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Page 1: Intel ISEF 2014, matéria publicada em O GLOBO em 19 de maio de 2014

18 l O GLOBO Segunda-feira 19 .5 .2014

SociedadeCIÊNCIA E TECNOLOGIA_

Nossos Professores PardaisJovens cientistas brasileiros ganham prêmios e reconhecimento na feira da Intel, nos EUA

DIVULGAÇÃO

Cientistas do futuro. No ISEF, concorreram 1.783 estudantes de 70 países, sendo 34 brasileiros, em 18 projetos

-LOS ANGELES- Da localização das estrelas no céu aum inseticida contra a dengue, passando porsoluções para transplantados e contenção dederramamento de óleo, os brasileiros marcarampresença no ISEF 2014, a megafeira de ciênciasda Intel que foi realizada semana passada. Entre1.783 estudantes de 70 países, o Brasil compare-ceu com 34 alunos de oito estados, 18 projetosfinalistas e, desses, três foram premiados.

O “MASE – Membrana de Absorção Seletiva”,de Gabriel Chiomento da Motta e Raíssa Müller,da Fundação Escola Técnica Liberato SalzanoVieira da Cunha, de Novo Hamburgo (RS), foium dos ganhadores do 2º lugar na categoria“Engenharia: Materiais e Bioengenharia”, comprêmio em dinheiro de US$ 1,5 mil. Os estudan-tes desenvolveram uma membrana porosa quepode ser aplicada na contenção de derrama-mentos de petróleo e óleos em geral, evitando acontaminação de solos. Além do prêmio em di-nheiro, Gabriel e Raíssa terão dois asteroidesbatizados com seus nomes.

— Nosso projeto foi motivado pela própria es-cola, que buscava uma pesquisa com foco nosderramamentos de petróleo, um problema ambi-ental de grande impacto, mas que dispõe de solu-ções bastante limitadas — observou Gabriel.

Já o projeto “Produção da L-Asparaginase a Par-tir do Grão de Kefir”, de Bárbara Carolina Feder-hen, também da Fundação Liberato, foi um dospremiados com o 3º lugar na categoria “Bioquími-ca”, com US$ 1 mil. O projeto estudou a produçãode uma enzima amplamente utilizada no trata-mento de pessoas com leucemia linfoide aguda.

— Ela atua convertendo a fonte de energia dascélulas cancerígenas em ácido aspártico e amô-nia, incapazes de ser digeridos por essas célulasdoentes — explicou Bárbara.

E o projeto “Responsabilidade (em casa) parareciclar fraldas descartáveis”, de Salvador Alva-rado, da Escola Americana de Campinas (SP),foi um dos premiados com o 3º lugar na catego-ria “Gestão Ambiental”, também com US$ 1 mil.

— A ideia é reduzir a quantidade de fraldasque vão para aterros sanitários, separando deforma eficaz os polímeros (presentes no interiordas fraldas) do plástico — contou Salvador. —Com a técnica, os polímeros de dentro das fral-das poderiam ser reutilizados, ou mesmo ven-didos como adubo. Já o restante do plástico po-de ser reciclado tradicionalmente.

ESTUDANTE RECEBEU VISITA DO NOBEL DE FÍSICAUm dos que chamaram a atenção na feira foi o“Star Tracker", de Leonardo Vasconcelos Lopes,do Instituto Federal do Mato Grosso do Sul: umdispositivo desenvolvido para localizar corposcelestes através de um aplicativo para platafor-ma Android. Com o céu modelado em interfacegráfica 3D feito em Java e usando OpenGL, ousuário seleciona uma estrela e, com as coorde-nadas do corpo celeste e cálculos de tempo si-deral, é possível conhecer sua direção em rela-ção à posição do observador. O estande desteprojeto recebeu a visita de John C. Mather, lau-reado com o Prêmio Nobel de Física em 2006.

Em outro projeto, criado por Leonardo Gabrielda Paz e Lucas Manique Leal, da Fundação Esco-la Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha (RS),um app Android analisa as aberturas da casa, osequipamentos eletroeletrônicos e a iluminaçãopara avisar a pessoas com deficiência visual se al-go está aberto/ligado ou fechado/desligado.

E você sabia que a castanha de caju pode ajudara combater a dengue? Gabriel Tiago Galdino, doColégio Nova Escola (MS), aproveitou o líquido dacastanha de caju, descartado pela indústria, paradesenvolver uma solução inseticida adesiva, paracontrolar as larvas do vetor da dengue, o mosquito

Aedes aegypti. Os testes mostraram redução de97% das larvas em 24 horas, segundo Gabriel.

Já a aposta da estudante Ângela Ferreira deOliveira, da Escola Técnica Professor CarmelinoCorrea Júnior (SP), foi uma alternativa para otratamento de pele de queimados e outras do-enças de difícil cicatrização. Ela desenvolveuum tecido que mimetiza a pele humana, comtoda a sua estrutura de epiderme e de derme,obtido por meio de uma técnica de purificaçãoda pele suína. Uma vez transplantada, a pelesintética elimina os problemas de rejeição semcolocar em risco o sistema imunológico do pa-ciente transplantado.

O CORPOS (Corretor Ortopédico de Postura)é um sistema de monitoramento de postura quebusca corrigir e prevenir lesões à coluna verte-bral, acompanhando a evolução do usuário aolongo do tempo. O projeto é de Lucas Henz Gar-cia, Lucas Raupp Hans e Murilo Machado Pinto,da Fundação Escola Técnica Liberato SalzanoVieira da Cunha (RS).

Do Estado do Rio, uma pesquisa envolvendocélulas-tronco provenientes do leite maternoprocura estabelecer uma metodologia para ma-nutenção “in vitro” destas células. No futuro, es-ta pode ser uma alternativa de tratamento para

pacientes que sofreram lesões cardíacas, causa-das, por exemplo, por um infarto do miocárdio.As estudantes responsáveis pelo projeto sãoMaira Ferreira Lopes, Luiza Maíra Ribeiro daSilva e Maitê Campos Corrêa Mascarenhas, doInstituto Federal de Educação, Ciência e Tecno-logia do Rio de Janeiro (IFRJ).

Uma solução complexa usa a genética paracombater o câncer. É o projeto de Eduardo Padi-lha Antonio, do Centro Universitário Adventistade São Paulo (Unasp), que insere genes do vírusHPV em células afetadas por XP (doença raraque dá hipersensibilidade à luz solar e envelhe-cimento precoce). A alteração genética pode le-var à maior eficácia no tratamento de câncer decolo de útero, segundo a pesquisa.

As soluções de saúde do futuro parecemapontar para uma “medicina customizada",mas o Nobel de Medicina de 2002, H. RobertHorvitz alertou em conferência no evento queeste ainda é um grande desafio.

— Para alcançá-lo, precisaremos armazenar etratar uma quantidade fenomenal de dados,mas antes disso precisamos baixar o custo doacesso à saúde — ponderou. l

CARLOS ALBERTO TEIXEIRA*Enviado [email protected]

*O repórter viajou a convite da Intel

Medicina

Quatro prêmios, três projetos

Brasileiros premiados na feira: Bárbara estudou umaenzima antileucemia; Gabriel e Raíssa criaram umamembrana para conter derramamentos de petróleo; eSalvador, projeto para reciclar fraldas descartáveis.

Ecologia e química

Star Tracker via Android

O estudante Leonardo Vasconcelos Lopes explicaseu projeto a John C. Mather, Nobel de Física de2006: o dispositivo localiza corpos celestes pormeio de um aplicativo para plataforma Android.

Astronomia

Titanossauro de 40metros e 80T pode tersido o maior da Terra

-TRELEW, ARGENTINA- Diante do tama-nho do fêmur do dinossauro des-coberto por uma expedição ar-gentina — possivelmente o mai-or já encontrado até hoje —, foidifícil resistir à tentação: criançasposaram para fotos sentadas eaté deitadas sobre o osso fossili-zado, em exibição no Museu Pa-leontológico Egidio Feruglio(MEF), em Trelew. E a compara-ção com os miúdos só evidenciaa grandiosidade do animal.

Os cientistas acreditam que odinossauro, que tem aproxima-damente 95 milhões de anos, ti-nha cerca de 40 metros de com-primento e pesava em torno de80 toneladas — o equivalente a14 elefantes africanos juntos e se-te toneladas a mais que o recor-dista anterior, o Argentinossauro.

Os fósseis do animal, de umgrupo particular de saurópodes,os titanossauros foram encontra-dos acidentalmente em 2013, porum trabalhador rural na provín-cia de Chubut, a 1.300 quilôme-tros do Sul de Buenos Aires.

Ao todo, sete desses dinossau-ros herbívoros, provavelmente

as maiores criaturas que já an-daram sobre a Terra no fim daera Mesozoica, foram encontra-dos na província de Chubut.

O paleontólogo José Luis Car-ballido, do MEF, destacou a boacondição dos fósseis encontra-dos, mas Paul Barrett, especia-lista em dinossauros do Museude História Natural de Londres,alerta que há uma série de sau-rópodes com grandes ossos.

— O problema em comparar oArgentinossauro a este é que am-bos são baseados em amostrasfragmentadas, não há esqueletocompleto conhecido — ponde-rou, em entrevista à BBC. l

Fósseis de um gigante argentino de 95 milhões de anos de idadeREUTERS

Fêmur. Menina deita no osso fossilizado em exibição na cidade de Trelew

O TAMANHOCOMPARADO

40 metrosDinossauro argentino

14 metrosem médiaÔnibus

30 metrosBaleia azul

Células-tronco contra lesões cardíacasMaira, Luiza e Maitê, do IFRJ: pesquisa dasestudantes envolve células-tronco provenientes doleite materno usadas em terapia celular parapacientes que sofreram lesões cardíacas.

Sistema para corrigir a coluna

OCORPOS monitora angulações posturais eacompanha a evolução do usuário. Os estudantes daFundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira daCunha (RS) querem prevenir lesões na coluna.

Ergonomia

U

OS PROJETOS

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