Download - Galeria Athena Contemporânea - Aparição
ATHENA CONTEMPORÂNEA
AV ATLÂNTICA 4240 . 210 | 211
COPACABANA . 22070 900
RIO DE JANEIRO . BRASIL
+ 55 21 2513 0239
WWW.ATHENACONTEMPORANEA.COM
APARIÇÃOFERNANDA LOPES[curadoria]
[artistas]
ADRIANO AMARAL
ANA PAULA OLIVEIRA
ANDRÉ GRIFFO
BRUNO BAPTISTELLI
DANIEL DE PAULA
DÉBORA BOLSONI
FLORA LEITE
FREDERICO FILIPPI
JOÃO LOUREIRO
JORGE SOLEDAR
MATHEUS ROCHA PITTA
RAQUEL VERSIEUX
WAGNER MALTA TAVARES
21.03.2014 - 19.04.2014[exposição]
APARIÇÃO
Michelangelo costumava dizer que via em cada bloco de mármore uma estátua. “Vejo-a tão
claramente como se estivesse na minha frente, moldada e perfeita na pose e no efeito.
Tenho apenas de desbastar as paredes brutas que aprisionam a adorável aparição para
revelá-la a outros olhos como os meus já a vêem". Mais do que trabalhar a pedra com
precisão, o trabalho de Michelangelo, como escultor, estava em um momento anterior,
quando ele enxergava uma forma em estado de potência, “adormecida”, na pedra bruta.
Esculpir era a maneira de tornar essa forma que só ele via, visível a todos. Ao longo dos
últimos cinco séculos, a ideia de escultura se apresenta cada vez mais distante de uma
questão técnica/formal para se ligar cada vez mais à aparição, a essa possibilidade de
“tornar visível”.
A produção recente dos artistas reunidos nesta exposição revela algumas possibilidades
para se (re)pensar a definição e a prática da escultura na produção de arte contemporânea.
Aqui, já não é possível pensar em escultura como antes. Alguns trabalhos presentes em
Aparição lidam, por exemplo, com a questão tridimensional (elemento básico para a
definição da ideia clássica de escultura), abrindo mão dos materiais clássicos desse meio
(como a pedra, a madeira, mármore, metal ou o barro), dos procedimentos de trabalho com
eles (entalhar, fundir, modelar, cinzelar) e de sua relação final distanciada com o mundo.
Outros abrem mão da tridimensionalidade e da estrutura estática, pensando a escultura a
partir de fotografia, vídeo, instalação, ação e intervenção.
Apesar de deixar de lado a representação em estátuas, a prática escultórica continua
interessada no corpo, que pode ser ainda o corpo humano, mas também o corpo dos
materiais utilizados. Em Arquiteturas Pessoais de Jorge Soledar e Gelo Baiano de Daniel de
Paula, o corpo funciona como uma possível unidade variável de medida do espaço. Este
deixa de ter uma dimensão fixa para, a partir da ação de corpos de pessoas ou de um
conjunto de prismas de sinalização em concreto retirados das ruas, adaptados com rodas
de silicone e parafusos, se apresentar como um espaço de dimensões variáveis, que se
reconfigura a todo momento de acordo com articulações que se alternam. Já em Água Forte
de Wagner Malta Tavares, o objeto que abre mão da base para se posicionar diretamente no
chão interfere em nossa percepção do espaço onde estamos quando nos faz olhar para ele,
o espaço, através da água contida nas formas de vidro.
As ações e práticas ligadas ao fazer tradicional da escultura, além de referências históricas
do próprio meio, também são trazidos à tona em alguns trabalhos. No vídeo Aparição,
Adriano Amaral leva pouco mais de nove minutos retirando a camada branca da superfície
da pedra, revelando ao final sua forma e material originais. Em Brinde ao Carbono e Cubos
de Débora Bolsoni, trabalhos de Brancusi e Man Ray aparecem como heranças históricas e
imagéticas, enquanto em Amortecimento de Daniel de Paula, é um vídeo realizado na Rue
Gentil-Bernard, em Fontenay-aux-Roses, subúrbio parisiense, no mesmo local onde viveu
Yves Klein e onde foi realizado Salto no Vazio (1960). No trabalho do artista francês, o salto
que o artista dá pela janela em direção à rua é congelado pelo instante fotográfico. No vídeo
de Daniel de Paula, o bloco de concreto se espatifa no chão todas as vezes que “se lança”
pela janela. Medo Comum de Frederico Filippi, Chumbador de André Griffo e Pedestal de
Jorge Soledar, parecem colocar em questão termos e procedimentos caros à escultura
clássica como a ideia de fixação e a presença da base. Já Teoria e Prática também de
Frederico Filippi e Empilhamento de Bruno Baptistelli, falam do momento de passagem de
um projeto, pensado no plano bidimensional, para o mundo tridimensional.
É a partir do encontro com o mundo que outra parte dessa produção vai se estruturar. Em
Falha de Comunicação de Raquel Versieux, e Esquadria, Maço 2 e Maço 3 de João Loureiro,
somos (re)apresentados a objetos do dia-a-dia, reconstruídos a partir de materiais simples
como latas, basbantes, alumínio e algodão ou com novos formatos, mas usando seu próprio
material, como papel de cigarro. O mundo também está gravado na massa de concreto de
Laje # 54 (todos os dias) de Matheus Rocha Pitta. E enquanto em Porninho, Ana Paula
Oliveira metaliza ninhos de pássaros e os desloca para a galeria, suspensos por placas de
vidro, Flora Leite recria um cristal em Fascinação com cerveja, sulfato de magnésio e
cimento, a uma temperatura ambiente de no máximo 20ºC. Assim, a denifição de escultura
como “A arte e técnica de plasmar a matéria entalhando a madeira, modelando o barro,
cinzelando a pedra ou o mármore, fundindo o metal, etc, a fim de representar em relevo ou
em três dimensões, estátuas, figuras, formas abstratas, etc.” parece dizer muito mais sobre
o que não é mais escultura do que sobre o que é.
FERNANDA LOPES
Crítica de arte e pesquisadora. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação da Escola de Belas Artes da UFRJ, é
autora dos livros Área Experimental – Lugar, espaço e dimensão do experimental na arte brasileira dos anos 1970
(Figo Editora, 2013) e Éramos o time do Rei (Alameda Editorial, 2009).
JORGE SOLEDARPEDESTAL, 2014
Ação com pessoa e bloco de gesso
Dimensão variável
MATHEUS ROCHA PITTALAJE #54 (TODOS OS DIAS), 2014
Colagem de recortes de papel sobre placa de cimento
37 x 60 cm
ANA PAULA OLIVEIRASEM TÍTULO (SÉRIE PORNINHO), 2014
Vidro, ninho e cobre
170 x 20 x 15 cm [cada]
DETALHE DA EXPOSIÇÃO
VISTA DA INSTALAÇÃO . INSTALLATION VIEW
DANIEL DE PAULAAMORTECIMENTO, 2013
Vídeo
0’05”
JOÃO LOUREIROESQUADRIA, 2012
Alumínio e algodão
50 x 40 cm
DÉBORA BOLSONICUBOS, 2014
Impressão Digital
40 x 40 cm
DÉBORA BOLSONIBRINDE AO CARBONO, 2014
Impressão Digital
40 x 40 cm
DETALHE DA EXPOSIÇÃO
FREDERICO FILIPPI
TEORIA E PRÁTICA, 2013
Tinta látex e fita adesiva
ø 147 cm
RAQUEL VERSIEUXFALHA DE COMUNICAÇÃO, 2013
Latas de alumínio e barbante
32 x 12 x 12 cm
JOÃO LOUREIROMAÇO 2, 2012
papel de cigarro e alumínio
152 X 0,5 cm
JOÃO LOUREIROMAÇO 3, 2014
papel de cigarro e alumínio
152 X 0,5 cm
ANDRÉ GRIFFOCHUMBADOR, 2013
Aço, concreto, ferro e poliuretano
300 x 25 x 25 cm
JORGE SOLEDARARQUITETURAS PESSOAIS, 2006
Impressão digital
29 x 38,5 cm [cada]
WAGNER MALTA TAVARESÁGUA-FORTE, 2001/2012
vidro e água
06 x 90 x 16 cm
WAGNER MALTA TAVARESÁGUA-FORTE, 2001/2012
vidro e água
43 x 25 x 25 cm
BRUNO BAPTISTELLIEMPILHAMENTO, 2012/2013
Objeto em madeira, papelão e vidro
30 x 40 cm [cada]
ADRIANO AMARAL APARIÇÃO, 2012
Vídeo
9’15”
FLORA LEITEFASCINAÇÃO, 2014
cristal de cerveja e sulfato de magnésio, cimento, vidro, pinho, termômetro e temperatura ambiente [máximo 20ºC]
118 x 20 x 20 cm
DANIEL DE PAULAGELO BAIANO, 2010/2012
Concreto
Dimensão Variável
DETALHE DA EXPOSIÇÃO
FREDERICO FILIPPIMEDO COMUM, 2014
Impressão digital
40 x 60 cm