UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS
KIMBERLY BERNARDO DE OLIVEIRA
DESAFIOS DA IMPLEMENTAÇÃO DA CERTIFICAÇÃO ISO 14001:2015 EM
ORGANIZAÇÕES
ESTUDO DE CASO: INDÚSTRIA DE COSMÉTICOS
São Carlos
2019
KIMBERLY BERNARDO DE OLIVEIRA
DESAFIOS DA IMPLEMENTAÇÃO DA CERTIFICAÇÃO ISO 14001:2015 EM
ORGANIZAÇÕES
ESTUDO DE CASO: INDÚSTRIA DE COSMÉTICOS
Monografia apresentada ao Curso de Engenharia
Ambiental, da Escola de Engenharia de São Carlos
da Universidade de São Paulo, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Engenheiro
Ambiental
Orientador: Profª. Dr. Aldo Roberto Ometto
São Carlos
2019
AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Prof. Dr. Sérgio Rodrigues Fontes da
EESC/USP com os dados inseridos pelo(a) autor(a).
Eduardo Graziosi Silva - CRB - 8/8907
1. Gestão Ambiental Empresarial. 2. Sistemas de
Gestão Ambiental. 3. Certificação ISO 14001. I. Título.
Bernardo de Oliveira, Kimberly
Desafios da implementação da ISO 14001:2015 em
organizações. Estudo de caso: Indústria de Cosméticos
/ Kimberly Bernardo de Oliveira; orientador Aldo Roberto Ometto. São Carlos, 2019.
Monografia (Graduação em Engenharia Ambiental) --
Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, 2019.
B48d
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, Isabel e
Marcos, ao meu irmão Victor, às minhas avós
Vitalina e Elizalice e aos meus amigos queridos.
Vocês foram essenciais na construção dos valores
que carrego comigo e contribuíram para que
minha jornada até aqui fosse possível.
AGRADECIMENTOS
Agradeço inicialmente à Natureza por me proporcionar uma morada abundante em energia,
permitindo que eu me recarregue sempre que preciso e diariamente me espante com sua perfeição
em todos os detalhes.
Aos meus pais, Isabel e Marcos por desde pequena acreditarem na minha capacidade de
conquistar sucesso, por incentivarem meus sonhos e fazerem o possível e impossível para nunca
me faltar nada. Ao meu irmão Victor, que desde os 5 anos foi meu motivo mais importante para
voltar frequentemente para São Paulo independente do cansaço. Por sempre me receber com
abraços apertados e beijinhos gostosos e por ser o irmão que eu sempre quis.
Às minhas avós Vitalina e Elizalice por me ensinarem resiliência, tanto com suas histórias
de vida quanto por não me deixarem desistir de aprender as coisas independente de quantas quedas
eu tivesse. Por me ensinarem a andar de patins depois de muitos joelhos ralados e a fazer arroz com
perfeição.
Aos meus filhotes de quatro patas, Dora, Dexter e Doctor, por me provarem todos os dias
que independente do cansaço a gente sempre acha uma energia para cuidar de quem a gente ama.
Por me ensinarem a importância da educação desde pequeno, por quebrarem tantas crenças
limitantes dentro de mim e por me mostrarem que em coração de mãe sempre cabe mais amor.
Ao Aldo, meu orientador, por me despertar o amor pela gestão ambiental empresarial e me
ensinar na teoria e na prática tudo o que eu precisava para tornar real o desejo de trabalhar com
esse tema na empresa dos meus sonhos. Se fui elogiada em todas as minhas entregas, foi por tudo
o que aprendi em suas aulas.
Aos meus professores da graduação, Luciana Schenk, Janete, Evaldo, Valéria, Luiz Daniel,
Wiclef, Bernadete, Ranieri, Reali, Schalch Aldo e Zaiat, obrigada por formarem pessoas incríveis
capazes de fazer a diferença nesse mundo.
Aos amigos que fiz na engenharia ambiental, pelas histórias vividas nesses anos todos e por
me acolherem quando fazia disciplinas fora da minha turma. Em especial à ambiental 011, por me
acompanharem nos momentos bons e sofrerem comigo nas semanas insanas de prova.
Aos anjinhos incríveis que a USP me deu. Blockinha, obrigada por me ensinar que o
importante é fazer o que nos faz feliz independente dos rótulos; por me ensinar que a vida deve ser
vivida intensamente, com uma dose de arte, praticidade, festas e inteligência. Carolinda, obrigada
por sempre estar de braços abertos para oferecer colo compreensivo, companhia para conversas
aconchegantes e capuccino em dias frios. Emilio, obrigada por todas as festas, todas as madrugadas
de conversas epifânicas, e por ser meu eterno conselheiro e confidente. Larissa, obrigada por ser
esse mix de fofura com determinação, por ser um exemplo de mulher forte, resiliente e capaz e por
ter nos acolhido em meio à gangue oriental dentro do seu coração. Jovem, obrigada por ser meu
exemplo de coragem, por me ensinar que é possível se jogar para o novo e a encarar os desafios
independentemente do medo; por todas as noites de conversas sobre sonhos futuros e por
compartilhar comigo tantas conquistas suas. Mariê, obrigada por me mostrar que um coração pode
ser mais imenso do que eu imaginava que poderia ser, por topar loucuras insanas de madrugada,
por me ajudar a amadurecer minha empatia, por compartilhar desafios no violão, por me apresentar
músicas que só a gente gosta e por ser essa coisinha fofurenta que você é. Paulito, obrigada por
voltar a acreditar na gente mesmo depois de mandar trancar cálculo e não ter nos valorizado no
agradecimento do TCC, por nos permitir ensinar você a sorrir e a demonstrar carinho pelos amigos
e por mostrar os melhores memes da internet em primeira mão. Puminha, obrigada por ser um
serzinho de luz único nesse mundo, por ter me proporcionado experiências memoráveis, desde
princesas em festas até viagem para o país do meu sonho, por ter me acolhido quando todos os
meus amigos viajaram, por vibrar com todas as minhas conquistas, ser uma companhia incrível a
qualquer hora e por ser um exemplo de amor saudável. Cacá (in memoriam) obrigada por ensinar
pelo exemplo que precisamos questionar, problematizar, lutar e a ser resiliente num mundo difícil
para que as próximas pessoas possam viver em paz.
Ao Iago, por ter me dado a coragem para mudar de cidade e de vida tão nova, sendo um
exemplo para mim. Por ter sido meu primeiro melhor amigo e estar até hoje na minha vida no
mesmo posto. Por me ensinar desde a quarta série o que é cuidado, carinho e amor.
Ao Gaba, por desde 2015 me mostrar de um jeito único e inesperado que o destino existe.
Por ter me visto nos melhores e piores momentos e ainda assim escolher ficar do meu lado, por
querer crescer junto comigo e me incentivar a ser melhor a cada dia que passa. Por aceitar desafios
comigo, dançar comigo em qualquer lugar e não medir esforços para me deixar feliz.
À Lili, que torna esse texto o mais difícil de escrever simplesmente por não existirem
palavras em nenhuma língua do mundo capaz de materializar o que eu sinto por você e pela nossa
amizade. Obrigada por toda a nossa história, por todas as vezes que você me salvou, me fez
reacreditar em mim mesma, compartilhou epifanias, me ensinou expressões, me abraçou, ficou
com ridiculites até a 9mil km de distância e pelo tanto que eu aprendi com toda a admiração que
tenho por você; se eu tivesse pedido uma irmã perfeita, não seria nem metade do que você é.
À Dani Vicente, por ter sido a melhor gestora, amiga e confidente. Por ser um exemplo de
profissional, por nutrir meu amor por gestão ambiental empresarial, por ter confiado no meu
potencial e sido responsável por todo meu crescimento. Por ser exemplo de ética e respeito e por
todo o aprendizado quase que imensurável que eu tive nesses dois anos juntas e continuo
desenvolvendo até hoje.
Ao Alan e Edu, por serem meus lindinhos e companheiros de empresa e de vida. Por
cuidarem tão bem de mim e me fazerem sentir única e especial.
À Lu Sciessere, por ter sido uma surpresa gostosa do meu fim de estágio. Que bom que
nossos caminhos se cruzaram. Obrigada por me ensinar tanto em termos profissionais e de vida.
Por compartilhar amor e conhecimento por cristais, óleos essenciais, plantinhas, gatinhos, luas, por
estar do meu lado em momentos importantes da minha vida e ter sido a primeira a vibrar comigo
na minha efetivação.
À Dani Fontes, por ter me ajudado a manter a sanidade, e me mostrar que o mais saudável
para a mente e para o corpo é o equilíbrio das coisas. Por ter me apresentado às melhores terapias
que levo até hoje no meu dia a dia.
À Karina, por me ajudar nessa jornada de autoconhecimento tão rica e me provocar com
questionamentos que me fazem evoluir um pouquinho mais a cada dia.
À São Carlos, por ter quebrado meus paradigmas sobre cidades do interior e por ter me
abraçado durante tantos anos mostrando que está tudo bem se também nos sentirmos as quatro
estações do ano em um único dia. À Renatinha, Neyma, Simone e Guedes por terem tornado essa
cidade mais especial com terapias, amizades e amor.
À São Paulo, por ter me acolhido durante meus estudos no colégio e meu estágio e por
abrigar tantas pessoas queridas para mim.
Enfim, a todos que, de sua maneira especial contribuíram para eu ser quem sou, muito
obrigada!
EPÍGRAFE
“Quando deixaremos de ter um meio ambiente
e vamos obtê-lo por inteiro?”
Juan Souza
RESUMO
OLIVEIRA, K. B. Desafios da Implementação da Certificação ISO 14001:2015 em organizações.
Estudo de Caso: Indústria de Cosméticos. 2019. 46f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso)
– Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2019.
O presente trabalho buscou avaliar os desafios da implementação da certificação de gestão
ambiental empresarial ISO 14001:2015 em organizações, com foco no estudo de caso de uma
indústria de cosméticos. Os estudos foram conduzidos durante o período de dois anos entre 2017 e
2019 a partir de entrevistas e observação, com o objetivo de levantar insumos para que o setor
responsável pela certificação pudesse conduzir melhor as atividades de sustentação, gerando mais
engajamento dos times que atuavam nos escopos auditados. Esse estudo contou com a participação
de diversas áreas da empresa a fim de ter um espaço amostral mais diverso e confiável.
Após pesquisa concluiu-se que o objetivo de analisar os desafios da implementação de
certificações de gestão ambiental em organizações foi atendido, bem como a coleta de feedbacks
construtivos com oportunidades de melhoria para o sistema de gestão. As ações de melhoria
realizadas geraram maior engajamento dos times e a disponibilização de ferramentas mais user-
friendly tornaram os processos mais ágeis. Por fim, concluiu-se que apesar dos processos, o
elemento mais importante das organizações são as pessoas. Para isso, é essencial o envolvimento
do time de gestão de pessoas e de gestão de mudanças para potencializar resultados a partir de uma
melhor comunicação, instituição de uma liderança engajada e positiva, disponibilização de
treinamentos, criação de programas de reconhecimento e combate à resistência à mudança.
Palavras-chave: 1. Gestão Ambiental Empresarial 2. Sistemas de Gestão Ambiental 3. Certificação
ISO 14001
ABSTRACT
OLIVEIRA, K. B. Challenges of implementing ISO 14001:2015 certification in organizations.
Case Study: Cosmetic Industry. 2019. 46p. Dissertation (Final Year Project Dissertation) - Escola
de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2019.
This research aims to evaluate the challenges of implementing environmental management
certification (ISO 14001:2015) in organizations, focused on the case study of a cosmetic industry.
The studies were conducted during the two-year period between 2017 and 2019 from interviews
and observation, aiming to raise inputs so that the certification sector from the company could
conduct the support activities in a better way, generating more engajement of the teams working in
audicted areas. This research was attended by several areas from the company in order to have a
more diverse and reliable sample space.
After resarching it was concluded that the objective of analyzing the challenges of
implementing environmental management certifications in organizations was achieved, as well as
collecting constructive feedbacks with opportunities for improvement to the management system.
Improvement actions led to greater team engagement and the availability of more user-friendly
tools made the process more agile. Finally, it was concluded that despite processes, the most
important element of an organization is people. To this end, the involvement of the people
management and chance management teams is essential to maximize results through better
communication, the establishment of an engaged and positive leadership, the provision of training,
the creation of recognition programs and the fight against resistance to change.
Key-words: 1. Corporate Enviromental Management 2. Enviromental Management System 3. ISO
14001 Certification
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Dimensões da gestão ambiental e exemplos ............................................................................... 30
Figura 2: Elementos de um Sistema de Gestão Ambiental ......................................................................... 31
Figura 3: Fases da estruturação da ISO 14001 ........................................................................................... 36
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Exemplos de certificados de SGA .............................................................................................. 33
Tabela 2: Ações do time de Sistema de Gestão ao longo de 2017 ............................................................. 43
Tabela 3: Resultado compilado das impressões de stakeholders após auditoria externa de 2017 .............. 44
Tabela 4: Mudanças na atuação de Sistemas de Gestão com base nos feedbacks recebidos. .................... 47
Tabela 5: Ações do time de Sistemas de Gestão ao longo de 2018 ............................................................ 49
Tabela 6: Resultado compilado das impressões de stakeholders após auditoria externa de 2018 .............. 50
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACV: Avaliação de Ciclo de Vida
ASO: Atestado de Saúde Ocupacional
B2B: Business to Business
B2C: Business to Consumer
BSI: British Standard Institution
ISO: International Organization for Standardization
ONU: Organização das Nações Unidas
RNC: Registro de Não Conformidade
SGA: Sistema de Gestão Ambiental
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 26
2. OBJETIVOS ........................................................................................................................... 28
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................... 29
3.1 Gestão Ambiental ............................................................................................................ 29
3.2 Sistema de Gestão Ambiental Empresarial ..................................................................... 31
3.3 Certificações de Gestão Ambiental ................................................................................. 32
3.3.1. Surgimento da ISO e a família de normas ISO 14000 ............................................. 34
4. METODOLOGIA ................................................................................................................... 38
4.1 Classificação do Trabalho ............................................................................................... 38
4.1.1. Estudo de Caso: Indústria de Cosméticos ................................................................ 39
4.2 Protocolo de pesquisa ...................................................................................................... 39
4.2.1. Questão principal da pesquisa .................................................................................. 40
4.2.2. Objetivo principal .................................................................................................... 40
4.2.3. Temas da sustentação teórica ................................................................................... 40
4.2.4. Definição da unidade de análise............................................................................... 41
4.2.5. Potenciais entrevistados e múltiplas fontes de evidência......................................... 41
4.2.6. Período de realização ............................................................................................... 41
4.2.7. Local da coleta de evidências ................................................................................... 42
4.2.8. Síntese do roteiro de entrevista ................................................................................ 42
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................................... 43
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 54
APÊNDICE A - Questionário ........................................................................................................ 56
26
1. INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas a globalização permitiu que o acesso à informação de pessoas,
governos, empresas e instituições se tornasse cada vez mais fácil e integrado. Esse fenômeno,
juntamente com o atual cenário político, econômico, cultural, social e tecnológico deu insumos
para a sociedade exigir cada vez mais mudanças relacionadas ao modo de operar e gerir os negócios
das empresas. Além disso, concedeu ao público e consumidor um maior poder de compra, forçando
as empresas a cumprirem suas responsabilidades sociais e ambientais e não só focarem na questão
financeira como ocorria majoritariamente até a década de 1980. (ARAÚJO; COHEN; SILVA,
2014).
Dentre áreas de gestão das empresas, uma das questões que vem ganhando mais destaque
nos últimos tempos é a ambiental, uma vez que os consumidores estão constantemente mais
interessados na forma com as quais os produtos são feitos e descartados e com os impactos
ambientais das empresas. (OLIVEIRA; SERRA, 2010).
A norma ISO 14001 define impacto ambiental como qualquer alteração no meio ambiente,
positiva ou negativa, que resulte das atividades, produtos ou serviços de uma organização. Segundo
essa definição é possível considerar que as atividades empresariais de maneira geral geram
impactos ambientais diretos - como por exemplo na extração de matéria prima, venda de produtos
com embalagens - e indiretos, como por exemplo a emissão de gases de efeito estufa provenientes
dos transportes de seus colaboradores ao oferecer algum serviço ou se deslocar à empresa.
Independente da magnitude do impacto, a degradação ambiental é real e urgente, e vem se
materializando decorrente de atividades exploratórias por parte das empresas provocando assim
perda na qualidade do meio ambiente e na qualidade de vida dos seres vivos. (KRONBAUER et
al., 2010)
Além da questão ambiental, as empresas também são pressionadas a modernizarem seus
sistemas de gestão para que proporcionem maior qualidade aos seus produtos e serviços,
desenvolvam tecnologias inovadoras, contribuam para o desenvolvimento sustentável, sejam mais
competitivas e consequentemente sejam mais lucrativas. (OLIVEIRA; PINHEIRO, 2010)
Nesse contexto, a gestão ambiental pode ser considerada uma das ferramentas para se
contribuir para aumentar a competitividade no mercado pois é ela que cuida da identificação,
27
avaliação, controle, monitoramento e redução dos impactos ambientais bem como na melhoria dos
processos. Os processos com maior potencial poluidor são os extrativos (ex: florestal, mineração),
industriais (ex: químico, siderúrgico, alimentício) e de infraestrutura (ex: construção civil). Os
principais impactos ambientais decorrentes dessas atividades abrangem o ar, solo, água, fauna,
flora, sociedade e recursos naturais. Como exemplos de impactos ambientais podem ser citados
poluição do ar, contribuição ao efeito estufa, erosão, poluição do solo e da água, supressão da
vegetação, geração de empregos, exaustão dos recursos naturais, entre outros. (EPELBAUM;
ABRAHAM, 2004)
O sistema de gestão ambiental com base da norma ISO 14001 é um dos modelos mais
adotados e reconhecidos no mundo todo. Por ter reconhecimento internacional trata-se de uma
certificação referência, pois possui diversos requisitos que exigem procedimentos que estejam em
conformidade com as legislações vigentes. Entretanto, para que a implantação ocorra de maneira
bem-sucedida, é necessário o envolvimento de pessoas, desde a alta direção até os colaboradores
que trabalham na ponta do negócio. (OLIVEIRA; PINHEIRO, 2010)
Desse modo, o presente trabalho verificou os desafios da implantação de certificação de
gestão ambiental em organizações sob a ótica dos pontos focais de diversas áreas da empresa para
obter insumos para o Sistema de Gestão, uma vez que uma empresa é gerida por pessoas e suas
impressões são essenciais para direcionar e impulsionar as atividades de sustentação da gestão
ambiental.
28
2. OBJETIVOS
Este trabalho teve como objetivo a análise dos desafios de implementar a ISO 14001:2015
em organizações com foco no estudo de caso de uma indústria brasileira de cosméticos. A partir
da pesquisa, espera-se gerar conhecimento para entender as percepções dos colaboradores perante
o processo de certificação e quais as oportunidades de melhoria para o Sistema de Gestão.
29
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Gestão Ambiental
As primeiras manifestações de gestão ambiental surgiram na era medieval por conta da
escassez de recursos naturais que eram considerados matéria-prima básica como por exemplo a
madeira, usada para construção de moradias, mobiliários, combustíveis, entre outros. Esse fato nos
mostra que existia também um interesse individual de preservar os recursos para que pudessem ser
utilizados posteriormente. Quanto ao combate da poluição, desde a Antiguidade havia tentativas
de remover o lixo das ruas que propagavam doenças nas cidades, entretanto foi somente após a
revolução industrial que surgiram iniciativas mais incisivas perante a poluição ambiental. No pós-
guerra foi possível observar um relevante crescimento do movimento ambientalista, isto é,
movimento social que tem como principal pilar a preocupação com o meio ambiente. (BARBIERI,
2017)
O primeiro esboço sobre a discussão oficial acerca da questão ambiental foi a partir da
década de 1970 com o relatório “Os limites do crescimento” encomendado pelo Clube de Roma
que modelou as consequências do rápido crescimento da população mundial considerando a
limitação dos recursos naturais. Dois anos depois, em Estocolmo em 1972 ocorreu a Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, na qual chefes de estado se reuniram para
tratar questões relacionadas à degradação do meio ambiente. Em 1987 na Comissão Mundial sobre
o Meio Ambiente e Desenvolvimento foi apresentado o relatório de Brundtland “Nosso Futuro
Comum”, quando se apresentou a primeira definição oficial de desenvolvimento sustentável,
considerando necessidades humanas e conciliando com conservação ambiental. (BOSCHETTI;
VISTA; BACARJI, 2012)
A gestão ambiental aplica-se a iniciativas variadas relacionadas a qualquer questão
ambiental, que com o tempo foram incorporando outros agentes e alcances diferentes. A figura 1
abaixo mostra as dimensões de gestão ambiental e alguns exemplos:
30
Figura 1: Dimensões da gestão ambiental e exemplos
Fonte: Adaptado de Barbieri (2017)
A dimensão temática delimita as questões ambientais que precisam de ações de gestão.
Podem ser poluição atmosférica, contaminação hídrica, eutrofização, resíduos sólidos, precipitação
ácida, educação ambiental. A dimensão espacial está associada à área de abrangência das ações
para que as ações sejam eficazes. E a dimensão institucional se refere aos responsáveis pelas
iniciativas de gestão, podendo ser por exemplo empresas e órgãos governamentais. Para que a
natureza seja usada pelas gerações atuais e futuras, entende-se que é necessária e urgente uma
gestão ambiental. Entretanto, para que os sistemas de produção e consumo sejam sustentáveis, isto
é capaz de atender as necessidades humanas dentro dos limites do meio ambiente, é importante
usar a ciência e tecnologia a serviço da gestão ambiental. (BARBIERI, 2017)
Na década de 70, quando se falava no conceito de gestão ambiental, este era associado
majoritariamente a uma responsabilidade do estado. Com o passar do tempo, a sociedade passou a
enxergar a gestão ambiental também como diminuição da poluição, preservação da biodiversidade,
mitigação de riscos e impactos ambientais, vantagem competitiva e aumento do valor no mercado.
(ARAÚJO; COHEN; SILVA, 2014)
31
3.2 Sistema de Gestão Ambiental Empresarial
O sistema de gestão ambiental empresarial contribui com a responsabilidade social e facilita
a identificação de oportunidades de redução do uso de materiais e energia e, principalmente a
melhorar a eficiência dos processos. Para isso são formuladas políticas, definidos objetivos,
coordenadas atividades que visam melhorias de processos e avaliados os resultados. O SGA
também requer o envolvimento de diferentes áreas da empresa, começando com proprietários ou
alta direção, pois esse modelo facilita a integração das áreas e disseminação da preocupação
ambiental entre funcionários e stakeholders. (BARBIERI, 2017; OLIVEIRA; PINHEIRO, 2010)
A figura 2 abaixo apresenta os elementos básicos de um sistema de gestão ambiental.
Figura 2: Elementos de um Sistema de Gestão Ambiental
Fonte: Adaptado de Barbieri (2017).
No âmbito empresarial, a gestão ambiental é agrupada em três esferas principais: produtiva,
da inovação e estratégica. A esfera produtiva está associada ao respeito pelas regulamentações
públicas e à elaboração de ações ambientais relacionadas à manutenção, conformidade ambiental
de fornecedor, locais de produção, etc. Na esfera da inovação a gestão ambiental fornece um auxílio
técnico acompanhamento as regulamentações e as avaliações ecotoxicológicas de produtos e
emissões a serem respeitados. Finalmente, a gestão ambiental influencia na esfera estratégica
fornecendo avaliações sobre os potenciais de desenvolvimento considerando as restrições
ambientais emergentes, considerando também a concorrência e a regulamentação vigente. Para que
a última esfera seja bem-sucedida, é necessário que os responsáveis ambientais na estrutura
hierárquica se posicionem. (BOSCHETTI; VISTA; BACARJI, 2012)
32
Até a década de 1970, grande parte das empresas eram movidas a partir dos indicadores
econômicos, de modo que o âmbito social e ambiental era pouco significativo nas decisões
estratégicas. A partir da década de 1990 o mercado passou a valorizar a responsabilidade social,
enxergando esse aspecto como uma oportunidade organizacional. (BOSCHETTI; VISTA;
BACARJI, 2012)
A adoção de estratégia ambiental empresarial passou a ser um diferencial com o decorrer
do tempo, se tornando uma vantagem competitiva. Isso ocorreu, pois a gestão de riscos está
incorporada à gestão ambiental, fazendo com que os retornos fossem positivos e
consequentemente, bem avaliados pelos acionistas. (ARAÚJO; COHEN; SILVA, 2014)
Na década de 1990, o principal stakeholder que a empresa visava satisfazer era o acionista,
porém hoje essa realidade mudou. Os stakeholders atualmente englobam todos os indivíduos e
organizações cujos interesses são impactados de alguma forma pelas atividades da empresa, e esses
interesses estão cada vez mais relacionados com a questão ambiental. (ARAÚJO; COHEN;
SILVA, 2014)
3.3 Certificações de Gestão Ambiental
As certificações ambientais possibilitam a empresa evidenciar para suas partes interessadas
que suas práticas e produtos existem baseados na preocupação ambiental. (AGUIAR; MELLO;
NASCIMENTO, 2014). Por trás das certificações relacionadas à gestão ambiental também há a
adoção de políticas sociais e ambientais que contribuem para preservação do meio ambiente e
melhora a imagem da marca perante os stakeholders. (KRONBAUER et al., 2010)
A certificação ambiental implica na necessidade de atendimento legal às legislações
vigentes, prevenção de impactos ambientais, redução de riscos de multas e outras penalidades,
aumento da competitividade no mercado e melhoria da reputação da marca, além de possibilitar
uma maior aceitação em mercados internacionais e menor pressão de ONGs em relação à
degradação do ambiente realizada pela empresa. (AGUIAR; MELLO; NASCIMENTO, 2014)
O fato de a organização possuir um SGA não implica em uma certificação obrigatória. O
que vai contribuir para que a empresa seja ou não certificada será a demanda dos stakeholders e os
33
alinhamentos estratégicos. Entretanto, caso tenha uma certificação, a empresa acaba desfrutando
do incentivo à melhor compreensão do meio ambiente pelos funcionários da empresa. Uma das
vantagens das normas ISO é que por ser uma certificação genérica, pode ser aplicada em qualquer
tipo de indústria, independentemente do nível de impacto ambiental. Apesar das vantagens da ISO,
há formas alternativas de aplicar um sistema de gestão ambiental na empresa e atualmente há
certificados para tipos variados de atividades que são menos genéricos e segregados por setores.
(AGUIAR; MELLO; NASCIMENTO, 2014)
Alguns exemplos de certificações alternativas são podem ser verificados na Tabela 1:
Tabela 1: Exemplos de certificados de SGA
Fonte: Adaptado de Aguiar et. al. (2014)
AGUIAR et. al. (2014) realizaram um estudo que analisa o tema das certificações
ambientais em três categorias: empresa certificada 14001, empresa ex certificada e empresa com
certificado alternativo.
34
Estudos realizados em uma indústria química que atua em 9 países e possui mais de 9 mil
funcionários evidenciam que a não certificação da ISO 14001 não acarreta perda de receita, porém
resultaria em perda de mercado. Já em uma indústria alimentícia cujo consumidor final compra
seus produtos em supermercados, o abandono da certificação da ISO 14001 não contribuiu com
impactos negativos para a marca, uma vez que o cliente não tem informações claras do significado
das normas. Esse tipo de certificação é mais impactante em mercados B2B, nos quais as empresas
realizam pressão entre suas concorrentes para a certificação.
Para definir se o melhor sistema de gestão ambiental a ser implantado é a ISO 14001, deve-
se levar em consideração qual a exigência do principal stakeholder, que é o comprador do mercado
em potencial. O fato de a empresa ser B2B contribui para uma pressão maior por parte de empresas
concorrentes, ao passo de que as empresas B2C não possuem exigências tão altas pois o
consumidor final desconhece as certificações. Em alguns casos, ter certificações focadas no setor
de atuação mostra ter mais vantagens, podendo trazer mais agilidade e revisões constantes que se
adequam ao mercado. A ISO 14001 por sua vez é atualizada em intervalos de tempo muito longo
e, em alguns casos pode se mostrar antiquadas para a realidade do negócio. (AGUIAR; MELLO;
NASCIMENTO, 2014)
3.3.1. Surgimento da ISO e a família de normas ISO 14000
A ISO (International Organization for Standardization ou Organização Internacional para
Padronização) surge em 1947 em Genebra com o objetivo de criar normas técnicas internacionais
para garantir ao comprador que os produtos e serviços adquiridos tenham uma maior qualidade e
menor custo, mundialmente reconhecidos decorrentes da padronização. Desde então a organização
já publicou mais de 19 mil normas na área de negócios e tecnologia. (AGUIAR; MELLO;
NASCIMENTO, 2014; KRONBAUER et al., 2010)
A elaboração da norma britânica BS7750 em 1992 pelo BSI (British Standard Institution
ou Instituto Britânico de Normatização) estimulou a criação de normas de SGA posteriores,
incluindo a família ISO 14000, uma série de normas que determinam algumas diretrizes que
garantem um sistema de gestão ambiental empresarial. Seu principal objetivo é garantir equilíbrio
35
de proteção ambiental, prevenindo problemas que impactem a sociedade e a economia. Dentre as
normas da família ISO 14000 podem ser citadas:
i. ISO 14001 – Sistemas de gestão ambiental
ii. ISO 14015 – Gestão ambiental
iii. ISO 14020 – Rótulos e declarações ambientais
iv. ISO 14031 – Avaliação do desempenho ambiental
v. ISO 14040 – Avaliação do ciclo de vida
vi. ISO 1464 – Gases de efeito estufa
A norma mais consagrada para implementação de sistemas de gestão ambiental é a norma
ISO 14001. Ela foi aprovada em 1996 e passou por mais duas revisões, uma em 2004 e outra em
2015. (BARBIERI, 2017).
A Norma ISO 14001 prevê a implantação de 17 elementos para uma gestão eficaz, baseados
em uma série de boas práticas e ferramentas ambientais (ex: avaliação de impactos ambientais,
conscientização, monitoramento, preparação para emergência, auditoria), da qualidade (baseada na
Norma ISO 9001) e empresariais (ex: gerenciamento por objetivos, análise da visão das partes
interessadas). (EPELBAUM; ABRAHAM, 2004)
A norma ISO 14001 sugere um conjunto de práticas que incorporem a variável ambiental
na política, estratégia, objetivos, metas, operação e escolhas de tecnologias. Ao ser certificado por
um órgão externo após auditoria, o certificado tem validade de três anos. Apesar de não ser um
órgão certificador, a ISO publica guias, diretrizes e normas que são usadas como requisitos para o
órgão certificador. (AGUIAR; MELLO; NASCIMENTO, 2014)
Na Figura 3 estão ilustradas as 5 fases na estruturação de um SGA segundo a ISO
14001:2004
36
Figura 3: Fases da estruturação da ISO 14001
Fonte: Adaptado de Aguiar et. al. (2014)
Segundo Barbieri (2017), um requisito é uma necessidade ou expectativa declarada que
deve ser atendida obrigatoriamente para que haja certificação. Os requisitos principais da ISO
14001:2015 são:
i. Contexto da organização: atribuição da alta direção, entende as necessidades e
expectativas das partes interessadas (clientes, funcionários, fornecedores, imprensa
moradores da vizinhança das atividades da organização, etc), que são afetadas ou
podem ser afetadas por decisões e atividades da organização.
ii. Liderança: criação e implementação do SGA devem estar inseridas nas decisões
estratégicas da organização
iii. Planejamento: aborda riscos e oportunidades, aspectos ambientais, requisitos
legais e outros requisitos, objetivos ambientais e suas metas.
iv. Apoio: a organização deve fornecer os recursos necessários para que que o SGA
aconteça, bem como dispor de pessoas competentes para realizar as respectivas
atividades. É importante também que a organização assegure que os funcionários
estejam conscientes da política ambiental, dos aspectos e impactos significativos e
37
seus respectivos controles. Nesse tópico também é abordada a importância da
comunicação interna e externa e da informação documentada para gestão do
conhecimento.
v. Operação: deve estar evidenciado nas organizações quais os riscos e oportunidades
e as ações planejadas para controlá-los e combater às emergências.
vi. Avaliação de desempenho: a organização deve monitorar, medir, analisar e avaliar
o desempenho ambiental, por meio de, por exemplo, indicadores ambientais. Além
disso, deve ser realizada auditoria interna independente como parte do processo de
controle e a análise crítica pela alta direção.
vii. Melhoria: a organização deve estar ciente das suas não conformidades e adotar
ações corretivas para cessar o problema.
Além do SGA as organizações podem ter ou vir a ter outros sistemas de gestão. Dessa
forma, a integração entre dois ou mais sistemas se mostra desafiadora, porém traz redução
de trabalho, uma vez que algumas atividades são comuns. É frequente a integração do
sistema de gestão de qualidade e de gestão ambiental. Outros exemplos de sistemas de
gestão que podem ser encontrados nas organizações são sistema de gestão da saúde e
segurança do trabalho; sistema de gestão de eventos sustentáveis, sistemas de gestão de
segurança alimentar; sistemas de gestão da segurança da informação; e sistema de gestão
de responsabilidade social.
38
4. METODOLOGIA
4.1 Classificação do Trabalho
A metodologia do estudo de caso é a mais adequada para entender mais profundamente
fenômenos organizacionais, pois permite chegar a conclusões mesmo que seja realizado a partir de
um caso único. (YIN, 2005). Dessa forma, adotou-se essa metodologia para o presente trabalho,
que também é classificado como de natureza descritiva e exploratória, isto é, busca entender o
fenômeno como um todo, expressando características de um determinado grupo de pessoas e
estabelecendo correlações entre as variáveis (FREITAS; JABBOUR, 2011). Para adotar o enfoque
exploratório, o pesquisador deve estar aberto às descobertas, ainda que tenha iniciado a pesquisa a
partir de alguma estruturação teórica, é possível que apareçam novas dimensões ao longo do
trabalho. (GIL, 1995).
Determinou-se a abordagem qualitativa, contendo o pesquisador como instrumento chave
e o ambiente como fonte de dados, sem necessidade de métodos estatísticos. (FREITAS;
JABBOUR, 2011). A principal vantagem do enfoque qualitativo está na profundidade e na
abrangência das evidências, que podem ser obtidas por entrevistas, análises, observação direta,
entre outras fontes (NEVES, 1996). A abordagem qualitativa também tem como vantagem o fato
de não ser uma proposta rigidamente estruturada, permitindo ao pesquisador maior imaginação e
criatividade e consequentemente exploração de novos enfoques (GIL, 1995)
As evidências do estudo foram obtidas principalmente a partir de entrevistas, observação
direta e análise de documentos. A técnica da observação requer que o pesquisador esteja inserido
dentro da unidade de estudo para entender a complexidade, gerar insights e observar objetos,
comportamentos e fatos de interesse do problema a ser estudado. Já na técnica da entrevista é
importante que o pesquisador transcreva a conversa logo após seu término, garantindo que as
informações sejam fiéis e completas. (ZANELLI, 2002). A pesquisa documental é realizada
analisando materiais que não foram analisados ou que podem ser reanalisados visando uma
interpretação nova ou complementar. (NEVES, 1996). Além disso, a análise de documentos é
aconselhada para corroborar e valorizar as evidências das demais fontes utilizadas (YIN, 2005).
39
4.1.1. Estudo de Caso: Indústria de Cosméticos
O objeto de estudo desse trabalho é uma indústria brasileira multinacional de higiene e
cosmética que atua no setor de produtos principalmente para rosto, corpo e cabelos. Foi a primeira
companhia de capital aberto a receber a “Certificação BCorp” - que garante que a empresa visa o
desenvolvimento social e ambiental como modelo de negócios - e a primeira empresa brasileira a
conquistar o selo “The Leaping Bunny”, que atesta o compromisso da emrpesa com a não
realização de testes em animais de seus produtos e ingredientes. A sede de suas operações fica
localizada no Brasil e é a maior da companhia no mundo inteiro, tendo um papel essencial para ser
referência aos demais países no âmbito de gestão ambiental e de qualidade
Em seu relatório anual de sustentabilidade, a empresa afirma buscar a geração de impacto
positivo reduzindo e mitigando efeitos de suas atividades, além de promover o bem social,
ambiental, econômico e cultural. Para isso, foram estruturados três principais pilares de atuação,
sendo eles (a) Marcas e Produtos; (b) Rede; (c) Gestão e Organização. O último aspecto está
relacionado com a maneira de fazer a gestão da organização incluindo o pilar ambiental, tema
principal desse estudo de caso.
A análise mais aprofundada foi realizada do ponto de vista da área de Sistemas de Gestão
que conduz o processo de certificação de gestão ambiental e atua como suporte e consultoria para
que as demais áreas façam a gestão de seus processos de maneira otimizada, com qualidade e
alinhada tanto com a estratégia da empresa quanto com os requisitos da Norma ISO 14001:2015.
4.2 Protocolo de pesquisa
Freitas e Jabbour (2011) definem o protocolo de pesquisa como um conjunto de
procedimentos que permite replicar o estudo ou reaplicá-lo em outro caso que possua
características semelhantes. Promove um aumento na confiabilidade do estudo, uma vez que
permite a obtenção de resultados semelhantes em aplicações sucessivas. Nele deve conter:
i. Questão principal da pesquisa;
40
ii. Objetivo principal;
iii. Temas da sustentação teórica;
iv. Definição da unidade de análise;
v. Potenciais entrevistados e múltiplas fontes de evidência;
vi. Período de realização;
vii. Local da coleta de evidências;
viii. Síntese do roteiro de entrevista;
4.2.1. Questão principal da pesquisa
A questão principal da pesquisa é avaliar os desafios da implementação de certificações de
gestão ambiental nas organizações.
4.2.2. Objetivo principal
O presente trabalho tem como objetivo pesquisar as percepções dos colaboradores de uma
empresa em relação ao processo de certificação da ISO 14001 e evidenciar quais oportunidades de
melhoria existem para o Sistema de Gestão.
4.2.3. Temas da sustentação teórica
Esse tópico do protocolo pode ser acessado no item 3 desse trabalho, no qual a autora
realizou um levantamento bibliográfico acerca das questões relacionadas ao estudo de caso.
41
4.2.4. Definição da unidade de análise
Este trabalho apresenta uma análise de um único estudo de caso. A unidade de análise
escolhida foi uma indústria brasileira de cosméticos na qual a autora estagiou e sobre a qual é
possível adquirir mais informações no item 4.1.1 desse trabalho.
4.2.5. Potenciais entrevistados e múltiplas fontes de evidência
As fontes de evidência foram entrevistas, conversas informais e observação. Para conduzir
a pesquisa, os envolvidos foram:
Aluna: Kimberly Bernardo de Oliveira
Professor Orientador: Prof. Dr. Aldo Roberto Ometto
Quanto aos envolvidos da organização, e consequentes objetos de estudo, participaram
cerca de 50 colaboradores de diversas áreas que atuaram como pontos focais para a certificação,
dentre elas Auditoria Interna, Gestão Patrimonial, Industrial, Logística, Manutenção, Meio
Ambiente, Qualidade, RH, Sistemas de Gestão, Sustentabilidade, Inovação, Comercialização e
Suprimentos. Os cargos desses colaboradores variaram entre analistas, coordenadores e gerentes.
4.2.6. Período de realização
Para a coleta dos dados foram utilizados métodos de observação durante um período de 22
meses (de setembro e 2017 a julho de 2019) e entrevistas presenciais e via questionário em três
situações:
i. Em dezembro de 2017 após a primeira re-certificação da ISO 14001:2015
(entrevistas em grupo)
ii. Em março de 2018 (entrevistas individuais)
iii. Em dezembro de 2018 após a manutenção da certificação ISO 14001:15 (entrevistas
em grupo)
42
4.2.7. Local da coleta de evidências
A pesquisa contou com fontes de dados primárias e secundárias:
i. Primárias: entrevistas com colaboradores da empresa e observação da unidade de
estudo;
ii. Secundárias: documentos publicados em mídias impressas e digitais.
Os dados primários foram coletados por meio de três entrevistas com colaboradores de
diversas áreas envolvidas na certificação ISO 14001:2015 e durante o período citado no item 4.3.7
na própria sede da empresa. Já os secundários foram obtidos nos documentos referenciados no item
7 desse trabalho.
4.2.8. Síntese do roteiro de entrevista
Considerando a maneira que é conduzido o processo de certificação de gestão ambiental na
empresa estudada, o roteiro de entrevista visou buscar insumos para melhorar a atuação do time de
Sistemas de Gestão, para que as atividades relacionadas à sustentação da certificação se tornassem
cada vez mais fluidas e parte da rotina dos times envolvidos.
De forma sucinta, o roteiro das entrevistas envolveu os seguintes tópicos:
i. Contextualização de todas as atividades realizadas ao longo dos 11 meses pré
auditoria de certificação/manutenção
ii. Levantamento de feedback dos envolvidos visando melhoria contínua tanto da parte
do Sistema de Gestão quanto da parte dos pontos focais das áreas.
iii. Definição dos papeis e responsabilidades dos pontos focais
Escolheu-se realizar perguntas de caráter amplo para não induzir os entrevistados a uma
resposta enviesada e para obter informações relacionadas à diversos requisitos da norma. As
perguntas podem ser encontradas no Apêndice A.
43
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para avaliar os principais outputs das entrevistas e observações, é importante inicialmente
elencar quais atividades foram realizadas ao longo de 2017 e de 2018 pelo time de Sistemas de
Gestão, em 4 principais pilares: Planejamento; Ações de Sustentação; Auditoria e; Celebração e
Comunicação. A tabela 2 abaixo ilustra as atividades referentes a 2017.
Tabela 2: Ações do time de Sistema de Gestão ao longo de 2017
2017
Planejamento Ações de Sustentação Auditoria Celebração e
Comunicação
Revisão do escopo
(alteração da norma) Boletim de Gestão
Reunião de
Abertura
Reunião de
encerramento
Estruturação do plano
de gestão da mudança
(propósito, mapa de
stakeholders, mapa de
impactos e ações de
sustentação)
Divulgação FAQ ISO
Acompanhamento
e participação
ativa na auditoria
Comunicação
Interna
Elaboração do
cronograma
Reuniões em encontros de
time em diversas áreas para
falar sobre a nova ISO
Entrega das
solicitações extras
feitas pelos
auditores
Vídeos de
stakeholders
envolvidos
contando da
experiencia da
auditoria
Elaboração e realização
de treinamentos sobre
ISO 14001 para os
pontos focais
Realização de treinamentos
envolvendo RNC, base de
legislação, aspectos e
impactos, gestão de
mudanças, riscos, e pocket
ISO sobre as principais
mudanças
Revisão de
documentos/materiais
de treinamento
Aplicação de assessment
para ver impressões dos
pontos focais
Levantamento de riscos
de Meio Ambiente e
Qualidade
Realização de Plantão de
Dúvidas pré auditoria
Revisão da Planilha de
Aspectos e Impactos e
ACV
Criação de página na
internet com explicativos
sobre certificações
Apoio na revisão e
publicação de documentos
Fonte: Elaborado pela autora
44
A primeira entrevista foi realizada logo após o encerramento da auditoria de 2017, primeira
certificação da organização no novo modelo da ISO 14001:2015. Nesse ano foi necessário
disseminar para toda a organização as novas disciplinas da certificação e todo o escopo foi
auditado. Após 10 dias de auditoria, foram coletados os sentimentos das partes interessadas e
elencados na tabela 3 abaixo.
Tabela 3: Resultado compilado das impressões de stakeholders após auditoria externa de 2017
Ações de 2017 que deveriam ser
mantidas Oportunidades de melhoria para 2018
Preparação da empresa para a auditoria
Ações de sustentação devem ser realizadas
durante o ano todo
Plano de comunicação com as interfaces
Imersões nos conceitos de gestão (Mais
treinamentos, e-learnings, pílulas do
conhecimento, informações de certificações
de maneira mais simples e de fácil
entendimento)
Manter disseminação de gestão de
mudanças, gestão de riscos e análise de
ciclo de vida (temas novos)
Repensar estratégia de comunicação - nem
todos os gestores desceram informações
Manter treinamentos Pocket ISO separados
por diretoria/áreas
Definir papeis e responsabilidades do ponto
focal
Plantão de dúvidas
Revisar listagem de stakeholders e manter
rotina de atualização junto aos envolvidos
Apoio ano inteiro da base de requisitos
legais
Compartilhar o relatório da auditoria com
as áreas de maneira personalizada para não
gerar exposição
Boletim (comunicação mensal com status
de indicadores e pílulas de conhecimento
sobre gestão)
Conectar ISO e propósito para gerar
engajamento (Ações de engajamento para
todos)
Guia para orientação no dia da auditoria
Planejamento das agendas com
antecedência (Ex: Atestado de saúde
ocupacional -ASO, treinamentos
obrigatórios de segurança).
Fazer uma celebração maior após a
auditoria externa Fonte: Elaborado pela autora
No primeiro trimestre de 2018 foram realizadas conversas individuais com 19 pontos focais
de áreas distintas para definição do papel e responsabilidade do ponto focal. Nesses encontros
45
foram abordadas algumas questões que foram usadas como insumos para definição de papeis e
responsabilidades dos pontos focais e para as ações de sustentação no ano de 2018:
i. Papel atual do ponto focal e oportunidades de melhoria: Observou-se que o ponto focal
se sentia como um guardião dos temas envolvendo certificações e responsável pela
evolução dos processos na área, pela disseminação dos conceitos de gestão e engajamento
dos times para comparecerem aos treinamentos. Alguns tinham essas atividades já inclusas
em suas rotinas, porém se sentiam sobrecarregados e com pouco apoio da liderança e dos
gestores. Funcionava melhor em áreas mais operacionais, entretanto ainda era um desafio
para as áreas administrativas. Sentiam que havia necessidade de desmistificar a abertura de
não conformidades e passar a ver como uma oportunidade de melhoria contínua de
processos e não como algo negativo e que as atividades relacionadas à certificação (ex:
atualização de documentos e RNCs e verificação ao atendimento legal) eram cobradas em
um período muito próximo de auditoria. Por fim, sentiam que a auditoria interna deveria
ser um direcionador para as atividades preparatórias para a auditoria externa, entretanto o
follow-up era feito via Excel e dificultava a organização.
ii. Motivações para contribuir com as ações de certificação e gestão como um ponto focal:
Os pontos focais se sentem motivados para contribuir com as ações de sustentação, pois
veem que uma boa gestão contribui para facilitar os trabalhos do dia a dia de forma
padronizada e para evidenciar para os órgãos externos e para a organização tudo o que é
feito no dia a dia. Também auxilia a ter um olhar crítico para os indicadores, facilitando
ações de melhorias contínuas dos processos. Por outro lado, como o restante do time e os
gestores muitas vezes não veem valor nas atividades, é fácil despriorizar, portanto requer
um acompanhamento mais próximo do time de sistemas de gestão para manter a motivação.
Outro desafio encontrado é na gestão do conhecimento, pois muitas vezes a pessoa que
elaborou o plano de ação perante uma não conformidade não é a mesma que executa e esse
histórico muitas vezes se perde, dificultando o entendimento e a solução do problema. Por
fim, sentem que não são reconhecidos pelas pessoas pares e hierarquicamente superiores.
iii. Sugestão de melhorias na comunicação: Foi sugerido que existissem reuniões periódicas
para discussão de temas como não conformidade e melhoria contínua, treinamentos sobre
metodologias de identificação de causa raíz e pílulas de conhecimento sobre conceitos de
gestão. Comunicação interna acontece, porém as pessoas não checam a intranet com
46
frequência no dia a dia, principalmente o público operacional que muitas vezes nem tem
aceso fácil ao computador por estarem dentro das fábricas. Desse modo, seria interessante
ter formas de comunicação que atingissem todos esses públicos com a ajuda dos RHs de
área. Outra forma de comunicação mais eficaz seria separar as comunicações para
responsáveis pelo processo e para respondentes da auditoria, para diminuir o número de
informações que chegam para todos, com uma linguagem com mais exemplos práticos (ex:
como separar os resíduos corretamente). A fim de desatrelar a ISO a atividades
burocráticas, poderia ter também alguma comunicação enfatizando que a certificação é
apenas uma formalização de parte da maturidade e capacidade de melhoria dos processos.
Dessa forma, a comunicação poderia trazer dados e números evidenciando os impactos
negativos que a perda da certificação ISO traria para a empresa. Muitos afirmaram não ser
claro se e quando ocorrem as auditorias, tanto interna quanto externa. Com o baixo
envolvimento dos gestores e alta liderança, muitas comunicações enviadas a eles não são
propagadas para o restante do time. Por fim, foi identificada também uma oportunidade de
melhoria na comunicação dos donos dos documentos, pois nem sempre quando algum
colaborador é desligado da empresa outro assume a gestão dos documentos imediatamente,
resultando em alguns documentos desatualizados e sem donos.
Com base nas informações coletadas e nas observações realizadas do segundo semestre de 2017
até primeiro trimestre de 2018, foram definidas algumas mudanças nas atividades envolvendo
atuação dos pontos focais, comunicações e melhorias de ferramentas, conforme Tabela 4:
47
Tabela 4: Mudanças na atuação de Sistemas de Gestão com base nos feedbacks recebidos.
Tema Mudanças
Pontos focais
Verificou-se que antes o papel do ponto focal era executar todas as
atividades envolvendo a certificação, sem envolvimento do restante do time,
sem apoio da gestão e gerando sobrecarga. Para isso, houve conversas com
gestores para gerar engajamento no tema e desmistificação da crença de que
ISO 14001 é burocracia. Foram evidenciadas as vantagens de uma boa
gestão como parte da rotina e importância delas para a imagem da empresa
perante aos stakeholders externos. Com isso, definiu-se que o ponto focal
deveria ser um agente disseminante de conceitos e comunicações para o
restante do time, porém não um executor integral. Contaria com a ajuda do
restante do time para atividades que demandassem mais tempo, como por
exemplo gestão e atualização de documentos, RNCs e legislações vencidas.
Por fim, com relação ao reconhecimento, foram divulgados dois tipos de
vídeos no whatsapp e intranet: um de Vice Presidentes falando da
importância das certificações ISO para a empresa e da importância da
contribuição de todos antes da auditoria e outro após a auditoria com os
gestores elogiando seus times na conquista da certificação de manutenção
sem nenhuma não conformidade grave.
Comunicações
O time de Sistemas de Gestão criou uma agenda mais próxima perante as
áreas ao longo do ano para que pendências pudessem ser solucionadas com
antecedência, sem ser na véspera da auditoria como costumava acontecer
anteriormente. Essa ação facilitou também a identificação de dores dos
pontos focais quanto aos seus papeis e responsabilidades, permitindo que os
gestores fossem acionados mais rapidamente. Isso gerou um maior
engajamento dos gestores e maior valorização das atividades desenvolvidas
pelo ponto focal. As comunicações foram separadas por público (donos de
processos, gestores, respondentes da auditoria, público que não se envolve
diretamente na auditoria mas que faz parte da organização) para que as
linguagens fossem adequadas e, portanto, mais eficazes.
Melhorias de
ferramentas
Uma das maiores dores dos envolvidos nas ações de sustentação eram a
dificuldade que algumas ferramentas apresentavam para os usuários. Para
isso, o time de Sistemas de Gestão prospectou fornecedores para encontrar
sistemas mais user-friendly para gestão de documentos, RNCs, base de
legislação e e-learnings.
Fonte: Elaborado pela autora
48
O time de sistema de gestão propôs, com base nas informações coletadas, um novo modelo
de ações de sustentação para 2018, cujos detalhes estão elencados na tabela 4 acima. As
certificações ISO têm duração de três anos, sendo o primeiro ano uma auditoria de recertificação e
as duas subsequentes de manutenção. Em 2018, por ser auditoria para manutenção da certificação
somente metade do escopo da empresa foi auditado. A nova proposta está resumida na tabela
abaixo:
49
Tabela 5: Ações do time de Sistemas de Gestão ao longo de 2018
2018
Planejamento Ações de Sustentação Auditoria Celebração e
Comunicação
Estruturação do plano de
gestão da mudança
(propósito, mapa de
stakeholder, mapa de
impactos e ações de
sustentação)
Comunicações
diversificadas não só para
gestores
Reunião de
Abertura
Reunião de
encerramento
Elaboração do cronograma Revisão e divulgação da
FAQ
Acompanhamento
e participação
ativa na auditoria
Comunicação
Interna
Elaboração e realização de
treinamentos sobre ISO
para os pontos focais
Reuniões com áreas e
principais stakeholders
impactados para definição
do papel do ponto focal
Entrega das
solicitações extras
feitas pelos
auditores
Devolutiva via
whatsapp para as
áreas comunicando o
sucesso na
certificação e
reconhecendo os
envolvidos
Revisão de
documentos/materiais de
treinamento
Realização de treinamentos
envolvendo RNC, base de
legislação, aspectos e
impactos, gestão de
mudanças, riscos, e pocket
ISO reforçando as
mudanças do ano anterior
Compartilhamento
de relatório da
auditoria
personalizado por
área
Continuação do
levantamento de riscos de
Meio Ambiente e
Qualidade
Realização de Plantão de
Dúvidas físico e guia digital
para disseminar
Revisão da Planilha de
Aspectos e Impactos e
ACV
Revisão do conteúdo da
página na internet para
explicar sobre certificações
Definir agenda com RH
para estruturar gestão de
ASO e treinamentos
obrigatórios
Revisão do fluxo de gestão
de documentos e apoio na
revisão e publicação de
documentos
Fonte: Elaborado pela autora
50
A segunda entrevista foi realizada logo após o encerramento da auditoria de 2018 de
manutenção, na qual foi auditado somente metade do escopo. Após coletas dos sentimentos das
partes interessadas, elaborou-se a tabela abaixo
Tabela 6: Resultado compilado das impressões de stakeholders após auditoria externa de 2018
Ações de 2018 que deveriam ser
mantidas Oportunidades de melhoria para 2019
Comunicação segmentada (inclusive via
whatsapp)
Período da auditoria muito próximo do fim
do ano (fechamento, férias)
Reforço dos comunicados pelo time de
Sistemas de Gestão
Reunião de abertura e encerramento da
auditoria externa com baixa adesão -
verificar quem de fato deveria estar
participando e pensar em sala menor
Reforço de boas práticas pré-auditoria +
plantão de dúvidas + treinamentos
Apresentação inicial dos processos para os
auditores entenderem o todo antes de
auditarem os processos separados
Alinhamento com pontos focais no início
do ano
Ferramenta de gestão de documentos, RNC
e base de legislações pouco user-friendly
Pro atividade de pontos focais engajando e
mobilizando as áreas
Auditoria Interna - não foi comunicada com
tanta antecedência e deveria ser
preparatória para as áreas se sentirem
prontas para a auditoria externa
Alinhamento das agendas com antecedencia
e com folga no caso de imprevistos
Compartilhar status de indicadores de
certificação com os envolvidos
Agilidade na resolução do atendimento dos
pontos apontados durante a auditoria Fonte: Elaborado pela autora
Até julho de 2019, foram implementadas novas ferramentas de RNC e Base de legislação,
mais intuitivas e menos burocráticas. A nova ferramenta de e-learning estava em fase final de
desenvolvimento e a ferramenta de gestão de documentos ainda estava em fase de prospecção.
Quanto à data da auditoria externa ser muito próxima ao fim do ano, não foi possível alterar devido
à falta de agenda dos autores contratados. Para reunião de abertura e encerramento da auditoria
externa foi reservada uma sala menor, com possibilidade de transmissão online para os
colaboradores que não estivessem na mesma planta da empresa que o auditor, a fim de gerar maior
participação. Também foi realizado um alinhamento com o time de auditoria interna para que a
51
comunicação fosse mais antecedente e desenvolvida uma macro no Excel para gerar e compartilhar
status de indicadores de certificação de maneira mais otimizada.
Ao longo do período de estudo verificou-se que muitas dores do processo estavam
associadas à gestão de pessoas, uma vez que as organizações são formadas de gente que executam
os processos. Com isso, as ações de sustentação para certificações de gestão ambiental passaram a
ter um olhar muito mais direcionado à pessoas, diferentemente do passado que eram voltadas à
ferramentas e processos. Essa nova atuação trouxe grandes benefícios para a organização como um
todo e para o time de Sistemas de Gestão, que pouco a pouco está caminhando para uma abordagem
mais de gestão e menos de execução. Isso só é possível por conta do engajamento das áreas e
reconhecimento da importância de uma boa gestão o ano todo.
52
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo alcançou o objetivo de analisar os desafios da implementação da ISO
14001:2015 em uma indústria de cosméticos e de evidenciar oportunidades de melhoria para o
Sistema de Gestão. Após coleta de percepções dos stakeholders internos foi possível adotar
medidas inovadoras e coletar feedbacks constantes visando a melhoria contínua do processo de
certificações.
A receptividade e engajamento dos envolvidos no processo de certificação da auditoria foi
em grande parte positivo e houve uma significativa contribuição com oportunidades de melhorias.
Entendeu-se o quão importante é envolver todas as partes interessadas no processo de certificação,
uma vez que toda a empresa contribui para o resultado positivo. Verificou-se também que grande
parte dos pontos de dores das partes interessadas foram sanados, entretanto as oportunidades de
melhorias são constantes e sempre vão existir.
A disponibilização de ferramentas pouco user-friendly e a falta de valorização dos gestores
foram os pontos de dores mais recorrentes e os maiores contribuintes para desengajamento das
pessoas. Com a participação de vice-presidentes nas campanhas de comunicação e com a troca de
ferramentas mais adaptáveis aos novos modelos organizacionais, isto é, mais descomplicadas e
ágeis, houve uma menor resistência dos usuários às atividades.
Por fim, verificou-se a importância do envolvimento dos times de gestão de pessoas e de
gestão de mudanças para potencialização dos resultados a partir de uma melhor comunicação,
instituição de liderança engajada e positiva, disponibilização de treinamentos, criação de
programas de reconhecimento e combate à resistência à mudança.
53
54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 14001: Sistemas da Gestão
Ambiental - Requisitos com Orientações para Uso. Rio de Janeiro. ABNT, 2015.
AGUIAR, H. DE S.; MELLO, A. M. DE; NASCIMENTO, P. T. DE S. É necessário nas
organizações? um estudo sobre os certificados de gestão ambiental. Inovação e sustentabilidade:
um desafio para enfrentar as mudanças climáticas e seus impactos planetários, 2014.
ARAÚJO, G. A. D.; COHEN, M.; SILVA, J. F. DA. Avaliação do Efeito das Estratégias de Gestão
Ambiental Sobre o Desempenho Financeiro de Empresas Brasileiras. Revista de Gestão
Ambiental e Sustentabilidade, v. 3, n. 2, p. 16-38–38, 1 ago. 2014.
BARBIERI, J. C. GESTÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL. [s.l.] Editora Saraiva, 2017.
BOSCHETTI, F. A.; VISTA, C. C.-B.; BACARJI, A. G. Instrumentos de gestão ambiental: uma
ferramenta para competitividade. [s.l: s.n.].
EPELBAUM, M.; ABRAHAM, M. A influência da gestão ambiental na competitividade e
sucesso empresarial. São Paulo: [s.n.].
FREITAS, W. R. S.; JABBOUR, C. J. C. UTILIZANDO ESTUDO DE CASO(S) COMO
ESTRATÉGIA DE PESQUISA QUALITATIVA: BOAS PRÁTICAS E SUGESTÕES. Revista
Estudo & Debate, v. 18, n. 2, 29 dez. 2011.
KRONBAUER, C. A. et al. AUDITORIA E EVIDENCIAÇÃO AMBIENTAL; UM HISTÓRICO
DA LEGISLAÇÃO DAS NORMAS BRASILEIRAS, AMERICANAS E EUROPÉIAS. Revista
Contabilidade e Controladoria, v. 2, n. 2, 1 dez. 2010.
NEVES, J. L. PESQUISA QUALITATIVA – CARACTERÍSTICAS, USOS E
POSSIBILIDADES. Caderno de Pesquisas em Administração, v. V1, n3, p. 5, 1996.
OLIVEIRA, O. J. DE; PINHEIRO, C. R. M. S. Implantação de sistemas de gestão ambiental ISO
14001: uma contribuição da área de gestão de pessoas. Gestão & Produção, p. 51–61, 2010.
55
OLIVEIRA, O. J. DE; SERRA, J. R. Benefícios e dificuldades da gestão ambiental com base na
ISO 14001 em empresas industriais de São Paulo. Produção, v. 20, p. 429– citation_lastpage,
2010.
YIN. R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3 ed. Porto Alegre: Bookman, 2005
ZANELLI, J. C. Pesquisa qualitativa em estudos da gestão de pessoas. Estudos da Psicologia,
n. 7, p. 79-88, 2002.
56
APÊNDICE A - Questionário
1. Entrevistas com pontos focais após as auditorias:
a. Quais das ações provenientes do time de Sistemas de Gestão e relacionadas à gestão
ambiental você mais gostou?
b. O que você enxerga como oportunidade para melhorar para o ano seguinte?
c. Se você fosse a pessoa responsável por fazer a sustentação e evolução do sistema
de gestão ambiental, quais ações você proporia?
2. Entrevistas com pontos focais ao longo do ano:
a. Qual o papel que você tem hoje como ponto focal nas certificações e o que você
gostaria de mudar?
b. O que te motiva a contribuir com as ações de certificação e gestão?
c. Como poderíamos melhorar as comunicações?
d. As ações de gestão envolvendo a certificação contribui para que as pessoas
enxerguem o resultado do todo?