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7/25/2019 Lzaro da cena: o drama do aps-morte anunciada (tendncias da dramaturgia contempornea)
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Lzaro da cena:
o drama do aps-morte anunciada
[tendnci as da dra maturgia
contempornea]
Resumo> revelia dos que tomaram o drama como o ramo mortoda rvore do teatro ou como o seu elemento decadente, a produodramatrgica que se lana, hoje, de modo autnomo em relao cena constri e apresenta formas revigoradas e, ainda que diversasentre si, com tendncias que as (re)nem e que dizem de nossacontemporaneidade. a respeito da dramaturgia produzida sobreestas bases que discorremos neste artigo.
Palavras-chave>dramaturgia contempornea; teatro ps-dramti-co; ps-modernismo
nayarab r i t o
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|| Nayara de BRITO, Clvis MASSA
L z a r o d a c e n a :
o d r a m a d o a p s - m o r t e a n u n c i a d a
[ t e n d n c i a s d a d r a m at u r g i a
c o n t e m p o r n e a ]
Assistimos desde a dcada de 1960 emergncia
de uma cena, ou de cenas, que vieram a se chamar, a
partir da publicao de Hans-Ties Lehmann em
1999, de teatro ps-dramtico. Quer dizer, um teatro
que se emancipa do drama, que no toma mais como
ponto de partida de seu processo criativo um textodramatrgico, ou que, em alguns casos, dispensa
totalmente os aspectos textuais/verbais que a cena pode
abrigar. Este teatro herdeiro das transformaes pelas
quais o mundo passou a partir da Segunda Guerra,
quando formas artsticas perderam o sentido ou a
possibilidade de atuao num cenrio devastado como
fora o daqueles anos. Um exemplo dessas formas, a que
Walter Benjamin (1987), no contexto antecedente do
ps-Primeira Guerra, nos chama a ateno, a narrativa
oral, que, entendida como um dos maiores, certamente
dos mais antigos meios de troca de experincias, entra
em vias de extino num momento histrico que no
reconhece mais a possibilidade da existncia de experincias a serem
compartilhadas ou cujo ensinamento que elas guardavam torna-se
vo diante da desmoralizao a que a humanidade fora submetida
naqueles anos.
Em contexto semelhante ao de Benjamin, mas j em torno
da dcada de 1960, Teodor Adorno armava a respeito do drama
outra dessas formas artsticas impossibilitadas que a sua morte
se anunciara com Fim de partida, de Beckett, pelo esvaziamento de
sentido que a pea contm. Para este lsofo, o m da Segunda
Guerra e o trauma dela decorrente como que emudecera o drama;
o horror histrico daqueles anos ao que parece, nica experincia
a ser compartilhada a partir de ento seria mais bem traduzido
NayaraMacedoBarbosadeBRITO;ClvisDiasMASSA
UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul(UFR
GS)
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Mestre em Artes Cnicas pela
Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, sob orientao do Prof. Dr.
Clvis Dias Massa.
Professor Doutor do Departamento
de Arte Dramtica da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul,
atuando junto ao do Programa dePs-Graduao em Artes Cnicas
desta instituio.
Sempre que utilizarmos a expresso
dramatrgico, aqui, para nos
referirmos a um texto a que a
conveno nos ensinou a chamar de
dramtico, para evitar que o leitor
associe a obra a que fazemos meno
com a tradio aristotlico-hegeliana
de um teatro e de uma dramaturgia,
esses sim, dramticos. Ao falarmos
em texto dramatrgico, estaremosnos remetendo a formas que, pelo
processo de mutao do paradigma
do drama, como sugerido por Jean-
Pierre Sarrazac (2011b), promovem
desvios em relao ao antigo modelo
e que no podem, por isso, ser
chamadas de dramticas no sentido
que estamos empregando aqui.
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atravs de imagens do que de palavras, o que se justicava pelo fato
conhecido de que No nal da guerra [...] os combatentes voltavam
mudos do campo de batalha, no mais ricos, e sim mais pobres em
experincia comunicvel. (Benjamin, 1987, p. 198). Segundo esse
raciocnio, o drama enquanto um veculo de compartilhamento de
experincia mediado pela linguagem verbal, na medida em que
esvaziado ou que perde o sentido de atuao, torna-se, ento, uma
categoria obsoleta, a-contempornea.
Haveria nas peas de Beckett uma intuio de que as
circunstncias histricas daquele momento e sua estrutura desentimento fator que orienta, entre outras coisas, os mtodos e
as convenes artsticas de um perodo solicitavam uma forma
em que a realizao cnica se sobrepusesse construo dramtica
literria (Ramos in Williams, 2010, p. 14). Em sua tentativa de
entender Fim de partida (Adorno, 1997 apudGatti, 2008), Adorno
considera a peabecketteanacomo uma pardia da forma dramtica
cannica na poca de sua impossibilidade (1997, p. 302-3 apud
2008). A inao dos personagens representada conjuntamente
com a manuteno das categorias aristotlico-hegelianas do dramademonstraria, segundo este terico, a obsolescncia da forma e
sua incapacidade de dar conta das questes contemporneas a ele.
Acontece que o que o lsofo estava considerando era justamente
a forma dramtica em seu sentido tradicional, rejeitando inclusive
as peas que voltavam a trazer em seu interior elementos picos,
procedimento que ele considerava tambm como prova da
incapacidade do drama. Contudo, segundo Peter Szondi (2011),
estes elementos seriam a soluo para a contradio que se observavaentre a forma dramtica e as temticas emergentes at aquele
perodo, soluo que no se verica na dramaturgia de Beckett.
Para o terico hngaro, tal contradio, a mesma que Adorno
observa, no apontaria para uma possvel morte do drama, mas para
uma mudana teleolgica de sua forma, que rumava epicizao.
As consideraes mais recentes de Lehmann, por sua vez, ainda
consideram as formas solucionantes que Szondi comenta em Teoria
do drama moderno como dramticas, incluindo-se a o prprio
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Brecht, ponto nal da teleologia szondiana.
O que Jean-Pierre Sarrazac, distanciado temporalmentedo contexto do ps-guerra, evidencia que a emancipao da cena
em relao ao texto, que o estudo de Lehmann parece dar conta,
foi responsvel por provocar, na forma dramtica, uma intensa
transformao, acelerando o processo que j se iniciara em ns do
sculo XIX com a crise que Szondi aponta, e que ao longo do sculo
XX e incio do XXI revelou formas altamente revigoradas, atualizadas
e de acordo com o nosso tempo refutando, assim, as consideraes
adornianasa esse respeito.
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ainda se faz. Para dar conta dessa nova perspectiva, intimamente
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de Aristteles. Para eles, a traduo, mantida falta de melhor, de
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(2004) comentou em texto publicado no jornal O Estado de So
Paulo. Para ela, o texto de Viripaev, dividido em dez composies,
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tambm em torno da dcada de 1960 e que remete a experimentos
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(ver Moreno, 2008, p. 50).
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preciso ainda que atentemos, drama e teatro (ou texto e cena) so
tomados como sinnimos. No entanto, como vimos, esses atores/
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um astro morto, do qual caram acessveis apenas os seus satlites:
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linguagem. (Sarrazac, 2002, p. 138).
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R e f e r n c i a s B i b l i o g r f i c a s
BENJAMIN, Walter. O narrador Consideraes sobre a obra
de Nikolai Leskov. In: "#$%# & '()*%)#+ #,'& & -./0'%)# 1 5?&"#
escolhidas. So Paulo: Brasiliense, 1987, p. 197-221.
GATTI, Luciano F.23.,*. /&*3. 4&)5&'': a pardia do drama. XICongresso Internacional da ABRALIC. So Paulo. 13 a 17 de julho
de 2008.
HUTCHEON, Linda. 6.('%)# 3. -789:.3&,*%8:.: C'#,=&'"6
teoria, co. Trad. Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
MENEZES, Maria Eugnia de. Partitura de haicai.;.,*#/ < =8'#3.
3& >?. 6#@/., Brasil, 2004. Disponvel em: http://cultura.estadao.
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MORENO, Newton.2$,&8'&A 4.3B 2,'A 2 C&D&%E?.
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|| Nayara de BRITO, Clvis MASSA
das Letras, 2002.
__________. O outro dilogo: Elementos para uma potica dodrama moderno e contemporneo. Trad. Lus Varela. Lisboa:
Editora Licorne, 2011b.
___________. Sete observaes sobre a possibilidade de um trgico
moderno que poderia ser um trgico (do) quotidiano. Trad. Lara
Biasoli Moler. Pitgoras 500, Campinas, VOL. 4, p. 3-15, 2013a.
__________. Sobre a fbula e o desvio. Org. e trad. Ftima Saadi.
Rio de Janeiro: 7Letras, 2013b.
SIQUEIRA, Elton Bruno Soares de.A crise da masculinidade nas
dramaturgias de Nelson Rodrigues, Plnio Marcos e Newton
Moreno. 2006. 324 p. Tese (doutorado). Universidade Federal de
Pernambuco, Centro de Artes e Comunicao, Recife, PE.
SZONDI, Peter. Teoria do drama moderno. Trad. Raquel Imanishi
Rodrigues. So Paulo: Cosac & Naify, 2011.
WILLIAMS, Raymond. Drama em cena. Trad. Rogrio Bettoni.
So Paulo: Cosac & Naify, 2010.
__________. Introduction. In: _________. Drama from Ibsen to
Brecht. London: Pelican Books, 1983, p. 01-14.
Abstract:Against those who took drama as the dead branch of
theater tree or as its decadent element, the dramaturgical productionwhich throw itself, today, autonomously in relation to the sceneconstruct and presents forms refreshed and, even if diverse, withtendencies that gather them and tell us about our contemporaneity.Its about the dramaturgy produced on these bases that we discussin this article.
Keywords: contemporary dramaturgy; postdramatic theater;postmodernism.