Download - Monografia Paulo pedagogia 2011
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIADEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII
PAULO ROGÉRIO BARBOSA OLIVEIRA
RELAÇÃO ESCOLA x TRABALHO:O que espera o aluno da EJA
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Senhor do Bonfim2011
PAULO ROGÉRIO BARBOSA OLIVEIRA
RELAÇÃO ESCOLA x TRABALHO:O que espera o aluno da EJA
Monografia apresentada como requisito parcial
para conclusão do curso de Licenciatura em
Pedagogia, Habilitação em Docência e Gestão
de Processos Educativos, pelo Departamento
de Educação – Campus VII, da Universidade
do Estado da Bahia.
Orientadora: Profª. Beatriz de Souza Barros.
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Senhor do Bonfim2011
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PAULO ROGÉRIO BARBOSA OLIVEIRA
RELAÇÃO ESCOLA x TRABALHO:O que espera o aluno da EJA
Aprovada em _____/_____/_____
BANCA EXAMINADORA
_______________________ _________________________
Prof. (a) Avaliador (a) Prof. (a) Avaliador (a)
____________________________________
Prof. (a) Orientador (a)
5
Dedico este trabalho a todos da minha família.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, pela força que motiva o meu caminhar;
Aos meus familiares, pelo apoio constante;
Aos professores, aos colegas;
Ao meu amigo José Augusto pelo suporte dado durante o decorrer deste trabalho;
A orientadora Beatriz de Souza Barros que colaborou muito para com a realização
deste trabalho;
Aos companheiros da turma, principalmente Jaine Moura e Rita Raimunda que tanto
me ajudaram nos momentos de desânimo;
A todos os professores, funcionários e colegas da Universidade do Estado da Bahia
– UNEB Campus VII, Senhor do Bonfim-BA.
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“Há possibilidades para diferentes amanhãs. A luta não se reduz a retardar o que virá ou a assegurar a sua chegada; é preciso reinventar o mundo.”
Paulo Freire
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RESUMO
Este estudo sintetiza os principais resultados de uma pesquisa realizada no Colégio Estadual Teixeira de Freitas em 2010, e tem por objetivo identificar quais as expectativas que os alunos trabalhadores da EJA tem em relação à escola, se atende às suas necessidades e se contribui significativamente para uma melhoria na qualidade de vida desses alunos. Para a realização deste trabalho utilizamos alguns conceitos – chave que nortearam esta pesquisa: Educação de jovens e adultos, Aluno-trabalhador e Escola. Os dados foram recolhidos de uma amostra representativa com 15 alunos da EJA, compreendidos entre 17 e 56 anos de idade. A metodologia foi desenvolvida numa abordagem qualitativa, seguida de entrevista semi-estruturada e um questionário fechado, que permitiu fazer um levantamento do diagnóstico do perfil da amostra coletada. Esta pesquisa serve como sinalizador e estímulo para que educadores e governo reflitam sobre estas questões, no sentido de rever a concretização dos seus objetivos educacionais e rever o papel da escola, direcionando-os para o efetivo atendimento a esses alunos que em sua maioria são trabalhadores.
Palavras Chaves: Educação de Jovens e Adultos, Aluno-trabalhador e Escola.
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LISTA DE ABREVIATURAS
EJA – Educação de Jovens e Adultos.
LDB – Lei de Diretrizes e Bases.
PNE – Plano Nacional de Educação.
MEC – Ministério da Educação e Cultura.
ONU – Organização das Nações Unidas.
MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização.
PNLD – Programa Nacional do Livro Didático.
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------------------------------11
CAPÍTULO I --------------------------------------------------------------------------------------13
PROBLEMÁTICA ----------------------------------------------------------------------------------- 13
CAPÍTULO II ------------------------------------------------------------------------------------ 17
FUNDAMENTAÇAÕ TEÓRICA ----------------------------------------------------------------- 17
2.1 EJA – EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS- ---------------------------------- 17
2.2 ALUNO TRABALHADOR -------------------------------------------------------------- 21
2.3 ESCOLA------------------------------------------------------------------------------------- 24
CAPÍTULO III ----------------------------------------------------------------------------------- 26
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ----------------------------------------------------- 26
3.1 TIPO DE PESQUISA---------------------------------------------------------------------- 26
3.2 LOCUS DA PESQUISA ----------------------------------------------------------------- 27
3.3 SUJEITOS DA PESQUISA ----------------------------------------------------------- 28
3.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS---------------------------------------- 28
3.4.1 Questionário Fechado ------------------------------------------------------------------28
3.4.2. Entrevista Semi-estruturada -------------------------------------------------------- 29
CAPÍTULO IV ----------------------------------------------------------------------------------- 31
DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ------------------------------------------- 31
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4.1 O PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA------------------------------------------31
4.1.1Quanto ao gênero e faixa etária------------------------------------------------------- 31
4.1.2 Idade de ingresso na escola noturna--------------------------------------------------324.1.3 Idade de ingresso no mercado de trabalho------------------------------------------32
4.1.4 Renda familiar-------------------------------------------------------------------------------32
4.1.5 Situação enquanto trabalhador, funcional e carga horária de trabalho
durante o final de semana---------------------------------------------------------------33
4.1.6 Freqüência e assiduidade na escola -------------------------------------------------33
4.1.7 Motivo de faltar às aulas------------------------------------------------------------------34
4.1.8 Reprovação-------------------------------------------------------------------------------- 34
4.2 CONHECENDO AS EXPECTATIVAS DO ALUNO TRABALHADOR QUANTO
A ESCOLA------------------------------------------------------------------------------------------35
4.2.1 Relação escola X Vida pessoal e profissional --------------------------------------35
4.2.2 Escola e ascensão profissional---------------------------------------------------------36
4.2.3 A escola como espaço difícil de ser freqüentado-----------------------------------37
4.2.4 A escola como ambiente de formação e informação-----------------------------38
CONFIDERAÇÕES FINAIS --------------------------------------------------------------------- 40
REFERÊNCIAS ------------------------------------------------------------------------------------ 43
APÊNDICES -------------------------------------------------------------------------------------------46
INTRODUÇÃO
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Este trabalho monográfico intitula-se Relação Escola X Trabalho: O que
espera o aluno da EJA (estudo de caso), derivado de um projeto de pesquisa que
teve como sujeitos os Alunos Trabalhadores do Ensino Noturno do Colégio Estadual
Teixeira de Freitas. Foram escolhidos 15 alunos da EJA - Educação de Jovens e
Adultos, de forma aleatória compreendidos com faixa etária entre 17 e 56 anos
durante o ano letivo de 2010.
O objetivo da pesquisa foi identificar Quais as expectativas que os alunos
trabalhadores da EJA têm em relação à escola, se atende as suas necessidades e
se contribui significativamente para uma melhoria na qualidade de vida desse aluno.
Atualmente a educação escolar está sendo bastante discutida, tanto no
próprio meio educativo, quanto no meio social, afinal está na educação uma das
maneiras mais viáveis de “desconstrução” de uma sociedade marcada pela busca
do poder e dominação para a “construção” de uma sociedade mais justa.
Diante da crescente demanda que a educação de jovens e adultos no período
noturno vem apresentando e das necessidades de alternativas para que o mesmo
se desenvolva mais eficazmente, esta pesquisa visa colaborar no sentido de refletir
sobre a problemática do aluno-trabalhador da Educação de Jovens e Adultos no
período noturno, bem como das constantes preocupações acerca do ingresso e
permanência deste no atual mercado de trabalho.
Depois de considerar essas reflexões, o nosso trabalho monográfico é
organizado da seguinte maneira:
No primeiro capítulo será abordada a problemática que é aprofundar o estudo
da situação real do aluno – trabalhador na escola pública de educação de jovens e
adultos, procurando, contribuir para uma melhor compreensão dessa modalidade no
contexto da relação trabalho e educação.
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No segundo capítulo, apresentamos as palavras-chaves da nossa pesquisa:
Educação de jovens e adultos, aluno-trabalhador e escola. Analisamos os diversos
aspectos a serem abordados nesta reflexão dentro da ótica de teóricos, para melhor
embasar a nossa pesquisa.
O terceiro capítulo trata dos procedimentos metodológicos, mostrando os
caminhos trilhados para o desenvolvimento da pesquisa. Na busca de uma
profundidade maior na análise do problema levantado por este estudo, lançou – se
mão da investigação, através de questionário e entrevista direcionados à alunos da
escola pública da Educação de Jovens e Adultos buscando – se verificar como os
aspectos evidenciados neste trabalho, estão sendo concretizados no dia - a - dia.
O quarto capítulo apresenta reflexões e dados a cerca da realidade do ensino
noturno na Educação de Jovens e Adultos, buscando discutir a idéia dentro e fora da
escola, inclusive, percebendo o papel que esta tem na sociedade, pois não se
compreende um processo de construção da verdadeira cidadania, sem o
correspondente desenvolvimento cultural, educacional, político, econômico e social.
Partindo dos resultados alcançados elaboramos as considerações finais deste
trabalho, apresentando reflexões dos resultados obtidos. A partir desta abordagem
evidenciamos de maneira mais concreta as dificuldades e facilidades que os alunos
trabalhadores pesquisados demonstram com as significações e percepções da
realidade vivida na escola e no trabalho.
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CAPÍTULO I
PROBLEMÁTICA
A Educação é um processo que está vinculado a uma concepção de
conhecimentos, de saber e de cultura. É papel da educação, em especial a
educação de adultos, oferecer aos educandos uma escola produtiva,
contextualizada, competente e crítica, que dê aos indivíduos as possibilidades de
transformação da realidade em que estão inseridos; uma escola que realmente
atenda as necessidades dos alunos.
Falar em educação no Brasil implica em falar sobre a qualidade de ensino
escolar que está sendo desenvolvido neste espaço formal de educação, bem como
nas modalidades de ensino oferecidas aos alunos que buscam uma educação
específica para suas necessidades.
Uma dessas modalidades é a educação de jovens e adultos que garante o
acesso a escola aos que a ela não tiveram na idade própria. A EJA emerge, pois ,
como uma opção para o problema do analfabetismo e do baixo nível de
escolarização dos adultos. Neste contexto, buscamos no histórico as soluções
apontadas para o problema do aluno adulto carente de escolaridade, pressupondo
que este olhar para o passado possa servir de elemento básico para a compreensão
das medidas atuais, nos indicando que nos aspectos pedagógicos precisamos
entender a fundo a expressão “Educação de Adultos”. Segundo Rocco (1979) a
educação de adultos é:
Um processo de transformação, voltado para indivíduos de 15 anos ou mais. Esta idade é o marco de referencia na separação entre a chamada “idade infantil” da “idade adulta”. Tanto é assim que – seja no plano nacional, estabelecido pela legislação federal do ensino seja no internacional, via recomendações da UNESCO – é precisamente este o momento cronológico tomado como base para a verificação do cumprimento ou não da escolaridade mínima. (ROCCO;1979, P.9).
15
Um dos objetivos da educação de adultos (LDB, 1996) é capacitar os sujeitos
e prepará-los para serem inseridos no contexto da sociedade, e aprimorar as
condições de vida. Esta aprendizagem através da escolarização, também conduz e
prepara esses indivíduos para o exercício de uma atividade profissional, provocando
uma mudança sócio-cultural e econômica em sua vida.
Para atender aos objetivos que a educação de adultos se propõe segundo o
Plano Nacional de Educação (iniciação no ensino de ler, escrever e contar) a escola
necessita estar devidamente preparada em sua estrutura pedagógica, uma vez que
a educação de adultos é complexa em sua essência, pois atende uma parcela da
população que exige cuidados especiais na hora de aprender. Um dos objetivos
segundo o PNE é a elaboração global do nível de escolaridade da população bem
como a redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e a
permanência com sucesso na educação pública
Esta complexidade abrange tanto o campo pedagógico como o político-social.
Justamente por isso a busca por respostas é pertinente e aumenta nossa
responsabilidade e compromisso, quando queremos, de fato mudar nossa realidade
enquanto profissionais. Entendemos que este processo é destinado a superar a
carência escolar daqueles que não acompanharam o processo comum de
escolarização e Implica também em aprimoramento ou especialização para esse
adulto, uma vez que o mesmo já traz uma bagagem de conhecimentos.
É importante considerar o aluno trabalhador como sujeito do processo de
ensino-aprendizagem, possibilitando assim a reflexão crítica sobre a realidade,
levando-o a participar de projetos de transformação da sociedade. Compete à
escola, procurar condições viáveis para que o aluno-trabalhador a ela tenha acesso
e permaneça com sucesso, resgatando a auto-estima e a vontade de construir
conhecimento.
Para se falar do aluno-trabalhador, deve-se inicialmente, falar da importância
da educação e da escola em sua vida. Segundo Sacristán e Gómez (2000)
educação é um processo de desenvolvimento do indivíduo a fim de que ele possa
atuar em uma sociedade pronta para a busca da aceitação dos objetivos coletivos.
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Para isso, a escola deve considerar esse aluno, consciente das suas possibilidades
e limitações, e capaz de compreender a realidade do mundo que o cerca.
O aluno da EJA, esse adulto trabalhador, vive uma realidade diferente dos
outros alunos, ele chega à escola, cansado e muitas vezes mal alimentado o que
vem limitar o seu potencial, pois tem menos tempo ou quase nenhum de se preparar
para as avaliações e fazer as atividades extra-classe. Geralmente ele dorme tarde,
acorda cedo, alimenta-se mal, trabalha mais de oito horas por dia e já chega à
escola em precárias condições físicas e intelectuais. Carvalho (2000) nos diz que:
São muitas as justificativas para o aluno que freqüenta a escola à noite: falta de apoio familiar, necessidade de trabalho para contribuir para o orçamento doméstico, com uma má alimentação, desatenção por parte dos professores quando os alunos não demonstram o perfil idealizado, o aluno do ensino noturno trabalha durante todo o dia e cansado não tem um bom rendimento escolar ou não tem tempo de estudar e acaba abandonando por sua vez a escola. (CARVALHO, 2000; p. 14).
Frente a tantos problemas é um aluno que merece atenção especial por parte
da escola e dos educadores, ressaltando que a mesma tem o dever de discutir o
sentido que o aluno-trabalhador vê na educação, pois os mesmos buscam na escola
além da realização pessoal, a realização profissional, percebendo assim as
oportunidades para o acesso ou a permanência no mercado de trabalho.
A contribuição de Freire (1980) para a educação de jovens e adultos foi
fundamental para trazer reflexão neste processo tão importante para formação
humana, segundo ele “caminhando na direção de uma educação democrática e
libertadora”, comprometida com a realidade social, econômica e cultural dos menos
favorecidos, e a escola como instituição pública, deve cumprir o seu papel de
promotora de desenvolvimento integral dos educandos.
.
Por sua vez a escola precisa conhecer ainda o contexto concreto em que os
alunos estão envolvidos, a realidade que os cerca, para assim poder ajudá-los
melhor, abrir e indicar caminhos e não servir como um obstáculo. O currículo precisa
contemplar a realidade do aluno. É muito comum as escolas trabalharem com EJA
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através de currículos utilizados no ensino considerado regular. De acordo com
Hernandez (1998):
É possível organizar um currículo escolar não por disciplinas e sim por temas, nos quais os estudantes se sintam envolvidos, aprendam a pesquisar (propor perguntas problemática), procurar fontes de informação que ofereçam possíveis respostas, selecioná-las, ordená-las, interpretá-las e tornar público o processo seguido. (HERNANDEZ, 1998; p. 42).
A idéia de base comum do currículo está presente no artigo 38 da LDB,
sugerindo a educação de jovens e adultos como reparadora. Nesse artigo atribui a
Educação de Jovens e Adultos a função de restaurar o direito de todos à educação
escolar de qualidade, possibilitando a todos, sem discriminação, acesso a um bem
real, social e simbolicamente importante. A reparação é a oportunidade concreta de
jovens e adultos estarem na escola e uma alternativa viável em função das
especificidades socioculturais desses segmentos para os quais se espera que a EJA
necessita ser pensada como um modelo pedagógico próprio, a fim de criar situações
pedagógicas e satisfazer necessidades de aprendizagem de jovens e adultos.
Diante dos diversos aspectos apresentados acima, torna-se importante
discutir sobre a postura do aluno da EJA, em relação à escola e a responsabilidade
da escola frente aos desafios de inseri-los no mundo globalizado. Assim surgiu a
seguinte questão da pesquisa: Qual a expectativa do aluno trabalhador com relação
a escola?
O estudo teve como objetivo identificar quais as expectativas que os alunos
trabalhadores da EJA do Colégio Estadual Teixeira de Freitas tem em relação à
escola.
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CAPÍTULO II
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os aportes teóricos apresentados neste capítulo para melhor embasar nossa
pesquisa conforme apresentados no capítulo I, nos levaram a fazer uma reflexão em
torno dos nossos conceitos-chave, que são: EJA, Aluno-trabalhador e Escola.
2.1 EJA - EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
A educação de jovens e adultos teve varias denominações, sendo as mais
freqüentes: educação supletiva ou ensino supletivo, bem como educação
compensatória ou educação suplementar. No decorrer dos anos diversos autores
entram num consenso quanto ao seu objetivo, que é o de compensar uma situação
de carência, suprir a falta de algo, desenvolver a construção do conhecimento que
não foi adquirido na infância, promover o ensino fundamental para inserção sócio-
político, sócio-econômica e educacional (MEC/SEF, 1998).
Uma breve retrospectiva histórica sobre a Educação de Jovens e Adultos no
Brasil tem como finalidade contextualizar o percurso sócio-histórico-evolutivo desta
modalidade de ensino (EJA).
Na história da educação do Brasil, a educação básica de adultos surgiu a
partir da década de 30, quando finalmente começa a consolidar um sistema público
de educação elementar no país. Nesse período, a sociedade brasileira passava por
grandes transformações, associadas ao processo de industrialização e concentração
populacional em centros urbanos (RIBEIRO, et. al, 1998).
A necessidade de mão de obra qualificada foi uma marca deste período,
segundo CUNHA (1999), com o desenvolvimento industrial, no início do século XX,
inicia-se um processo lento, mas crescente, de valorização da educação de adultos,
a valorização da língua falada e escrita para fins de domínio das técnicas de
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produção. Essa preocupação era voltada para alfabetizar somente os trabalhadores,
não atingindo toda população.
A Educação de Jovens e Adultos no sistema educacional brasileiro teve seu
reconhecimento oficializado e legitimado na Constituição de 1934 “que pela primeira
vez, em caráter nacional” considerou a educação “como direito de todos e (que ela)
deve ser ministrada pela família e pelos poderes públicos” (art. 149) (SOARES,
2002, p. 50).
Em 1947, o governo lançou a 1ª Campanha de Educação de Adultos,
propondo: alfabetização dos adultos analfabetos do país em três meses,
oferecimento de um curso primário em duas etapas de sete meses, a capacitação
profissional e o desenvolvimento comunitário. (CUNHA, 1999).
De acordo com SOARES (1996), essa 1ª Campanha foi lançada por dois
motivos: o primeiro era o momento pós-guerra que vivia o mundo, que fez com que a
ONU fizesse uma série de recomendações aos países, entre estas, a de um olhar
específico para a educação de adultos. O segundo motivo foi o fim do Estado Novo,
que trazia um processo de redemocratização, que gerava a necessidade de
ampliação do contingente de eleitores no país.
SOARES (1996) diz que ao final da década de 50 e início da década de 60,
iniciou-se, então, uma intensa mobilização da sociedade civil em torno das reformas
de base, o que contribuiu para a mudança das iniciativas públicas de educação de
adultos.
Em 1964 surge o MOBRAL, que visava alfabetizar os adultos principalmente
na zona rural, extinto no ano de 1985. Com a redemocratização do país, surge a
Fundação Educar até o ano de 1990 quando foi por sua vez também extinta.
Na década de 70, ocorre, a expansão do MOBRAL, em termos territoriais e de
continuidade, iniciando-se uma proposta de educação integrada, que objetivava a
conclusão do antigo curso primário.
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Por vários motivos a criação de instituições como o MOBRAL e a FUNDAÇÃO
EDUCAR, não conseguiram estabelecer uma educação diferenciada e eficiente para
Jovens e Adultos, e sua extinção não causou grandes perdas para os alunos desta
modalidade de ensino, no entanto o fechamento das mesmas acabou por deixar um
vazio onde antes havia uma esperança.
No final da década de 50 e inicio da década de 60 surge uma nova visão
sobre o problema do analfabetismo, junto à consolidação de uma nova pedagogia de
alfabetização de adultos, que tinha como principal referência Paulo Freire.
As idéias de Freire (1989) propunham uma maior comunicação entre o
educador e o educando e uma adequação do método às características das classes
populares. Seu método revolucionou as bases da educação populares e para ele, a
educação e alfabetização se confundem. Alfabetização é o domínio de técnicas para
escrever e ler em termos conscientes e resulta numa postura atuante do homem
sobre seu contexto.
Com o exílio de Freire em 1964 após o golpe militar, as idéias de
alfabetização popular foram deixadas de lado e o governo prioriza um movimento de
assistencialismo e conservadorismo no campo educacional, impossibilitando a
manifestação das classes operarias e colocando a educação a serviço de ditadura
militar.
No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) 5692/71, incluiu em
seu conteúdo um capitulo especial para tratar da educação de Jovens e Adultos.
Dentro do capitulo IV da LDB o artigo 25 estabelece:
Art25 - O ensino supletivo abrangerá, conforme as necessidades a atender, desde a iniciação no ensino de ler, escrever e contar e a formação profissional definida em lei específica até o estudo intensivo de disciplinas do ensino regular e a atualização de conhecimentos. (LDB:1971).
Aprovada em 1971, esta lei dedicou pela primeira vez na história da educação
brasileira uma página a educação de adultos. Nela o ensino supletivo estava apto a
encontrar soluções que se ajustassem à realidade escolar e às mudanças ocorridas
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numa sociedade capitalista, na perspectiva de oferecer aos jovens e adultos, que
não tiveram acesso à escola uma oportunidade de adquirirem um nível de
escolaridade que lhes permitisse uma melhor condição social e econômica.
Apesar das muitas nomenclaturas que a educação de jovens e adultos teve
no decorrer dos anos, muito pouco foi feito de fato. No ano de 2008 pela primeira
vez na história do país o PNLD foi estendido ao EJA, para resolver um problema de
grandes proporções como a falta de escolarização básica para grande maioria da
população de jovens e adultos. Segundo Timothy Ireland (Diretor do Departamento
de Educação de Jovens e Adultos) “foi o reconhecimento oficial da importância
dada, hoje, a educação de jovens e adultos”.
Diante desse contexto, observamos que a educação de Jovens e Adultos ao
longo de sua trajetória vem sendo concebida e institucionalizada, em consonância
com a realidade sociocultural, política e econômica do país. Percebemos também
que está realidade tende a mudar com a própria consciência de mundo que a
educação pode levar para os alunos e pela qual Freire tanto lutou. Segundo Freire
(1989):
Por isso a alfabetização não pode se fazer de cima para baixo, nem de fora para dentro, como uma doação ou uma exposição, mas de dentro para fora pelo próprio analfabeto, somente ajustado pelo educador. Está é a razão pela qual procuramos um método capaz de fazer instrumento também do educando e não só do educador e que identificasse, o conteúdo da aprendizagem com o processo de aprendizagem. ( FREIRE:1989, pg.72).
Freire foi um importante divisor de águas na EJA. Sua experiência pessoal
como alfabetizador trouxe grandes contribuições para o Brasil, e seus livros são até
hoje objeto de pesquisa para todos que querem compreender a dinâmica desta
modalidade de ensino como ferramenta de transformação social.
O mundo contemporâneo não tem mais espaço para pessoas que não sabem
ler e escrever ou possuem o mínimo de conhecimento exigido para que seja
absorvida pelo mercado de trabalho cada vez mais exigente e esta competência
deve estar contemplada na oferta de EJA a toda população, não apenas como
direito a escolarização básica, mas acima de tudo como resgate de cidadania.
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2.2 ALUNO TRABALHADOR
O ingresso do trabalhador na escola emerge e ganha expressão cada vez
maior denotando idéia de que um mundo globalizado, tecnificado e em constante
transformação demanda profissionais que dominem os conhecimentos acumulados
em sua área de competência especifica, mas que também sejam capazes de
resgatar uma visão da totalidade, situação esta distante da realidade.
Para Aranha (2003), os trabalhadores adquirem conhecimentos no trabalho
que vão além das informações e habilidades propiciadas por cursos e treinamentos.
Há todo um processo cultural, interpessoal, social onde os trabalhadores, pela sua própria experiência no trabalho, vivência em diversos ambientes, relacionamento com diferentes pessoas, constroem e adquirem um conhecimento contínuo sobre o seu fazer. Conhecimento nem sempre codificável, mas extremamente significativo para o andamento do trabalho. Trata-se do que, na sociologia do trabalho e na área de formação profissional é denominado como conhecimento tácito.(ARANHA, 2003 p.105).
O aluno da EJA é aquele que já compreendeu como a escolarização é
importante, que ela é na verdade a grande responsável pela inclusão social dos
jovens e adultos que não tiveram acesso à escola em tempo hábil.
O aluno geralmente não dispõe na própria empresa de espaço educacional,
onde possa a vir estudar. O mesmo busca então esta formação acadêmica de forma
mais tradicional nos estabelecimentos de ensino comuns, que por sua vez não
possuem um currículo voltado para a classe trabalhadora. Esta busca de informação
e formação fica sob a responsabilidade de cada um, construindo um eixo necessário
ao desenvolvimento de suas atividades e na intenção de uma promoção.
O trabalhador procura sair dessa condição de submissão, buscando a escola
como um “caminho” viável para uma vida melhor, mais digna e cidadã. Faz-se
necessário, criar novas formas para aprender a se organizar, a reivindicar seus
diretos, a compreender as relações sociais e a função que desempenham. Arroyo
(2001) diz:
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O capital, as relações de trabalho estão distantes da escola, das teorias pedagógicas, que aos educadores não é fácil perceber que a fábrica, e empresa, as relações de trabalho e produção invadiram a escola, enquanto nós ficávamos entretidos em aplicar testes de QI, de prontidão, em discutir taxonomias, bem como a função reprodutora dos aparelhos ideológicos do estado (...) a vinculação entre a escola popular, seus problemas e o mundo do trabalho e da produção é mais forte do que pensamos (p.49).
O homem em seu aspecto social, pode por meio do trabalho compreender a
realidade que o cerca, buscando construir uma nova sociedade. Para isso, os
mesmos precisam conquistar a liberdade cultural, intelectual e espiritual. Quando o
povo comum, especialmente os trabalhadores que exercem o direito de formação do
saber, da cultura e da identidade de classe, tem mais possibilidade de conquistar
seus direitos. Como nos fala Freire (1989): “Quando o homem compreende sua
realidade, pode levantar hipótese sobre o desafio dessa realidade e procurar
soluções. Assim pode transformá-la e com o seu trabalho pode criar um mundo
próprio” (p.30).
Os homens que buscam o conhecimento, que visam de modo mais eficiente
experiências libertadoras, vêm exercendo a função de transformar a si mesmo e a
realidade. Mas por mais que se queira não se consegue nada sozinho. Enquanto o
homem não caminhar junto, fazendo do diálogo e da convivência suas “armas” nada
de mudança ocorrerá. De acordo com Freire, (1987):
(...) o diálogo é uma espécie de postura necessária na medida em que os seres humanos se transformam cada vez mais em seres criticamente comunicativos. O diálogo é o momento em que os homens se encontram para refletir sobre a sua realidade tal como a fazem, a refazem (...) (p.122-123).
Já dizia Freire (1987, p.35) “a libertação, por isto, é um parto e um parto
doloroso. O homem que nasce deste parto é um homem novo que só é viável na e
pela superação da contradição opressor-oprimido, que é a libertação de todos”.
Pela educação é possível mudar o mundo, Freire acreditava nisto, insistia que
cada pessoa pode mudar seu futuro, basta querer. Quando a educação em idade
normal não é possível, buscar esta educação na fase adulta pode sim diminuir as
desigualdades sociais na medida em que ajuda o sujeito a perceber melhor sua
realidade e buscar mudanças.
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Perceber esses jovens do ponto de vista da EJA revela uma condição marcada por profundas desigualdades sociais. Na escola de EJA estão os jovens reais, os jovens aos quais o sistema educacional tem dado as costas. Percebe-los significa a possibilidade de dar visibilidade a esse expressivo grupo que tem direito a educação e contribuir para a busca de uma resposta a uma realidade cada vez mais aguda e representativa de problemas que habitam s sistema educacional como um todo. (ANDRADE, 2004, P.45)
Segundo Fávero (2004, p.26), “Campanhas e movimento de massa não
resolverão o problema do analfabetismo da população jovem e adulta, pois esse
problema é gerado pela insuficiência e ausência da escolarização das crianças e
adolescentes, e questiona:” Diz-se ter sido praticamente universalizado o ensino
fundamental. Qual o ensino? Com qual qualidade? Concordamos com o auto, pois
mesmo diante dos avanços e conquistas na área educacional, prescritos na
constituição Brasileira, (Soares 2002,p.30), confirma também que o ensino
fundamental, o quadro sócio-educacional seletivo continua a produzir excluídos,
mantendo adolescentes, jovens e adultos sem escolaridade obrigatória completa.
Por existir tantas desigualdades sociais em relação à educação, o aluno
aprende apenas quando se torna sujeito da aprendizagem, pois o mesmo deve estar
sempre estimulado a exercer atividades voltadas para a liberdade de expressão,
constituindo um fator de formação da personalidade e mais alta relevância.
Diante do desejo e ousadia, do fortalecimento de cada trabalhador, de juntos
mudarem esse terrível e doloroso quadro de que “manda quem pode e obedece
quem tem juízo”, de se libertarem, de juntos poderem gozar de uma vida mais digna
e cidadã, essa que cada indivíduo tem direito, mas que muitos os ignoram.
O aluno da EJA tem uma característica especial, ele pode responder por seus
atos e palavras, além de assumir responsabilidades diante dos desafios da vida.
Quando chegam à escola, trazem muitos conhecimentos, que não são não
aproveitados pela escola, mas certamente são conhecimentos adquiridos na vida,
uma vida onde o trabalho ocupa lugar de grande importância e a escola, como
agente de formação e informação, torna-se uma alternativa viável de ampliação de
sua condição cidadã.
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2.3 ESCOLA
A escola é um grande espaço social de convivência daqueles que
sistematicamente são desumanizados pelo trabalho, pelo isolamento e por suas
condições de existência. É também, um local de fala dos que não tem voz no dia-
dia; de participação daqueles acostumados a obedecer, de encontro dos
desencontrados, do saber das coisas do mundo dos que foram afastados da
possibilidade de parte deste conhecimento.
Entende-se por escola a instituição social que concretiza as relações entre
educação, sociedade e cidadania sendo uma das principais agências responsáveis
pela formação das novas gerações. É um lugar de aprendizagem onde são
elaboradas as formas para desenvolver atitudes e valores e adquirir competências,
desempenhando um papel importante no processo de formação dos cidadãos,
preparando-os para viverem em uma sociedade de informação e do conhecimento.
Prepara o aluno para “futuramente”, disputar o mercado de trabalho e prover sua
subsistência. Ou seja, a escola “é uma instituição de cultura que deve socializar o
saber, ciência, a técnica e as artes produzidas socialmente, para que todos possam
ter acesso a esses bens culturais”. (ROMANELLI, 1992 Apud BARALDI, 1998, p.
68).
A escola também se expressa em organização, com cultura própria, objetivos,
funções e estruturas definidas. A mesma faz a mediação entres as demandas da
sociedade por cidadãos escolarizados e as necessidades de auto-realização das
pessoas.
Também a escola é uma das muitas instituições que de vem se ocupar de preparar o individuo para o exercício crítico da cidadania e é a que pode proporcionar essa preparação mais completa – dentro de uma visão em que o cidadão crítico é o indivíduo capaz de fazer a crítica da consciência e, sobretudo, aquele que domina o conhecimento daquilo que vai criticar. (BARALDI, 1998. P, 68).
Os alunos trabalhadores vêem na escola este espaço de convivência social,
local privilegiado no desenvolvimento da capacidade de relacionamento,
participação, local de reencontro com o mundo. A escola é o espaço onde têm a
26
oportunidade de se relacionarem com pessoas do seu meio social e de tentar
planejar um outro meio de vida. A atividade profissional exercida parece ser um fator
de motivação para a freqüência à escola, entendida como local de socialização.
Para Haddad (2001):
A escola é um espaço da vinculação de um conhecimento sobre a vida, que ultrapassa o limite restrito da questão profissional. E o conhecimento sobre as coisas do mundo, que pode contribuir para entender o que é veiculado pelos meios de comunicação, para compreensão da realidade desse cotidiano, para a segurança na fala dosa que nunca têm voz, para a segurança na ação dos que nunca participam. ( HADDAD 2001, P.169).
A escola tem a missão de oportunizar aos educandos um ensino de qualidade
voltado para a compreensão do real e intimamente ligado ao entendimento crítico da
realidade que o cerca. O desenvolvimento da consciência educativa na escola deve
passar por uma atitude firme e engajada de todos aqueles que dela fazem parte.
São muitos os desafios da escola EJA. Certamente desafios que perdurarão
por alguns anos, visto que, o mundo não pára e as necessidades com relação à
alfabetização de adultos é cada vez mais urgente e a forma como ela será feita
necessitará de mudanças com o intuito de acompanhar a evolução, a inserção das
tecnologias, o olhar do novo homem.
A valorização do conhecimento prévio e o reconhecimento dos alunos como
portadores de cultura e saberes são os primeiros passos para que a escola promova
no EJA uma educação que prime pela qualidade.
27
CAPÍTULO IIl
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Demo (2003) pontua que dimensão social da pesquisa e do pesquisador,
estão mergulhados naturalmente na corrente da vida em sociedade, com suas
competições, interesses e ambições, ao lado da legítima busca do conhecimento
científico.
Pensando no fazer ciências que dá valor à experiência para compreender o
comportamento humano e o comprometimento com sua realidade histórica, esta
pesquisa tem como objetivo identificar quais as expectativas que os alunos
trabalhadores da EJA tem em relação a escola. O alcance desse objetivo nos levou
a definir como ponto principal o paradigma qualitativo e optar pelas estratégias a
seguir:
3.1 TIPO DE PESQUISA
Para Alves (2003, p.41) a pesquisa “é um exame cuidadoso, metódico,
sistemático e em profundidade, visando descobrir dados, ampliar e verificar
informações existentes com o objetivo de acrescentar algo novo à realidade
investigada”.
O tipo de pesquisa utilizada foi a pesquisa qualitativa já que esta tem o
ambiente natural como uma fonte direta de dados e o pesquisador como o seu
principal instrumento. (BOGDAN e BIKLEN, 1982). Segundo os dois autores a
pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o
ambiente e a situação que está sendo investigada através do trabalho intensivo de
campo. Sobre a pesquisa qualitativa Giovazzo (2001) fala que:
28
A pesquisa qualitativa costuma ser direcionada e não busca enumerar ou medir eventos e, geralmente não emprega instrumental estatístico para análises de dados, seu foco de interesse é amplo e que dela faz parte a detenção de dados desc ritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo. Nas pesquisas qualitativas, é freqüente que o pesquisador procure entender os fenômenos, segundo as perspectivas dos participantes da situação estudada (p.1).
A pesquisa qualitativa responde ainda às questões muito particulares. Ela se
preocupa, nas ciências sociais, com o nível de realidade que não pode ser
quantitativo, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, crenças,
valores e atitudes. Para Michalizy & Tomasini(2005):
A pesquisa qualitativa caracteriza-se pela interação entre os pesquisadores e o grupo social pesquisado, ocorrendo entre eles um certo envolvimento de modo cooperativo ou participativo e supõe o desenvolvimento de ações planejadas de caráter social (p.32).
Segundo Ludke e André (1986), é cada vez mais evidente o interesse que os
pesquisadores da área vêm demonstrando pelo o uso das metodologias qualitativas.
Como já foi citada a abordagem qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos,
por meio do contato do pesquisador com a situação estudada.
3.2 LÓCUS DA PESQUISA
A pesquisa foi realizada no Colégio Estadual Teixeira de Freitas, na cidade de
Senhor do Bonfim–BA. É mantida pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia,
funciona nos três turnos. Tem uma clientela de 220 alunos e 30 professores, destes,
80 alunos são assistidos pela EJA, que só funciona no período noturno. O referido
colégio foi escolhido como lócus da pesquisa por oferecer o ensino fundamental
destinado a EJA – Educação de Jovens e Adultos.
3.3 SUJEITOS DA PESQUISA
29
Os sujeitos de nossa pesquisa foram 15 alunos pertencentes as turmas do
ensino fundamental (aceleração l e II), do turno noturno. Foram escolhidos através
do auxilio de um professor da escola, que indicou uma amostra de 40 alunos
trabalhadores e, destes selecionamos aleatoriamente os 15 sujeitos. Escolhemos
estes sujeitos por preencherem os pré-requisitos necessários ao resultado da
pesquisa, ou seja, são trabalhadores estudantes que tem na EJA a oportunidade de
realizar conquistas e melhorar sua condição de trabalhador.
3.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
No processo de coletas de dados tivemos o cuidado de analisar todas as
possibilidades até percebermos quais instrumentos seriam mais adequados ou que
melhor serviriam para coleta dos dados de forma objetiva e segura. Assim, alguns
instrumentos foram apresentados como viáveis: questionário fechado e a entrevista
semi-estruturada.
3.4.1 Questionário Fechado: Utilizou-se em primeira instância um
questionário fechado, que oferecia um campo vasto de opções buscando traçar o
perfil de cada sujeito entrevistado. Marconi e Lakatos (1996), diz que: “perguntas
fechadas são aquelas que indicam três ou quatro opções de respostas ou se limitam
às respostas afirmativas ou negativas e já trazem espaços destinados da escolha”.
(p.131).
Desse modo utilizamos um instrumento para traçar o perfil sócio-econômico
dos sujeitos participantes da pesquisa e caracterizá-los de uma maneira mais segura
conhecendo as atividades do cotidiano dos mesmos e o contexto econômico e
cultural em que estão inseridos
A linguagem utilizada no questionário fechado deve ser simples e direta para
que o respondente compreenda com clareza o que está sendo perguntado.
30
Os questionários são perguntas feitas na mesma ordem, tem-se uma
vantagem óbvia padronizada ou estruturada, que é usada quando se visa à
obtenção dos resultados na pesquisa. Considera-se uma das técnicas usadas nas
pesquisas sociais, permitindo o desenvolvimento das idéias, sentimentos, opiniões,
condutas e expressões sobre o que aconteceu, acontece ou poderá acontecer
futuramente.
O questionário como sendo útil para obtenção de informação à cerca do que a
pessoa sabe,crê ou espera, sente ou deseja, pretende fazer, faz ou fez, bem como o
respeito de suas explicações ou razões para qualquer das coisas precendendes.
(Saltez 1997).
Marconi e Lakatos (1996, p.88) Ainda definem o questionário como um
instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenadas de perguntas
que devem ser respondidas por inscrito e sem a presença de entrevistados.
Portanto, o questionário nos fornece as informações necessárias para o
esclarecimento das questões apresentadas no tema abordado.
3.4.2 Entrevista Semi-estruturada: Num segundo momento foi aplicada a
entrevista, um instrumento importante, pois através dela é possível a obtenção de
informações dos sujeitos envolvidos na pesquisa. Tanto que Ludke e André (1986)
elegem a entrevista como estando em grande vantagem sobre as outras técnicas,
pois a mesma permite a captação imediata e corrente da informação desejada,
praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos.
Sobre sua importância Ludke e André ainda ressaltam que a entrevista
representa um dos instrumentos básicos para a coleta de dados afirmando;
Ela desempenha um importante papel nas atividades científicas, como em muitas outras atividades humanas. Na entrevista a relação que se cria é de interação, havendo uma atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde. (Ludke e André, p.33).
31
A entrevista também pode ser considerada como prática discursiva, de forma
a entendê-la como ação, interação situada e contextualizada por meio da qual se
produzem os sentidos e se constroem versões da realidade (Ludke e André, 1986
p.34). Buscando ainda subsídios em Triviños (1987 p.134), ele afirma que a
entrevista pode ser definida como um processo de interação social entre duas
pessoas, na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de
informações por parte do outro, o entrevistado.
A possibilidade dos sujeitos se expressarem oralmente nos permite
aprofundar, questionar e recolher uma diversidade de informações, pois segundo
Minayo (1994 p.57) “a entrevista não significa uma conversa despretensiosa e
neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos
autores, enquanto sujeito/objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada
realidade que está sendo focalizada”.
Procurou-se estabelecer um clima de estímulo e aceitação para com os
entrevistados, dando-lhes oportunidades de discorrer sobre o tema com base nas
informações por eles obtidas. Organizando um roteiro onde foram evidenciados
tópicos principais para com nosso assunto em questão.
Vale destacar a importância desse modelo de entrevista por ser muito
eficiente e por proporcionar uma reflexão ampla mediante a fala dos entrevistados
segundo o objetivo que o pesquisador deseja alcançar.
CAPÍTULO IV
32
DISCUSSÃO E ANÁLISES DOS RESULTADOS
Neste capítulo, apresentaremos os dados coletados e os respectivos
resultados alcançados através dos conhecimentos de coleta de dados, norteados
pelo objetivo e pelo quadro teórico presentes na nossa problemática.
A partir desse contexto podemos obter informações reveladoras para a
pesquisa, procurando refletir e considerar aspectos importantes que dizem respeito
aos nossos questionamentos e objetivos de pesquisa e a realidade a qual os sujeitos
estão inseridos.
4.1 – O PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA
Através da entrevista semi-estruturada e questionário fechado, foram
levantadas informações que puderam traçar o perfil de cada membro envolvido na
pesquisa. Na seqüência apresentaremos o perfil dos sujeitos onde serão designados
no decorrer da análise.
4.1.1 – Quanto ao gênero e faixa etária
Ao analisarmos o perfil dos sujeitos, identificamos uma predominância
feminina, 73% para mulheres e 27% para homens. Existem inúmeros motivos que
explicam esta realidade, um dos mais presentes é o fato da mulher abrir mão do
estudo para formar família cedo, e retornando a escola anos depois para concluí-lo,
muitas vezes para se responsabilizar por parte ou todo orçamento familiar.
Junto com esta responsabilidade vem uma nova concepção de educação e da
importância da mesma dentro do contexto social, já que é importante a
escolarização para uma inserção no mercado de trabalho.
A faixa etária de alunos da EJA vai dos 17 aos 56 anos. Esse fato está
objetivamente ligado ao acesso tardio à escola, com todo o acréscimo de
33
dificuldades que o aluno da EJA possui. A distribuição das idades é: 20% entre 26 e
30 anos, 20% responderam que tem entre 21 e 25 anos, 7% estão entre 18 e 21
anos e a maioria absoluta de 53% superior a 30 anos.
4.1.2 – Idade de ingresso na escola noturna
Em relação à idade de entrada na escola noturna, 20% entre 18 e 20 anos,
outros 13% dos 21 aos 25 anos, e 67% com mais de 30 anos.
Estes dados caracterizam e reforçam uma situação que tem raízes na divisão
de classes, no qual o aluno privilegiado pela sua classe social tem todas as
condições favoráveis de se dedicar exclusivamente à escola, concluindo seus
estudos dentro da faixa etária de 16 a 18 anos, considerando ideal pela escola e
pelos órgãos governamentais responsáveis pelo ensino.
4.1.3 – Idade de ingresso no mercado de trabalho
Na pergunta com qual idade iniciaram no mercado de trabalho, 13%
responderam que começaram a trabalhar com menos de 10 anos, outros 60%
responderam com idade entre 11 aos 14 anos, 20% entre os 15 aos 17 anos e 7%
dos alunos restantes, acima dos 17 anos. Esta realidade demonstra que o trabalho
ocupa um lugar fundamental na vida do aluno e isso prejudica o processo de
escolarização.
4.1.4 – Renda familiar
No quesito renda familiar, 13% ganham até três salários mínimos, 27%
ganham até dois salários mínimos e a maioria absoluta de 60% ganham um salário
mínimo, sendo demonstrado aqui o baixo nível de renda dos alunos do ensino
noturno.
34
4.1.5 – Situação enquanto trabalhador, funcional e carga horária de trabalho
durante o final de semana.
Com relação à situação do trabalhador, 67% responderam que possuem
trabalho próprio ou da família e 33% responderam que são empregados.
Os alunos da EJA em sua maioria são responsáveis pela família já
constituída. Isso explica a necessidade de trabalhar e procurar a escola para
melhorar a qualidade deste trabalho.
Os adultos que não conseguiram entrar no mercado de trabalho formal
buscam através da educação a oportunidade do primeiro emprego, assim a
educação de Jovens e Adultos está para atender uma classe especifica que já
responde por si e busca na escola uma resposta imediata aos seus anseios.
Na questão de registro de carteira profissional, somente 40% responderam
que possuem registro em carteira profissional e 60% disseram que não possuem
registro, evidenciando assim um alto índice de informalidade.
No quesito de trabalharem no final de semana, 67% responderam que sim e
33% responderam que não, demonstrando que a maioria exerce mais atividade
durante o final de semana, que acarretar problemas no lazer e principalmente para
com os seus estudos, pois o trabalho é um meio de sobrevivência, conhecimento e
manutenção para o aluno trabalhador.
4.1.6 – Freqüência e assiduidade na escola
Na questão sobre o atraso na chegada a escola, 73% responderam que não
chegavam atrasados, e 27% responderam que chegavam poucas vezes atrasados.
Com relação ao item freqüência escolar 20% responderam que faltam muitas
vezes, 60% faltam poucas vezes e 20% não faltam às aulas ficando caracterizado o
interesse do aluno trabalhador para com a escola.
35
Esse fato é bastante expressivo, pois podemos notar que o aluno da EJA,
compreende a importância da sua presença em sala de aula, ele sente que o espaço
de tempo utilizado para aulas é precioso, e deve ser utilizado da melhor maneira. É
o aluno que quer tirar o melhor proveito da educação.
4.1.7 – Motivo de faltar às aulas
Quando foram perguntados aos alunos os motivos de faltarem às aulas,
obtivemos: 33% por motivo de saúde, e 13% por compromisso social, e 53% por
compromisso de trabalho.
Portanto tal situação é incompatível com a realidade do aluno trabalhador,
que por sua condição sócio-econômica, necessita trabalhar para sobreviver, e a
escola para a maioria desses alunos, tem uma importância secundária, pois os
mesmos não têm tempo para estudar, além disso, a escola pública que ele freqüenta
muitas vezes não dispõe de infra-estrutura que lhe proporcione um estudo de
qualidade, e que o torne apto a competir no mercado de trabalho.
4.1.8 – Reprovação
Na pergunta se já tinha sido reprovado em algum ano letivo, 60%
responderam que sim, e 40% responderam que não, caracterizando o baixo índice
de aproveitamento desses alunos trabalhadores do ensino noturno, e isso
consequentemente, eleva o índice de evasão detectado no sistema escolar pela
dificuldade de conciliar estudo e trabalho.
Por sua vez a escola, não deve ser pensada como se estivesse autônoma e
independente da realidade histórica – social da qual é parte. Deve-se, portanto
dentro dessa realidade, levar em consideração o sistema social no qual se encontra
inserido o aluno que dela participa.
36
4.2 CONHECENDO AS EXPECTATIVAS DO ALUNO TRABALHADOR
QUANTO A ESCOLA
Apresentam-se a seguir os resultados alcançados a partir da interpretação
dos dados coletados. Agrupamos em quatro categorias que são: Relação escola X
vida pessoal e profissional, Escola e ascensão Profissional, A Escola como espaço
difícil de ser freqüentado. A Escola como ambiente de formação e informação.
: 4.2.1 Relação escola X Vida pessoal e profissional
Pensar na importância que o aluno-trabalhador tem sobre a escola é estar
atento ao que ele busca nela. Conforme as respostas dos mesmos, constatamos
que eles buscam através da escola um “caminho” viável para uma vida melhor.
“A escola é muito importante porque é um lugar que a gente aprende a ser
educado” (Aluno 1).
“É importante porque através dela adquirimos o conhecimento e esse é muito
importante para nós cidadãos”. (Aluno 7).
“Melhorar de vida e ter uma educação melhor para, ingressarmos no mercado
de trabalho” (Aluno 15).
Sacristan e Gomez (2000) nos advertem que:
A escola deve prover os indivíduos de conhecimento, idéias, habilidades e capacidades formais, mas também de disposições, atitudes e interesses, além disso, deve priorizar a socialização dos alunos, preparando-os para se incorporar no mundo do trabalho e na vida pública (p.36).
Diante das respostas dos alunos nota-se que a escola é importante para a
busca do conhecimento, através dela o indivíduo se emancipa, ao promover
37
mudanças no seu interior e na sociedade em que vive contribuindo para a
transformação social e se capacitando para o mercado de trabalho.
4.2.2 Escola e ascensão profissional
Nesta categoria os alunos trabalhadores apontaram os motivos que os
levaram a freqüentar a escola mesmo estando inseridos no mercado de trabalho.
“A competitividade do mercado de trabalho” (Aluno 6).
“Para alcançar um futuro melhor’’; (Aluno 8).
“Para ser um profissional habilitado e bem informado”; (Aluno 10).
Percebe-se que a opção pelos estudos emerge da necessidade do próprio
trabalho, tendo em visto que as mudanças do mundo globalizado exigem um
preparo constante dos indivíduos para garantir a sua condição de cidadania.
Os avanços tecnológicos ao tempo em que propiciam a melhoria da qualidade
dos serviços e produtos exigem dos trabalhadores uma formação capaz de permitir-
lhes usá-los de forma racional, pois como afirma Oliveira (2001).
“Deve-se, finalmente, lidar com os recursos tecnológicos da sociedade do conhecimento de forma critica, o que envolve o entendimento de que: a) esses recursos estão escritos nas relações capitalistas de produção, num contexto de redefinição da teoria do capital humano, que é reconceitualizado, nas novas organizações, como capital intelectual; b) esses recursos articulam-se com questões atuais de desempregos estrutural e subemprego; c) no entanto, o conhecimento e o desenvolvimento tecnológico são forças matérias também na concretização de valores que se relacionam com os interesses dos excluídos, contradizendo os valores próprios da acumulação capitalista; d) em todo o contexto discutido, a educação assume o papel crucial na socialização do construção do conhecimento e da cultura podendo ultrapassar o caráter instrumental do conhecimento, tendo em vista a formação de cidadãos comprometidos com: a democracia, a igualdade e a inclusão social; a tolerância e o diálogo intercultural (p. 107).
38
Os alunos trabalhadores buscam na escola um meio para o trabalho, visando
uma melhoria salarial, tornando-se um profissional habilitado para futuramente
atender as exigências do mercado devido à era informatizada e aos avanços
tecnológicos.
4.2.3 A escola como espaço difícil de ser freqüentado
A questão da freqüência à escola é um problema enfrentado pelos alunos
trabalhadores que tentam conciliar escola e trabalho.
O que quer dizer que existe interferência do horário do trabalho com o da
escola, apontado pelos alunos trabalhadores.
Os alunos-trabalhadores afirmam:
“Sim, tenho pouco tempo para estudar, sempre chego atrasado, o meu
trabalho é muito exaustivo. Sou gari ’. (Aluno 2).
“Só não chego atrasada quando saio cedo do trabalho, sou doméstica” (Aluno
3).
“Chego atrasado todos os dias, trabalho e moro na zona rural”. (Aluno 11).
De acordo com Gadotti (1997):
O trabalhador torna-se, ele próprio, uma mercadoria cujo valor depende apenas da magnitude do dinheiro - medida de valores pela qual ele é trocado. Essa magnitude é definida pela quantidade de trabalho socialmente necessário para reproduzi-lo (p.50).
Percebe-se que o aluno-trabalhador não tem tempo disponível para crescer
intelectualmente, tornando-se refém do sistema que lhe mantém preso devido à
necessidade de manter o emprego e garantir a sua sobrevivência. Prova disso é o
trabalho por turnos que não são fixos, ou seja, trabalha-se pela manhã, na semana
39
seguinte este mesmo trabalhador cumpre sua carga horária à tarde, na semana
seguinte tem que trabalhar à noite. Desta forma é difícil conciliar trabalho e estudo.
4.2.4 – A escola como ambiente de formação e informação
Nessa categoria os alunos trabalhadores apontaram diferentes aspectos de
como são adquiridos; e para que servem os conhecimentos obtidos na escola.
.
Eis abaixo algumas falas, de alguns alunos:
“Os conhecimentos adquiridos na escola são importantes porque nos fazem
crescer pessoalmente e profissionalmente”. (Aluno 2).
“Para desenvolver o meu desempenho no meu trabalho e na minha vida
profissional”. (Aluno 4).
“Para estar informado com o mundo globalizado, e nos tornarmos cultos em
conhecimentos gerais”. (Aluno 9).
Ao analisarmos as respostas dos alunos trabalhadores, notamos que o
aprendizado escolar é uma das principais características para a atualização de seus
conhecimentos, onde os mesmos poderão enfrentar um mundo globalizado. Como
nos fala Gadotti (1991):
(...) Através e na educação, os homens de uma época, de uma sociedade historicamente situada, se exprimem em relação àquilo que convém ser, que convém fazer e agem em conseqüência nela, é toda uma sociedade que se encontra empenhada, implicada. Na medida em que hoje em dia, a nossa sociedade está em crise, se interroga e hesita, a educação torna-se por sua vez, um lugar posto em questão, um lugar de tensão e de debate. Nesse sentido, ela se constitui num espaço político-pedagógico e de liberdade, portanto, onde os homens preocupados em se situar podem lutar por uma existência mais autêntica e uma sociedade mais justa (...) (p.21).
É necessário, porém que se lance um novo olhar sobre esses alunos-
trabalhadores que buscam na escola a melhoria da sua formação. È importante que
40
haja uma preparação desse aluno, tanto para o trabalho quanto para o exercício da
cidadania, trabalhando valores, crenças e idéias de soberania, visando à formação
de sujeitos autônomos.
Diante de todas as respostas, observamos desta forma que todos aqueles
que procuram a escola têm pretensões e percebe-se que esta escola tem como
função garantir o acesso ao conjunto de informações, desarticulando a diversidade
real dos alunos-trabalhadores que buscam na escola suporte para a inclusão no
mundo do trabalho.
41
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho possibilitou um estudo acerca de uma temática que tem sua
origem na complexa conjuntura sociopolítica e cultural, historicamente implantada
em nosso país, marcada por profundas desigualdades sociais herdadas desde o
regime colonial e imperial brasileiro e que ainda, lamentavelmente, persiste em
nossa sociedade contemporânea e globalizada que, a cada dia, diante das novas
tecnologias se torna mais evoluída sob esse aspecto, contudo, acentua-se a
incerteza de uma sociedade mais humana, menos violenta e igualitária.
Considerando aqui os aspectos abordados procuramos definir o
questionamento levantado na problemática, respaldado nos teóricos, pois através
deste estudo buscamos compreender a importância da escola para os alunos
trabalhadores, que buscam através da mesma realização pessoal e também
profissional, percebendo assim as oportunidades para o acesso ou a permanência
no mercado de trabalho.
Não temos a pretensão de apontar a solução definitiva, até porque nenhuma
pesquisa educacional se esgota em si mesma, mas contribui através dos dados e
sua interpretação para uma reflexão.
Todo o processo de construção deste trabalho envolveu diversas leituras,
tendo como base teóricos tais como: Arroyo, Freire, Gadotti, Soares, Fávero e
outros, dos quais este trabalho faz várias referências, foi de fundamental importância
para aprimorar e fundamentar o nosso trabalho.
A escola muitas vezes não atende as expectativas em termo de
profissionalização para o ingresso no mercado. Em termos de conhecimentos, os
alunos ainda reconhecem a importância da escola para a ampliação de sua
formação intelectual.
42
Portanto, focamos a importância de uma abordagem sobre a EJA, ou seja, na
perspectiva do aluno trabalhador, tendo como reflexão: porque retornam a escola
depois de alguns anos? Quais as suas expectativas em relação à mesma? Sendo
que a maioria dos nossos entrevistados apresenta os mesmos argumentos.
Constatando-se:
1- Retorno à escola para a busca de conhecimento;
2- Realização profissional;
3- Ascensão dentro do mercado de trabalho.
Também pudemos constatar algumas dificuldades:
1- Conciliar o horário de trabalho com o da escola;
2- Cansaço físico;
3- Deslocamento de casa para a escola.
Acreditamos que esta pesquisa é relevante, pois contribui para uma melhor
compreensão da realidade de EJA, mas, sobretudo, proporcionar caminhos ou
alternativas e, principalmente, aguçar os olhares sobre as práticas e políticas
públicas dirigidas a essa modalidade de ensino bem como se ofereça o mínimo de
qualidade ao público alvo em sua maioria, trabalhadores.
As divergências existirão, pois fazem parte do processo, porém exige de
todos a disposição de discutir publicamente a importância do aluno trabalhador com
relação a escola comprometida com a luta pelo reconhecimento e valorização,
,refletindo sobre os resultados obtidos onde evidenciamos as dificuldades e
facilidades que os alunos trabalhadores pesquisados demonstraram da realidade
vivida.
É urgente que construamos um arcabouço teórico-metodológico, isto é, um
saber técnico-profissional que resulte numa didática para o mundo do adulto.
Constatou-se que todas as lutas e anseios de uma população perpassam o
contexto escolar, indo além dele, exigindo que a escola, entidade responsável pela
43
sistematização do conhecimento, possa trabalhar para proporcionar a homens e
mulheres condições de melhor interagir e participar nas transformações tão
necessárias, pois, à volta e a permanência dos jovens e adultos à escola é, segundo
Paulo Freire, muito mais do que um ato político ou um ato de conhecimento:
constitui-se num fundador que provoca uma reflexão constante a respeito do seu
papel social, enquanto indivíduo inserido em um contexto social e criador desse
contexto.
Portanto a Educação de Jovens e Adultos deve possibilitar a todos, a
construção de uma nova história em igualdade de condições, de participação e não
simplesmente estar inserido nela.
44
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MINAYO, M.C.de S. (Org). Pesquisa social. Teoria, métodos e criatividade. Petrópolis, vozes, 1994.
OLIVEIRA,Maria Rita Neto Sales. Do mito da tecnologia ao paradigma tecnológico: a mediação tecnológica nas práticas didático-pedagógica .2001.
RIBEIRO, Vera M. Masagão. Alfabetismo e atitudes: pesquisa juntos a jovens e adultos. São Paulo, Campinas: Ação Educativa, Papirus, 1998.
ROCCO,G.M.J. Educação de Adultos: Uma contribuição para seu estudo no Brasil, São Paulo :Ed. Loyola,1979.
ROMMANELI, O.O. História da educação no Brasil. 17 ed. Petropólis-RJ: Vozes,1992.
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APÊNDICES
Universidade do Estado da Bahia – UNEB
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Pró-Reitoria de ensino em graduação – PROGRAD
Departamento de Educação – DEDE Campus VII
Caro aluno:
Agradecemos a sua colaboração e manteremos sigilo quanto à autoria das
respostas.
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO FECHADO
01 – Sexo:
( ) masculino ( )Feminino
02 - Idade
( )Menos de quinze anos
( )de 15 a 17 anos
( )de 18 a 20 anos
( )de 21 a 25 anos
( )mais de trinta anos
03 – Quando entrou na escola noturna?
( )Menos de quinze anos de idade
( )de 15 a 17 anos de idade(
( )de 18 a 20 anos de idade
( )mais de 20 anos de idade
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04 – Quando começou a trabalhar?
( )com menos de 10 anos
( )com idade entre 11 e 14 anos
( )com idade entre15 e 17 anos
( )com idade superior a 17 anos
05 – Renda familiar:
( ) até um salário mínimo
( ) até dois salários mínimos
( ) até três salários mínimos
( ) mais de três salários mínimos
06 – Situação enquanto trabalhador (a):
( ) empregado
( )trabalho próprio ou da família
07 – Tem registro em carteira profissional?
( )sim ( )não
08 – Trabalha no fim de semana?
( ) sim ( ) não
09 – Chega atrasado (a) à escola?
( )não chego atrasado(a)
( ) poucas vezes chego atrasado (a)
( ) muitas vezes chego atrasado (a)
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( ) chego atrasado (a) todos os dias
10 – Freqüência escolar:
( ) não falto as aulas
( ) poucas vezes falto as aulas
( ) falto muito as aulas
11 – Quando falta as aulas ( se falta ), qual o principal motivo de tal falta?
( ) por motivo de saúde, por estar doente
( )por compromisso social
( ) por compromisso de trabalho
( ) porque não estou com os trabalhos prontos para entregar
12 – Já foi reprovado em algum ano letivo? ( ) sim ( ) não
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Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Pró-Reitoria de ensino em graduação – PROGRAD
Departamento de Educação – DEDE Campus VII
Caro aluno:
Agradecemos a sua colaboração e manteremos sigilo quanto à autoria das respostas.
APÊNDICE B - ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
1. Qual a importância da escola para você?
2. O que levou você a estudar?
3. A sua jornada de trabalho interfere no seu estudo? De que forma?
4. Para que serve os conhecimentos adquiridos na escola?