Sumário
A Piora das Transações Correntes no Brasil desde 2008:
Podemos Culpar a Guerra Cambial? (Wilson Luiz Rotatori Corrêa) ....................................
2
Economia Internacional – (Luiz Antônio de Lima Junior)
Crise internacional ................................................................................................................. 3
Causas da Crise Internacional ................................................................................................ 4
Crise da Zona do Euro ............................................................................................................ 5
Participação dos países no PIB mundial ................................................................................ 5
Crescimento dos Países .......................................................................................................... 6
Conjuntura Atual .................................................................................................................... 6
Nível de atividade – (Daniel Lourenço Silva)
Setor externo .......................................................................................................................... 7
Atividade nacional ................................................................................................................. 9
Atividade regional .................................................................................................................. 11
Políticas públicas – (Lélio de Lima Prado)
Política monetária ................................................................................................................... 12
Política Fiscal ......................................................................................................................... 14
Política Cambial ..................................................................................................................... 16
2
A Piora das Transações Correntes no Brasil desde 2008:
Podemos Culpar a Guerra Cambial?
Prof. Wilson Luiz Rotatori Corrêa Coordenador GCE
Embora as medidas tomadas pelos principais formuladores de política econômica nos EUA, país
que originou a crise financeira internacional conhecida também como crise das hipotecas subprime,
tenham sido capazes de evitar o colapso do sistema financeiro internacional através de maciças injeções
de liquidez no sistema financeiro, um subproduto destas medidas foi a valorização das principais moedas
Euro (14%) e Iene (20%) em relação ao dólar entre o 3° trimestre de 2008 e o 3° trimestre de 2010. Estas
medidas de injeções de liquidez no sistema financeiro têm sido atribuídas como as responsáveis também
pela recente valorização do Real em relação ao dólar. Não obstante os números recentes indiquem que o
Real apreciou-se em torno de 2.8% ao longo do último mês de setembro, quando consideramos os dados
referentes ao 3º trimestre de 2008 que marca o ápice da crise em comparação com o 3º trimestre de 2010 observamos que o real na realidade depreciou-se em torno de 5%. Neste mesmo período, o Iuan Chinês
permaneceu praticamente estável enquanto que o Won Sul Coreano depreciou-se em torno de 11%.
Portanto as referências aos movimentos do dólar em relação às principais moedas como refletindo uma
guerra cambial nos parecem mais adequadas para o caso Japonês e da Zona do Euro, mais particularmente
quando consideramos a Alemanha, país com forte tradição exportadora, do que ao caso brasileiro.
Neste caso, se o Real apresentou uma depreciação em relação ao pior momento da crise por que
devemos deter a nossa atenção à sua recente valorização? Porque, não obstante a depreciação em relação
ao dólar, o saldo do Balanço de Pagamentos em Transações correntes apresentou uma piora significativa
desde o primeiro trimestre de 2008 quando representava um déficit da ordem de 0.6% do PIB até o
terceiro trimestre de 2010 quando atinge níveis próximos a 2.5% do PIB considerando o critério dos
últimos 12 meses. Esta piora pode estar associada a uma reordenação dos fluxos de comércio
internacional de tal maneira que o Brasil venha a absorver, ainda que apenas marginalmente, o excesso de
oferta de produtos para exportação dos países asiáticos que se formou com a desaceleração das principais
economias (EUA, Inglaterra e Zona do Euro). Um exemplo dessa reordenação está no fato de a Coréia do
Sul representar entre janeiro e agosto deste ano 5% das nossas importações sem, no entanto, figurar na
mesma magnitude enquanto destino das exportações. A China neste mesmo período, por exemplo, a
despeito de ser responsável por 13.5% de tudo o que o Brasil importa é também responsável por 15.8% de
tudo o que é exportado. Embora o saldo possa ser negativo ou positivo, um fato importante é que o crescimento chinês dinamiza as exportações brasileiras o mesmo não ocorrendo com a Coréia do Sul.
Embora a economia brasileira não apresente uma forte participação no comércio mundial e a
balança comercial ainda se mostrar positiva, esta reestruturação pode representar uma mudança estrutural
interna caracterizada por persistentes déficits em transações correntes financiados através do fácil acesso
à poupança externa, um desequilíbrio macroeconômico que, se não tem nem a dimensão nem o potencial
de gerar crises internacionais como a observada na economia americana, de alguma maneira indica que
correções na sua trajetória serão necessárias em algum ponto futuro. As condições para a sua efetivação
estão dadas tanto no cenário externo quanto no interno.
No cenário externo as medidas para contornar a crise nos EUA através uma política monetária
fortemente expansionista focada na redução dos juros provocaram um excesso de liquidez nos mercados
internacionais ampliando as facilidades de curto prazo para financiamento do Balanço de Pagamentos.
Além disso, a lenta recuperação econômica dos EUA e a contração no seu déficit em transações correntes
de 5.29% do PIB no terceiro trimestre de 2008 para 3.27% do PIB no segundo trimestre de 2010
direcionam os países exportadores do sudeste asiático, que tinham os EUA como o principal destino para
suas exportações para outros mercados produzindo dois efeitos: 1) competindo com as exportações
brasileiras e 2) ampliando suas exportações para o Brasil.
No cenário interno a rápida recuperação da economia brasileira associada às altas taxas de crescimento no PIB observadas no primeiro trimestre de 2010, que em termos anuais representaram um
crescimento de 11,25%, compõem uma forte pressão na demanda por importações. Por sua vez quando
consideramos a política monetária, a despeito da taxa SELIC meta estar estabelecida em 10.75% a.a. e a
sua manutenção na última reunião do COPOM indicar a clara intenção de desacelerar a demanda
agregada com possíveis efeitos contracionistas sobre as importações, as baixas taxas de juros
internacionais formam inevitavelmente um diferencial de juros positivo que amplia a capacidade de
compensar o déficit em Transações Correntes com aportes de capital.
3
Dessa forma o crescente desequilíbrio nas transações correntes brasileiras parece estar sendo
compensado pela forte entrada de capitais de curto prazo haja vista que o país vem acumulando reservas.
É interessante observar que desde o primeiro trimestre de 2008 o total (estoque) de entrada de
investimentos diretos é de US$93.6 bilhões de dólares, enquanto que a entrada total (estoque) de
investimentos em carteira é de US$ 88.6 bilhões, o que aparentemente indicaria que os sucessivos déficits
(fluxos) do período foram compensados mais pelos fluxos de investimentos diretos do que pelos de investimento em carteira, contudo é importante ressaltar que somente no quarto trimestre de 2008, como
decorrência da crise internacional, houve uma saída de aproximadamente US$17.7 bilhões de dólares dos
investimentos em carteira enquanto que os investimentos diretos totalizaram uma entrada de US$14
bilhões, o que nos dá a dimensão do risco corrido de considerar que os déficits (fluxos) em transações
correntes serão compensados com base na entrada (fluxos) de capitais de curto prazo num ambiente de
alta mobilidade de capitais.
Tal política não é novidade no período pós-real quando no segundo trimestre de 1999 o déficit
em transações correntes atingiu 4.55% do PIB e os resultados apontaram para uma correção do
desequilíbrio de maneira forçada. É claro que as condições internas e externas são diferentes das
observadas em 1999, o que pode permitir um longo período de déficits em transações correntes
compensados com aporte de capitais na conta financeira de investimentos em carteira pelo menos
enquanto durar a política de aumento-manutenção dos níveis atuais de liquidez nos mercados
internacionais, no entanto, um ponto em comum entre os dois períodos persiste: a necessidade de um
diferencial de juros objetivando atrair fluxos de capitais de curto prazo capazes de contrabalançar os
desequilíbrios em transações correntes, apontando, portanto, para um desequilíbrio estrutural ainda não
corrigido e que merece a nossa atenção que é a capacidade de poupança interna (privada e
governamental) insuficiente para manutenção de uma trajetória de crescimento econômico sustentável.
Economia Internacional
Luiz Antônio de Lima Junior Prof. Vinícius de Azevedo Couto Firme
Crise Internacional
O mundo mergulhou em uma grave crise financeira internacional em 2008. No dia 15 de
setembro a quebra do Lehman Brothers, quarto maior banco de investimento norte-americano na época,
provocou uma aguda retração na economia mundial. Ocorreu uma forte paralisação no mercado de
crédito, que junto com a incerteza da evolução da economia, levou o setor privado de vários países a
retrair consumo e investimento, gerando uma recessão. Em contrapartida, os governos tentaram por meio
de políticas anticíclicas fiscais e monetárias, restabelecer a confiança e amortecer a retração do produto
das economias.
Após a quebra do Lehman, o fluxo financeiro internacional foi direcionado para os países
desenvolvidos, já que a economia mundial vivia momentos de incerteza e falta de confiança. Um dos
países que mais recebeu fluxo
internacional foi os EUA, que
apesar de estar no epicentro da crise
é considerado um dos países mais seguros, além de países e blocos que
também são considerados seguros,
como Japão e União Européia. Essa
nova direção dos fluxos financeiros
de países menos seguros para países
com maior segurança, levou a uma
depreciação da moeda dos países em
desenvolvimento (menos seguros)
para uma apreciação países
desenvolvidos (mais seguros), como
pode ser observado no Gráfico 1.1.
4
De acordo com Gráfico 1.1 houve uma forte apreciação das moedas que seriam moedas de
reserva como o Euro e o Iene. No caso de Brasil e Coréia do Sul que são países emergentes, considerados
com risco maior, suas moedas tiveram uma forte perda de valor. A China que não tem um regime de
câmbio flutuante atrelou a sua moeda ao dólar e não permitiu durante o final de 2008 e todo o ano de
2009, nenhuma oscilação significativa de sua moeda.
Causas da Crise Internacional
Como causa da crise estão duas questões cruciais, que seriam a forte desregulamentação do
sistema financeiro, atrelado a indiferença das autoridades econômicas quanto aos abusos1 e o grande
desequilíbrio macroeconômico gerado desde o ano de 2000 até o ano de 2008. Como a primeira causa
foge ao escopo deste relatório, este tratará dos desequilíbrios macroeconômicos.
No começo do século XXI, o mundo passou por fortes transformações estruturais. Os EUA
foram atingidos por duas crises2, que fizeram com que o país usasse medidas monetárias e fiscais bastante
expansionistas, aumentando o déficit do governo, o consumo privado e absorção de poupança externa, por
meio de déficit em transações correntes. Do outro lado do globo, a China consegue ser aceita na OMC
(Organização Mundial do Comércio), ela vira então um importante player no comércio mundial. Por meio
de políticas econômicas como câmbio depreciado, subsídios ao setor exportador e demanda interna
reprimida, os chineses começam ser um grande exportador de poupança externa, uma vez que obtêm
elevados superávits em transações correntes. Essa situação de grandes superávits em transações correntes
é compartilhada com outros países como Japão e Alemanha, uma vez que eles têm um setor
manufatureiro competitivo. Porém no caso Chinês esse superávit se acentua muito nesta década, devido dentre outros motivos a manipulação de sua moeda. O excesso de déficit dos EUA e o exagero de
superávit Chinês, que podem ser visualizados no Gráfico 1.2 provocaram um grande desequilíbrio
macroeconômico no mundo.
Esses desequilíbrios
macroeconômicos, mostrados no
provocaram um excesso de liquidez
nos mercados mundiais, aliado a
deflação provocada pela China (já que
a produção era feita a baixos custos),
deixa o fluxo financeiro de países
superavitários migrarem para os países
deficitários. No caso dos EUA, que
tendo a sua inflação artificialmente
controlada devido às competitivas
exportações Chinesas, mantêm a sua
taxa de juros em patamares
excessivamente baixos. Esta política monetária frouxa provoca um elevado
endividamento do setor privado e uma
excessiva alavancagem do sistema
financeiro americano, provocando créditos de má qualidade (subprime) e inflação de ativos como no caso
do setor imobiliário.
Porém com o mundo crescendo a taxas intensas, a inflação dos EUA começa a sair do controle
já em 2005, isso aliado a uma excessiva valorização de outros ativos (imóveis, ações, dentre outros)
provoca o início de um aperto monetário pelo Federal Reserve Board (Banco Central americano). Este
aperto faz com que os juros dos empréstimos (inclusive os imobiliários de maior risco, que eram pós-
fixados) subam abruptamente, provocando a inadimplência de mutuários. Esse fato de calotes dos
financiamentos em cascata, começa a gerar problemas em balanços de vários bancos pelo mundo,
desembocando na crise de setembro de 20083.
1 Vários países tiveram abusos relacionados ao não cumprimento de acordos internacionais como o Basiléia 1 e o Basiléia 2. As
violações se deram em vários sentidos como a excessiva alavancagem, a não obediência de provisão do capital de risco mínimo,
aumento excessivo dos riscos do sistema etc. 2A Bolha da tecnologia (2000) e o ataque ao World Trade Center (2001)
3 Após o apoio pelas autoridades norte-americanas para a incorporação do Merrill Lynch pelo Bank of America e da venda do Bear
Stearns para JP Morgan, as autoridades não intervêm e deixam o Lehman Brothers falir.
5
Crise da Zona do Euro
Em 1999 com a criação do Euro, a sua adoção por vários países da Europa trouxe acesso a
crédito abundante e barato. Aproveitando esse momento alguns países da Zona do Euro, os PIIGS4,
contraíram muitos
empréstimos e começaram a ter elevados déficits em
transações correntes como
pode ser observado no
Gráfico 1.3. A crise de
setembro de 2008
provocou uma paralisação
desses empréstimos.
Então esses países
começam a ter dificuldade
de financiar esses déficits
e de rolar as suas dívidas
adquiridas até esse
momento.
O déficit em transações correntes dos PIIGS chegou a ser de ordem de 15% do PIB, no caso da
Grécia. Esse número significa que a nação estava se endividando a 15% de tudo o que produzia no ano, um número muito impressionante. Esses países com exceção da Espanha tinham grandes problemas
fiscais, com o governo incorrendo de fortes déficits orçamentários. Então da mesma forma que os EUA,
esses países começam a absorver poupança externa tanto pelo lado setor privado como pelo do público.
No início de 2010, começam a surgir dúvidas se esses países europeus conseguiriam manter
financiamento de seus déficits, ou iriam dar calote em suas dívidas. Essas dúvidas provocaram uma nova
paralisação no crédito mundial, porém em menor proporção do que a de 2008, uma vez que os países
tinham um peso relativamente pequeno no mundo5. Prontamente o Banco Central Europeu aprovou um
programa de 1 trilhão de dólares6 para garantir a renegociação da dívida desses países, e estes começam a
fazer ajustes estruturais para diminuir esses desequilíbrios externos.
Participação dos países no PIB mundial
Nos últimos anos o crescimento dos países emergentes, liderados pelos BRICS7 tem se destacado
no crescimento mundial. Esses países têm tido acelerado crescimento, uma vez que começam a
amadurecer políticas econômicas de anos anteriores (no caso do Brasil a estabilidade adquirida com a
adoção do Plano Real), aumentam a sua participação no
comércio internacional e usam a
força do potencial mercado
interno. Já os países
desenvolvidos, que têm um
baixo crescimento devido à
maturidade da suas economias,
começam a perder proporção na
economia mundial. O Gráfico
1.4 demonstra como os BRICS
e outros países com exceção do
G78 assumem ao longo da
primeira década do século XXI
uma maior parte do produto
mundial.
4 Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha
5 Segundo dados do FMI, a participação dos PIIGS na economia mundial em 2009 estava em torno de 8%.
6 Esse programa ocorreu muito mais na forma de garantias aos empréstimos desses países e compra de títulos dos mesmos.
7 Brasil, Rússia, Índia e China
8 EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá.
6
Crescimento dos Países
Após uma fraca recuperação iniciada em 2009, o mundo começa a emergir da crise em 2010 de
forma instável, caracterizada por um maior crescimento dos países emergentes. No caso dos países
desenvolvidos o crescimento voltou de forma muito gradual como se pode observar na Tabela 1.1, que
mostra o crescimento real trimestral dos países selecionados. Alemanha e Japão foram duramente atingidos pela crise de 2008, pela sua forte dependência do setor exportador. Em meados de 2009 esses
países voltam a crescer, uma vez que o comércio mundial começa a se restabelecer. Já no caso dos EUA e
Reino Unido, a forte contração provocada pela crise ocorreu devido a sua forte exposição aos
empréstimos podres (subprime) e a sua excessiva alavancagem financeira. Tanto os americanos como os
britânicos retornam a ter crescimento de suas economias em meados de 2009, uma vez que a confiança
nos mercados começa a aumentar e os governos fazem pacotes econômicos para reaquecer a economia.
Os países emergentes apesar de terem sofrido muito com a crise de 2008, estão crescendo a taxas
muito maiores do que os países desenvolvidos. Esse crescimento maior ocorre porque eles estavam com
pouca exposição à “farra” dos empréstimos podres, estão com um mercado interno em constante
crescimento e fizeram políticas fiscais e monetárias expansionistas.
Tabela 1.1 - Crescimento e perspectiva do crescimento dos países selecionados no período do 4º trimestre de 2008 até o 2º trimestre de 2010 (% real trimestral)
2008 Q4
2009 Q1
2009 Q2
2009 Q3
2009 Q4
2010 Q1
2010 Q2
Germany -2.2 -3.4 0.5 0.7 0.3 0.5 2.2
Japan -2.6 -4.5 2.5 -0.3 1.0 1.1 0.1
United Kingdom -2.1 -2.3 -0.7 -0.3 0.4 0.3 1.2
United States -1.7 -1.2 -0.2 0.4 1.2 0.9 0.4
Brazil -3.3 -1.5 1.5 2.2 2.3 2.7 1.3
India 0.8 1.5 2.0 1.8 2.1 5.0 -
Russian Federation -1.2 -9.0 0.0 1.0 - - -
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com dados do FMI.
Conjuntura Atual
As economias que causaram desequilíbrios macroeconômicos até 2008 começam a corrigir
esses distúrbios (países que gastavam muito, começam a poupar mais e países que poupavam muito,
começam a gastar mais) em 2009 e 2010. Esse rearranjo da economia ocorre por meio da queda do saldo
em transações correntes de China, Japão e Alemanha e queda no déficit em transações correntes dos
EUA, como se pode observar no Gráfico 1.2. Essa correção ocorreu também em países da zona do Euro,
como se observa no Gráfico 1.3.
Esta correção economia mundial tem sido colocada em xeque, uma vez que tem ocorrido
algumas distorções no mercado de câmbio. Com China mantendo o seu câmbio praticamente fixo e muito
desvalorizado (por meio de intervenções cambiais que culminaram na acumulação em outubro de 2010,
de U$S2,6 Bilhões em reservas cambiais, valor muito maior do que o PIB brasileiro), e com os países
desenvolvidos praticando políticas monetárias muito expansionistas, principalmente no caso dos EUA, o
mundo está com muita liquidez. Essa liquidez tem gerado um fluxo financeiro mais intenso países como Japão, Brasil e Coréia do Sul, apreciando a moeda desses países. No caso da Coréia e do Brasil, a atração
que o capital estrangeiro tem, decorre da confiança em seu crescimento e pelo diferencial de juros com
relação ao mercado internacional9. No caso do Japão a entrada ocorre pela segurança representada pelos
títulos japoneses.
Para tentar interromper e até reverter a apreciação de suas moedas, vários países vêm
intervindo muito no mercado de câmbio, além de terem colocado algumas barreiras a entrada de capitais.
Até mesmo o Japão, um país que tradicionalmente nos últimos anos tem deixado o mercado do câmbio
livre (a última intervenção no câmbio foi em 2004), acaba intervindo em setembro de 2010, uma vez que
9 Os investidores pegam empréstimos nos países que estão com baixa taxa de juros, e investem nos países
com maiores taxas de juros, numa operação conhecida como carry trade. Nessa operação, além do
diferencial na taxa de juros, os investidores ganham também na apreciação cambial.
7
a sua moeda já se valorizara mais de 20%
desde o início da crise em 2008, como se
observa no Gráfico 1.5.
Em 2010, apesar de um maior
crescimento no primeiro trimestre, as duas
maiores economias do mundo, EUA e Japão
10têm uma desaceleração no
crescimento, devido ao término de programas
de estímulo fiscal, e a incerteza da
recuperação, gerando o medo de um double
dip (uma segunda retração do PIB). Já a
Alemanha cresce a um ritmo muito acelerado
no segundo trimestre beneficiando-se da
confiança dos investidores na austeridade do
governo e no aumento da demanda externa
por produtos alemães. Os países emergentes continuam no processo de forte recuperação e têm um
elevado crescimento.
Em outubro deste ano o FMI
elabora uma nova previsão em seu
relatório World Economic Outlook, em
que demonstra a possibilidade de que os
países em desenvolvimento vão ter um crescimento muito maior do que os
desenvolvidos no ano de 2010. No grupo
dos países desenvolvidos o que mais irá
crescer na avaliação do Fundo é a
Alemanha, muito devido ao crescimento
do segundo trimestre, que anualizado dá
um crescimento em ritmo Chinês, esses
dados podem ser vistos no Gráfico 1.6.
2 - Nível de Atividade
Daniel Lourenço Silva Prof. Diego da Silva Rodrigues
Setor Externo
Na análise do setor externo,
utilizando-se os resultados da balança de
pagamento divulgados no Boletim Banco
Central (BCB Boletim/BP), as transações
correntes apresentaram um déficit no mês de
setembro no montante de US$ 3,85 bilhões,
como visto no Gráfico 1.1. O resultado não
difere dos últimos déficits apresentados persistentemente desde o final de 2007,
caracterizando o Brasil como deficitário nas
transações correntes.
Porém esse resultado vem se
elevando quando analisado em percentual do
PIB no Gráfico 2.1, atingindo no mês de
setembro 2,4%, níveis atingidos no final do ano 2002 (ressaltando que no caso atual, diferente de 2002, a
dívida externa líquida do país é negativa), segundo dados do Banco Central (BCB Boletim/BP).
10
Algumas estimativas já colocam a China no segundo lugar no ranking de tamanho da economia
8
Os motivos que elevam o déficit são vários e dividem os economistas entre os que acreditam que
é apenas uma elevação natural e não deve ser vista como um problema consistente, e outros que
defendem que o déficit deve ser tratado com certa atenção.
A apreciação cambial registrada nos últimos meses serviu de incentivo para as empresas
estrangeiras no país realizarem remessas de lucro. Outro fato foi a necessidade de cobrir os maus
resultados nas contas das em presas estrangeiras dado a desaceleração da economia
mundial. Os gastos de brasileiros no exterior
também sofreram um grande aumento somado
às compras pela internet aumentando o déficit
na balança de serviços e renda. Somado a isso,
registrou-se redução do superávit da balança
comercial devido à alta das importações pela
apreciação cambial e maior atividade da
economia juntamente com os níveis mais
baixos de exportação, dado que o setor externo
demandante ainda não se recuperou totalmente.
Esse resultado pode ser visto como
conseqüência do forte crescimento da economia
e da demanda interna aquecida, mas devido à
baixa taxa de poupança interna, cresce a
necessidade de financiamento externo, resultando no superávit da conta capital.
A principal sinalização dada por um déficit nas transações correntes é a elevação do ritmo de endividamento, o que intuitivamente gera preocupação. Mas o cenário atual produz argumentos
favoráveis. O país hoje detém um grande volume de reservas internacionais e mantém a dívida externa
líquida negativa. O aumento do déficit corrente também pode ser visto como um resultado momentâneo,
devido ao descompasso das recuperações interna com a externa, devendo ser novamente reduzido com a
elevação do nível de atividade do setor externo. O tipo de entrada de capital também representa
mudanças, com uma maior entrada de capital de longo prazo frente a uma redução do capital
especulativo, dando uma maior estabilidade nas contas do país. E por último o fato do regime cambial
flutuante funcionar como um ajuste automático das transações correntes.
Os dados atuais da balança de pagamento podem não ser preocupantes, mas uma elevação nos
seus desequilíbrios pode ser tornar um grande problema. Em resumo, pode-se dizer que o desequilíbrio se
origina na diferença do nível de investimentos na economia e do nível de poupança. Quando a poupança
interna não é suficiente para cobrir esses investimentos, recorre-se à poupança externa criando o déficit.
Apesar dos ajustes naturais da economia (por exemplo, taxa de câmbio e recuperação externa), o
governo também tem a sua área de atuação. A taxa de juros adotada pelo Banco Central do Brasil (BC)
pressiona a entrada de capitais elevando o desequilíbrio. Porém, as políticas adotadas pelo BC visam
apenas às metas de inflação, não olhando para a balança de pagamento. Um ponto de convergência entre
vários economistas é a necessidade evidente de reestruturação fiscal do país. Isso contribuiria para um aumento da poupança interna, reduzindo a dependência de poupança externa, além de reduzir as pressões
inflacionárias, possibilitando que o BC reduza as taxas de juros diminuindo ainda mais a entrada de
capital especulativo estrangeiro no país.
A balança comercial do país
permanece superavitária com um saldo de
US$ 12,77 bilhões acumulados de janeiro
até setembro desse ano, segundo o Gráfico
2.3 construído com dados do Banco Central
(BCB Boletim/BP). Apesar de um
crescimento de 36,9% no montante
transitado, o superávit foi 39,7% menor que
o apresentado no mesmo período do ano
anterior. Queda esperada tendo em vista que
o ritmo de crescimento das importações se
encontra muito mais forte que o das exportações, dado que a demanda interna se recupera mais rápido que a externa, registrando variações de
45,8% nas importações e 29,6% nas exportações.
9
Os principais fornecedores do
Brasil de janeiro até agosto de 2010 foram
Estados Unidos, China, Argentina,
Alemanha e Coréia do Sul, nesta ordem,
com participação nas importações de 15%,
13,5%, 8,1%, 6,9% e 4,9%, respectivamente, segundo dados do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior e da Secretaria de
Comércio Exterior (MDIC/ SECEX)
demonstrados no Gráfico 2.4.
Os principais compradores no
mesmo período foram China, Estados
Unidos, Argentina, Países Baixos e
Alemanha, com participação nas exportações
de 15,8%, 9,8%, 8,9%, 5,1% e 4,1%,
respectivamente, visualizado no Gráfico 2.5.
Destaque para o crescimento da
participação da Argentina nas exportações do país, podendo fechar o ano na frente dos
Estados Unidos como principal comprador,
segundo ministro Celso Amorim.
Nas importações do Brasil, exibidas no Gráfico 2.6, destacam-se combustíveis (17,3%),
equipamentos mecânicos (15,2%), equipamentos elétrico-eletrônicos (12,3%) e automóveis (9,4%),
enquanto na pauta de exportações no Gráfico 2.7 destacam-se petróleo e combustível (12,6%), minérios
(11,6%), complexo de soja (10,7%), material de transporte (10,7%) e químicos (10,7%).
Atividade Nacional
Após uma rápida recuperação da economia brasileira em 2009 e uma forte aceleração registrada
no início deste ano, a produção total da economia registrou uma nova elevação de 1,2% no segundo
trimestre frente ao trimestre imediatamente anterior, acumulando o montante de R$ 900,7 bilhões,
segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/CNT)
10
Apesar do crescimento, o ritmo se
deu de forma mais amena se comparada ao
resultado obtido no primeiro período do
ano. Utilizando-se no Gráfico 2.8 de uma
análise da taxa anualizada11
, o ritmo de
crescimento da economia no segundo trimestre foi de 4,89% enquanto no
primeiro trimestre foi de 11,25%. Tal
desaceleração era prevista, dado o
abandono das políticas anticíclicas com o
reaquecimento da economia, de maneira a
não gerar pressão inflacionária, somado à
fraca recuperação do setor externo que
ainda permanece desaquecido mantendo as
exportações baixas.
O setor mais afetado
da economia no período de crise - o
setor industrial - também foi o
primeiro a se recuperar, como visto no
Gráfico 2.9, e continua como o setor
com maior crescimento com uma taxa
de 2,1% frente ao primeiro trimestre do
ano e 13,8% quando comparado ao mesmo período do ano anterior. O setor
de serviços é o mais estável e menos
afetado pela crise devido à força da
demanda interna que sustenta o
crescimento constante desse setor, que
registrou no segundo trimestre uma
variação positiva de 1,2% frente ao
trimestre imediatamente anterior e 5,6% em relação ao segundo trimestre de 2009. O setor agropecuário
registrou no período um crescimento de 1,9% e 11,4% nas mesmas análises respectivamente, porém ainda
não recuperou os níveis pré-crise devido a sua forte dependência do setor externo que permanece
desaquecido.
Rendimento médio real habitualmente recebido pelo trabalhador,
segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE/PME),
visualmente demonstrado no Gráfico
2.10, em setembro foi de R$1499,00, elevação de 1,3% em relação a agosto e
de 6,2% em relação a setembro de 2009.
Tal crescimento pode ser visto como
conseqüência natural do aumento do
salário mínimo, da queda da inflação, da
formalização e do cenário econômico.
A taxa de desocupação em
setembro, segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE/PME) exibidos no Gráfico 2.11, foi de
6,2%, registrando queda de 0,5 p.p. em
relação a agosto e 1,5 p.p. em relação a
setembro de 2009. Foi a menor taxa registrada
na série da pesquisa iniciada em março de
2002. A média do período foi de 7,1%,
também a menor para os oito primeiros meses do ano desde o início da série.
11
Taxa anualizada é calculada como taxa equivalente de uma taxa trimestral acumulada por quatro trimestres. Representa um
crescimento anual caso a economia mantivesse o mesmo ritmo registrado durante um ano inteiro.
11
No mês de setembro, o estoque de assalariados com carteira assinada no setor privado
permaneceu estável (10,3 milhões) crescendo 8,6% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Atividade Regional
O nível de atividade em Minas Gerais acompanha o movimento de crescimento da economia
nacional verificado a partir do segundo trimestre de 2009. No segundo trimestre, segundo dados da
Fundação João Pinheiro (CEI) e do IBGE
(Conac) no Gráfico 2.12, o PIB mineiro foi
11,2% superior ao mesmo período do ano
anterior, enquanto o PIB nacional cresceu de
8,8% na mesma análise. O ritmo, porém,
reduziu se comparado aos 13,3% registrados
no primeiro trimestre pelo estado mineiro
refletindo a desaceleração da economia
nacional, que no primeiro trimestre registrou
9%.
Observa-se um ritmo da economia mineira superior ao nacional que
pode ser explicado pela inserção de Minas
Gerais na estrutura produtiva brasileira,
respondendo à recuperação da formação bruta de capital fixo, à demanda por bens de consumo duráveis, e
à demanda externa por derivados da mineração e da siderurgia, sendo a indústria de Minas Gerais
particularmente beneficiada.
Analisando detalhadamente os
dados do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior
(MDIC/SECEX) da evolução da pauta de
exportações da economia nacional,
verifica-se que os principais produtos
exportados apresentam forte queda em
2009 (exceto a soja que se mantém
relativamente constante). Tal queda não é
recuperada totalmente em 2010, salvo a exportação de minério, que apresenta
uma recuperação bem acentuada,
destacada no Gráfico 2.13. O fato de a indústria mineira ser muito intensiva em exportação de minério
pode ser apontado como um fator determinante na retomada do nível de atividade industrial da economia
mineira.
Segundo dados da Fundação João
Pinheiro e do IBGE, o setor industrial
mineiro cresceu 19,5% em relação ao
mesmo período no ano anterior, enquanto
a agropecuária registrou um crescimento
de 7,1% e setor de serviços de 6,9% na
mesma análise, como no Gráfico 2.14.
Esse resultado mostra que a discrepância
entre os setores foi muito mais acentuada
em Minas Gerais que o observado na
economia nacional.
12
No mercado de trabalho,
a taxa de desocupação da
população economicamente ativa
da Região Metropolitana de Belo
Horizonte reduziu de 5,2% em
agosto para 4,9% em setembro, segundo dados do IBGE (PME),
acompanhando a trajetória
decrescente da taxa média das
demais regiões metropolitanas,
mas permanecendo abaixo destas,
dado o Gráfico 2.15.
Ainda segundo dados da
mesma pesquisa, o rendimento
real médio dos ocupados na região
Metropolitana de Belo Horizonte
também se manteve abaixo da
média das regiões metropolitanas.
Mantendo a mesma de trajetória de
tendência ascendente, como no
Gráfico 2.16, foi estimado em R$ 1.428,80 em setembro,
apresentando variação positiva de
1,7% em relação ao mês anterior
(R$1404,36). Na variação anual,
apresentou elevação de 11,4% em relação a setembro de 2009 (R$ 1.282,63).
No mês de setembro o
Índice de Confiança do Empresário
Industrial de Minas Gerais divulgado pela Federação das
Indústrias do Estado de Minas Gerais
(FIEMG) aumentou pelo segundo
mês consecutivo, atingindo 64
pontos, após cinco meses sucessivos
de queda, como pode ser visto no
Gráfico 2.17. Assim, manteve-se 3,7 pontos acima da média histórica
(60,3 pontos) demonstrando que a
confiança do empresário no
crescimento industrial para os
próximos meses permanece.
3 – Políticas Públicas
Lélio de Lima Prado Prof. Paulo José Saraiva
Política Monetária
O saldo médio diário dos meios de pagamento restritos (M1) atingiu R$240,4 bilhões em agosto,
elevando-se 3,9% no trimestre e 18,8% em doze meses, enquanto a base monetária totalizou R$168,6
bilhões, apresentando crescimentos respectivos de 5,5% e de 21,6% nas mesmas bases de comparação.
13
Consideradas posições de final de período, a base monetária totalizou R$173,2 bilhões em
agosto, ressaltando-se que a expansão trimestral de R$14,6 bilhões refletiu em grande parte, as compras
líquidas de divisas realizadas pelo Banco Central no mercado interbancário de câmbio, que somaram
R$13,6 bilhões, e, em sentido oposto, o impacto da elevação de R$6,4 bilhões nos recolhimentos
compulsórios.
Os meios de pagamento, no conceito M2 (corresponde ao M1 e às demais emissões de alta liquidez realizadas primariamente no mercado interno por instituições depositárias - as que realizam
multiplicação de crédito), aumentaram 4,5% no trimestre e 10,7% em doze meses, totalizando R$1,2
trilhão; o M3 (composto pelo M2 e captações internas por intermédio dos fundos de renda fixa e das
carteiras de títulos registrados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic).) atingiu R$2,4
trilhões, elevando-se 5,1% e 14,2%, nas mesmas bases de comparação, enquanto o agregado M4 (engloba
o M3 e os títulos públicos de alta liquidez.) somou R$2,8 trilhões, com expansões de 4,5% no trimestre e
de 15,7% em doze meses.
Nos remetendo para um outro ângulo da economia brasileira iremos destacar a conjuntura
referente a taxa de juros e inflação, dois
indicadores intimamente ligados.
Os riscos para um cenário benigno
de inflação diminuiram e a manutenção da
taxa basica de juros no patamar atual é o
adequado para que o indice oficial pemaneça
dentro da trajetória de metas. Depois de 3
elevações consecutivas a taxa selic tende a
se manter em 10,75%. Veja ao lado no grafico 3.1ª
evolução da taxa selic overnight.
Segundo a ultima ata do COPOM,
houve significativa redução das projeções
elaboradas por analistas para o nivel da
inflação, que de fato recuaram bastante para 2010 e se elevaram apenas marginalmente para 2011.
A taxa de juros se mantem constante, o que significa que seus ultimos aumentos consecutivos
foram eficientes para conter a inflação.
Podemos notar a significativa diminuição da surpresa inflacionária no Brasil a partir de 2005,
ajudando a consolidar a queda dos juros nos ultimos anos, ou seja, o poder da política monetária no
controle da inflação evidencia o estágio avançado de amadurecimento do regime de metas de inflação.
Pode-se notar isto na tabela abaixo ao analisarmos que cada vez mais a inflação projetada se aproxima da
oficialmente registrada.
TABELA 3.1 - Histórico para metas de inflação do Brasil.
Ano Meta (%) Limite inferior (%) Limite superior (%) Inflação efetiva (IPCA % a.a.)
1999 8 6 10 8,94
2000 6 4 8 5,97
2001 4 2 6 7,67
2002 3,5 1,5 5,5 12,53
2003 4 1,5 6,5 9,3
2004 5,5 3 8 7,6
2005 4,5 2 7 5,69
2006 4,5 2,5 6,5 3,14
2007 4,5 2,5 6,5 4,46
2008 4,5 2,5 6,5 5,9
2009 4,5 2,5 6,5 4,31
Fonte: Banco Central de Brasil
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Política Fiscal
- Necessidades de financiamento do Setor Público:
O estoque da dívida pública interna (DPMFI) teve alta de 1,03% em agosto, para R$ 1,524
trilhão, depois de ficar em R$ 1,509 trilhão em julho.
De acordo com o Tesouro Nacional, houve emissão de títulos no valor de R$ 2,36 bilhões e
pagamentos de juros no valor de R$ 13,13 bilhões. A parcela da dívida atrelada à taxa pós-fixada Selic
somou R$ 523,59 bilhões em agosto, ou 34,34% do total do endividamento.
O resto da dívida foi composta
por papéis prefixados na percentagem de
36,05%da dívida e 27,98% de títulos
públicos federais indexados.
Note no gráfico 3.2 a evolução
da dívida líquida do setor público.
O setor público brasileiro
apresentou superávit primário de R$ 5,
222 bilhões em agosto. Em igual período
de 2009 o saldo correspondia a R$ 5,
042 bilhões. Tal número refere-se ao
desempenho das contas da União, estados, municípios e estatais. O
conceito primário leva em conta o
movimento de caixa do setor público,
desconsiderando despesas com juros.
De acordo com dados divulgados pelo Banco Central, nos 12 meses acumulados até agosto, o
superávit primário foi de R$ 68,822 bilhões ou 2,01% do PIB
O impacto das restrições referente ao período eleitoral, de retração nas despesas públicas, ajudou
neste resultado primário. Porém, o superávit primário foi insuficiente para evitar que os juros apropriados
e o resultado fiscal nominal fossem os piores para agosto, desde o inicio da serie revisada pelo BC em
dezembro de 2001.
A conta juros somou R$ 15,68 bilhões que, subtraído deste superávit, gerou um resultado
nominal deficitário em R$ 10,476 bilhões.
Do lado dos juros, o BC informa que o aumento da inflação no ano impactou, negativamente, à
dívida atrelada a índices de preços. Do lado do Governo Federal foi registrado um aumento nas receitas
de 14,8% referente ao mesmo período de 2009 e uma diminuição nas despesas de 13,8% por conta de
gastos contraídos pelas restrições da legislação eleitoral.
Analisando o déficit nominal do setor público, em agosto era de R$ 10,476 bilhões. Vemos que em igual período do ano passado tal déficit foi menor no montante de R$ 8,162 bilhões. No acumulado do
ano, o déficit nominal nas contas publicas esteve equivalente a 3,29% do PIB.
A dívida líquida total, referente á soma das dívidas externa e interna, correspondeu em agosto a
41,4% do PIB. Um mês antes estava em R$ 1, 406 trilhão, também em 41,4% do PIB.
Veja a evolução da divida liquida total
no grafico 3.3.
A dívida bruta do governo federal,
previdência social e governos regionais, que ao
contrário da dívida liquida, não contabiliza
ativos, somou R$2,034 trilhão em agosto ou
59,4% do PIB, um mês antes estava em 59,6%
do PIB.
Porém, a recente capitalização da
Petrobras pode aumentar a dívida bruta em até
um ponto percentual do PIB para 60.4%,
informa o Banco Central.
Do ponto de vista fiscal, o crédito da União de 30 bilhões para o BNDES para fechar
a parte do banco publico na compra de ações
da estatal, vai gerar, em princípio, aumento na
divida bruta.
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Em contra partida a este cenário deficitario esta o Governo Central o qual provavelmente terá o
maior superávit primário da história.O Governo Central compreende resultados de caixa do Tesouro
Nacional, Previdência Social e Banco Central. Tal superávit pode ser em parte explicado pelo aumento da
divida bruta já que o Tesouro Nacional Ampliou sua participação no controle da estatal. Em 2010 a meta
fixada para superavit primário do Governo Central na Lei de Diretrizes Orçamentárias é de 3,3% do PIB.
Veja no gráfico 3.4 a evolução dos resultados totais do Governo Central.
É relevante mencionar que o atual
cenário de consolidação de um novo ciclo de
crescimento econômico vem favorecendo a
arrecadação do governo, com ênfase no
desempenho dos tributos associados mais
diretamente ao comportamento do setor
produtivo, ao tempo em que se observa
desaceleração das despesas, de modo que se
manteve relativamente estável a relação
DLSP/PIB.
Para discutirmos a posição do Brasil
no que se refere ao mercado financeiro
internacional primeiro devemos lembrar que
reservas internacionais ou cambiais é o
volume de dólares que o pais tem em caixa. O
governo acumula dólar de duas maneiras. Ou comprando dólar no mercado ou emitindo títulos da divida publica, que são comprados por investidores e cujo pagamento é depositado nas reservas. Há um porém
importante a ser lembrado neste ponto, cada vez que o governo compra divisas, ele paga com real,
aumentando a divida interna, tal relação ficara ainda mais clara no gráfico a seguir, lembrando que sobre
estas transações temos de pagar mais juros, criando um déficit uma vez que as taxas oferecidas no
mercado interno são maiores que no exterior. Isto é chamado “custo de carregamento” das reservas.
É interessante ressaltar um olhar um pouco mais detalhado sobre o aumento das reservas em
dólar pelo setor público analisando com mais cuidado o custo do carregamento destas reservas. O grande
aumento das reservas de dólar pelo Brasil seria mais interessante se pudéssemos nos manter em um nivel
de taxa de juro inferior, pois a
acumulação destes dólares graças a
uma das maiores taxas de juros do
mundo traz consigo pesado ônus com
os detentores de titulos e maiores ainda
são os ônus para a esterilização dos
dólares os quais não foram
monetizados e introduzidos na
economia interna o que traz consigo mais um problema, a possivel pressão
inflacionária no caso de uma alta
monetização.
Referindo-se agora a nossa
divida externa, a qual subiu em junho
para US$ 225,172 bilhões, conforme
estimativas lançadas pelo BC. Em maio
o BC estimava o déficit brasileiro com
o exterior em US$ 218,329 bilhões. Em
conta partida as reservas internacionais cresceram US$ 3,3 bilhões e chegaram a US$ 253 bilhões, o que
nos coloca em um patamar de crédito no mercado financeiro internacional mesmo após a liquidação
completa da dívida.
Note que no grafico 3.5 acima vemos a dívida externa após considerarmos nossas reservas
cambiais.
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Política Cambial
O mercado de câmbio contratado registrou superávit de US$3,4 bilhões nos oito primeiros meses
do ano, ante US$6,9 bilhões em igual período de 2009. A balança comercial cambial totalizou déficit de
US$1,4 bilhão, ante superávit de US$11,3 bilhões de janeiro a agosto de 2009, recuo este decorrente de
elevações respectivas de 16,1% e 33,8% nas contratações de exportações e de importações.
O segmento financeiro, refletindo as condições do crédito externo, apresentou crescimentos de
6,9% nas compras e de 2,2% nas vendas de moeda estrangeira, resultando em ingressos líquidos de
US$4,8 bilhões, ante saídas líquidas de US$4,4 bilhões nos oito primeiros meses de 2009.
As aquisições líquidas de divisas realizadas pelo Banco Central no mercado à vista de câmbio
somaram US$18,6 bilhões no ano, até agosto. A posição dos bancos, que reflete as operações com
clientes no mercado primário de câmbio e as intervenções do Banco Central, passou de comprada em
US$3,4 bilhões, ao final de dezembro de 2009, para vendida em US$13,7 bilhões, ao final de agosto.
Segundo a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), a elevação de 28,8%
observada nas exportações de janeiro a agosto deste ano, em relação a igual período de 2009, decorreu de
aumentos de 19,1% nos preços.
A conta capital e financeira do balanço de pagamentos registrou superávit de US$55,2 bilhões nos oito primeiros meses do ano, evidenciando que as incertezas quanto à recuperação das economias
maduras exerceram impacto limitado sobre o financiamento das contas externas do País.
Os investimentos brasileiros diretos no exterior acumularam aplicações líquidas de US$5,6
bilhões nos primeiros oito meses de 2010. As empresas brasileiras retomaram investimentos em mercados
externos, constituindo, liquidamente, US$15,6 bilhões sob a forma de participação no capital. As
amortizações líquidas de empréstimos a subsidiárias no exterior atingiram US$10 bilhões.
A participação de estrangeiros na divida publica interna subiu ao equivalente de R$ 150,6
bilhões ou 10,06% do total em agosto, um nível recorde. Em 2009 esta relação era de apenas 6,36%.
Porém, para o coordenador geral da divida publica, Fernando Garrido, a participação externa na divida
pública brasileira ainda é pequena comparada a países como o México, onde a parcela de títulos retidos
por estrangeiros é de 15% e países do leste Europeu.
Com a estabilidade da economia brasileira e depois de receber o grau de investimento o Brasil
passou a ser do interesse de investidores institucionais como fundos soberanos do Oriente Médio e fundos
de pensão americanos e europeus. Essa nova composição, de entrada de capital estrangeiro traz consigo
investidores focados no longo prazo o que da maior tranqüilidade à administração da divida publica.
As compras líquidas do Banco Central no mercado de câmbio atingiram US$19,1 bilhões de
janeiro a agosto, dos quais US$18,6 bilhões no mercado à vista e US$535 milhões relativos a retornos de operações de empréstimo em moedas estrangeiras. A remuneração das reservas gerou receita de US$2,5
bilhões, enquanto as demais operações elevaram o estoque das reservas em US$1,2 bilhão.
COORDENADOR: Prof. Wilson Luiz Rotatori Corrêa ([email protected])
COLABORADORES: Prof. Diego da Silva Rodrigues
([email protected]) Prof. Paulo José Saraiva
([email protected]) Prof. Vinícius de Azevedo Couto Firme
BOLSISTAS: Daniel Lourenço Silva ([email protected])
Lélio de Lima Prado ([email protected])
Luiz Antônio de Lima Junior ([email protected])
EXPEDIENTE