Marília Carolinna Milhomem BastosRESIDENTE EM NEONATOLOGIA (R3)-
HRAS/HMIBCoordenação: Marília Aireswww.paulomargotto.com.br
Brasíçia, 10 de julho de 2014
(Encefalopatia hipóxico-isquêmica)
*Melhora a sobrevida sem incapacidade motora
*Minimiza as taxas de paralisia cerebral
*Melhora o desenvolvimento mental e psicomotor
A hipotermia terapêutica por 72 horas é uma modalidade de tratamento efetiva nos RN com moderada a severa encefalopatia hipóxico-isquêmica(EIH) e deve ser adotada como cuidado padrão para estes RN.
*> ou = 36 semanas de idade gestacional (IG) ao nascimento, moderada a grave encefalopatia hipóxico-isquêmica com ou sem convulsões associada a qualquer um dos seguintes :*- Apgar <5 aos 10 minutos de vida*-ressucitação prolongada no
momento do nascimento (por exemplo, compressões torácicas e/ou intubação ou ventilação com máscara por 10 minutos)*- acidose grave (pH<7,1) em
sangue do cordão ou gasometria dentro de 1hora de nascido ou déficit de base(>12mmol/L) no cordão ou sangue do recém-nascido (RN) colhido ainda na primeira hora de vida.
CRITÉRIO A:
ASFIXIA AO NASCER
*LETARGIA , ESTUPOR OU COMA associado a um dos seguintes:
*- hipotonia
*-reflexos anormais, incluindo oculomotor ou anormalidades pupilares
*-sucção ausente ou fraca
*Convulsões clínicas
*Achados encefalográficos anormais
CRITÉRIO B :
ENCEFALOPATIA
*DPP (descolamento prematuro da placenta)
*Sangramentos maternos importantes: placenta prévia, rotura uterina
*Politrauma ou Parada cárdiorrespiratória)
*Bradicardia fetal
*Compressão umbilical
*Hipotensão materna
* Situações que diminuam o fluxo sanguíneo placentário no trabalho de parto e intra-parto
*Desvitalidade do RN após nascer com necessidade de manobras de ressucitação
*Desequilíbrios ácido-básicos (relacionados à hipoxia e/ou isquemia)
*Alterações neurológicas
*A evolução neurológica do RN é critério crucial para a indicação da estratégia neuroprotetora.
*O RN que evoluiu nas primeiras horas de vida com variações do tônus muscular, dos reflexos da postura e do nível de consciência, após eventos relacionados à asfixia perinatal, tem indicação de hipotermia.
*Há a necessidade do diagnóstico de EIH moderada ou grave nas primeiras 6 horas de vida.
*Apenas para RN a termo ou próximo ao termo (estudos só incluiram RN com IG>35 semanas) .
* A necessidade de a indicação se dar nas primeiras 6 h de vida está relacionada ao fato de a eficácia neuroprotetora só ocorrer quando iniciada precocemente, ainda na fase de latência após o evento hipóxico-isquêmico primário, antes do estabelecimento da reperfusão.
* -34,5º (mantendo a Tº da cabeça entre 33 e 34º
* - 33,5º
*A comparação entre estudos que usaram hipotermia leve (T>34 Cº) e moderada (32-34ºC) mostra que os pacientes submetidos à hipotermia moderada têm menor risco de morte, sequelas neurológicas, atraso cognitivo ou psicomotor e paralisia cerebral, comparados aos que receberam resfriamento leve.
* Como fazer:
* Capacete provido de uma unidade de esfriamento controlada por termostato, acoplado a uma bomba que faz circular a água, cuja Tº inicial é de 8 a 12ºC.
* A temperatura do capacete é ajustada para manter a Tº retal entre 34 e 35º.
* Inicialmente o berço é desligado por cerca de 25 minutos para acelerar o resfriamento e depois é religado quando a Tº retal estiver em torno de 35,5º.
* Deve-se controlar de forma contínua as Tº da pele abdominal, nasofaríngea e fontanelar.
* A forma mais eficiente de se alcançar um ajuste adequado e evitar grandes variações se dá por meio de colchões térmicos.
* Os RN são colocados sobre colchões com um sistema de água ciculante , cuja Tº é ajustada, por servocontrole , pela temperatura retal ou esofágica do paciente (em berços aquecidos desligados que serão religados para ajuste fino da temperatura).
* RESFRIAMENTO ARTESANAL:
* Usa-se berço de calor radiante desligado, os gelpacks resfriados são posicionados no dorso ou na lateral do corpo do paciente até atingir o alvo de 33,5º. Monitoriza-se de forma contínua a Tº retal ou esofágica.
*Lembrando: os gelpacks devem ser cobertos com plástico poroso para facilitar a higienização, sendo necessária atenção especial à pele do paciente, de modo a evitar lesões e queimaduras pelo frio.
*Uma vez iniciada a hipotermia, ela deve ser mantida por 72 horas
*A VENTILAÇÃO MECÂNICA não é mandatória.*Em geral é necessária em
virtude dos distúrbios respiratórios causados pelo quadro neurológico ou próprio do aparelho respiratório (hipertensão pulmonar, pneumonia aspirativa ou infecciosa).*Caso seja necessária, a Tº
dos gases umidificados no circuito deve ser habitual (próxima dos 37ºC) pois o resfriamento dos gases inalados pode promover o surgimento de secreções espessas em VA e obstrução da cânula traqueal.
MANEJO RESPIRATÓRIO
*A hipotermia influencia nos gases sanguíneos facilitando a diminuição da PaCO². Uma vez que a hipotermia pode levar à vasoconstrição cerebral é preciso avaliar a necessidade de corrigir os parâmetros da ventilação mecânica (VM).
*Se nas primeiras 6 horas de vida , o paciente evoluir com hipertensão pulmonar grave com necessidade de óxido nítrico inalatório (iNO) e/ou outros vasodilatadores pulmonares, com grande labilidade da PaO², a hipotermia está CONTRAINDICADA.
*A diminuição da frequência cardíaca (FC) é comum ( 80-90 bpm) , observando-se um padrão de bradicardia sinusal (fazer monitorização cardíaca).
*Caso persista < 60bpm deve-se, primeiramente, aquecer levemente o paciente, até atingir T 34ºC. (manter neuroproteção). Se a bradicardia persistir deve-se iniciar Atropina(0,01 a 0,03 mg/kg/dose), a cada 15 minutos.
* O uso de inotrópicos não é raro (hipotensão e choque), mas não é mais frquente do que nos pacientes com EHI tratados de modo rotineiro, sem resfriamento.
*A hipotermia só é contra-indicada se houver choque refratário e/ou bradicardia persistente.
MANEJO HEMODINÂMICO
*Há uma supressão da medula óssea, a hipotermia pode levar também à anemia e leucopenia (baixa produção e aumento da marginalização e do extravasamento tecidual).
*A hipotermia pode levar à plaquetopenia e aumentar o risco de sangramento e CIVD, principalmente se os níveis oscilam próximos à T =32º ou menos.
*Assim a hipotermia é contra-indicada em caso de sangramento ativo nas primeiras 6 h de vida.
MANEJO HEMATOLÓGICO
*As plaquetas devem ser mantidas acima de 50.000/mm³.
*A indicação de transfusão de hemácias deve ser a rotina do Centro.
*A recuperação da contagem de leucócitos ocorre em 72h após o reaquecimento.
*A persistência da baixa contagem de leucócitos ocorreu nas crianças com lesão do SNC mais grave.
MANEJO HEMATOLÓGICO
* Jejum oral+ SOG aberta para descompressão.*Lembrar que na EHI há
aumento do risco de sangramento gástrico, úlcera de estresse, gastrite hemorrágica e enterocolite necrozante.*Aporte hídrico deve levar em
conta a possibilidade de edema cerebral e de secreção inapropriada de ADH, além da IRA iniciando-se com aporte de 60-80ml/kg (reavaliação contínua de acordo com diurese,eletrólitos e quadro clínico).*Se hipotensão: Dobutamina
(5-15ug/kg/min) ou Adrenalina –0,05ug/kg/min).
MANEJO METABÓLICO
*A hipotermia pode levar à hipocalcemia e hipomagnesemia.
*Variações da glicemia , do potássio e do sódio (hiponatremia dilucional).
*Normoglicemia é fundamental para evitar mais agravos neurológicos.
*Manter balanço hídrico (BH) médio diário negativo (diminuiu o risco de morte em 90 dias).
MANEJO METABÓLICO
*Cáculo do BH a cada 6-8h.
*Monitorização diária de eletrólitos.
*Verificação da glicemia de 6/6h.
*Vigiar acidose metabólica e funções renal e hepática.
*Nutrição parenteral total deve ser iniciada assim que houver estabilidade hidroeletrolítica.
*Cuidados com a pele: mudança de decúbito, hidratação e exame cuidadoso para evitar necrose, inflamação e infecção cutânea.
*DEVE SER TRATADA TÃO LOGO HAJA MANIFESTAÇÃO CLÍNICA.
* Fenobarbital—dose de ataque 10 a 20 mg/kg
*Atentar para insuficiência hepática ou renal—dosar nível sérico do Fenobarbital.
*Ultrassom transfontanelar para avaliar possivel complicação com hemorragia intraventricular.
MANEJO DAS CONVULSÕES
*APÓS 72 HORAS .
*Deve ser feito de forma lenta , elevando-se a Tº retal em 0,5º C por horas, até atingir a Tº central de 36,5 a 37ºC--- o que levará cerca de 12 h. Depois disso a Tº deve ser monitorada de forma con´tinua para se evitar a hipertermia.
*Chance de deterioração clínica e convulsões caso seja feita de maneira rápida.
*USO DE OPIÓDES : Fentanil contínuo 1mcg/kg/h.
*O opióde tem propriedades neuroprotetoras e abole o estresse e a resposta metabólica hormonal à hipotermia.
*O resfriamento pode aumentar os níveis de fentanil (Citocromo P450)
*SEDAÇÃO: CUIDADO->Midazolam: não deve ser rotina(risco devido ao seu menor clearence com o resfriamento)
MANEJO DA DOR
Referências*Guinsburg R,Figueiras SAN, Santos AMN.
Asfixia perinatal grave no recém-nascido e o uso de hipotermia terapêutica: uma análise crítica. PRORN (PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO EM NEONATOLOGIA), Ciclo 9 módulo 2, páginas 75 a 89. Diretores acadêmicos: Renato S. Procianoy e Cléa R. Leone.Editora Artmed.
*Margotto PR. Hipotermia terapêutica na encefalopatia hipóxico-isquêmica (Protocolo).
*Zaconeta AM Zaconeta, Gonçalves FC, Margotto PR. Asfixia Perinatal. In Margotto PR. Assistência ao Recém-Nascido de Risco, ESCS, Brasília, 3ª Edição, 2013, pg 393-398
*BALANÇO HÍDRICO-Durante o processo de resfriamento ocorre retenção hídrica (diminuição da perda hídrica pela vasoconstricção da pele pela hipotermia) com consequente hiponatremia dilucional.
*DROGAS -analgesia: fentanil 1µ/kg/min -opíóide tem propriedades neuroprotetoras e abole o estresse e a resposta metabólica e hormonal á hipotermia; o resfriamento pode aumentar os níveis de fentanil (metabolizado pela sistema citocromo P450, especificamente a isoforma CYP3A4/5, uma enzima fortemente dependente da temperatura). -sedação -midazolam: o seu uso não deve constitui uma rotina, devido ao menor clearance com o resfriamento ( (diminuiu em 11,1% para cada grau de queda da temperatura central a partir de 36.5°C) -antibióticos: gentamicina (5mg/kg): se consegue melhor o alvo de concentração sérica de gentamicina (<2mgl-1) com o espaçamento da administração para cada 36 horas
Hipotermia terapêutica na Encefalopatia hipóxico-isquêmica (Protocolo)Autor(es): Paulo R. Margotto
Hipotermia sistêmica após encefalopatia neonatal: resultados do neo.nEuro.network RCT (Uso de opióide no recém-nascido em hipotermia terapêutica)Autor(es): Georg Simbruner, Rashmi A. Mittal, Friederike Rohlmann. Apresentação: Fábio Coelho Neto; Márcio Ramos; Thiago Rocha Moura; Márcia Pimentel de Castro; Paulo R. Margotto
•USO DE ANALGÉSICO OPIÓIDE DURTANTE A HIPOTERMIA
*Thoresen et al mostraram falta de neuroproteção da hipotermia em leitões com severa encefalopatia hipóxico-isquêmica não sedados.
*Os opióides tem propriedades neuroprotetoras, como demonstrado aumento dos seus níveis em mamíferos em hibernação e pode ter efeito mais pronunciado durante a hipotermia por abolir o estresse10 e as respostas metabólica e hormonal a hipotermia.
*Os níveis de morfina são aumentados durante a hipotermia devido as características farmacocinéticas e diminuição da eliminação.
*Os efeitos e o papel da morfina necessitam de ser validados em adicionais ensaios da morfina
O efeito da aplicação da hipotermia terapêutica no balanço de fluidos e na incidência de hiponatremia em recém-nascidos com moderada ou grave encefalopatia hipóxico-isquêmicaAutor(es): Chatchay Prempunpong, Ionut Efanov, Guilherme Sant’Anna ([email protected]). Apresentação: Leandro Pádua, Ricardo Freire, Paulo R. Margotto/Márcia Pimentel de Castro
*Durante hipotermia de corpo inteiro (whole body hypothermia), há estímulo (independente da integridade do sistema nervoso central) que leva a pele a produzir forte vasoconstrição (esta vasoconstricção depende da ativação local de nervos adrenérgicos), o que pode diminuir o fluxo sanguíneo cutâneo, levando a um decréscimo da perda hídrica transcutânea retenção hídrica.*Um balanço hídrico médio diário negativo foi associado de
forma independente a uma diminuição do risco de morte em 90 dias (OR 0,318, IC 95% 0,24-0,43, p <0,0001) e com aumento do tempo de sobrevivência (p <0,0001), bem como diminuição hospitalização em terapia intensiva após correção para múltiplas variáveis de confusão21.*A maior retenção hídrica observada no presente estudo
provavelmente é secundária à diminuição da perda hídrica em consequência à vasoconstricção da pele pela hipotermia e não devido a deficiente função renal, uma vez que os níveis de creatinina foram menores no grupo pós- hipotermia
Relativa leucopenia em 60-72 horas correlacionou como um resultado adverso no grupo da hipotermia.
*Os dados do presente estudo são consistentes com imunossupressão sistêmica com o tratamento de hipotermia.
(possíveis mecanismos para estes efeitos da hipotermia incluem supressão da medula óssea e diminuição da
produção de leucócitos)
*Em neonatos hipotérmicos, a persistência de menor número de leucócitos após o reaquecimento é observado em lactente com mais grave lesão no sistema nervoso central
Alterações nos leucócitos circulantes em um ensaio clínico de hipotermia terapêutica para síndrome hipóxico- isquêmica neonatalAutor(es): Jenkins DD, Lee T, Chiuzan C et al . realizado por Paulo R. Margotto
Asfixia perinatalAutor(es): Carlos A. M. Zaconeta, Fabiano Cunha Gonçalves, Paulo R. Margotto
* Á luz das evidências mais atuais, o uso da hipotermia terapêutica para estes recém-nascidos, iniciando dentro das primeiras 6 horas de vida, melhora a sobrevida sem incapacidade motora, com menores taxas de paralisia cerebral e maiores índices de desenvolvimento mental e psicomotor. a Academia Americana de Pediatria recomenda que RN > 36 semanas de gestação com encefalopatia hipóxico-isquêmica de leve a moderada receba hipotermia terapêutica. A hipotermia terapêutica deve ser administrada por profissionais capacitados, mediante protocolos claramente definidos similares aos utilizados nos ensaios clínicos publicados (iniciar nas primeiras 6 horas de vida, por 72 horas com reaquecimento em 4 horas) e nas Instituições com recursos para tratamento multidisciplinar e acompanhamento longitudinal. A hipotermia apresenta complicações como hipotensão arterial, bradicardia severa, obstrução da cânula traqueal por secreções secas e trombocitopenia Vários ensaios multicêntricos controlados sobre hipotermia induzida (33,5°C a 34,5°C) em recém-nascidos, com idade gestacional ≥ 36 semanas, apresentando encefalopatia hipóxico-isquêmica de leve a moderada, demonstraram que os RN resfriados tiveram mortalidade significativamente mais baixa e menor deficiência no desenvolvimento neurológico no acompanhamento de 18 meses.