Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2014, v. 18, n. 18, p. 109 – 124
CONTAMINAÇÃO DE ENTEROPARASITAS EM FOLHAS DE ALFACE
(Lactuca sativa) E AGRIÃO (Nasturtium officinalis) EM DUAS HORTAS
COMERCIAIS DE FOZ DO IGUAÇU, ESTADO DO PARANÁ, BRASIL
OLIVEIRA, Alline Aparecida Batista de1
PEREZ, Luana Ficanha2
RESUMO
Este estudo teve a finalidade de avaliar a contaminação por enteroparasitas em
folhas de alface (Lactuca sativa) e agrião (Nasturtium officinalis), uma vez que se
encontram entre as hortaliças mais consumidas, coletadas em duas hortas que fornecem
esses produtos para a comercialização em supermercados e feiras livres da cidade de
Foz do Iguaçu – PR. Verificou também a porcentagem de contaminação nas amostras
lavadas e não lavadas, destacando a necessidade da antissepsia dos vegetais antes do
consumo, uma vez que praticamente todas as amostras apresentaram pelo menos um
enteroparasita.
Palavras-chave: Hortaliças. Contaminação. Enteroparasita.
ABSTRACT
This study aimed to evaluate the contamination by intestinal parasites in leaves
of lettuce (Lactuca sativa) and watercress (Nasturtium officinalis), since they are among
the most consumed vegetables, collected in two gardens that provide these products for
sale in supermarkets and markets in the city of Foz do Iguaçu - PR. Verified, the
percentage of contamination in samples washed and unwashed, highlighting the need
for antisepsis of vegetables before consumption, since virtually all samples had at least
one enteroparasite.
Keywords: Vegetables. Contamination. Enteroparasite.
1
Biomédica Graduada na Faculdade União das Américas – UNIAMÉRICA e Esp. em Microbiologia
Aplicada no Centro Universitário Dinâmica das Cataratas - PR. 2
Biomédica e Esp. Graduada na Faculdade União das Américas – UNIAMÉRICA - PR.
2
INTRODUÇÃO
As enteroparasitoses humanas são problema de saúde pública e também podem
indicar as condições socioeconômicas em que vive certa população.
A tendência do momento é o consumo de alimentos diet e light para garantir
vida saudável. Nesse contexto, agrega-se valor às hortaliças principalmente orgânicas,
em substituição às convencionais. Ao deixar de usar os produtos químicos – fertilizantes
e defensivos –, passa-se a usar os fertilizantes orgânicos (esterco de bovinos, suínos,
aves, coelhos, húmus de minhoca) sem conhecer a procedência. Essas hortaliças são
comercializadas sob o rótulo de saudáveis, mas podem ter contaminantes parasitários,
que aparecem através de suas formas transmissíveis que são os cistos, ovos e até mesmo
larvas microscópicas e também a forma inadequada como as hortaliças são manuseadas
e transportadas (ROBERTSON, GJERDE, 2001).
Segundo Keller et al. (2000), citado por Gonçalves e Partelli (2005), a melhoria
do saneamento básico e a mudança de comportamento da população com relação à
prática de hábitos de higiene e a incidência de surtos epidêmicos, cujos agentes
infecciosos são transmitidos pela água, diminuíram nas últimas décadas.
Nesse sentido, este estudo teve a finalidade de avaliar a contaminação por
enteroparasitas em folhas de alface (Lactuca sativa) e agrião (Nasturtium officinalis),
uma vez que se encontram entre as hortaliças mais consumidas, coletadas em duas
hortas que fornecem esses produtos para a comercialização em supermercados e feiras
livres da cidade de Foz do Iguaçu – PR.
2. ENTEROPARASITAS EM VEGETAIS (ALFACE E AGRIÃO)
O parasitismo é definido como a incapacidade de um ser vivo sobreviver e
reproduzir-se independentemente de outro. O relacionamento entre eles visa a dois
aspectos fundamentais: obtenção de alimento e/ou proteção, criando dependência
metabólica. Ou seja, toda fisiologia do parasita é dependente do hospedeiro, no qual até
mesmo as enzimas do metabolismo são produzidas pelo mesmo (REY, 2001).
Segundo Neves (2005), o parasitismo seguramente ocorreu quando, na evolução
de uma destas associações, um organismo menor se sentiu beneficiado, quer pela
proteção, quer pela obtenção de alimento. Como consequência dessa associação e com o
decorrer de milhares de anos, houve uma evolução para o melhor relacionamento com o
3
hospedeiro. Esta evolução feita à custa de adaptações tornou o invasor (parasita) mais
dependente do seu hospedeiro. Essas adaptações foram de tais formas acentuadas que
podemos afirmar que “a adaptação é a marca do parasitismo”.
Os enteroparasitas constituem uma das maiores causas de infecções que
acometem o homem e os animais. Seus sintomas não só provocam índices elevados de
morbidade e mortalidade como também grandes perdas econômicas que comprometem
o homem enfermo assim como seus familiares e ainda a comunidade. Em alguns casos,
chega a limitar o desenvolvimento social e econômico (ATIAS, 1998, p. 22).
Hábitos de higiene dos indivíduos, idade, grau de escolaridade, nível
socioeconômico e condições de saneamento básico são variáveis que contribuem na
frequência de parasitoses intestinais. Ainda não está totalmente estabelecido se o contato
com animais domésticos e o sexo do indivíduo influenciam nas enteroparasitoses
(ABRAHAM et al. 2007, p. 41).
Levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE (2004) constatou o aumento considerável no consumo de verduras, legumes e
frutas no Brasil, particularmente nas regiões sul e sudeste, elevando o risco da ingestão
de estruturas parasitárias carregadas por estes alimentos que são ingeridos crus; os
enteroparasitas intestinais constituem um sério problema de saúde pública no Brasil,
apresentando maior prevalência em populações de baixo nível socioeconômico e
precárias condições de saneamento básico (UCHÔA, 2001).
As hortaliças, em especial as consumidas cruas, possibilitam ocorrência de
enfermidades intestinais, uma vez que helmintos, protozoários e outros patógenos
podem estar presentes nessas verduras, que são frequentemente adubadas e/ou irrigadas
com água que pode estar contaminada por dejetos fecais. As doenças transmitidas por
alimentos são, predominantemente, resultantes do ciclo de contaminação fecal/oral e seu
controle deve receber atenção cada vez maior em nosso meio (SANTANA, 2004).
Segundo Silva Jr (2002), as hortaliças podem estar contaminadas por parasitas,
porém, podem não apresentar-se com aspecto de estragadas.
A grande maioria dos trabalhos que avalia a contaminação de hortaliças por
enteroparasitas utiliza amostras de alface (Lactuca sativa), agrião (Nasturtium
officinalis), entre outras, por apresentarem grande difusão de consumo cru, facilidade e
quantidade de produção, bem como possibilidade de contaminação por água e solos
poluídos (OLIVEIRA e GERMANO, 1992; MARZOCHI, 1977).
A alface (Lactuca sativa) é a hortaliça folhosa mais comercializada no país. É
4
consumida crua e cultivada o ano todo. O seu cultivo requer contato com o solo durante
todo o ciclo vegetativo, relata Filgueiras (2003). O agrião (Nasturtium officinalis)
oriundo da Ásia é rico em sais minerais, tem propriedades terapêuticas e é cultivado
normalmente em solos úmidos; este fator facilita a sobrevivência de ovos de helmintos e
cistos de protozoários que têm vida prolongada em ambiente aquático, observa
Guilherme (2002).
Nos estudos de Darolt (2003)3, ficou evidenciado que produtos vegetais, folhas,
talos e frutos contaminados a partir do solo, água de irrigação, adubos orgânicos, das
condições de transporte e armazenamento ou mesmo durante a manipulação usando
recipientes, tábuas e alimentos não higienizados adequadamente, facilitam a
contaminação cruzada.
Nesse sentido, destacam-se os estudos realizados por Oliveira e Germano (1992)
na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo – CEAGESP, em 1990,
que revelaram elevados níveis de contaminação por helmintos e protozoários em alface,
agrião e escarola. Deve-se salientar que este é um problema mundial e que mesmo nos
países desenvolvidos menos de 5% das doenças são transmitidas por alimentos.
Estudos relatam que pesquisadores verificaram diferentes formas de
contaminação por enteroparasitas em alface, tais como: solo e água de irrigação
contaminada por entulhos e esgoto (BLUMENAU et al., 2004)4; adubação com fezes de
animais (CHITARRA, 2000); prática de lavagem em recipientes com água parada
(EVANGELISTA, 1992).
Alves (2002) também afirma que as hortaliças consumidas cruas em forma de
saladas podem servir como via de transmissão de espécies de helmintos, protozoários,
bactérias e vírus que causam danos ao organismo humano.
Complementando a sequência de avaliações em folhosas, Soares e Cantos
(2006), em estudos na cidade de Florianópolis (SC), analisaram 250 unidades de alface
e constataram 60% delas contaminadas com estruturas parasitárias, predominando a
Entamoeba sp..
Observações feitas por Oliveira e Germano (1992) esclarecem que a alface, por
possuir folhas justapostas, dificulta a adesão de estruturas parasitárias e, por isso,
apresenta menores índices de contaminação quando comparada ao agrião. Finalizando,
Oliveira e Germano (1992) e Silva e Andrade (2005) relatam em seus estudos sobre
3 <http://planetaorganico.com.br.html> 4
<http://www.agriculturaurbana.org.br>
5
contaminação de hortaliças por enteroparasitas que o diagnóstico laboratorial das
hortaliças representa uma forma de monitoramento e controle dessa atividade de
produção, armazenamento, transporte e manuseio dos vegetais.
Para que a contaminação seja evitada, é necessária uma conscientização do
manipulador e consumidor sobre as normas de higiene. No caso das hortaliças devem
ser lavadas em água com adição de hipoclorito de sódio. Isto é importante, pois as
colheitas às vezes são inundadas por águas contaminadas por dejetos humanos ou
animais (HOBBS, 1999).
3. MATERIAIS E MÉTODO
A pesquisa caracterizada como exploratória qualitativa tem o referencial teórico
apoiado nas orientações de Gil e Lakatos (2001).
O estudo consistiu na avaliação de 60 amostras de alface (30 analisadas sem
lavar e 30 lavadas com água) e 60 amostras de agrião (30 analisadas sem lavar e 30
lavadas). A metodologia utilizada foi baseada em Bastos (2002); Pessoa e Martins
(1988) através de adaptações do método original. Ambas as técnicas utilizam o método
de Hoffmann et al. (1934), que consiste na sedimentação espontânea de cistos e ovos de
protozoários e helmintos respectivamente.
As coletas foram realizadas em duas hortas, uma localizada no Bairro Jardim
Petrópolis (coordenadas geográficas: 25°29'22.9"S, 54°35'01.5"W) e a outra no Bairro
Morumbi III (coordenadas geográficas: 25°30'49.6"S, 54°32'28.0"W), na cidade de Foz
do Iguaçu – PR. As amostras foram coletadas pela manhã em dias variados até
completar o total 60 de cada espécie durante o período de agosto e novembro deste ano.
Para o transporte, as amostras foram acondicionadas em sacos de polietileno,
individualmente, com ficha de identificação constando: nome do local, nome da espécie,
data e hora da coleta e a observação: lavada ou não lavada. Os recipientes com as
amostras foram acondicionados em uma caixa de isopor e transportados até o
laboratório escola da Faculdade União das Américas.
Para a técnica, as alfaces e os agriões foram desfolhados na proporção de 5 g de
cada amostra e lavados com uma solução de lauril sulfato triptose a 1% (um por cento)
sobre um frasco coletor. O líquido resultante da lavagem das folhas foi colocado em um
frasco cônico com capacidade para 250 ml e deixado em repouso por 30 minutos.
Descartou-se o sobrenadante e adicionou-se água destilada até completar 250 ml para o
6
segundo repouso de 30 minutos.
Com auxílio de uma pipeta, foi retirado 0,1 ml do sedimento e examinado em
lâmina corada com uma gota de lugol, em microscópio de luz e fotografado para
registro.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através da análise dos resultados foi possível observar que tanto protozoários
como helmintos estiveram presentes nas hortaliças estudadas.
Os protozoários observados foram Giardia sp. (Figura 1: I), que aparece na
forma de um cisto oval com a presença marcante de um axonema na região central,
Entamoeba sp. (Figura 1: II), que possui o cisto arredondado com cerca de 4 a 8
núcleos, Endolimax sp. (Figura 1: III), semelhante à ameba, no entanto menor e com no
máximo 4 núcleos, e Iodamoeba sp. (Figura 1: IV), apresentando no interior de um cisto
redondo um vacúolo sensível ao iodo.
7
Figura 1: PROTOZOÁRIOS - Fotomicroscopia de um cisto de Giardia sp. (I), notar axonema.
Entamoeba sp. (II) notar os núcleos. Endolimax sp. (III) observar tamanho e os núcleos. Iodamoeba sp.
(IV) notar vacúolo corado pelo iodo.
I II
III IV
Os ovos dos helmintos Dipylidium sp. (Figura 2: I) aparecem nas fezes envoltos
por uma cápsula, uma vez que esse verme cestódeo é muito semelhante a uma tênia que
liberaria suas proglotes. Ascaris sp. (Figura 2: II), que possuem casca bastante grossa e
castanha, Ancylostoma sp. (Figura 2: III) apresentam uma massa embrionária interior
com um grande halo até sua casca ou aparecem como larvas filiformes (Figura 2: IV),
Enterobius sp. (Figura 2: V) aparecem como ovos em forma de “D” com uma estrutura
central que dará origem a larva e Strongyloides sp. (Figura 2: VI), que se apresenta na
forma de uma larva identificável pelo aparelho digestório.
8
Figura 2: HELMINTOS - Fotomicroscopia de Dipylidium sp. (I) notar grande quantidade de ovos.
Ascaris sp. (II) notar casca grossa e castanha. Ancylostoma sp. (III) notar halo no ovo e formato filiforme
da larva (IV). Enterobius sp. (V) notar formato. Strongyloides sp. notar aparelho digestório (VI).
I II
III IV
V VI
9
a) HORTA – 1
Das 30 amostras de alface coletadas neste primeiro local, 60% de ambas, lavadas
e não lavadas, apresentaram-se positivas para pelo menos um enteroparasita, o que
demonstra uma elevada contaminação parasitária.
Utilizando das amostras positivas foi possível notar que nas alfaces lavadas,
houve a predominância de Giardia sp., seguido de Dipylidium sp., Endolimax sp.,
Entamoeba sp., Strongyloides sp. na forma larval, Iodamoeba sp. e Ancylostoma sp. na
forma de larva em diferentes porcentagens de visualização como mostra a Tabela I.
Tabela I – Presença de enteroparasitas em alface lavada – horta 1
Parasito
Cistos
Ovos
Larvas
Frequência (%)
Giardia sp. + 25
Dipylidium sp. + 20
Endolimax sp. + 20
Entamoeba sp. + 15
Strongyloides sp. + 10
Iodamoeba sp. + 5
Ancylostoma sp. + 5
Ao passo que em amostras de alface não lavadas verificou-se a presença
predominante de Dipylidium sp., Giardia sp., seguido da forma larval de Strongyloides
sp., Endolimax sp., Entamoeba sp. e Ancylostoma sp., também na forma de larva; nas
proporções mostradas pela Tabela II.
Tabela II – Presença de enteroparasitas em alface não lavada – horta 1
Parasito
Cistos
Ovos
Larvas
Frequência (%)
Dipylidium sp. + 26,7
Giardia sp. + 26,7
Strongyloides sp. + 13,3
10
Endolimax sp. + 13,3
Entamoeba sp. + 13,3
Ancylostoma sp. + 6,7
Das amostras coletas de agrião lavado, 66,7% apresentaram contaminação. Os
resultados para esta hortaliça em estudo foram Endolimax sp., seguido de Dipylidium
sp., Strongyloides sp. e Ancylostoma sp., ambos na forma de larva e Giardia sp. na
frequência mostrada pela Tabela III.
Tabela III – Presença de enteroparasita em agrião lavado - horta 1
Parasito
Cistos
Ovos
Larvas
Frequência (%)
Endolimax sp. + 31,3
Dipylidium sp. + 25
Strongyloides sp. + 18,8
Ancylostoma sp. + 18,8
Giardia sp. + 6,3
Nas amostras de agrião não lavado, 93,3% apresentaram-se contaminadas e
houve predominância de Strongyloides sp. na forma larval, seguido de Endolimax sp.,
Ancylostoma sp. na forma de ovo e larva, Dipylidium sp., Ascaris sp. na forma de ovo e
Giardia sp., como mostra a Tabela IV.
Tabela IV – Presença de enteroparasita em agrião não lavado - horta 1
Parasito
Cistos
Ovos
Larvas
Frequência (%)
Strongyloides sp. + 26,7
Endolimax sp. + 20
Ancylostoma sp. + + 20
Dipylidium sp. + 13,3
Ascaris sp. + 10
Giardia sp. + 10
11
b) HORTA – 2
Das 30 amostras de alface coletadas neste segundo local, 80% das que haviam
sido lavadas e também das que não haviam sido lavadas apresentaram resultado positivo
para presença de enteroparasitas.
Nos exames de amostras de alface lavada registrou-se a presença predominante
de Dipylidium sp., seguido das formas de ovo e larva de Ancylostoma sp., Strongyloides
sp. na forma larval e Enterobius sp. na forma de ovo, em diferentes porcentagens como
mostra na sequência a Tabela V.
Tabela V – Presença de enteroparasita em alface lavada - horta 2
Parasito Cistos Ovos Larvas Frequência (%)
Dipylidium sp. + 43,8
Ancylostoma sp. + + 37,5
Strongyloides sp. + 12,5
Enterobius sp. + 6,3
As amostras de alface não lavada representaram dominância de larvas de
Strongyloides sp., seguido de Ascaris sp. na forma de ovo, Ancylostoma sp. na forma de
larva e ovo e Dipylidium sp., sendo representados na Tabela VI.
Tabela VI – Presença de enteroparasita em alface não lavada - horta 2
Parasito
Cistos
Ovos
Larvas
Frequência (%)
Strongyloides sp. + 53,3
Ascaris sp. + 26,7
Ancylostoma sp. + + 13,3
Dipylidium sp. + 6,7
12
Das amostras de agrião lavado analisadas, contatou-se que 46,7% apresentaram
positividade. Na frequência da Tabela VII, está representada a presença de Dipylidium
sp., seguido de Strongyloides sp. na forma de larva.
Tabela VII – Presença de enteroparasita em agrião lavado - horta 2
Parasito Cistos Ovos Larvas Freqüência (%)
Dipylidium sp. + 57,1
Strongyloides sp. + 42,9
Nas amostras de agrião não lavado, 60% apresentaram-se positivas. Verificou-se
a maior incidência de Dipylidium sp. seguido da forma larval de Strongyloides sp. em
diferentes frequências, como mostra a Tabela VIII.
Tabela VIII – Presença de enteroparasita em agrião não lavado - horta 2
Parasito Cistos Ovos Larvas Freqüência (%)
Dipylidium sp. + 70
Strongyloides sp. + 30
Os estudos conduzidos por Takayanagui et al (2001) na cidade de Ribeirão Preto
(SP) corroboram com esses resultados pois detectaram 67% de estruturas parasitárias
em amostras de alface, com destaque para Salmonella, coliforme fecais, Entamoeba sp.,
Ascaris sp., Giardia sp., Cryptosporidium sp., Hymenolepis nana e Toxocara sp.,
evidenciando a importância desses alimentos como veiculadores das parasitoses
intestinais.
No entanto, na mesma linha de raciocínio, estudos desenvolvidos por Vollkopf
et al. (2006) mostram a maior presença de helmintos que protozoários, como neste
trabalho, pois os autores detectaram contaminação em 96,52% das amostras de alface,
com prevalência de ovos de Ascaris sp., Trichuris sp., Ancylostomídeos, Strongyloides
sp. e Toxocara sp., que compatibilizam com os resultados alcançados por este estudo,
13
com exceção de Dipylidium sp. – que foi registrado com predominância e frequência
que varia de 6,7% a 70% de contaminação tanto para a alface como para o agrião.
Esta pesquisa também constatou semelhanças com os estudos desenvolvidos por
Saraiva et al. (2005), que consistiram na coleta de 20 amostras de alface no mercado
varejista de Araraquara e São Carlos, no Estado de São Paulo. Das amostras coletas, 17
apresentaram-se positivas. Os agentes contaminantes com predominância foram:
Giardia lamblia, Enterobius vermicularis, Strongyloides stercoralis e Entamoeba
histolytica.
Mais uma vez, utilizando avaliações parasitológicas em folhosas, Soares e
Cantos (2006), em estudos na cidade de Florianópolis (SC), observaram que as
estruturas parasitárias comumente encontradas na análise parasitológica de folhas de
alface foram: ovos de Ancilostomídeos, larvas de Strongyloides stercoralis, ovos de
Hymenolepis nana, cistos de Entamoeba hartmanni, cistos de Entamoeba coli, cistos de
Entamoeba histolytica /Entamoeba dispar, oocistos de Blastocystis hominis e
protozoários de vida livre, o que continua de acordo com os achados deste estudo.
Observando a prevalência entre as duas hortas, é possível notar que as hortaliças
coletadas nos dois ambientes de produção, tanto as amostras lavadas como as não
lavadas, apresentaram condições muito semelhantes de contaminação por
enteroparasitas, destacando ovos de Dipylidium sp. e Strongyloides sp. na forma larval
com ocorrência generalizada. As contaminações parecem ser através do solo e água
contaminada, no entanto, não foram feitas análises na água de irrigação e condições de
solo.
A presença desses parasitas está de acordo com o que é dito por Oliveira e
Germano (1992) sobre os níveis de contaminação nas variedades de hortaliças estudadas
parecerem estar associadas, fundamentalmente, às condições sanitárias do ambiente em
que são cultivadas, diferentes em cada horta produtora, de acordo com as práticas de
cultivo inadequadas do ponto de vista higiênico sanitário.
Apesar de os resultados mostrarem contaminações por enteroparasitoses nas
hortaliças, o benefício que esses alimentos trazem em sais minerais e vitaminas se
sobressai à contaminação. Faz-se necessária a conscientização da população que
consome esses vegetais para que promovam a correta higienização para o consumo.
14
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho mostrou que houve a presença tanto de protozoários como de
helmintos, com contaminação maior por helmintos. Há possíveis semelhanças entre as
quantidades de espécies de parasitas encontrados nos locais pesquisados.
O diferencial deste trabalho comparado com outros da literatura foi a presença
de Dipylidium sp., o que indica contaminação por fezes de animais. O Dipylidium sp.
seguido da forma larval de Strongyloides sp. foram os helmintos mais prevalentes e
Endolimax sp. e Giardia sp., os protozoários.
Este estudo mostra a necessidade da antissepsia dos vegetais antes do consumo,
uma vez que praticamente todas as amostras apresentaram pelo menos um
enteroparasita.
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