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IV Colquio da Lusofonia
3-4 outubro 2005
DOS CONTADORES DE HISTRIAS LITERATURA CONTEMPORNEA:
A lngua portuguesa em TIMOR-LESTE
Com o apoio da Cmara Municipal de Bragana Portugal
Angola
Brasil
Cabo Verde
Galiza
Guin-Bissau
Macau
Moambique
Portugal
S. Tom
Timor Leste
4 Colquio Anual da Lusofonia 3-5 outubro 2005 Bragana, Portugal Correio eletrnico: [email protected]
Pgina: http:www.lusofonias.net
mailto:[email protected]
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Comunicado Imprensa
A CMARA MUNICIPAL DE BRAGANA APOIA O 4 COLQUIO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA 3-5 OUTUBRO
2005 (4 CIRCULAR)
Aps o sucesso das anteriores edies, a Cmara Municipal de Bragana, decidiu manter a sua aposta cultural no apoio
realizao deste importante evento anual. Uma das razes preponderantes para organizarmos aqui - em pleno corao
do Nordeste e da Terra Fria - um Colquio Anual Internacional da Lusofonia assenta no facto de a maior parte destes
acontecimentos estar centralizada nas grandes urbes sem permitir que as regies mais desertificadas e afastadas dos
centros de poder, tenham ao seu alcance debates sobre a Lngua e Cultura Portuguesas, suas diversidades, e de
propostas inovadoras de ensino.
Para este ano, o 4 Colquio (e o 3 a ser apoiado pela CMB) subordinado ao ttulo DOS CONTADORES DE HISTRIA
LITERATURA CONTEMPORNEA, ir ter como tema central o problema da Lngua Portuguesa em Timor-Leste:
como se impe uma lngua oficial que no falada pela maior parte dos habitantes, anlise da situao, desenvolvimentos
nos ltimos cinco anos, projetos e perspetivas presentes e futuras. Ainda em debate estaro os problemas da Traduo
como forma de perpetuar e manter a criatividade da Lngua Portuguesa nos quatro cantos do mundo.
Igualmente se iro manter as atividades paralelas como a Mostra de Artesanato e de Livros, a que se acrescentaro uma
Exposio de Fotografia sobre ROSTOS DA LUSOFONIA, o que s vem demonstrar a vitalidade e a cada vez mais lata
abrangncia destes Colquios.
O portugus faz parte da histria timorense. No a considerar uma lngua oficial colocaria em risco a sua identidade,
defende o linguista australiano Geoffrey Hull no seu recente livro Timor-Leste. Identidade, lngua e poltica
educacional. A lngua portuguesa "tem-se mostrado capaz de se harmonizar com as lnguas indgenas" e tanto mais
plausvel porque "o contacto com Portugal renovou e consolidou a cultura timorense e quando Timor-Leste emergiu da
fase colonial "no foi necessrio procurar uma identidade nacional, o pas era nico do ponto de vista lingustico. O
portugus no um idioma demasiado difcil para os timorenses pois estes j possuem um relativo conhecimento passivo
do portugus, devido ao facto de que j falam o Ttum-Dli", afirma Hull. "A juventude deve fazer um esforo coletivo para
aprender ou reaprender" a lngua portuguesa.
Um vasto painel de peritos nesta rea debater este tema, pois so as comunidades culturais, histricas e lingusticas
lusfonas os agentes fundamentais de mudana. Este evento vem decerto colocar Bragana na cimeira das cidades
dedicadas preservao e discusso da lngua que falada em todos os continentes por cerca de 200 milhes de
pessoas.
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COMISSO CIENTFICA
Professor Dr. LUS CANOTILHO, IPB (Instituto Politcnico de Bragana) Dra. HELENA CHRYSTELLO, Universidade Aberta (Porto) EBI Maia (S. Miguel, Aores), Dr. CHRYS CHRYSTELLO, UTS (Australia Council, University of Technology Sydney), Austrlia Dr. JOO CARAVACA, Universidade Catlica (Porto)
COMISSO EXECUTIVA
Dr. CHRYS CHRYSTELLO, Australia Council, UTS Sydney Dra. ISABEL LOPES, Vereadora da Cultura, Ensino, Turismo, Desporto e Ao Social da CMB Dr. ELEUTRIO ALVES, Diretor do Departamento Sociocultural da CMB
SECRETARIADO E APOIO LOGSTICO
DIVISO DE CULTURA DA CMB VOLUNTRIOS Alunos do IPB
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I. A. - Temas do 4 Colquio Anual da LUSOFONIA:
1. Literatura oral Lnguas e sentidos
2. Lngua Portuguesa em Timor-Leste
2.1 Como se impe uma lngua oficial que no falada pela maior parte dos habitantes Anlise da situao,
2.2 Desenvolvimento nos ltimos cinco anos,
2.3 Projetos e perspetivas presentes e futuros
3. Estudos de Traduo:
3.1. A busca de ferramentas para Tradutores
3.2. Traduo e Interpretao em Lngua Gestual Portuguesa
3.3. O Ensino da Traduo e a Traduo no Ensino
Objetivos:
As lnguas no mudam em bloco como a sociolingustica tem mostrado nas ltimas dcadas, uma lngua, um dialeto,
mesmo um idioleto no so homogneos, mas comportam variedades internas que so parte integrante do sistema. Se
o objeto da lingustica histrica a mudana lingustica, o objeto da histria da lngua uma lngua em particular, na sua
existncia definida temporal e espacialmente.
Conhecer a Literatura Timorense, incluindo o problema das origens, para perceber globalmente a sua evoluo e
principais momentos de inovao. Compreender o papel histrico desempenhado pelos intelectuais e polticos timorenses.
Extrair concluses sobre os conflitos e respetivos desenlaces da Histria. Conhecer as principais linhas de rumo da
literatura timorense no perodo ps-independncia.
A exploso das novas tecnologias permitiu criar preciosos instrumentos de apoio traduo. Graas a eles, o tradutor
torna-se cada vez mais eficaz, melhorando o seu trabalho simultaneamente em qualidade e rapidez. As tarefas de
coordenao ou o trabalho em equipa que caracterizam a profisso de tradutor so igualmente simplificados mediante a
colocao em rede de competncias.
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I. B. - INSCRIES E DATAS
1. Inscries e datas:
1.1. Oradores com comunicao, dentro do prazo 30.00
1.2. Oradores com comunicao, fora do prazo 40.00
1.3. Presenciais (participantes sem comunicao) pagamentos at 1 agosto 05 20.00
1.4. Presenciais (participantes sem comunicao) pagamentos aps 1 agosto: 25.00
2. Datas limites
2.1. Data limite de envio de propostas de trabalho a apresentar: 15 julho 05
2.2. Comunicao de aceitao de oradores: 1 agosto 05
2.3. Data limite de receo de trabalhos finais pronto para publicao 15 set. 05
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I. C. - INSTRUES PARA PUBLICAO
1. Importante: Deve enviar o trabalho completo a apresentar/publicar ou por correio eletrnico/disquete/CD
para o Comit Cientfico. Caso no sejam recebidos dentro da data indicada, o Comit no garante a sua
publicao nas Atas CD do Colquio.
2. Formato: Microsoft Word (97, 2000, XP, ou MS Word 2003) em disquete ou correio eletrnico.
3. Tipo de letra (Font): Times New Roman 12
4. Nmero de pginas: Mximo 10 (espaamento 1.5) incluindo notas de rodap e de fim, bibliografia e grficos.
5. Ttulo: letras maisculas, tipo negrito; no centrar.
6. Autor(es): letras maisculas, incluir nome completo,
7. Instituio Ensino/Trabalho: espaamento simples entre o nome do autor e o da instituio; no centrar.
8. Sinopse: Deve seguir-se ao cabealho em itlico. Mximo de 300 palavras. Deve ser escrita em Portugus.
9. Subttulos: letras negrito; no centrar. Use algarismos rabes com decimais.
10. Outras divises: negrito; no centrar. Use algarismos rabes com decimais.
11. Citaes e referncias: autor, data de publicao, vrgula e nmero(s) de pgina(s): i.e. como Sager afirma
(1998:70-71)
Referncias Bibliogrficas: Livro: Melby, Alan K. (1995) The Possibility of Language, Amsterdam: John Benjamin's. Artigo sobre livros: Bess, Bruno. (1997) Terminological Definitions. In Sue Ellen Wright (ed.) Handbook of
Terminology Philadelphia: John Benjamin's Publishing Company. Artigos de jornal/revista: Corbeil, Jean-Claude (1991) "Terminologie et banques de donnes d'information
scientifique et technique" in Meta Vol. 36-1, 128-134. Internet: Pym, A (1999) Training Translators and European Unification: A Model of the Market in Translation
Theory and practice' - seminars organised by the Translation Service of the EC. Disponvel em http://europa.eu.int/comm/translation/theory/gambier.htm
Notas: includas no fim do texto. Grficos e tabelas: numeradas consecutivamente. Deve ser feita meno ao seu ttulo no texto.
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II. ATIVIDADES PARALELAS: ARTES (COORDENAO PROFESSOR DR. LUS CANOTILHO,
Instituto Politcnico de Bragana) 1) CONCURSOS de Pintura/Escultura/Fotografia lusfonas (incluindo pases da CPLP)
2) EXPOSIO COLETIVA de Pintura e Escultura lusfonas
OBJETIVOS PRINCIPAIS DA COMPONENTE ARTSTICA PARALELA
a) Divulgar os artistas do espao lusfono;
b) Aproximar, contactar e dinamizar os pases de lngua oficial portuguesa, possuidores uma riqussima diversidade
cultural e social e que comungam da mesma lngua e passado;
c) Desenvolver a criatividade e a expressividade
CONTACTO ATIVIDADES PARALELAS: ARTES E LITERATURA/REGULAMENTO, INSCRIES E INFORMAES
sobre Concursos e Exposies: PROFESSOR DOUTOR LUS CANOTILHO, a/c Departamento Sociocultural Forte de S.
Joo de Deus Cmara Municipal de Bragana 5301-902 Bragana [email protected]
III. COMPONENTE LDICA (Coordenao da Diviso de Cultura da Cmara Municipal de Bragana)
1) Roteiro turstico da Bragana. Histrica e Visita a locais de relevo (PARQUE DE MONTESINHO)
2) EXPOSIO E MOSTRA DE LIVROS A lusofonia na escrita
3) ARTESANATO LOCAL
OBJETIVOS PRINCIPAIS DA COMPONENTE LDICA
a) Dar a conhecer a cidade, Parques Naturais e outros locais da regio como elementos de divulgao da regio e
suas gentes
b) Induo da regio como destino privilegiado de saber e lazer.
Local do colquio: CENTRO CULTURAL MUNICIPAL (Anfiteatro) Praa da S 3-5 outubro 2005
http://europa.eu.int/comm/translation/theory/gambier.htmmailto:[email protected]
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HORRIO DAS SESSESDIA 3 OUTUBRO 2005 (2 f)
TEMA 1.
LITERATURA ORAL LNGUAS E SENTIDOS. CONTADORES DE HISTRIAS E LITERATURA
TEMA 3.
ESTUDOS DE TRADUO
08.30 REGISTO DE PRESENAS E OBSERVAO DO ECLIPSE SOLAR
09.45 CERIMNIA OFICIAL DE ABERTURA DOS TRABALHOS com a presena da Exma. Senhora Embaixadora
da Repblica Democrtica de Timor-Leste Dra. Pascoela Barreto e do Sr. Presidente da Cmara Municipal de
Bragana, Engenheiro Jorge Nunes
Sesso 1
10.45 Virgnia Abraho - Universidade Federal do Esprito Santo, Brasil
A metonmia no conto London London de Caio Fernando Abreu
M Penha Lins - Universidade Federal do Esprito Santo, Brasil
A metfora no conto London London de Caio Fernando Abreu
11.15 ngelo Cristvo - Associao de Amizade Galiza - Portugal
A Repblica Literria e a Lusofonia. Semelhanas, diferenas e exemplos
11.35 DEBATE
11.45 PAUSA PARA CAF
Sesso 2
12.00 Cludia Costa Rodrigues - Instituto Politcnico da Guarda, Portugal
Histrias de manhas e patranhas de ontem e de hoje: rasgos de contemporaneidade na literatura oral
portuguesa
12.20 Adelaide Chichorro Ferreira - Instituto de Estudos Alemes, Faculdade de Letras Universidade de
Coimbra / Centro Interuniversitrio de Estudos Germansticos, Portugal
Linguagem de especialidade
Orador suplente para estas sesses: (ausente)
Natlia Albino Pires Escola Superior de Educao de Coimbra, Portugal
O romanceiro transmontano da tradio oral moderna uma abordagem lexical
12.40 DEBATE
12.50 PAUSA PARA ALMOO
VIAGEM AO PARQUE NATURAL DE MONTESINHO, CIDADELA E OUTROS LOCAIS
18.30 FIM DAS ATIVIDADES LDICAS
DIA 4 OUTUBRO 2005 (3 f)
TEMA 2.
POLITICA LINGUSTICA EM TIMOR-LESTE.
EXPERINCIAS PEDAGGICAS.
ESTUDOS E RELAES CULTURAIS.
CONTEXTO HISTRICO E GEOGRFICO DE TIMOR-LESTE
08.30 REGISTO DE PRESENAS
Sesso 1
09.15 Vera Hanna e Neusa Bastos - Universidade Presbiteriana Mackenzie, Brasil
Estudos Culturais: uma viso pluralstica de ser outro constantemente
09.35 Gisele Calgaro - Universidade Presbiteriana Mackenzie, Brasil
Reflexes sobre a questo leste-timorense aos olhos de FSantos
09.55 Jaime Sales Lus UTAD (Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro) Vila Real, Portugal
O clima e a vegetao de Timor Lorosae. Homenagem a Rui Cinatti
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10.15 DEBATE
10.45 PAUSA PARA CAF
Sesso 2
11.15 Antnio Bento Escola Bsica e Secundria de Santana, Madeira, Portugal
Timor-Leste e a lusofonia: contributo para sua compreenso e estudo
11.35 Otlia Oliveira Escola Secundria com 3 ciclo Antnio Gedeo
A Lngua Portuguesa e as Profisses relato duma experincia e apresentao do manual
11.55 Jos Carlos Guerreiro Ado Parlamento Nacional de Timor-Leste / Assembleia da Repblica
O ensino e desenvolvimento da lngua Portuguesa no Parlamento Nacional de Timor-Leste
12.15 DEBATE
Oradores suplentes para esta sesso
1. Edson Luiz de Oliveira - Ministrio da Educao, Cultura, Juventude e Desporto de Timor-Leste
(MECJD Cooperao Brasileira) A lngua Portuguesa em Timor Leste no Perodo Ps-Conflito
2. Regina Brito, Rosemeire Faccina e Vera Busquets - Universidade Presbiteriana Mackenzie
Comunicao intercultural em Portugus: a msica e cultura brasileiras em Timor-Leste
12.45 PAUSA PARA ALMOO
Sesso 3
15.00 Anabela Mimoso Escola Superior de Educao Jean Piaget, Portugal
Da Literatura do Povo Literatura Infantil
15.20 Lino Moreira Universidade do Minho, Braga, Portugal
O presente e o futuro da lngua portuguesa em Timor Lorosae relato de uma experincia
15.40 A. Barbedo de Magalhes Presidente do IASI (INTERNATIONAL INSTITUTE FOR ASIAN STUDIES
AND INTERCHANGE) / FEUP, Universidade do Porto, Portugal A Lngua Portuguesa e a luta pela
independncia de Timor-Leste
16.00 DEBATE
16.30 PAUSA PARA CAF
Sesso 4
17.00 Regina de Brito Universidade Presbiteriana Mackenzie e Instituto Nacional de Lingustica de Timor-
Leste
Sensibilizar para a comunicao em lngua portuguesa: uma experincia em Timor-Leste
17.20 D. Carlos XIMENES BELO, Bispo Resignatrio de Dli
Impromptu / Improviso
17.40 Benjamim Crte-Real Reitor da Universidade Nacional de Timor-Leste e Instituto Nacional de
Lingustica de Timor-Leste Consideraes acerca da poltica lingustica de Timor-Leste
18.00 DEBATE
Oradores suplentes para esta sesso
1. Edson Luiz de Oliveira - Ministrio da Educao, Cultura, Juventude e Desporto de Timor-Leste
(MECJD Cooperao Brasileira) A lngua Portuguesa em Timor Leste no Perodo Ps-Conflito
2. Regina Brito, Rosemeire Faccina e Vera Busquets - Universidade Presbiteriana Mackenzie
Comunicao intercultural em Portugus: a msica e cultura brasileiras em Timor-Leste
18.30 NOTAS FINAIS E DISCURSO DE ENCERRAMENTO com a presena da Exma. Senhora Embaixadora da
Repblica Democrtica de Timor-Leste Dra. Pascoela Barreto, de Sua Exa. Revd.a Bispo D. Ximenes Belo
e Sr. Presidente da Cmara de Bragana
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A EMBAIXADORA DE TIMOR-LESTE DRA. PASCOELA BARRETO NA SUA ALOCUO DE ABERTURA DAS SESSES, LADEADA
PELO SR. PRESIDENTE DA CMARA MUNICIPAL DE BRAGANA ENG. JORGE NUNES E PELO PRESIDENTE DO COMIT
EXECUTIVO, CHRYS CHRYSTELLO
Discurso de abertura do Presidente da Comisso Executiva, Chrys Chrystello: Sra. Embaixadora da Republica Democrtica de Timor-Leste Exa. Revd.a D. Ximenes Belo Sr. Reitor da Universidade de Timor-Leste Sr. Presidente da Cmara, Demais entidades Ilustres Conferencistas, Minhas Senhoras e Meus Senhores, Obrigado por nos honrarem com a vossa presena. Antes de mais quero agradecer ao Eng. Jorge Nunes, Presidente da Cmara por dar o seu patrocnio a este raro evento
cultural do panorama portugus. No passado, sem hesitar, apoiou esta iniciativa e decidiu incorpor-la com carter anual
numa panplia de eventos culturais, cada vez mais vasta, que atualmente proporcionada aos habitantes de Bragana.
Agradecimentos so igualmente merecidos ao Dr. Eleutrio Alves, e aos Srs. Pedro Santos da Assembleia Municipal e
Alexandre Castro da Diviso Cultural da Cmara. igualmente devido o nosso reconhecimento Cmara Municipal de
Miranda do Douro e Lidel que se juntaram a ns promovendo livros. O nosso obrigado aos artesos que aqui esto
presentes e o nosso muito apreo pelos alunos e ex-alunos da Escola Superior de Educao, voluntrios do nosso
secretariado, respetivamente, Marco Paz, Alexandra Machado Reis, Sandra Duarte e Slvia Fidalgo.
Os nossos agradecimentos para os professores Helena e Lus Canotilho que aqui apresentam uma exposio de
fotografia sobre Rostos da Lusofonia, incluindo fotografias de Timor-Leste da autoria do Presidente Xanana Gusmo
gentilmente cedidas pela Cmara Municipal de Odivelas e pela Dra. Helena Espadinha para este evento, e uma palavra
de lembrana pelo nosso patrono desde o incio, o embaixador professor doutor Jos Augusto Seabra que nos deixou h
pouco mais de um ano
Bragana dispe hoje de bons e modernos equipamentos urbanos, de um tecido social coeso ainda que diverso, e de
uma vitalidade sustentada durante a maior parte do ano por 5000 estudantes do ensino tercirio e outros tantos do
secundrio. A atmosfera est cheia de contrastes da sua rica histria, e a sua modernizao est representada nas novas
avenidas decoradas com peas escultricas e no trabalho da ubqua Polis que veio recuperar e embelezar espaos que
o tempo e a incria haviam deixado ao abandono, como as margens deste Rio Fervena que serpenteia pela urbe. Do
Teatro ao Centro Cultural nada falta.
Queria partilhar convosco um pouco desta terra cheia de histria. A antiga Cidade, de origem neoltica, foi posteriormente
um importante centro romano localizado na zona atual da S, onde nos encontramos.
s invases brbaras sucederam-se as guerras entre mouros e cristos e a Bragana primitiva desapareceu
permanecendo enterrada at hoje, conforme escavaes do programa Polis demonstraram, com inmeros vestgios que
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ora podem ser observados em exposio neste edifcio. Aquando da restaurao da cidade em 1130, os coevos de ento
escolheram um local diferente, no cimo dum outeiro a centenas de metros da anterior cidade. Ali se viria a edificar a
famosa Domus Municipalis, precioso exemplar da arquitetura romnica portuguesa do sculo XIII. Depois duma tentativa
de povoamento feita por Ferno Mendes, um homem rico da famlia do primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques, o
Rei D. Sancho I1 no intuito de fixar moradores concedeu a Bragana em 1187, um foral com grandes privilgios, tendo
sido construdo nessa poca o castelo. Em 1464, a pedido do 2 Duque, D. Fernando de Bragana, recebe de D. Afonso
V, o foral de cidade e a partir da cresceu depressa.
Como a paisagem rude e bravia, numa abordagem fugaz dir-se-ia que aqui s h fraguedo. Mas numa das mais
importantes revolues pacficas que aqui ocorreram, os judeus plantaram amoreiras nos interstcios dessas fragas e no
sc. XV e XVI conseguiram o milagre de fazer de Bragana um importante centro fabricante de veludos, damascos, e
outros tecidos de luxo. Infelizmente a Inquisio mostrou-se particularmente ativa em Bragana tendo vitimado 734
artesos segundo averiguou o sbio Abade de Baal. Naturalmente, nem todos se deixaram apanhar e a maioria (trs
mil) fugiu. Os teares fecharam, a produo dos belos veludos de Bragana cessou por completo e a terra conheceu um
longo e sombrio perodo de decadncia.
A Bragana de hoje irm gmea da outra celta e romana, dela tendo herdado costumes, lngua e artesanato,
sempre marcados pela sua importncia militar e estratgica mas sem jamais perder as suas razes rurais bem
demonstrada pela presena altiva do Parque Natural de Montesinho
http://www.bragancanet.pt/vinhais/vslomba/pnm.html 2.
1 D. Sancho I (O Povoador)
Nasceu em Coimbra a 11 de Novembro de 1154. Em 1166 (com apenas 12 anos) chefiou a expedio militar feita a Ciudad Rodrigo, tendo quatro anos mais tarde comeado a colaborar ativamente no exerccio do poder poltico e na gesto do reino. Casou no ano de 1174 com D. Dulce de Arago, subindo ao trono em 1185. Depois das sucessivas perdas de terras para os Mouros (incluindo Silves e todo o Alentejo) D. Sancho I aproveitou este facto para realizar medidas respeitantes povoao do reino e das terras devastadas pela guerra. Para este efeito introduziu a poltica dos forais (reorganizao administrativa local do reino - formao de concelhos) e conseguiu fixar no Ribatejo estrangeiros entretanto chegados. Esta situao advm do facto de que os territrios no povoados eram fceis de
conquistar pelos Mouros, j que no havia neles qualquer tipo de resistncia. Em consequncia da sua habilidade poltica (em contraste com os desaires militares) D. Sancho I restaurou as finanas da coroa e promoveu a cultura, tanto em Portugal como no estrangeiro. Foi no seu reinado que se assistiu ao surgimento de um diferendo com a Santa S e com o Bispo de Coimbra. atribuda, hoje em dia, a D. Sancho I a autoria da mais antiga cantiga de amigo dos Cancioneiros. D. Sancho I morreu no dia 26 de Maro de 1211 em Coimbra, deixando como herdeiro do trono seu filho D. Afonso II.
2 PARQUE NATURAL DE MONTESINHO
Com uma superfcie de 75000 hectares e nove mil habitantes, Montesinho um dos maiores parques naturais do Pas. Criado em 79, tambm um mundo a (re)descobrir por diversssimas razes: pelas pessoas, pela fauna e flora, pelo patrimnio construdo. Ver mapa do Parque... Ver mapa de acessos rodovirios
O Parque Natural de Montesinho situa-se no "limite" Nordeste de Portugal, englobando a rea das serras de Montesinho e Coroa, portanto a parte norte dos Concelhos de Bragana e Vinhais. A regio caraterizada por uma sucesso de formas arredondadas, aqui e ali separadas pelos vales de rios profundamente encaixados. As atitudes extremas so: 438 metros nas guas de Sandim, no leito do rio Mente, e 1481 metros na Malhada da Cova, na serra de Montesinho. Os rios mais importantes so, na parte ocidental, o Mente e o Rabaal, na central, o Tuela e o Baceiro, e, na oriental, o Sabor e o Mas. A Serra do Montesinho d ao nome ao Parque que encerra uma paisagem grandiosa, serena e, muitssimo bela. Os terrenos so dominantemente xistosos, tendo no entanto expresso afloramentos de rochas bsicas, alguns afloramentos de calcrios, nomeadamente em Cova de Lua e Dine, e manchas granticas na parte superior da serra de Montesinho e nos Pinheiros. Para apreciar superfcie to rica e bela, convm dispor de uma viatura e de alguns dias livres. A rede de estradas que atravessa o Parque bastante boa, cruzando todo o tipo de paisagens e locais.
Clima
Sob o ponto de vista climtico a regio situa-se na chamada Terra Fria Transmontana, apresentando, no entanto, aspetos de transio em pequenas reas localizadas no fundo dos vales dos rios Mente e Rabaal, e na parte ocidental, e junto a Gimonde e Quintanilha, na parte oriental. O regime das chuvas o mesmo em toda a rea, apresentando a caraterstica mediterrnica de chuvas na estao fria. De uma maneira geral a rea caraterizada por invernos frios e longos e veres curtos e quentes, da o ditado popular Nove meses de inverno e trs de inferno.
Como Ir: De Lisboa ou do Porto pela A1, pelo IP4 em direo a Bragana. Da Zona Centro, apanhe a N102 em Celorico da Beira at Macedo de Cavaleiros e depois o IP4 at Bragana.
http://www.geocities.com/Paris/Cafe/2928/fbraganca2.htmlhttp://www.aac.uc.pt/~sfaac/dsanchoI.phphttp://www.bragancanet.pt/vinhais/vslomba/pnm.htmlhttp://www.bragancanet.pt/vinhais/vslomba/mapas.htmlhttp://www.bragancanet.pt/vinhais/vslomba/mapa.htm
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O cruzeiro da Praa da S como referncia central da cidade foi erigido em 1689, e depois reconstitudo em 1931 aqui
mesmo em frente Catedral Velha, de fachada simples, com portal renascentista de influncia barroca e um interior com
retbulo de talha dourada e um arco triunfal dominado pelo braso da cidade.
Da R. Direita, subindo pela Costa Grande entramos no labirinto da Cidadela com ruas de aspeto mourisco e medieval,
coroadas pelas 15 torres da muralha. A poente do castelo existe uma obra singular, um pelourinho com uma escultura
zoomorfa A Porca da Vila, um fuste de coluna de granito, cravado no dorso de uma escultura pr-histrica, que lhe serve
de pedestal. Depois de admirada a Domus Municipalis devemos parar a admirar as janelas gticas da Torre de Menagem,
onde existe hoje o valioso Museu Militar.
No vos falarei aqui das vrias verses da lenda da Torre da Princesa e dos seus amores proibidos, pois dela se ocupa
a nossa pgina na internet. Se visitarmos depois a Igreja de Santa Maria, datada de incios do sculo XVI, podemos sair
pela Porta da Traio e percorrer a Rua Ablio Bea onde ainda existem casas de portais estreitos, lembrando a herana
dos judeus que aqui se refugiaram da Inquisio, antes de chegarmos ao clebre Museu Abade de
Baal3,http://viajar.clix.pt/com/tesouros.php?lid=316&lg=pt que aguarda a vossa prolongada visita. Outra das lendas diz
que na Igreja de S. Vicente se casou clandestinamente o prncipe e futuro Rei D. Pedro com a dama castelhana Ins de
Castro, tema da literatura portuguesa e universal. Das lendas realidade mais recente aconselho a que no se esqueam
das miniaturas de habitaes da regio ou dos carretos, as mscaras de madeira tipicamente transmontanas e aqui
disponveis como tiveram oportunidade de observar pela presena de artesos que a CMB convidou a estarem presentes.
Estamos aqui para juntos fazermos ouvir a nossa voz, para que Bragana seja uma terra onde se congregam esforos e
iniciativas em prol da lngua de todos ns, da Galiza a Timor, por todos os pases de expresso portuguesa e por todos
os outros pases onde no sendo lngua oficial existem Lusofalantes. Convm, porque o tempo urge, lutar por uma poltica
da lngua para defender e promover a expanso do espao cultural lusfono, contribuindo decisivamente para a
sedimentao da lngua Portuguesa como um dos principais veculos de expresso mundiais. Que ningum se demita da
responsabilidade na defesa do idioma independentemente da ptria. Falemos Portugus independentemente da nossa
cidadania. Hoje como ontem, a lngua de todos ns vtima de banalizao e do laxismo. Em Portugal, infelizmente, a
populao est pouco consciente da importncia e do valor do seu patrimnio lingustico. Falta-lhe o gosto de bem falar
e escrever e demite-se da responsabilidade que lhe cabe na defesa da lngua que fala. Temos o que merecemos, porque
a sociedade responde com o mediatismo, o espetacular e o medocre. A nossa conformada indiferena no passa duma
conivncia.
Detestamos em Portugal, o rigor e a exigncia para facilitarmos a pressa e a santa ignorncia, lemos pouco e mal pois
habituamo-nos a alucinar diariamente frente ao pequeno ecr da televiso do nosso contentamento. Somos culturalmente
derrotistas, pessimistas, desorganizados, conservadores, masoquistas e rimo-nos de ns mesmos ao falarmos do pas
pequeno e atrasado. falta de ambio, iniciativa e criatividade preferimos o novo-riquismo parolo e deleitamo-nos com
um falso jet set que nem jet nem set. Para este ano, o 4 Colquio (e o 3 a ser apoiado pela CMB) subordinado ao ttulo
DOS CONTADORES DE HISTRIA LITERATURA CONTEMPORNEA ir ter como tema central o problema da
Lngua Portuguesa em Timor-Leste: como se impe uma lngua oficial que no falada pela maior parte dos habitantes,
anlise da situao, desenvolvimentos nos ltimos cinco anos, projetos e perspetivas presentes e futuras. Ainda em
debate estaro os problemas da Traduo como forma de perpetuar e manter a criatividade da Lngua Portuguesa nos
quatro cantos do mundo.
O portugus faz parte da histria timorense. No a considerar uma lngua oficial colocaria em risco a sua identidade,
defende o linguista australiano Geoffrey Hull (que por razes de sade no pode estar presente), no seu recente livro
Timor-Leste. Identidade, lngua e poltica educacional.
3 Museu do Abade de Baal
Fundado em 1915, o Museu do Abade de Baal encontra-se instalado no edifcio do antigo Pao Episcopal de Bragana. O acervo do museu integra na sua origem as colees de arqueologia e numismtica do Museu Municipal e peas do recheio do Pao Episcopal. A este fundo inicial foram-se somando ddivas de amigos e artistas, entre os quais se contam na dcada de 30, as de Abel Salazar e da famlia S Vargas, nos anos 50, o legado Guerra Junqueiro e no incio de 60, o de Trindade Coelho, que enriqueceram o museu com colees de pintura, desenho, escultura, ourivesaria civil e mobilirio.
http://www.geocities.com/Paris/Cafe/2928/fbraganca1.htmlhttp://www.geocities.com/Paris/Cafe/2928/fbraganca2.htmlhttp://viajar.clix.pt/com/tesouros.php?id=60&ni=0http://viajar.clix.pt/com/tesouros.php?lid=316&g=pthttp://viajar.clix.pt/com/tesouros.php?lid=316&g=pthttp://viajar.clix.pt/com/tesouros.php?lid=316&lg=pttesouros.php?id=65
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A lngua portuguesa "tem-se mostrado capaz de se harmonizar com as lnguas indgenas" e tanto mais plausvel porque
"o contacto com Portugal renovou e consolidou a cultura timorense e quando Timor-Leste emergiu da fase colonial "no
foi necessrio procurar uma identidade nacional, o pas era nico do ponto de vista lingustico. O portugus no um
idioma demasiado difcil para os timorenses pois estes j possuem um relativo conhecimento passivo do portugus, devido
ao facto de j falarem o Ttum-Dli", afirma Hull. "A juventude deve fazer um esforo coletivo para aprender ou reaprender
a lngua portuguesa.
Um vasto painel de peritos nesta rea debater este tema, pois so as comunidades culturais, histricas e lingusticas
lusfonas os agentes fundamentais de mudana. Este evento vem decerto colocar Bragana na cimeira das cidades
dedicadas preservao e discusso da lngua que falada em todos os continentes por cerca de 200 milhes de
pessoas.
Este colquio como pedrada no charco que sempre pretendeu ser, visa alertar-nos para a existncia duma lngua nacional
em Timor-Leste que pouco era falada ao fim de 25 anos de neocolonialismo indonsio e cujo progresso j bem visvel
em meia dcada de esforo abnegado e voluntarioso duma mo cheia de pessoas que acreditaram. bem provvel que
o Portugus seja hoje mais falado em Timor do que quando l vivi entre 1973 e 1975 ao cabo de 450 anos de ocupao
portuguesa. A lngua portuguesa em Timor enriquecida pelos idiomas e dialetos locais e enriquecendo aqueles, precisa
de tradutores e de leitores e a ainda quase tudo est por fazer. Neste colquio alertmos para a necessidade de sermos
competitivos e exigentes, sem esperarmos pelo Estado ou pelo Governo e tomarmos a iniciativa em nossas mos. Assim
como criamos estes Colquios, tambm cada um de ns pode criar a sua prpria revoluo, em casa com os filhos, com
os alunos, com os colegas e despertar para a necessidade de manter viva a lngua de todos ns. Sob o perigo de
soobrarmos e passarmos a ser ainda mais irrelevantes neste curto percurso terreno.
Urge pois apoiar uma verdadeira formao dos professores da rea, zelar pela dignificao da lngua portuguesa nos
organismos nacionais e nos internacionais dot-los com um corpo de tradutores e intrpretes profissionalmente eficazes.
Jamais podemos esquecer que a lngua portuguesa mudou atravs dos tempos, e vai continuar a mudar. A lngua no
um fssil. Tambm hoje, a mudana est a acontecer. Espero que no final deste encontro possam os presentes voltar
para os seus locais de residncia e de trabalho com solues e propostas viveis para aceitar a Lusofonia e todas as
suas diversidades culturais sem excluso das lnguas minoritrias que com a nossa podem coabitar.
O Presidente da Comisso Executiva 4 Colquio Anual da Lusofonia,
Chrys Chrystello MA
outubro 2005
Local do colquio: CENTRO CULTURAL MUNICIPAL (Anfiteatro) Praa da S - 3 a 5 de outubro 2005
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1) ADELAIDE CHICHORRO FERREIRA
CIEG CENTRO INTERUNIVERSITRIO DE ESTUDOS GERMANSTICOS - LINHA DE INVESTIGAO EM LINGUSTICA
CONTRASTIVA E INTERDISCIPLINAR, FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA [email protected]
Nascida em 1960, Maria Adelaide de Sousa Chichorro Ferreira , desde 2003, Professora Auxiliar do Grupo de Estudos
Germansticos da Universidade de Coimbra, tendo desempenhado a sua atividade cientfica essencialmente no domnio
da Lingustica Contrastiva, com trabalho desenvolvido atravs de vrias publicaes, nacionais e internacionais, nos
ltimos tempos em torno das relaes entre Ecologia e Linguagem. Tem lecionado na Universidade de Coimbra, e no
s, em vrios domnios, desde o alemo, o portugus e o ingls como lngua estrangeira Didtica do Alemo, passando
pela Lingustica Alem e mesmo pela Traduo. Mais recentemente vem-se dedicando, tambm nas suas aulas, relao
entre Linguagem e Ambiente.
SINOPSE
Tendo entrado em contacto com uma tecnologia desenvolvida na Alemanha no mbito ambiental, e respetivo inventor,
traduzi uma brochura concebida para que ela fosse divulgada no contexto alemo, coisa que tem entretanto sido feita por
movimentos cvicos locais, auto-organizados e autofinanciados. Assim, o cotejo e explicao de alguns termos com que
me deparei, numa perspetiva crtica e contrastiva, partindo da minha vivncia de portuguesa, o assunto a que dedico a
minha comunicao. De facto, em algumas circunstncias o confronto com uma lngua diferente, no romnica, que nos
suscita o desafio de recriar a nossa prpria lngua materna, de a fazer evoluir com um certo travo diferente, mas ainda
assim como lngua viva que . Sendo atualmente o alemo a lngua materna mais falada na Unio Europeia, pretendo
deste modo dar a conhecer a necessidade de reservar, nas escolas portuguesas, um caudal mnimo de aprendizagem
do alemo que nos permita, tambm em tempo real, acompanhar realidades emergentes que podem (vir a) ser de
importncia estratgica escala europeia, possibilitando um certo ginasticar da mente que garantido, em particular,
pelo desafio sempre empolgante que a traduo, mesmo tratando-se de um texto de teor tcnico. A especificidade do
texto em anlise e do contexto em que surgiu obriga, alis, a uma reflexo minha em torno do conceito de linguagem de
especialidade, que reputo ser, no plano da temtica ambiental, por vezes um tanto difcil de definir ou pelo menos de
compartimentar de forma absolutamente inequvoca, ainda por cima quando se est perante duas lnguas e culturas
bastante diferentes. que a tecnologia (e respetiva linguagem tcnica) depende do marketing que dela se faz, e este
aspeto reflete-se particularmente no texto em questo.
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O ADMIRVEL MUNDO FRTIL DAS LINGUAGENS DE ESPECIALIDADE
1. ABDICANDO DUMA LINGUAGEM DE ESPECIALISTA
A presente comunicao incide sobre o conceito de linguagens de especialidade, no para as caracterizar de
forma absolutamente precisa, mas antes no sentido de sublinhar a importncia que possuem para o enriquecimento da
lngua portuguesa, se entendidas de modo renovado. Sendo o tema global do congresso que aqui nos rene a questo
lingustica de Timor-Leste, um jovem pas onde nunca estive mas relativamente ao qual se coloca a questo da herana
cultural portuguesa, e portanto europeia, abdicarei duma terminologia muito tcnica, no porque ela no seja importante,
mas antes porque estaria deslocada neste (con)texto, em que a lngua como um todo que est primeiramente em causa.
2. A LINGUAGEM TCNICA O QUE EST A DAR
O termo linguagem tcnica enfatiza a vinculao num saber menos feito de elaborao terica ou estilstica
do que de know-how, um saber-fazer que, sendo embora imprescindvel, acaba num significativo nmero de vezes por
no passar de um mero executar de instrues, sem participar na sua definio ou crtica. Tambm no domnio da
Informtica, ao qual parece aplicar-se como uma luva o sentido que o adjetivo tcnico possui na linguagem comum, os
profissionais mais especializados recorrem ainda, de forma direta, ao ingls. disso sintoma a tentativa malograda de
cunhar a noo de software como 'suporte lgico' em portugus.
Apesar de um nmero considervel de aplicaes correntes de informtica j se encontrar disponvel em verso
portuguesa, com tendncia alis para aumentar, tal acontece sobretudo em mercados de grande utilizao, na tica do
utilizador comum, e no junto dos especialistas propriamente ditos. Ainda que se procure com afinco estabelecer
correspondncias para o portugus, isso s no chega: a rapidez com que surgem novos produtos e, consequentemente,
novos conceitos, aliada ao facto de tais tecnologias se virem disseminando por todo o planeta, tornaram incontornvel
que, em domnios fortemente dependentes da internacionalizao, o ingls (ou melhor: um determinado tipo de ingls)
continue a ser a principal fonte terminolgica, processando-se no raras vezes a comunicao diretamente nesta lngua,
tanto em artigos para publicao como em teses de mestrado ou de doutoramento que entretanto, neste como noutros
campos, se realizam em Portugal4.
A rapidez de que falo tem todavia o seu qu de incompatvel com a escrita das Humanidades, podendo at
contribuir para que ela se torne mais lenta ainda, uma vez que, prioridade ainda conferida ao anglicismo, todavia ainda
tabu nas reas a que agora me refiro, se associa hoje um estilo parcialmente induzido de forma automtica pelas prprias
aplicaes informticas, pelo menos aquelas que envolvem processamento de texto, nas quais certos defaults (ou:
'opes por defeito', 'escolhas por omisso') porventura s raramente adivinham o que um determinado utente da lngua
pretende escrever a seguir. Ao pr selecionarem irritantemente, na sequncia de um movimento no teclado, um certo
mecanismo de estruturao textual, em detrimento de outros, tais programas, configurados a priori para a produo de
manuais de instrues e/ou relatrios tcnicos, podem at contribuir para, em vez de facilitar (imaginemos que se est a
escrever um texto literrio ou um ensaio), atrapalhar o trabalho de pessoas oriundas de reas situadas no to rico quanto
vastssimo domnio das Lnguas e Literaturas, hoje em acentuado refluxo5. A razo de tal desajuste est no facto de em
Filologia se fazer uso duma textualidade tendencialmente mais associativa e argumentativa do que funcional ou
4 Por conviver com pessoas que trabalham neste domnio, acostumei-me de facto, ao longo dos anos, ao modo como espontaneamente recorrem ao ingls, mesmo que se esforcem por traduzir certos conceitos, medida que eles se vo impondo como termos tcnicos locais junto dos parceiros de investigao ou colegas de trabalho, ou medida que essa necessidade se torna incontornvel. 5 Um fator que poder levar a que se pense no ser este um problema estatisticamente relevante (ou, pelo menos, suficientemente relevante para merecer ateno) est na gritante disparidade constatvel no nmero de alunos inscritos na Zona do Baixo Mondego em Portugal, no ano letivo de 2004-2005, no agrupamento de Lnguas e Literaturas do Ensino Secundrio (1,8% do total), face pujana numrica dos que se inscrevem em Cincias e Tecnologias (68.3%), segundo dados do GIASE (Gabinete de Informao e Avaliao do Sistema de Educao, adstrito ao Ministrio da Educao portugus), no diferindo alis esta situao, de forma significativa, daquela
que se verifica no resto do pas. Uma anlise destes nmeros ser a breve trecho publicada como caderno do CIEG (Centro Interuniversitrio de Estudos Germansticos) por Francisca Athayde e Adelaide Chichorro Ferreira.
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hierrquico descritiva, por muito que desta ltima, apesar de tudo, alguns dos seus representantes se tentem
desesperadamente aproximar.
Nada do que venho afirmando pois suscetvel de pr em causa, alis bem pelo contrrio, os esforos meritrios,
designadamente no mbito do ILTEC (Instituto de Lingustica Terica e Computacional), mas tambm por parte de outras
entidades, no sentido de estabelecer uma terminologia informtica em lngua portuguesa. Porm, no basta estarem
disponveis entretanto algumas aplicaes em portugus, ou realizarem-se conferncias sobre processamento digital da
fala humana, incluindo na lngua portuguesa. Solues terminolgicas (e no s) j adotadas, ou a adotar por
terminlogos, necessitam ainda, em muitos casos, no s de ser encontradas como melhoradas, e tambm testadas
quanto sua facilidade de utilizao (user-friendliness), evitando-se, por exemplo, o recurso a expresses de extenso
incompatvel com a rapidez que, de resto, est na origem da profuso tambm algo irritante de siglas em linguagens
tcnicas. Uma extenso que, alm disso, colide frequentemente com efetivas limitaes de espao, sendo desejvel
caminhar no sentido de eliminar excesso de carateres sem destruir a harmonia do resultado. Tambm quanto sua
adequabilidade, tais linguagens tcnicas devem ser avaliadas: em telemveis mais antigos, o comando resume call,
'terminar chamada', continua a surgir no ecr como 'resumo chamada', o que acarreta porventura consequncias no
despiciendas junto dos seus utentes, hoje cada vez mais incapazes de resumirem o que quer que seja, porque porventura
no sabero j sequer o que isso quer dizer. No que toca ao vasto domnio que comummente se designa, alis
erradamente, por interface em linguagem natural, caberia investigar, de igual modo, at que ponto o atendimento
telefnico por vozes automaticamente geradas ou no uma verdadeira conquista da Humanidade, algo que, em rigor,
mereceria o epteto de natural.
Tudo isto nos interpela quanto definio do que que se poderia entender, no campo concreto da Informtica,
por uma linguagem de especialidade especificamente lusfona, se que ela de facto existe, para alm dos circuitos
associados ao consumo de aplicaes informticas na tica do utilizador. E se a investigao neste domnio, em que a
internacionalizao assume um papel muito relevante, continua a ser praticada maioritariamente em ingls, no possvel
ignorar que um tal fenmeno se tem vindo a estender a muitas outras reas de especialidade que vo, habitualmente, a
reboque da Tecnologia. Veja-se, de resto, como se apresenta uma linguagem supostamente cientfica, na rea da gesto
turstica:
Os outcomes consubstanciam-se, quer nos outcomes dos stakeholders (turistas, residentes, investidores e
empresrios); quer no outcome do turista que pode ser a sua satisfao no usufruto do destino, no outcome do residente
que pode ser os problemas ou os benefcios do desenvolvimento do turismo na localidade onde vive quer nos impactos
(econmicos, societais, ambientais e ecolgicos) quer ainda na forma como cada grupo de interesses reage face a eles.
Este exemplo6, que se caracteriza ainda pelo facto de inmeros assuntos, de forma s aparentemente ordenada,
serem colocados no mesmo saco, atitude demonstrativa de um duvidoso poder de sntese, poderia induzir um leitor
incauto a pensar que til, e sobretudo prtico, saber ingls. A interpretao contrria porm igualmente verosmil: a
de que mais valeria nem sequer apostar num maior envolvimento com esta lngua, caso tal aprendizagem levasse os
utilizadores do portugus a produzir semelhantes textos! No se pense portanto que se deve a um sbito apreo pelas
lnguas (e por lnguas os cidados at mesmo aqueles que, em termos de escolarizao, pertencem nata nacional
entendem em Portugal quase somente o ingls!), ou, ingenuamente, por um especial carinho pelas Humanidades
(at no sentido de encontrar colocao para inmeros professores desempregados), que se vem ultimamente apregoando
a necessidade supostamente imperiosa de as crianas em Portugal aprenderem ingls desde a escola primria. Na
realidade, uma das principais motivaes para o estudo das linguagens de especialidade, e, a elas diretamente associada,
para a aprendizagem do ingls, diz respeito transferncia tecnolgica, que se configura hoje em dia, em economias
perifricas, como produto de traduo, mais at do que de inovao a partir de tecido endgeno.
Ora sendo essa tarefa de transmediao acelerada, escala planetria, pelo recurso ao ingls (uma lngua que
h quem considere ser for colonials7), com resultados de resto nem sempre recomendveis para a prpria lngua inglesa,
6 Extrado, como nos casos inventariados no Anexo colocado no final, de uma obra recentemente publicada em Portugal, fruto talvez de uma dissertao na rea do turismo, que, por razes bvias, me escuso de identificar, mas que no mais do que um caso por entre muitos similares. 7 Confronte-se, a este respeito, a opinio de Harald Weinrich no Akademie Journal (2/2001), Deutsch in Linguafrancaland (em Novembro de 2005 ainda disponvel em:
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o mais provvel que nem tudo o que relevante possa ser dito, escrito ou sequer pensado nesta lngua, devendo dar-
se a possibilidade de as crianas aprenderem outras lnguas estrangeiras na escola primria, antes mesmo do ingls, em
funo das caractersticas do seu contexto social, que hoje no se pode pressupor homogneo. que, muitas vezes, a
motivao para a aprendizagem de lnguas est ligada, no a requisitos de ordem profissional, mas a afinidades do tipo
familiar (ou mesmo de outros tipos).
Continua igualmente a ser importante alertar para o facto de uma linguagem de especialidade de pleno direito
poder no se caracterizar necessariamente por ser tcnica, no sentido que este termo, no uso corrente, vem adquirindo.
esse o caso do tipo de discurso que configura uma rea do saber como a Filosofia, ou o Direito, cuja tecnicidade,
quando est em causa o pensamento de determinados autores, em parte passa pelo conhecimento do alemo comum,
lngua-fonte de onde provm tradicionalmente, ainda hoje, muitos conceitos centrais. Assim sendo, estamos perante um
caso at certo ponto paralelo ao atrs comentado a propsito da Informtica, porm numa escala substancialmente
diferente, dado que, por razes que, ao longo do que venho afirmando, se vo tornando bvias, muitas reas tcnicas ou
de especialidade no usufruem da visibilidade de que dispem quer a Informtica, quer as to procuradas Cincias da
Vida.
Em Portugal, essa falta de visibilidade patente na minha prpria rea de especialidade, a Germanstica, cujo
objeto de estudo se define, em larga medida, pela lngua alem (da decorrendo que a respetiva linguagem tcnica
deveria, acima de tudo, passar por um uso intenso da mesma). Pese embora a sua enorme tradio no contexto
universitrio, e at a significativa internacionalizao da investigao portuguesa neste domnio, o facto que a lngua
alem detm atualmente uma presena apenas residual no sistema de ensino portugus. Do mesmo modo se constata,
perversamente, a penetrao do ingls para fins de internacionalizao dos contributos produzidos nos prprios estudos
germansticos, ao ponto de ser usado em congressos que tm lugar em pases germanfonos, inclusivamente em
situaes nas quais so frequentados maioritariamente por falantes nativos do alemo...
3. PONTES DE OUTRO TIPO
Ao discutir aqui a situao da lngua portuguesa no captulo das Linguagens de Especialidade, como vimos nem
sempre tcnicas, fao-o com o intuito de alargar horizontes talvez nunca antes navegados, ou s raramente, na
Lingustica praticada em Portugal. Se bem que as linguagens tcnicas possam contribuir para um inestimvel
enriquecimento da Lngua Portuguesa, tal no quer dizer que isso se verifique sempre, devendo no entanto sublinhar-se
igualmente que tal enriquecimento no depende hoje em dia, ao contrrio do que tradicional pensar-se, (quase)
exclusivamente da promoo da Literatura e do patrimnio histrico-cultural, enquanto matrias que dizem respeito ao
mundo das chamadas Humanidades, ou das Artes e Letras. que no se deve ignorar o papel que, neste processo, pode
e deve desempenhar o conhecimento de outras lnguas, tambm no respeitante s mais comezinhas finalidades do
quotidiano. Na realidade, o esforo de traduo, interpretao ou intermediao, qualquer que seja o domnio, hoje
deixado demasiadas vezes a cargo de to frequentes quanto inaceitveis acasos.
Ainda h pouco tempo me foi solicitado um servio de interpretao no pago, num voo de Munique para Lisboa
cujos passageiros eram maioritariamente falantes nativos do portugus, por parte de uma hospedeira alem em apuros,
quando me encontrava prestes a entrar para o avio: uma jovem brasileira, manifestamente com fracos ou nenhuns
conhecimentos de outras lnguas, necessitava de voar para Hamburgo, e no para Lisboa, tendo ficado sem o carto de
embarque por engano, ao colocar-se na fila errada. Por sorte ela prpria deu pelo erro a tempo, mas por mais que
gesticulasse no conseguia fazer-se entender junto da hospedeira, que, pela sua parte, tambm no sabia portugus.
Este episdio, que poderia ter redundado numa situao complicada, demonstra eloquentemente o muito que h a fazer
http://www.akademienunion.de/_files/akademiejournal/2001-2/AKJ_2001-2-S-06-09_weinrich.pdf), onde o autor, aplica ao ingls a definio de Henry e Rene Kahane para lingua franca, a prestige language reduced to a mini-structure for colonials, designadamente quando diz: Englisch also, zur Reduktionsstufe einer lingua franca heruntergemodelt, mit Minimalstrukturen und Billigvokabeln: das ist keine Sprache fr freie Brger, sondern ich zitiere noch einmal Kahane ein Pidgin for colonials [O ingls, portanto, modelado de forma abusiva at insignificncia de uma lingua franca, com estruturas mnimas e um vocabulrio baratucho, no uma lngua para cidados livres mas, e cito de novo Kahane, um pidgin for colonials].
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pela lngua portuguesa no mundo, nele se incluindo tambm a Europa. Sem traduo e sem a ginstica mental que ela
pressupe, no sentido de se estabelecerem eficazmente pontes com outras lnguas e culturas, uma lngua qualquer
lngua no evolui, porque os seus falantes talvez nem se deem plenamente conta de quem so, ou, literal e
metaforicamente, de para onde vo... Traduzir acaba por implicar, para quem o faz e para quem desta atividade beneficia,
a conscincia ntida de se estar situado em algum lugar, nem que seja num lugar intermdio entre dois outros lugares, e
consequentemente a perceo de que h mais mundo para alm do mundo de cada um. Como saber ou tecnologia de
hoje, considero esta atividade uma competncia chave.
4. O QUE UMA REA DE ESPECIALIDADE?
Uma vez que no me possvel referir aqui tudo o que, em torno deste assunto, seria interessante dizer, tentarei
centrar agora a minha ateno, antes de mais, na complexidade inerente ao prprio conceito de Linguagem de
Especialidade, se observado sob um prisma intercultural e no meramente intradisciplinar, o que aconteceria se eu me
baseasse estritamente na subrea da Lingustica que, entre ns, mais se vem ocupando deste objeto de estudo,
essencialmente a Terminologia (e que, como j deixei claro atrs, se dedica apenas a uma parte daquilo que se entende
por Linguagem de Especialidade). No sentido de sublinhar o prisma intercultural de que parto, fornecerei agora outro
exemplo.
Em comunidades humanas tradicionais (porventura j dizimadas ou dispersas em resultado da mundializao),
nas quais as pessoas viviam ainda em razovel harmonia com a natureza, de certa forma entrosadas ou em unio csmica
com ela, a palavra para ambiente nem sequer existia, e com ela a conscincia da respetiva necessidade de proteo,
enquanto problema ou objeto de estudo com plena dignidade terica, matriz temtica, inclusivamente, de toda uma
rea de especialidade a que hoje chamamos Ecologia, historicamente herdeira da Biologia. Com as suas prticas
culturais, todavia, essas comunidades at acabavam por proceder da forma correta aplicando o know-how adequado,
digamos assim , mesmo no conhecendo as designaes latinas das plantas e animais que so, ainda hoje, imagem de
marca da Biologia de orientao taxonmica (porventura tambm em refluxo, devido hegemonia hoje constatvel por
parte da Microbiologia, maioritariamente dedicada ao estudo da clula). Tanto assim era que os membros de algumas
dessas comunidades (creio que em Timor isso acontecia) no penetravam na floresta durante alturas do ano coincidentes
com a poca de procriao de certas espcies. Um comportamento prudente que no se devia, nem mesma sensao
de perda que, na dcada de 80, era muito tpica dos europeus, em resultado dos excessos da industrializao (veja-se,
na Alemanha, a emotiva discusso em torno do Waldsterben, a 'morte da floresta'), nem ao facto de, para tais
comunidades, a Ecologia ser algo de que possussem uma conscincia muito ntida: antes as crenas animistas locais
assim o determinavam. Ora ser que, tendo em conta os efeitos pretendidos, uma rea de especialidade como a que se
vem designando por Conservao da Natureza, a par de toda a mirade de conhecimentos especficos que abarca, se
aproximaria, num determinado local do mundo, a uma seita, religio ou cosmologia particular, sendo portanto suscetvel
de ser arrumada cognitivamente junto das mesmas? Ou junto das literaturas, porque muitas cosmologias que
determinam o agir das pessoas num dado local resultam de lendas e narrativas contadas de gerao em gerao?
Assim sendo, e na linha das consideraes anteriormente tecidas, mas tambm de outras que, por falta de
tempo, me escuso de fazer, torna-se necessrio olhar com a prudncia e o sentido crtico necessrios para as
catalogaes atualmente existentes de reas de especialidade e respetivos subdiscursos, uma vez que podero revelar-
se como possuindo o seu qu de etnocntrico ou mesmo de arbitrrio. Tornou-se-me em todo o caso bvio, ao longo dos
tempos, que existem maneiras muito diversas de conceptualizar (decompondo-o em conceitos, e, por conseguinte, em
sucessivos termos de especialidade) um determinado domnio do conhecimento.
Situando-me eu cientificamente na Germanstica, o prisma mais acentuadamente intercultural que caracteriza a
minha reflexo incidir agora no que as diferenas entre as lnguas alems e portuguesa parecem revelar, no deixando
de me orientar tambm pela conscincia a respeito dos muitos problemas e dinmicas novas que afetam o mundo
contemporneo. porventura cada vez mais desconcertante a cartografia global dos domnios do saber, quer em
resultado dessas mesmas novas dinmicas, quer tambm das especificidades (culturais, econmicas, fsicas, etc.) de
cada lugar e/ou perspetiva sobre a realidade. No fossem, todavia, os intensos esforos de homogeneizao vigentes em
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muitos pases, determinados sobretudo pelos objetivos do comrcio mundial, e poder-se-ia mesmo afirmar que, a cada
lngua, seu catlogo de reas de especialidade, mas tambm sua constelao especfica associada ao conceito.
5. INCURSES PELO ALEMO
A minha abordagem confere naturalmente, pela minha prpria filiao cientfica, uma especial nfase ao lxico
com que venho trabalhando mais, o da lngua alem, pelo que comearei por analisar a palavra composta Fachsprache,
que se traduz por 'linguagem de especialidade'. Trata-se de um termo que integra duas partes, sendo habitual designar-
se a primeira por elemento determinante e a segunda, especificada pelo sentido do primeiro elemento, por elemento
determinado. Se o elemento determinado, Sprache, se verte para portugus ora como 'lngua', ora como 'linguagem' (
o contexto que marca neste caso a diferena), j Fach, o elemento determinante, corresponde, quando usado
isoladamente, a um substantivo que designa conceitos diferenciados, todavia possuindo algo em comum: 'compartimento',
'diviso', 'gaveta', 'cacifo', 'estante', 'prateleira'. No domnio da Botnica, pode designar 'clula' ou 'alvolo', assim como,
do ponto de vista da organizao do sistema de ensino, 'cadeira' ou 'disciplina'. Finalmente, designa tambm o 'ramo de
negcio', a especialidade8.
Curiosamente, encontro este elemento em palavras to corriqueiras do alemo como mehrfach (= 'mltiplo',
'muitas vezes') e einfach (= 'simples'). Numa leitura porventura arrojada da minha parte, mas no menos legtima por isso,
provavelmente ser ento simples aquilo que cabe num s recipiente ou compartimento, tornando-se evidente por que
razo tantos filsofos prezam, e muito, a lngua alem na sua atividade: ela permite a transparncia necessria ao trabalho
por vezes extremamente inglrio de definir com o mximo de rigor os conceitos com que pensamos, articulando-os de
forma eficaz com outros que com eles se relacionam ( esse o caso da polaridade intralinguisticamente gerada entre
einfach e mehrfach), pelo que, para um lusfono, aprender alemo equivale diretamente a enriquecer a nossa prpria
lngua com outros contributos e interpretaes possveis, alm daqueles que ela j de si permite.
Tambm em Cincia crucial saber reduzir descritiva ou explicativamente expresso mais simples (einfach)
um determinado fragmento do real: uma frmula matemtica to mais eloquente quanto mais simples for. Transpondo
agora a mesma lgica (e ideologia subjacente, plasmada tambm no modo como se tm vindo a subsumir numa s vrias
reas de especialidade...) para o assunto que aqui nos ocupa, poder-se-ia ento dizer que um termo tcnico ser to mais
'simples' de entender quanto menos forem as leituras para o mesmo, daqui se inferindo que o ideal seria que possusse
uma nica leitura ou significado. Ora sabemos tambm que, no mundo real da atividade lingustica (raramente isomrfico
com a matemtica pura), nem tal acontece, em parte devido ao que me esforarei por explicar a seguir, nem a simplicidade
expressiva realmente tida por virtude estilstica bem cotada, pelo menos em Portugal, e particularmente em certas
linguagens tcnicas, um aspeto que, ainda que decorra da prpria definio que porventura fazemos do conceito,
considero no ser necessariamente benfico para os nossos ndices de literacia.
Quanto etimologia do elemento Fach, apurei que a sua origem remontar ideia da construo de pequenos
diques com vista pesca ou at com a finalidade de servirem como viveiros para peixes. O termo ter designado um local
delimitado por um muro ou parede, o que pode acontecer at mesmo com um canteiro. Por uma razo similar se designam
como Fachwerkhuser as tradicionais casas alems construdas com base numa estrutura de traves de madeira cujos
intervalos eram preenchidos, nas paredes, ora com tijolo, ora com argila, eventualmente misturada com elementos de
origem animal ou vegetal. Em todo o caso, subentende-se a ideia de uma estrutura, de um enquadramento que depois
preenchido com um determinado contedo. No tambm de estranhar o parentesco de Fach para com fangen ('agarrar',
'caar'). A ideia de delimitao do saber, circunscrevendo-o para melhor o capturar, a fim de que permanea estvel e,
nessa medida, trocvel por midos, comunicvel, evidencia-se a partir destes exemplos retirados de um simples
dicionrio alemo de etimologia escolhido aleatoriamente9, um instrumento de trabalho que parece ter sido esquecido nas
ltimas dcadas, em parte por o estudo das lnguas, movido pelo imediatismo das necessidades do mercado e
8 Baseei-me no Dicionrio de Alemo-Portugus. De acordo com a nova ortografia alem. Porto: Porto Editora, edio de 2000 (1 ed. de 1986). 9 cf. Etymologisches Wrterbuch des Deutschen, elaborado sob a coordenao de Wolfgang Pfeiler, edio de 19973 (1 edio 1995 da edio de bolso de 1995; a que lhe serviu de base de 1989). Mnchen: DTV.
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contingncias similares, ter deslocado o seu fulcro de atividade daquilo que era antes a Filologia para o nem sempre
admirvel mundo das linguagens de especialidade.
6. O SEGREDO A ESPECIALIDADE DO NEGCIO
Na anlise do problema que aqui nos ocupa, no me centrarei mais do que o estritamente necessrio na
concatenao dos dois elementos da composio Fachsprache. No correspondente portugus linguagem de
especialidade deparamo-nos com uma construo progressiva (o primeiro elemento especificado pelo segundo, neste
caso um sintagma preposicional atributivo), caracterizando-se o termo alemo, em sintonia com as exigncias estruturais
da lngua alem, por se organizar de forma regressiva (em que o inverso se verifica), aspeto que, s por si, suscitaria
inmeras especulaes. Omitirei tambm a questo, complexa mas no menos pertinente, de saber se, em funo de
alteraes registadas na esfera do social, uma linguagem de especialidade pode ou no ser equiparada, nos dias de hoje,
a uma lngua, mais at do que a um subconjunto da mesma, uma linguagem ou um certo linguajar, enquanto simples
cdigo de utilizao restrita (refira-se que Sprache remete, consoante o contexto ou a determinao que se lhe apuser,
para todos estes sentidos).
Acima de tudo, interessa-me que se retire do que constatmos atrs a ideia de que um determinado lxico (pelo
menos!) pode ser, e seguramente, em muitos casos, ciosamente guardado ou resguardado de olhares indiscretos. Ou
ento, talvez, a ilao de que os seus utilizadores ou detentores (convinha averiguar se ou no pertinente esta distino)
podero correr o risco de ficar retidos ou gefangen ('apanhados', 'presos', 'em cativeiro'), numa espcie de alvolo mental.
Por razes que se poderiam relacionar com a questo que, pelos corredores das instituies cientficas, se vem
designando informalmente como territrios de poder (ou, metafrica e pejorativamente, por quintinhas ou feudos), no
gostaria de dizer que os que trabalham no seio de uma determinada rea de especialidade se devam considerar como
estando na prateleira (algo que no deixaria de ser potencialmente abarcado por uma das leituras do termo alemo
Fach!). O sentido correspondente ao que tal expresso idiomtica do portugus designa acaba por ter a ver, porventura
na maior parte dos casos, apenas com um subconjunto dos mesmos trabalhadores, designadamente os que so
colocados, ou se autocolocam, de fora ou margem dum saber ciosamente delimitado e mantido rigorosamente impoluto.
Infelizmente, qualquer semelhana entre a situao que acabo de descrever e a realidade que se vem vivendo
em muitos lugares, assim as restries oramentais o vm determinando, no ser apenas coincidncia. O processo de
Bolonha, com a concomitante seriao das universidades, concentrao de mercados, afunilamento de ofertas, revela-se
um condicionalismo que, mais tarde ou mais cedo, levar a que, num determinado local, s estejam disponveis umas
quantas linguagens de especialidade (correspondentes aos ramos de negcio mais atraentes), e no outras, o que coloca
a questo (ou antes as questes) de saber quais so as linguagens de especialidade especficas de uma dada regio ou
pas, ou por ela/ele escolhidas, se que tal escolha realmente possvel.
Para muitos domnios do saber, continua a ser no centro que est a virtude, e no nas margens, porm estas
tm vindo a aumentar em tamanho e em visibilidade, podendo conceber-se que delas possa emergir aquilo que j se vem
designando por novas centralidades, um termo que transpe para a Lingustica um conceito frequentemente ouvido na
boca de urbanistas e de arquitetos. Abalano-me a tal transposio no sentido de exemplificar quo difcil estabelecer
fronteiras rgidas, conceber compartimentos totalmente estanques nas lnguas (e respetivas linguagens de especialidade),
sobretudo num mundo em acelerada mudana. Um mundo em que, mais do que a inrcia do centro, pode fazer toda a
diferena, afinal, a agilidade do pequeno nicho, de que tambm se torna necessrio cuidar adequadamente.
Depreende-se da argumentao at aqui que uma linguagem de especialidade, pese embora a pretenso
frequentemente apregoada de que se deve constituir acima de tudo como veculo privilegiado de entendimento mtuo,
corresponde, em todo o caso, a um cdigo restrito, por vezes mesmo secreto. Assim sendo, s-lo- de igual forma em
minha casa a prpria lngua alem? Com efeito, tanto eu como o meu marido, depois de termos frequentado o Goethe
Institut de Coimbra (encerrado desde 1996), ainda a usamos esporadicamente no seio da famlia, sobretudo naqueles
momentos em que no desejamos que os nossos filhos nos entendam. Aguada todavia por esta via informal a
curiosidade dos mais novos, gostaramos agora que eles, j maiorezinhos, de facto nos entendessem, mas a possibilidade
de aprenderem este cdigo secreto (por sinal a mais falada lngua materna em toda a Unio Europeia...) nas escolas
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pblicas da regio onde vivo tem vindo a tornar-se cada vez mais reduzida, o que, no s possui bvias implicaes para
a prpria rea de especialidade em que trabalho, como me impede, na prtica, de transmitir um saber que, para mim, foi
muito importante aos meus prprios filhos (a menos que desista da profisso e do respetivo vencimento).
Independentemente de todas estas situaes, a muito menos alunos nas escolas, por via duma demografia
recessiva, correspondem hoje, em resultado de prosaicas economias de escala, cada vez menos opes letivas e portanto
tambm cognitivas. Ainda assim, continua a haver reas de especialidade que em muito dependem do conhecimento da
lngua alem: o Direito e a Filosofia so dois exemplos disso mesmo, mas uma srie de outros domnios temticos, que
emergiram da conjugao de reas antes vistas como estanques, no deixam de reivindicar crescentemente o
conhecimento do alemo, desde a Arquitetura Biologia, passando pela Engenharia Mecnica, pela Medicina e at pela
Matemtica. O curioso que esta procura se regista adicionalmente ao ingls, no sentido, no tanto de se adquirir uma
terminologia restrita, de cariz profissionalizante (para usar um termo da moda), mas antes com vista a potenciar relaes
humanas consabidamente determinantes para o sucesso profissional.
Aps o percurso at aqui encetado pela estrutura e etimologia da lngua alem, dirijo o meu olhar apenas para
a palavra portuguesa especialidade, procurando assumir a pele da cidad comum que tambm sou (um exerccio que, de
resto, recomendo a qualquer terminlogo). Ao ouvir o termo, no me lembro imediatamente de uma gaveta ou de um
cacifo, como poder acontecer a um alemo ao ouvir Fach, e muito menos de um dique ou de um muro, j para no falar
numa prateleira. Tambm no creio que me evoque noes ligadas a 'arrumao', 'simplicidade' ou mesmo
'multiplicidade'10. Em vez disso, vem-me imediatamente lembrana a ideia aquilo que nico por ser tambm especial,
num sentido alis mais afetivo que efetivo, e como tal no verdadeiramente contvel (ou contabilizvel), mas em todo o
caso no necessariamente simples (no sentido de 'simplrio', 'corriqueiro'). Embora, claro, tambm o possa ser,
dependendo da arte ou criatividade do cozinheiro: o facto que imediatamente me lembro, ao ouvir o termo portugus,
de um prato gastronmico a especialidade da casa, ou duma dada regio, tantas vezes um segredo bem guardado
(caseirinho, no transfervel ou normalizvel), verdadeira fonte de negcio e/ou sobrevivncia.
Logo neste pormenor encontramos uma diferena substancial entre as maneiras de verter o mundo por palavras,
de o nomear, de o designar e tambm de o organizar. Lidamos aqui, apesar de tudo, com duas lnguas de matriz europeia,
que como tal tm muito em comum. Ainda assim, se no fosse ousado estabelecer nexos de causalidade em matria to
fluida, diria que a diferena que acabmos de constatar se reflete na importncia que adquire em Portugal a rea ou
domnio conceptual e profissional do Turismo, com todo o seu cortejo de categorizaes e de conceitos acoplados
(estendendo-se do domnio da gastronomia para o da construo civil e artes decorativas, hotelaria, etc.). Reconhea-se
porm que poderemos igualmente ser confrontados com as suas disfunes, conforme se poder constatar a seguir,
sendo disso alis sintoma, em parte, a respetiva linguagem de especialidade. Ora uma das disfunes a que me refiro
poder ter-se refletido no episdio que relatarei a seguir, de forma incontornavelmente subjetiva (que vale o que vale,
para usar uma tautologia da moda, a carecer, ainda assim, de olhar atento por parte da Lingustica).
A propsito das atribuies dos prmios Nobel, deu-me nas vistas, no ano passado, que alguns meios de
comunicao social portugueses, em particular a rdio, colocassem uma nfase que ento me pareceu desmesurada na
ementa do jantar oferecido pelo Comit Nobel aos laureados. Porm, era bvio que alguma empresa de hotelaria
portuguesa estava envolvida no servio, e, se bem me lembro, algum vinho luso constava do repasto, pelo que aquilo que
no passava de um pormenor relativamente insignificante (tendo em conta a temtica em questo, e do ponto de vista de
quem olhasse do exterior) mereceu afinal no nosso pas amplas divagaes mediticas. Quanto s questes cientficas
ou polticas relacionadas com tal evento internacional, as notcias tendiam a ser, todavia, duma pobreza inquietante.
pois quando se pretende aceder a pormenores que a nossa lngua e cultura, atravs da comunicao social e no s,
tendem a secundarizar, secundarizando dessa forma os seus falantes, que o conhecimento de outras lnguas acaba por
revelar o seu valor incomensurvel, nem que seja como complemento nossa cultura (mas tambm, tantas vezes, como
verdadeiro suplemento de alma).
10 Num sentido em que ela passvel de ser contada, contabilizada e, nessa medida, organizada, racionalizada, uma vez que aquela que no se perspetiva essencialmente desta forma quantitativa se designa, em alemo, por Vielfalt.
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Retomando a ideia da especialidade gastronmica, concluiria esta parte da minha abordagem afirmando que,
por muito bem que nos saiba, a ns portugueses, o bacalhau com natas, no deixa de ser relevante para o nosso bem-
estar a atitude, condicente com o papel histrico que desempenhmos na poca dos Descobrimentos, de ber den
Tellerrand schauen, ou seja, de 'olhar para l da borda do prato', assim traduzindo letra para o portugus, enriquecendo
nessa medida a nossa lngua, esta expresso idiomtica do alemo, que no est ainda disponvel na lngua lusa com
recurso a tal metfora. Mantendo a minha argumentao no mesmo domnio temtico da gastronomia, acrescentaria que
no faria mal que os falantes do portugus de Portugal (aquele com que mais me identifico) ficassem a saber, por exemplo
atravs da simples consulta de jornais estrangeiros (atividade imprescindvel em muitas reas de especialidade, de que
destaco as que se ligam, direta ou indiretamente, s questes ambientais), que o nosso fiel amigo, o bacalhau, hoje
uma espcie da qual se tem dito estar entretanto ameaada em virtude da respetiva sobrepesca.
Dados os desconcertantes efeitos recprocos observveis numa natureza amplamente modificada por fatores
antropognicos, poderamos talvez dizer que um forte candidato a fiel amigo dos portugueses seria hoje o lagostim da
Louisiana, espcie exgena que h uns anos atrs era catalogada pelos ecologistas como infestante, tendo-se de resto
revelado uma conhecida praga dos nossos campos de arroz. Entretanto, porm, tem vindo a contribuir para o aumento
da populao das to simblicas quanto inteis cegonhas no nosso pas. Se h reais vantagens ou no no esforo,
assente na observao emprica da realidade e, por conseguinte, nos dados das Cincias da Vida, no sentido de
enriquecer ou adequar aos tempos modernos o patrimnio lexical, idiomtico e at gastronmico da lusofonia, algo que
carece de um amplo consenso, na Lingustica e no s.
7. POR UM PENSAR OBLQUO EM CINCIA
O hbito de pensar por gavetinhas mais ou menos estanques, constitutivo das linguagens de especialidade,
deixa prever, porventura ingenuamente, como entidades (incont)estveis a existncia da linguagem da Biologia, da
Qumica, da Lingustica, etc. Dentro da linguagem da Biologia til, por exemplo, subdividir os animais em vertebrados e
invertebrados, em herbvoros, carnvoros e omnvoros, em machos, fmeas e hermafroditas, etc., sendo este um
conhecimento de valor inestimvel que todavia corre o risco de se perder ou de se ter j perdido, em toda a sua substncia,
em muitos locais. Porm, a organizao estruturada e hierrquica de uma determinada rea de especialidade e respetivo
subdiscurso pode tambm, de forma indesejvel, transferir-se para a cabea dos seus utentes, moldando-a (ou,
recorrendo a um termo da Informtica que, com este mesmo sentido, se vem insinuando no portugus comum:
formatando-a). Por paradoxal que possa parecer, no de excluir a hiptese de que a aplicao ou utilizao (a simples
existncia, alis, de determinado saber) exija que ele no circule demasiado, que se mantenha reservado apenas a um
nmero restrito de eleitos que passem determinado crivo e ascendam a um patamar hierarquicamente superior, o que,
por sua vez, suscita no raras vezes alguma falta de transparncia, bem como as estratgias e mecanismos retricos ou
expressivos que lhe esto associados.
Em contrapartida, certos novos domnios temticos obrigam a que os seus frequentadores deixem
temporariamente de lado determinados pormenores, uma vez que algum arcaboio cognitivo herdado pode revelar-se um
lastro impeditivo de uma penetrao gil e clere de temticas igualmente essenciais. No quer isto dizer que tais
pormenores no sejam necessrios, apenas no so ativados necessariamente a todo o momento. Assim, todas as
reas que se definem pela interface obrigam a uma tal sntese (que, como tal, equivale a algo de novo, com a sua
estruturao prpria). Um termo que vem sendo usado na Alemanha para dar conta da emergncia destas novas formas
de pensar, muitas vezes em rede, a palavra querdenken, proposta por Hans Peter Drr11. Como o autor afirma, este
11 Hans Peter Drr um reputado fsico alemo, discpulo de Werner Heisenberg mas tambm Prmio Nobel Alternativo, em virtude da sua vertente ambientalista e pacifista. Foi laureado em 2004 com a cruz de mrito do Estado Alemo. O artigo em que me baseio (publicado num volume em homenagem ao ecolinguista Peter Finke, seu colega e amigo, tambm ele detentor em 2004 de um doutoramento honoris causa em Ecologia pela universidade de Debreen, na Hungria) intitula-se da seguinte forma: Was heit wissenschaftliches Querdenken? Modelle und Thesen zum wissenschaftlichen Querdenken [traduzindo: o que significa 'pensar oblquo' em cincia? Modelos e teses em torno duma cincia oblqua], encontrando-se publicado na antologia vinda a lume, sob a organizao de Nilgn Yce & Peter Plger (2003), Die Vielfalt der Wechselwirkung. Eine transdisziplinre Exkursion im Umfeld der Evolutionren Kulturkologie[A diversidade das relaes recprocas. Uma excurso transdisciplinar em torno da Ecologia Cultural Evolucionista]. Mnchen: Karl Alber.
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um tipo de pensamento que permite fazer com que emerjam estilos de vida sustentveis12. O morfema quer, que nos leva,
na traduo, para a ideia de obliquidade, poderia fazer-nos pensar em algo que frontalmente se ope (como que
atravessando-se-lhe frente) ao pensamento analtico, porm o autor rejeita tal simplismo interpretativo: no se trata,
em seu entender, de entrar no pensamento fragmentador, objetivador, analtico por portas travessas, mas antes de
considerar que h um saber mais abrangente ainda do que o das Cincias Exatas (Naturwissenschaften), ou mais
generoso do que o das Cincias do Esprito (Geisteswissenschaften), dado que conseguimos sempre perceber mais do
que aquilo que apreendemos (aqui, num sentido prximo de agarrar, be-greifen). Diz-nos ainda Drr (p. 61): a cincia
moderna j estabeleceu que, em rigor, a realidade no conhecvel13.
Ora este pensar oblquo, por vezes algo transgressivo, que no se deixa agarrar simplisticamente num s alvolo,
nem sempre tido em conta nas suas plenas potencialidades: costuma ser encarado como uma maneira de pensar
desarrumada, que no encaixa, que no bate certo. Porm, como alguma desarrumao no deixa de ser
inevitvel e at til, sobretudo em momentos de acelerada mudana, passarei a seguir de perto, associativamente, o fio
argumentativo a que me conduz a expresso idiomtica que acabo de usar, uma vez que se torna empolgante explic-la
sem a tentao de arrumar o assunto, de forma expedita, com o j algo estafado argumento da arbitrariedade do signo
lingustico: assim, ela remete para uma rea de especialidade no seio da Medicina, hoje quase esquecida mas em tempos
remotos de importncia vital, a Pulsologia (a arte ou tcnica de medir as pulsaes). Dei alis por mim, neste ano letivo,
a falar de Histria da Medicina aos meus alunos de Lingustica, dado que fiquei a saber da sua existncia quando tambm
eu no resisti a olhar para l da borda do prato, conduzida por um linguista a quem j atrs me referi, Harald Weinrich,
atravs do seu livro mais recente14.
Um livro, de resto, no diretamente sobre Lingustica: divagando em torno das noes de tempo, nele o romanista
alemo demonstra a enorme sageza do seu pensar, bem como a multifacetada generosidade que o caracteriza como
literato genuinamente curioso, no s ao retirar cuidadosamente dos escombros de alguma Lingustica moderna essa to
esquecida mas fascinante arte que ainda hoje pode ser a Etimologia, como tambm ao promover a consulta inteligente,
madura e deliciosamente diletante dessas maravilhosas ferramentas de cognio que so os vrios autores, de
diversas reas incluindo simples escritores , que sobre o tema tempo, ao longo dos sculos, se pronunciaram. O
que unifica todo este domnio cognitivo pois um determinado tema, mas ser Weinrich, por ter escrito este livro, perito
em Tempologia? Com o excesso de designaes para cursos ou reas de especialidade, e a urgncia em eliminar muitas
delas, em nome da harmonizao de ofertas induzida pelo Processo de Bolonha, o mais provvel que nunca o viesse
a poder ser.
Numa altura em que, apesar de tudo, continua a ser recorrente sublinhar a importncia das interseces entre
reas de especialidade, enfatizando a to apregoada transdisciplinaridade, no deixa de ser triste constatar uma
espcie de encapsulamento progressivo. Em parte, fruto de fatores exgenos s dinmicas prprias da atividade
cognoscitiva, e, em particular, como resultado, tambm, da eroso do papel dos Estados, por via das restries
oramentais que vm pondo em causa a sobrevivncia de uma mirade de reas do saber, algumas de importncia crucial.
Refiro-me no s quelas a que qualquer amante das lnguas se dedica, as Filologias, como tambm (porque no?)
prpria Pulsologia, no domnio da Medicina. Continua a ser relevante tomar o pulso realidade, senti-la ou palp-la, e
no apenas monitoriz-la com recurso a meios de diagnstico caros e sofisticados! Na Alemanha existe alis um
neologismo em circulao para designar as reas de especialidade que mais tm sido afetadas por este processo
desagregador: Orchideenfcher, ou disciplinas orqudea, porque muito belas mas tambm raras, autnticas
especialidades a no destruir, relquias a no pisotear desleixada e arrogantemente.
Um tal encapsulamento e, mais do que isso, a supresso de muitas das gavetinhas do saber que antes
enriqueciam a nossa paisagem cognitiva e cultural, prejudicial quilo que, ainda assim, deveria subjazer s linguagens
12 Acerca da linguagem da sustentabilidade, termo que, segundo alguns, configura uma rea de estudos s por si, refira-se o trabalho de Adelaide Chichorro Ferreira (2005), Lxico e Estilo do Desenvolvimento Sustentvel (Alemo-Portugus). Centro Interuniversitrio de Estudos Germansticos. Coimbra: coleo Cadernos do CIEG, n 13. 13 Por razes que se prendem com o que venho afirmando, mas tambm com os exemplos que fornecerei adiante, evito na traduo (preservando por literalidade intencional o aroma extico da lngua de partida) o eruditismo cognoscvel que, a meu ver, no d to bem conta da enorme transparncia que carateriza a lngua alem. 14 Harald Weinrich (2005), Knappe Zeit. Kunst und konomie des befristeten Lebens [O tempo que escasseia. Arte e economia da vida a prazo] Mnchen: Beck.
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de especialidade: permitir aumentar o saber que o ser humano consegue codificar, cartografar e nomear, no para que
esse saber permanea esttico, petrificado, por sculos e sculos, mas para que seja partilhado e mantido pelos utentes
do mesmo, a fim de que, em caso de necessidade, possa tambm ser usado e aplicado, sempre que tal se mostre
relevante. Em suma, se, por um lado, nos deparamos com um bias cultural mediante o qual s dado valor (econmico)
ao que encaixa e sobretudo ao que encaixa no mundo das tecnologias, ou de uma retrica que simule um pensar
tecnolgico , no menos verdade que, para se poder encaixar em algum lado, tem de definir-se, ou conceber-se,
uma caixa ou uma gaveta (nem que seja provisria, uma espcie de caixa de sapatos...) em que arrumar determinado
assunto ou tema de que se fale.
Pode no ser consolo para alguns de ns, que vemos esvarem-se os edifcios em que vimos morando
intelectualmente de h dcadas a esta parte, mas o facto que sempre houve, ao longo da histria da Cincia e da
Cultura, e da Lingustica em particular, fenmenos que armazenmos temporariamente numa chamada Restgruppe, ou
grupo restante, por a sua classificao extravasar os meios conceptuais existentes num dado momento. S por si, este
dado seria suficiente para que pudssemos sentir-nos mais tranquilos. Todavia, e para usar a terminologia de Boaventura
de Sousa Santos, d-se hoje o fenmeno no escamotevel da produo de ausncias, tanto no saber como nas
democracias15.
8. REAS-HFEN
Se na rea da Construo Civil tais ausncias continuamente a serem produzidas contemplam em Portugal as
vertentes ainda hbridas (o hfen sinaliza tal hibridismo), ou marginais, que em alemo cruzam, por exemplo, a Construo
Civil em sentido convencional ( base de beto) com a Biologia (designadamente, a construo de edifcios
biologicamente adaptados ao ser humano, mediante uma escolha refletida, e alternativa, dos materiais, ou mediante a
simples manuteno em boas condies do que j existe), no que toca Lingustica essa produo de ausncias vem
afetando a Ecolingustica (na sua vertente mais crtica e interventiva), que cruza pelo menos duas reas do saber distintas,
a Lingustica e a Ecologia. Ora um entrecruzar de domnios de especialidade no passa simplesmente por colocar um
hfen entre a designao de uma rea e da outra, uma vez que implica, antes de mais, um trabalho de fertilizao mtua,
pela articulao de duas culturas em alguns pontos totalmente diferentes, embora em muitos aspetos tambm
semelhantes. Que esta cross-fertilization de facto existe, nota-se numa srie de outras tendncias que, aqui e ali, venho
observando, e que enumerarei de seguida.
Em abono da verdade, refira-se que tambm na rea da Fsica se publicam hoje textos sobre literatura (muito
embora relacionados com a histria da Fsica), quase dando a sensao de que so os fsicos, e no os formados em
Letras, que mais deleite encontram nas belas letras. H tambm livros com alto grau de tecnicidade todavia redigidos
um pouco maneira de obras literrias (veja-se o caso de Antnio Damsio, e o seu livro sobre Espinosa16), e,
inversamente, anncios publicitrios que vivem da simulao o mais rigorosa possvel de uma linguagem puramente
tcnica (bata branca e tudo, como num recente spot televisivo sobre um dentfrico). Numa obra dedicada Qumica17,
deparei-me com profusas referncias terminologia tcnica da Lingustica. Seja como metfora ou artifcio decorativo,
para efeitos de marketing da rea ou tecnologia em causa, ou com finalidades pedaggicas, talvez valesse a pena as
filologias descerem um pouco do pedestal que a si prprias ao longo das dcadas erigiram, no sentido de olharem em
volta e se deixarem fertilizar pelo mundo em muitos pontos agressivo e imperfeito no qual vivemos em tempo real
(para de novo recorrer linguagem informtica).
Estudar linguagens de especialidade implica ter em conta todos estes aspetos, e no somente aqueles que
dizem respeito s particularidades lexicais que mais se costuma colocar em evidncia, designadamente a utilizao de
15 cf. Boaventura de Sousa Santos (2005), O Frum Social Mundial. Manual de uso. Edies Afrontamento, pp. 19-23 (cap. 2.1. O frum Social Mundial e a sociologia das ausncias), em particular o seguinte excerto (pp. 19-20): So vrias as lgicas e os processos atravs dos quais os critrios hegemnicos de racionalidade e de eficcia produzem a no-existncia do que no cabe neles. H produo de no-existncia sempre que uma dada entidade desqualificada e tornada invisvel, ininteligvel e descartada de um modo irreversvel. 16 cf. Antnio Damsio (2003), Ao Encontro de Espinosa. As emoes sociais e a neurologia do Sentir. Publicaes Europa-Amrica. 17 Pierre Laszlo (1995), A palavra das coisas ou a linguagem da qumica. Trad. de Raquel Gonalves e Ana Simes. Coleo Cincia Aberta, Gradiva.
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uma terminologia prpria, constituda por termos tcnicos cuja definio o mais possvel inequvoca para o universo dos
seus utentes. Nem ela realmente sempre inequvoca (vai em muitos casos sendo construda ao longo dos tempos, e
redefinida em funo das novas aquisies cognitivas, que todavia no podem ser alcanadas sem algum entendimento
prvio relativamente aos degraus terminolgicos a percorrer at se alcanar um nvel ou patamar superior de
conhecimento), nem a linguagem de uma rea de especialidade se limita a ser a daqueles que nela trabalham.
Assim descrita, no uma mera nomenclatura, um sistema organizado de conceitos associados a determinadas
designaes que abarcam um domnio particular do saber ou rea de atividade, normalmente de natureza profissional,
havendo lugar, nesse mesmo sistema conceptual, no s a hierarquizaes de conted