IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem
07 a 10 de maio de 2013 – Londrina-PR
1942
O olho e a construção da imagem
Luiz Antonio de Saboya1
Resumo
Objeto de estudo
Não é preciso enfatizar que hoje vivemos em plena “civilização da imagem”, com a
explosão da cultura visual (sob a chancela da tecnologia), a partir de uma trajetória dominante no
século XX. O estudo dessa temática vem a ser um compromisso interdisciplinar, com
contribuições e aportes da sociologia, antropologia, semiótica, Gestalt, os estudos em cinema,
fotografia, e até mesmo alguns subsídios de cunho filosófico.
Nossa abordagem procurou enfatizar que mesmo a um nível básico - fisiológico perceptivo
- alguns aspectos já podem ser destacados sugerindo que “construímos o que vemos”. A
contribuição da psicologia da Gestalt é defendida, revelando o modo como esta oferece aportes
bastante significativos para o tema da percepção, chegando a uma “pedagogia do olhar”.
Metodologia aplicada
O trabalho se vale de Jacques Aumont, um teórico de cinema, escritor e professor na
Universidade de Paris III e diretor do Instituto de Pesquisas sobre Cinema e Audiovisual dessa
mesma universidade. O seu livro “A Imagem” serviu de referência básica no trabalho. Algumas
contribuições a partir de Rudolf Arnheim são exploradas: concordando com as posições por ele
defendidas, o trabalho aponta para o menosprezo que certas correntes dominantes no campo da
teoria do conhecimento devotam ao tema da percepção, em especial a visual. Diversos outros
autores são instrumentais, dentre aqueles que ganharam destaque na formulação e consolidação
de uma teoria da percepção visual.
1 Doutorando na EBA / UFRJ e professor da ESDI / UERJ
e-mail: [email protected] Orientador Prof. Dr. Carlos de Azambuja Rodrigues Imaginata – Grupo de Estudos em Filosofia da Imagem e Estética Contemporânea UFRJ – EBA – Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais
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O olho e o sistema visual podem ser abordados segundo diversos pontos de vista, mas sabe-
se que mesmo as mais simples situações cotidianas são bem mais complexas do que a mera
reação a estímulos isolados (como certas correntes que estudam o comportamento humano
defendem – em contraste evidente com o que é proposto pelas teorias da Gestalt). A descoberta
em 1912 do “fenômeno phi” por Max Wertheimer foi muito importante, pois desencadeou a
chamada “Revolução da Gestalt”, que mudou a maneira como a percepção era estudada. Temos
então uma visão “panorâmica” quanto à gênese da Gestalt e seus desdobramentos e influências
posteriores. Questões como a da percepção das imagens, a da atenção e da busca visual, a da sua
“dupla realidade”, as ilusões, e a Gestalt em si merecem atenção.
Resultados preliminares
Na conclusão, constatamos que algumas questões permanecem mal resolvidas, pois
envolvem uma experimentação complexa, sendo que as respostas são tímidas e incompletas. A
ideia é que podemos caminhar na direção do conceito de “inteligência visual”: os estudos mais
recentes nesse campo demonstram que os desafios são significativos, mas ao mesmo tempo
existem perspectivas animadoras. De algum modo, a senda aberta pelos teóricos da Gestalt vai
sendo retomada, com outras questões em pauta, assim como com novas informações acumuladas
e novas tecnologias e pesquisas. Cada vez mais nos afastamos de uma visão da percepção visual
como algo estritamente fisiológico - óptico - mecânico para um entendimento de que mesmo
nesse nível básico que foi abordado anteriormente o processo é dinâmico e, com certeza, de certo
modo “construímos o que vemos”.
Abstract
Subject
It is not necessary to overstate that nowadays we all live inside an “image civilization”,
deriving from the blossoming of visual culture (under the umbrella of technology), from a
dominant path along the twentieth century. The study of this subject is an interdisciplinary
endeavor, with contributions from sociology, anthropology, semiotics, Gestalt, and the studies
regarding the movies, photography, and some philosophical insights.
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Our approach tried to stress that, even at a very basic level (perceptual and physiological,
some aspects may be pinpointed suggesting that “we build what we see”. There is also a cleat
defense of the contribution of Gestalt theory showing the way it offers many significant
contributions to the theme of perception, arriving at what may be called a “sight pedagogy”.
Methodology
The text is based upon J. Aumont, a cinema theoretician, writer and professor at Paris III
University and director of the Cinema and Audiovisual Research Institute at that university. His
book called “The Image” was chosen as a basic reference to the work. Some contributions
coming from R. Arnheim and others were gathered: we agree with his views, especially as
regards to the lack of respect and interest shown by some mainstream intellectual currents
towards the subject of perception, and in greater degree, to visual perception.
The eye and the visual system could be regarded from many viewpoints, but it is known
that the simplest pedestrian situations in our daily lives are far more complex than simple stimuli
reactions that could be isolated and studied (as certain well known currents that study human
behavior would support, contrary to what Gestalt theory proposes). The 1912´s discovery of the
“phy phenomenon” by M. Wertheimer was a very important cornerstone to what was later called
“The Gestalt Revolution”, which changed the way perception was viewed. It follows a broad
vision regarding the birth of Gestalt, as well as its outcomes and influences. Some other issues
such as image perception, attention and visual search, the “double reality” of images, visual
illusions and the view of Gestalt are also reviewed.
Results
In conclusion, we state that some questions remain unsolved, because they require a
complex experimentation and the answers are incomplete and timid. The idea is that we may
walk towards the concept of “visual intelligence”: recent studies in that field have shown that
there are significant problems to tackle, but at the same time there are very positive perspectives.
In some way, the pathway opened by the Gestalt theoreticians is being reevaluated, with other
issues over the table, as well as new information and new technologies and research. More and
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more we step away from a view that proposes that visual perception is nothing but something
strictly physiological/optical/mechanic; towards an understanding that even at this very basic
level that was treated before the process is dynamic and complex, so for sure in a way “we build
what we see”.
Palavras – chave
Cognição, percepção, Gestalt
Eixo temático escolhido
7 Pesquisa em imagens: debates teóricos
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Introdução
Jacques Aumont é um teórico de cinema, escritor e professor na Universidade de Paris III e
diretor do Instituto de Pesquisas sobre Cinema e Audiovisual (IRCAV) dessa mesma
universidade. Ele é autor de diversas obras, dentre as quais podem ser mencionadas algumas com
tradução em nosso idioma, como “Dicionário teórico e crítico do cinema” (Papirus, 2003) e “O
Cinema e a encenação” (Ed. Texto & Grafia, Lisboa, 2008). Seu pensamento, suas análises e
formulações são considerados rigorosos, elegantes e bem estabelecidos, e no seu livro “A
Imagem” tais qualidades podem ser realmente constatadas.
No livro, encontramos uma bem estruturada visão do tema da imagem, em modo
“panorâmico”. Trata-se de um compromisso interdisciplinar, com contribuições e aportes da
sociologia, antropologia, semiótica, Gestalt, os estudos em cinema, fotografia, e até mesmo
alguns subsídios de cunho filosófico. Não é preciso enfatizar que hoje vivemos em plena
“civilização da imagem”, com a explosão da cultura visual (sob a chancela da tecnologia), a partir
de uma trajetória dominante no século XX. Em nossos dias, diversos autores já salientaram a
“presença invasora” da imagem que se faz onipresente nas grandes aglomerações urbanas, e que
se faz dominante e espetacular em certos locais, como é o caso da “Times Square” em Nova
Iorque (EUA).
No texto, encontra-se um capítulo chamado “A PARTE DO OLHO”, e nele podemos
constatar que mesmo a um nível básico (fisiológico perceptivo) alguns aspectos já podem ser
destacados indicando o fato de que “construímos o que vemos”. Em adição à abordagem desse
capítulo do supracitado livro, o tema da Gestalt será evidenciado, com algumas contribuições a
partir de Rudolf Arnheim e outros, demonstrando o modo como essa teoria oferece aportes
bastante significativos para o tema da percepção e tem a ver com uma “pedagogia do olhar”.
Portanto, não se trata aqui de uma resenha, mas sim de uma abordagem de temas tratados
pelo autor dentro do livro em destaque. A partir daí, são feitos aportes de modo a enriquecer
certos aspectos relevantes, em especial naquilo que tende a reforçar a abordagem “gestaltista” das
teorias da percepção.
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O olho, a percepção visual
Evidente que, se existem imagens, é porque temos olhos. As imagens e as leis perceptivas
estão claramente interconectadas, e nunca se pode esquecer que a percepção visual é uma das
maneiras de como se dá a relação entre o homem e o mundo que o cerca – e certamente a
principal delas. Euclides de Alexandria, eventualmente chamado de o “Pai da Geometria”, em
300 AC funda a óptica. Depois dele, outros estudiosos (cientistas, artistas, pensadores) podem ser
elencados, nomes como Alberti, Dürer, Leonardo da Vinci, Descartes, Berkeley, Newton, que na
era moderna se destacaram nessa área, com estudos de campo. Entretanto, uma teoria da
percepção visual surge “de fato” com Helmholtz e Fechner já no século XIX. Helmholtz (1821 –
1894), por exemplo, demonstrou que a “percepção tem muito em comum com a resolução de
problemas intelectuais” (RAMACHANDRAN, ANSTIS, 1986, p. 102 – 103). Mais
recentemente, a partir da Segunda Guerra Mundial, surgiram os laboratórios de psicofísica (em
especial nos EUA) e com isso o estudo da percepção visual tornou-se mais científico.
O olho e o sistema visual podem ser caracterizados de forma bastante clara e objetiva. Os
olhos são um dos instrumentos da visão, não o mais complexo, e o processo da visão emprega
diversos órgãos especializados. Assim, a visão resulta de três operações distintas e sucessivas:
operações ópticas, químicas e nervosas.
As transformações ópticas podem ser comparadas ao funcionamento de um aparato óptico-
mecânico. A camera obscura (ver figura abaixo) ou câmera escura é um tipo de aparelho óptico
baseado no princípio de mesmo nome, o qual esteve na base da invenção da fotografia no início do século
XIX . Ela consiste numa caixa (ou também sala) com um furo em determinada posição, a luz vinda de um
lugar externo passa por esse furo e atinge uma superfície interna, onde é reproduzida a imagem invertida.
Esse processo resulta em uma imagem pálida. Esse fato levou à invenção, no século XVI, das
lentes, que aumentam a nitidez da imagem, minimizando o efeito de “flou”.
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O olho em si pode ser descrito como um globo aproximadamente esférico, com diâmetro
em torno de 2,5 cm, revestido por camada em parte opaca
(córnea), sendo a córnea aquilo que garante a maior parte da convergência dos raios luminosos. A
íris (um músculo esfíncter comandado de modo reflexo) fica atrás da córnea, e delimita em seu
centro uma abertura, a pupi
com a intensidade da luz no ambiente. O
biconvexa, com convergência
menos abaulado com o intuito de manter a imagem nítida no fundo do olho. Costuma
comparar o olho a uma câmera fotográfica em miniatura, mas é preciso ter
vez que isso se aplica à parte puramente óptica do processamento da luz.
Já as transformações químicas se relacionam de modo mais direto ao fundo do olho e a
retina (uma membrana especializada): lá se encontram receptores de luz de dois tipos: bastonetes
e cones. Os bastonetes (aproximadamente 120 milhões) e os cones (em torno de sete m
contêm moléculas de um pigmento (quatro milhões de moléculas por bastonete)
RODOPSINA. A retina pode ser comparada a um gigantesco laboratório químico. A imagem
retiniana, formada a partir do siste
no fundo do olho; a seguir essa imagem
retiniano.
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O olho em si pode ser descrito como um globo aproximadamente esférico, com diâmetro
em torno de 2,5 cm, revestido por camada em parte opaca (esclerótica), em parte transparente
(córnea), sendo a córnea aquilo que garante a maior parte da convergência dos raios luminosos. A
íris (um músculo esfíncter comandado de modo reflexo) fica atrás da córnea, e delimita em seu
centro uma abertura, a pupila, cujo diâmetro vai de 2 a 8 mm, se abrindo e fechando de acordo
com a intensidade da luz no ambiente. O cristalino - que pode ser considerado uma lente
biconvexa, com convergência variável (a sua “acomodação”) - fica após a
abaulado com o intuito de manter a imagem nítida no fundo do olho. Costuma
comparar o olho a uma câmera fotográfica em miniatura, mas é preciso ter
vez que isso se aplica à parte puramente óptica do processamento da luz.
nsformações químicas se relacionam de modo mais direto ao fundo do olho e a
retina (uma membrana especializada): lá se encontram receptores de luz de dois tipos: bastonetes
e cones. Os bastonetes (aproximadamente 120 milhões) e os cones (em torno de sete m
moléculas de um pigmento (quatro milhões de moléculas por bastonete)
RODOPSINA. A retina pode ser comparada a um gigantesco laboratório químico. A imagem
formada a partir do sistema córnea + pupila + cristalino, vem a s
essa imagem que ali se configura é então tratada pelo sistema químico
Figura 1
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O olho em si pode ser descrito como um globo aproximadamente esférico, com diâmetro
(esclerótica), em parte transparente
(córnea), sendo a córnea aquilo que garante a maior parte da convergência dos raios luminosos. A
íris (um músculo esfíncter comandado de modo reflexo) fica atrás da córnea, e delimita em seu
la, cujo diâmetro vai de 2 a 8 mm, se abrindo e fechando de acordo
que pode ser considerado uma lente
fica após a íris e se torna mais ou
abaulado com o intuito de manter a imagem nítida no fundo do olho. Costuma-se
comparar o olho a uma câmera fotográfica em miniatura, mas é preciso ter bastante cuidado, uma
vez que isso se aplica à parte puramente óptica do processamento da luz.
nsformações químicas se relacionam de modo mais direto ao fundo do olho e a
retina (uma membrana especializada): lá se encontram receptores de luz de dois tipos: bastonetes
e cones. Os bastonetes (aproximadamente 120 milhões) e os cones (em torno de sete milhões)
moléculas de um pigmento (quatro milhões de moléculas por bastonete) denominado
RODOPSINA. A retina pode ser comparada a um gigantesco laboratório químico. A imagem
vem a ser uma projeção óptica
é então tratada pelo sistema químico
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Finalmente, as transformações nervosas se dão a partir da retina. Cada receptor retiniano é
ligado a uma célula nervosa por um “relé”: a sinapse. Cada uma dessas células nervosas está por
sua vez, através de outras sinapses, ligada a células que constituem as fibras do nervo óptico. A
comunicação entre essas células muito complexas se dá com as células em rede, de modo
altamente elaborado. O nervo óptico vai do olho até região lateral do cérebro (ARTICULAÇÃO)
e dali saem novas conexões nervosas para a parte posterior do cérebro até ao córtex estriado.
Cumpre ressaltar que o sistema visual não apenas copia a informação nos estágios, mas a
processa em cada um deles. Assim, a parte nervosa é muito importante, mas pouco se sabe ainda
hoje a seu respeito – ou seja, não se sabe com exatidão como a informação passa do estágio
químico ao estágio nervoso. A percepção visual, portanto, pode ser equiparada a um processo de
tratamento da informação que certamente está mais próximo dos modelos
cibernéticos/informáticos do que os mecânicos/ópticos.
Aquilo que se percebe, portanto, tem a ver com a percepção visual enquanto um
processamento por etapas sucessivas da informação (ou “fluxo luminoso”) que entra em nossos
olhos. Tal informação pode ser caracterizada como portadora de uma codificação não
semiológica, pois seus códigos não são arbitrários nem convencionais, mas naturais,
determinando uma atividade nervosa em função da informação contida na luz. Assim, dá-se a
codificação da informação visual, e as regularidades nos fenômenos luminosos são localizadas e
interpretadas por nosso sistema visual. Tais regularidades se referem a três características da luz:
intensidade, comprimento de onda e distribuição no espaço.
Quanto à intensidade da luz, nossa percepção da luminosidade envolve uma interpretação
quanto a maior ou menor luminosidade de um objeto versus sua real quantidade de luz emitida
(seja como fonte, seja luz refletida). O olho reage aos fluxos luminosos, sendo que dois tipos de
objetos luminosos correspondem a dois tipos de visão: fotópica e escotópica. A visão fotópica diz
respeito à luz diurna, acionando os cones - associado a isso temos a percepção das cores (visão
cromática), nesse caso usualmente a pupila se encontra mais fechada, há uma maior acuidade de
visão. Já a escotópica é a visão noturna, na qual predominam os bastonetes (visão acromática),
observa-se fraca acuidade e a predominância da periferia da retina.
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O comprimento de onda da luz está diretamente relacionado com
percepção de cor está associada a três variedades de cones retinianos. A cor (e a luminosidade)
não está nos objetos, mas “em” nossa percep
em nos afirmar). A luz branca resulta de uma mistura de luzes, congregando todos os
comprimentos de onda do espectro visível, como pode ser facilmente constatado com o uso de
um prisma e a decomposição
luz de uma determinada maneira
sombreamento. As imagens em preto e branco (como no caso da fotografia) não representam
cores, mas apenas luminosidades. Existe uma classificação empírica das cores, muito utilizada
pelos artistas desde séculos atrás, que se vale de três parâmetros: comprimento de onda, saturação
e luminosidade. Podem ainda ser mencionadas as misturas de cores: as aditivas, que são m
de luzes; e as subtrativas, que são misturas de pigmentos.
A distribuição no espaço se refere primordialmente às
situam que, para um dado ponto de vista, distinguimos uma fronteira entre duas superfícies de
luminância diferente. Sabe-
instrumentos capazes de reconhecer uma borda visual e sua orientação, uma fenda, uma linha, um
ângulo, um segmento; esses perceptos são como as unidades elementares de nossa perc
objetos e do espaço. A interação entre luminosidade e as bordas dá margem a que se construa
uma luminosidade (psicológica) de uma superfície, que é muito determinada por sua relação com
o meio ambiente luminoso (temos e
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comprimento de onda da luz está diretamente relacionado com a
percepção de cor está associada a três variedades de cones retinianos. A cor (e a luminosidade)
não está nos objetos, mas “em” nossa percepção (ao contrário do que nosso senso comum teima
em nos afirmar). A luz branca resulta de uma mistura de luzes, congregando todos os
comprimentos de onda do espectro visível, como pode ser facilmente constatado com o uso de
um prisma e a decomposição da luz branca. Mas é importante lembrar que os objetos refletem a
determinada maneira, que dá margem a certos matizes e variações como o
sombreamento. As imagens em preto e branco (como no caso da fotografia) não representam
idades. Existe uma classificação empírica das cores, muito utilizada
pelos artistas desde séculos atrás, que se vale de três parâmetros: comprimento de onda, saturação
e luminosidade. Podem ainda ser mencionadas as misturas de cores: as aditivas, que são m
de luzes; e as subtrativas, que são misturas de pigmentos.
A distribuição no espaço se refere primordialmente às bordas visuais
situam que, para um dado ponto de vista, distinguimos uma fronteira entre duas superfícies de
-se que o sistema visual está equipado “por construção” com
instrumentos capazes de reconhecer uma borda visual e sua orientação, uma fenda, uma linha, um
ângulo, um segmento; esses perceptos são como as unidades elementares de nossa perc
objetos e do espaço. A interação entre luminosidade e as bordas dá margem a que se construa
uma luminosidade (psicológica) de uma superfície, que é muito determinada por sua relação com
meio ambiente luminoso (temos então a relação figura e fundo).
Figura 2
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a percepção da cor. A
percepção de cor está associada a três variedades de cones retinianos. A cor (e a luminosidade)
ção (ao contrário do que nosso senso comum teima
em nos afirmar). A luz branca resulta de uma mistura de luzes, congregando todos os
comprimentos de onda do espectro visível, como pode ser facilmente constatado com o uso de
z branca. Mas é importante lembrar que os objetos refletem a
, que dá margem a certos matizes e variações como o
sombreamento. As imagens em preto e branco (como no caso da fotografia) não representam
idades. Existe uma classificação empírica das cores, muito utilizada
pelos artistas desde séculos atrás, que se vale de três parâmetros: comprimento de onda, saturação
e luminosidade. Podem ainda ser mencionadas as misturas de cores: as aditivas, que são misturas
bordas visuais, que por sua vez
situam que, para um dado ponto de vista, distinguimos uma fronteira entre duas superfícies de
se que o sistema visual está equipado “por construção” com
instrumentos capazes de reconhecer uma borda visual e sua orientação, uma fenda, uma linha, um
ângulo, um segmento; esses perceptos são como as unidades elementares de nossa percepção dos
objetos e do espaço. A interação entre luminosidade e as bordas dá margem a que se construa
uma luminosidade (psicológica) de uma superfície, que é muito determinada por sua relação com
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Conforme se vê na Figura 2 acima, um mesmo objeto, iluminado de modo idêntico
(emitindo a mesma luminância) será julgado (regra geral) mais luminoso diante de um fundo
mais escuro. Os elementos da percepção (luminosidade, bordas, cores) nunca são produzidos de
modo isolado, analítico, mas sempre simultâneo, sendo que a percepção de alguns afeta a
percepção de outros: trata-se mais uma vez da proposição da Gestalt de que o todo é mais que a
soma das partes. Os pintores de claro-escuro (Rembrandt, Caravaggio) em suas obras trabalharam
de modo magistral o contraste sombra e luz.
Embora a visão seja antes de tudo um sentido espacial, os fatores temporais são muito
importantes: a maioria dos estímulos visuais varia com a duração, ou se produz sucessivamente.
Nossos olhos estão em constante movimento, o que faz variar a informação recebida pelo
cérebro; a própria percepção não é um processo instantâneo - certos estágios são rápidos, outros
são mais lentos.
Quanto à variação dos fenômenos luminosos no tempo, dois fenômenos são os mais
importantes. O primeiro é a adaptação, cabendo aqui ressaltar que a adaptação à luz clara é muito
mais rápida do que a adaptação ao escuro (por exemplo, ao entrarmos em uma sala de cinema); a
explicação para esse fenômeno é química, se relacionando com a rodopsina. O segundo é o poder
de separação temporal do olho, tendo a ver com o fato de que o olho só percebe dois fenômenos
luminosos como não síncronos se estiverem muito distantes no tempo (e isso se relaciona com o
fenômeno phi, a ser visto mais adiante). Os fatores temporais da percepção envolvem dois tipos
de células do nervo ótico (como foi descoberto em 1974): as “permanentes” e as “transitórias”.
Foram detectados dois tipos de resposta temporal do sistema visual: a) a resposta “lenta”, com
acumulação e integração temporal, resultando no fenômeno da persistência retiniana; e b) a
resposta “rápida”, abrangendo estímulos que variam rapidamente, cintilação e mascaramento
visual.
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Os movimentos oculares também devem ser considerados, pois não apenas os olhos estão
quase sempre em movimento, mas a cabeça e o corpo também se movem; com isso, a retina está
em movimento incessante em relação ao meio ambiente que ela percebe – na realidade, a
percepção depende desses movimentos. Ficou famoso o experimento realizado por Helmholtz,
que paralisou os músculos dos próprios olhos usando anestesia local; toda vez que tentava mover
os olhos (e não conseguia), o mundo parecia se mover na direção oposta – mas nem os olhos nem
a cena estavam se movendo. Sabe-se ainda que podem ser elencados diversos tipos de
movimentos oculares: irregulares, de perseguição, de compensação, à deriva, sem objeto
determinado.
Da organização do visível pela percepção
Mesmo as mais simples situações cotidianas são bem mais complexas do que a mera
reação a estímulos isolados (e aqui de novo vêm à baila as teorias da Gestalt). A percepção do
espaço nunca é apenas visual, estando vinculada ao corpo e a seu deslocamento, ou seja, o espaço
envolve além do visual, a parte tátil e cinésica. O estudo da percepção do espaço se depara com
um fenômeno complexo, que pode ser pesquisado de modo muito imperfeito nas condições
“assépticas” de laboratório. Dada a complexidade envolvida, a percepção do espaço é um
domínio de estudo teórico.
A constância perceptiva é um tópico de grande importância nesse campo de estudos.
Intuitivamente sabemos que o mundo tem, “grosso modo”, “sempre” a mesma aparência, ou pelo
menos esperamos nele encontrar, dia a dia, certa quantidade de elementos que não mudam. A
constância perceptiva se relaciona diretamente com a percepção desses aspectos invariáveis do
mundo (tamanho dos objetos, formas, localização, orientações, propriedades das superfícies,
etc.). Outra noção próxima é a de estabilidade perceptiva, uma vez que interpretamos nossa
percepção como a de uma cena estável e contínua. A constância e a estabilidade perceptivas,
cumpre aqui ressaltar, não podem ser explicadas se não se admite que a percepção visual aciona,
quase automaticamente, um saber sobre a realidade visível.
Outro tópico se relaciona com a geometria mono e a binocular. Inicialmente, pode ser
mencionado o espaço físico e sua relação com o modelo das coordenadas cartesianas, modelo
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esse que deriva da geometria euclidiana, associado a
(tridimensional). Intuitivamente ligamos o nosso corpo e a verticalidade, assim como a linha dos
ombros ao horizonte visual e
profundidade. Ao mesmo tempo, é p
imagem de duas dimensões no fundo do olho
camera obscura apenas aproximativa.
Como já abordado anteriormente, sabe
incessantemente variável. Em regra geral os índices estáticos têm equivalentes dinâmicos que são
bastante instrumentais quando da avaliação da profundidade. Trata
complexa, todavia completa de modo indispensável à
quando nos deslocamos, por exemplo, em um automóvel
diversa os objetos próximos em relação aos objetos distantes.
Charles Wheatstone, cientista e inventor britânico do século XIX, contri
inovações científicas da era vitoriana, dentre elas o Estereoscópio, aparato que criava a ilusão de
ver imagens tridimensionais. Neste dispositivo, uma imagem dupla é apresentada, e ela se mostra
em nosso cérebro como uma única, estereosc
ainda hoje intrigando os pesquisadores. Uma vez que, para uma fixação dada, nossas duas
imagens retinianas são diferentes, como é que percebemos os objetos como únicos (e “em
relevo”)? A resposta, ainda ho
de pontos correspondentes (
paralela á linha que une os centros dos olhos, e que passa pelo ponto em que coincidem os eixos
ópticos, simulando um olho ciclópico virtual e uma profundidade estereoscópica; b) a teo
aceita é a da “fusão”, em que
partir das duas informações difer
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esse que deriva da geometria euclidiana, associado a um espaço formado por três dimensões
(tridimensional). Intuitivamente ligamos o nosso corpo e a verticalidade, assim como a linha dos
horizonte visual e à horizontalidade; e a projeção do nosso corpo no espaço à
profundidade. Ao mesmo tempo, é preciso lembrar que a projeção retiniana se refere a uma
imagem de duas dimensões no fundo do olho - fundo esse esférico, o que torna a analogia com
apenas aproximativa.
Como já abordado anteriormente, sabe-se que a estimulação da retina é
incessantemente variável. Em regra geral os índices estáticos têm equivalentes dinâmicos que são
bastante instrumentais quando da avaliação da profundidade. Trata-se de informação mais
completa de modo indispensável às informações estáticas, fazendo
quando nos deslocamos, por exemplo, em um automóvel – o deslocamento nos faz ver de forma
diversa os objetos próximos em relação aos objetos distantes.
Charles Wheatstone, cientista e inventor britânico do século XIX, contri
inovações científicas da era vitoriana, dentre elas o Estereoscópio, aparato que criava a ilusão de
ver imagens tridimensionais. Neste dispositivo, uma imagem dupla é apresentada, e ela se mostra
em nosso cérebro como uma única, estereoscópica (tridimensional). A visão binocular
ainda hoje intrigando os pesquisadores. Uma vez que, para uma fixação dada, nossas duas
imagens retinianas são diferentes, como é que percebemos os objetos como únicos (e “em
relevo”)? A resposta, ainda hoje, é incompleta. Uma noção e uma teoria são
de pontos correspondentes (lugar geométrico ou horóptero), que é definido como uma linha reta,
paralela á linha que une os centros dos olhos, e que passa pelo ponto em que coincidem os eixos
ópticos, simulando um olho ciclópico virtual e uma profundidade estereoscópica; b) a teo
, em que conexões nervosas “fabricam” uma informação única, “fundida”, a
partir das duas informações diferentes dadas pelas duas retinas.
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um espaço formado por três dimensões
(tridimensional). Intuitivamente ligamos o nosso corpo e a verticalidade, assim como a linha dos
horizontalidade; e a projeção do nosso corpo no espaço à
reciso lembrar que a projeção retiniana se refere a uma
fundo esse esférico, o que torna a analogia com a
se que a estimulação da retina é algo
incessantemente variável. Em regra geral os índices estáticos têm equivalentes dinâmicos que são
se de informação mais
táticas, fazendo-se presente
o deslocamento nos faz ver de forma
Charles Wheatstone, cientista e inventor britânico do século XIX, contribuiu com diversas
inovações científicas da era vitoriana, dentre elas o Estereoscópio, aparato que criava a ilusão de
ver imagens tridimensionais. Neste dispositivo, uma imagem dupla é apresentada, e ela se mostra
visão binocular continua
ainda hoje intrigando os pesquisadores. Uma vez que, para uma fixação dada, nossas duas
imagens retinianas são diferentes, como é que percebemos os objetos como únicos (e “em
je, é incompleta. Uma noção e uma teoria são aventadas: a) noção
, que é definido como uma linha reta,
paralela á linha que une os centros dos olhos, e que passa pelo ponto em que coincidem os eixos
ópticos, simulando um olho ciclópico virtual e uma profundidade estereoscópica; b) a teoria mais
conexões nervosas “fabricam” uma informação única, “fundida”, a
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1954
Um problema com múltiplos aspectos é o da percepção do movimento. Um deles seria
esclarecer como percebemos o movimento dos objetos e porque percebemos um mundo estável
durante nossos próprios movimentos; e outro expor as relações existentes entre percepção do
movimento, orientação e atividade motora. Ao serem abordados os modelos de percepção do
movimento, primeiramente dois fatos muito importantes devem ser mencionados: 1) o sistema
visual possui detectores de movimento; e 2) o sistema visual incorpora informações sobre nossos
próprios movimentos. A detecção do movimento é feita por células especializadas (detectores)
que reagem quando receptores retinianos são ativados em rápida sucessão. Ao sinal eferente do
cérebro (informação que vai do cérebro aos órgãos sensóriomotores) é atribuído o papel de captar
informação sobre nossos próprios movimentos, com apoio em modelos baseados numa
comparação entre sinal eferente e sinal reaferente. Os movimentos do olho que não são
comandados pelo cérebro nos fazem perder a estabilidade do mundo visual (lembrar a
experiência levada a cabo por Helmholtz). Existem limiares da percepção do movimento, ou seja,
o movimento só é perceptível entre certos limites. Os limiares superior e inferior se dão em
função de diversas variáveis, como: as dimensões do objeto, a iluminação e o contraste, o meio
ambiente (os pontos fixos de referência).
Outra questão que não se pode olvidar é a do movimento real versus o movimento
aparente. Eventualmente, pode haver uma percepção de movimento até na ausência de qualquer
movimento real: trata-se do movimento aparente. O “efeito phi” está relacionado com
processos pós retinianos. A descoberta em 1912 do “fenômeno phi” por Max Wertheimer foi
muito importante, pois desencadeou a chamada “Revolução da Gestalt”, que mudou a maneira
como a percepção era estudada. O “phi” é o movimento aparente (uma ilusão) visto quando em
uma determinada sequência de itens em arranjo geométrico (uma linha, um círculo), cada item
dessa sequência é apagado e depois religado de modo “sequencial”, em determinada velocidade –
como em uma cena de cinema de animação.
Percepção, Gestalt: aspectos históricos breves
Figura 3
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Dada a sua importância, aqui passa a ser abordada, de modo sintético, a teoria da Gestalt
quanto à sua gênese, com seus principais formuladores e acontecimentos históricos relativos à
sua formação. A teoria da Gestalt contou com alguns precursores de renome, como Ernst Mach
(1839 – 1916), que possuía formação em matemática, física e filosofia; Carl Stumpf (1844 –
1936), principal discípulo de Franz Brentano e aluno de Hermann Lotze; Christian Von Ehrenfels
(1859 – 1932), que havia estudado com Brentano em Viena, tendo sido o “formulador” do termo
Gestalt; e Friedrich Schumann (1863 – 1940), que foi aluno de Georg Elias Müller em Göttingen
e assistente de Carl Stumpf em Berlim. Carl Stumpf (1848 – 1936), por sua vez, havia sido
também discípulo de Franz Brentano, e foi reconhecido como o mestre que influenciou os
teóricos da Gestalt e os treinou para o trabalho experimental e a pesquisa. Ainda em 1873, ele
publicou livro seminal abordando as origens psicológicas do espaço.
Em linhas gerais, sabe-se que desde a sua gênese, o movimento da Gestalt se dividiu
“grosso modo” em duas escolas, a de Graz e a de Berlim. Na de Graz se situavam figuras como
Ehrenfels e posteriormente Benussi, com uma abordagem de cunho construtivista, e a visão da
formação da Gestalt por meio das qualidades emergentes dos objetos, sendo que no processo a
mente produz as “percepções resultantes”. A de Berlim assumia uma postura “objetivista”,
entendendo a Gestalt como a formação de um todo “sui generis”, no qual há uma auto-
organização por mútua interação dos elementos constituintes do processo perceptivo (trata-se da
corrente mais aceita e mais conhecida). Nela se encontravam Wertheimer, Köhler e Koffka, os
representantes mais eminentes da teoria da Gestalt na sua fase inicial.
Max Wertheimer (1880 – 1943) foi um psicólogo de origem tcheca. Passou a parte inicial
de sua vida acadêmica entre Praga, Berlim e Viena. Estudou, junto com W. Köhler e Kurt
Koffka, Fenomenologia com Carl Stumpf, principal discípulo de Franz Brentano. Eles fundaram
a Escola de Berlin de Psicologia da Gestalt. Wertheimer e seus companheiros estudaram
fenomenologicamente a percepção, inspirados nos princípios de Brentano, em sua polêmica com
a perspectiva elementarista de Wundt. A tese básica da teoria da gestalt pode ser formulada
assim: existem contextos em que o que está a acontecer no todo não pode ser deduzido das
características das partes separadas, mas, ao contrário, o que acontece com uma parte do todo é,
em casos claros, determinado pelas leis da estrutura interna de seu todo.
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O neuro psiquiatra Kurt Goldstein (1878 – 1965, considerado já como parte da segunda
geração de gestaltistas) se juntou a eles posteriormente. Ele se destacou desenvolvendo
a psicologia organísmica, uma perspectiva fenomenológica da psicologia, enfatizando o ponto de
vista da integração corpo-mente, o organismo. As concepções de Goldstein, que se
desenvolveram a partir dos princípios da Psicologia da Gestalt, foram fundamentais para as ideias
de Fritz Perls e de Carl Rogers, em tempos mais recentes.
A partir de suas concepções fenomenológicas e gestálticas, Wertheimer realizou estudos
críticos de psicologia, da educação e da pedagogia. Quando perseguido pelos nazistas, em 1933,
refugiou-se nos EUA, onde se integrou à New School of Social Research, lecionando até o fim de
sua vida. Editado em 1945 (após a sua morte em 1943), “Productive Thinking” foi o seu principal
livro, que trouxe uma grande influência sobre os psicólogos humanistas norte americanos.
Nascido em Berlim, Kurt Koffka (1886 – 1941) veio a ser um dos mais criativos dentre os
fundadores da psicologia da Gestalt. Interessou-se por ciência e filosofia, frequentando a
Universidade de Berlin. Lá estudou psicologia com Carl Stumpf, obtendo o seu Ph. D. em 1909;
e já no ano seguinte começou a trabalhar com Wertheimer e Köhler, na Universidade de
Frankfurt. Em 1911, Koffka aceitou uma posição na University of Giessen, onde permaneceu até
1924.
Após a primeira guerra mundial e percebendo que os psicólogos norte americanos estavam
começando a se interessar pela psicologia da Gestalt, escreveu um artigo para a revista americana
Psychological Bulletin intitulado “Perception: an introduction to the Gestalt-Theorie” (em 1922),
onde explicava os conceitos básicos daquilo que seria um novo método de pensamento e trabalho,
na medida em que era mais do que apenas uma teoria da percepção e mesmo mais do que uma
mera teoria psicológica. Este artigo teve grande importância, pois divulgou para os psicólogos
americanos os seus conceitos básicos; entretanto os mesmos acreditaram que a psicologia da
Gestalt trabalhava apenas com percepção e que não serviria para nenhuma outra área da
psicologia. Em 1921, Koffka tinha publicado “The growth of the mind”, um livro que falava a
respeito do desenvolvimento infantil. Ele lecionou como professor visitante na Cornell University
e na University of Wisconsin e, em 1927, foi indicado para lecionar na Smith College onde
permaneceu até a morte, em 1941.
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Köhler (1887 – 1967) foi considerado o porta-voz do movimento da Gestalt. Como seus
livros eram escritos com cuidado e precisão, acabaram se tornando os trabalhos-padrão da
psicologia da Gestalt. Ele nasceu na Estônia em 1887 e com cinco anos se mudou para o norte da
Alemanha. Seus estudos universitários se deram em Tübinger, Bonn e Berlim, tendo obtido o seu
doutorado na Universidade de Berlim, em 1909, orientado por Stumpf.
No seu início de carreira, Köhler passou sete anos estudando o comportamento dos
chimpanzés. Registrou o trabalho no clássico volume “The mentality of the apes” (1917), lançado
em segunda edição no ano de 1924. Em 1922 Köhler substituiu Stumpf como professor de
psicologia da Universidade de Berlim. Com o seu livro “Static and stationary physical gestalts”
(1920), Köhler aprofundou a posição de Wertheimer, sugerindo que a teoria da Gestalt consistia
em uma lei geral da natureza que poderia ser amplamente aplicada em todas as ciências. Em
1929, publicou “Gestalt Psychology”, uma descrição completa do movimento da Gestalt. Deixou
a Alemanha nazista em 1935. Após emigrar para os Estados Unidos, Köhler lecionou na
Swarthmore College, publicou diversos livros e editou a revista gestáltica Psychological
Research. Em 1956, recebeu o Prêmio de Destaque pela Contribuição Científica da APA, órgão
que, em 1959, elegeu-o seu presidente.
A segunda geração dos gestaltistas incluiu, além do já mencionado Kurt Goldstein, os
nomes de Kurt Lewin (1890 – 1947), que obteve seu doutorado em Berlim com Stumpf e em
1944 criou no MIT o “Research Center for Goup Dynamics”, depois vindo a influenciar nomes
como Solomon Asch e Leon Festinger; Wolfgang Metzger (1899 – 1979), que havia estudado
com Wertheimer, Koffka e Kohler em Berlim e se tornou o assistente e posteriormente o sucessor
de Wertheimer em Frankfurt; Fritz Heider (1896 – 1988), que trabalhou com Wertheimer em
Berlim e com Koffka nos EUA; e ainda Hans Wallach (1905 – 1998), que em 1934 obteve seu
doutorado em Berlim com Wertheimer e em 1936 fugiu para os EUA para integrar o Swarthmore
College. Essa segunda geração incluiria ainda o nome de Rudolf Arnheim (1904 – 2007), que
estudou com Wertheimer, Köhler e Lewin em Berlim, tendo emigrado em 1933 para a Itália, para
a Inglaterra em 1939 e finalmente para os EUA em 1940, onde obteve cargo na New School for
Social Research. Arnheim ganhou notoriedade principalmente por ter introduzido as teorias da
Gestalt na arte e na teoria da arte. A sua estada na Itália não foi por acaso, na medida em que as
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ideias da Gestalt tiveram grande influência nesse país, a partir de nomes como Vittorio Benussi
(1878 – 1927), que foi o introdutor do pensamento da Gestalt por lá; Cesare Musatti (1897 –
1989), que foi assistente de Benussi, Fabio Metelli (1907 – 1987), que em 1943 se tornou diretor
do Instituto Psicológico em Pádua; e Gaetano Kanizsa (1913 – 1993), que ficou muito conhecido
por suas pesquisas com contornos subjetivos, modos de manifestação das cores, e fenomenologia
da transparência (WAGEMANS et al., 2012, p. 5 – 9).
As grandes abordagens da percepção visual e a teoria da Gestalt
Duas grandes abordagens vêm sendo debatidas, ao longo de três séculos: a abordagem de
tipo analítica e a de tipo sintética. A abordagem analítica se volta para a análise da estimulação
do sistema visual pela luz. Nos anos 60 do século XX, ganharam notoriedade certas teorias
“combinatórias” ou ainda “algorítmicas”. Antigas teorias analíticas, como as de Berkeley (1709)
e de Helmholtz (1850) se voltavam para as associações adquiridas por experiência e a
aprendizagem. A hipótese da invariância, ligada ao fenômeno da constância perceptiva, tem
grande relevância nessa abordagem. O papel do observador é importante.
A abordagem sintética, existindo desde o século XIX, nessa época era representada pelo
inatismo de Hering. No início do século XX essa visão ganha ímpeto com os teóricos da forma
(Gestalt). A Gestalt afirmou um princípio psicológico “que se estendeu a outros domínios de
conhecimento, segundo o qual não percebemos jamais senão conjuntos de elementos. [...] Esse
conjunto percebido se chama forma, significando configuração, estrutura e organização”
(JAPIASSÚ; MARCONDES, 1996, p. 116). Existiria, portanto, uma capacidade inata do cérebro
de organizar a percepção visual segundo leis bem definidas. Outro nome de referência, seguindo
dentro da linha da Gestalt, foi J. J. Gibson, nos anos 1950, com a sua teoria psicofísica, depois
chamada teoria ecológica da percepção visual. Em síntese, ela propunha que o processamento que
envolve a transferência da projeção retiniana ao cérebro é um todo indissociável e não analisável.
Essa abordagem ecológica insistia ainda em que o papel do aparelho visual não é nem decodificar
inputs nem construir perceptos, mas extrair informação do meio ambiente e das criaturas que nele
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vivem. De qualquer modo, não há uma melhor abordagem. As duas têm suas vantagens e
utilidade própria, sendo difíceis mesmo de se comparar.
Partindo do visual para o imaginário
O olho em si não é o olhar, que envolve outras questões. Esse “olhar” presume alguém,
uma intenção que o dirige e orienta. O olhar é o que define uma intencionalidade e a finalidade da
visão. A psicologia da percepção visual se relaciona com o estudo do olhar, pelo ângulo da
atenção e da busca visual.
A atenção visual não se define com muita exatidão. Envolve atenção central e periférica. A
central tem a ver com a focalização e a segmentação do campo em objetos e fundos (figura e
fundo). A atenção, desde que necessário, pode se fixar sobre um desses segmentos. A periférica é
mais vaga, se refere aos fenômenos novos na periferia do campo, ou ao campo visual útil.
A busca visual envolve o encadear de diversas fixações sucessivas sobre uma mesma cena
visual, para explora-la em detalhe. Essa busca depende de quem olha, pois a mesma cena pode
desencadear buscas diferentes para diferentes atores (por exemplo, a visão da colina e os
diferentes olhares do geólogo, do agricultor e do arqueólogo). Não olhamos as imagens de modo
global, de uma só vez, mas por fixações sucessivas, e isso aparentemente vai contra as teorias da
Gestalt. Tais fixações visam àquelas partes da imagem mais providas de informações. Sabe-se
que não há uma varredura regular da imagem, mas um percurso complexo por regiões da mesma
– a visão da imagem se dá por uma integração da multiplicidade de fixações particulares, o que
mais uma vez seria a busca da integração “holística”.
A percepção das imagens, a sua “dupla realidade”, as ilusões, e a Gestalt
O estudo das imagens visuais planas: pintura, gravura, desenho, fotografia, cinema,
televisão, imagem de síntese (computação gráfica), assim como tentativa de se separar a
percepção em si da sua interpretação; se constituem nos pilares centrais do que está exposto a
seguir. Uma imagem plana com arranjo espacial pode trazer simultaneamente a sua interpretação
como fragmento de superfície plana e como fragmento de um espaço tridimensional: trata-se da
dupla realidade perceptiva das imagens. A imagem como porção do mundo em três dimensões
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existe unicamente pela vista (isto é, pela percepção visual). Temos a informação sobre a realidade
bidimensional das imagens que é veiculada pela condição plana da superfície que serve como
suporte; já no caso da informação
percepção da realidade tridimensional se dá apenas se esta tiver sido cuidadosamente construída,
de modo a mimetizar características da visão natural. A hipótese da compensação do ponto de
vista defende que ao se perceber a imagem em seu suporte plano o espectador tende a perceber
com mais eficácia a terceira dimensão imaginária representada na imagem. Há também o aspecto
da aprendizagem: a percepção das ima
próprio. Hoje em dia já se sabe que as crianças passam por certos estágios de aprendizagem da
visão, especialmente nos seus primeiros meses de vida. De acordo com Donald Hoffman (2000,
p. 12):
por volta de um mês de idade, os bebês pestanejam
colisão. Por volta dos três meses, utilizam a moção visual para construir fronteiras de objetos. Por volta dos
sete meses, também utilizam sombreamento, perspectiva, interposição (na qual um objeto parc
esconde outro) e familiaridade anterior com objetos para construir profundidade e forma.
Outro aspecto a ser ressaltado é o princípio da maior probabilidade. Entre diferentes
configurações geométricas possíveis, o cérebro “escolhe” a mais prová
oferecer características contraditórias, a imagem trará problemas: é o caso das “figuras amb
e “incertas” (ver figura 4 abaixo).
Existem ainda as ilusões elementares, que são ilusões relativas à avaliação das dimensões e
das distâncias (na figura abaixo, as mesas têm o mesmo comprimento).
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1960
existe unicamente pela vista (isto é, pela percepção visual). Temos a informação sobre a realidade
bidimensional das imagens que é veiculada pela condição plana da superfície que serve como
suporte; já no caso da informação sobre a realidade tridimensional das imagens temos que a
percepção da realidade tridimensional se dá apenas se esta tiver sido cuidadosamente construída,
características da visão natural. A hipótese da compensação do ponto de
ende que ao se perceber a imagem em seu suporte plano o espectador tende a perceber
com mais eficácia a terceira dimensão imaginária representada na imagem. Há também o aspecto
da aprendizagem: a percepção das imagens se desenvolve com a idade e a experiên
próprio. Hoje em dia já se sabe que as crianças passam por certos estágios de aprendizagem da
visão, especialmente nos seus primeiros meses de vida. De acordo com Donald Hoffman (2000,
por volta de um mês de idade, os bebês pestanejam se algo se move em direção a seus olhos num curso de
colisão. Por volta dos três meses, utilizam a moção visual para construir fronteiras de objetos. Por volta dos
sete meses, também utilizam sombreamento, perspectiva, interposição (na qual um objeto parc
esconde outro) e familiaridade anterior com objetos para construir profundidade e forma.
Outro aspecto a ser ressaltado é o princípio da maior probabilidade. Entre diferentes
configurações geométricas possíveis, o cérebro “escolhe” a mais provável, em dada imagem. Se
oferecer características contraditórias, a imagem trará problemas: é o caso das “figuras amb
abaixo).
Existem ainda as ilusões elementares, que são ilusões relativas à avaliação das dimensões e
s distâncias (na figura abaixo, as mesas têm o mesmo comprimento).
Figura 4
Figura 5
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existe unicamente pela vista (isto é, pela percepção visual). Temos a informação sobre a realidade
bidimensional das imagens que é veiculada pela condição plana da superfície que serve como
sobre a realidade tridimensional das imagens temos que a
percepção da realidade tridimensional se dá apenas se esta tiver sido cuidadosamente construída,
características da visão natural. A hipótese da compensação do ponto de
ende que ao se perceber a imagem em seu suporte plano o espectador tende a perceber
com mais eficácia a terceira dimensão imaginária representada na imagem. Há também o aspecto
e a experiência, em ritmo
próprio. Hoje em dia já se sabe que as crianças passam por certos estágios de aprendizagem da
visão, especialmente nos seus primeiros meses de vida. De acordo com Donald Hoffman (2000,
se algo se move em direção a seus olhos num curso de
colisão. Por volta dos três meses, utilizam a moção visual para construir fronteiras de objetos. Por volta dos
sete meses, também utilizam sombreamento, perspectiva, interposição (na qual um objeto parcialmente
esconde outro) e familiaridade anterior com objetos para construir profundidade e forma.
Outro aspecto a ser ressaltado é o princípio da maior probabilidade. Entre diferentes
vel, em dada imagem. Se
oferecer características contraditórias, a imagem trará problemas: é o caso das “figuras ambíguas”
Existem ainda as ilusões elementares, que são ilusões relativas à avaliação das dimensões e
IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem
Uma ilusão decorrente da interpr
que a imagem é percebida, quase de modo automático, por uma interpretação em term
espaciais e tridimensionais.
Quanto à teoria da Gestalt e a percepção da forma, essa teoria privilegia a percepção da forma
global ou forma de conjunto. Assim, para a Gestalt há a percepção da forma como unidade, como
configuração – um todo que estrutura suas par
Os aspectos a serem ressaltados são:
• Forma, bordas visuais, objetos
• A separação figura e fundo
contorno – a propriedade organiz
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ma ilusão decorrente da interpretação dos desenhos (ver figura 6 abaixo) se dá pelo fato de
que a imagem é percebida, quase de modo automático, por uma interpretação em term
e tridimensionais.
Quanto à teoria da Gestalt e a percepção da forma, essa teoria privilegia a percepção da forma
global ou forma de conjunto. Assim, para a Gestalt há a percepção da forma como unidade, como
um todo que estrutura suas partes de maneira racional.
Os aspectos a serem ressaltados são:
Forma, bordas visuais, objetos – importância das bordas (ver figura
A separação figura e fundo – campo visual com duas regiões, separadas por um
a propriedade organizadora (ver figura 8 abaixo);
Figura 6
Figura 7
IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem
abaixo) se dá pelo fato de
que a imagem é percebida, quase de modo automático, por uma interpretação em termos
Quanto à teoria da Gestalt e a percepção da forma, essa teoria privilegia a percepção da forma
global ou forma de conjunto. Assim, para a Gestalt há a percepção da forma como unidade, como
ortância das bordas (ver figura 7 abaixo);
campo visual com duas regiões, separadas por um
;
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• Estruturas regulares da forma
lei de similaridade, lei de continuidade, l
• Forma e informação
princípio do mínimo, chegando
Conclusão
De todo modo, algumas questões permanecem mal resolvidas:
• Movimento aparente e movimento real referem
• Quais atributos de um objeto veiculam a impressão de movimento?
• Que papel desempenha o mascaramento?
• Que relação existe entre percepção da forma e percepção do movimento?
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Estruturas regulares da forma – as leis da Gestalt ainda válidas
lei de similaridade, lei de continuidade, lei do destino comum (ver figura 9
Forma e informação – trabalhos de Shannon e Weaver – informação e redundância,
princípio do mínimo, chegando até à cibernética de N. Wiener
De todo modo, algumas questões permanecem mal resolvidas:
Movimento aparente e movimento real referem-se aos mesmos receptores?
tributos de um objeto veiculam a impressão de movimento?
Que papel desempenha o mascaramento?
Que relação existe entre percepção da forma e percepção do movimento?
Figura 8
Figura 9
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leis da Gestalt ainda válidas - lei da proximidade,
ei do destino comum (ver figura 9 abaixo);
informação e redundância,
até à cibernética de N. Wiener (WIENER, 1968).
se aos mesmos receptores?
tributos de um objeto veiculam a impressão de movimento?
Que relação existe entre percepção da forma e percepção do movimento?
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Todas essas questões envolvem uma experimentação complexa. As respostas são tímidas e
incompletas. O cinema, por exemplo, utiliza imagens imóveis, projetadas em uma tela (com certa
cadência regular), e separadas por faixas pretas resultantes da ocultação da objetiva do projetor
por uma paleta rotativa, quando da passagem da película de um fotograma ao seguinte. Então,
temos um estímulo luminoso descontínuo que gera a impressão de continuidade, assim como a
impressão de movimento interno à imagem. Tudo isso está ligado ao movimento aparente e ao
efeito “phi”. O cinema parece acionar o mesmo mecanismo que a percepção do movimento real,
por isso pode ser considerado uma “perfeita ilusão”. A percepção do filme congrega o efeito
“phi” junto com o mascaramento visual.
De qualquer maneira, as questões abordadas neste texto se constituem nos “blocos de
construção” básicos para um melhor entendimento do fenômeno da percepção visual. Indo além,
podemos caminhar na direção do conceito de “inteligência visual”, proposto por Donald
Hoffman. Ele nos alerta que
A inteligência visual ocupa quase metade do córtex do seu cérebro. Normalmente, está intimamente ligada à
sua inteligência emocional e à sua inteligência racional. [...] Somos seres complexos com muitas facetas,
incluindo a visual, a emocional e a racional. Compreender cada uma dessas facetas e como cada uma delas
interage com todas as outras é algo crítico para o entendimento de quem somos como seres humanos, e de
como podemos nos aprimorar e melhorar nosso meio ambiente. Se percentagem de córtex é medida de algo,
então a inteligência visual é uma faceta principal de quem somos como espécie, e a sua compreensão é uma
chave para o que podemos nos tornar. (HOFFMAN, 2000, p. 193).
Os estudos mais recentes nesse campo, multidisciplinar por excelência, demonstram que os
desafios são significativos; mas ao mesmo tempo apontam para perspectivas animadoras. De
algum modo, a senda aberta pelos teóricos da Gestalt vai tendo continuidade, claro que com
outras questões em pauta, assim como com novas informações acumuladas e o suporte de
tecnologias que eles nem sonhavam em sua época. Cada vez mais nos afastamos de uma visão da
percepção visual como algo estritamente fisiológico - óptico - mecânico para um entendimento de
que mesmo nesse nível básico que foi abordado no texto o processo é dinâmico e, com certeza, de
certa maneira “construímos o que vemos”.
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Para finalizar, o que pode ser dito de modo muito sintético e objetivo é que ”não há imagem
sem percepção de uma imagem”.
Referências
AUMONT, Jaques. A Imagem. Trad., Estela dos Santos Abreu e Claudio C. Santoro. Campinas,
SP: Papirus, 1993.
HOFFMAN, Donald D. Inteligência visual: como criamos o que vemos. Trad. de Denise Cabral
C. de Oliveira. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. 3a ed.rev. e ampliada. – Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996.
RAMACHANDRAN, V, S., ANSTIS, S. M. The perception of apparent motion. In: Scientific
American, vol. 254, no 6, p. 102 – 109, junho de 1986.
WAGEMANS, J., ELDER, J.H., KUBOVY, M., PALMER, S.E., PETERSON, M.A.,SINGH,
M., & VON DER HEYDT, R. A Century of Gestalt psychology in visual perception: 1.
Perceptual grouping and figure-ground organization. Psychological Bulletin, in press, 2012.
WIENER, Norbert. Cibernética e sociedade: o uso humano de seres humanos. São Paulo:
Cultrix, 1968.