UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Natasha Consolmagno Mezzacappa
EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E ENSINO DE VALORES: AS CONTRIBUIÇÕES DA
LEI ESCOTEIRA PARA A FORMAÇÃO DE VALORES EM JOVENS DE 10 A 14
ANOS
São Paulo
2012
NATASHA CONSOLMAGNO MEZZACAPPA
EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E ENSINO DE VALORES: AS CONTRIBUIÇÕES DA
LEI ESCOTEIRA PARA A FORMAÇÃO DE VALORES EM JOVENS DE 10 A 14
ANOS
Orientador: Prof. Dr. Rinaldo Molina
São Paulo
2012
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da
Universidade Presbiteriana Mackenzie como parte
dos requisitos exigidos para a obtenção do grau de
Licenciado em Ciências Biológicas.
DEDICATÓRIA
À meus pais, meus melhores exemplos de pessoas
de valor, que sempre me incentivaram a alcançar meus
sonhos com muita persistência e força.
AGRADECIMENTOS
Ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, que me disponibilizou ferramentas as quais muito contribuíram na
construção da base do meu (promissor) futuro profissional.
À meus brilhantes professores da Licenciatura, em especial Adriano Monteiro
de Castro, Magda Medhat Pechliye e Rosana dos Santos Jordão, que foram
essenciais para o meu desenvolvimento crítico, moral e educacional.
À meu orientador, Rinaldo Molina, por me auxiliar no desenvolvimento deste
trabalho que é tão importante para mim tanto na questão educacional, como na de
contribuir com mais pesquisas ao Movimento Escoteiro.
À meus pais, Mauro e Sônia, pela paciência, incentivo e confiança em mim
durante todos estes anos universitários. Muito obrigada também por todo o auxílio,
lendo e revisando meu trabalho afim de torná-lo cada vez melhor! Vocês são meu
mais forte exemplo de integridade.
Ao meu namorado, Angelo, pela paciência e companheirismo nesses meses
conturbados de elaboração do TCC. Se não fosse você para me distrair a cabeça,
me relaxar e me divertir, acho que eu teria surtado.
Ao Movimento Escoteiro em geral, por me transformar na pessoa que sou
hoje, cheia de valores morais e com muita vontade de passar o que aprendi para
frente. Graças a este movimento conheci pessoas incríveis e que se tornaram
exemplos para mim.
À Baden-Powell, fundador do movimento que transforma vidas e que me
orgulho muito de fazer parte.
À todos os integrantes do 72° Grupo Escoteiro Cassiano Ricardo. Meus
companheiros há 8 anos, que considero meus irmãos, amigos e professores da
escola da vida. Vale aqui citar o chefe Horus, chefe Zeca, mestre Ascêncio, chefe
Gaio, chefe Tonho, Angélica, Simoni, Foinha, Lailinha, Dedé, Frazão, todos os
escoteiros da Tropa Mista Lobo Guará, entre muitos outros.
À meu amigo Karakú, pelas conversas e dicas sobre quais seriam os
melhores temas para abordar o Movimento Escoteiro em um trabalho de graduação.
Á Carla, minha psicóloga, pois foi com ela que consegui elucidar muitos
questionamentos e definir o objetivo que tanto queria atingir no trabalho.
RESUMO
As individualidades de cada pessoa são definidas por uma arquitetura de valores
apresentadas a elas ao longo de sua vida, sendo escolhidas de forma pessoal e não
previsível. O Movimento Escoteiro é um meio de educação não formal que tem como
uma de suas prioridades o ensino de valores morais a jovens tomando por base os
valores preconizados pela Lei Escoteira. Com o objetivo de identificar e analisar se o
ensino de valores veiculados pelo Movimento Escoteiro influencia a vivência dos
jovens de 10 a 14 anos que participam desse movimento, foi elaborado um diário em
que os escoteiros escreveram reflexões e relatos acerca de cada um dos 10 artigos
da Lei Escoteira. Os resultados mostraram que, apesar de alguns terem feito apenas
cópias dos artigos, grande parte dos jovens fez reflexões aprofundadas e relatou
fatos relevantes de suas vidas ou de outras pessoas, mostrando compreensão
quanto aos significados dos artigos. Os valores propostos previamente para cada
artigo da Lei Escoteira foram os mais presentes nas escritas dos escoteiros,
havendo apenas algumas confusões de interpretação ou desconhecimento de
termos. Pôde-se concluir que as reflexões exprimiram correta interpretação dos
valores citados e condizente aos valores propostos para a Lei, que as atitudes
evidenciadas nos relatos expressam corretamente os valores propostos não apenas
entre escoteiros, mas em diversos outros locais, e que, portanto, há a influência dos
valores veiculados pelo Movimento Escoteiro na vivência e educação dos escoteiros.
Palavras-chave: Ensino de valores, Educação não formal, Movimento Escoteiro.
ABSTRACT
Each persons individualities are defined by an architecture of values presented to
them throughout their life, being personally chosen and in a not predictable way. The
Scout Movement is a non-formal education center where one of its priorities is the
moral value education of the young scouts based in the present values of the Scout
Law. With the purpose of identify and analyze if the values education conveyed by
Scouting influences the experiences of the young people aged 10 to 14 who makes
part of this movement, a Scout Law diary was made, where the scouts could write
reflections and reports about each one of the 10 Law articles. The results showed
that, although some have done little more than copies of the articles, most of the
scouts made thoughtful reflections and reported relevant facts of their life someone
else’s, showing comprehension to the articles meanings. Various locations were cited
in the reports, including the Scout Movement. The values previously proposed for
each article of the Scout Law were the most present in their writings, with only some
confusions or lack of understanding of terms used. It was concluded that the
reflections expressed correct interpretation of the mentioned values and consistent
with the ones proposed by the Law. The evident behavior expressed in the reports
correctly reflects these values not only among scouts, but in many other
environments, and that, therefore, there is influence of the values conveyed by the
Scout Movement in the scouts life experiences and education.
Key-words: Value education, Non-formal education, Scout Movement.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 1° artigo da Lei
Escoteira ................................................................................................................p. 35
Tabela 2. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 2° artigo da Lei
Escoteira ................................................................................................................p. 36
Tabela 3. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 3° artigo da Lei
Escoteira ................................................................................................................p. 37
Tabela 4. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 4° artigo da Lei
Escoteira ................................................................................................................p. 38
Tabela 5. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 5° artigo da Lei
Escoteira ................................................................................................................p. 39
Tabela 6. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 6° artigo da Lei
Escoteira ................................................................................................................p. 40
Tabela 7. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 7° artigo da Lei
Escoteira ................................................................................................................p. 41
Tabela 8. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 8° artigo da Lei
Escoteira ................................................................................................................p. 42
Tabela 9. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 9° artigo da Lei
Escoteira ................................................................................................................p. 43
Tabela 10. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 10° artigo da
Lei Escoteira ..........................................................................................................p. 44
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Número de Reflexões escritas em cada Diário ......................................p.45
Figura 2. Número de Relatos escritos em cada Diário ..........................................p.47
Figura 3. Número de citações por indivíduo relatado e presença ou ausência do
valor nos relatos .....................................................................................................p.49
Figura 4. Valores presentes nos diários, referentes ao 1° artigo da Lei Escoteira p.51
Figura 5. Valores presentes nos diários, referentes ao 2° artigo da Lei Escoteira p.53
Figura 6. Valores presentes nos diários, referentes ao 3° artigo da Lei Escoteira p.56
Figura 7. Valores presentes nos diários, referentes ao 4° artigo da Lei Escoteira p.59
Figura 8. Valores presentes nos diários, referentes ao 5° artigo da Lei Escoteira p.60
Figura 9. Valores presentes nos diários, referentes ao 6° artigo da Lei Escoteira p.63
Figura 10. Valores presentes nos diários, referentes ao 7° artigo da Lei
Escoteira..................................................................................................................p.64
Figura 11. Valores presentes nos diários, referentes ao 8° artigo da Lei
Escoteira..................................................................................................................p.67
Figura 12. Valores presentes nos diários, referentes ao 9° artigo da Lei
Escoteira..................................................................................................................p.67
Figura 13. Valores presentes nos diários, referentes ao 10° artigo da Lei
Escoteira..................................................................................................................p.71
Figura 14. Frequência de aparição dos valores presentes nos diários .................p.71
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 10
1. REFERENCIAL TEÓRICO 12
2. METODOLOGIA 31
3. RESULTADOS 35
4. DISCUSSÃO 45
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 75
ANEXOS
ANEXO I – Modelo da Carta de Informação à Instituição 78
ANEXO II – Modelo do Termo de consentimento livre e esclarecido
da Instituição
80
APÊNDICE – Modelo do Diário da Lei Escoteira 82
10
INTRODUÇÃO
Desde que nascemos estabelecemos relações interpessoais, mas mantemos
uma individualidade que nos difere das outras pessoas. Nossa personalidade e, com
base nela, nossas atitudes e escolhas são guiadas por uma arquitetura de valores
que nos são apresentados a cada dia nas mais diversas situações e por todos que
passam por nossas vidas. Estes valores, construídos de maneira pessoal e
imprevisível, nos guiam a diferentes rumos, dependendo da priorização que fazemos
deles. Podemos encontrar valores considerados morais, que envolvem harmonia
nas relações sociais, ou não morais, que valorizam menos essa questão, podendo
não ser positivos ao coletivo. Sendo, tanto os morais como os não morais valores
pessoais, não adianta impor quais valores desejamos que as outras pessoas
tenham; a escolha deve ser livre. Entretanto, devemos apresentá-los e fazer uso
deles para que possam ser escolhidos e assimilados por cada pessoa.
Uma das melhores formas de se fazer isso é por meio dos exemplos e da
educação, sendo que esta não é realizada somente na escola, mas acontece em
diversos locais e das mais variadas formas, dentre elas a educação não formal. Esta
modalidade de educação, cujo projeto tem potencial formativo que possibilita
mudanças nos sistemas de conhecimento e de valores das pessoas, cria espaços
de encontro que permitem ir além dos próprios limites, com o reconhecimento e a
valorização dos aprendizados gerados na experiência (CENDALES; MARIÑO,
2006). Um conhecido exemplo de instituição que trabalha com os jovens e é
considerada como um tipo de educação não formal é o Movimento Escoteiro.
O Movimento Escoteiro foi criado pelo militar inglês Robert Stephenson Smyth
Baden-Powell (1857-1941), mais conhecido como Baden-Powell. Teve seu marco
inicial em 1907, com um acampamento realizado para 20 rapazes, onde foram
colocadas em prática, com sucesso, suas ideias sobre o escotismo. A finalidade do
escotismo desde seu início até os dias atuais é “procurar melhorar o padrão dos
futuros cidadãos, especialmente seu caráter e sua saúde” e “as habilidades
manuais, as atividades ao ar livre e o serviço ao próximo” estão “na vanguarda
desse programa” (BADEN-POWELL, 1986, p.53). Modificações foram realizadas e
programas educativos foram criados a fim de adequar o Movimento Escoteiro aos
11
países e à atualidade, mas a essência se mantém e há 105 anos trás contribuições
aos valores morais dos jovens.
Citado por Piaget (2003, p.25) como uma “admirável experiência de educação
moral”, o Movimento Escoteiro tem hoje mais de 30 milhões de membros jovens e
adultos em 161 países1. Foi trazido ao Brasil em 1910, no Rio de Janeiro, e sua
aceitação foi tão boa que se expandiu, durante todos esses anos, para todos os
estados do país, e, em 2012, contempla um número total de 70.669 escoteiros2,
dentre estes eu.
Sou escoteira desde 2004 e percebo com clareza os ensinamentos e as
portas que o escotismo me abriu. Atualmente, como chefe de jovens escoteiros
entre os 10 e os 14 anos, tenho a oportunidade de ensiná-los, de maneira divertida e
descontraída, os valores que me foram apresentados e a importância e os
benefícios do trabalho conjunto para consigo e para a sociedade.
Com o objetivo de identificar e analisar se o ensino de valores veiculados pelo
Movimento Escoteiro influencia a vivência de adolescentes que participam desse
movimento, realizei uma pesquisa que relacionou os valores veiculados pelos 10
artigos da Lei Escoteira com as atitudes expressas pelos escoteiros que chefio, além
de avaliar se estes relacionam suas atitudes a esta Lei e analisar a abrangência de
suas atitudes de valor no movimento e fora dele.
O trabalho está organizado em Introdução, em que são apresentados o tema,
a justificativa e o objetivo do trabalho; Referencial Teórico, em que é feito o
embasamento teórico do tema, que será utilizado na discussão dos resultados. A
Metodologia vem logo após, explicando com detalhes as etapas de elaboração da
pesquisa, seguida da apresentação dos Resultados e da Discussão do trabalho. As
Considerações Finais são a próxima parte e em sua sequência é apresentado o
Referencial Bibliográfico. Por fim estão os Anexos e o Apêndice, mencionados ao
longo do texto.
1 WORLD SCOUT BUREAU. Over 30 million young people are leading the innovation. Genebra: Scouts: Creating a Better
World, 2012. 2 EFETIVO registrado dos escoteiros do Brasil em 2012 já ultrapassou o total do ano passado. Escoteiros do Brasil:
construindo um Mundo melhor, Paraná, 16 out. 2012.
12
1. REFERENCIAL TEÓRICO
Entrelaçando valores, educação não formal e escotismo
Diariamente, em todos os locais as pessoas estabelecem relações entre si.
Tais relações acarretam o surgimento de uma disciplina normativa necessária para a
constituição de realidades morais, não inatas, e que necessitam de uma educação
moral (PIAGET, 2003).
A moral, de acordo com Puig (1998), seria o resultado das soluções dadas a
situações conflitantes que somos obrigados a enfrentar, e suas práticas são formas
ritualizadas de resolver situações sociais ou pessoais moralmente relevantes. Tais
situações, entretanto, não são referentes às crianças em seus primeiros anos de
vida. Araújo (1999) explica que nesse período, os interesses estão relacionados às
necessidades orgânicas e, só serão intelectualizados cognitivamente e organizados
de maneira mais estável, formando sistemas de valor e sentimentos interpessoais e
morais à medida que a criança cresce.
Os sentimentos interpessoais e morais se relacionam entre si e, conforme diz
Piaget (2003), coexistem nas crianças duas morais, que resultarão em dois tipos
fundamentais de relações interpessoais. Ele considera o Respeito como o
sentimento fundamental que possibilita a aquisição das noções morais, e o distingue
em dois tipos. Há o Respeito chamado unilateral, que implica uma desigualdade
entre quem respeita e quem é respeitado, como, por exemplo, a criança e o adulto
ou o pequeno e o grande. Nessa situação é gerada uma relação social de coação do
superior sobre o inferior. O segundo Respeito é classificado como mútuo, pois os
indivíduos relacionados se consideram como iguais; eles se respeitam
reciprocamente e não há coação, e sim a relação social de cooperação.
Analisando as duas modalidades de Respeito, vemos que a criança, assim
como o adulto, deve estabelecer, segundo Araújo (1999), coerência entre seu
pensamento e sua ação moral. Para que haja tal coerência, o indivíduo deve ter
integrado em sua identidade valores, que levarão à definição de normas de ação.
13
Para Puig (1998) as ações morais correspondem às práticas morais, que
contribuem para o desenvolvimento e a aquisição de cursos de acontecimentos
valiosos, capacidades morais, virtudes, conceitos de valor e ideias éticas de
pertinência à coletividade e identidade pessoal. Segundo ele, equivalem às práticas
de valor e se definem como práticas culturais que não apenas expressam valores e
requerem virtudes, mas que também são intencionais. Além disso, afirma que os
valores nas práticas morais, além de serem expressos durante a realização das
mesmas, ainda suplantam os objetivos para os quais a prática foi criada.
Os valores expressos possuem diversas definições em variados estudos.
Araújo (2007) descreve valor como aquilo de que a pessoa gosta e que valoriza. Em
sua concepção a construção dos valores se origina de regulações energéticas
estabelecidas entre o sujeito, desde o seu nascimento, e o mundo externo por meio
de relações com outros objetos, outras pessoas e consigo mesmo. Tais regulações
energéticas foram posteriormente definidas como a projeção de sentimentos
positivos (ARAÚJO, 1999; 2007).
Durante a vida do indivíduo, os valores vão sendo construídos e organizados,
de forma não previsível, em um sistema individual a partir de possibilidades que a
natureza, a cultura e a sociedade lhe oferecem, e se posicionam de forma mais
central (quando a intensidade de sentimentos positivos atribuída ao valor é grande)
ou periférica (quando o valor recebe baixa intensidade de sentimentos) em nossa
identidade (ARAÚJO, 1999; 2007). Um mesmo valor, entretanto, pode ser central
e/ou periférico na identidade de um mesmo sujeito, dependendo do conteúdo e das
pessoas que estão nele envolvidas (ARAÚJO, 2007).
Thumus (2003) apresenta uma definição diferente de valor. Para ele, valor é
tudo aquilo a que atribuímos algum significado pessoal e que é reconhecido dentro
do ambiente coletivo. Diz também que os valores envolvem satisfação, bem-estar e
ocupam um lugar de extrema importância dentro do espaço vivencial de cada ser
humano, sendo implantados no decurso de nossas vidas de maneira não
instantânea. Eles nos qualificam, ampliam nossos horizontes, dizem o que e quem
somos, além de traçar a nossa identidade em sua intimidade real e existencial.
14
Puig (1998) por sua vez define valores como recursos que nos ajudam a
enfrentar situações vitais conflitantes e que ao ser convertidos em comportamentos
correspondem às práticas.
Por fim, Machado (2004) tem a convicção de que os valores representam a
conservação inerente a toda ação e que, quando arquitetados socialmente,
sustentam projetos, que por sua vez, nos sustentam. Segundo ele, projeto e valor
constituem um par indissociável, assim como transformação e conservação. Se não
há projeto de vida, consequentemente não há valor.
Relacionado à transformação e à conservação, Menin (2002) explica que os
valores apresentam variações em diferentes sociedades e momentos históricos.
Sendo assim, um valor correto e justo em determinada época, pode ser considerado
errado e injusto em outra. Complementando-se, à perspectiva de Araújo (1999), para
o qual valores virtuosos como a Generosidade não devem ser comparados a valores
relacionados à violência, julgados errados por ele, mas corretos por algumas
culturas.
Essas diferenças de interpretações dos valores podem ser consideradas,
como disseram Cortella e La Taille (2007), como uma forma errada de estruturação
de valores. Os autores acrescentam ainda que atualmente vivemos um
apodrecimento de alguns valores, tais como a Dignidade, a Capacidade, a
Convivência e a Civilidade. Machado (2004), por sua vez, se demonstra mais
imparcial e considera que o que ocorre não é uma estruturação errada, e sim uma
ausência de valores.
Outros autores entendem que o que pode estar acontecendo não é uma
ausência de valores, mas uma priorização de outras formas de valor. Araújo (1999;
2007) diz que além dos valores morais – que dependem de certa qualidade nas
interações e não são necessariamente construídos pelas pessoas, e sim pela
projeção afetiva positiva que os constitui – o ser humano constrói também valores
não-morais, que, se transmitidos em linguagens dinâmicas e interessantes e
apresentados como formas legítimas para atingir os objetivos de consumo, se
tornarão, com uma alta probabilidade, alvo de projeções afetivas positivas dos
jovens, sendo por eles valorizados.
15
Dessa maneira, há uma maior valorização da questão de Competência ou
Incompetência, Fracasso ou Vitória, Beleza ou Feiura, etc., que são valores não-
morais, e a determinação de Honestidade ou Desonestidade, Dignidade ou
Indignidade, Honra ou Desonra, etc., que são os valores morais (SOUZA, 2005), se
tornam secundários.
Deve-se pensar então em como estimular as pessoas a construir e cultivar os
valores morais, mas sem nos esquecer que, como afirma Menin (2002), valores
impostos por uma autoridade são aceitos por temor enquanto perdurar o controle
desta, mas quando a força controladora se enfraquece eles deixam de ser
assumidos. A imposição por si própria contraria o princípio democrático da liberdade
e “comportamentos adequados” em situações sob controle extremo diferem
completamente da autonomia na construção de valores e atitudes (BRASIL, 1998).
Para se construir atitudes pressupõe-se que exista o conhecimento de
diferentes valores. Dessa maneira eles poderão ser apreciados, experimentados,
analisados criticamente e, por fim, eleitos livremente no sistema de valores do
sujeito, cujo comportamento pessoal se articula com inúmeros fatores sociais na
manutenção e transformação dos próprios valores (BRASIL, 1998).
Uma maneira de se obter o conhecimento dos valores é a partir de interações.
Araújo (1999) acredita que as interações, principalmente com a família, a partir da
transmissão social, reflexão e crítica, permitem a construção e internalização dos
valores nas crianças. Thumus (2003) também considera que às crianças devem ser
ensinadas qualidades, satisfações, apreços, interesses e valorações presentes nos
valores, para que sejam validados durante o seu crescimento, além da adaptação ao
meio ambiente, com a convivência com os outros e consigo mesma.
Thumus (2003) considera ser difícil ensinar valores, pois eles são a
capacidade que um sujeito tem de acumular uma necessidade de um ser
consciente, mas acredita que os valores não ganham significado de forma aleatória
e que a aprendizagem dos valores deve ser um processo intencional e orientado
para a satisfação máxima dos interesses, das necessidades e de todo o processo de
valoração da qualidade daquilo que buscamos ser e viver.
16
Sendo assim, há a necessidade de se educar, atividade em que se negociam
constantemente significados e sentidos de conhecimentos, experiências e valores –
próprios e do outro –, mesmo sem ter consciência do que se está negociando.
Acrescente-se a isso que a educação é um projeto de valores e que estes são
subjetivos e relativos às representações que os sujeitos têm de si (SOUZA, 2005).
Machado (2004) concorda com o fato de a educação ser um projeto de
valores, mas afirma que a educação na atualidade está em crise e carece de um
rumo e de metas que transcendam os limites da inserção social dos indivíduos. Esta
crise, segundo ele, se deve à ausência ou transformação radical nos valores e uma
saída para ela envolve uma redefinição de projetos e valores, o que implicaria em
alterações institucionais.
Uma característica importante na redefinição de projetos e valores é traçar
objetivos. Objetivos que explicitem um conjunto de princípios ou de valores que
sustentem os projetos educacionais evitaria que as ações educacionais não se
reduzam a meras tecnicidades (MACHADO, 2004).
Menin (2002) apresenta duas posturas sobre como podem ser as ações
educacionais ao se educar em valores: a primeira considera um conjunto de valores
como fundamentais e acredita que devam ser transmitidos a todos como verdades
acabadas. A segunda postura, por sua vez, acredita que a escola deva deixar que a
educação em valores ocorra de forma não planejada e que valores e contravalores
podem coexistir e nem sempre ser fruto de reflexão ou de sua clara adoção.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 2001) indicam que
essas questões devam ser objeto de reflexão como um todo, ao invés de cada
educador tomar isoladamente suas decisões, uma vez que valores e regras são
transmitidos por todos os professores, pelos livros didáticos, pela organização
institucional, pelas formas de avaliação, pelos comportamentos dos próprios alunos,
e assim por diante. Acrescenta também que os materiais usados como recurso
didático expressam valores e concepções a respeito de seu objeto e que a análise
crítica desse material pode representar uma oportunidade para se desenvolver os
valores e as atitudes com os quais se pretende trabalhar (BRASIL 1998). Em
resumo, as práticas disciplinares e regras que os educadores dispõem aos alunos
podem revelar uma grande diversidade de valores (MENIN, 2002).
17
O esforço, entretanto, deve ser para que a experiência de construção desses
valores e virtudes seja significativa para os sujeitos do conhecimento, de modo que
consigam integrá-los em suas identidades (ARAÚJO, 1999). Com base nisso, é
necessário que os educadores, ao inventar ou adotar uma prática, devam ter claros
os objetivos que pretendem atingir, e, sobretudo, os valores que querem trabalhar,
pois as práticas morais requerem a constante mediação dos valores para que não se
perca o entusiasmo (PUIG, 1998).
A educação, porém, não pode controlar todos os fatores envolvidos na
formação do aluno, pois suas atitudes não dependem unicamente da ação da
escola, e não se trata de impor valores, mas de ser coerente com os valores
assumidos, de possibilitar aos alunos uma discussão sobre eles e construir critérios
de escolha pessoal. Embora se saiba que intervenções produzam mudanças, sabe-
se também que tais mudanças não dependem apenas das ações pedagógicas
(BRASIL, 1998).
A concepção de que ensinar é tarefa da escola é muito arraigada em nossa
sociedade, mas se sabe que o processo educacional é muito mais complexo e se
desenvolve na escola, em casa, nas experiências do dia-a-dia e em mais uma
multiplicidade de formas e meios (GASPAR, 1992). O ensino dado nas escolas é
apenas uma modalidade da educação, chamada educação formal. Há também a
educação informal e a educação não formal, que podem se mostrar complementares
ao ensino escolar e benéficas a todos os agentes envolvidos no ensino e na
aprendizagem.
A educação formal corresponde a um modelo de educação sistemático,
organizado, hierarquicamente e cronologicamente estruturado e administrado de
acordo com um determinado conjunto de leis e normas, apresentando um currículo
bastante rígido com objetivos, conteúdos e metodologia. Corresponde ao processo
de educação adaptada, desde o jardim de infância, pelas escolas, até o ensino
superior, nas universidades (COOMBS, 1989; DIB, 1988).
Bem diferente da educação formal, a educação informal é definida por
Coombs (1989) como a aprendizagem pela exposição a um meio ambiente e pelas
experiências do dia-a-dia. Ele a caracteriza como sendo desorganizada,
desestruturada, não sistemática, e muitas vezes não intencional ou acidental. Tal
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educação é destinada a qualquer pessoa, não é obrigatória e compreende
atividades tal como visita a museus, leitura de textos sobre ciências, educação e
tecnologia em jornais e revistas; participação de concursos científicos, palestras e
conferências (DIB, 1988). Dib (1988) relata que quanto maior o grau de
sistematização e organização envolvida em atividades de educação informal, mais
próximas elas estarão da educação não formal.
A educação não formal corresponde a uma variedade de atividades
educacionais conscientemente organizadas e extremamente diversificadas, que
operam fora da estrutura do sistema educativo formal e que pode ser projetado para
atender aos interesses e necessidades específicas de aprendizagem em qualquer
população (COOMBS, 1989). Sua intenção é potencializar capacidades materiais,
institucionais, organizativas e culturais de pessoas e grupos com os quais o trabalho
é realizado e, dessa maneira, proporcionar novas formas de relação e espaços onde
seja possível vivenciar a Participação, a Democracia, a Solidariedade, entre outros
(CENDALES; MARIÑO, 2006).
Esta modalidade educacional apresenta características flexíveis quanto aos
procedimentos, objetivos e conteúdos adotados, o que torna mais rápida a reação
em face às mudanças que possam afetar as necessidades das pessoas e da
comunidade e, dessa maneira, impede que o tempo seja um fator pré-estabelecido,
e sim que dependa do ritmo do trabalho do aluno (DIB, 1988).
Cendales e Mariño (2006) comentam que os projetos de educação não formal
têm potencial formativo, possibilitando mudanças nos sistemas de conhecimento e
de valores das pessoas, criando espaços de encontro que permitam ir além dos
próprios limites, com o reconhecimento e a valorização dos aprendizados gerados
na experiência, e contribuem para tornar mais complexa a interpretação da realidade
e para enquadrar a vida e a experiência em contextos mais amplos.
É importante pontuar, entretanto, que, como diz Coombs (1989), os
programas de educação não formal, para que sejam bem-sucedidos, devem ser
verdadeiramente centrados no aprendiz e realizados em horários convenientes para
os potenciais participantes, devendo também ser capazes de manter o interesse, a
motivação e o senso de conquista dos participantes; caso contrário, não haverá
participação e o programa entrará em colapso.
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Um programa de educação não formal que vem apresentando relativo
destaque há mais de cem anos é o Movimento Escoteiro (UNIÃO DOS
ESCOTEIROS DO BRASIL, 2008a; 2009; 2011; ESCOTEIROS DO BRASIL, 2012).
Piaget (2003) explica que o ponto central do escotismo é alcançar um
equilíbrio mais flexível entre as duas morais da criança, que Baden-Powell, o
fundador do escotismo, compreendeu como um processo em que a moral do dever
constitui-se apenas como uma etapa do desenvolvimento da consciência e que o
Respeito unilateral exige, por seus fins, ser moderado pelo Respeito mútuo, até o
momento em que será definitivamente substituído por este. Piaget (2003) ressalta
que Baden-Powell compreendeu muito bem que o exemplo é tudo na educação e
que as relações das pessoas entre si constituem a verdadeira fonte dos imperativos
morais.
O Escotismo é, portanto, um movimento educacional de jovens, sem vínculo a
partidos políticos e voluntário, que conta com a colaboração de adultos e valoriza a
participação de pessoas de todas as origens sociais, raças e credos, de acordo com
seu propósito, seus princípios e o Método Escoteiro, concebidos por Baden-Powell,
e que no Brasil foram adotados pela União dos Escoteiros do Brasil, instituição que
representa o Escotismo em âmbito Nacional (UNIÃO DOS ESCOTEIROS DO
BRASIL, 2009; 2011).
O propósito do Movimento Escoteiro é contribuir para que os jovens assumam
seu próprio desenvolvimento, especialmente do caráter, ajudando-os a realizar suas
plenas potencialidades físicas, intelectuais, sociais, afetivas e espirituais, como
cidadãos responsáveis, participantes e úteis em suas comunidades, conforme
definido pelo seu projeto educativo (UNIÃO DOS ESCOTEIROS DO BRASIL, 2009;
2011; ESCOTEIROS DO BRASIL, 2012).
Não é apenas um movimento para jovens cuja gestão está totalmente nas
mãos dos adultos, mas sim um movimento de jovens que contam com o apoio dos
adultos. Desta forma se criou uma comunidade de aprendizagem de jovens e
adultos, que atuam igualmente, contribuindo na mesma proporção, em uma parceria
de entusiasmo e experiência (UNIÃO DOS ESCOTEIROS DO BRASIL, 2008a).
20
O enfoque educativo do Movimento Escoteiro se caracteriza como parte
integral do mundo em que cada um vive e é holístico para a educação dos jovens,
isto é, considera que cada jovem é um ser complexo, cuja identidade se forma
mediante interações e relações entre suas dimensões pessoais, o mundo exterior e
sua realidade espiritual. Acredita também que cada pessoa é única, com sua história
pessoal, seu conjunto de características e suas diferentes necessidades,
capacidades e ritmo de desenvolvimento (UNIÃO DOS ESCOTEIROS DO BRASIL,
2008a).
O Escotismo, como força educativa, propõe-se a complementar a formação
que cada criança ou jovem recebe de sua família, de sua escola e de seu credo
religioso, e de nenhum modo deve substituir essas instituições (UNIÃO DOS
ESCOTEIROS DO BRASIL, 2009). Baden-Powell (1986) explica que o plano do
escotismo foi baseado no princípio do jogo-educativo, numa recreação que leve o
ser humano à autoeducação.
Segundo a União dos Escoteiros do Brasil (2008a; 2009) o Método Escoteiro
é concebido como um grupo de elementos interdependentes formando um todo
unido e integrado. Cada um destes elementos tem uma função educacional,
destinada a contribuições específicas e devem estar apropriados ao nível de
maturidade do jovem. Dessa maneira, são necessários para que o sistema, como
um todo, funcione e devem ser usados de forma condizente com o propósito e os
princípios do Escotismo. De acordo com o material de Princípios, Organização e
Regras do Escotismo (POR) (UNIÃO DOS ESCOTEIROS DO BRASIL, 2009; 2011),
os elementos são:
- Aprender fazendo, isto é, educando pela ação e valorizando o aprendizado
pela prática, o treinamento para a autonomia, baseado na autoconfiança e iniciativa
e os hábitos de observação, indução e dedução;
- Vida em equipe, denominada “Sistema de Patrulhas”, incluindo a descoberta
e a aceitação progressiva de Responsabilidade, a disciplina assumida
voluntariamente e a capacidade tanto para cooperar como para liderar;
- Atividades progressivas, atraentes e variadas, compreendendo, jogos,
habilidade e técnicas úteis, estimuladas por um sistema de distintivos, vida ao ar
21
livre e em contato com a natureza, interação com a comunidade, mística e ambiente
fraterno;
- Desenvolvimento pessoal, com orientação individual, considerando a
realidade e o ponto de vista dos jovens, a confiança nas potencialidades de cada
jovem, o exemplo pessoal do adulto e seções com número limitado de jovens e faixa
etária própria;
- Aceitação da Promessa e da Lei Escoteira, base moral que se ajusta aos
progressivos graus de maturidade do indivíduo, tais como o dever para com Deus,
para com o próximo e para consigo mesmo.
A Promessa Escoteira é uma cerimônia realizada quando, após concluir um
período introdutório no Movimento, o jovem se considera preparado para assumir o
compromisso com os valores propostos na Lei Escoteira e promete, voluntariamente,
incorporá-los à sua vida (CASAGRANDE, 2008; UNIÃO DOS ESCOTEIROS DO
BRASIL, 2008b; 2010). O jovem faz um compromisso pessoal a um código de
comportamento e aceita, diante de um grupo de colegas, a responsabilidade de ser
fiel à palavra dada. A identificação com estes valores éticos e o esforço para viver de
acordo com os ideais são, portanto, um instrumento poderoso para o
desenvolvimento dos jovens (CASAGRANDE, 2008). A Promessa Escoteira é:
Prometo pela minha Honra fazer o melhor possível para cumprir meus deveres para
com Deus e minha Pátria, ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião e obedecer
à Lei Escoteira (UNIÃO DOS ESCOTEIROS DO BRASIL, 2008a; 2009).
Baden-Powell (1986) explica que a Lei Escoteira foi imaginada para servir de
guia às ações dos escoteiros, mais do que repressão às suas faltas. Diz que esta é
simplesmente uma declaração do que se espera de um escoteiro.
A Lei Escoteira é um código de conduta que se oferece aos jovens para que
eles escolham e orientem seu caminho na vida, além de ser um convite a que
incorporem esses valores à sua personalidade. Para que sejam coerentes, as
pessoas devem pensar e agir de acordo com seus valores (UNIÃO DOS
ESCOTEIROS DO BRASIL, 2008b).
22
Ela é proposta, não imposta. É uma proposta totalmente positiva e não-
arbitrária, expressa em uma linguagem acessível para os jovens e respaldada em
razões que os convidam a adotá-la (CASAGRANDE, 2008; UNIÃO DOS
ESCOTEIROS DO BRASIL, 2008b).
Sobre o conteúdo da Lei, o escotismo utiliza o apelo à sua Honra para formar
o caráter e à ajuda aos outros, e o equilíbrio entre a saúde física e a saúde moral
são os preceitos usados (PIAGET, 2003). Seus princípios básicos esvaziam e
eliminam o ego e impulsionam o avanço da boa vontade e da ajuda ao próximo
(BADEN-POWELL, 2007).
A Lei Escoteira sofreu alterações desde sua criação. Anteriormente, como
mostra um dos primeiros livros escritos por Baden-Powell em 1922 (BADEN-
POWELL, 2007), a Lei consistia nos seguintes artigos:
1. Pode-se confiar na honra de um Escoteiro.
2. O escoteiro é leal.
3. É dever do escoteiro servir ao próximo.
4. O escoteiro é amigo de todos.
5. O escoteiro é cortês.
6. O escoteiro é amigo dos animais.
7. O escoteiro obedece às ordens.
8. O escoteiro sorri e assobia em meio às dificuldades.
9. O escoteiro é econômico.
10. O escoteiro é limpo de pensamento, palavras e ações.
A essência se manteve, e a Lei escoteira ficou da seguinte maneira (BADEN-
POWELL, 1986):
1. O escoteiro tem uma só palavra; sua honra vale mais do que a própria vida.
2. O escoteiro é leal.
23
3. O escoteiro está sempre alerta para ajudar o próximo e pratica diariamente
uma boa ação.
4. O escoteiro é amigo de todos e irmão dos demais Escoteiros.
5. O escoteiro é cortês.
6. O escoteiro é bom para os animais e as plantas.
7. O escoteiro é obediente e disciplinado.
8. O escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades.
9. O escoteiro é econômico e respeita o bem alheio.
10. O escoteiro é limpo de corpo e alma.
Diante dos dez artigos, anteriores e atuais, da Lei Escoteira, valores
importantes para o desenvolvimento da moral dos jovens são encontrados e
trabalhados pelos chefes escoteiros durante as atividades semanais. A associação
de valores específicos aos artigos da Lei Escoteira não está prevista no regulamento
escoteiro, porém podem ser encontrados explícita ou implicitamente em cada um
deles. Os principais valores encontrados são:
a. Amizade
Amizade é algo profundo e maior que afinidade, envolvendo mais que afeição.
Possui exigências, tais como Franqueza, Sinceridade, aceitar com a mesma
seriedade as críticas e os elogios do amigo, Lealdade incondicional e auxílio a ponto
do sacrifício, e são estímulos poderosos para o amadurecimento moral e o
enobrecimento. A Amizade genuína requer tempo, esforço e trabalho para ser
mantida, sendo, de fato, uma forma de amor (BENNETT, 1995).
Baden-Powell (2007) explica que para se considerar alguém um amigo ou
irmão, não importa a que país, classe ou credo ele pertença. Para se ter Amizade
com alguém, é necessário dominar os próprios preconceitos e procurar encontrar as
boas qualidades que tenham. O autor complementa sua fala dizendo que o mundo é
uma fraternidade.
24
b. Cidadania
Alguns valores, para existirem e serem praticados, necessitam da existência
de um conjunto de outros valores. Eles isoladamente não diminuem a relevância um
do outro, mas quando encontrados em conjunto, potencializam seu poder de
atuação social e moral. Um exemplo é o da Cidadania, cuja construção segundo
Machado (2004), equivale à formação do cidadão. Esta é definida pelos PCN como
a “participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos,
civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de Solidariedade, Cooperação e
repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo Respeito”
(BRASIL, 1998, p. 7).
O conjunto de valores também é evidenciado por Bennett (1995), que
considera como bons cidadãos aqueles que conhecem suas obrigações e as
cumprem por meio do exercício da Responsabilidade, da Lealdade, da
Autodisciplina, do Trabalho e da Amizade.
Baden-Powell (2007) acrescenta os valores Caráter e Eficiência e diz que
estes farão com que o objetivo do escoteiro seja sempre, não apenas conquistar
posições ou um futuro para si, mas ter o poder de fazer o bem ao próximo e à
comunidade. O autor define qualidades de um cidadão, que são individuais: Caráter,
Inteligência, Saúde, Força, Habilidades e trabalhos manuais, e coletivas: serviço
para a comunidade.
Os PCN (BRASIL, 1998) determinam que uma educação comprometida com
a Cidadania necessite dos princípios de Dignidade (direito aos direitos humanos,
repúdio à discriminação e Respeito mútuo), Igualdade (garantia à todos a mesma
Dignidade e possibilidade de Cidadania sem irrelevar a existência das diferenças e
desigualdades), participação como princípio democrático (noção de Cidadania ativa)
e corresponsabilidade pela vida social (partilhar a responsabilidade pelos destinos
da vida coletiva).
Esses princípios se equivalem ao conjunto de valores universais utilizados por
Machado (2004) na intenção de educar para a Cidadania, que são realizados de
acordo com cada cultura e não aceitam relativismo ético radical.
25
c. Cooperação
A Cooperação é definida como o procedimento fundamental de educação
moral (BRASIL, 2001; PIAGET, 2003). Relações de Cooperação são relações entre
iguais, baseadas e reforçadoras do Respeito mútuo, e que traduzem o conceito de
Dignidade, além de priorizarem Diálogo e levarem à Autonomia (BRASIL, 2001).
Piaget (2003) acredita que tais relações provocam nas crianças a constituição de
personalidades autônomas e acrescenta o respeito às regras.
Puig (1998) afirma que a Cooperação é vivenciada constantemente nas
práticas de ação coletiva, juntamente com o Companheirismo e a ajuda mútua. É
possível observar isso em trabalhos em grupo nas salas de aula das escolas; as
crianças aprendem a fazer contratos, a honrar a palavra empenhada, a
comprometer-se na elaboração de projetos coletivos e a estabelecer relações de
reciprocidade, sempre sendo informados pelos professores sobre as regras de uma
relação de Cooperação, em que todos devem participar, opinar, perguntar, ouvir e
ajudar (BRASIL, 2001).
d. Cortesia
Cortesia é demonstrar deferência, compreensão humana e inquebrantável
humor. Isto faz de uma pessoa um gentil-homem. É também ser polido e atencioso
com todos, inclusive com os que estão contra você (BADEN-POWELL, 2007).
e. Disciplina
A Disciplina para Piaget (2003) corresponde ao cumprimento de dois tipos de
regras: a regra exterior, gerada pelo Respeito unilateral, que é sagrada e inatingível,
mas não é aplicada tão efetivamente; e a regra interior, gerada pelo acordo mútuo,
que é mais eficaz e supõe uma atmosfera de atividade e interesse.
Cortella e La Taille (2007), entretanto, possuem outro entendimento desse
valor. Dizem que a Disciplina é semelhante à força de vontade. No entanto essa
força é para evitar que a pessoa seja tentada a ter outras vontades secundárias, que
serão pensadas em função de um passado e de um futuro e poderão causar uma
descentração.
26
Bennett (1995) entende que na Disciplina, o indivíduo se torna “discípulo” de
si mesmo, pois é seu próprio professor, treinador, técnico e orientador. É importante
acrescentar a isso as convicções de Baden-Powell (2007), que diz que a Disciplina
deve vir do íntimo e nunca ser imposta de fora. Por isso o exemplo a ser dado aos
demais nesse sentido tem um grande valor.
f. Felicidade
Baden-Powell (2007) relata que estamos em um mundo de maravilhas e
belezas e que temos uma capacidade especial para apreciá-las, tendo às vezes a
alegria de poder dar uma ajudazinha para melhorá-las e, além disso, somos também
capazes de ajudar os outros em vez de procurar ultrapassá-los e vencê-los e,
através de tudo isso, gozar a vida. Realizar este conjunto de ações significa ser feliz
para o autor. Deve-se saber também que a Felicidade não é meramente passiva,
isto é, é impossível alcançá-la sem agir (BADEN-POWELL, 2007).
Baden-Powell (2007) diz entre os escoteiros, que um rapaz em apuros, em
complicações, em perigo ou sofrendo, deve forçar-se a sorrir ou a assobiar, e que
isto irá imediatamente alterar sua forma de encarar a situação. Diz também que não
conheceu ninguém que não aprovasse a ideia após tê-la, uma vez, experimentado
pessoalmente, pois dessa maneira ela alcança, indubitavelmente, o efeito desejado,
e também, quanto mais é praticada, mais se desenvolve o autocontrole com hábito,
e, portanto, como parte do caráter.
g. Generosidade
A Generosidade é considerada um valor mais subjetivo, inserido na cultura de
alguns grupos. Esse valor vai além da Solidariedade e do interesse pessoal,
pressupondo dar algo de si pelo prazer de ajudar alguém e sem esperar
recompensas (ARAÚJO, 1999). É citada também como o oposto do egoísmo e
considerada equivalente ao Altruísmo (ARAÚJO, 1999; PIAGET, 2003).
h. Honra
Existem dois tipos de Honra: a Honra-precedência e a Honra-virtude. A
Honra-precedência se caracteriza por alguém exigir deferência por possuir, por
exemplo, algum título. Trata-se de um privilégio. Já a Honra-virtude provém das
27
habilidades pessoais e traz, por essa razão, mérito e está ligada a categorias morais
(CORTELLA; LA TAILLE, 2007). Os autores também consideram que a Honra
corresponde ao Autorrespeito.
Souza (2005) denomina a Honra-virtude também como Honra interior e
explica que tal valor para o indivíduo, corresponde à representação de si como
pessoa moral, implicando, assim, uma coerência entre sua moral e ética, com as
ações de acordo com os ideais e com o agir e o pensar coerentes, no presente ou
no passado.
Baden-Powell (2007) acrescenta que a Honra corresponde a ser digno de
toda a confiança.
i. Integridade
Uma integração entre o discurso e a ação constitui um ingrediente
fundamental da ideia de Integridade (MACHADO, 2004). Cortella e La Taille (2007)
concordam que Integridade é ser honesto, sincero, solidário, humilde, e assim por
diante.
Para que uma pessoa seja íntegra, é necessário que disponha de uma
arquitetura de valores para instrumentar suas ações, permitindo um discernimento
autônomo do que considera certo e do que julga ser errado. É necessária também a
consonância entre as ações e o discurso, mesmo quando tal coerência possa
produzir efeitos desagradáveis para os envolvidos. Um indivíduo íntegro não pode
ter um perfeito discernimento dos temas que analisa e agir de modo dissonante do
que considera correto por razões de conveniência ou de interesse pessoal
(MACHADO, 2004).
A Integridade não se completa, entretanto, sem a abertura para o diálogo,
para uma negociação de significados, em que não estamos dispostos a abdicar
graciosamente de nossos princípios, mas aceitamos pô-los entre parênteses para
examiná-los em outras perspectivas, e, sobretudo, admitirmos que podemos estar
errados (MACHADO, 2004).
28
j. Lealdade
Bennett (1995) interpreta a Lealdade como a ação com atenção e seriedade
para com o país e os amigos. Ele a considera mais elevada do que estar sempre de
acordo com as instituições e a aproxima da Cidadania. Baden-Powell (2007)
complementa seu significado ao dizer que a Lealdade é um ponto proeminente na
formação do caráter. Ser leal consigo mesmo é tão importante quanto ser leal para
com os outros, e é uma qualidade preciosa, que deve ser cultivada e firmemente
mantida em qualquer circunstância, por qualquer homem que tenha um verdadeiro
sentimento de Honra (BADEN-POWELL, 2007).
Não precisamos gostar daqueles a quem somos leais e eles não precisam
gostar de nós. A Lealdade é a marca da constância, da solidez dos elos com as
pessoas, grupos, instituições e ideais a que deliberadamente nos associamos
(BENNETT, 1995).
Tais associações são observadas no escotismo, pois, como determinou
Baden-Powell (2007), o escoteiro é leal à Pátria, às autoridades do Governo, aos
seus pais, seus chefes, seus patrões e aos que trabalham como seus subordinados.
Como um bom cidadão você é de uma equipe, “jogando o jogo” honestamente para
o bem conjunto. Baden-Powell (2007) afirma dar ênfase à questão da Lealdade na
Lei Escoteira porque o líder precisa da Lealdade de seus homens, mas deve,
igualmente, ser leal a eles.
k. Obediência
É um valor de conduta individual que evidencia a importância do cumprimento
de deveres e obrigações diárias, além do Respeito aos parentes e aos mais velhos
(GOUVEIA, 2003). Schwartz (1992) diz que ações destinadas a expressar
Obediência são susceptíveis de sofrer conflitos com ações que buscam
independência, mas combinam com ações de promoção de ordem social. Gouveia
(2003) relaciona esse valor mais às pessoas mais velhas ou que receberam uma
educação tradicional.
29
l. Responsabilidade
A Responsabilidade é a base do sentido de vida de uma pessoa e, portanto,
seu máximo valor (RODRIGUES, 2003). É responder pelos próprios atos e é
também a disposição a assumir tais atos (BENNETT, 1995; RODRIGUES, 2003;
THUMUS, 2003). Responsabilidades fortalecem o caráter e também fortalecem a
influência benéfica de um indivíduo sobre os outros (BADEN-POWELL, 2007).
O homem é responsável por cada minuto de sua existência e por aqueles que
o rodeiam, pela Amizade, Amor, Afeto, desprendimento, compreensão dos erros,
hostilidades e injustiças dos outros. A vida sem Responsabilidade se torna
vegetativa, sem sentido e sem valor. Dessa forma, a liberdade se torna libertinagem
e o homem entra em um vazio existencial que ocasionará a frustração existencial
(RODRIGUES, 2003).
Baden-Powell (2007) explica que para ser capaz de aceitar
Responsabilidades é preciso ter confiança em si mesmo, conhecimento do seu
trabalho e prática em exercer a Responsabilidade. Bennett (1995) lembra que um
senso de Responsabilidade enfraquecido não enfraquece o fato da
Responsabilidade.
m. Tolerância
A Tolerância é, segundo Machado (2004), suscetível de muitas
incompreensões ou simplificações. Ele explica que a ideia de Tolerância funda-se no
reconhecimento da existência do outro que, assim como ele, ocupa um espaço, tem
direitos e deveres, mas é essencialmente diferente dele. No entanto, além de tomar
conhecimento da existência do outro, é necessário também buscar compreendê-lo, o
que exige a empatia com a expectativa de simetria, que pode ser vislumbrada
ampliando a ideia de compreensão ou indo além desta ideia, o que pressupõe o
Respeito, o reconhecimento e a assimetria.
Cortella e La Taille (2007) por sua vez, são contrários à palavra Tolerância,
pois em sua opinião ela significa suportar o outro, e não reconhecê-lo. Acrescentam
que a Tolerância reforça a ideia do individualismo, de descomunhão, de distância
entre as pessoas. Aconselham então que a palavra “tolerância” seja substituída por
“acolhimento”, que significa que eu o recebo na qualidade de alguém como eu.
30
Determinar com exatidão os valores transmitidos nas práticas educacionais
não é simples, mas aprender o que significam conceitos de valor é dar nome à
realidade, ser capaz de generalizá-la, de imaginá-la, de desejá-la, e, dessa maneira,
converter os conceitos de valor em ferramentas morais (PUIG, 1998).
31
2. METODOLOGIA
Visando alcançar o objetivo de identificar e analisar se o ensino de valores
veiculados pelo Movimento Escoteiro influencia a vivência de adolescentes que
participam desse movimento, foi realizada uma coleta de informações por meio da
escrita de diários no 72° Grupo Escoteiro Cassiano Ricardo, na cidade de São José
dos Campos, polo industrial no Vale do Paraíba (SP).
O local da pesquisa foi escolhido porque sou chefe escoteira no Grupo
Escoteiro em questão, trabalhando como voluntária na elaboração e aplicação de
atividades para o Ramo Escoteiro, composto por jovens de 10 a 14 anos e visando
educá-los ensinando coisas pertinentes para seu desenvolvimento pessoal e
coletivo.
O Grupo Escoteiro foi fundado em 1978. Suas atividades são realizadas todos
os sábados, exceto feriados e recessos, das 14h30 às 17h30, sempre sendo
iniciadas com o hasteamento da bandeira Nacional e encerradas com seu
arriamento.
Anterior a qualquer coleta de dados foi elaborado um projeto de pesquisa e
este foi enviado ao Comitê de Ética do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde –
CCBS. Após a aprovação, o Diretor Presidente do Grupo Escoteiro em questão foi
indagado sobre a possibilidade de realização da pesquisa com o Ramo Escoteiro, no
local e durante as atividades de rotina. Após ler a carta de informação à instituição
(Anexo I) e assinar a carta de consentimento livre e esclarecido (Anexo II), os outros
chefes do Ramo Escoteiro foram questionados sobre a realização da coleta de
dados e estes consentiram com a mesma.
Em seguida foram enviadas cartas de informação e de consentimento aos
responsáveis pelos participantes da pesquisa para aceitação desses, já que os
sujeitos são menores de idade.
Após receber todas as cartas de consentimento assinadas, utilizou-se um
sábado para fazer a coleta de dados. Todos os escoteiros foram chamados e se
32
posicionaram de maneira que fosse possível explicar a atividade que se realizaria,
sendo esclarecidas as dúvidas surgidas.
Foi perguntado aos escoteiros se eles conheciam a Lei Escoteira e todos
disseram que sim. Após isso receberam um Diário sobre a Lei Escoteira (Apêndice),
juntamente com uma caneta ou um lápis e foram dadas as instruções do que eles
teriam que fazer.
Os escoteiros foram orientados a ler a primeira página do diário, que contém
uma explicação do que eles deviam fazer. Em seguida, explicou-se que nas páginas
subsequentes havia os artigos da Lei Escoteira, e que os jovens deveriam escrever
um pouco o que eles entendiam sobre cada um dos artigos em questão, além de
escrever algo que aconteceu na vida deles ou de alguém que eles conhecem que
considerassem ter relação com os mesmos artigos.
Alguns jovens não entenderam muito bem a última parte da explicação. Então
se explicou novamente que eles deveriam, após escrever uma reflexão sobre cada
artigo da Lei, escrever um exemplo real destes, isto é, se lembrar de algo que
aconteceu na vida deles ou de algum conhecido, no Grupo Escoteiro, na escola, em
casa, na família ou em outro local, que conseguissem relacionar aos artigos da Lei.
Podiam ser exemplos da presença ou da ausência da mensagem passada a eles
pelos artigos.
Quando todos compreenderam o que deveriam fazer, foram liberados e
receberam a instrução de que era uma atividade individual e que deveriam se
espalhar pelo grupo escoteiro, escolhendo um local com sombra para se sentarem,
separados dos outros, e escreverem no diário.
Após uma hora e meia os escoteiros foram chamados novamente e, antes de
entregarem os diários já preenchidos, explicou-se a eles que os diários se tratavam
de uma forma de conseguir saber o que eles entendiam sobre a Lei Escoteira e se
esta transmite algum valor a eles, tanto em sua vida escoteira como em sua vida
fora do Movimento, colaborando ou não para suas ações cotidianas. Foi dito
também que com esses diários eles poderiam avaliar se e como seus pensamentos
e suas ações se modificaram com o passar dos anos.
33
Somente após essa conversa foi apresentado o propósito real com a
elaboração dos diários, seguido pela apresentação dos objetivos do trabalho de
conclusão de curso em questão. Pediu-se que os escoteiros colaborassem com a
coleta dos dados necessários para a pesquisa e foi garantido seu total anonimato na
mesma. Se desejassem colaborar podiam entregar os diários e, após a coleta das
informações lá presentes, estes seriam devolvidos a eles; caso contrário, não seriam
punidos de maneira alguma por isso. Dos 15 escoteiros que participaram da
atividade, 13 entregaram seus diários para servir de dados à pesquisa.
A explicação de que o diário consistia na coleta de dados do trabalho de
conclusão de curso em questão foi feita após a realização da atividade, para evitar
que os escoteiros fossem influenciados de alguma forma com as falas e a
apresentação do objetivo do mesmo.
O instrumento escolhido para a coleta de dados da pesquisa foi o Diário, pois
como afirmam André e Darsie (2008), este pode ser utilizado como um instrumento
de investigação didática com o registro das reflexões sobre a aprendizagem. Pádua
(2008) afirma também que os diários são locais de registro de histórias de vida, e
são documentos íntimos, em que se deve procurar obter informações tão
reveladoras e espontâneas quanto possível, com mínima influência do pesquisador.
Com os diários em mãos, os jovens fizeram registros de suas reflexões, de
acontecimentos ocorridos em seu cotidiano e até de suas histórias de vida.
Foi pedido que os jovens escrevessem relatos de fatos, que aconteceram em
suas vidas ou na vida de conhecidos, que se relacionassem aos artigos da Lei
Escoteira, pois, como apresentado em Brasil (1998), a construção de atitudes
pressupõe que exista o conhecimento de diferentes valores, e em Araújo (1999),
uma maneira de se obter o conhecimento dos valores é a partir de interações. Em
resumo, as atitudes ocorreram porque havia valores envolvidos, que fizeram o
indivíduo agir da maneira relatada e, para se conhecer esses valores, é necessário
estudar as interações ocorridas.
Os resultados foram apresentados em tabelas de acordo com os valores
determinados para cada um dos artigos contidos na Lei Escoteira, ou seja, 1º artigo=
Honra; 2º artigo = Lealdade; 3º artigo = Cidadania, Cooperação, Generosidade; 4º
artigo = Amizade, Tolerância; 5º artigo = Cortesia; 6º artigo = Cidadania,
34
Generosidade; 7º artigo = Disciplina, Obediência; 8º artigo = Felicidade; 9º artigo =
Responsabilidade e; 10º artigo = Integridade.
A proposta de valores para cada artigo da Lei Escoteira foi realizada, pois,
como afirma Puig (1998), é necessário que os educadores, ao inventar ou adotar
uma prática, tenham claros, além dos objetivos que pretendem atingir, os valores
que querem trabalhar. Dessa maneira o direcionamento do trabalho foi mais focado
e teve menos possibilidades de desvios na compreensão.
Por fim, visando alcançar os objetivos propostos, as análises realizadas foram
quantitativas e qualitativas, baseadas no referencial teórico elaborado. O referencial
teórico foi escrito com base em leituras consideradas relevantes ao entendimento e
à análise do trabalho, e as informações lá contidas foram selecionadas de acordo
com convicções pessoais, uma vez que uma discussão prolongada abordando todos
os pontos de vista existentes sobre o assunto em questão não foram consideradas
possíveis de ser realizadas em função do curto tempo disponível para a elaboração
do trabalho. Os resultados foram apresentados em formas de tabelas, que mostram
as reflexões e os relatos dos escoteiros de forma literal, além de pontuar os valores
que aparecem nas escritas. A discussão foi realizada em função de informações
gerais e específicas presentes nos diários. Bardin (2006) auxiliou na seleção de
dados e determinação de categorias no trabalho.
35
3. RESULTADOS
ARTIGO 1 – O ESCOTEIRO TEM UMA SÓ PALAVRA; SUA HONRA VALE MAIS QUE A PRÓPRIA VIDA
Tabela 1. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 1° artigo da Lei Escoteira.
Dados Diário
Presença do valor Honra
Presença de outro valor
Reflexão Relato
1 X “O escoteiro ter uma só palavra é ele não falar uma coisa e depois mudar de ideia”
“Como meu amigo que combinou uma coisa depois disse outra”
2 Responsabilidade “O escoteiro é bom para ter responsabilidade pra gente”
3
4 X “Temos que cumprir nossas palavras. Quando falamos temos que cumprir”
5 Integridade “Na minha escola, as pessoas mentem o tempo todo, minhas amigas mentiam para mim e para outras pessoas. Mas eu não minto muito. Na maioria das vezes sempre digo a verdade”
6 X “Que é uma pessoa que faz o que fala” “Quando um amigo fala que vai treinar, mas não vai”
7 X Honestidade
Verdade
“O escoteiro tem uma só palavra, acho que isso é ser honesto diz sempre a verdade. Sua honra vale mais que sua própria vida, acho que isso quer dizer que o escoteiro só faz coisas que são certas”
8 X “Honra sua palavra. A honra é mais importante do que sua própria vida”
9 X
“Eu penso que assim o escoteiro não terá duas opiniões,ou melhor, pode até ter, mas dirá somente aquela que está mais “correta” para sua vida e não mudará de opinião. E se o escoteiro não cumprir com essa palavra sua honra será rompida”
“Meu pai não estava feliz com seu relacionamento, e falava pra mim que não sabia se amava mais a moça e me deu esperanças de que iria se separar (já que eu não gosto da moça) e acabou que dois dias antes do meu aniversário e na véspera da festa, ele me falou que iria se casar com a moça!”
10 X “Ele não muda sua 1ª palavra, A honra é mais importante que sua vida!”
“Como eu não mudo”
11 X “Escoteiro tem só uma palavra: sua honra, que vale mais que sua vida”
12 X “Temos que cumprir o que falamos, pois minha honra faz que eu não minta”
13 X “Minha mãe me prometia várias coisas, mas a maioria das vezes ela não cumpria o que falava, mas sempre me pedia desculpas quando não cumpria o que prometia”
36
ARTIGO 2 – O ESCOTEIRO É LEAL
Tabela 2. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 2° artigo da Lei Escoteira.
Dados
Diário
Presença do valor
Lealdade
Presença de outro valor
Reflexão Relato
1 X “O escoteiro é leal porque ele não pode mentir tem que falar a verdade seja ela boa ou ruim”
“Eu uma vez trapaceei no futebol”
2 X “Escoteiro é leal por que não pode mentir. Ele tem que falar a verdade”
3 X “O escoteiro deve ser legal, não deve fazer provocações a outros escoteiros. Não deve enganar os outros”
“Uma vez quando estava lá em casa, eu ajudei minha mãe a fazer uma coisa e ela falou: Obrigado, você é muito legal”
4 X “Isso para mim é tipo o escoteiro ele fala a verdade. Ele não é mentiroso”
“Teve uma vez que eu tava indo para a escola e eu parei no bazar aí eu comprei algumas coisas e eu dei 5,00 reais e ele me deu o troco errado me deu dinheiro a mais eu falei a verdade e devolvi o dinheiro para ele e depois ele me deu o dinheiro certo”
5 X
“Na minha escola, eu tenho uma amiga que tem várias amigas e na minha sala, tem muita panelinha (grupos separados de amigos) e as amigas dela não gostam que ela se reveze entre elas, falam que ela não é leal a elas”
6 “Vejo isso no Rugby. Quando obedecemos nossos superiores”
7 X “O escoteiro por exemplo o escoteiro diz que vai fazer e realmente faz”
8 “Dizer a verdade”
9 X “Eu acho, que se a pessoa se comprometer com uma coisa, ela tem de cumprir. Ele é fiel ao que acredita, ele é fiel ao seu estilo de vida”
“Não tenho nenhum exemplo. =p”
10 X “Falou a verdade” “Quando na minha escola sumiu um celular a pessoa se entregou. Acho que isso foi leal”
11 X Verdade “O escoteiro é verdadeiro”
12 X “Sempre devemos ajudar um amigo! Em qualquer ocasião”
13 X
“Sempre que me contam um segredo, eu nunca digo a ninguém. Uma curiosidade que eu aprendi enquanto eu fazia Catequese é que o padre nunca conta a ninguém o que certa pessoa confessou a ele e um padre também ouviu a confissão de um bandido e não contou a ninguém onde o bandido se escondeu”
37
ARTIGO 3 – O ESCOTEIRO ESTÁ SEMPRE ALERTA PARA AJUDAR O PRÓXIMO E PRATICA DIARIAMENTE UMA BOA AÇÃO
Tabela 3. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 3° artigo da Lei Escoteira.
Dados
Diário
Presença do valor
Cooperação
Presença do valor
Cidadania
Presença do valor
Generosidade
Presença de outro
valor Reflexão Relato
1 X X X “Nós escoteiros temos que ajudar os necessitados”
“Faltei na escola para ajudar minha mãe a arrumar a casa”
2 X X X “Ele ajuda as pessoas que estão precisando de alguma”
“O meu amigo um dia me ajudou a fazer tarefa”
3 X X X Tolerância “Não devemos zombar das duvidas dos outros pois um dia pode acontecer com a gente”
“Na escola já ajudei um amigo que estava com duvida”
4 X X X Altruísmo “Ele ajuda as pessoas”
“Teve uma vez que eu, a Adriana, a Larissa e a Bruna estávamos no Shopping e vimos um menino chorando aí agente perguntou se tinha acontecido algo e ele ficou chorando chamando a avó dele. Aí a gente meio que se separou e encontramos a avó dele e á levamos para ele nós fizemos uma boa ação sem esperar nada em troca”
5 X X X “Eu não pratico diariamente uma boa ação! Mas estou sempre pronta para ajudar o próximo”
6 X X X “No Rugby, quando um colega cai no treino ou jogo eu o ajudo a levantar”
7 X X X “O escoteiro está sempre alerta para ajudar pessoas em dificuldades, faz sempre uma coisa boa”
8 X X X “Sempre estar disposto a ajudar o próximo” “Não pode ver muita coisa mas ajudei minha avó a encontrar o celular hoje”
9 X X X “Diariamente ou quase todos os dias, ele faz uma coisa boa. E ele sempre está pronto pra ajudar o seu amiguinho lindo!”
“2 vezes eu e as thucas: Camila e Bianca, ajudamos criancinhas pra encontrar os papaizinhos lindos!”
10 X X X “Quando na minha natação, minha touca rasgou e minha amiga me emprestou outra. Ela me ajudou!”
11 X X X “O escoteiro está sempre preparado para ajudar os outros”
12 X X X
Ajudar as pessoas não custa nada, principalmente se for: Deficiente, pessoas com problemas e idosos. E também é em todas ocasiões que devemos ajudar o próximo.
13 X X X
“Na minha sala tem um garoto que não fala com ninguém e só tira notas baixas. Então ele 10 minutos antes de uma prova ele me perguntou se eu não podia ajudar com umas dúvidas que ele tinha sobre a prova então eu o ajudei explicando o que iria cair na prova, no seguinte ele tirou 9,5 e me agradeceu, agora ele é o meu melhor amigo”
38
ARTIGO 4 – O ESCOTEIRO É AMIGO DE TODOS E IRMÃO DOS DEMAIS ESCOTEIROS
Tabela 4. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 4° artigo da Lei Escoteira.
Dados
Diário
Presença do valor Amizade
Presença do valor
Tolerância
Presença de outro valor
Reflexão Relato
1 X “Isso quer dizer que nós temos que ter amizade com todo mundo”
“Como uma vez que eu chamei um menino chato para jogar bola”
2 X “Sim é verdade tem que ter amizade com todas as pessoas”
3 X “Devemos ter inimizades, devemos amar nossos próximos”
“Tenho bastante amigos mas deixo de lado os mal elementos”
4 X “Todos nós somos amigos nós somos uma família”
5 “Eu sou muito tímida para ser amiga de todos”
6 Cooperação “Que um ajuda o outro” “Que quando um amigo precisa de ajuda vai ajudar”
7 X “O escoteiro é amigo de todo mundo”
8 “Meu amigo”
9 X X “Ele não faz ‘bullying’ com os outros amiguinhos e irmãozinho e BFF do coleguinha!”
“Exemplo: EU, MÃFI E BIBI!! =D”
10 Felicidade Bondade
“A minha BEST é a prova disto, ela não tem inimigos e dá risada sempre. Ela é uma pessoa boa!”
11 X “O escoteiro é amigo de todos e irmão dos escoteiros”
12 X “Não devemos julgar ninguém, pois somos todos humanos”
13 X
“Quando eu era lobinho tinha um garoto que ninguém queria falar com ele até que num jogo ele teve que ser dupla do meu primo que o odiava, mas eu o expliquei que a gente não pode julgar uma pessoa sem conhecê-la. Agora vejo ele brincando todos os sábados com meu primo”
39
ARTIGO 5 – O ESCOTEIRO É CORTÊS
Tabela 5. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 5° artigo da Lei Escoteira.
Dados
Diário
Presença do valor Cortesia
Presença de outro valor
Reflexão Relato
1 Generosidade “Quer dizer que os escoteiros não esperam nada em troca de favores”
“Como o meu amigo que queria R$ em troca de um favor”
2 Generosidade “O escoteiro ele faz as coisas pensando em ajudar não, em algo em troca”
3 Generosidade
Cidadania “Devemos dividir nossos alimentos”
“Um dia estava em um lugar e uma menina pequena ficou olhando meu lanche, e aí dei um pra ela”
4 Generosidade
Cidadania “Eu já ajudei varias pessoas e sou muito fofa kk”
5 Generosidade
Cidadania “Alguém generoso, que ajuda as pessoas. Obs: não sei o que significa ‘ser' cortês’”
6 Generosidade
Cidadania “Pensa no próximo” “Vejo isso em doações de alimentos”
7 Gentileza “O escoteiro é gentil”
8 Generosidade “Estende a mão para os próximos”
9 X “Ele tem etiqueta e é educado em todas as ocasiões” “Exemplos: Bia – Beatriz, ela é tão educadinha! >.< *_*”
10 Generosidade
Cidadania “Eu sempre ajudo a todos... Pra mim isto é ser cortês”
11 Bondade “O escoteiro é legal, uma pessoa boa tipo uma amigo, irmão, mãe etc”
12 Generosidade
Cidadania
“Eu por exemplo: Se acabar a comida eu dou o que tiver pra sustentar a fome de quem tiver ao meu lado”
13 X “Meus pais nunca me ensinaram a ser mal-educado e o escoteiro sempre me fez ser mais educado”
40
ARTIGO 6 – O ESCOTEIRO É BOM PARA OS ANIMAIS E AS PLANTAS
Tabela 6. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 6° artigo da Lei Escoteira.
Dados
Diário
Presença do valor
Cidadania
Presença do valor
Generosidade
Presença de outro valor
Reflexão Relato
1 X X “Não podemos maltratar os animais e nem as plantas”
2 X X “Sim é verdade ele ajuda os animais”
3 X X “Não devemos judiar, matar as plantas e animais, pois eles também têm vida”
“Tenho cachorro e cuido muito bem dele”
4 X “Nós respeitamos o bem alheio” “Eu amo os animais e plantas”
5 “Eu adoro os animais e adoro as plantas também”
6 X X “Cuida deles” “ONGs de proteção de animais e Greenpeace e WWF”
7 X X “O escoteiro não faz o mal para ninguém”
8 X X “Não ser mal às plantas”
9 X X “Ele não joga lixo na natureza e cuida dos bichinhos lindos que encontra”
“Ex: Eu vi uma cobrinha fofa e verdinha no meio do caminho do Parque da Cidade e a moça ia matá-la e eu não deixei eu e a Bianca”
10 X X Bondade “Devemos ser bons” “Eu quando vejo animais e plantas eu sempre ajudo”
11 X X “O escoteiros é bom com todos animais e plantas”
12 X X “Nunca devemos destruir, pois as plantas e os animais também têm vida”
13 Amizade
“Quando tinha 8 anos eu ganhei um cachorro mas eu morria de medo de cachorro, até que um dia eu estava muito triste e ele veio me consolar. A partir daquele dia perdi o medo de cachorro e arranjei um amigo canino”
41
ARTIGO 7 – O ESCOTEIRO É OBEDIENTE E DISCIPLINADO
Tabela 7. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 7° artigo da Lei Escoteira.
Dados
Diário
Presença do valor
Disciplina
Presença do valor
Obediência
Presença de outro valor
Reflexão Relato
1 X “Sim obedeço os mais velhos”
2 X “Sim eu obedeço a minha mãe e todos mais velhos”
3 X “O escoteiro obedece os mais velhos” “Um dia já desobedeci minha mãe, e tive uma consequência”
4 “Uma coisa que não sou muito”
5 X “Eu sou +- disciplinada e +- obediente”
6 X “Rugby. Quando obedecemos nosso técnico”
7 “Seja como a Débora”
8 X “Ele obedece os mais velhos”
9 X X “Ele obedece todos os mais velhos e tem disciplina” “Ex. Eu obedeço minha mamãcinha (mãe) e sou disciplinada (na medida do possível) kkk! =D”
10 “Seja como a Camilla”
11 Educação “O escoteiro é educado”
12 Tolerância “Não devemos julgar, bater, abusar muito menos zombar. Por que nós não gostaríamos que fizessem isso com a gente”
13 Educação
“Uma coisa que meus pais me ensinaram muito bem foi ser educado. Num dia que eu fui fazer trabalho de escola em grupo na casa do meu amigo, e percebi que é mal educado com a mãe dele”
42
ARTIGO 8 – O ESCOTEIRO É ALEGRE E SORRI NAS DIFICULDADES
Tabela 8. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 8° artigo da Lei Escoteira.
Dados
Diário
Presença do valor
Felicidade
Presença de outro valor
Reflexão Relato
1 X “Mesmo que esteja com dificuldades temos que sorrir”
2 X “Mesmo nas dificuldades temos que ser alegres”
3 X “O escoteiro não fica triste por qualquer coisa, nem nas horas de apuros”
4 X
“Teve uma vez que eu estava super depre aí o chefe Frazão falou pra mim que o escoteiro sorri nas dificuldades. Isso me ajudou me deixou mais para cima e comecei a ser mais feliz mais que já sou. Então uma lição de moral kkk seja feliz sua vida será Bem melhor”
5 X “Minha mãe uma vez me disse que eu estou sempre feliz e nada me abala, nada me deixa para baixo”
6 “No Rugby quando tem treinos fortes”
7 “Seja como a Camila”
8 X “Ser feliz”
9 X “Mesmo quando ele está triste ou com problemas ele sorri” “Ex: Euzinha e a Mãfi! Ah! A Bibi também!”
10 “Seja como eu! Tenha de amigas a Dri e a Cah! Bom proveito!”
11 X “O escoteiro fica alegre até quando está passando dificuldade”
12 Fé “Quando a vida nos derrubar nunca se dê por vencido! Por que é só ter fé que você supera suas dificuldades”
13
43
ARTIGO 9 – O ESCOTEIRO É ECONÔMICO E RESPEITA O BEM ALHEIO
Tabela 9. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 9° artigo da Lei Escoteira.
Dados
Diário
Presença do valor
Responsabilidade
Presença de outro valor
Reflexão Relato
1 X “O escoteiro não gasta mais do que o necessário”
2 Obediência “Sim temos que obedecer os outros para eles serem também”
3 X Respeito “Não desrespeita, cuida bem do bem alheio, economiza as coisas”
4 X Cidadania “Ele ajuda o meio ambiente” “Eu na escola tava andando e vi uma torneira aberta e fui e fechei aí todos falaram muito Bem Camila e eu falei sou uma boa escoteira todos riram kkk”
5 X “Eu tento ser bem econômica com meu dinheiro”
6 X “Gente que usa o necessário”
7 X Respeito “O escoteiro economiza e respeita as coisas dos outros”
8 Respeito “Respeitar os outros”
9 X Respeito “Ele não destrói as coisas que não são dele e economiza para comprar uma coisa que quer muito”
“Eu fiz isso com meu porquinho, guardei bastante e quebrei, fiz uma conta no Banco e guardei o dinheiro, e ainda deposito dinheiro lá para meus estudos, para minha universidade”
10 X Respeito “Economize e respeito os ‘MÃOS FECHADAS’”
11 X Respeito “O escoteiro economiza e respeita as pessoas”
12 X
“Nunca gaste a toa, pois se eles têm a piscina nós temos um rio, se eles têm comidas saborosas nos temos as milhões de árvores com frutas, e se eles têm o teto nós temos o infinito e lindo céu com estrelas”
13
44
ARTIGO 10 – O ESCOTEIRO É LIMPO DE CORPO E ALMA
Tabela 10. Informações contidas nos diários analisados, referentes ao 10° artigo da Lei Escoteira.
Dados
Diário
Presença do valor
Integridade
Presença de outro valor
Reflexão Relato
1 X “O escoteiro não deve nada para ninguém”
2 X “O escoteiro não deve nada para ninguém”
3 X Cidadania “Toma banho todo dia, é sempre higiênico, não fala mentira respeita a
todos, não pensa em bobagem”
4 X Cidadania “Se higieniza e não tem peso na consciência”
5 Cidadania “Que não carrega nenhum pecado. E toma bastante banho diariamente”
6 X Cidadania “Não pensa besteiras como pornografia e toma banho”
7 Pureza “O escoteiro é puro”
8 X Cidadania “Ser limpo espiritualmente e fisicamente”
9 X Cidadania
“Ele é limpinho belezinha por fora e por dentro, tem um pensamento
limpo e uma consciência limpa! Não pensa em coisas supérfulas ou
banais”
10 X Cidadania “Ele toma banho e seja “limpo” de alma >.<!”
11 X Cidadania “O escoteiro tem a alma e o corpo limpo”
12 X “Roubar, ter inveja não ajuda em nada o que realmente ajuda é ser
verdadeiro de coração e sempre batalhar pelas coisas que você quer”
13
45
4. DISCUSSÃO
REFLEXÕES
A partir das reflexões escritas pelos escoteiros, foi possível relacionar os
valores propostos, veiculados pelos 10 artigos da Lei Escoteira, além de outros, com
atitudes e pensamentos expressos nos diários. Considerando que o número total de
diários é 13 e foi pedido que escrevessem sobre cada um dos 10 artigos da Lei
Escoteira, esperava-se que houvesse 130 reflexões. No entanto, alguns optaram por
escrever apenas relatos em alguns artigos da Lei, ou até mesmo deixá-los sem
escrita. Sendo assim, o número total de reflexões encontradas foi 90, distribuídas
entre os diários (Figura 1).
Figura 1. Número de Reflexões escritas em cada Diário.
Dentre todas as reflexões, foi possível dividi-las em 3 diferentes modelos. O
primeiro modelo engloba reflexões que se mostraram aprofundadas e exigiram
dedicação e real reflexão do escoteiro para serem escritas. Um exemplo delas é
encontrado no diário 9 sobre o 1º artigo da Lei – O escoteiro tem uma só palavra;
0
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3
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5
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Nú
me
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e R
efl
exõ
es
Diários
46
sua Honra vale mais que a própria vida –: “Eu penso que assim o escoteiro não terá
duas opiniões,ou melhor, pode até ter, mas dirá somente aquela que está mais
‘correta’ para sua vida e não mudará de opinião. E se o escoteiro não cumprir com
essa palavra sua Honra será rompida”.
O segundo modelo, por sua vez, é o das reflexões consideradas
simplificadas, sem demonstrar grande dedicação na hora da escrita. O diário 7 no 4°
artigo da Lei – O escoteiro é amigo de todos e irmão dos demais escoteiros – ilustra
isso: “O escoteiro é amigo de todo mundo”.
Por fim, o terceiro modelo inclui reflexões que são cópias dos artigos da Lei,
ou pequenas alterações em suas palavras, como no diário 11, artigo 6 – O escoteiro
é bom para os animais e as plantas –: “O escoteiros é bom com todos animais e
plantas”. Esse modelo não demonstra se o escoteiro que o escreveu tem ou não
alguma opinião formada sobre o significado do artigo em questão, tornando difícil
uma análise do mesmo desacompanhado de um relato.
Tal variedade de reflexões pode ser encontrada em todos os diários, isto é,
mais de um modelo é encontrado em um mesmo diário ao longo dos artigos da Lei.
De tal modo, a presença de modelos mais simplificados ou cópias pode não indicar
um descaso na elaboração do diário. Pode ser fruto de distração, dificuldade de
interpretação, desconhecimento, impaciência e vontade de terminar logo a escrita ou
até mesmo faltou a percepção de que fora feita uma cópia.
O dono do diário 13 não fez contribuições na escrita das reflexões, mas
escreveu um número significativo de relatos (Figura 2), que possuem grande
importância por colaborar na análise de outras questões no trabalho.
RELATOS
Somando todos os relatos realizados nos diários, chega-se a um total de 65,
com contribuições variando de um diário para outro (Figura 2).
47
Figura 2. Número de Relatos escritos em cada diário.
Ao realizar os relatos, os jovens tiveram que se lembrar de situações
ocorridas consigo ou com outras pessoas. As atitudes apresentadas em cada uma
delas indicam que tiveram algum grau de relevância nas vidas dos escoteiros, caso
contrário eles se lembrariam destas em particular.
Em 25 relatos foram citados, de alguma forma, os locais onde estes
ocorreram. Pode-se dizer que é um número baixo tendo em vista a diversidade de
relatos realizada.
Os locais citados foram: escola (nos diários 3, 4, 5(x2), 10 e 13), espaço de
prática de esporte (diários 1(x2), 6(x5) e 10), residência (diários 1, 3 e 13), espaço
de prática religiosa (diário 13(x2)), Grupo Escoteiro (diários 4 e 13), espaço de
descontração (diários 4 e 9), espaço comercial (diário 4) e ONGs (diário 6). Com
essas informações é possível observar que a Lei Escoteira e sua interpretação
envolvem uma abrangência das atitudes de valor dos jovens.
Apesar de a Lei Escoteira ter sido imaginada para servir de guia às ações dos
escoteiros (BADEN-POWELL, 1986), isso não significa que estas devam ser
exercidas somente nas atividades e acampamentos escoteiros, e sim no dia-a-dia
dos jovens e em todos os ambientes onde estiverem presentes. Isso está bem
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e R
ela
tos
Diários
48
evidente nas ações descritas, pois não fizeram relatos relacionando apenas fatos
que ocorreram no Movimento Escoteiro. Estes, aliás, apareceram em pequena
quantidade se comparados às citações dos outros lugares.
Todos os locais mencionados foram palco de atitudes de valor, estando este
ausente ou presente nas determinadas situações. Dessa forma, pode-se dizer que a
aprendizagem dos valores também ocorre lá. Este aprendizado corresponde à fala
de Gaspar (1992), de que o processo educacional se desenvolve na escola, em
casa, nas experiências do dia-a-dia e em mais uma multiplicidade de formas e
meios. O Movimento Escoteiro se inclui aí, pois é um local em que ocorre a
educação não formal, e é, por esta razão é capaz de produzir projetos com potencial
formativo que possibilitam mudanças nos sistemas de conhecimento e de valores
das pessoas (CENDALES; MARIÑO, 2006).
Os diários 2, 7, 8 e 12, apesar de apresentarem, se somados, um total de 8
relatos, não citaram os locais onde ocorreram os mesmos. Considerando que a
escrita foi livre e não foi dito em nenhum momento que obrigatório escrever aonde
ocorreram seus relatos, cobranças a respeito disto devem ser deixadas de lado.
Apesar de não ser possível analisar a abrangência das atitudes de valor desses
diários, é possível, assim como nos outros diários, relacionar os valores veiculados
pelos 10 artigos da Lei Escoteira às atitudes expressas pelos escoteiros analisados,
e avaliar se estes relacionam suas atitudes à mesma Lei.
Em alguns diários observou-se que mais de uma pessoa foi citada em um
mesmo relato. Isso demonstra que, nessas situações, os valores aparecem a partir
das interações entre as pessoas, o que é muito importante, pois segundo Araújo
(1999), as interações a partir da transmissão social, reflexão e crítica são
responsáveis pela construção e internalização dos valores nas crianças. A União
dos Escoteiros do Brasil (2008a) diz também que a identidade de cada jovem é
formada por meio de suas interações e relações entre as dimensões pessoais, o
mundo exterior e a realidade espiritual.
Todas essas pessoas que aparecem nos relatos foram citadas em situações
boas ou ruins, onde o valor mencionado apresentava-se presente ou ausente
(Figura 3).
49
Figura 3. Número de citações por indivíduo relatado e presença ou ausência do valor
nos relatos.
Em sua maioria os jovens falaram sobre situações ou atitudes pessoais em
que se evidencia a presença do valor em questão. Um exemplo dessa situação é o
do diário 4, sobre o 4º artigo da Lei – O escoteiro está sempre pronto para ajudar o
próximo e pratica diariamente uma boa ação –: “Teve uma vez que eu a Adriana a
Larissa e a Bruna estávamos no Shopping e vimos um menino chorando aí agente
perguntou se tinha acontecido algo e ele ficou chorando chamando a avó dele. Aí a
gente meio que se separou e encontramos a avó dele e á levamos para ele nós
fizemos uma boa ação sem esperar nada em troca”. Esse relato evidencia os
valores propostos para aquele artigo (Cidadania, Cooperação e Generosidade) e cita
uma situação pessoal em que as amigas estavam presentes. Sendo assim, na figura
3 há contabilização para um relato do indivíduo e para um relato positivo de amigo
(a), ambos com presença do valor.
Já o relato do diário 13 sobre o 1º artigo da Lei – O escoteiro tem uma só
palavra; sua Honra vale mais que a própria vida – demonstra que o valor proposto
(Honra), apesar de compreendido, está ausente: “Minha mãe me prometia várias
coisas, mas a maioria das vezes ela não cumpria o que falava, mas sempre me
pedia desculpas quando não cumpria o que prometia”. Nesta fala é possível
perceber que foi compreendido o significado de Honra, pois o jovem percebe que
40
13
1
5 6
2 1
0
5
10
15
20
25
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Indivíduo Amigo(a) Mãe/Pai Padre
Nú
me
ro d
e c
itaç
õe
s
Indivíduos citados
Valor Presente
Valor Ausente
50
deve haver coerência entre o pensar e o agir da pessoa, mas o relato escolhido foi
de um episódio em que ele considerou que o valor deveria existir, mas estava
ausente. Apesar das desculpas da mãe, não me parece que o filho a considere
digna de toda a confiança após as repetidas promessas não cumpridas. Nessa
situação, foi contabilizado no gráfico uma citação para a mãe, em que o valor está
ausente.
Foi possível verificar em alguns relatos se quem o escreveu foi do sexo
masculino ou feminino. Um exemplo disso ocorreu no diário 5 com o relato: “Eu tento
ser bem econômica com meu dinheiro”. Ao dizer isso, a escoteira mostrou ser do
gênero feminino. Identificaram-se também meninas donas dos diários 4 e 9 e
meninos nos diários 12 e 13. Os outros diários não possuem uma referência direta
ao gênero.
O escoteiro que escreveu no diário 11 não realizou nenhum relato em seu
diário. No entanto, escreveu diversas reflexões, que serão estudadas e analisadas a
fim de alcançar os objetivos propostos.
O detalhamento da análise sobre os valores mencionados pelos escoteiros
em cada um dos artigos da Lei permite que a pesquisa se torne mais aprofundada e
embasada, de forma que os objetivos sejam mais fielmente alcançados.
ARTIGO 1: O ESCOTEIRO TEM UMA SÓ PALAVRA; SUA HONRA VALE MAIS
QUE A PRÓPRIA VIDA
Diários cujo valor Honra está presente:
Dos 13 diários, não há nada escrito para este artigo apenas no diário 3.
Sendo assim, há um total de 12 comentários sobre o 1° artigo da Lei Escoteira. A
proporção de todos os valores mencionados nos diários pode ser visualizada na
figura 4.
51
Figura 4. Valores presentes nos diários, referentes ao 1° artigo da Lei Escoteira.
A Honra está presente, tanto em reflexões como em relatos e, na maioria dos
diários corresponde ao cumprimento da palavra. Isso é visto nos diários 1, 4 –
“Temos que cumprir nossas palavras. Quando falamos temos que cumprir” –, 6, 9,
12 e 13. Ao ter uma só palavra o escoteiro demonstra ter um discernimento entre a
sua opinião e a dos outros, conseguindo assim seguir os seus próprios ideais, que
são o cumprimento da mesma palavra. Esse conjunto de ações coerentes é, para
Souza (2005), a representação de uma pessoa que possui em seu caráter a Honra-
virtude e se representa como pessoa moral.
No diário 7 está escrito: “[...] Sua Honra vale mais que sua própria vida, acho
que isso quer dizer que o escoteiro só faz coisas que são certas”. Este escoteiro
também se adéqua à interpretação de Souza (2005) sobre o significado de Honra,
pois, ao dizer que a Honra significa agir de acordo com o que se considera certo, há
também a implicação de coerência entre o agir e o pensar e, portanto, sua moral e
sua ética são também coerentes. Interpretando o artigo dessa maneira, se o
escoteiro agir como tal, será, como disse Baden-Powell (2007), digno de toda a
confiança.
As escritas nos diários 8, 10 e 11, apesar de possuírem o mesmo conteúdo
dos diários citados, se enquadram no terceiro modelo de reflexão, isto é, não se
mostraram muito aprofundadas, sendo muito semelhantes ou até idênticas ao artigo
da Lei escrito no topo da página.
10
1
1
1
1
Honra
Responsabilidade
Integridade
Honestidade
Verdade
52
Diários que apresentam outros valores:
Além da Honra, é possível também observar que em todos esses diários o
valor Integridade está presente na escrita ao considerar Machado (2004), quando
afirma que a integração entre o discurso e a ação são fundamentais na ideia de
Integridade.
A ideia de Integridade é observada sem a Honra no diário 5 com o relato: “Na
minha escola, as pessoas mentem o tempo todo, minhas amigas mentiam para mim
e para outras pessoas. Mas eu não minto muito. Na maioria das vezes sempre digo
a verdade”. Ainda não há, como diz Machado (2004), uma total consonância entre
as ações e o discurso do jovem, fato que define a Integridade. Isto pode estar
ocorrendo porque há a possibilidade de que falar a verdade produzirá efeitos
desagradáveis para ele. Entretanto, é possível observar que a Integridade é
apresentada com as observações das ações das outras pessoas, mesmo estando
ausente nas atitudes destas e eventualmente presentes em suas. Com estas
constatações, o valor poderá ser analisado e, segundo os PCN (BRASIL, 1998),
eleito livremente em seu sistema de valores, fato que parece já estar ocorrendo.
O diário 2 fala sobre Responsabilidade. É compreensível que no artigo que
expressa a Honra apareça a Responsabilidade, pois são valores complementares, já
que Honra é o mesmo que agir de acordo com os próprios ideais, ambos coerentes
entre si (SOUZA, 2005) e Responsabilidade é responder pelos próprios atos,
assumindo-os (BENNETT, 1995; RODRIGUES, 2003; THUMUS, 2003).
Outro trecho presente no diário 7 é: “O escoteiro tem uma só palavra, acho
que isso é ser honesto diz sempre a verdade”. A Honestidade e a Verdade são os
valores principais aí presentes, que podem se relacionar à Honra no sentido de
envolverem uma coerência entre moral e ética.
ARTIGO 2: O ESCOTEIRO É LEAL
Diários cujo valor Lealdade está presente:
A Lealdade está presente na escrita dos diários 1, 2, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11 e 13,
53
e abre margens para mais de uma interpretação. Além disso, a proporção de todos
os valores mencionados nos diários pode ser visualizada na figura 5.
Figura 5. Valores presentes nos diários, referentes ao 2° artigo da Lei Escoteira.
Nos diários 1, 2, 4, 8 e 10, os relatos indicam que ser leal corresponde a dizer
a verdade. Um diário que caracteriza esse grupo é o 1: “O escoteiro é leal porque
ele não pode mentir tem que falar a verdade seja ela boa ou ruim. Eu uma vez
trapaceei no futebol”. Não mentir e falar a verdade, mesmo quando esta não for boa,
indica, como disse Bennett (1995), a seriedade para com os outros, que é uma das
significações da Lealdade. Entretanto, mesmo compreendendo o significado do valor
na teoria, o escoteiro não o aplica na prática. Ele não demonstrou com essa ação,
uma solidez de seus elos com os outros jogadores no futebol e também não foi leal
consigo mesmo. Como disse Baden-Powell (2007), não basta ter a Lealdade dos
outros, é preciso também ser leal a eles.
Se a moral, como diz Puig (1998), é resultado das soluções dadas a situações
conflitantes que somos obrigados a enfrentar, e a ação moral, como afirma Araújo
(1999), é possuir uma coerência entre o pensamento e a ação, então este escoteiro
ainda não tem integrados a sua identidade valores suficientes que o façam agir de
forma moral em todas as situações. Ele demonstra em seu discurso que
compreende o valor, o que é muito positivo, pois como dizem os PCN (BRASIL,
1998), para se construir atitudes pressupõe-se que exista o conhecimento de
diferentes valores. Dessa maneira eles poderão ser experimentados, apreciados e
12
1
Lealdade
Verdade
54
analisados criticamente e, assim, ser eleitos em seu sistema de valores e, por fim
tornar o discurso e a ação condizentes.
Mais do que falar a verdade, o escoteiro que escreveu o diário 11 acredita
que ser leal é ser verdadeiro. Minha interpretação desta fala é a de que ser
verdadeiro corresponde a demonstrar a mesma constância e solidez dos elos que
Bennett (1995) menciona ao definir Lealdade. Como Baden-Powell (2007) disse, ser
leal consigo mesmo é tão importante quanto ser leal para com os outros, e é uma
qualidade preciosa, que deve ser cultivada e firmemente mantida em qualquer
circunstância, por qualquer um que tenha um verdadeiro sentimento de Honra.
O escoteiro do diário 3 escreveu: “O escoteiro deve ser legal, não deve fazer
provocações a outros escoteiros. Não deve enganar os outros” e o do diário 12
escreveu: “Sempre devemos ajudar um amigo! Em qualquer ocasião”. Nestas
reflexões, pode-se encontrar a presença do valor Lealdade, quando ela se refere à
ação com atenção e seriedade para com os amigos (BENNETT, 1995).
Os diários 7 e 9 relacionam a Lealdade ao comprometimento. Para
exemplificar, a escrita do diário 9 é a seguinte: “Eu acho, que se a pessoa se
comprometer com uma coisa, ela tem de cumprir. Ele é fiel ao que acredita, ele é fiel
ao seu estilo de vida”. É possível ver aí uma integração entre o discurso e a ação, o
que caracteriza os valores Honra e Integridade. Essa escrita mostra também uma
ação com atenção e seriedade para consigo mesmo e para com outros. Isto, de
acordo com Bennett (1995), é Lealdade.
O diário 5 narra um relato de amigas da dona do diário: “Na minha escola, eu
tenho uma amiga que tem várias amigas e na minha sala, tem muita panelinha
(grupos separados de amigos) e as amigas dela não gostam que ela se reveze entre
elas, falam que ela não é leal a elas”. Há um erro de interpretação da Lealdade
neste caso, que pode ter sido feito pela escoteira ou por suas amigas. Segundo a
escrita, as amigas consideram haver falta de Lealdade se a menina tiver outros
amigos e passe algum tempo com eles. Na verdade não é a Lealdade que falta; o
que aparece aí é o egoísmo das meninas, que é, de acordo com Araújo (1999), o
oposto da Generosidade.
55
No diário 13 encontramos: “Sempre que me contam um segredo, eu nunca
digo a ninguém. Uma curiosidade que eu aprendi enquanto eu fazia Catequese é
que o padre nunca conta a ninguém o que certa pessoa confessou a ele e um padre
também ouviu a confissão de um bandido e não contou a ninguém onde o bandido
se escondeu”. Não dizer os segredos de outras pessoas a ninguém é possuir
seriedade para com os outros, é ser leal a eles. No entanto, a atitude do padre,
mesmo sendo de Lealdade para com o bandido e principalmente para com sua
religião, não foi favorável à polícia e à sociedade, pois com o bandido solto, as
chances de que ele continue a cometer crimes existe. Recorrendo às falas de
Bennett (1995), Lealdade é a ação com atenção e seriedade para com o país e é
mais elevada do que estar sempre de acordo com as instituições, se aproximando
da Cidadania. Considerando essas questões, a atitude do padre foi desleal.
Discussões mais aprofundadas sobre isso são complexas e envolvem diversos
fatores que não se mostram relevantes à presente pesquisa.
O escoteiro do diário 6 relatou apenas: “Vejo isso no Rugby”. Esta escrita
mostra-se insuficiente para análise, pois não é possível saber qual é a interpretação
do artigo da Lei feita por ele, nem em que momentos ‘isso’ é presente no Rugby.
ARTIGO 3: O ESCOTEIRO ESTÁ SEMPRE ALERTA PARA AJUDAR O PRÓXIMO
E PRATICA DIARIAMENTE UMA BOA AÇÃO
Diários cujos valores Cidadania, Cooperação e Generosidade estão presentes:
Todos os diários apresentaram em suas reflexões e/ou relatos os três valores
propostos para o artigo em questão. A proporção de todos os valores mencionados
nos diários pode ser visualizada na figura 6.
56
Figura 6. Valores presentes nos diários, referentes ao 3° artigo da Lei Escoteira.
Um diário que ilustra a presença dos três valores é o 4: “Ele ajuda as
pessoas. Teve uma vez que eu a Adriana a Larissa e a Bruna estávamos no
Shopping e vimos um menino chorando aí agente perguntou se tinha acontecido
algo e ele ficou chorando chamando a avó dele. Aí agente meio que se separou e
encontramos a avó dele e á levamos para ele nós fizemos uma boa ação sem
esperar nada em troca”. A ação realizada contempla em muito a Cidadania, pois
foram adotadas atitudes de caráter, Responsabilidade e Solidariedade com a criança
perdida, e eficiência e Cooperação entre si para procurar sua avó (BADEN-
POWELL, 2007; BENNETT, 1996; BRASIL, 1998). A Cooperação foi vivenciada,
considerando Puig (1998), na ação coletiva, no companheirismo e na ajuda mútua.
Ao dizer que a ação foi realizada sem esperar nada em troca, evidencia-se uma
ação generosa, que está além da Solidariedade e do interesse pessoal e se
equivale, segundo Araújo (1999) e Piaget (2003), ao Altruísmo.
Estas meninas entraram em contato com uma situação conflitante e a
enfrentaram de modo que fosse relevante a outras pessoas e não a elas. Foi uma
ação além de seu interesse pessoal. Elas poderiam ter deixado a criança chorando e
dizer que não era de sua Responsabilidade, mas como tinham valores integrados
em suas identidades, estes definiram suas ações e elas foram ajudar a criança.
Pode-se considerar que esta ação, coerente com o pensamento das meninas, foi
uma ação moral para Araújo (1999), ou prática moral para Puig (1998), que
contribuiu para suas capacidades morais e éticas, coletivas e pessoais.
13
13
13
1 1
Cidadania
Cooperação
Generosidade
Altruísmo
Tolerância
57
O diário 9 apresenta uma reflexão que se insere no terceiro modelo:
“Diariamente ou quase todos os dias, ele faz uma coisa boa. E ele sempre está
pronto pra ajudar o seu amiguinho lindo!”. Entretanto, seu relato – “2 vezes eu e as
thucas: Camila e Bianca, ajudamos criancinhas pra encontrar os papaizinhos lindos!”
– demonstra que a escoteira parece compreender o significado do terceiro artigo e
os valores nele presentes. Este relato possui certa semelhança com o relato do
diário 4.
Outros diários que se encaixam no terceiro modelo de reflexão são o 7 e o 11.
Estes, porém, não possuem relatos que possibilitem a análise dos mesmos. O diário
5 apresenta um relato muito semelhante ao 3º artigo: “Eu não pratico diariamente
uma boa ação! Mas estou sempre pronta para ajudar o próximo”. Este relato é uma
cópia do artigo com mudança de pessoa gramatical e, apesar de exprimir uma
opinião pessoal e de se conseguir enxergar ali os valores propostos, é muito
simplificada.
Diários que apresentam outros valores:
Além da Tolerância no relato do diário 4, outro valor apresentado pelos
escoteiros foi a Tolerância, no diário 3. O relato remete aos três valores propostos,
mas a reflexão – “Não devemos zombar das duvidas dos outros pois um dia pode
acontecer com a gente” – demonstra que o jovem apresenta empatia, isto é,
consegue se colocar no lugar do outro e reconhece que este existe e que é
essencialmente diferente dele. Estas são, segundo Machado (2004), características
da Tolerância.
ARTIGO 4: O ESCOTEIRO É AMIGO DE TODOS E IRMÃO DOS DEMAIS
ESCOTEIROS
Diários cujo valor Amizade está presente:
Os relatos e reflexões dos diários 1, 2, 3, 4, 7 e 11 apresentam a Amizade
58
como principal valor relacionado ao 4° artigo da Lei Escoteira. As reflexões dos
diários 4 – “Todos nós somos amigos nós somos uma família” – e 7 – “O escoteiro é
amigo de todo mundo” – se assemelham às outras e estão, mesmo que
simplificadamente, de acordo com as falas de Baden-Powell (2007) quando este diz
que o mundo é uma fraternidade. Tal igualdade relatada entre as pessoas
demonstra um respeito mútuo, recíproco, que segundo Piaget (2003) não gera
relação de coação.
Atribuir Amizade a todas as pessoas não está em concordância com Bennett
(1995), pois para ele a Amizade possui diversos pré-requisitos. Mas não era esse o
tipo de Amizade a que Baden-Powell (2007) se referia ao elaborar este artigo,
importando para ele na Amizade o domínio dos próprios preconceitos e a busca de
boas qualidades em seus amigos.
O diário 11 se inclui, neste artigo, no terceiro modelo de reflexão.
Diários cujo valor Tolerância está presente:
Diários que apresentaram a Tolerância no 4º artigo da Lei foram o 9, o 12 e o
13. A reflexão do diário 9 foi: “Ele não faz ‘bullying’ com os outros amiguinhos e
irmãozinho e BFF do coleguinha!”. Esta reflexão engloba, além da Amizade, pelo
domínio dos próprios preconceitos (BADEN-POWELL, 2007), a Tolerância no ponto
de vista de Machado (2004). Não fazer bullying com outras pessoas significa
reconhecer a existência destas, que são diferentes de você, e buscar compreendê-
las exercitando a empatia. Isso resulta também em Respeito.
Diários que apresentam outros valores:
Diários que envolvem valores diferentes dos propostos, são o 6, que fala
sobre Cooperação – “Que um ajuda o outro. Que quando um amigo precisa de ajuda
vai ajudar” – e o diário 10, que cita a Felicidade e a Bondade – “A minha BEST é a
prova disto, ela não tem inimigos e dá risada sempre. Ela é uma pessoa boa!”. É
possível que no primeiro diário o escoteiro tenha escrito sobre Cooperação, pois
esta é uma atitude que ele espera de um amigo. Já no diário 10, a escrita é sobre
uma pessoa admirada, e o jovem a descreve como modelo de Amizade sem, no
entanto, refletir sobre o significado deste valor.
59
Outros diários:
A escoteira do diário 5 escreveu: “Eu sou muito tímida para ser amiga de
todos”. Este diário expressa um sentimento pessoal da jovem, que demonstra
dificuldade em se relacionar com as pessoas. Como o artigo da Lei descreve algo
muito amplo – [...] amigo de todos [...] – ela diz ser incapaz de alcançar isso.
Contudo, se guiar-se pelas ideias de que para ter Amizade com alguém é necessário
dominar seus preconceitos e encontrar as boas qualidades dos outros (BADEN-
POWELL, 2007), é possível que se sinta mais hábil para ter mais amigos nesse
sentido.
No diário 8 está escrito apenas: “Meu amigo”. A interpretação que pode ser
feita disso é que o escoteiro quis dizer que seu amigo é amigo de todos e irmão dos
demais escoteiros, mas não houve uma definição sobre o que ele entende por
Amizade.
A proporção de todos os valores mencionados nos diários pode ser
visualizada na figura 7.
Figura 7. Valores presentes nos diários, referentes ao 4° artigo da Lei Escoteira.
ARTIGO 5: O ESCOTEIRO É CORTES
Diários cujo valor Cortesia está presente:
Apenas nos diários 9 e 13 o valor Cortesia estava presente. Exemplificando
7
3
1
1
1
Amizade
Tolerância
Bondade
Cooperação
Felicidade
60
com o diário 9 –“Ele tem etiqueta e é educado em todas as ocasiões” –, estas
atitudes demonstram, como Baden-Powell (2007) determinou, deferência e
compreensão humana, isto é, Cortesia.
A proporção deste e de todos os valores mencionados nos diários pode ser
visualizada na figura 8.
Figura 8. Valores presentes nos diários, referentes ao 5° artigo da Lei Escoteira.
Diários que apresentam outros valores:
Um valor que apareceu com grande frequência foi a Generosidade. Ela
estava presente nos diários 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 10 e 12. A reflexão do diário 5 diz:
“Alguém generoso, que ajuda as pessoas. Os: não sei o que significa ‘ser cortês’ ”. A
primeira parte da reflexão foi muito semelhante às outras e demonstra Solidariedade
e o oposto do egoísmo, que é a Generosidade. Já a segunda parte demonstra a falta
de conhecimento do valor Cortesia. Sendo assim, o que foi escrito é uma tentativa
de acerto, uma adivinhação. A essência da Generosidade está presente nesses
escoteiros, porém a da Cortesia ainda não. Na prática pode ser que eles sejam
corteses, mas não sabem que seus atos correspondem ao valor proposto.
Além da Generosidade, nos diários 3, 4, 5, 6, 10 e 12 também é possível
observar a Cidadania. O diário 6, por exemplo, diz o seguinte: “Vejo isso em
doações de alimentos. Pensa no próximo”. O escoteiro consegue associar a
essência do artigo em atividades que ocorrem para o bem coletivo. Há
2
9
6
1 1
Cortesia
Generosidade
Cidadania
Gentileza
Bondade
61
Generosidade, pois, segundo Brasil (2001), há Solidariedade nessa situação. Por
serem doações, já se pressupõe que estas ajudarão alguém e que não haverá
recompensas pelo ato de quem doou. O escoteiro consegue também ter um
pensamento cidadão pois, segundo os PCN (BRASIL, 1998), a formação de um
cidadão se define com a adoção, no dia-a-dia, de atitudes de Solidariedade e
Respeito ao outro, participação social, dentre outras. Baden-Powell (2007) diz que
para ser cidadão não basta conquistar um futuro para si, mas também é necessário
fazer o bem ao próximo e à comunidade, tendo caráter e eficiência.
A Gentileza esteve presente neste artigo, na escrita do diário 7: “O escoteiro é
gentil”. Este valor é complementar ao valor proposto, pois segundo Baden-Powell
(2007), atitudes de cortesia fazem de uma pessoa “um gentil-homem”.
No diário 11 aparece a Bondade em: “O escoteiro é legal, uma pessoa boa
tipo uma amigo, irmão, mãe etc”. Tal reflexão evidencia que o escoteiro não
compreendeu o significado de Cortesia, mas a interpretou como uma atitude
positiva.
Observa-se que neste artigo da Lei há pouco conhecimento sobre o
significado da palavra Cortesia, e não sobre o valor propriamente dito. Sem
conhecer esta palavra a fundo não é possível descrevê-la de forma correta com
convicção, mas se pode tentar interpretá-la, como todos os escoteiros fizeram.
ARTIGO 6: O ESCOTEIRO É BOM PARA OS ANIMAIS E AS PLANTAS
Diários cujos valores Cidadania e Generosidade estão presentes:
Os diários que apresentam os dois valores em conjunto são: 1, 2, 3, 5, 6, 7, 8,
9, 10, 11 e 12. O diário 11 se inclui no terceiro modelo de reflexão; já entre os
outros, uma reflexão que ilustra bem os valores em questão é a do diário 9: “Ele não
joga lixo na natureza e cuida dos bichinhos lindos que encontra”, e um relato
interessante é o do diário 6: “ONGs de proteção de animais e Greenpeace e WWF”.
Ambos ilustram a participação social, o exercício de direitos e deveres civis e
sociais, Solidariedade, Cooperação, repúdio às injustiças e Respeito ao outro,
62
características de Cidadania (BRASIL, 1998). Apesar do relato não ser sobre ações
realizadas pelo escoteiro, é uma citação de locais que fazem o bem para os animais
e as plantas; sendo assim, o escoteiro possui um pensamento crítico e amplo sobre
o cuidado com a natureza. É possível encontrar nesses escoteiros, e também no
que escreveu o diário 4, qualidades individuais de cidadão como o caráter, e
coletivas como o serviço para a comunidade, ambas definidas por Baden-Powell
(2007).
A Generosidade é vista, como demonstraram Araújo (1999) e Piaget (2003),
nas atitudes não egoístas e de Solidariedade, quando se dá algo de si para ajudar
os outros sem esperar recompensas.
A reflexão do diário 5 é a de que “devemos ser bons”. É possível que a
Bondade tenha sido aí expressa, pois o 6° artigo diz que o escoteiro é bom. A
Bondade a que se refere o artigo se aproxima muito da Cidadania e da
Generosidade, assim como a Bondade citada pela escoteira que, se não fosse
complementada pelo relato, exprimiria um significado incerto.
Diários que apresentam outros valores:
O relato do diário 13 é o seguinte: “Quando tinha 8 anos eu ganhei um
cachorro mas eu morria de medo de cachorro, até que um dia eu estava muito triste
e ele veio me consolar. A partir daquele dia perdi o medo de cachorro e arrangei um
amigo canino”. É possível que ele tenha sido escrito para o 6° artigo por envolver
animais, mas não é condizente com o valor expresso no mesmo. Neste relato, o
escoteiro demonstrou uma bela história de amizade entre ele e seu cão, que seria
mais bem inserida no 4° artigo da Lei.
Outros diários:
O diário 5 diz o seguinte: “Eu adoro animais e adoro as plantas também”. Este
relato não exprime nenhum valor que se relacione ao artigo, pois adorar alguém não
é sinônimo de ser bom para o mesmo. O fato de esta escoteira adorar animais e
plantas é muito positivo. Entretanto, exprime apenas um sentimento pessoal
desprendido de valor.
63
A proporção de todos os valores mencionados nos diários pode ser
visualizada na figura 9.
Figura 9. Valores presentes nos diários, referentes ao 6° artigo da Lei Escoteira.
ARTIGO 7: O ESCOTEIRO É OBEDIENTE E DISCIPLINADO
Diários cujo valor Disciplina está presente:
Houve referência a este valor apenas nos diários 5 e 9, sendo que o diário 9
possui uma reflexão do terceiro modelo, isto é, pouco elaborada, podendo ser
considerada uma cópia. O diário 5 – “Eu sou +- disciplinada e +- obediente” –
demonstra que a escoteira se considera Disciplinada e obediente, mas não citou
uma situação que pudesse demonstrar isto. Este relato se assemelha muito a uma
cópia do artigo da Lei. Não foi possível com apenas essas escritas observar a
significação ou abrangência do valor.
Diários cujo valor Obediência está presente:
Os diários 5 e 9 também apresentam o valor Obediência em seu conteúdo,
assim como os diários 1, 2, 3, 6 e 8. Todos eles, com exceção do 5 falam sobre
obedecer os mais velhos, os pais ou o técnico. No diário 2 está escrito o seguinte:
“Sim eu obedeço a minha mãe e todos mais velhos”. Considerando que a
Obediência envolve, segundo Gouveia (2003), o respeito aos parentes e aos mais
11
10
1 1
Cidadania
Generosidade
Bondade
Amizade
64
velhos, o público alvo determinado pelos escoteiros está correto. É possível que eles
tenham determinado essas pessoas para respeitar porque o valor Obediência está
mais relacionado aos mais velhos ou mais tradicionais (GOUVEIA, 2003). No
entanto, essa relação de obediência parece possuir certa desigualdade entre quem
respeita e quem é respeitado. Segundo Piaget (2003) ocorre um respeito unilateral
nessas situações, pois há o superior (os mais velhos) e o inferior (os jovens
escoteiros), gerando uma relação social de coação. No entanto, Piaget (2003) deixa
claro que Baden-Powell considerou que, apesar de existir o respeito unilateral, este
deve ser moderado pelo respeito mútuo, até o momento em que for definitivamente
substituído pelo último.
É importante ressaltar que o Escotismo é um Movimento centenário e sua Lei
foi desenvolvida no início do século XX. Naquela época havia uma relação de
hierarquia entre as pessoas, que possuíam costumes muito tradicionais, condizentes
à presença da Obediência. Outro fato importante é que Baden-Powell era militar, e
que, portanto, a Obediência fazia parte de sua vida.
A proporção de todos os valores mencionados nos diários pode ser
visualizada na figura 10.
Figura 10. Valores presentes nos diários, referentes ao 7° artigo da Lei Escoteira.
Diários que apresentam outros valores:
Os escoteiros dos diários 11 e 13 fazem, respectivamente, uma reflexão – “O
escoteiro é educado” – e um relato – “Uma coisa que meus pais me ensinaram muito
bem foi ser educado. Num dia que eu fui fazer trabalho de escola em grupo na casa
2
6
2
1
Disciplina
Obediência
Educação
Tolerância
65
do meu amigo, e percebi que é mal educado com a mãe dele” – sobre o valor
Educação. É possível que este valor tenha sido mencionado neste artigo por o
relacionarem com a Obediência. Crianças ou jovens que não fazem o que seus pais,
professores ou responsáveis determinam são chamadas de desobedientes ou sem
educação. Talvez tenha sido essa a associação feita pelo escoteiro que escreveu o
diário 13.
No diário 12 está presente a Tolerância na escrita: “Não devemos julgar,
bater, abusar muito menos zombar. Por que nós não gostaríamos que fizessem isso
com a gente”. É possível relacionar este valor à Disciplina, pois, de acordo com
Piaget (2003), ela corresponde ao cumprimento de regras geradas pelo respeito
unilateral. Baden-Powell (2007) pode ser citado novamente aqui com sua fala de que
o exemplo a ser dado aos demais é de grande valor, pois ao agir com tolerância,
estamos dando um belo exemplo de Respeito entre as pessoas.
Outros diários:
O diário 10 escreveu: “Seja como a Camila” e o 7: “Seja como a Débora”. É
possível entender com isso que a Camila e a Débora são pessoas obedientes e
disciplinadas e servem como exemplo aos donos do diário em questão, o que é,
segundo Baden-Powell (2007), de grande valor. No entanto, os escoteiros não
expuseram suas opiniões e convicções sobre o artigo. Dessa maneira não há como
fazer uma análise mais profunda sobre tais escritas que as relacione ao artigo da Lei
e remeta à presença de valores. A mesma falta de profundidade e dificuldade de
atribuição de algum valor ocorre no diário 4 com o relato: “Uma coisa que não sou
muito”.
ARTIGO 8: O ESCOTEIRO É ALEGRE E SORRI NAS DIFICULDADES
Diários cujo valor Felicidade está presente:
A Felicidade é encontrada nos diários 1, 2, 3, 4, 5, 8, 9 e 11. A maioria das
falas foram bem simplificadas, dizendo apenas que devemos sorrir quando tivermos
dificuldades, mas um relato que demonstra um maior aprofundamento sobre o artigo
66
é o do diário 4: “Teve uma vez que eu estava super depre ai o chefe Frazão falou
pra mim que o escoteiro sorri nas dificuldades. Isso me ajudo me deixou mais para
cima e comecei a ser mais feliz mais que já sou. Então uma lição de moral kkk seja
feliz sua vida será Bem melhor”. Essa pessoa seguiu as orientações de seu chefe
escoteiro, que foi agir se inspirando no 7º artigo da Lei. Isso expressa exatamente os
pensamentos de Baden-Powell (2007) ao criar a Lei Escoteira. Ele diz que agindo
dessa forma, isso irá alterar sua forma de encarar a situação e o efeito desejado – a
felicidade – será alcançado. Baden-Powell (2007) acrescenta ainda que essa prática
desenvolve o autocontrole do indivíduo, fazendo parte de seu caráter.
No diário 6 está escrito o seguinte: “No Rugby quando tem treinos fortes”. A
interpretação feita por essa fala é que nos treinos fortes a que o escoteiro se refere
há muitas dificuldades e muito esforço e isso gera felicidade no jovem. Baden-Powell
(2007) disse que é impossível alcançar a Felicidade ser agir. Se o jovem encontra
Felicidade na dificuldade de seus treinos, então ele está certo em se dedicar a isto.
Os escoteiros dos diários 7 e 10 escreveram para este artigo a referência de
amigas, assim como fizeram no artigo anterior. A interpretação feita sobre isso é
que, novamente, suas amigas são exemplos para eles, fato considerado por Baden-
Powell (2007) de grande valor. No entanto, como não foram expostas opiniões e
interpretações sobre o artigo, não é possível analisar com mais profundidade essas
falas de modo a relacioná-las ao artigo da Lei.
A escrita presente no diário 12 – “ Quando a vida nos derrubar nunca se de
por vencido! Por que é só ter fé que você supera suas dificuldades” – contém um
enfoque diferente dos demais. O escoteiro expressa seu entendimento de que
devemos encarar as situações difíceis e agir para alcançar a Felicidade. Além disso,
ele demonstra ter formado esta opinião por conta de suas convicções religiosas
quando diz que superamos nossas dificuldades tendo Fé. É interessante destacar
que o Escotismo complementa a formação que cada criança ou jovem recebe de
diversas pessoas e ocasiões, inclusive do credo religioso, sem de nenhum modo
substituí-las (UNIÃO DOS ESCOTEIROS DO BRASIL, 2009).
O diário 13 ficou em branco na página deste artigo da Lei Escoteira.
67
A proporção de todos os valores mencionados nos diários pode ser
visualizada na figura 11.
Figura 11. Valores presentes nos diários, referentes ao 8° artigo da Lei Escoteira.
ARTIGO 9: O ESCOTEIRO É ECONÔMICO E RESPEITA O BEM ALHEIO
Diários cujo valor Responsabilidade está presente:
Dos 12 diários escritos (não houve escrita sobre esse artigo no diário 13), o
valor Responsabilidade está presente em 1, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 11 e 12. A proporção
deste e dos outros valores mencionados nos diários pode ser visualizada na figura
12.
Figura 12. Valores presentes nos diários, referentes ao 9° artigo da Lei Escoteira.
8
1
Felicidade
Fé
10
1
1
6 Responsabilidade
Cidadania
Obediência
Respeito
68
Para a maioria (1, 3, 5, 7, 9, 10 e 11), a Responsabilidade consistia em ser
econômico em seu sentido financeiro. O diário 9 ilustra muito bem essa situação:
“Ele não destrói as coisas que não são dele e economiza para comprar uma coisa
que quer muito. Eu fiz isso com meu porquinho, guardei bastante e quebrei, fiz uma
conta no Banco e guardei o dinheiro, e ainda deposito dinheiro lá para meus
estudos, para minha universidade”. Observa-se aí também um projeto de vida que,
segundo Machado (2004) é um par indissociável de valores. O jovem que escreveu
a reflexão e o relato demonstrou ser responsável ao saber que, se ele queria muito
algo, teria que optar por não gastar seu dinheiro com outras coisas e guardá-lo para
poder comprar o que deseja. Demonstrou estar disposto a assumir tais atos e
realizar um projeto, fato que, para Bennett (1995), Rodrigues (2003) e Thumus
(2003) pode ser considerado de Responsabilidade.
O início da reflexão do diário 9 se refere a outra interpretação da
Responsabilidade, que pode também ser associada ao Respeito, sentimento
fundamental que possibilita a aquisição das noções morais (PIAGET, 2003). Isso é
observado também nos diários 3, 7, 8, 10 e 11. Ao não destruir e respeitar as coisas
alheias, são assumidas responsabilidades que, como diz Baden-Powell (2007),
fortalecem o caráter e a influência benéfica de um indivíduo sobre os outros.
Diários que apresentam outros valores:
O diário 2 fala sobre Obediência: “Sim temos que obedecer os outros para
eles serem também”. Uma interpretação a essa reflexão se mostra difícil, pois esta
não se relaciona com o artigo e parece estar incompleta.
O diário 4 expressa uma reflexão e um relato que envolvem Responsabilidade
social, em conjunto com Cidadania: “Ele ajuda o meio ambiente. Eu na escola tava
andando e vi uma torneira aberta e fui e fechei aí todos falaram muito Bem Camila e
eu falei sou uma boa escoteira todos riram kkk”. A escoteira mostra ser econômica
com o gasto de água, e ser também respeitosa com esta, que é um bem alheio,
além do próprio meio ambiente.
Responsabilidades fortalecem o caráter e a influência benéfica de um
indivíduo sobre os outros e, para ser capaz de aceitar Responsabilidades é preciso
ter confiança em si mesmo, conhecimento do seu trabalho e prática em exercer a
69
Responsabilidade (BADEN-POWELL, 2007). Tudo isso foi observado na situação
relatada, assim como a formação de uma cidadã, com o exercício de direitos e
deveres sociais, a adoção de uma atitude de Solidariedade (BRASIL, 1998) e com o
conhecimento e cumprimento das obrigações com responsabilidade e autodisciplina
(BENNETT, 1996).
A jovem do diário 4 reconheceu que sua ação foi influenciada pelo fato de ser
escoteira e, ao agir dessa maneira, ela mesmo que sem a intenção, acabou
influenciando seus amigos/colegas, que pareceram reconhecer que deixar a torneira
vazando é negativo e que é necessário que alguém a feche. Piaget (2003) também
observou, no Movimento Escoteiro, que o exemplo é tudo na educação e que as
relações das pessoas entre si constituem a verdadeira fonte dos imperativos morais.
ARTIGO 10: O ESCOTEIRO É LIMPO DE CORPO E ALMA
Diários cujo valor Integridade está presente:
Uma análise mais completa não pôde ser feita sobre este artigo da Lei pois
não foi escrito nenhum relato sobre o mesmo. Dessa maneira não foi possível
analisar a integração entre o discurso e a ação, ingrediente fundamental da ideia de
Integridade segundo Machado (2004). Contudo, a análise sobre a presença da
Integridade na escrita dos escoteiros será feita a partir das convicções de Cortella e
La Taille (2007), que dizem que uma pessoa íntegra é uma pessoa honesta, sincera,
solidária, humilde.
O valor Integridade pode ser atribuído a passagens de quase todos os diários,
com exceção dos diários 5, 7 e 13 (este último em branco no artigo em questão). Um
diário que demonstra tal valor proposto é o 12: ”Roubar, ter inveja não ajuda em
nada o que realmente ajuda é ser verdadeiro de coração e sempre batalhar pelas
coisas que você quer”. Aí podemos observar Honestidade, Sinceridade e também
Disciplina, que para Cortella e La Taille (2007) equivale à força para evitar a
tentação a ter vontades secundárias, que poderão causar descentração. Sem essa
força, a batalha pelas coisas desejadas se tonará muito mais difícil e um
70
discernimento autônomo do que considera certo e do que julga ser errado também
terá mais obstáculos para ocorrer.
Uma pessoa íntegra deve, segundo alguns escoteiros, ser limpa de espírito
(diário 8), de pensamento (diário 9), de consciência (diário 9) e de alma (diários 10 e
11). Ser limpa dessa maneira envolve, segundo Machado (2004), uma arquitetura de
valores que instrumentarão as ações. Estes podem ser a Honestidade, a
Sinceridade, a humildade.
O diário 11 possui uma reflexão que faz parte do terceiro modelo de reflexão.
Diários que apresentam outros valores:
Os escoteiros dos diários 8 e 11 escreveram que a pessoa deve ser limpa
fisicamente e de corpo, respectivamente. Essas escritas parecem relacionar-se à
higiene, referência também encontrada nos diários 3, 4, 5, 6, 9, e 10. O valor que
mais se aproxima da higiene é a Cidadania, pois de acordo com os PCN (BRASIL,
1998), envolve participação social e atitudes de Respeito aos outros e a si mesmo.
Baden-Powell (2007) ainda diz que uma das qualidades de um cidadão é a saúde.
Sendo higiênica a pessoa facilitará a sua convivência e com outras, além de
respeitá-las, e para conseguir ter uma saúde de qualidade é necessário que o corpo
esteja devidamente limpo, evitando doenças e maiores desconfortos pessoais ou
sociais.
O escoteiro dono do diário 7 relaciona ao 10° artigo da Lei a Pureza – “O
escoteiro é puro”. A pureza é um valor difícil de ser alcançado, ainda mais para
quem está construindo sua identidade moral. No entanto, buscar esse valor faz com
que as pessoas busquem também outros valores positivos para sua vida, tornando-
as cada vez mais limpas de corpo e alma.
Outros diários:
Mais uma vez encontra-se em um diário o envolvimento religioso. O escoteiro
do diário 5 escreveu o seguinte: “Que não carrega nenhum pecado”. Vale ressaltar
novamente que o credo religioso complementa a formação dos jovens no Escotismo
(UNIÃO DOS ESCOTEIROS DO BRASIL, 2009).
71
A proporção de todos os valores mencionados nos diários pode ser
visualizada na figura 13.
Figura 13. Valores presentes nos diários, referentes ao 10° artigo da Lei Escoteira.
UMA ANÁLISE GERAL DOS VALORES PRESENTES NOS RELATOS DAS
CRIANÇAS
Dentre todos os valores citados nos diários (figura 14), é possível observar
que a frequência de aparições dos valores propostos para os artigos da Lei
Escoteira foi, em sua maioria, maior do que a dos outros valores.
Figura 14. Frequência de aparição dos valores presentes nos diários.
10 8
1
Integridade
Cidadania
Pureza
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Valores propostos
Outros valores
72
Tolerância, Cortesia e Disciplina foram os valores propostos menos citados, o
que indica que, de forma geral, estes não foram, de acordo com Araújo (1999;
2007), totalmente construídos e organizados no sistema individual dos jovens, isto é,
não estabeleceram regulações energéticas ou não projetaram sentimentos positivos
suficientes entre si e outras pessoas ou situações, que exigissem uma reflexão e/ou
ação envolvendo esses valores.
Verificamos também que de maneira geral, é possível fazer um paralelo entre
as ideias de Araújo (1999; 2007) e os valores presentes nos diários e classificá-los
como centrais ou periféricos. Desta maneira, os valores Cidadania, Generosidade,
Cooperação, Lealdade, Integridade, Responsabilidade, Honra, Felicidade, Amizade,
Obediência e Respeito, que foram citados mais de cinco vezes nos diários, podem
ser considerados valores posicionados de forma mais central, pois a intensidade de
sentimentos positivos atribuída a eles é grande no presente trabalho. Já os demais
valores, entre eles Tolerância, Disciplina e Cortesia, possuem baixa intensidade de
sentimentos positivos, sendo então posicionados de forma periférica no trabalho. É
importante lembrar que esta análise não minimiza um jovem participante de
pesquisa ou outro; ela apenas se utilizou da proporção geral dos valores expressos
no trabalho.
Considerando que os valores ocupam lugar de extrema importância no
espaço vivencial dos seres humanos e que estes são implantados em nossas vidas
de maneira não instantânea (THUMUS, 2003), é possível compreender que, como o
trabalho foi desenvolvido com jovens entre 10 e 14 anos, estes ainda não tiveram
vivências suficientes em suas vidas que envolvessem todos os valores determinados
e que a não instantaneidade demonstra que não podemos esperar que todos
apresentem os mesmos valores centrais em suas vidas, até porque cada pessoa é
única, com sua história pessoal, seu conjunto de características e suas diferentes
necessidades, capacidades e ritmo de desenvolvimento (UNIÃO DOS
ESCOTEIROS DO BRASIL, 2008a).
73
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
● O ensino de valores veiculados pelo Movimento Escoteiro influencia a
vivência de adolescentes que participam desse movimento.
● A maioria das reflexões exprimiu uma interpretação correta dos valores
citados e condizente com os valores propostos para a Lei Escoteira.
● As atitudes evidenciadas nos relatos estão, em sua maioria, de acordo com
as reflexões realizadas. Nas passagens em que há apenas relatos, estes expressam
corretamente os valores propostos para cada artigo da Lei.
● Relatos demonstrando a ausência dos valores em questão aparecem em
menor quantidade que os que presenciam os valores, mas ambos mostram ocasiões
e atitudes condizentes com as atitudes esperadas para que os valores estejam
presentes.
● A abrangência das atitudes de valor dos escoteiros é ampla, envolvendo
escola, espaço de prática de esporte, residência, espaço de prática religiosa, Grupo
Escoteiro, espaço de descontração, espaço comercial e ONGs,o que indica que o
ensino e o aprendizado sobre valores ocorre nos mais diversos ambientes e
situações.
● A amplitude de locais e atitudes expressa nos diários, ao se relacionar aos
artigos da Lei Escoteira, indica que o ensino de valores no Movimento Escoteiro
complementa tal ensino em outros locais e vice-versa.
● Nos relatos em que os jovens relacionam diretamente suas atitudes de valor
à Lei Escoteira, é evidente que o aprendizado se deu por atividades e atitudes
ocorridas no Movimento Escoteiro.
● A menor assimilação do valor cortesia pode estar relacionada à ausência de
conhecimento do significado da palavra, e não do valor em si.
● Incluir nos diários um local para os escoteiros escreverem há quanto tempo
fazem parte do Movimento Escoteiro é uma sugestão que pode levar o trabalho a
74
rumos muito interessantes e elucidativos sobre questões como a profundidade na
interpretação de alguns valores.
● O presente trabalho trata-se apenas de um estudo inicial sobre as atitudes
de valor de jovens escoteiros.
● O próximo passo após este levantamento e análise dos dados será elaborar
e aplicar uma atividade que explique o significado de cada artigo da Lei Escoteira e
de cada valor nela presente, para que as dúvidas sejam sanadas e eles sintam mais
confiança em escolher os valores que querem interiorizar em sua identidade.
● Há o interesse em publicar este trabalho.
75
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79
CARTA DE INFORMAÇÃO À INSTITUIÇÃO
Esta pesquisa tem como intuito Identificar e analisar se o ensino de valores
veiculados pelo Movimento Escoteiro influencia a vivência de adolescentes que participam
desse movimento. Para tanto, realizarei uma pesquisa qualitativa sobre as opiniões dos
jovens do Ramo Escoteiro sobre cada um dos artigos da Lei Escoteira. Eles receberão um
diário para fazer relatos descritivos e reflexivos que considerem ter relação com os artigos.
Para tal solicitamos a autorização desta instituição para a triagem de colaboradores, e para
a aplicação de nossos instrumentos de coleta de dados; o material e o contato interpessoal
oferecerão riscos mínimos aos colaboradores e à instituição. As pessoas não serão
obrigadas a participar da pesquisa, podendo desistir a qualquer momento.
Todos os assuntos abordados serão utilizados sem a identificação dos colaboradores
e instituições envolvidas. Quaisquer dúvidas que existirem agora ou a qualquer momento
poderão ser esclarecidas, bastando entrar em contato pelo telefone abaixo mencionado. De
acordo com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia deste documento ficará com a
instituição e outra com a pesquisadora.
Obrigada.
...................................................................... .............................................................
Natasha Consolmagno Mezzacappa Rinaldo Molina
Pesquisadora Orientador
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Telefone para contato (12) 9134-0353 / (11) 97997-2988
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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o(a) senhor (a)
_______________________________________________, representante da
instituição, após a leitura da Carta de Informação à Instituição, ciente dos
procedimentos propostos, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do
explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância
quanto à realização da pesquisa. Fica claro que a instituição, através de seu
representante legal, pode, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO
LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica
ciente que todo trabalho realizado torna-se informação confidencial, guardada por
força do sigilo profissional.
São Paulo, ....... de ..............................de..................
_________________________________________
Assinatura do representante da instituição
82
APÊNDICE – Modelo do Diário da Lei Escoteira
Meu diário da
Lei Escoteira
72° GE Cassiano Ricardo
São José dos Campos- SP
Este é um diário onde você poderá escrever o que
vê, faz ou pensa sobre a Lei Escoteira.
Tente observar na escola, na rua, em casa ou em
outros locais cada um dos artigos da Lei e sinta-se
livre para escrever!
Não se preocupe se você acha que o que pensou
está certo ou errado; simplesmente escreva da
maneira que desejar.
Escreva pelo menos um relato e uma reflexão
sobre cada artigo.
Dê asas à sua imaginação!
Ótima escrita!
1. O escoteiro tem uma só palavra; sua honra
vale mais do que a própria vida.
2. O escoteiro é leal.
83
3. O escoteiro está sempre alerta para ajudar
o próximo e pratica diariamente uma boa ação.
4. O escoteiro é amigo de todos e irmão dos
demais escoteiros.
5. O escoteiro é cortês.
6. O escoteiro é bom para os animais e as
plantas.