado a nova proposta pedagógica dos Jogos
Cooperativos, cuja definição dada por Brotto (1999) é que “cooperação é um
processo de interação social, cujos objetivos são comuns, as ações são
compartilhadas e os benefícios são distribuídos para todos”.
Para Amaral (2006), a proposta cooperativa valoriza a união dos
participantes. Todos se tornam insubstituíveis, aumentando a auto-estima dos
mesmos. Ao sentirem-se valorizados, os jogadores estão à vontade para curtir o
jogo e ter a liberdade de alegrar-se com a atividade proposta, sem deixar ninguém
de lado.
Você acredita que, apesar da diversidade encontrada na EJA, TODOS
possam participar igualmente das aulas de Educação Física? Nesta questão
também houve uma mudança significativa, pois no primeiro questionário 20% dos
alunos acreditava ser inviável a participação de todos nas aulas. Após vivenciarem a
proposta dos jogos cooperativos, 100% dos alunos afirmaram ser possível TODOS
participarem de todas as aulas de Educação Física. Este pensamento vem de
encontro com as Diretrizes Curriculares do MEC para a EJA, onde ao propor o
princípio da inclusão, a intenção é vislumbrar uma Educação Física na escola com
capacidade para superar a exclusão e a seleção, portanto é para TODOS (BRASIL,
2008, p.198).
Conforme as Diretrizes Curriculares para EJA (BRASIL, 2008, p.28) o educando da EJA torna-se sujeito na construção do conhecimento mediante a compreensão dos processos de trabalho, de criação, de produção e de cultura. Portanto, passa a se reconhecer como sujeito do processo e a confirmar saberes adquiridos para além da educação escolar, na própria vida. Trata-se de uma consistente comprovação de que esta modalidade de ensino pode permitir a construção e a apropriação de conhecimentos para o mundo do trabalho e o exercício da cidadania, de modo que o educando ressignifique suas experiências socioculturais. A identidade de homens e mulheres é formada pelas experiências do meio em que vivem e se modifica conforme se alteram as relações sociais, principalmente as relações no mundo do trabalho.
O que Você entende por cooperação? Em ambos os questionários as
respostas foram positivas, onde conceitos e valores foram citados: união,
colaboração, inclusão, companheirismo, ajuda, respeito, não exclusão, onde todos
se divertem, falar e agir para o bem de todos, onde todos participam. Isto prova que
o ser humano tem estes valores, apenas não os coloca em prática, pois a sociedade
capitalista em que se desenvolvem, tais valores são esquecidos, e porque não dizer,
negados. Soler (2006, p.20) salienta que, “hoje, já sabemos que tanto cooperação
quanto competição são comportamentos ensinados-aprendidos através das diversas
formas de relacionamento humano”. De acordo com Orlick (1989), nós não
ensinamos nossas crianças a terem prazer em buscar o conhecimento, nós as
ensinamos a se esforçarem para conseguir notas altas. Da mesma forma, não as
ensinamos a gostar dos esportes, nós as ensinamos a vencer jogos. Este
comportamento competitivo não promove os valores positivos, no entanto, pudemos
observar que os alunos tem esta vontade, vontade de viver numa sociedade mais
justa e igualitária, onde podem viver em Comum Unidade (BROTTO, 2001).
Você pensa que nas aulas de Educação Física da EJA, deva existir ou ter
atividades com a ideia da cooperação? Em ambos os questionários todos
responderam que Sim. Entendo que, através das respostas dadas no segundo
questionário, os alunos demonstraram que a pedagogia da cooperação é o caminho
para a inclusão de toda a diversidade encontrada na EJA.
O que é mais importante para Você: Jogar e vencer ou jogar e divertir-se?
Em ambos os questionários todos os alunos responderam que jogar e divertir-
se é o mais importante. Sendo o aluno que está pedindo esta mudança, negar a ele
a oportunidade de aflorar seus sentimentos, valores, é negar-lhes a cidadania.
Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Física MEC (2008, p.199), ao propor o principio da inclusão, a intenção é vislumbrar uma Educação Física na escola com capacidade para superar a exclusão e a seleção [...] Tal prática só se efetivará se apoiar, estimular, incentivar, valorizar, promover e acolher o estudante. Valorizar todos os alunos – independente de etnia, sexo, língua, classe social, religião ou nível de habilidade [...] precisa também favorecer discussões entre os alunos sobre o significado do preconceito, da discriminação e da exclusão. O processo de ensino e aprendizagem deve ser baseado em compreensão, esclarecimentos e entendimento das diferenças.
Acredito que os Jogos Cooperativos vêm atender a todas estas
especificidades que requer a EJA e os demais ensinos também, haja visto que as
práticas até então implementadas nas escolas não estão atendendo aos objetivos de
inclusão, que tanto salientamos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS O aluno da EJA, diferente do Ensino Regular, não tem o estudo como
profissão, ao contrário, vai em busca do saber sistematizado para aplicá-lo no seu
trabalho, na sua família. Retorna para escola por vontade ou por necessidade, pois
seu emprego exige formação. Ou estuda com a intenção de (re)construir suas
expectativas e de (re)significar conhecimentos de etapas anteriores da
escolarização. Portanto, é na EJA que ele busca motivação para seguir em frente,
para melhorar sua qualidade de vida.
Este aluno que retorna para a escola traz consigo marcas efetivas de uma
sociedade altamente classista e excludente.
Pode-se observar que no decorrer da pesquisa, os alunos apresentaram
comportamentos que demonstram sua inquietação acerca da realidade em que
vivem. Por várias vezes demonstraram seu descontentamento com a sociedade que
está posta. Almejam por mudanças, mas precisam de um norte para seguir.
Tal sociedade carece de mudanças imediatas, pois segundo Soler (2007), o
senso comum nos empurra para uma cultura altamente perversa, e que, nos torna
todos inimigos em potencial e só conseguimos superar isso quando percebemos que
temos alternativas para se viver e jogar e que, seremos muito mais felizes quando
todos, sem exceção, compartilharmos do mesmo jogo. Uma filosofia de vida!
Ao verificar os objetivos desta pesquisa, a qual se reportou a analisar as
contribuições que os Jogos Cooperativos podem promover na vida de nossos
alunos, alguns apontamentos se fazem necessários.
O resgate dos valores humanos tão esquecidos no cotidiano, como a empatia,
a comunicação, a cooperação, o respeito, a auto-estima, assim como, oportunizar a
todos a integração, a socialização, propiciou maior aceitação entre os alunos onde o
“diferente” teve seu espaço garantido no grupo, promovendo através do exercício de
convivência a viver com e não contra os outros.
Valorizar os saberes adquiridos em etapas anteriores - a escolarização é um
dos pontos importantes a ser citado, pois o aluno da EJA vem para a escola com
uma longa história de vida e através dos Jogos e Atividades Cooperativas tais
experiências puderam ser compartilhadas por todos, elevando a auto-estima,
fazendo com que todos se sentissem importantes para o grupo.
O ser humano, em especial o da EJA, carece de motivação para seguir em
frente, para (re)significar e (re)construir sua vida. Mais do que nunca está disposto a
(re)considerar sua trajetória de vida. Momento este que nós profissionais da
educação não podemos desperdiçar, é nosso “dever”, recarregar suas expectativas
através de novos conceitos, novas práticas, e não somente reproduzir o que ele
vivenciou no decorrer de sua história. Não se está querendo aqui revolucionar o
mundo, mas sim, enquanto cidadãos e educadores, propõem-se mudanças, onde o
foco está na formação do ser humano integral, independente, crítico, feliz, a quem
se deve oportunizar novas práticas contribuindo para uma mudança real, e sempre
em busca de um mundo melhor para TODOS.
Assim como Soler (2006), acredita-se ser essa a missão maior, ritualizar a
cooperação em cada momento possível, aprendendo a conviver e compartilhar
experiências. E fazer de nossas vidas uma COMUM-UNIDADE.
Acredita-se que, com os resultados alcançados através desta pesquisa,
possa-se sensibilizar Você professor, para que juntos, como se tecendo uma teia, se
possa criar uma ética cooperativa, não para um ou alguns, mas para que todos os
que de alguma maneira já se perguntaram: “Será que temos alternativas?”
A pesquisa provou que os alunos estão descontentes com o atual modelo da
Educação Física, a hora é essa, se preferir dose as atividades sempre contrapondo
a competição com a cooperação. Você assim como eu, terá a feliz conclusão de que
a cooperação é bem aceita pelos alunos. Lembrando que a cooperação não é
somente uma forma de se realizar as atividades e sim, um exercício de convivência,
de se ver e viver na sociedade.
Muitos autores afirmam que nas séries iniciais a facilidade de implantação da
cooperação é maior. Mas com os resultados alcançados, pode-se afirmar que na
EJA a Pedagogia da Cooperação “casa” muito bem. Portanto professor, aceite este
desafio e implemente em suas aulas as atividades e jogos cooperativos.
As aulas de Educação Física através dos Jogos Cooperativos, possibilitaram
a este educando a experienciar novas formas de se jogar e viver em sociedade.
Durante as aulas mudanças significativas de comportamentos foram detectadas.
Para a satisfação desta pesquisadora, as mudanças foram positivas. Nas
contraposições dos questionários pode-se verificar que os anseios dos alunos foram
alcançados. Oxalá que eles possam ter incorporado a pedagogia da cooperação
como modo de ver e viver a vida, colaborando com a transformação da sociedade.
Isto só o tempo dirá!
O estranhamento por parte dos alunos é real, pois foram educados a luz da
competição, onde a lei de Darwin, erroneamente interpretada, é que era aplicada,
onde se compreendia que o mundo era dos mais fortes, somente a ele era dado
valor. Mas os Jogos Cooperativos provaram na prática que as diferenças não são
empecilhos para ser feliz.
Segundo Maturana (1998, p. 76), a conduta social está baseada na competição. A competição é constitutivamente anti-social, porque como fenômeno consiste na negação do outro. Não existe a ‘sã competição’, porque a negação do outro implica a negação de si mesmo ao pretender que se valide o que se nega. A competição é contrária à seriedade na ação, já que quem compete não vive o que faz, se aliena na negação do outro.
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