MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DO ALGODOEIRO NO NORDESTE BRASILEIRO: QUADRO ATUAL E PERSPECTIVAS
José Ednilson Miranda
Situação atual da cultura do algodoeiro no Nordeste
Dois modelos distintos de produção caracterizam a cotonicultura
nordestina: o cultivo do algodoeiro com condução altamente tecnificada na Bahia
e em algumas áreas do Maranhão, Ceará e Rio Grande do Norte; e o cultivo de
algodoeiro na forma de agricultura familiar no semi-árido nordestino.
No primeiro caso, a cultura se enquadra nos moldes modernos de
produção do restante do Cerrado brasileiro. Na região oeste da Bahia todas as
operações desde o preparo do solo até a colheita e beneficiamento são
mecanizadas, com uso intensivo de insumos agrícolas (corretivos, fertilizantes,
fungicidas, herbicidas, inseticidas, reguladores de crescimento, desfolhantes e
maturadores). Nessas condições, produções de até 300 arrobas de algodão em
caroço são alcançadas. Por outro lado, o custo de produção é elevado,
chegando a U$1500 por hectare.
Por outro lado, a produção de algodão no semi-árido nordestino está a
cargo de pequenos agricultores, que plantam áreas com extensão média de três
hectares, em condições de sequeiro, sendo o preparo da terra mecanizado, as
capinas efetuadas com tração animal e a colheita manual. A região convive com
secas periódicas e, embora o fator climático desfavoreça a incidência de pragas,
o manejo inadequado, como a não destruição dos restos culturais e o plantio
desuniforme concorrem para o seu incremento. A produtividade média é de 100
arrobas de algodão em caroço por hectare.
Principais pragas da cultura do algodoeiro no nordeste
A cultura do algodoeiro no nordeste é atacada por um complexo de
insetos incluindo pulgões, bicudo e lagartas. O bicudo (Anthonomus grandis) é a
principal praga e pode causar danos de até 100% na produção caso sua
infestação não seja controlada satisfatoriamente. Entre as lagartas, a lagarta da
maçã Heliothis virescens, a lagarta rosada Pectinophora gossypiella, e o
curuquerê Alabama argillacea constituem os grupos mais danosos à cultura do
algodão. O pulgão do algodoeiro Aphis gossypii também pode causar prejuízos
devido à sucção de seivas. Comparativamente a outras regiões produtoras, a
região Nordeste apresenta condições diferenciadas com relação à presença de
pragas nas lavouras de algodão. As diferenças decorrem principalmente de
fatores climáticos que limitam o desenvolvimento de algumas pragas
(temperaturas elevadas e baixa umidade), como o bicudo, e de manejo da
cultura, uma vez que o menor uso de inseticidas causa menor impacto sobre o
agroecossistema cotonícola. Á condução de lavouras em sistema de minifúndio
com 2,5 hectares, em média, localizadas em áreas descontínuas também
prejudicam o desenvolvimento de pragas, uma vez que a migração é dificultada.
Por outro lado, a baixa tecnologia aplicada acaba atuando na contramão desse
processo, uma vez que condições de manejo inadequado principalmente com
relação ao controle cultural (leia-se destruição de soqueiras) favorecem o ciclo
dos insetos-praga.
Perspectivas do algodão colorido
A EMBRAPA desenvolveu até o momento quatro cultivares de
algodoeiro colorido a partir de linhagens do Banco Ativo de Germoplasma da
empresa.
O mercado para o algodão colorido ainda é restrito, sendo o produto
consumido por pessoas alérgicas a corantes sintéticos, grupos ambientalistas e
ONG’s que desenvolvem trabalhos com agricultura orgânica. Os preços obtidos
com o algodão colorido no mercado internacional variam de US$ 3,79 a US$
5,00/kg de fibra verde e de US$ 1,84 a US$ 3,35/kg de fibra marrom, o que
propicia alta margem de lucro aos produtores, quando comparado com o
algodão de fibra branca, que alcança preços médios de US$ 1,65/kg de fibra.
Os cultivares de algodoeiro colorido disponíveis atualmente são: BRS
200 Marrom (tri-anual), BRS Verde, BRS Rubi e BRS Safira (anuais). As
sementes para o plantio destes materiais já estão sendo disponibilizadas pela
Embrapa Algodão.
Manejo de pragas no algodoeiro colorido
Nas áreas zoneadas para o cultivo de algodoeiros colorido as principais
pragas são o bicudo, o curuquerê, o pulgão e eventualmente a mosca branca,
que devem ser controladas via Manejo Integrado de Pragas, que envolve o uso
racional de todos os métodos de controle. O uso de inseticidas deve ser feito
com base na amostragem de cada praga e com os métodos, manejo e dosagens
recomendados pelos órgãos de pesquisa. Como medidas de prevenção,
recomenda-se a catação de botões florais atacados pelo bicudo e caídos ao solo
no período crítico de ocorrência da praga, pulverizações de bordaduras (20 a
30m), evitando que o bicudo penetre no interior do campo e/ou o uso do tubo
mata bicudo (2 tubos/ha), sendo o primeiro instalado 10 dias antes do plantio, na
entrada do campo e o outro na saída do campo, após a colheita.
Controle biológico
A Embrapa Algodão mantém criações em laboratório de micro-vespas
Trichogramma sp, parasitóides de ovos de lagartas. em Campina Grande e em
Primavera do Leste. Está prevista a instalação de uma unidade em Goiás.
Nestas unidades, outro parasitóides, Telenomus remus, que parasita ovos de
Spodoptera também deverá ser criado. O vírus de poliedrose nuclear,
Baculovirus spodoptera é outro organismo benéfico que será criado em
laboratório pela Embrapa Algodão. Estes agentes, uma vez produzidos, serão
disponibilizados aos cotonicultores para que realizem introduções inundativas a
fim de controlar as infestações de curuquerê, lagarta da maçã e Spodoptera.
Algodão Bt
A Embrapa está desenvolvendo projetos que visam obter algodoeiros
transgênicos resistentes a insetos, particularmente bicudo e lagartas. As
pesquisas estão sendo realizadas em parceria por duas unidades da Embrapa
(Embrapa Algodão e Embrapa Cenargen). Para o controle de lagartas estão
sendo testados três genes, todos derivados de Bacillus thuringiensis. Para o
bicudo, um gene derivado de Colesterol oxidase (Coase) e um gene proveniente
de Bacillus thuringiensis (Cry8A) está sendo testado. O Cry8A e um gene para
controle de lagartas estão clonados e experimentos de transformação estão
sendo realizados. Os demais genes estão em fase de clonagem.