Geografia para o Ensino Fundamental (séries iniciais) a partir dos
Parâmetros Curriculares Nacionais
Éderson Dias de Oliveira
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: História, Geografia, ensino de primeira à quarta série, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. 166p.
PCN de Geografia
Os PCN de 1997, permitem uma visão da realidade local e global - percepção ampliada que nos leva a refletir e intervir nos espaços e tempos diferenciados;
É um documento auxiliar para a ação pedagógica na formação de cidadãos conscientes partícipes da sociedade;
Dada a complexidade da prática educativa esse documento visa auxiliar os professores na prática do seu papel;
A Geografia e suas divergências
• A produção acadêmica em torno da Geografia apresentou diferentes concepções históricas, sendo que a nível de Brasil, em 1934 foi instalado o primeiro curso de Geografia na USP – Escola francesa - La Blache;
• Esse ensino, focou em explicações objetivas e quantitativas – não-politizada - neutralidade do discurso científico;• Essa tendência da Geografia e as correntes que dela se desdobraram foram chamadas de Geografia Tradicional.
• Por exemplo, estudava-se a população, mas não a sociedade; as técnicas e os instrumentos de trabalho, mas não o processo de produção.
Ou seja, não se discutiam as relações intrínsecas à sociedade, abstraindo assim o homem de seu caráter social.
Relação homem x meio com abordagem objetiva – leis gerais;
Geografia Tradicional – priorização da relação homem x meio / secundarização das relações sociais;
Não se discutiam as relações intrínsecas à sociedade, abstraindo assim o homem de seu caráter social - viés naturalizante;
Estudo descritivo das paisagens naturais e humanizadas, de forma dissociada do espaço vivido;
Os procedimentos didáticos promoviam a descrição e a memorização dos elementos que compõem as paisagens sem, contudo, esperar que os alunos estabelecessem relações, analogias ou generalizações;
Descrição e memorização dos elementos que compõem as paisagens - Geografia neutra;
Influência nos livros didáticos até meados da década de 1970;
Quebra de paradigmas na análise do Espaço Geográfico
• Mudanças nas dinâmicas tempôro-espacial da 2ª metade do séc. XX - No pós-guerra, a realidade tornou-se mais complexa:
• O desenvolvimento do capitalismo afastou-se da fase concor-rencial e penetrou na fase monopolista do grande capital;
• A urbanização acentuou-se e megalópoles começaram a se constituir;
• O espaço agrário sofreu as modificações estruturais comandadas pela Revolução Verde, em função da industrialização e da mecanização das atividades agrícolas em várias partes do mundo;
• Os métodos e as teorias da Geografia Tradicional tornaram-se insuficientes para apreender e explicar essa complexidade;
• Demanda por estudos voltados para a análise das relações mundiais, de ordem econômica, social, política e ideológica;
• Emprego do meio técnico e científico - tecnologias aeroespaciais, tais como o sensoriamento remoto, as fotos de satélite e o computador;• Nos anos de 1960, emergem as influência das teorias marxistas - preocupações do relacional sociedade-trabalho-natureza na produção do espaço geográfico político;
Essa nova perspectiva considera que não basta explicar o mundo, é preciso transformá-lo;
Assim a Geografia ganha conteúdos políticos que são significativos na formação do cidadão;
Surge uma nova forma de se interpretar as categorias de espaço geográfico, território e paisagem – influencia nas propostas curriculares do EF;
Todavia essas propostas, foram centradas em questões econômicas e as relações de trabalho, com um alto grau de complexidade para os alunos;
Há ainda professores e livros didáticos que conservam a linha tradicional, descritiva e desconexa herdada da GT;
Tanto a GT quanto a GM ortodoxa negligenciaram a relação do homem e da sociedade com a natureza em sua dimensão sensível de percepção do mundo;
O cientificismo da GT, por negar ao homem a possibilidade de um conhecimento que passasse pela subjetividade do imaginário;
O marxismo ortodoxo, por tachar de idealismo alienante qualquer explicação subjetiva e afetiva da relação da sociedade com a natureza;
Uma das características da produção acadêmica da Geografia nos últimos anos são as abordagens com dimensões subjetivas - singularidades que o homem estabelece com a natureza.
São dimensões socialmente elaboradas, fruto das experiências individuais na cultura das quais se inserem - resultando em diferentes percepções do espaço geográfico;
Necessidade de explicações mais plurais, que promovam a interseção da Geografia com outros campos do saber (Antropologia, Sociologia, Biologia, Ciências Políticas e etc);
Busca da superação da Geografia apenas centrada na descrição empírica das paisagens, tampouco na interpretação política e econômica do mundo;
Demanda de uma Geografia que trabalhe as múltiplas interações estabelecidas entre os elementos socioculturais e os físicos - biológicos, na constituição do espaço geográfico
As sucessivas mudanças e debates em torno do objeto e método da Geografia favoreceram novos modelos didáticos;
Nota-se também pouco apoio técnico e teórico, aos professores – ensino apenas na descrição dos fatos e embasados quase que exclusivamente no livro didático;
Segundo análise feita pela Fundação Carlos Chagas, nota-se também problemas, nas propostas curriculares produzidas nos últimos anos, de ordem epistêmica e teóricas como:
• abandono de conteúdos fundamentais como as categorias de análise bem como do estudo dos elementos físicos e biológicos;
• Existência de modismos que buscam sensibilizar os alunos para temáticas atuais, sem uma preocupação em compreender os múltiplos fatores delas decorrentes. Ex. sustentabilidade - pouca compreensão processual - aprendizagem de slogans;
Noção de escala espaço-temporal por vezes confusa – necessidade de relacionar o local no global e vice-versa, e como o espaço materializa diferentes tempos (soc. e da nat.);
Propostas pedagógicas dicotomizadas GH x GF: ou a abordagem é somente social e a natureza é um apêndice, ou então se trabalha os fenômenos naturais de forma pura – isso em detrimento de uma abordagem socioambiental;
Zelo pela memorização - o que se avalia é se o aluno memorizou ou não os conteúdos trabalhados e não aquilo que pôde compreender das múltiplas relações existentes - capacidade de problematizar e resolver realidades distintas;
O ensino de Geografia pode levar os alunos a compreenderem de forma mais ampla a realidade – possibilidade de intervenção mais consciente e propositiva;
Para tanto, é preciso que eles adquiram conhecimentos, dominem categorias, conceitos e procedimentos básicos com os quais este campo do conhecimento opera; Portanto é preciso compreender as relações socioambientais às quais historicamente pertence – execução de uma forma singular de pensar realidade: o conhecimento geográfico;
Objetivo da Geografia -> explicar e compreender as relações entre a sociedade e a natureza -> diferentes noções espaciais e temporais -> fenômenos sociais, culturais e naturais.
A geografia deve mostrar ao aluno o que é cidadania e o sentimento de pertencer a uma realidade -> e sentir-se membro participante e afetivamente ligado, responsável e comprometido historicamente.
Conhecimento geográfico: característica/importância social
• A Geografia estuda as relações entre o processo histórico das sociedades e o funcionamento da natureza, por meio da leitura do espaço/paisagem;
O espaço geográfico é produzido pelo homem enquanto organiza econômica e socialmente sua sociedade em épocas distintas.
• A G. se divide em estudos da sociedade/natureza possibilitan-do um aprofundamento temático de seus objetos de estudo;
• Essa divisão é um recurso didático, para distinguir os elementos sociais ou naturais;
• Porém, o objetivo é compreender as relações sociedade - natureza, e como ocorre a apropriação desta por aquela;
• Identificar e relacionar aquilo que na paisagem representa as heranças das sucessivas relações no tempo entre a sociedade e a natureza é um de seus objetivos.• Dessa forma, a análise da paisagem deve focar as dinâmicas de suas transformações e não a descrição de um mundo estático;
• A compreensão dessas dinâmicas requer movimentos constantes entre os processos sociais e os físicos/biológicos , inseridos em contextos particulares ou gerais.
• Para tanto, é preciso buscar explicações para aquilo que, numa paisagem, podendo ser compreendido mediante a análise do processo de produção/ organização do espaço.
• O espaço geográfico é historicamente produzido pelo homem enquanto organiza socioeconomicamente sua sociedade.
Assim, o estudo da paisagem como síntese (totalidade) de múltiplos espaços e tempos deve considerar o espaço vivido/percebido e o espaço produzido/concreto;
A percepção espacial de cada indivíduo/sociedade é também marcada por laços afetivos e referências socioculturais.
Nessa perspectiva, a historicidade enfoca o homem como sujeito construtor, que imprime seus valores no processo de construção de seu espaço.
Pensar sobre essas noções de espaço demanda a compreensão subjetiva da paisagem como lugar: a mesma ganhando significados para aqueles que a vivem e a constroem;
No EF, é importante considerar quais são as categorias da G. mais adequadas para os alunos em relação às capacidades que se espera que eles desenvolvam - espaço geográfico central;
O conceito de território é bastante amplo, sendo que se define também pelo espaço identificada pela posse. Na geopolítica, é o espaço nacional ou área controlada por um Estado nacional;
Entretanto, território não é apenas a configuração política de um Estado-Nação, mas sim o espaço construído pela formação social;
• Território implica também compreender a complexidade da convivência no espaço, nem sempre harmônica - diversidade de tendências, ideias, crenças, sistemas de pensamento e tradições de diferentes povos e etnias;
• Coexistência de múltiplas identidades que se influenciam reciprocamente, definindo e redefinindo aquilo que poderia ser chamado de uma identidade nacional;
• Há o sentimento de pertencimento que envolve a compreensão da várias culturas – busca do reconhecimento de suas especificidades, daquilo que lhes é próprio.• O território possui uma relação estreita com a paisagem.
• Pode até mesmo ser considerada como o conjunto de paisagens polarizado por um poder central;
• A paisagem, é definida como sendo uma unidade visual, caracterizada por fatores de ordem social, cultural e natural, contendo espaços e tempos distintos; o passado e o presente - é o velho no novo e o novo no velho!
• É nela que estão expressas as marcas da história de uma sociedade, fazendo assim, da paisagem uma soma de tempos desiguais - combinação de espaços geográficos.
• A paisagem, por sua vez, está relacionada ao lugar. Pertencer a um território e sua paisagem significa fazer dele o seu lugar de vida e estabelecer uma identidade;
• Portanto, o lugar traduz os espaços com os quais temos vínculos mais afetivos e subjetivos que racionais e objetivos:
• Ex. uma praça, onde se brinca desde menino, a janela de onde se vê a rua, o alto de uma colina, de onde se avista a cidade;
•O lugar é onde estão as referências pessoais e o sistema de valores que direcionam as diferentes formas de perceber e constituir a paisagem e o espaço geográfico.
(SEED – 2013) É o espaço onde o particular, o histórico, o cultural e a identidade permanecem presentes, revelando especificidades, subjetividades e racionalidades. Por outro lado, é no espaço local que as empresas negociam seus interesses, definem onde querem se instalar ou de onde vão se retirar. DCE - Geografia. PR, 2008. O conceito geográfico em destaque no fragmento é:
A) paisagem.B) região.C) território.D) lugar.E) natureza.
*Suertegaray (2003) imagina o girar de um disco no qual estão grafados com diversidade de cores os conceitos da Geografia.
*Dessa maneira território, região, lugar e paisagem se condensam no girar do disco, e no mosaico de cores compondo o espaço geográfico, que é a união das outras categorias;
*O homem em toda sua complexidade e totalidade é quem anima tais categorias, é a força motriz de seu movimento, é o grande produtor de espaço geográfico.
*Não fosse sua presença no planeta haveria apenas paisagens, deixando de haver, portanto;* território, porque não haveria uso, territorialização;
* regiões, porque não haveria funcionalidade, integração, articulação, distinção;
* lugar, porque não haveria apropriação; e,
*por fim, espaço geográfico, porque não haveria produção, ações e objetos animados.
*Para Santos (2004), existiria apenas paisagem porque restariam as formas, mas uma paisagem inanimada, estática, cuja única dinâmica seria aquela das forças escultoras internas e externas, contudo, não existiria espaço geográfico porque não existiria ação humana;
Aprender e ensinar geografia no EF
A maneira mais comum de se ensinar Geografia tem sido pelo discurso do professor ou pelo livro didático, de forma memorativa e desconexa da realidade do aluno;
É preciso que eles desenvolvam a capacidade de identificar e refletir sobre diferentes aspectos da realidade, compreendendo a relação sociedade-natureza.
A paisagem local, o espaço vivido pelos alunos deve ser o objeto de estudo ao longo dos dois primeiros ciclos.
Para tanto, o estudo da sociedade e da natureza deve ser realizado de forma conjunta.
Nessa professores/alunos devem entender que a sociedade e a natureza constituem a base material/física sobre a qual o espaço geográfico é construído.
A compreensão de como a realidade local relaciona-se com o contexto global, deve ser desenvolvido durante toda a escolaridade, desde os ciclos iniciais.
Além disso, o estudo da paisagem local não deve se restringir à mera constatação e descrição dos fenômenos que a constituem.
Deve-se também buscar as relações entre a sociedade e a natureza que aí se encontram presentes, situando-as em diferentes escalas espaciais e temporais, comparando-as, conferindo-lhes significados, compreendendo-as; A Geografia, ao pretender o estudo dos lugares, suas paisagens e território, tem buscado um trabalho interdisciplinar, lançando mão de outras fontes de informação. Ex. Geografia x Literatura;
Também a música, a fotografia e o cinema são fontes utilizadas para obter informações e para interpretar as paisagens, construindo conhecimentos do espaço geográfico;
Na escola, fotos comuns, aéreas, filmes, gravuras e vídeos também podem ser usados como fontes de interpretação do espaço/paisagem - as imagens são produtos do trabalho humano, localizáveis no tempo e no espaço;
O estudo da linguagem cartográfica, por sua vez, contribui para compreensão/utilização dos mapas, e também a capacidade de representação do espaço;
É fundamental a aquisição dos conhecimentos geográficos básicos para a vida em sociedade, em particular para o desempenho das funções de cidadania;
O cidadão, ao conhecer as características sociais, culturais e naturais do lugar, pode comparar, explicar, compreender e espacializar as múltiplas relações que diferentes sociedades em épocas variadas estabelecem na construção do espaço;
Esses conhecimentos permite uma maior consciência dos limites e responsabilidades da ação individual e coletiva com relação ao local e o global;
Os conteúdos devem permitir o pleno desenvolvimento do papel de cada um na construção de uma identidade – valorização dos aspectos socioambientais que caracterizam seu patrimônio;
Trabalhar as categorias essenciais: EG; P; T e L sintetizam aspectos da organização espacial e possibilita interpretar os fenômenos que a constituem em múltiplos espaços e tempos.
Trabalhar com a espacialidade dos fenômenos em sua temporalidade – estudar a extensão de uma paisagem e o papel histórico de sua posição geográfica, além dos aspectos locacional – multidisciplinaridade;
Necessidade de reflexão sobre diferentes aspectos da realidade;
• A atitude problematizadora permite a observação, o registro e a relação desses conteúdos com a realidade do aluno;
• A participação do aluno nos conteúdos favorece sua mudança na prática social – a memorização e abstração frente aos conteúdos os torna “passageiros” - necessidade de experiência;
• Enfim a Geografia no início da escolarização é poder fazer uma relação com o espaço vivido – é trazer para sala de aula a compreensão deste espaço;
• Ensinar Geografia nesse período é inserir o cotidiano dos alunos nas atividades de sala de aula;
• É transformar as dúvidas dos alunos sobre os fenômenos e dinâmicas socioambientais em objetos de estudos;• Concretizar a Geografia é: conseguir com que o aluno se compreenda como parte integrante da relações sociedade e natureza;
• Um texto teórico “chato” se torna deslocado frente as experiências de vida do aluno – suas demandas diferem do conteúdo engessado;