O Amor do Mundo e o Amor de Deus
Por J. C. Philpot (1802-1869)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
Nov/2018
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P571
Philpot, J. C. – 1802 -1869
O amor do mundo e o amor de Deus / J. C. Philpot (1802- 1869) Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2018. 41p.; 14,8 x 21cm
1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230
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"Não ameis o mundo nem as coisas que há no
mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai
não está nele; porque tudo que há no mundo, a
concupiscência da carne, a concupiscência dos
olhos e a soberba da vida, não procede do Pai,
mas procede do mundo. Ora, o mundo passa,
bem como a sua concupiscência; aquele, porém,
que faz a vontade de Deus permanece
eternamente.” (1 João 2: 15-17)
Os diversos escritores das Epístolas do Novo
Testamento, embora todos igualmente
inspirados por Deus, apesar de todos pregarem
a mesma doutrina, revelam a mesma
experiência e aplicam a mesma prática, ainda
que difiram amplamente em seu modo de
apresentar as verdades divinas. Assim, Paulo
brilha claramente ao expor as grandes
doutrinas do evangelho, tais como a união da
Igreja, escolhida em Cristo, com seu grande
Cabeça do pacto, salvação pela graça livre,
soberana, distintiva e superabundante,
justificação pela fé no Filho de Deus, e os
abençoados e abundantes frutos e privilégios
que brotam da relação da Igreja com Deus, da
sua união com o Filho do Seu amor. Foi
necessário para a instrução, edificação e
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consolação da Igreja de Deus que essas verdades
grandiosas e gloriosas não só fossem reveladas
no evangelho, e pregadas pelos apóstolos, mas
fossem colocadas em registro permanente para
todas as eras como parte do evangelho - as
Escrituras inspiradas. Deus, portanto, escolheu
Paulo e o dotou com o maior dos intelectos, a
maior quantidade de graça e a posse mais
completa dos dons do Espírito Santo, que talvez
já se encontrassem em qualquer homem.
Assim, a ele foi dado escrever a maior parte das
inspiradas epístolas do Novo Testamento.
Tiago continua em terreno mais baixo. Ele não
sobe naquelas sublimes alturas em que seu
irmão Paulo se viu carregado e sustentou com
sua forte opinião; mas direcionou sua pena
contra as perversões que faziam do evangelho
de Paulo, que se insinuou nas Igrejas, e
direcionando suas afiadas flechas contra os
antinomianos de seus dias, mostra que não
adiantava falar em ser justificado pela fé sem
obras, se assim se destinassem exclui
completamente as obras de ter parte ou sorte no
ministério do evangelho ou na caminhada de
um crente; e isso não em se dizer que se os
homens somente cressem em Cristo, eles
poderiam viver como quisessem, sem prestar a
menor atenção a fazer a vontade de Deus, ou
produzir os frutos da justiça. Toda essa doutrina
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antinomiana solta e licenciosa, Tiago, corta a
raiz e o ramo.
Pedro, derretido e amadurecido na fornalha da
aflição, escreve como alguém que
experimentou muito conflito interior e,
portanto, lida muito com as provações,
tentações e sofrimentos da Igreja de Deus; ainda
olha com olhos firmes, e aponta com caneta
clara, para a glória que deve ser revelada que
corrigirá a todos.
Judas faz uma severa denúncia contra os
homens ímpios que, em seus dias, abusaram das
grandes verdades da graça do evangelho para
andar atrás de suas próprias concupiscências.
Ele aponta sua afiada caneta contra "as manchas
em suas festas de amor", que naquela época
pareceriam surgir para contaminar as
vestimentas limpas que deveriam ter sido
usadas em celebrações tão santas do amor e do
sangue do Cordeiro. Ele denuncia o julgamento
de Deus contra as "árvores duas vezes mortas,
arrancadas pelas raízes ... as nuvens sem água e
as estrelas errantes, a quem estava reservado o
negrume das trevas para sempre".
Quando chegamos a João, parecemos entrar em
uma atmosfera diferente - uma atmosfera de
amor e santidade. Ele, em sua juventude, deitou
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a cabeça no seio do Redentor e bebeu em
grandes e profundas correntes de amor. Ele
havia ficado ao lado dele quando, na cruz, havia
testemunhado Suas agonias, ouvido Suas
palavras agonizantes e visto a lança do soldado
romano perfurar Seu coração, de modo que dele
saiu sangue e água. Parece, portanto, como se o
reflexo do que ele assim provara, sentisse e
manipulasse, tingido como se fosse sua epístola
com luz dourada. Se eu posso usar uma figura,
parece quase se parecer com o que vemos em
uma noite de verão, quando o sol poente lança
um brilho luminoso de luz dourada sobre cada
objeto; ou se posso emprestar uma ilustração
tanto da arte quanto da natureza, como vemos,
ela é transferida para a tela de grandes pintores,
como Claude ou Turner, onde cada objeto
parece iluminado por esse raio dourado. Assim,
quando chegamos a esta epístola, parece que
um raio de luz dourada, a luz da santidade e do
amor, se espalhou sobre cada palavra e banhou-
a com os matizes do céu. É essa atmosfera
peculiar de amor e santidade que torna cada
palavra desta epístola tão cheia de luz, vida e
poder.
Permanecendo então como se sobre este alto e
santo solo, e respirando este ar celestial, esta
atmosfera de pureza e amor, o discípulo a quem
Jesus amava envia uma voz de advertência aos
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filhos de Deus nas palavras de nosso texto, e
solenemente os adverte contra o amor do
mundo. Ele sabia de sua propensão, o que estava
no coração do homem, e que, embora os santos
de Deus fossem redimidos pelo sangue de
Cristo, ensinados por Seu Espírito, e produzido
por Sua graça, ainda assim havia neles um
princípio carnal e terreno, que se apegava e
amava o mundo. Ele, portanto, levanta uma voz
de advertência - "Não ame o mundo, nem as
coisas que estão no mundo". E para mostrar que
isso não era uma questão de pequena
importância, mas envolvia vida ou morte, ele
passa a testemunhar que qualquer profissão que
um homem pudesse fazer, se ele realmente
amava o mundo, o amor do Pai não estava em
seu coração. Ele então tem uma rápida visão de
tudo o que estava no mundo, e resumindo-o sob
três cabeças, como a luxúria da carne, a luxúria
dos olhos e o orgulho da vida, passa-lhe esta
sentença condenatória, que não é do Pai, mas do
mundo.
Ele então eleva, ainda mais forte, sua voz de
advertência, que o mundo está passando e a sua
luxúria, e que haverá um final rápido para todo
esse espetáculo e brilho. Mas ele acrescenta,
para encorajar aqueles que, apesar de toda
oposição, que estão fazendo à vontade de Deus,
que quando todas as coisas aqui embaixo
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passarem e perecerem, a vontade de Deus
permanecerá para sempre. Este é um simples
esboço da maneira em que tentarei lidar com o
assunto diante de nós; e você verá que está de
acordo com o esboço do nosso texto.
Vamos primeiro então considerar a solene
admoestação de João - "Não ame o mundo, nem
as coisas que estão no mundo".
II. Em segundo lugar, as razões pelas quais não
devemos amar o mundo, que são: Que se
amamos o mundo, o amor do Pai não está em
nosso coração. Que tudo o que está no mundo é
ipso facto condenado como não sendo do Pai e,
portanto, oposto e estranho a ele. Que o mundo
está passando e a sua luxúria.
III. Em terceiro lugar, a bênção que repousa
sobre aquele que faz a vontade de Deus - que ele
permanece para sempre.
I. A admoestação solene de João - "Não ame o
mundo nem as coisas que estão no mundo".
Se não houvesse uma forte tendência no
coração dos participantes da graça de amar o
mundo, por que precisaríamos que essa
admoestação fosse feita pelo apóstolo João? É
porque há uma tendência tão forte na mente
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humana de amar o mundo, que esse cuidado é
necessário; e felizes são aqueles pelos quais é
considerado, ouvido e posto em prática. Mas o
que devemos entender pela expressão "mundo",
como usada aqui?
Pois, se somos advertidos contra o amor do
mundo, devemos ter uma compreensão clara do
que significa o termo, para que possamos saber
se o amamos ou não.
A palavra "mundo" então, nas Escrituras, tem
vários significados. Significa, por vezes, o
mundo material; como nas passagens: "Ele
estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o
mundo não o conheceu". "Esta é uma palavra
fiel, e digna de toda aceitação, que Cristo Jesus
veio ao mundo para salvar os pecadores." Nestas
passagens entende-se o mundo material, essa
esfera inferior na qual nosso lote terrestre é
moldado.
Às vezes significa homens e mulheres em geral,
seres humanos, homens vistos simplesmente
como homens. Parece ter esse significado na
passagem: "Deus amou o mundo". Não podemos
entender "o mundo" aqui, o todo da raça
humana, como sendo todos objetos pessoais e
definidos do amor de Deus; pois tal visão
excluiria o amor que Deus tem ao Seu povo
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escolhido em Cristo; e faria com que Ele amasse
Esaú tanto quanto Jacó, e Judas, assim como
João.
Nosso Senhor diz a seu Pai celestial em Sua
oração especial: "Tu os amaste, como também
amaste a mim.", João 17:23. Mas se Ele amou o
mundo inteiro com o mesmo amor eterno que
amou aqueles que Ele deu ao Seu amado Filho, o
que acontece com esse apelo especial do Senhor
nos dias de Sua carne a Seu Pai celestial? Não
teria sido um apelo predominantemente para
Deus impedi-los do mal, se todo homem no
mundo fosse amado com o mesmo amor com
que amava aqueles por quem o Senhor orava de
modo tão especial e sinceramente.
Quando, então, lemos que "Deus amou o
mundo", deve significar não cada indivíduo da
raça humana, mas homens e mulheres, como
participantes da carne e do sangue e, portanto,
distintos dos seres angélicos.
Às vezes "o mundo" significa os gentios distintos
dos judeus; como nessa passagem em que de
Abraão é dito ser "o herdeiro do mundo",
Romanos 4:13. Esta é uma explicação da
promessa de que "nele e em sua semente, todas
as nações da terra serão abençoadas"; pelo que
se pretendia, que a salvação pela semente
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prometida não deveria ser limitada aos
descendentes diretos de Abraão, mas que os
gentios também deveriam ter um interesse na
obra da redenção, e que Abraão deveria ser o
pai, não apenas do judeu, literalmente e
linearmente, mas o pai dos gentios também,
como andando em seus passos. Mas em nosso
texto a expressão "mundo" significa, como
frequentemente acontece nas Escrituras,
aquele estado geral das coisas aqui embaixo,
aquele mundo moral, ou melhor, imoral, que
consiste no agregado de homens e mulheres
que vivem, movem-se, e agem sem o temor de
Deus, morto em pecado, que não tem
consideração pela Palavra de Deus, não presta
atenção à vontade de Deus e está sob a
influência do deus e do príncipe deste mundo.
Este, então, é o mundo que não devemos amar.
Por que não devemos amá-lo? Há muitas razões,
como mostrarei; mas a principal é, porque é um
mundo caído; caído de sua devida fidelidade. O
homem foi feito à imagem de Deus à
semelhança de Deus; portanto, ele devia
lealdade a Deus como seu Criador, e o mínimo
que podia fazer era servi-lo por cuja mão
criadora e respiração inspiradora ele devia a
posse do corpo e da alma. Tampouco isso foi
difícil para ele, pois é difícil em nós; pois o
pecado não corrompeu sua mente, nem o
privou do poder da obediência, como nos
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privou. Ao carregar a imagem de Deus, ele
poderia se aproximar de Deus na pureza de sua
inocência nativa, e sua adoração era aceitável a
Deus como uma oferta pura. Mas quando ele
pecou e caiu, o pecado rompeu imediatamente
a obediência, a lealdade e a pura e simples
dependência de Deus que ele tinha em sua
inocência primitiva. O grande pecado de Adão
foi que ele pecou intencionalmente,
deliberadamente e com isto, seus olhos se
abrem.
A mulher foi enganada pela astúcia de Satanás;
mas "Adão não foi enganado" como ela foi, mas
pecou, sabendo o que estava fazendo, e não foi
enredado na tentação, ou persuadido a ela por
outro. Ao desobedecer deliberadamente o
mandamento de Deus, ele rejeitou sua
fidelidade a Deus; e como o homem é, de sua
própria natureza em corpo e alma, uma criatura
dependente, retirando-se da dependência de
Deus, ele caiu sob o domínio de Satanás.
Assim, Satanás, através de cuja tentação em
primeira instância o pecado foi introduzido,
estabeleceu-se, com a permissão de Deus, como
deus e rei do homem. Assim, como a raça de
Adão herdou o pecado e a natureza de Adão,
Satanás se tornou o príncipe deste mundo e
trouxe o todo em sujeição a si mesmo;
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estabelecendo suas leis contra as leis de Deus,
suas máximas contra as máximas de Deus, sua
política contra o conselho de Deus, e sua iníqua
vontade contra a vontade pura e santa de Deus.
Assim, quando uma vez que Satanás inspirou o
coração do homem e infectou sua natureza com
seu próprio nascimento infernal, ele gerou e
produziu uma colheita semelhante à própria
semente. Como vemos no caso da doença
natural, um fôlego de infecção, uma vez
capturado, vai gerar febre ou varíola por todo o
corpo; assim, na queda, a natureza humana
tornou-se completamente depravada, alienada
da vida de Deus, subserviente a Satanás, amando
ao pecado, oposta a Deus e hostil a Ele em todos
os pontos. É essa infecção de nossa natureza que
faz com que o preceito de não amar o mundo
seja tão adequado e tão importante. Como
sujeitos da graça regeneradora, como tendo
uma fé viva no Senhor Jesus, como tendo uma
boa esperança através da graça, amando o
Senhor e apegando-se a Ele com propósito de
coração, nós professamos publicamente e
abertamente ser filhos de Deus; e, como tal,
professamos vir a Ele como o objeto de nossa
adoração, para obedecê-lo como nosso Príncipe
e Rei, a quem devemos fidelidade. Assim
também, como crentes na palavra de Sua graça,
nós professamos tomar Sua palavra para ser
nosso guia, Sua vontade psra ser nossa lei, e
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Seus preceitos para ser o princípio diretor de
nossas palavras e obras. Mas nós diariamente
encontramos, por experiência dolorosa, que
não existe em nós aquele coração voluntário, e
essa mente obediente, de modo a fazer a palavra
de Deus ser o guia da nossa vida.
Nós reconhecemos plenamente, e na maior
parte séria e sinceramente desejamos, andar
em obediência ao que Ele, em Sua santa palavra,
estabeleceu como incumbência daqueles que
temem Seu nome. Mas através da perversidade
de nossa mente, da fraqueza da carne e da
corrupção profundamente estabelecida de
nossa natureza decaída, descobrimos que existe
em nós um princípio contrário e oposto à nossa
mente e vontade; como afundado em pecado,
quão cheio de rebelião, perversidade e
alienação da vida de Deus; quão desesperada e
determinadamente se opõe a tudo que é santo,
celestial ou espiritual; como está sob a sentença
da ira de Deus, e isso mais justamente. Tudo isso
nós vemos e sentimos.
Deus, nós confiamos, nos deu um novo coração
e um novo espírito, que nos separou do mundo
que está na maldade. E, no entanto, é estranho
dizer que existe em nós a clivagem e o amor ao
mundo, embora o vejamos e sintamos também,
como descrevi. Agora, como isso pode ser
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explicado, exceto que existe em nós um
princípio corrupto em união com o mundo, e
oposto àquela vida interior de Deus que a odeia
e é separado dela? Não foi isso que o apóstolo
encontrou quando disse: "O bem que quero que
eu não faço, mas o mal que não quero esse eu
faço? Eu acho então uma lei que quando eu faria
o bem, o mal está presente comigo". Romanos 7:
19,21 Agora a questão é: qual princípio deve
reinar e governar? Eu sou, se possuo e professo
o temor de Deus, obedeço a Deus, para ouvir a
sua Palavra e vontade, para procurar fazer as
coisas que são agradáveis à sua vista? Ou devo
amar o que Deus abomina e, assim, realmente
me coloco entre as fileiras dos inimigos de Deus
e da piedade? Certamente é pelo nosso amor às
coisas, que o ponto é decidido onde está o nosso
coração e tesouro. E isso será válido mesmo se
aplicarmos a regra para medir o todo ou medir
uma parte. Posso, espero, não amar o mundo da
mesma maneira que um homem carnal o ama,
para quem é tudo; mas eu posso amá-lo
parcialmente, se eu não o amar completamente,
amar um pouco dele, se eu não amar o todo dele,
muito tempo depois de uma fatia do bolo, se eu
não quero ter e comer tudo. Mas, até onde eu
amo o mundo e as coisas que estão no mundo, e
me torno inimigo de Deus; eu amo um estado de
coisas que está em oposição direta à vontade
revelada de Deus; eu abandono meu estandarte
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e me coloco sob a bandeira oposta; eu
permaneço nas fileiras daqueles que estão
lutando contra Deus e contra quem Deus luta; e
pelo meu amor para com eles, eu mostro minha
aprovação de seus princípios, suas máximas,
suas buscas, seus costumes e seus caminhos, e
assim, no coração, se não em pessoa, eu fico do
lado daqueles que estão sob a ira e a condenação
de Deus. Esta, então, é a razão pela qual Deus me
manda não amar o mundo; pois se eu amo o
mundo, meu coração diminui do caminho
estreito e apertado, desliza em um sulco fácil,
anda de acordo com aqueles que estão viajando
pela estrada larga, e como Efraim, embora
armado, volta no dia da batalha. Deus, portanto,
por Seu inspirado apóstolo, deixa esta
advertência em meus ouvidos, e o que Deus, o
Espírito Santo, transmitiria ao meu coração e ao
seu em toda sua sagrada luz, vida e graça - "Não
ame o mundo, nem o coisas que estão no
mundo. " Se este preceito deve ser cumprido,
não devemos amar os homens e mulheres do
mundo; não devemos amar sua companhia,
nem buscar e ter prazer em sua sociedade. Os
chamados e reivindicações de negócios, e na
maioria dos seus casos, os deveres diários de sua
vocação na vida, podem, e de fato devem levá-lo
ao mundo. O profissional deve atender seus
clientes ou pacientes; o comerciante deve
esperar seus clientes; o mecânico deve
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trabalhar no mesmo banco com seu
companheiro; e mesmo aqueles de nós que não
estão tão engajados às vezes são obrigados a
transacionar com pessoas mundanas. Mas tudo
isso é uma coisa muito diferente de amar sua
companhia e buscar sua sociedade. Se o seu
coração está sob influência divina, o mundo não
vai machucá-lo enquanto você não se misturar
com ele mais do que você é absolutamente
compelido a fazer. Nós não somos chamados a
sair do mundo e nos calar nos monastérios e
conventos. O que temos que evitar é a
companhia do mundo nas ocasiões em que isso
não é necessário. Assim, você não precisa sair
do mundo para se separar dele. Você pode estar
fora do mundo e amá-lo; você pode estar no
mundo e odiá-lo. É onde está nosso coração,
onde estão nossas afeições e o que amamos
interiormente, o que mostra se somos do
mundo ou não; pois você observará que a
principal força do preceito está nisto: "Não ame
o mundo". João não diz “Deixe o mundo”, mas
“não ame”. E por que João nos obrigou a não
amar isso? Por essa simples razão, esse amor é a
paixão mais forte do seio humano e nunca pode
ser satisfeita sem gozo e posse. Se um homem
ama algo, ele o terá se puder, mais cedo ou mais
tarde, por um gancho ou por um trapaceiro, por
meios sujos ou por meios justos. Se ele está
desesperadamente apaixonado por um objeto,
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ele é infeliz até consegui-lo; porque o amor é a
paixão mais forte que move o seio humano.
Todos vocês sabem disso que já foram, para usar
uma expressão comum, "apaixonados"; e,
embora isso seja especialmente verdadeiro
quanto ao amor que o homem tem por mulher e
mulher por homem, também é verdadeiro para
todos os outros, embora talvez não para o
mesmo grau intenso. Se, portanto, um homem
ama o mundo, ele com certeza está forçando
cada nervo a atingir e a possuir o objeto de seu
amor; e nada o satisfará, a não ser o desfrute
daquilo sobre o qual seu coração está firme.
Agora, vendo esse amor do mundo como uma
doença, se pudéssemos encontrar algum
remédio misterioso que curasse essa propensão
exatamente na raiz; se houvesse, digamos,
algum santo bálsamo trazido por um anjo do
céu, como o óleo que, segundo a lenda romana,
foi trazido para ungir os reis da França, e
poderíamos cair, largá-lo, colocá-lo no assento
do todo desse amor mundano e purificá-lo,
limpá-lo e removê-lo; e se, pela queda deste óleo
misterioso, mas abençoado, pudesse ser
comunicado outro amor de um tipo mais puro,
de natureza mais santa, que estava fixado no
próprio Deus e nas coisas de Deus, como, por
este remédio misterioso, porém abençoado, a
doença seria removida, e como o amor do
mundo seria imediatamente removido pela
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entrada de um amor melhor, o qual, por assim
dizer, alcançaria e murcharia, e colocaria outro
em seu palácio como uma nova raiz. É na graça
como na natureza. Um amor forte vai expulsar
um fraco. Tome o exemplo de um rapaz ou moça
que pode ter um tipo de afeição errante por
algum objeto; mas deixe que outro objeto venha
diante deles que seja mais atraente, mais
vitorioso, mais belo ou mais envolvente, e deixe
que esse novo objeto não apenas chame a
atenção, mas atinja uma raiz nas afeições
naturais, o velho objeto é imediatamente
descartado, e as afeições errantes, ao mesmo
tempo, centram-se no novo objeto e
permanecem fixas e firmes. O mesmo é com as
coisas divinas. Você tem, por natureza, um olho
vagueando e um coração vagueando, sempre
vagando por esse ou aquele ídolo, e aquele
amante. E assim você continua por meses ou
anos, percorrendo afeição após uma infinidade
de objetos mundanos. Mas você é preso pelo
poder de Deus. As flechas de convicção
perfuram sua consciência - você é feito para
clamar por misericórdia, e no devido tempo o
Senhor se revela com poder em sua alma. Agora,
quando o Senhor se agrada, assim, derramar o
Seu amor no coração pelo Espírito Santo, e cair
no seio mais santo e puro, porque um amor
celestial e espiritual, então aquelas afeições
vagantes que vagueiam livremente por todos os
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objetos mundanos , estão reunidas, e o amor de
Deus entrando na alma em poder divino, coloca
diante de nós Jesus como o único objeto do
nosso amor. É assim que outro amor superior,
mais puro e mais poderoso cura e expurga esse
amor ao mundo que, embora nos agrade em
nossos dias carnais, no final só foi encontrado
para trazer consigo miséria, cativeiro e morte.
Você observará que o preceito tem um alcance
muito amplo; pois diz: "Não ame o mundo nem
as coisas que estão no mundo". Esta é uma
sentença muito ampla. Ela estende uma mão de
grande alcance. Coloca-nos, por assim dizer,
sobre uma alta montanha, tal como o Senhor se
levantou quando foi tentado por Satanás, e nos
diz: "Olhe ao seu redor - agora não há uma dessas
coisas que você deve amar". Leva-nos,
novamente, às ruas de uma cidade apinhada;
nos mostra vitrines cheias de objetos de beleza e
ornamentos; nos indica toda a riqueza e
grandeza dos ricos e nobres, e tudo o que o
coração humano admira e ama. E tendo assim
posto diante de nós, como Satanás fez diante de
nosso Senhor sobre o alto monte, os reinos do
mundo, ele diz, não como ele fez: "Tudo isso eu
te darei", mas: "Tudo isso eu tiro de você
Nenhuma destas coisas é para você. Você não
deve amar nenhuma dessas bugigangas
brilhantes, você não deve tocar em uma delas,
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ou apenas olhar para elas, para que, como com
Acã, a cunha de ouro e as vestes babilônicas
tentem você a leve-os e esconda-os em sua
tenda." O preceito nos leva pelo mundo como
uma mãe leva um filho através de um bazar, com
brinquedos e ornamentos de todos os lados, e
diz: "Você não deve tocar em nenhuma dessas
coisas.” De algum modo semelhante, o preceito
nos levaria, por assim dizer, ao mundo, e quando
tivéssemos olhado todos os seus brinquedos e
seus ornamentos, soaria em nossos ouvidos:
"Não toque em nenhum deles; eles não são seus,
não para você aproveitar, nem para você
cobiçar." Pode alguma coisa menos que isso ser
pretendida por aquelas palavras que deveriam
estar soando aos ouvidos dos filhos de Deus:
"Não ame o mundo, nem as coisas que estão no
mundo?"
II. Agora vem as razões pelas quais os cristãos
não devem amar o mundo, a primeira das quais
é tão clara como é decisiva - "Se alguém ama o
mundo, o amor do Pai não está nele". Podemos
tomá-lo em dois pontos de vista - primeiro,
como teste; em segundo lugar, como remédio.
1. Tome primeiro como um teste. Alguns de
vocês podem dizer: "Eu gosto muito de ouvir o
evangelho fielmente pregado, e eu pude de bom
grado andar à distância para ouvir um ministro
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experimental e sadio, um verdadeiro servo de
Jesus Cristo, que pregava com sabor, unção e
poder. Eu tenho muitos anos professando
conhecer as coisas de Deus para mim, e eu gosto
muito de ouvir a verdade estabelecida de acordo
com os meus sentimentos ". Tudo isso soa bem,
e é de fato, mais ou menos, a linguagem
daqueles que conhecem e amam a verdade. Mas
as palavras, na melhor das hipóteses, são apenas
palavras; e muitos falam bem com seus lábios, e
que falam muito mal com seus pés. Aplique,
então, este teste ao seu coração e à sua vida.
Você ama o mundo, as coisas do tempo e do
sentido? Eles estão entrelaçados em torno de
suas afeições? Eles ocupam o lugar principal em
seu coração? Quais são suas atividades, quando
livre para segui-las? Eu digo buscas, pois não
quero dizer compromissos necessários. Quem
são seus companheiros? De quem é a sociedade
que você prefere? A da luz, vaidosa e
insignificante, a carnal e a mundana, ou a dos
provados, afligidos, exercidos filhos de Deus? O
assunto que mais envolve sua mente, ocupa
seus pensamentos, habita com você noite e dia,
é para você seu tudo em tudo? São as coisas de
Deus ou as coisas do mundo? Em que você está
mais inclinado a participar e a adquirir? É a
manifestação da bondade e misericórdia do
Senhor, as manifestações de Seu amor
perdoador, a aplicação de seu sangue expiatório,
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os sussurros secretos de seu favor para você, e o
gozo de sua presença? Ou você está satisfeito
sem essas realidades divinas, e passa dias e
horas sem ter saudades ou cuidado por elas?
Agora, se assim for, o amor do Pai certamente
não está em você. Fale o tempo todo e fale o mais
alto que puder sobre religião, essa coisa vai
carimbar "Tekel" sobre tudo. Pesado na balança,
e achado em falta - Se você ama o mundo e as
coisas que estão no mundo, o amor de Deus não
está em seu coração.
Agora veja isto como um remédio. Todos nós,
por natureza, amamos o mundo; e se você
dissesse que não, eu não acreditaria em você,
pois sei que você acredita. Mas não há remédio
para isso? Há sim; e se você o tivesse revelado ao
seu coração, você encontraria seus efeitos. Pois
o que o amor de Deus faria se estivesse em seu
coração? Primeiro, mostrar-lhe-ia, pelo
contraste, que mundo miserável e ímpio é, e
quão diferente é o amor de Deus do amor do
mundo. Isso lhe ensinaria que não podemos
amar a Deus e às riquezas; e que ou o amor do
mundo deve prevalecer e excluir o amor de
Deus; ou o amor de Deus prevalece e mantém
afastado o amor do mundo. Em segundo lugar,
você encontraria frutos e efeitos muito
graciosos. Se o amor de Deus estivesse em seu
coração, espiritualizaria sua mente; isso atrairia
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todo terno carinho de sua alma; faria você
procurar e amar a comunhão com Deus e Seu
amado Filho; faria com que você amasse a
Palavra de Deus e, de tempos em tempos,
procurasse as Escrituras para conhecer a mente
e a vontade de Deus, a fim de poder caminhar
diante dEle à luz de Seu semblante. Você
também descobriria que isso teria um efeito
muito separador sobre o seu espírito e lançaria
uma grande luz sobre o que o mundo e o espírito
dele realmente são; de modo que quando você
fosse forçado a contragosto, você
continuamente suspiraria e diria: "Oh, que
mundo miserável é este! Eu não vejo nada além
de pecado e morte, miséria e escravidão; e se eu
me envolver com o espírito do mundo, como ele
enfraquece minha alma, canaliza minha mente,
me rouba todo sentimento terno e gracioso, me
enche de superficialidade e frivolidade, e
imprime morte interior, escuridão e servidão
sobre minha alma." Agora tente este teste por
sua própria experiência. Você vem de seu quarto
às vezes pela manhã, com sua mente em alguma
medida fixada nas coisas divinas. Você foi
favorecido durante a noite, ou em levantar-se,
ajoelhar-se ou ler uma porção da Palavra, com
alguma proximidade com o Senhor; e senti uma
doçura e bem-aventurança em esperar nEle.
Mas você deixa seu lar tranquilo para seguir as
buscas de sua vocação temporal; você vai ao
25
mundo, não de boa vontade, mas por
necessidade, e se mistura com seus
semelhantes. O que é uma mudança de seus
sentimentos em seu quarto e o sabor do que
ainda habita em seu espírito? É como ir do dia
para a noite, ou melhor, do céu para o inferno.
Que superficialidade, que carnalidade, que
mentalidade mundana, muitas vezes, que
língua imunda e nojenta, que desprezo à
vontade e à Palavra de Deus, que desgosto de
Seu povo e caminhos, e que determinação para
gozar o pecado, custam o que quiserem, que
criatura pobre e miserável você se sente em tal
cena e tal sociedade? E ainda assim você não
pode deixar de dizer para si mesmo: "Oh, que
contraste! Eu posso, ser feliz aqui? Sinto-me em
casa com esses homens e mulheres miseráveis?
Há algum conforto para minha alma em sua
sociedade? Eu sinto que posso unir-me a eles
em sua conversa superficial, vaidosa e
insignificante, e me unir em espírito com seu
mundanismo? Oh não, sinto que não posso fazê-
lo, pois o que eles odeiam amo e o que amo eles
odeiam.” Assim, você pode julgar, a partir de sua
própria experiência, se você tem algum tipo
certo, qual é o efeito de uma pequena gota do
amor de Deus derramado no coração; o que é o
fruto de um suave vendaval das colinas eternas,
um pouco da santidade e felicidade que João
soprou na alma. Não lhe mostra claramente o
26
que o mundo é, e não produz em seu espírito tal
separação, que você não pode deixar de admirar
e adorar a graça de Deus que fez tal diferença
entre você e eles? Para desvelar mais completa
e claramente o que está no mundo, para que ele
possa nos dar outra razão pela qual não devemos
amá-lo, resumindo as coisas do mundo sob estas
três cabeças graves e pontudas - "a
concupiscência da carne, a luxúria dos olhos e o
orgulho da vida."
1. O primeiro é "a luxúria da carne". Por isso,
podemos, em primeiro lugar, entender aqueles
desejos sexuais baixos que eu não devo ampliar
em uma congregação mista, pois não seria
prudente, ou dificilmente consistente com
modéstia e propriedade, fazê-lo; e, no entanto, é
uma característica em nossa natureza decaída
com a qual a maioria dos filhos de Deus está
familiarizada, e alguns por experiência muito
dolorosa. A expressão "concupiscência da carne"
abrange um escopo muito amplo - e ainda assim
cada parte e porção que alcança e denuncia é
oposta a Deus e à piedade; pois não somente há
as luxúrias mais vis e propensões mais sensuais,
às quais posso sugerir e não mais, intencionadas
pela expressão, mas incluem também a gula em
todos os seus vários ramos. Este é um dos
pecados mais comuns nos ricos e prósperos,
mas é compartilhado também por todos os
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níveis hierárquicos, do vereador ao mecânico e,
na verdade, todos os que têm prazer em engolir
alimentos aceitáveis, ou mesmo divirta-se em
comer por comer amor. "A luxúria da carne"
abrange também o amor da bebida forte em
todos os seus vários graus e ramificações, de
uma propensão a isto, e uma indulgência em
goles moderados e estimulando licores, até a
embriaguez. Há muitos professantes secretos,
gananciosos e vorazes cujo deus é a barriga
deles, e muitos bebedores ocultos de bebida
forte que carregam uma boa face na visível
igreja de Deus; e que, não sendo detectados e
suspeitados, não sentem nenhuma condenação
por seu apetite voraz, ou sua indulgência secreta
em bebida forte, desculpando-se com um
pretexto plausível de que sua saúde o requer, ou
tomam apenas tanto quanto lhes faz bem,
quando todo o tempo eles estão sob o domínio
do amor pela comida, ou o amor da bebida. Uma
consciência terna sentirá o mínimo de excesso
em qualquer uma delas.
Salomão diz: "Coloque uma faca na sua garganta
se você for um homem dado ao apetite",
Provérbios 23: 2; como se dissesse: "Enfia uma
faca na tua gula; solta o seu sangue vital, se é que
é o teu castigo; segura a tua mão quando fores
tentado a comer demais e a comê-lo com avidez
e prazer desmedido". Que glutão secreto, que
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amante astuto de bebida forte sempre
manifestou espiritualidade da mente no lábio
ou na vida, ou sempre foi um padrão e um
exemplo para a igreja de Deus? Toda
concupiscência da carne, sejam a luxúria básica
e sensual de nossa natureza vil ou glutonaria e
amor à bebida estão todos sob a mesma marcada
desaprovação de Deus. Todos eles estão sob a
mesma sentença de não qualificados, que são
coisas no mundo e do mundo, e que Deus não
está neles, mas se opõe a eles. Não importa,
portanto, que luxúria da carne seja, seja ela
aberta ou secreta, seja forte ou fraca, seja
dominada pelo exemplo de outros ou
geralmente desaprovada. Se um homem estiver
sob a influência e poder de qualquer
concupiscência da carne, até agora ele não está
sob a influência e o poder do amor de Deus. Você
observará, também, que não são apenas os atos
da carne, mas as concupiscências da carne que
João condena. Assim, não são apenas os atos
grosseiros de pecado criminoso, gula
indulgente ou hábitos de bebida secreta, que
João condena, mas o próprio desejo por eles. O
apóstolo declara que "aqueles que são de Cristo
crucificaram a carne com as suas paixões e
concupiscências", e que somos devedores, não à
carne para viver segundo a carne; "Porque se
você vive segundo a carne, você deve morrer -
mas se você através do Espírito mortificar as
29
obras do corpo, você deve viver.", Romanos 8:13.
Agora, nada menos do que o amor de Deus
derramado em seu coração limpará e purificará
um homem das concupiscências da carne,
operando em sua mente do modo que descrevi.
Sendo assim ensinado e abençoado, ele verá tal
mal no pecado, e especialmente na
concupiscência da carne, que aprenderá a odiá-
la e a si mesmo por isso; e como o Espírito Santo
atrai e guia suas afeições para um canal mais
puro, e pelo temor de Deus, em exercício vivo,
subjuga e mortifica os desejos da carne que ele
pode dolorosamente sentir, ele não permitirá
que eles tenham domínio sobre ele.
2. A próxima coisa que João denuncia é "a luxúria
dos olhos". Isso parece incluir tudo o que agrada
a visão natural. Que caminho tem o olho para o
pecado, e quão rapidamente, como
instantaneamente o pecado pode passar no
caminho da luxúria através do olho para as
câmaras internas da mente. Jó fez um pacto com
os olhos, para que ele não olhasse para uma
donzela. E nosso Senhor nos diz: "Quem quer
que olhe para uma mulher para cobiçá-la, já
cometeu adultério com ela em seu coração".
Ninguém quase nunca caiu sob o poder desta
tentação especial, que não tenha primeiro
entrado em seu coração através de seus olhos.
Foi assim com Davi; foi assim com Salomão; e foi
30
assim com Sansão. O homem segundo o coração
de Deus, o mais sábio e o mais forte dos homens,
caiu igualmente, e sumamente caiu, através da
concupiscência dos olhos. Olhe também para o
amor de vestir e exibir, e veja a influência que
exerce sobre os mais fracos. Acredito que não
estou muito errado quando digo que
dificilmente existe uma mulher de qualquer
idade, exceto a muito velha, ou de qualquer
posição ou posto, alta ou baixa, que não esteja,
mais ou menos, sob a influência desta luxúria do
olho - que não procura adornar sua pessoa com
o máximo de roupas, de modo que ela possa
causar inveja aos olhos de seu próprio sexo, ou
agradar o olho do outro lado. Está tão
profundamente arraigada no seio feminino, que
se manifesta continuamente, e mesmo sob as
mais inesperadas e extraordinárias
circunstâncias. Lembro-me de ter lido há algum
tempo um relato de uma senhora de alguma
cadeia onde prisioneiras estavam confinadas, e
claro que todas usavam vestido de prisão; mas
que alegria seria se uma dessas pobres
prisioneiras pudesse pegar um pedaço de fita e
enfiar no vestido dela. Assim, mesmo quando
calados em uma prisão onde não podiam ver
ninguém além de um carcereiro e seus
companheiros aprisionados, o amor de vestir,
tão inato no coração feminino, se exibia ao vestir
a prisão, o enfeite de um pedaço de fita
31
insignificante. Não somos todos nós, homens ou
mulheres, culpados da luxúria do olho, além do
mero amor ao vestuário? Quão atraente aos
olhos do homem é a beleza e a graça na mulher,
e suponho que posso acrescentar que atraente
para o olho da mulher é o vigor viril, com
características adoráveis destacadas pela flor da
saúde e da juventude na face do homem. E, no
entanto, tudo isso é apenas a luxúria do olho; só
alimenta a mente carnal; só gratifica nossos
sentidos naturais, e se essa luxúria for praticada
e realizada, ninguém sabe em que caminhos do
pecado ela não pode levar. Muitas mulheres
foram seduzidas pelo amor pelo vestuário e pela
admiração; e muitos homens, atraídos pelo
encanto da beleza feminina, fizeram um terrível
naufrágio em relação à fé. Precisamos guardar
bem nossos olhos - você, do sexo feminino, para
que você não gaste seu tempo e pensamentos
sobre se tornar atraente para os homens; e
vocês homens, cuidado de ser seduzido pelos
encantos e beleza das mulheres. A luxúria do
olho fez com que até mesmo uma criança pobre
sofresse e gemesse durante a vida, e talvez
tenha feito muitas pessoas ficarem inquietas, se
não em um leito de morte escuro e pesaroso.
Portanto, Deus nos impeça de gratificar a
concupiscência dos olhos, assim como a
concupiscência da carne. Nós só podemos fazer
isso às custas da consciência; só podemos fazer
32
isso com o roubo de nossa alma. João levanta a
voz pela terceira vez e denuncia "o orgulho da
vida". Oh como isso reina nesta grande
metrópole! O que aspirar depois de viver acima
de sua posição na vida parece animar tanto o
alto quanto o baixo. Que espírito existe no
exterior para que homens e mulheres busquem
algo para alimentar seu orgulho e se
transformem em algum tipo de importância
imaginária. Quantos parecem dispostos a quase
morrer de fome e as suas famílias, e usam trapos
em casa para fazer uma exibição no exterior, e
estão fazendo todos os esforços para alimentar o
orgulho da vida, não apenas em roupas, mas em
móveis; vivendo além de seus meios; contraindo
dívidas que nunca poderão pagar e que
ultrapassam o seu rendimento anual com
despesas extravagantes. Quantos são retirados
por este orgulho de vida de sua esfera correta; e
é triste dizer que há muitos casos em que até
mesmo os filhos de Deus foram tão
influenciados por ele a ponto de vagar
tristemente do estreito e apertado caminho.
Agora, toda essa luxúria da carne e dos olhos,
bem como orgulho - aquele rio em que o mundo
nada, e no qual muitos, mesmo daqueles que
temem a Deus, são tentados a se envolver - é
obviamente condenado como não sendo do Pai,
mas do mundo. Deus não está aqui; Sua palavra
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não está aqui; Sua vontade não está aqui; Sua
sabedoria não está aqui; Seu amor, bondade,
presença, poder - nenhum deles está aqui. É
tudo do homem, falso, caído, enganado e
enganando o homem; é toda a semente de
máximas, buscas, deleites e aprovação de um
mundo que jaz no maligno; de um mundo sob a
terrível maldição e denúncia do Todo-Poderoso.
De que lado, então, você se classificará? Um
amante do mundo ou um amante de Deus? Qual
é o teu? "Bem", alguns de vocês talvez possam
dizer: "Eu mal sei". Você dificilmente saberá
enquanto estiver parando entre duas opiniões;
enquanto pela sua vida e conduta você estiver
andando de mãos dadas com o mundo. Mas se
houver a vida e o temor de Deus em seu peito,
você deve ser um ser muito infeliz neste estado
de dúvida e incerteza. Você deve ter muitos
reflexos cortantes em sua cama; muitas vezes
deve inclinar sua cabeça diante de Deus e diante
do Seu povo, e a tristeza deve se espalhar sobre
o seu rosto, quando o silêncio e a solidão lhe
deixam tempo para pensar e sentir. Se o temor e
a vida de Deus estiverem em sua alma, você não
pode ir em amor pelo mundo. Mas você pode
dizer: "Eu ficaria mais livre desse amor
miserável do mundo, mas não posso me livrar".
Não, nem jamais será libertado até que você caia
de costas diante de Deus, clamando a Ele para
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livrá-lo disso. Mas, se Ele responder à sua oração
e abençoar você com um sentimento do amor
dEle, você descobriria que, quando entrasse em
sua alma com poder divino, ocorreria em um
momento o que você não poderia fazer por si
mesmo em um século. Isso purificaria você
daquele amor miserável do mundo, que agora é
tanto sua tentação quanto seu fardo, dando-lhe
um melhor objeto de amor; pois isso levaria seus
afetos e os consertaria com as coisas do alto,
onde Jesus está sentado à direita de Deus.
Observe qual deve ser o fim de todas essas
coisas, o que é outra razão pela qual não
devemos amar o mundo - "O mundo passa e a
sua concupiscência" e tudo o que está nele
chega ao fim. Onde estão a grande massa de
homens e mulheres que cinquenta, sessenta ou
setenta anos percorreram as ruas de Londres?
Onde estão aqueles que andam em suas
carruagens refinadas, que se deram a seus
esplêndidos entretenimentos, e enfeitaram-se
com penas e joias e desfrutaram de todos os
prazeres da vida? Onde eles estão? A sepultura
mantém seus corpos e o inferno mantém suas
almas. "O mundo passa." É como um desfile, ou
uma alegre e esplêndida procissão, que passa
diante do olho por alguns minutos, depois vira a
esquina da rua e fica perdida de vista. Agora é
para você que olhou para ela como se não fosse,
35
e foi embora para divertir outros olhos. Então,
você poderia continuar por anos desfrutando de
todo seu coração natural, poderia cobiçar;
acumular dinheiro em milhares; andar na sua
carruagem; enfeitar seu corpo com joias;
encher sua casa com móveis esplêndidos;
aproveitar tudo o que a terra pode dar; então
chegaria, algum dia ou outro, a doença para
colocá-lo agonizante em uma cama. Para você o
mundo já passou com todas as suas luxúrias;
com todos vocês agora chegou ao fim; e agora
você tem, com uma alma culpada, que enfrentar
um Deus santo. “O mundo passa e as suas
concupiscências.” Todos esses desejos, pelos
quais os homens venderam corpo e alma,
arruinaram metade de suas famílias e
mancharam seu próprio nome; todas essas
luxúrias pelas quais estavam tão zangados que
as teriam a qualquer preço, arrebatam-nos até a
boca do inferno; todas essas luxúrias são
passadas e o que elas deixaram? Um verme
roedor - um verme que nunca pode morrer, e a
ira de Deus como um fogo inextinguível. Isso é
tudo o que o amor do mundo e tudo o que há
nele pode fazer por você, com toda a sua labuta
e ansiedade, ou toda a sua diversão e prazer.
Você não ganhou muito talvez dos bens deste
mundo, com todo o seu esforço por eles; mas
poderia o mundo encher seu coração de prazer,
e seus sacos de dinheiro com ouro, como o pó da
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sepultura, um dia, encher sua boca, seria muito
para o mesmo propósito. Se você tivesse todo o
mundo, não teria conseguido nada depois que
seu caixão estivesse no túmulo. Esse é o fim do
mundo. "Ele passa e a sua concupiscência." Isso
soa o toque de tudo o que está no mundo, o sino
que anuncia a vinda do grande extintor de todas
as esperanças e prazeres humanos - o grande e
final extintor, a morte. Assim como você coloca
um extintor na sua vela antes de pisar na cama,
e tudo está escuro, a morte do extintor de fogo
extingue toda a luz do homem. Apenas olhe e
veja como ele adoece e morre, e é jogado no
cemitério, onde seu corpo é deixado para os
vermes, e sua alma para enfrentar um Deus
irado, no grande dia do julgamento.
III. Agora olhe para a BÊNÇÃO que repousa
sobre aquele "que faz a vontade de Deus". Ele
permanece eternamente. Compare os dois
personagens. Tome primeiro, um homem do
mundo, que diz em seu coração, "Eu terei o
máximo do mundo que puder, vou gastar meu
tempo, pensamentos, dinheiro, tudo o que
tenho para ganhar e o que meu coração ama,
para me divertir, se eu puder. Eu não vou
manter meu coração de volta de qualquer
luxúria - seja luxúria do olho, luxúria da carne,
ou o orgulho da vida. Eu terei todos eles."
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Agora, contraste com este desgraçado
mundano, o filho da graça crente e obediente,
que faz a vontade de Deus em sair do mundo, em
se separar dele, em abster-se de sua sociedade,
em deixá-lo, tanto quanto pode,
consistentemente com seu chamado em vida; e
acima de tudo, tendo o amor de Deus derramado
em seu coração. Marque como ele procura e se
esforça para não amar o mundo, nem as coisas
que estão no mundo, mas pelo poder da graça de
Deus, para ser separado dele no corpo, alma e
espírito. Esse homem faz a vontade de Deus, pois
o mandamento de Deus é: "Saia do meio deles,
seja separado, e não toque a coisa imunda". Ele
faz a vontade de Deus em sair e ser separado; ele
também faz a vontade de Deus em crer em Seu
querido Filho; ele faz a vontade de Deus
arrependendo-se de seus pecados com tristeza
piedosa, da qual não precisa se arrepender; ele
faz a vontade de Deus mantendo-se perto de Sua
palavra, sempre desejoso de conhecer Sua
vontade e fazê-la; ele faz a vontade de Deus,
buscando testemunhos, sinais, manifestações
da misericórdia e amor de perdão a Deus,
valorizando a aplicação do sangue e do amor
expiatório, mais do que milhares de ouro e
prata; ele faz a vontade de Deus quando ele
escolhe sofrer aflições com o povo de Deus, ao
invés de desfrutar dos prazeres do pecado por
um tempo. Ele faz a vontade de Deus quando
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opta por sofrer perseguição em vez de negar seu
Mestre; quando ele suportaria qualquer
vergonha e desprezo mais cedo do que cumprir
as máximas e convites de um mundo ímpio; e
quando ele preferiria viver sozinho com a Bíblia
em sua mão, e a presença de Deus em sua alma
é introduzida na mais alta companhia,
misturada com a sociedade mais refinada e
educada, ou mais polida da terra. Ele faz a
vontade de Deus quando procura ter sua vida
regulada pela vontade revelada de Deus, se
arrepende desde cedo de seus pecados quando
está enredado neles, e procura ter o sangue do
Cordeiro aspergido em sua consciência para
purgá-lo de sua culpa. E ele faz a vontade de
Deus, sempre trabalhando ainda para olhar para
a frente, ainda acreditando que o que Deus disse
é verdade, para manter a verdade e o poder da
Palavra de Deus, venha o que quiser, e sofra o
que puder, um homem faz a vontade de Deus, e
Deus declara dele que "ele permanece para
sempre". A obra de Deus está no coração
daquele homem, e esse trabalho permanece
para sempre. Quando toda profissão vazia se
reduz a nada; quando toda ostentação cessa;
quando os oradores estão em silêncio na
escuridão, então a silenciosa, secreta e sagrada
obra de Deus sobre a alma daquele homem irá
brilhar mais e mais. Ele permanece e, portanto,
ele vence. É a obra de Deus em seu coração e não
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deve ser apagada pelo grande extintor, nem
expelida pelas rajadas da tentação, como uma
vela em um vendaval. O amor e a bondade de
Deus estão com ele em todos os seus problemas,
assistem a um leito de morte e vão com ele para
a eternidade; quando a obra da graça de Deus
sobre sua alma será coroada com glória eterna.
Então ele permanecerá para sempre como uma
coluna no templo de Deus e não sairá mais dali.
Agora, contraste os dois. Aqui estão duas
pessoas agora diante de mim, sentadas no
mesmo banco, ambos professantes da religião,
mas um, é um amante secreto do mundo, e o
outro, um amante secreto de Deus. Ambos
podem falar praticamente a mesma língua, ler a
mesma Bíblia, cantar os mesmos hinos e ouvir a
mesma pregação; mas o coração da primeira
pessoa sai em busca da sua cobiça, de suas
luxúrias; e o coração do outro sai em busca do
seu Deus.
Agora, qual será o fim desses dois homens?
Aquele, quando a morte, o grande extintor vier,
ficará em silêncio na escuridão; e o outro
brilhará como as estrelas para todo o sempre.
Ele vive bem, vai morrer bem e vai subir bem;
pois ele se erguerá para a glória imortal, quando
o Senhor vier a ser glorificado em Seus santos e
admirado em todos os que creem.
40
(Nota do tradutor: Nos dias do autor não havia
automóveis como os luxuosos que existem em
nossa época, mas o mesmo espirito de vanglória
podia ser encontrado naqueles que possuíam
carruagens refinadas para exibirem
orgulhosamente suas posses, e com o propósito
de causarem a admiração ou inveja em outras
pessoas. E não apenas, isto, em quantas formas
de exibição podemos nos envolver em nossos
dias pelo que o avanço da tecnologia
proporciona a todos, inclusive aos mais pobres
da Terra. Então, não é de se admirar que a
tentação de se ficar exposto ao laço de amar o
mundo é muito maior para nós do que para a
grande maioria daqueles que viveram nos dias
apostólicos, e ainda assim, vemos que soa
através dos mesmos, sérias advertências contra
o perigo de se amar o mundo, por conta de se
ficar alijado do amor de Deus. Assim, quanto
mais não se aplicam a nós todas estas
advertências da Bíblia?
A posse de bens para o uso devido deles, e a vida
tocada com sobriedade e sã disciplina, debaixo
do temor de Deus e da Sua Palavra, não são
coisas incompatíveis, pois, o que se reprova é o
espírito idolátrico, frio, avarento, orgulhoso,
prepotente, cruel, egoísta, impuro etc que
prevalece no mundo, naqueles que não amam a
Deus e a Sua Palavra.
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A propósito, uma das maiores causas de os
homens não se converterem a Cristo, é por
saberem que a união a Ele imporá a separação
deles daqueles pecados e forma pecaminosa de
viver que eles tanto apreciam, em suas variadas
formas de vícios, impurezas, ganâncias etc.
O amor sincero a Deus impõe restrições à
liberdade do ego pecaminoso, e o homem ímpio
não tenciona abrir mão de sua própria vontade,
para que possa fazer a de Deus. Ele ama o mundo
porque assim como o príncipe do mundo,
Satanás, é-lhe dada toda a liberdade de fazer a
própria vontade, inclusive se esta for prejudicial
a outros e pecaminosa.
Como Deus exige a santificação da nossa vida
para estarmos em comunhão com ele,
consequentemente, todo este amor ao mundo,
que é contrário àquilo que é bom, puro, santo e
de boa fama, torna incompatível para a
comunhão com Ele todo aquele que permanece
amando o mundo, e que não renuncia àqueles
hábitos perniciosos que Deus condena.)