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O GATO DE BOTAS: realidade socioeconômica no conto

tradicional e contemporâneo

Elesa Vanessa Kaiser da Silva -UNIOESTE- Câmpus de Cascavel¹Orientadora: Professora Dra.Clarice Lottermann

Marechal Cândido Rondon

2013

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RESUMO Os contos de fadas são obras clássicas que permanecem

vivas no decorrer do tempo, seja através de versões originais, adaptações ou releituras. Charles Perrault (1628-1703) foi um dos principais escritores dos contos, pois, conforme Kupstas (1993), ele não só recolheu as narrativas e as reescreveu, mas também teve a preocupação de apresentá-las como literatura para crianças. O presente artigo apresenta um estudo do conto O Gato de Botas (Perrault, 1697) e da releitura É que ele sabe (Kupstas, 1993), a fim de destacar um diálogo entre as obras e relacionar fatos narrados em contos tradicionais e contemporâneos com a realidade socioeconômica. Para tanto, será utilizada, como base teórica, sobretudo a obra O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa de Robert Darnton (2011) e a obra Conto e Reconto: das fontes à invenção de Vera Teixeira de Aguiar e Alice Áurea Penteado Martha (2012).

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BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 16ª Edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.

DARNTON, Robert. O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa. Tradução de Sonia Coutinho. São Paulo: Graal, 2011.

OS CONTOS DE FADAS

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CONFORME BETTELHEIM (1980):

“Enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece sobre si mesma, e favorece o desenvolvimento de sua personalidade. Oferece significado em tantos níveis diferentes, e enriquece a existência da criança de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à multidão e diversidade de contribuições que esses contos dão à vida da criança.” (BETTELHEIM, 1980, p. 20).

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“O conto de fadas oferece materiais de fantasia que sugerem à criança sob forma simbólica o significado de toda batalha para conseguir uma auto-realização, e garante um final feliz.” (Bettelheim, 1980, p 50)

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CONFORME ROBERT DARNTON (2011):

A generosa visão do simbolismo que tem Bettelheim fornece uma interpretação menos mecanicista do conto que a resultante do conceito de código secreto que tem Fromm, mas também decorre de algumas crenças não questionadas quanto ao texto. Embora cite comentaristas de Grimm e Perrault em número suficiente para indicar alguma consciência do folclore como disciplina universitária, Bettelheim lê “Chapeuzinho Vermelho” e outros contos como se não tivessem história alguma [...] (DARNTON, 2011, p. 26)

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“Como poderia alguém entender um texto de maneira tão equivocada? A dificuldade não decorre do dogmatismo profissional- porque os psicanalistas não precisam ser mais rígidos que os poetas, em sua manipulação de símbolos- mas, principalmente, da cegueira diante da dimensão histórica dos contos populares.” (DARNTON, 2011, p. 23).

“Para reconstituir a maneira como os camponeses viam o mundo, nos tempos do Antigo Regime, é preciso começar perguntando o que tinham em comum, que experiências partilhavam na vida cotidiana de suas aldeias.” (DARNTON, 2011, p. 39)

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UM DIÁLOGO ENTRE O GATO DE BOTAS OU MESTRE GATO (PERRAULT)

E É QUE ELE SABE (MARCIA KUPSTAS

(1993)

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Para a leitura da versão do conto tradicional O Gato de Botas, foi utilizada a obra da Editora L&PM POCKET com a tradução de Ivone C. Benedetti (2012).

Em 1697 é publicada pela primeira vez a obra Os contos de mamãe gansa, onde Perrault reúne contos populares de tradição oral, apresentando uma nova roupagem, a fim de divertir a corte francesa do final do século XVII. Conforme Darnton (2011, p. 90) Perrault não tinha simpatia alguma pelos camponeses e por sua cultura arcaica. No entanto, recolheu as histórias da tradição oral e adaptou-as para o salão, com um ajuste de tom, para atender ao gosto de uma audiência sofisticada.

REALIDADE SOCIOECONÔMICA NO CONTO TRADICIONAL E

CONTEMPORÂNEO

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O Gato de Botas, com sua inteligência e coragem garante um final feliz para a história, mostra o exemplo de herói velhaco, conforme Darnton: “Os contos franceses não mostram nenhuma simpatia por idiotas da vida ou pela estupidez sob qualquer forma, inclusive a dos bobos e ogres que não conseguem comer suas vítimas imediatamente. (p. 82).

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As atitudes do personagem Gato de Botas remetem a análise realizada por Darnton (2011, p 43), quando ressalta que na condição social dos camponeses , diante das dificuldades, os “pequenos” sobreviviam com a esperteza. Conseguiam trabalho como lavradores, teciam e fiavam panos em suas cabanas, faziam trabalhos avulsos e saíam pela estrada, pegando serviços onde pudessem encontrá-los.

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Era a dura realidade dos camponeses enquanto os ricos ficavam mais ricos os pequenos lutavam pela sobrevivência, assim, “Comer ou não comer, eis a questão com que os camponeses se defrontam, em seu folclore, bem como em seu cotidiano” (DARNTON, 2011, p. 50)

“Esses personagens têm em comum não apenas a astúcia, mas também a fragilidade, e seus adversários se distinguem pela força, bem como pela estupidez. A velhacaria sempre joga o pequeno contra o grande, o pobre contra o rico, o desprivilegiado contra o poderoso. Estruturando as histórias dessa maneira, e sem explicar o comentário social, a tradição oral proporcionou aos camponeses uma estratégia para lidar com seus inimigos, nos tempos do Antigo Regime. Mais uma vez, é preciso enfatizar que nada havia de novo ou de incomum no tema dos fracos vencendo os fortes, pela esperteza.” (DARNTON, 2011,p. 83)

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No livro Sete faces do conto de fadas (1993), o conto “É que ele sabe” de Marcia Kupstas apresenta um gato malandro. É uma versão moderna, jogando com personagens pouco honestos. Nessa história, quem consegue ser mais ladrão- e embrulhão- vence a parada.

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“A história dele era mais ou menos assim: ele morou numa cidadezinha do sul, num sítio. A mãe morreu fazia tempo, ele e dois irmãos dividiram o trabalho com o pai. Morreu o velho. Os dois irmãos, malandrões que só vendo, fizeram o branquelo (que se chamava Marcelo; pelo menos, rimava o “elo”) assinar uns papéis, e o coitado ficou sem a terra, sem dinheiro, só com as botas e uma roupa no corpo. Aí, vai ver com medo de o bobão perceber a marmelada, os maninhos dele arrumaram uma graninha pro coitado e compraram uma passagem de ônibus pra beeeeeem longe – Macajá. E daí Marcelo-branquelo veio parar nessa cidade, desanimadão e sem saber o que fazer da vida dele.” (KUPSTAS, 1993, p. 104)

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Na contemporaneidade, observa-se que os contos de fadas permanecem, e releituras das obras tradicionais entram em cena, sendo também enredo inspirador para inúmeros filmes e desenhos animados. De acordo com Nelly Novaes Coelho (2000, p. 94) gerados em épocas diferentes, embora sendo reescritos e readaptados através dos séculos, tais textos conservam em sua visão de mundo, os valores básicos do momento em que surgiram.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Abordando o conto de fada tradicional e a releitura do Gato de botas, é possível destacar que na literatura contemporânea estão presentes as mesmas condições e os perigos dessa realidade abordada já nos contos clássicos. Portanto, vale ressaltar, que os contos de fadas não são fantasias, mas sociologia. Sendo assim, o personagem Gato de Botas permanece, com outra roupagem, porém com a mesma astúcia, coragem e esperteza, retratando um reflexo sobre a condição social contemporânea.

Na literatura da contemporaneidade, a velhacaria também está presente, tendo os personagens uma nova roupagem, porém, vale ressaltar ao que Darnton destaca: “O mundo é composto de tolos e velhacos, dizem: melhor ser velhaco do que tolo.” (p. 93)

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De acordo com Vera Teixeira de Aguiar (2012, p.48), Dentre a literatura ofertada às crianças e aos jovens de então, os contos de fadas são aqueles que obtêm maior sucesso no ambiente de ensino também, uma vez que são adaptados com vistas a serem ali consumidos. Assim, eles passam a definir o segmento em questão, em termos de temas tratados e estrutura de textos, mesmo quando os escritores partem para criações originais[...].

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A leitura realizada da obra O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa (2011), contribuiu para destacar que os contos de fadas tradicionais vão além da fantasia abordada principalmente por estudos psicanalíticos, pois Darnton aborda que, nos contos de fadas, estão presentes elementos de realismo e não de fantasia. Apresentando assim, estes, uma estratégia de sobrevivência, uma forma de lidar com a vivência na sociedade dura. Além do mais, percebe-se de como era constante, na realidade dos camponeses da Europa o sonho pela busca de riqueza, onde a felicidade estava em conseguir comida e condições melhores.

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BIBLIOGRAFIA

AGUIAR, Vera Teixeira. MARTHA, Alice Áurea Penteado. (Orgs.) Conto e Reconto: das fontes à invenção. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012.

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 16ª Edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.

DARNTON, Robert. O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa. Tradução de Sonia Coutinho. São Paulo: Graal, 2011.

KUPSTAS, Marcia. Sete faces dos contos de fadas. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 1993.

PERRAULT, Charles. Contos de Mamãe Gansa. Tradução de Ivone C. Benedetti. Porto Alegre: L&PM POCKET, 2012.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: Teoria, Análise e Didática. São Paulo: Moderna, 2000.

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PERRAULT, Charles. Contos de Mamãe Gansa. Tradução de Ivone C. Benedetti. Porto Alegre: L&PM POCKET, 2012. Capa. Disponível em: <http://www.travessa.com.br/CONTOS_DE_MAMAE_GANSA/artigo/562031c7-6b23-4fa7-bc20-70b94bb95981>. Acesso em 21 jun. 2013 às 19h.

KUPSTAS, Marcia. Sete faces dos contos de fadas. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 1993. Capa. Diponível em http://www.julioemiliobraz.com/bio.html> Acesso em: 15 jun. 2013 às 14h.

PERRAULT, Charles. Contos de Mamãe Gansa. Tradução de Ivone C. Benedetti. Porto Alegre: L&PM POCKET, 2012. Capa. Disponível em : <http://www.lpm-editores.com.br/site/default.asp?Template=../livros/layout_produto.asp&CategoriaID=725462&ID=923939>. A cesso em 22 jun. 2013 às 16h.

O Gato de Botas, de Gustave Doré. Imagem. Disponível em: <http://www.surlalunefairytales.com/illustrations/pussboots/doreboots1.html>. Acesso em 22 jun. 2013 às 15h.

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 16ª Edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. Capa. Disponível em: < http://encantamentosdaliteratura.blogspot.com.br/2009/03/psicanalise-dos-contos-de-fadas-bruno.html>. Acesso em 22 jun. 2013 às 17h.

BETTELHEIM, Bruno . Foto. Disponívem em: <http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/BrunoBet.html>. Acesso em 22 jun. 2013 às 18h.

DARNTON, Robert. Foto. Disponível em: <http://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=00120>. Acesso em 22 jun. 1013.

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OBRIGADA!


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