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Luís Cardoso nasceu na cidade da Beira a 21 de
Novembro de 1962. Fez formação em artes plásticas
e artes gráficas tendo mais tarde integrado projectos
na área do teatro e da música. A partir de 1991
entra no ramo da publicidade como director de arte
desenvolvendo trabalhos de design e ilustração e
posteriormente como director criativo. Foi premiado
em festivais internacionais em Moçambique,
Angola, Namíbia, África do Sul, Portugal e Brasil.
A primeira mostra individual de pintura foi em 2001
tendo, desde aí, participado em numerosas
exposições colectivas, destacando-se a do
centenário da Cidade da Beira e a do projecto Os
irmãos do meio que realizou juntamente com o
pintor Silva Dunduro em 2007. Ainda nesse ano
realizou a segunda exposição individual e editou o
seu primeiro album iconográfico com a chancela da
Editora Ndjira para Moçambique e da Editorial
Caminho para Portugal.
É ilustrador de diversos livros e publicações, sendo
as capas das obras do escritor Mia Couto da sua
autoria, bem como as de diversas obras literárias de
autores nacionais e internacionais. Tem livros
editados em Espanha, no Brasil e em Moçambique.
Está representado em colecções particulares e
institucionais em Moçambique, Portugal, Brasil,
África do Sul, Angola, E.U.A. e México.
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Fazer arte é uma prerrogativa (ou uma fatalidade) do ser humano. Fazer
arte é criar uma mensagem estética e para que essa seja recebida é
necessário que seja concretizada. Sendo uma mensagem emocional, não
precisa ser definida. O sentido do belo faz parte do complexo emocional
de todo o ser humano e é um sentimento que tem acompanhado toda a
evolução científica e espiritual da humanidade. É uma constante em toda
a actividade humana. Até no fabrico de armas ela está presente!
O pensamento humano é conceptual e processa-se a dois níveis: o
emotivo e o intelectivo. Ambos níveis interferem na génese da obra de
arte, porque afinal fazer arte é concretizar a mensagem estética que
idealizamos. Á capacidade de construirmos um novo conceito estético se
chama criatividade.
A pintura de Luís Cardoso oscila entre o realismo romântico e o
surrealismo, onde a figura humana é uma constante. Em qualquer obra
de arte se consideram duas componentes: forma e conteúdo. No caso
presente estas duas componentes surgem de uma forma equilibrada e
complementar.
A harmonia das cores tende para o contraste, embora no pormenor seja
feita mais por analogia. À capacidade de transmitir ou receber uma
mensagem chama-se empatia e esta está sempre presente em todos os
trabalhos deste artista. Tudo quando possamos afirmar sobre este artista
é de certo modo supérfluo, dado que a mensagem que nos oferece em
cada trabalho é também completada pelo nosso complexo emocional e a
arte afinal é muito mais para ser sentida do que compreendida.
Augusto Cabral
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O Tempo sem Espelho
A pintura moçambicana é um código novo em página nova. É uma infância que relata uma outra infância - a do país que somos.
Nessa arte, como em quase todas outras, tudo é presente. O passado é tão actual que dele não nos separamos, corpo e sombra. Só o pintor, ele mesmo, se pode socorrer de materiais trazidos pelo próprio tempo. Nas telas de Luís Cardoso tudo se reordena e mistura. Como se ele se soubesse criador de si mesmo mais do que de pinturas. Como se fosse fundador do seu tempo. Isso se pode escutar dos seus quadros. Está ali o sonho como se fosse memória. A lembrança como se fosse antevisão do porvir. Como se o sonho nos sonhasse a nós depois de ter sido delírio em suas mãos.
Deve ser dito: Luis Cardoso trabalha em terreno difícil. Como todos os de sua geração. Os pintores mais novos têm essa obrigação - a de romper com escolas, quebrar tradições. Dos pintores novos se espera uma pintura nova. Contudo, os jovens artistas moçambicanos são contemporâneos desses outros que, mais que fazer escola, fundaram a pintura moçambicana. É impossível escapar dessa sombra. Esses Malangatanas e Chichorros de tantos outros e variados nomes não são velhos nem antigos. Estão presentes, são presente. Inevitável a voz ecoa na voz de outros. Por muito que esses outros sejam realmente outros e proponham uma voz outra. Como é o caso de Cardoso que sugere um caminho próprio com contornos próprios.
O valor desta mostra de Luís Cardoso não carece de argumento nem nota introdutória. Cardoso não precisa da muleta de um qualquer texto. Porque a sua pintura vale por si, pelo poder de sugestão e encantamento. Mas existe esta outra qualidade que é o assumir pleno dessa marca de nascença, sem tentar escamotear o quanto ele prossegue a busca que outros iniciaram. Porque, afinal, lhe cabe por mérito essa segurança: ele não é mais um. É um autor novo, um criador de um universo que só a ele pertence. E que enriquece o nosso universo.
Mia Couto
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Um Poeta na «Rua dos Amores»
Luís Cardoso guarda dentro de si um espantoso contador de histórias. As suas narrativas têm muito do maravilhoso da literatura que alimentou o nosso imaginário infantil, em que conviviam real e fantasia, em partes iguais, paredes meias.
Na verdade, a magia que estes quadros transmitem tem muito a ver com o intenso lirismo que os povoa. A partir dum universo suburbano e pobre, em que os personagens vivem de côdeas e renúncias, o poeta-pintor descobre as alegrias mais puras e essenciais. Neste mundo a que facilmente aderimos e simpatizamos, em que coabitam meninos que soltam papagaios de papel, adolescentes sonhadoras e misteriosas, casais de namorados de mãos dadas e músicos de rua dedilhando angústias, desvenda-se também uma melancólica saudade por um tempo em que todas as certezas eram infinitas, possíveis e próximas.
Este ambiente onírico é perfeitamente servido pela riqueza cromática da paleta e pelo equilíbrio da composição, ainda que não consiga apagar totalmente o ilustrador que existe dentro de si. Numa leitura rápida, e forçosamente redutora, vem-me à lembrança Chagall, cuja obra pictórica muito ficou a dever também à literatura popular e, mais próximo, o nosso Roberto Chichorro, cuja pintura se alimenta nas mesmas raízes. Mas o que ressalta, fundamentalmente, é a sua sinceridade, a genuína simpatia pelos seres que estão retratados nos seus quadros. E vem-me à lembrança o poema Linha Quatro,do angolano Mário António, aprendido num tempo de utopia, mesmo ainda ontem: …/No maximbombo da linha quatro/não vamos sós. Tu e Domingas./Gente que sofre gente que vive/não vamos sós.//Não vamos sós. Nem eu nem Zito.//Também na vida. Gente que vive/sonhos calados sonhos contidos/Não vamos sós.//Também na vida! Também na vida!
António Sopa
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O Mensageiro do Futuro
Sentir, compreender e amar África, foi para mim uma experiência imorredoira e fruto de uma permanência sincopada que se prolongou por mais de quatro anos.
África é um continente apodado de inseguro, onde campeiam a pobreza, o crime, a guerra, a corrupção... É uma ideia feita que se transmite e que impede muitas pessoas de contactarem e de conhecerem algo, que, tendo de facto no seu seio os referidos fenómenos negativos (e só existem em África?...), representa uma experiência fabulosa e imperdível.
Seria exaustivo e fastidioso relatar, em pormenor, todos os aspectos relevantes que fizeram nascer este meu amor por África, muito especialmente por Moçambique, e que é um apelo constante e sofredor a que retorne.
E focando especificamente Moçambique neste contexto, destaco a importância que a sua cultura teve no gerar de um autêntico cordão umbilical, com destaque para a literatura, escultura, música, actividade teatral e ... PINTURA.
A PINTURA foi, de facto, o que em Moçambique mais suscitou o meu interesse, tendo tido a felicidade de conhecer pessoalmente os principais pintores moçambicanos e de apoiar, de várias maneiras, alguns jovens que despontavam para tal criação artística. Outra consequência foi a de hoje ter em minha casa mais quadros do que paredes para os colocar.
Quando me é proporcionada a alegria de contactar com a pintura moçambicana, é como se tivesse perante mim um livro aberto: não tenho qualquer dificuldade em “ler” a mensagem que cada quadro quer transmitir. É subjectiva a interpretação, é certo, mas é imediata a minha “leitura”.
Mas o pintor que mais me fez vibrar com tal “leitura” foi, sem dúvida, Luís Cardoso. A sua pintura irradia optimismo, mesmo nos cenários mais deprimentes.
A penúria e a pobreza são ponto de partida e não ponto de chegada. Incute uma mensagem de esperança, já que vislumbra o estádio futuro do desenvolvimento social.A juventude interroga-se e procura soluções e há uma nítida mensagem de realização para a mulher africana. Tem um papel determinante no seio familiar, não com enfoque no trabalho braçal mas como ser evoluído e a dominar, ideológica e afectivamente, o caminho a seguir.
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Expressa a criatividade artística do africano e a sensibilidade dos seus concidadãos a essa criação, independentemente da faixa etária. Avidez pela arte, o que pressupõe uma evolução geracional para a atingir, quer como criador, quer como crítico vivencial.
O sobrenatural aparece como algo que, ao invés de assustador, é interpretado e assimilado com discernimento, vencendo influências alheias. Isto significa evolução cultural, no sentido em que o místico e o pragmático se unificam e impulsionam o ser humano para um estádio em que o aspecto material da vida convive com o metafísico e dele necessita.
“Lê-se” que a cultura e o ser humano são inseparáveis, independentemente da cor da pele, sexo ou religião.
A cor da pele não impede a explosão da beleza.
A mensagem da obra do pintor Luís Cardoso diz-nos, em suma, que ÁFRICA tem futuro e é futuro.
Francisco Marques GomesEx-Administrador da HCB-Hidroeléctrica de Cahora Bassa, SARL
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