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MEMÓRIA E CIDADE: O PROCESSO DE PRESERVAÇÃO DO
PATRIMÔNIO EDIFICADO EM CIDADE DE IMIGRAÇÃO
ITALIANA NO BRASIL E ARGENTINA – O CASO DE LA PLATA
E CAXIAS DO SUL
Marcelo Caon1
RESUMO
Em decorrência do projeto da modernidade, que imprimiu novas formas de
organização que se deram inicialmente através da atividade racional, científica,
tecnológica, intelectualização na ruptura com o finalismo da religiosidade, e ainda a
destruição dos laços sociais tradicionais produzindo novas mediações sobre o
conhecimento humano, as cidades se tornaram resultados das projeções do ser humano
na busca da realização das suas potencialidades. Entretanto, dentro da descoberta dos
limites desse projeto, os movimentos preservacionistas criaram-se, primeiramente, na
busca da identificação nacional e, mais tarde, na salvaguarda da memória como fator de
oposição frente à aceleração hipermoderna da última metade do século XX.
Palavras-chave: Cidade. Memória. Patrimônio Histórico.
Diante do desenvolvimento industrial implantado, em alguns países europeus
desde o século XVIII, sob o estandarte do progresso intenso, houve uma dissociação do
projeto da cidade moderna. Aquilo que Habermas2 destacou como as patologias dos
tempos modernos, era a distinção entre os processos de modernização e a modernidade
cultural. Em relação ao primeiro, seus atores eram o Estado e a economia, nos quais a
linguagem é secundária e se relaciona com o mundo por meio da reprodução material,
do trabalho, do lucro e dos mecanismos autorreguladores (dinheiro e poder) que são
regidos pela racionalidade instrumental. Quanto ao segundo, trata-se de um campo da
razão comunicativa, lugar onde o “mundo vivido” enfatiza a autonomização no seu
1 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Mestre e Doutorando PPGH-PUCRS,
[email protected] – Orientador: Prof. Doutor Charles Monteiro. 2 FREITAG, Bárbara. Dialogando com Jürguen Habermas. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 2005.
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interior e onde a língua e as tradições podem ser modificados, dependendo dos
questionamentos destas certezas e regulados à medida que são aceitos através do
discurso prático. O conflito se dá quando o processo de diferenciação e autonomização
(concepções da cultura) entram em crise, ou seja, a modernidade cultural reduz seu
campo de atuação devido a uma contaminação pela razão instrumental ou
racionalização, principal característica da modernização societária. A colonização do
“mundo vivido” pelo “sistema” influencia as instituições culturais que deixam de
funcionar segundo sua expressividade e passam a funcionar em decorrência apenas do
lucro ou como forma de poder.
Vale então observar como essa “modernidade” dá lugar à outra que está sob o
impacto da racionalidade instrumental, modificando os conceitos de valores, patrimônio
e preservação. Nesse quadro, a nova modernidade afasta o ser definitivamente, onde os
homens perdem pontos de referência, ficando à deriva no infinito mar do devir,
conforme esclarece Baumer3. Já em pleno século XX, será multiplicada a potencialidade
desta sociedade em que Lipovetsky passou a denominar de hipermoderna. Assim, a
cidade e o patrimônio daqueles países que ainda estão sob a sombra de um
desenvolvimento industrial, de certa forma recente, como é o caso de Brasil e
Argentina, já recebem os efeitos de destruição e reconstrução de seu núcleo urbano e
rural. Se antes a beleza arquitetônica é a expressão sensível do poder4, a partir da
segunda metade do século XX, a arquitetura, como linguagem do poder, poderia ser
traduzida na aceleração da produção arquitetônica como fator obliterador de quaisquer
resquícios de memória. Entretanto, nem todos ficam submetidos ao silêncio do respeito,
da veneração ou do terror. A destruição gera seu oposto como forma de ressignificação
e permanência de pontos de convergência que, voltam a ser associados a práticas de
Estado, mesmo que a apropriação do espaço seja movida pela especulação imobiliária.
Hoje, em uma sociedade em busca de valores, a arte de transformar em patrimônio e
preservá-lo corresponde à mesma manifestação de poder e resistência
O escopo que orienta esse trabalho se constituiu durante o processo de pesquisa
histórica sobre o mundo urbano onde observou-se a capacidade que a sociedade
contemporânea possui de alimentar um conjunto de representações tanto utópicas
3 BAUMER, Franklin. A História do Pensamento Moderno Europeu. Lisboa: Ed. 70, 2000.
4 FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. São Paulo, Graal, 2003.
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quanto conservadoras, cada vez mais elaboradas, e geradas da convicção de um
progresso permanente. A meta do progresso ou avanço como empreendimento humano
parece cada vez mais utilizada como um estilo do homem ao lidar com os problemas
apresentados pela natureza ou pelo próprio esforço humano. Secular ou religiosa,
decadente ou ciclicamente recorrente, este tema está posto sobre a cidade e em suas
formas, cabendo a este estudo um desenvolvimento mais acurado sobre de que forma
isto é revelado no urbano, no patrimônio cultural, nas edificações.
Primeiramente, embora as cidades pesquisadas fizessem parte de países
fronteiriços, cabe ressaltar que a partir do século XIX houve aspecto identitário em
torno das populações de imigrantes, pois estava em curso um novo arranjo de formação
da ideia de nação, na construção dos respectivos Estados Nacionais bem como a
legitimação daqueles Estados.
A cidade de La Plata (1882-1884) estava inserida no processo de reorganização
política da Argentina que culminou na federalização da cidade de Buenos Aires
funcionando como capital federal da república e capital da província. Uma cidade feita
por imigrantes.
Por outro lado, embora o espaço urbano de Caxias do Sul (1875) não tivesse
sido criado para substituir a capital da província do Rio Grande do Sul, ele estava
inserido em um pacto entre os Estados Nacionais para a utilização da mão de obra mais
variada em atividades produtivas, incluindo o povoamento das terras do Império,
localizadas na região nordeste da província. Um núcleo urbano para imigrantes.
Diante da constituição da ideia de nação da Argentina e Brasil, houve
semelhanças, tais como um esforço das elites locais (SÁ, 2013, p. 14)5 que,
confrontadas com uma variedade de culturas, de interesse regionais e com a diversidade
étnica, inventaram a ideia de nação como o único argumento capaz de ordenar a
sociedade e garantir seu controle sobre ela. Em boa medida, se converteu em
legitimação política do Estado contemporâneo a manutenção de símbolos, aqui
monumentos históricos que pudessem ordenar a um modelo única de identidade: a
nacional.
5 SÁ, Maria Elisa Noronha de. Civilização e barbárie: a construção da ideia de nação: Brasil e
Argentina. Rio de Janeiro: Garamond, 2013, p.14.
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Passado um século os países do Ocidente europeu bem como os países da
América Latina, tiveram em sua organização político-econômica alterações substanciais
que levaram a mudança considerável entre a década de 1970 e início de 1980 após um
relativo arrefecimento dos poderes nacionais, constituídos nas ditaduras militares que
veio somar-se aos debates culturais originados pela Unesco durante o mesmo período.
Foi necessário pensar como, após um século da formação urbana, os vestígios
foram preservados e se, em caso positivo, quais suportes ideológicos são utilizados para
mantê-los preservados ou destruídos. Assim, surgem Caxias do Sul e La Plata, que
serviram como metonímias comparativas entre Brasil e a Argentina, verificando se as
políticas e as práticas de preservação se dão da mesma forma, se se contrapõem ou se se
complementam de alguma maneira.
Frente a uma nova forma de pensar o antigo projeto da modernidade, conhecido
como “hipermodernidade”6, o patrimônio edificado, lido através das preleções sobre a
morfologia urbana, revela novo embates sob a mercantilização da etnia, prática da
indústria cultural, ou o consumo ou a homogeneização da alteridade.
Entretanto, através de uma pesquisa relativamente minuciosa, conseguiu-se
suporte documental que dá conta de afirmar como esse originou-se esse embate. A partir
de tal estreitamento com as publicações comemorativas, leis, relatórios municipais de
ambas as cidades foi possível contrapor documentos que iam contra a corrente do
“desenvolvimento a qualquer custo”. Sobre elas foi possível propor importantes
perguntas tais como: quais formam os princípios e conceitos metodológicos que, no
final do século XX, orientaram as gestões sobre a preservação do patrimônio histórico
edificado dos centros urbanos formados a partir da imigração italiana no sul do Brasil e
Argentina; Como mais detalhadamente o patrimônio nestas cidades foi tratado pela
própria comunidade diante da mudança destas paisagens históricas e que valores foram
operados por estes grupos preservacionistas para configurar seu “sentimento de
pertença”; Como se estabeleceu, final do século XX, a relação entre as políticas oficiais
de preservação e os interesses de ordem econômica?
6 O pensamento dominante durante o período moderno era o de que o homem era o que ele fazia, e,
portanto, quanto melhor a produção condicionada pela ciência, à tecnologia ou à administração, melhor
seria a organização da sociedade, pois regulada pela lei transforma a vida que passa a ser animada pelo
interesse de se libertar de todas as opressões. consumista como organização do presenteísmo, cujos
efeitos são tão carregados de perigos, quanto de promessas.
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Boa parte das publicações comemorativas centenárias das respectivas cidades
apontam para a formação patrimonial significativa. Em muitos casos, a produção da
imagem cria um contexto no qual as cidades são exibidas como produto da
engenhosidade dos seus habitantes acompanhado do crescimento contínuo. Essa
proposição se associa ao desenvolvimento produtivo, comercial e industrial,
apresentado como sinônimo da modernidade e vetor de transformações urbanas e
arquitetônicas.
De igual maneira, o poder público municipal, em ambas as cidades, propunha a
elaboração de estudo sobre a morfologia urbana e sua respectiva representação nas
edificações urbanas o que não apenas serve de apontamento como análise econômica e
política do fenômeno urbano, como também faz pensar que as cidades estão desprovidas
de referências simbólicas.
A partir de então houve uma reformulação dos imaginários e das identidades
locais, resistentes ao processo de globalização: a preservação do patrimônio não busca
perpetuar o passado, mas segundo Segundo Poulot7, a preservação representa um
patamar de referência, um conjunto de permanências por meio das quais as sociedades
se reconhecem, se identificam, constroem e reconstroem os seus valores e sua trajetória
(POULOT, 2009. p. 19).
Nesse campo de preservação é possível perceber as atividades classificatórias
como modo de manter protegido um sentimento de pertença, e até de resistência, diante
de um mundo que não seduz mais e que evidencia uma fase de esgotamento de seu
projeto moderno.
Para isso o ano de 1975 serve como ponto de partida para compreender como se
deu o processo inicial de preservação no município de Caxias do Sul, na medida em que
a data tornava-se um marco do centenário da chegada dos imigrantes italianos e,
portanto, foi utilizada ideologicamente na organização na valorização excessiva da
cultura italiana regional.
Já em 1982, ocorreu o centenário da cidade de La Plata, quando, com a
finalização do processo ditatorial, surgiu em toda a Argentina uma ampla investigação
de conservação cultural das mais distintas etnias na formação da cultura do país bem
7 POULOT, Dominique. Uma história do patrimônio no Ocidente, séculos XVIII-XXI: do monumento aos
valores. São Paulo: Estação Liberdade, 2009, p.19.
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como um aprofundamento sobre o quesito patrimonial, pois poucas edificações de
distintas etnias haviam sido preservadas. Nesse momento, a Universidade Nacional de
La Plata inicia uma diversidade de intercâmbios e estudos sobre a história da própria
cidade em diferentes campos: arquitetônico, político, econômico.
Quanto aos anos de 1990, ambas as cidades produziram novos inventários, com
inúmeras alterações em relação aos primeiros levantamentos, inserindo o patrimônio em
uma nova classe internacional que levava os territórios ao status de cidades culturais.
No caso platense, ocorreu um sério debate sobre a possibilidade da cidade se
tornar patrimônio mundial pela UNESCO o que preparou um novo inventário para
servir de base para a postulação da cidade como patrimônio da humanidade. Além
disso, a Faculdade de Bellas Artes da Universidade Nacional de La Plata lançou um
projeto com novas abordagens valorativas sobre o patrimônio traduzidas pela
recuperação sensível das edificações para sua proteção legal.
As abordagens visuais apresentadas nas publicações comemorativas do
centenário e/ou comemorações subsequentes das cidades tiveram funções distintivas dos
levantamentos inventariais. No primeiro caso, trata-se de veículos de informação que
tem o objetivo de produzir em seu receptor a elaboração de uma cidade em expansão,
sem contradições, ordenada, com novos espaços de sociabilidade. Entretanto, um novo
tipo de prática de leitura, mais rápida e dinâmica, foi criada. Segundo Monteiro (2007,
p. 174), as imagens parecem dizer “foi assim que aconteceu”, permitindo gerir novos
significados do processo de modernização que, embora sejam mais rápidos, são mais
superficiais e menos reflexivos8.
No segundo elemento, o inventário traz consigo um outro tipo de forma de
leitura, compreendendo a ampla necessidade de reconhecer os bens culturais e as ações
necessárias para a salvaguarda do patrimônio, os acirramentos e os valores gerados por
percepções de mundos baseadas em conceito de progresso completamente dispares.
Daí a necessidade de comparar a documentação desvelando os diversos sentidos
de progresso atribuídos ao campo das formas urbanas.
Na observação da documentação é possível pensar uma comparação, tal como
propunha Marc Bloch, onde utilizamos a “história-problema comparada” na medida em
8 MONTEIRO, Charles. Imagens sedutoras da modernidade urbana: reflexões sobre a construção de um
novo padrão de visualidade urbana nas revistas ilustradas na década de 1950. In.: Revista brasileira de
História – ANPUH, vol. 27, n°53, jan.-jun.,2007, p.174.
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que o problema afeta dois recortes espaciais que se inserem em uma mesma
temporalidade9. Pode-se dizer que sob efeitos da globalização e da hipermodernidade do
final do século XX, os administradores públicos transformavam incessantemente a
morfologia urbana indicando problemáticas mais profundas na identidade da cidade.
Surgem, nesse ínterim, Caxias do Sul e La Plata, unidos por um problema em comum
pois, a partir de um mesmo recorte temporal, tendo em vista suas especificidades em
dois recortes espaciais, é possível pensar uma terceira dimensão sobre o patamar de
referências representadas pela preservação do patrimônio.
Assim, grupos ligados às áreas de preservação de ambas cidades estiveram
envolvidos com projetos de exaltação nacional relativos ao seu aspecto cultural: La
Plata, em 2004, postulou, perante a UNESCO, a possibilidade de tornar-se patrimônio
mundial, enquanto no ano de 2007 Caxias tornou-se a capital da cultura nacional da
cultura segundo o Ministério da Cultura. No caso de ambos, a prática demonstrava-se
diversa, daí a necessidade de desvelar significados, produzir inferências a partir de uma
abordagem interdisciplinar.
A fim de organizar essa abordagem utilizou-se metodologia para auxiliar,
investigar sobre o próprio texto que é conhecida por alguns como “análise de conteúdo
ou análise textual qualitativa” e que produz, dentre seu conjunto técnico, algumas
indagações respeitáveis sobre nosso corpus, tais como: como e por que foi produzido?
Para quem foi enviado? Qual o efeito causado por ocasião da publicação? Enfim, sendo
uma construção social e expressão da existência humana, o texto elabora e desenvolve
representações em determinados momentos históricos10
·.
O objetivo é utilizar a imagem como forma de pensar a relação do homem no
seu cotidiano e no uso social que faz da própria imagem: na contemporaneidade, a
noção da imagem como documento é de suma relevância na medida em que ela se
entrelaça ao texto escrito para produzir determinada influência e legitimação sobre um
público.
Dessa maneira, o impasse apresentado pela concepção de Progresso, ligado a
Modernidade e Hipermodernidade decorrem da singular e incomoda circunstância
devido a qual a atual sociedade pós-industrial, ao contrário de outros macrossistemas
9 BARROS, José D’Assunção Barros. História Comparada. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.p.49.
10 BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. São Paulo, Ed.70, 2011, p.42.
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que a antecederam, não nasceu a partir de um modelo preexistente, de um paradigma já
elaborado e compartilhado, mas sim, de agregações sucessivas de ideias parciais,
tecnologias surpreendentes, produtos supérfluos, ritos afligidos, comportamentos
insanos, antes mesmo que alguém a teorizasse definisse as suas características, a
planejasse, a protegesse e lhe desse um rumo.
Le Corbusier chama de ëstilo Positanos “a urbanística resultante de agregação
sucessiva, acidental, de casas, praças e ruas num determinado habitat”. Fugindo da
prática realizada e esquadrinhando um pouco de referência poética, ilustra-se com
Sergio Buarque de Holanda que, na América Latina, distinguia-se por sua vez as
cidades espanholas, minuciosamente planejadas pelos colonizadores espanhóis, que se
portavam como ladrilhadores, das cidades lusas, amontoadas de qualquer maneira pelos
colonizadores portugueses, que se comportavam como semeadores, espalhando as
sementes ao vento. Embora isso não seja realmente o que ocorrera, podemos inferir ao
mundo composto pelas ideias que refletem-se nas ações sobre as edificações. Positano e
as cidades brasileiras (exceto Brasília) podem ser consideradas metáforas da nossa
sociedade pós-industrial, que nos desnorteia devido à falta de um modelo geométrico
capaz de aliviar a nossa perturbação. Possivelmente a tentativa de controlar esse espaço
também já não obtenha sucesso na organização cultural da urbe, o que caracteriza a
falha do projeto moderno.
Por fim, embora La Plata e Caxias do Sul sejam oriundas da colonização
espanhola e portuguesa uma problemática as aproxima no final do século: o estilo
Positano do patrimônio, pois no mundo hipermoderno, onde a ruína é corrompida pelo
tempo e vilipendiada pela incúria público-privada, tornando-se um empecilho para o
“aqui-e-agora” presenteísta, é necessário avaliar o que motiva sua rápida substituição.
Quando isto não se concretiza, subexistindo o vestígio, as ações logo tornam tais
edificações produtos de consumo. Sobre os patrimônios edificados, ergue-se a
possibilidade de revitalização, que por vezes oculta a forma pela qual estes sinais
podem ser “empacotados para a venda”. Entretanto, para efetuar a negociação é
necessário um invólucro que deve envolver o artigo de maneira a afagar o comprador.
Dessa forma, modifica-se a embalagem para dar contornos modernos, higienizáveis,
assépticos, minimalistas. Mesmo assim, haverá os que não gostam deste novo exemplo
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de recipiente, tão pouco se importam com o conteúdo. É nesta etapa, então, que se é
colocada sobre o produto uma fita em forma de laço. Sua função é dupla: colorir o
produto e, além de seu alcance físico, transmitir uma mensagem que crie em seu
consumidor uma espécie de identidade. Para garantir o adepto, ainda traz no ardil uma
espécie de transferência afetiva hereditária, que muitas vezes sequer existe. Logo,
depois do processo, o bem é comprado e consumido. Promete em seu signo um estímulo
e, por vezes, a exclusividade. Apesar disso, seu teor nada mais é que a ininterrupta
repetição do mesmo. O patrimônio histórico hipermoderno significaria essa metáfora. O
conceito criado para sua preservação se vincula a um tipo de “identidade”. Esta fita,
criada sob a fantasia da distinção, liga e traz o sujeito, moldado pela ética do capital,
para perto de si seduzindo-o a consumir a alegoria. Contudo, o produto em si nada mais
é que um modelo “artístico” padronizado que encobre o vestígio. Logo, apagado este
resquício dá lugar a outro objeto que foi redefinido através de um passado fantasioso.
Quanto ao consumidor, pensa estar levado algo enraizado e paradoxalmente
legitimamente novo. Cabe a esse estudo, realizado como tese de doutoramento, desvelar
como isso sucedeu ou de que forma cidades distintas geograficamente, mas próximas
culturalmente, estiveram inseridas nessa trama que ocupa as agendas de grupos de
pesquisas sobre a cidade.
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